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72 + MONET + setembro CANAL BRASIL l 12 ANOS setembro + MONET + 73 “O CLIMA NO SET ERA TÃO BOM QUE NÃO PARECIA TRABALHO. ÉRAMOS JOVENS APAIXONADOS POR CINEMA QUERENDO MUITO FAZER AQUILO JUNTOS“ por josé gabriel navarro Ou de que forma Matheus Souza e seus amigos da PUC-RJ se reuniram para fazer um longa com poucos recursos, uma ótima história e muita sinceridade UmA CÂmerA NA mÃo, uma ideia na cabeça e pouco dinheiro no bolso. Compartilhada pela maior parte dos estudantes de cinema de todo o mundo, essa realidade pode ser de- sestimulante ou se traduzir em curtas- metragens – que, apesar de geralmente exigirem mais esforços na hora de editar, costumam ter poucas locações, reduzindo os gastos com aluguel, trans- porte, etc. Quando, em 2008, matheus souza ainda estava na faculdade, a área de atuação de seu primeiro longa foi bem delimitada: o único set seria o campus da Pontifícia Universidade Católica do rio de Janeiro (PUC-rJ), onde se formou no fim do ano passado. Com isso em mente, escreveu o roteiro de Apenas o Fim. Na história, tom (Gregório Duvivier) é o aluno de Apenas o Fim DIA 20, SEGUNDA, 22H cinema que, no caminho, apressado para chegar a tempo para uma prova, é interrompido pela namorada, primeiro papel de protagonista de erika mader, coapresentadora do Bastidores (sextas, 22h30, multishow, 42). ela avisa que vai deixar o rapaz, a família e os estu- dos para trás, e eles só têm uma hora juntos antes de ela partir. ela quer mudar de vida e ponto final. “A ideia veio da vontade de fazer um filme do melhor jeito possível com o que tínhamos. e a temática veio do fato de que já estávamos sendo ousados por tentar fazer um longa aos 20 anos, sem experiência. então resolvi ser modesto e sincero na trama. resolvi falar do que sabia falar bem, do que já vivi, das conversas que já tive, do meu compor- tamento e das pessoas que me cercam”, explica souza. ele, Duvivier e erika já se conheciam d’ o tablado, tradicional escola de teatro carioca que formou, entre outros atores, miguel Falabella, Drica moraes, Cláudia Abreu e malu mader, tia de erika. A convivência garantiu um clima de descontração nos bastidores. ou, como define Duvivier: “todos éramos meio sócios. N’ o tablado, os atores aprendem um pouco a participar da parte técnica, da montagem. e a gente [a equipe de atores] participava bastante, dava sugestões para a produção. Foi um dos filmes mais tranquilos que já fiz”. o ator já esteve em outros quatro longas- metragens, incluindo Chico Xavier, mais um sucesso da lavra de Daniel Filho. souza concorda. “Foi sempre ótima essa proximidade. o clima no set era tão bom que não parecia trabalho. Éramos jovens apaixonados por cinema querendo muito fazer aquilo juntos.” e haja vontade. As cenas na universidade foram gravadas em apenas duas semanas, durante os dias letivos em que os alunos realmente circularam pelo local. outras tomadas, ambientadas num quarto, foram gravadas na casa de uma das garotas da equipe, que contou com “entre 25 e 30 pessoas”, segundo o jovem cineasta. metade do orçamento de r$ 8 mil veio da Vice-reitoria de Desenvolvi- mento da faculdade. o restante, do sorteio de uma rifa de uísque. “boas histórias, bons diálogos não precisam de grandes recursos. tem gente que faz um roteiro ruim com um monte de efeitos especiais e pensa que vai ficar incrível. existem roteiros ótimos que não se passam numa locação deslum- brante nem dependem de uma foto- grafia incrível, mas se garantem com o carisma dos personagens”, diz Duvivier, que se formou em Letras na PUC-rJ no fim de 2008. A prova de que eles estavam certos veio no ano seguinte ao lançamento, com os prêmios de melhor filme de ficção pela escolha do público no Festival do rio e na mostra Interna- cional de Cinema em são Paulo. o tema “casal com pouquíssimo tempo para viver o amor” é bastante associado a Antes do Amanhecer (1995) e a sua continuação, Antes do Pôr-do- Sol (2004). mas, a julgar pelos elogios do público e da crítica, a proximidade maior é com Juno (2007), um filme cheio de referências à cultura jovem contemporânea e com olhar sóbrio acerca dessa fase da vida – sem dramas suicidas nem prazeres infinitos, apenas uma simpática tragicomédia. A vida real é bem mais por aí, não é mesmo? n 12

Apenas o Fim

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7 2 + m o n e t + s e t e m b r o

Canal Brasil l 12 anos

s e t e m b r o + m o n e t + 7 3

“O Clima nO set era tãO

BOm que nãO pareCia

traBalhO. ÉramOs jOvens

apaixOnadOs pOr Cinema querendO

muitO fazer aquilO juntOs“

por josé gabriel navarro

Ou de que forma Matheus Souza e seus amigos da PUC-RJ se reuniram para fazer um longa com poucos recursos, uma ótima história e muita sinceridade

UmA CÂmerA NA mÃo, uma ideia na cabeça e pouco dinheiro no bolso.

Compartilhada pela maior parte dos estudantes de cinema de todo o mundo, essa realidade pode ser de-sestimulante ou se traduzir em curtas-metragens – que, apesar de geralmente exigirem mais esforços na hora de editar, costumam ter poucas locações, reduzindo os gastos com aluguel, trans-porte, etc. Quando, em 2008, matheus souza ainda estava na faculdade, a área de atuação de seu primeiro longa foi bem delimitada: o único set seria o campus da Pontifícia Universidade Católica do rio de Janeiro (PUC-rJ), onde se formou no fim do ano passado.

Com isso em mente, escreveu o roteiro de Apenas o Fim. Na história, tom (Gregório Duvivier) é o aluno de

apenas o Fim dia 20, segunda, 22h

cinema que, no caminho, apressado para chegar a tempo para uma prova, é interrompido pela namorada, primeiro papel de protagonista de erika mader, coapresentadora do Bastidores (sextas, 22h30, multishow, 42). ela avisa que vai deixar o rapaz, a família e os estu-dos para trás, e eles só têm uma hora juntos antes de ela partir. ela quer mudar de vida e ponto final.

“A ideia veio da vontade de fazer um filme do melhor jeito possível com o que tínhamos. e a temática veio do fato de que já estávamos sendo ousados por tentar fazer um longa aos 20 anos, sem experiência. então resolvi ser modesto e sincero na trama. resolvi falar do que sabia falar bem, do que já vivi, das conversas que já tive, do meu compor-tamento e das pessoas que me cercam”, explica souza. ele, Duvivier e erika já

se conheciam d’o tablado, tradicional escola de teatro carioca que formou, entre outros atores, miguel Falabella, Drica moraes, Cláudia Abreu e malu mader, tia de erika.

A convivência garantiu um clima de descontração nos bastidores. ou, como define Duvivier: “todos éramos meio sócios. N’o tablado, os atores aprendem um pouco a participar da parte técnica, da montagem. e a gente [a equipe de atores] participava bastante, dava sugestões para a produção. Foi um dos filmes mais tranquilos que já fiz”. o ator já esteve em outros quatro longas-metragens, incluindo Chico Xavier, mais um sucesso da lavra de Daniel Filho.

souza concorda. “Foi sempre ótima essa proximidade. o clima no set era tão bom que não parecia trabalho. Éramos jovens apaixonados por cinema

querendo muito fazer aquilo juntos.” e haja vontade. As cenas na universidade foram gravadas em apenas duas semanas, durante os dias letivos em que os alunos realmente circularam pelo local. outras tomadas, ambientadas num quarto, foram gravadas na casa de uma das garotas da equipe, que contou com “entre 25 e 30 pessoas”, segundo o jovem cineasta.

metade do orçamento de r$ 8 mil veio da Vice-reitoria de Desenvolvi-mento da faculdade. o restante, do sorteio de uma rifa de uísque. “boas histórias, bons diálogos não precisam de grandes recursos. tem gente que faz um roteiro ruim com um monte de efeitos especiais e pensa que vai ficar incrível. existem roteiros ótimos que não se passam numa locação deslum-brante nem dependem de uma foto-grafia incrível, mas se garantem com o

carisma dos personagens”, diz Duvivier, que se formou em Letras na PUC-rJ no fim de 2008. A prova de que eles estavam certos veio no ano seguinte ao lançamento, com os prêmios de melhor filme de ficção pela escolha do público no Festival do rio e na mostra Interna-cional de Cinema em são Paulo.

o tema “casal com pouquíssimo tempo para viver o amor” é bastante associado a Antes do Amanhecer (1995) e a sua continuação, Antes do Pôr-do-Sol (2004). mas, a julgar pelos elogios do público e da crítica, a proximidade maior é com Juno (2007), um filme cheio de referências à cultura jovem contemporânea e com olhar sóbrio acerca dessa fase da vida – sem dramas suicidas nem prazeres infinitos, apenas uma simpática tragicomédia. A vida real é bem mais por aí, não é mesmo? n

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