68
Um por todos e todos por um: Teologia da libertação e teoria marxista em defesa do povo oprimido Wagner Francesco

Um por todos e todos por um: Teologia da libertação e teoria marxista em defesa do povo oprimido

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Slide da apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso em Teologia.

Citation preview

Page 1: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Um por todos e todos por um:

Teologia da libertação e teoria marxista

em defesa do povo oprimido

Wagner Francesco

Page 2: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

"Se nós escolhemos uma profissão na qual podemos trabalhar o máximo para a Humanidade, então os fardos não podem nos abater pois eles são/representam sacrifícios (feitos para o bem) de todos; então não usufruímos qualquer alegria pequena, limitada e egoísta, antes nossa felicidade pertence a milhões, nossos atos, embora silenciosos, continuarão a fazer efeito, e nossas cinzas serão umedecidas pelas lágrimas candentes das pessoas nobres.“

KARL MARX

Page 3: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A ESTRUTURA DO TRABALHO

• A CRÍTICA DE MARX E DO MARXISMO À RELIGIÃO

• RELIGIÃO E TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

• O PENSAMENTO MARXISTA E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Page 4: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

  

Este trabalho tem o propósito de estudar a relação entre teologia da libertação e a teoria marxista. Essa não foi uma união muito bem vista ao longos dos séculos, mas a teologia da libertação não pode abandonar as ferramentas que o marxismo dá, pois, com elas, é possível fazer de forma mais profunda a análise política-teológica da sociedade e o marxismo não pode se esquivar de aceitar a religião como um importante mecanismo de ação social.

RESUMO

Page 5: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Sobre a importância do assunto

O trabalho do filósofo L. Bordin merece mais que uma leitura, uma grande meditação, não só da sua temática, como sobre o que é entregue de novo para o estabelecimento de uma relação profunda entre o marxismo e a Teologia da Libertação.

(BORDIN, 1987, p. 11)

Page 6: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O marxismo não poupa críticas à religião

A religião é o ópio do povo. A religião é uma espécie de aguardente espiritual ruim na qual os escravos do capital afogam sua imagem humana e suas reivindicações de uma vida minimamente digna.

Lênin (2012, p. 1)

Page 7: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Em defesa da TdL e do Marxismo

Essa relação não só pode como deve mesmo ser tomada a sério, dado que o marxismo, de um ponto de vista teórico e apesar de suas ambiguidades, apresenta-se, ainda hoje, como o quadro filosófico- teórico que continua a dar respaldo, direta ou indiretamente, a grande parte dos movimentos sociais dos povos em busca de sua emancipação. Ele representa, sobretudo para a classe trabalhadora, um ponto de referência essencial, destacando-se, desta forma, com um elemento cultural fundamental do nosso tempo.

Bordin (1987, p.13)

Page 8: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A Teologia da Libertação é uma teologia política

Para captar o fenômeno político da libertação em toda a sua concretude histórica, a nova teologia precisa de suportes filosóficos e científicos, e é aqui que entre a relação com o marxismo.

Para Bordin (1987, p. 14)

Page 9: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A CRÍTICA DE MARX E DO MARXISMO À RELIGIÃO

Page 10: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo.

(MARX, 2010, p. 145)

Page 11: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Religião e consciência alienada

A consciência do objeto é a consciência que o homem tem de si mesmo. Através do objeto conheces o homem, nele a sua essência te aparece; o objeto é a essência revelada, o seu Eu verdadeiro, objetivo. E isto não é válido somente para os objetos espirituais, mas também para os sensoriais. Também os objetos mais distantes do homem são revelações da essência humana, e isto porque e enquanto eles são objetos para ele.

Feuerbach (2007 p. 38)

Page 12: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Religião e consciência alienada

Um dia o homem descobrirá que ele adorou a sua própria essência, que criou em sua fantasia um ser semelhante a si, mas infinitamente mais perfeito, que está sempre pronto para lhe oferecer consolo no sofrimento e proteção nos momentos mais difíceis e angustiantes da existência.

Feuerbach (2007, p.9)

Page 13: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Para Marx a religião é uma alienação

A tarefa da história, depois de desaparecido o além da verdade, é estabelecer a verdade do aquém. A tarefa imediata da filosofia, que está a serviço da história, é, depois de desmascarada a forma sagrada da auto alienação humana, desmascarar a auto alienação nas suas formas não sagradas. A crítica do céu transforma-se, assim, na crítica da terra, a crítica da religião, na crítica do direito, a crítica da teologia, na crítica da política.

Page 14: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Religião e a ideologia

Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são o mundo invertido. (Karl Marx)

Page 15: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

“Socialismo e religião”

A sociedade contemporânea baseia-se toda na exploração das enormes massas operárias por uma minoria insignificante da população, pertencente às classes dos proprietários de terras e dos capitalistas. Essa sociedade é escravista, pois os operários “livres”, que trabalham a vida toda para o capital, “têm direito” apenas aos meios de subsistência indispensáveis para sustentá-los como escravos produtores do lucro e para assegurar e perpetuar a escravidão capitalista.

(LENIN, 2012, p. 1)

Page 16: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

LÊNIN E A RELIGÃO

A religião é o ópio do povo. A religião é uma espécie de aguardente espiritual ruim na qual os escravos do capital afogam sua imagem humana e suas reivindicações de uma vida minimamente digna.

Page 17: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O socialismo e as igrejas

Os trabalhadores espantam-se de como na luta de sua classe pela emancipação vão encontrar nos servidores da igreja inimigos e não aliados. Como é que a igreja desempenha o papel de defesa da opressão rica e sangrenta, em vez de ser o refúgio dos explorados?

(ROSA LUXEMBURGO, 2012, p.3)

Page 18: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

RELIGIÃO E TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Page 19: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo.

Marx (2010, p. 145),

O suspiro dos oprimidos

Page 20: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A supressão da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade real. A exigência de que abandonem as ilusões acerca de uma condição é a exigência de que abandonem uma condição que necessita de ilusões. A crítica da religião é, pois, em germe, a crítica do vale de lágrimas, cuja auréola é a religião.

Marx (2010, p. 145-6)

Page 21: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A visão religiosa oferece para o ser humano uma possibilidade de superar-se a si mesmo individualmente. Chega, assim, a aspirar a uma justiça, elevando-se sobre o mundo endemoninhado por meio de uma piedade individual e de uma vida de abnegação, que representa um exemplo de como se deveria viver.

Luigi Bordin (1987, p. 28) 

O suspiro dos oprimidos sob outra ótica

Page 22: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A teologia da libertação nasceu do mundo onde a crítica da religião é uma crítica política, que entende que os problemas sociais só serão resolvidos por enfrentamento e tomada de postura radical.

O ponto de partida da teologia da libertação

Page 23: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Comunista sem ser comunista...

Os comunistas devem saber claramente que nunca entrarei em suas fileiras, que não sou nem serei comunista, nem como colombiano, nem como sociólogo, nem como cristão, nem como padre. Todavia, estou disposto a lutar com eles por objetivos comuns: contra a oligarquia e o domínio dos Estados Unidos, para a tomada do poder por parte da classe popular.

Campos (1968, p. 176)

Page 24: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A igreja não pode ficar de fora do mundo

A teologia se move para trás e para diante entre dois polos: a verdade eterna de seu fundamento e a situação temporal na qual a verdade deve ser recebida.

Paul Tillich (1982, p. 13)

Page 25: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A teologia pode levar o homem tanto a abrir-se como fechar-se à problemática do mundo. Depende de como ela é utilizada e em que contexto ou em que grupo social ela é elaborada.

Para Bordin (1987, p. 31)

Page 26: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O fenômeno religioso não é só um fenômeno superestrutural. Não se exaure ao nível das crenças, dos símbolos, dos mitos e das ideologias: ele envolve também as práticas sociais, que não são apenas as práticas do aparelho eclesiástico do poder, mas também as dos setores e dos grupos que a compõem em seus vários níveis. As práticas religiosas são também práticas sociais e manifestações de classe.

(BODIN, 1987, p. 44)

Estrutura e infraestrutura religiosa

Page 27: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Toda verdadeira teologia nasce de uma espiritualidade, vale dizer, de um encontro forte com Deus dentro da história. A teologia da libertação encontra o seu nascedouro na fé confrontada com a injustiça feita aos pobres.

Leonardo e Clodovis Boff (1985, p. 15)

Page 28: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Venerar e anunciar Jesus Cristo libertador implica pensar e viver a fé cristológica a partir de um contexto sócio histórico de dominação e opressão. Trata-se, pois, de uma fé que visa captar a relevância de temas que implicam uma transformação estrutural de uma dada situação sócio histórica. Essa fé elabora analiticamente essa relevância produzindo uma cristologia centrada no tema de Jesus Cristo Libertador. Tal cristologia implica num determinado compromisso político e social em vista da ruptura com a situação opressora.

Leonardo Boff (2003, p. 15)

Page 29: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O lugar desse tipo de cristologia apresenta-se bem definido: é o daqueles grupos sociais para os quais a transformação qualitativa da estrutural social representa oportunidade de livrar-se das dominações atuais.

Leonardo Boff (2003, p. 17)

Page 30: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A igreja é aquela parte do mundo que, na força do Espírito, acolheu o Reino de forma explícita na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado em nossa opressão. A igreja não é o Reino de Deus, mas seu sinal e instrumento de implementação no mundo.

Leonardo Boff (1981, p. 16)

Page 31: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Escutai, vós que encarniçais contra o pobre, para aniquilar da terra, vós que dizeis: quando é que passará a lua nova, para podermos vender os grãos, e o sábado, para abrirmos os sacos de trigo, diminuindo a efá, aumentando o ciclo, alterando balanças mentirosas, comprando os indigentes a dinheiro e um pobre por um par de sandálias?

(Amós 8:4-6)

Page 32: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Diante da opressão dos humildes e da queixa dos pobres, levanto-me agora. Ponho em segurança aquele em quem se cospe!"

(Salmos 12:6)

Page 33: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O teólogo não vive nas nuvens; é um ator social, situa-se dentre de um determinado lugar na sociedade, produz conhecimentos e significações utilizando os instrumentos que a situação lhe oferece e lhe permite, tem destinatários definidos, encontra-se, pois, inserido dentro do conjunto social global.

Leonardo Boff (2003, p. 16)

O lugar social do teólogo

Page 34: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Além da relação teórica com a práxis, a teologia da libertação está unida à práxis por uma relação prática, e é sobretudo essa relação que representa o seu traço mais distintivo e específico. De fato a teologia da libertação não só é elaborada a partir do engajamento concreto do teólogo e da comunidade cristã nas lutas políticas e sociais dos explorados, como é também destinada aos cristãos que fazem uma opção prévia pelos pobres ou uma opção de classe. Mais ainda, a reflexão teológica fica submetida, em última instância, à jurisdição da própria práxis: é a práxis que julga e comprova a reflexão teológica, é a práxis que se torna o critério de verificação da teologia, no sentido de que é considerada verdadeira e boa teologia aquela que, em última análise, leva à libertação.

Bordin (1987, p. 76)

Page 35: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Teologia da libertação é a libertação do oprimido e para que essa teologia tenha sucesso é preciso que o teólogo mergulhe sobre as condições reais em que os oprimidos se encontrem, buscando não apenas cuidar do pobre, mas entender, para buscar superar, as razões pelas quais as coisas estão da forma que estão.

Page 36: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Se a igreja não entende a tempo o problema da vida no terceiro mundo, se não entende a tempo a luta dos pobres e oprimidos do terceiro mundo pela vida e contra os centros de morte, se a igreja não entra prontamente numa prática de solidariedade, a igreja perderá o terceiro mundo. E no futuro será apenas um museu do ocidente, sem nenhuma capacidade para anunciar o evangelho de vida à maioria da humanidade que vive e viverá por aqui.

Pablo Richard (1985, p. 8-9)

Page 37: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A economia capitalista é sui generis desigual. O sistema cria miséria.

O sistema do capital – como se dá com todas as formas concebíveis de controle sociometabólico global, inclusive a socialista – está sujeito à lei absoluta do desenvolvimento desigual, que, sob a regra do capital, vigora numa forma em última análise destrutiva, por causa de seu princípio estruturador interno antagônico. Assim, para prever uma resolução global, legítima e sustentável dos antagonismos do sistema do capital, seria necessário primeiro acreditar no conto de fadas da eliminação para todo o sempre da lei do desenvolvimento desigual das questões humanas.

Mészáros (2002, p. 114)

Page 38: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O PENSAMENTO MARXISTA E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Page 39: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Vivemos hoje em um mundo firmemente mantido sob as rédeas do capital, numa era de promessas não cumpridas e esperanças amargamente frustradas, que até o momento só se sustentam por uma teimosa esperança.

Mészáros (2002, p. 37)

Page 40: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Quem espera em Cristo não pode mais se contentar com a realidade dada, mas começa a sofrer devido a ela, começa a contradizê-la. Paz com Deus significa inimizade com o mundo, pois o aguilhão do futuro prometido arde implacavelmente na carne de todo presente não realizado Se diante de nossos olhos tivéssemos só o que enxergamos, certamente nos satisfaríamos, por bem ou por mal, com as coisas presentes, tais como são. Mas o fato de não nos satisfazer, o fato de entre nós e as coisas da realidade não existir harmonia amigável é fruto de uma esperança inextinguível.

Moltmann ( 2005, p. 36-7)

Page 41: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Divinis Redemptoris e a crítica ao comunismo

A doutrina comunista que em nossos dias se apregoa, de modo muito mais acentuado que outros sistemas semelhantes do passado, apresenta-se sob a máscara de redenção dos humildes. E um pseudo ideal de justiça, de igualdade e de fraternidade universal no trabalho de tal modo impregna toda a sua doutrina e toda a sua atividade dum misticismo hipócrita, que as multidões seduzidas por promessas falazes e como que estimuladas por um contágio violentíssimo lhes comunica um ardor e entusiasmo irreprimível, o que é muito mais fácil em nossos dias, em que a pouco equitativa repartição dos bens deste mundo dá como consequência a miséria anormal de muitos.

Page 42: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O comunismo contra a religião??

Por sua natureza opõe-se a qualquer religião, e a razão por que a considera como o “ópio do povo”, é porque os seus dogmas e preceitos, pregando a vida eterna depois desta vida mortal, apartam os homens da realização daquele futuro paraíso, que são obrigados a conseguir na terra.

Page 43: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Piu XI escreve

Para assegurar esta tranquila harmonia pela colaboração orgânica de todos, a doutrina católica confere aos governantes tanta dignidade e autoridade, quanta é necessária para que eles com vigilante e previdente solicitude salvaguardem os direitos divinos e humanos, que as Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja tanto inculcam. E neste passo é necessário observar que erram vergonhosamente os que sem consideração atribuem a todos os homens direitos iguais na sociedade civil e asseveram que não existe legítima hierarquia.

Page 44: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O comunismo não é para nós um estado de coisas que deva ser estabelecido, um ideal pelo qual a realidade [terá] de se regular. Chamamos comunismo ao movimento real que supera o atual estado de coisas. As condições deste movimento resultam da premissa atualmente existente.

Marx e Engels (2007, p. 59)

Page 45: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O Clodovis Boff (2008, p. 1) fez duras críticas à Teologia da Libertação.

A Teologia da Libertação partiu bem, mas, devido à sua ambiguidade epistemológica, acabou se desencaminhando: colocou os pobres em lugar de Cristo. Dessa inversão de fundo resultou um segundo equívoco: instrumentalização da fé "para" a libertação. Erros fatais, por comprometerem os bons frutos desta oportuna teologia.

Page 46: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Leonardo Boff critica Clodovis.

A minha suspeita é de que as críticas suscitadas por Clodovis Boff à Teologia da Libertação forneçam às autoridades eclesiásticas locais e romanas as armas para condená-la novamente e, quem sabe, bani-la definitivamente do espaço eclesial. Como as criticas devastadoras provém de dentro, de um de seus mais reconhecidos formuladores, elas podem prestar-se a tal intento infeliz.

Page 47: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Boff prossegue...

Esse erro fatal – pasmem - é de ela ter colocado o pobre como “primeiro princípio operativo da teologia”, ou de ter substituído Deus ou Cristo pelo pobre. Afirma ainda que “do erro de princípio só podem provir efeitos funestos”. Acena para a contaminação em curso de toda “pastoral da libertação” nomeadamente “as pastorais sociais”. Por causa deste erro fatal, se instrumentalizou a fé, fê-la cair no utilitarismo e no funcionalismo, ocasionou seu enredamento com a modernidade antropologizante e secularista, pondo em risco a identidade cristã ”no plano teológico, eclesial e da própria fé”. Tais acusações são de grande monta e nos lembram os textos acusatórios de figadais inimigos da Teologia da Libertação dos anos 80 do século XX.

Page 48: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Marx falava que a religião era o suspiro das criaturas oprimidas. Era a expressão da miséria, mas, ao mesmo tempo, um protesto. É possível com isso perceber o papel subversivo da religião, que faz com que o oprimido suspire e proteste. O protesto contra a miséria é o protesto contra a situação real. É o nascer da revolução no peito do indivíduo.

Page 49: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O materialismo...

Os homens não lutam com a natureza e não a utilizam para a produção de bens materiais isoladamente, desligados uns dos outros, mas juntos, em grupos, em sociedades. Por isso, a produção é sempre e sob quaisquer condições uma produção social. Ao efetuarem a produção dos bens materiais, os homens estabelecem entre si, dentro da produção, tais ou quais relações mútuas, tais ou quais relações de produção. Essas relações podem ser relações de colaboração e ajuda mútua entre homens livres de toda exploração, podem ser relações de domínio e subordinação ou podem ser, por último, relações de tipo transitório entre uma forma de produção e outra.

Stálin (1945, p. 24)

Page 50: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A forma como os indivíduos manifestam sua vida reflete muito exatamente aquilo que são. O que são coincide, portanto, com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem, como a forma como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais de sua produção.

Marx e Engels (2007, p. 43)

Page 51: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A práxis, a relação dialética teoria-práxis, a perspectiva materialista histórico-dialética do real, que são os princípios básicos de onde parte da teoria de Marx, são também os princípios básicos de onde filosoficamente parte a teologia da libertação.

Bordin (1987, p. 90)

Práxis e teoria

Page 52: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Para todos aqueles, cristãos ou não, que estão inseridos nas lutas dos movimentos populares e operários, o marxismo, enquanto teoria ligada a essas lutas, revela-se não só importante, mas fundamental.

Bordin (1987, p. 126)

Page 53: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A proposta teórica de Marx vale pela luz que traz aos problemas em tela, especialmente como crítica ao sistema capitalista e proposição de socialismo. Serve de arma teórica para as classes exploradas em buscada de sua libertação; para isso foi pensado e escolhido o marxismo como materialismo histórico. Essa teoria pode ser útil para os cristãos interessados num melhor conhecimento (sempre aproximativo) da realidade social, particularmente de seus conflitos e mecanismos de marginalização.

Leonardo Boff (1980, p. 197)

Page 54: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Conclusão

Page 55: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Com Cristo e com Marx na construção de uma nova terra.

Eis todo o resumo da obra.

O pensamento que norteia este nosso trabalho é de fato fruto de uma reflexão comunista e revolucionária, que entende que a sociedade capitalista é opressora e geradora de mazelas e que, atendendo o ensinamento apostólico, nós não podemos nos conformar.

Page 56: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Mudança de mente. Mudança de mundo.

 Não vos conformeis ao mundo presente, mas sede transformados pela renovação da vossa inteligência, para discernirdes qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito.

(Romanos 12:2)

Page 57: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Mudança de mundo para além da mudança só da mente.

A produção das ideias, das representações, da consciência é, ao princípio, entrelaçada sem mediações com a atividade material e o intercâmbio material dos homens, a linguagem da vida real. A formação das ideias, o pensar, a circulação espiritual entre os homens ainda se apresentam nesse caso como emanação direta de seu comportamento material. Vale o mesmo para a produção espiritual, conforme esta se apresenta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc. de um povo.

Marx e Engels (2007, p. 48)

Page 58: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Mudar o mundo. Deslegitimar o capital.

Es importante mostrar a los creyentes, por una parte, que su fe carece de sentido si no conduce a hacer respetar la vida y la dignidad de los seres humanos, y a los no creyentes, por otra, que una aspiración religiosa puede ser la causa de un compromiso radical.

Houtart (2009, p. 179)

Page 59: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Radical total.

Os direitos humanos não nos obrigarão a abençoar as alegrias do capitalismo liberal do qual eles participam ativamente. Não há Estado (dito) democrático que não esteja totalmente comprometido nesta fabricação da miséria humana.

Deleuze (1992, p. 215)

Page 60: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A falácia da filantropia. Caridade não é revolução.

A maioria dos homens arruínam suas vidas por força de um altruísmo doentio e extremado - são forçados, deveras, a arruiná-las. Acham-se cercados dos horrores da pobreza, dos horrores da fealdade, dos horrores da fome. É inevitável que se sintam fortemente tocados por tudo isso. As emoções do homem são despertadas mais rapidamente que sua inteligência; e, como ressaltei há algum tempo em um ensaio sobre a função da crítica, é bem mais fácil sensibilizar-se com a dor do que com a ideia.

Wilde (2007, p.3)

Page 61: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

(As pessoas) buscam solucionar o problema da pobreza, por exemplo, mantendo vivo o pobre; ou, segundo uma teoria mais avançada, entretendo o pobre. Mas isto não é uma solução: é um agravamento da dificuldade.

Wilde (2007, p. 3)

Caridade não é revolução. A mudança total da estrutura.

Page 62: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Manipulamos a nossa fraqueza como estratagema para ganhar mais poder precisamente da mesma forma que hoje, no nosso mundo politicamente correto, temos de nos legitimar como sendo uma vítima potencial ou real do poder para que a nossa voz ganhe autoridade. Esta posição não é assertiva, mas, sim, dominadora.

Žižek (2007, p. 21)

Cristianismo e o paradoxo da vitimização

Page 63: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

O capitalista-modelo atual é alguém que, após implacavelmente gerar lucro, generosamente o compartilha, fazendo grandes doações a igrejas, a vítimas de abuso étnico ou sexual, etc., posando de humanitário.

Žižek (2005, p. 177)

Filantropia. Dinheiro. Hipocrisia.

Page 64: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Demolir o capital, pois ele não dá bons frutos

A guerra à pobreza, tantas vezes anunciada com zelo reformista, especialmente no século XX, é sempre uma guerra perdida, dada a estrutura causal do sistema do capital – os imperativos estruturais de exploração que produzem a riqueza.

Mészáros ( 2002, p. 39)

Page 65: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A participação cristã no mundo

A ação pela justiça e a participação na transformação do mundo aparecem-nos claramente como uma dimensão constitutiva da pregação do Evangelho, que o mesmo é dizer, da missão da igreja em prol da redenção e da libertação do gênero humano de todas as situações opressivas.

Boff (1981, p. 46)

Page 66: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

A teologia da libertação e o marxismo caminham juntos na negação do capitalismo na estrutura de uma sociedade baseada no lucro e na competição. Ambas querem a emancipação humana e o fim da exploração. Ambas caminham agarrados à esperança.

Page 67: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido

Vivemos numa época de crise histórica sem precedentes que afeta todas as formas do sistema do capital, e não apenas o capitalismo. Portanto é compreensível que somente uma alternativa socialista radical ao modo de controle metabólico social tenha condições de oferecer uma solução viável para as contradições que surgem à nossa frente.

Mészáros (2002, p. 22)

Page 68: Um por todos e todos por um: Teologia da libertação  e teoria marxista  em defesa do povo oprimido