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VISITA DE ESTUDO DA UNIVERSIDADE SÉNIOR CONTEMPORÂNEA À QUINTA DA REGALEIRA E PALÁCIO DE SETEAIS, PAISAGEM CULTURAL DE SINTRA, 31 de Julho 2014 Universidade Sénior Contemporânea do Porto - Rua Nova do Tronco, 504, 4250-339 Porto (Instalações do Seminário Seráfico dos Frades Franciscanos Capuchinhos – Telf: 96406452 – 964756736; Email: [email protected] Web: www.usc.no.sapo.pt VISITA DE ESTUDO DA UNIVERSIDADE SÉNIOR CONTEMPORÂNEA À QUINTA DA REGALEIRA (1) E PALÁCIO DE SETEAIS (2), PAISAGEM CULTURAL DE SINTRA, 31 de Julho 2014 1 - Quinta e Palácio da Regaleira Palacete situado na encosta da Serra de Sintra, era conhecido inicialmente por Quinta da Torre ou do Crasto. Em 1840 foi adquirida pela baronesa da Regaleira, que realizou inúmeras melhorias. No início do século XX, a quinta passou para as mãos de António Augusto de Carvalho Monteiro, homem imbuído de ideais românticos e jurista amante da natureza. Apaixonado pelas obras neo-manuelinas então em voga em Portugal, encomendou a Luigi Manini, cenógrafo da ópera do Teatro de S. Carlos, um projeto inspirado no Palace Hotel do Buçaco (1888-1907). Com a sua vegetação frondosa, Sintra parece ter ido ao encontro desta geração de românticos. Nas fachadas animadas de coruchéus, pináculos, cogulhos, rendilhados e torres facetadas, destacam-se as torres de menagem e de vigia. Os volumes arquitetónicos ostentam o ímpeto decorativo conferido pelo cinzel dos escultores da Escola de Coimbra, discípulos de António Augusto Gonçalves. A temática gótica e manuelina ressurge e a exuberância da pedra parece ser a correspondência mais direta da vegetação luxuriante. A gramática decorativa do Renascimento associa-se aos ornatos tirados da natureza (cardos, folhagens), formando composições cenográficas (bancos, fontes, terraços, torreões e pórticos) ou animando elementos de composição (arcos, gabletes e gárgulas, portais, varandas). Circundada por um parque de grutas e espelhos de água, possui ainda uma capela, de pequenas dimensões e rica no ornato, lavor atribuído ao escultor conimbricense João Machado, de cujas mãos parecem ter saído o fogão de sala e os portais neo-manuelinos, enquadrados por frescos de Manini. Um outro escultor, José da Fonseca, provável colaborador de João Machado, parece ter sido o autor da "Rapariga das Pombas".

Visita de estudo da universidade sénior contemporânea à quinta da regaleira

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VISITA DE ESTUDO DA UNIVERSIDADE SÉNIOR CONTEMPORÂNEA À QUINTA DA REGALEIRA E

PALÁCIO DE SETEAIS, PAISAGEM CULTURAL DE SINTRA, 31 de Julho 2014

Universidade Sénior Contemporânea do Porto - Rua Nova do Tronco, 504, 4250-339 Porto (Instalações do Seminário Seráfico dos Frades Franciscanos Capuchinhos – Telf: 96406452 – 964756736; Email: [email protected] Web: www.usc.no.sapo.pt

VISITA DE ESTUDO DA UNIVERSIDADE

SÉNIOR CONTEMPORÂNEA À QUINTA DA

REGALEIRA (1) E PALÁCIO DE SETEAIS (2),

PAISAGEM CULTURAL DE SINTRA, 31 de Julho

2014

1 - Quinta e Palácio da Regaleira

Palacete situado na encosta da Serra de Sintra, era conhecido

inicialmente por Quinta da Torre ou do Crasto. Em 1840 foi

adquirida pela baronesa da Regaleira, que realizou inúmeras

melhorias. No início do século XX, a quinta passou para as

mãos de António Augusto de Carvalho Monteiro, homem

imbuído de ideais românticos e jurista amante da natureza.

Apaixonado pelas obras neo-manuelinas então em voga em

Portugal, encomendou a Luigi Manini, cenógrafo da ópera do

Teatro de S. Carlos, um projeto inspirado no Palace Hotel do

Buçaco (1888-1907). Com a sua vegetação frondosa, Sintra

parece ter ido ao encontro desta geração de românticos. Nas fachadas animadas de coruchéus,

pináculos, cogulhos, rendilhados e torres facetadas, destacam-se as torres de menagem e de vigia.

Os volumes arquitetónicos ostentam o ímpeto decorativo conferido pelo cinzel dos escultores da

Escola de Coimbra, discípulos de António Augusto Gonçalves. A temática gótica e manuelina

ressurge e a exuberância da pedra parece ser a correspondência mais direta da vegetação

luxuriante.

A gramática decorativa do Renascimento associa-se aos

ornatos tirados da natureza (cardos, folhagens),

formando composições cenográficas (bancos, fontes,

terraços, torreões e pórticos) ou animando elementos de

composição (arcos, gabletes e gárgulas, portais,

varandas).

Circundada por um parque de grutas e espelhos de água,

possui ainda uma capela, de pequenas dimensões e rica

no ornato, lavor atribuído ao escultor conimbricense João

Machado, de cujas mãos parecem ter saído o fogão de sala e os portais neo-manuelinos,

enquadrados por frescos de Manini. Um outro escultor, José da Fonseca, provável colaborador de

João Machado, parece ter sido o autor da "Rapariga das Pombas".

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No interior, a casa prolonga este efeito cénico, quer através da decoração esculpida, quer pela

utilização de frescos (as cenas de caça da sala de jantar) e de mosaicos Arte Nova. A Galeria dos Reis

inspira-se na de Coimbra e os aposentos renascença possuíam

mobílias ao estilo da época, executadas por Leandro Braga.

Finalizada antes de 1910, pouco uso parece ter tido por parte

do seu proprietário, que veio a morrer pouco tempo depois.

Em 1946 foi vendida a Waldemar d'Orey que a dignificou com

avultadas obras de restauro.

Esta quinta foi adquirida pelo município de Sintra em 1997,

tendo sido aberta ao público no ano seguinte.

A Quinta e pontos de interesse

Carvalho Monteiro tinha o desejo de construir um espaço grandioso, em que vivesse rodeado de

todos os símbolos que espelhassem os seus interesses e ideologias. Conservador, monárquico e

cristão gnóstico, Carvalho Monteiro quis ressuscitar o passado mais glorioso de Portugal, daí a

predominância do estilo neomanuelino com a sua ligação aos descobrimentos. Esta evocação do

passado passa também pela arte gótica e alguns elementos clássicos. A diversidade da quinta da

Regaleira é enriquecida com simbolismo de temas esotéricos relacionados com a alquimia,

Maçonaria, Templários e Rosa-cruz.

Bosque

O bosque ou mata que ocupa a maioria do espaço da

Quinta, não está disposta ao acaso. Começando mais

ordenada e cuidada na parte mais baixa da quinta, mas,

sendo progressivamente mais selvagem até chegarmos

ao topo. Este disposição reflecte a crença no primitivismo

de Carvalho Monteiro

Patamar dos Deuses

O Patamar dos Deuses é composto por 9 estátuas dos

deuses greco-romanos. A mitologia clássica foi uma das

inspirações de Carvalho Monteiro para os jardins da

Regaleira.

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Poço Iniciático

Uma galeria subterrânea com uma

escadaria em espiral, sustentada por

colunas esculpidas, por onde se desce

até ao fundo do poço. A escadaria é

constituída por nove patamares

separados por lanços de 15 degraus

cada um, invocando referências à Divina

Comédia de Dante e que podem

representar os 9 círculos do inferno, do

paraíso, ou do purgatório. Segundo os

conceituados ocultistas Albert Pike,

René Guénon e Manly Palmer Hall é na obra 'A Divina Comédia' que se encontra pela primeira vez

exposta a Ordem Rosacruz. No fundo do poço está embutida em mármore, uma rosa dos ventos

(estrela de oito pontas: 4 maiores ou cardeais, 4 menores ou colaterais) sobre uma cruz templária,

que é o emblema heráldico de Carvalho Monteiro e, simultaneamente, indicativo da Ordem Rosa-

cruz. O poço diz-se iniciático porque se acredita que era usado em rituais de iniciação à maçonaria e

a explicação do simbolismo dos mesmos nove patamares

diz-se que poderá ser encontrada na obra Conceito

Rosacruz do Cosmos. A simbologia do local está

relacionada com a crença que a terra é o útero materno

de onde provém a vida, mas também a sepultura para

onde voltará. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos

do nascimento e morte ligados à terra, ou renascimento.

A existência de 23 nichos localizados por debaixo dos

degraus do poço iniciático representava um dos muitos

mistérios da referida construção. No dia 29 de Dezembro de 2010, o professor Gabriel Fernández

Calvo da Escola Técnica Superior de Engenheiros de Caminhos, Canais e Portos da Universidad de

Castilla-La Mancha em Ciudad Real, quando visitava o poço acompanhado de outros professores da

UCLM, observou que os 23 nichos não estão colocados por acaso, pois encontram-se agrupados em

três conjuntos de 17, 1 e 5 nichos separados entre si à medida que se desce ao fundo do poço. Esta

organização não é aleatória e provavelmente se refere ao ano 1715 em que Francisco Albertino

Guimarães de Castro comprou a propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do Castro) em

hasta pública. O poço está ligado por várias galerias ou túneis a outros pontos da quinta, a Entrada

dos Guardiães, o Lago da Cascata e o Poço Imperfeito. Estes túneis, outrora habitados por morcegos

afastados pelos muitos turistas que visitam o local, estão cobertos com pedra importada da orla

marítima da região de Peniche, pedra que dá a sugestão de um mundo submerso.

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Capela da Santíssima Trindade

Uma magnífica fachada que aposta no revivalismo

gótico e manuelino. Nela estão representados Santa

Teresa d'Ávila e Santo António. No meio, a encimar a

entrada está representado o Mistério da Anunciação -

o anjo Gabriel desce à terra para dizer a Maria que ela

vai ter um filho do Senhor - e Deus Pai entronizado.2

No interior, no altar-mor vê-se Jesus depois de

ressuscitar a

coroar uma

mulher que pode ser Maria ou Madalena (de uma maneira

mais contraditória). Do lado direito Santa Teresa e Santo

António repetem-se, desta vez em painéis de mosaico. Do

lado oposto um vitral com a representação do milagre de

Nossa Senhora da Nazaré a D. Fuas Roupinho. No chão estão

representados a Esfera Armilar ou Globo Celeste e a Cruz da

Ordem de Cristo, rodeados de pentagramas (estrelas de

cinco pontas).

A Torre da Regaleira

Foi construída para dar a quem a sobe a ilusão de se encontrar no eixo do

mundo.

O Palácio

O edifício principal da quinta é marcado pela presença

de uma torre octogonal. Toda a exuberante decoração

esteve a cargo do escultor José da Fonseca.

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2 – Palácio de Seteais; Lenda de Seteais

O Palácio de Seteais, elegante palácio cor-de-rosa, agora um

hotel de luxo e restaurante da Sociedade Hotel Tivoli, foi

construído no século XVIII para o cônsul holandês, Daniel

Gildemeester, numa porção de terra cedida pelo Marquês de

Pombal. Localizado em Sintra, património mundial, ergue-se

este palácio no meio de um terreno acidentado, de onde se

pode avistar o mar e o alto da Serra de Sintra.

De arquitectura neoclássica, insere-se no conjunto de

palácios reformados pela burguesia. Destaca-se a entrada, com frontões triangulares, janelas de

guilhotina e uma escada de dois braços que se

desenvolve para o interior no sentido da fachada

secundária. Pode-se também constatar a

adaptação do palácio à irregularidade do terreno,

que tem um enquadramento com o Palácio da

Pena.

No conjunto, existem dois corpos de planta

composta — a ala esquerda, com planta em U,

que se desenvolve à volta do pátio interior, e a ala direita, com planta

rectangular. As fachadas principais são simétricas, de dois registos. As salas da

ala esquerda são pintadas com frisos de flores e grinaldas, salientando-se a Sala

Pillement, com cenas figurativas da autoria de Jean Baptiste Pillement, e a Sala

da Convenção, com alusões marítimas mitológicas.

Realce ainda para a escadaria ampla, de dois braços e três lanços, dando acesso

ao andar inferior. Refira-se que este é o Palácio de Seteais, descrito como

abandonado na famosa obra de Eça de Queirós "Os Maias".

Lenda de Seteais

Segundo a lenda, um dos primeiros cavaleiros

cristãos a subir a serra Xentra foi D. Mendes de

Paiva que encontrou uma porta secreta por

onde fugiam vários mouros. Entre eles

encontrava-se uma moura muito bonita com a

sua velha aia.

Quando viu o cavaleiro, a jovem, por se sentir

descoberta, suspirou.

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A aia, aflita, pediu-lhe que não suspirasse mais. D. Mendes decidiu fazer a jovem sua prisioneira.

Quando o disse à aia, a jovem voltou a suspirar.

O novo suspiro da bela moura fez com que a velha aia

confessasse ao cavaleiro que a jovem tinha sido amaldiçoada

por uma feiticeira e que morreria no dia em que desse sete

ais.

A revelação deste segredo fez com que a moura suspirasse de

novo.

O cavaleiro não acreditou na história, o que provocou outro

suspiro da jovem. Quando o cavaleiro anunciou que fazia

ambas suas prisioneiras, a bela moura soltou novo suspiro. A pobre velha ficou desesperada porque

a sua ama já tinha suspirado cinco vezes. O cavaleiro voltou a dizer que não acreditava em tais

maldições e que iria procurar um local sossegado para onde as levaria.

Depois do cavaleiro se afastar, surgiu um grupo de mouros

que tinham ouvido a conversa e que se preparou para

roubar as duas mulheres. Com um golpe de adaga cortaram

a cabeça da velha ama, o que provocou novo ai na jovem.

Este foi o sexto ai. O sétimo foi a última coisa que disse, no

momento em que viu a adaga voltar para lhe cair sobre o

pescoço.

Quando D. Mendes voltou, ficou triste e deu àquele recanto

de Sintra, em honra da bela moura, o nome de Seteais.