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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM VIRNA SALGADO BARRA UMA ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE AGOSTINHO DE HIPONA E OS MANIQUEUS (SÍNTESE III) Belém 2017

Uma análise reflexiva sobre Agostinho de Hipona e os Maniqueus - Virna Salgado Barra

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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

VIRNA SALGADO BARRA

UMA ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE

AGOSTINHO DE HIPONA E OS MANIQUEUS

(SÍNTESE III)

Belém

2017

VIRNA SALGADO BARRA

UMA ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE

AGOSTINHO DE HIPONA E OS MANIQUEUS

(SÍNTESE III)

Trabalho apresentado à Faculdade

Católica de Belém (FCB-PA), como

parte das exigências para a disciplina de

Seminário II em Agostinho de Hipona,

ministrada pelo Prof. Pe. André Luiz

Maia Teles.

Belém, 26 de novembro de 2017.

1. AGOSTINHO E O MANIQUEÍSMO

Aos dezenove anos, Agostinho abraçou o maniqueísmo. Os maniqueístas se

gabavam de ensinar uma explicação puramente racional do mundo, de justificar a

existência do mal e de conduzir finalmente seus discípulos à fé unicamente por meio da

razão. Agostinho acreditou por alguns anos que essa era a sabedoria que ele cobiçava.

Foi, portanto, como maniqueísta e inimigo do cristianismo que voltou para ensinar

Letras em Tagaste e em seguida a Cartago.

O maniqueísmo, uma religião herética fundada pelo persa Mani no século III,

apresentava um vivo racionalismo marcado pelo materialismo e um dualismo radical na

concepção do bem e do mal, entendidos não apenas como princípios morais, mas

também como princípios ontológicos e cósmicos. Agostinho, mais tarde em suas

confissões, comenta aspectos da religião dos maniqueus.

Não conhecem o caminho pelo qual, deixando o orgulho, iriam até o Salvador e

por ele, subiriam novamente a ele; ignoram este caminho e se consideram tão elevados

e cintilantes quanto os astros; e tombaram por terra, com o coração coberto pelas

trevas da ignorância. Dizem muitas verdades sobre as criaturas, e não buscam

devotamente a verdade, artífice da criação; assim, não a encontram, ou, se a

encontram, embora conhecendo a Deus, não lhe prestam honra como a Deus, nem lhe

rendem graças. Perde-se em vãs reflexões. Proclamam-se sábios, atribuindo a si dons

que são teus; e se empenham, cegos e perversos, em atribuir-te o que propriamente

pertence a eles: transferem suas falsidades a ti, que é a Verdade, e assim “trocam a

glória do Deus incorruptível por imagens do homem corruptível, de aves, quadrúpedes

e répteis, trocam a verdade de Deus pela mentira, e adoram e servem a criatura em

lugar do Criador. [...].

Ele abandona esta seita após um diálogo com Fausto, bispo dos maniqueístas,

por não encontrar a verdade sobre algumas coisas, cujas explicações não o convenciam

e também por perceber que ele mesmo tinha mais conhecimento que o próprio bispo.

A avidez, com que durante tanto tempo esperei por aquele homem, era satisfeita

agora pelo calor e animação de sua dialética, e por suas palavras tão bem escolhidas e

que lhe ocorriam com facilidade para revestir seu pensamento. [...] Descobri logo que

ele nada entendia das disciplinas liberais, com exceção da gramática, da qual conhecia

apenas o corriqueiro. Tinha lido alguns discursos de Cícero, pouquíssimas obras de

Sêneca, algumas obras de poetas, e umas poucas, de seus correligionários, escritas em

latim mais cuidado.

Algumas das dúvidas maniquéias que lhe consumiam eram: qual a origem do

mal? Deus era limitado por forma corpórea, tinha cabelo e unhas? Mas levava ainda

consigo alguns princípios metodológicos dos maniqueístas como o racionalismo, o

materialismo e o dualismo (corpo e alma). Para os maniqueus Deus é luz, um ente

corpóreo e as almas são partículas desta luz divina. E Cristo é somente revestido de

carne aparente e, portanto, também foram aparentes a sua morte e ressurreição. Moisés

não foi inspirado por Deus, mas era um dos príncipes das trevas, razão pela qual se

devia rejeitar o Antigo Testamento. A promessa do Espírito Santo feita por Cristo ter-

se-ia realizado em Mani. Em seu dualismo extremo, os maniqueístas chegavam até

mesmo a não atribuir o pecado ao livre-arbítrio humano, mas sim ao princípio universal

do mal que atua também em nós. Manes falava tanto e tão desatinadamente sobre esses

assuntos, que era facilmente confundido pelos verdadeiramente instruídos na matéria, de

onde se concluía claramente qual a sua competência em outras questões mais

recônditas.

Não querendo ser desconsiderado pelos homens, tentou provar que o Espírito

Santo, consolo e riqueza de teus fiéis, nele habitava pessoalmente e com a plenitude de

sua autoridade. Portanto era apanhado em flagrante erro nas teorias ensinadas sobre o

céu, as estrelas, os movimentos do sol e a lua, assuntos estranhos à doutrina religiosa,

tornava-se evidente sua sacrílega temeridade: transmitia noções não só por ele

ignoradas, como também falsas, como tão insensato orgulho, que não hesitava em

atribuí-las a si próprio, como se fosse pessoa divina.

Agostinho começa a duvidar da verdade pregada pelos maniqueus e não se

satisfaz com as explicações, “resolvi manter relações baseadas apenas no grande

interesse que mantinha pela literatura, que eu, como professor de retórica, ensinava

aos jovens de Cartago”.

REFERÊNCIA

NEUZA DE FATIMA BRANDELLERO: “DE BEATA VITA DE SANTO

AGOSTINHO: UMA REFLEXÃO SOBRE A FELICIDADE”. (Trabalho

apresentado ao departamento de Pós-Graduação Stricto Sensu mestrado em Filosofia da

Pontifica Universidade Católica do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Jamil Ibrahim

Iskandar). Curitiba, 2006.

Nota: As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão

devidamente catalogadas na citada obra. Este texto é apenas um dos muitos tópicos

abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema,

recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.