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Abril de 2014 | “Aplicação de preference mapping“, no âmbito da unidade curricular de Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos do Mestrado em Ciências do Consumo e Nutrição da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP). Autores: Cláudio Carvalho; Leandra Neto. Avaliação: 18 em 20 valores.
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2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 1
Aplicação de preference mapping Cláudio Carvalho e Leandra Neto
Resumo: Preference mapping é um conjunto de técnicas estatísticas com o objetivo de explicar
as preferências do consumidor para um conjunto de produtos, pelos perfis sensoriais obtidos
por um painel de avaliadores treinados. É uma técnica que tem sido amplamente utilizada para
ajudar investigadores a compreenderem os atributos sensoriais que conduzem à preferência do
consumidor. Este procedimento requer uma caracterização objetiva de atributos sensoriais dos
utos, obtida através de análise descritiva. Esta é então relacionada com classificações de
preferência para o produto obtido a partir de uma amostra representativa dos consumidores.
Os resultados podem, por exemplo, ajudar a decidir qual das várias formulações de produtos
recém-desenvolvidos devem ir para lançamento no mercado e fornecer informações valiosas
sobre o posicionamento da marca e os padrões de segmentação para a categoria de produto em
estudo.
Neste trabalho apresenta-se uma análise a esta temática que engloba um conjunto de técnicas
estatísticas de análise sensorial como o preference mapping interno e externo. Aborda-se
também as principais características destas duas dimensões, a sua aplicação, como decorre a
análise de resultados e alguns softwares aplicados a esta análise.
Alguns exemplos são também apresentados para melhor elucidar e representar estas aplicações.
Apesar do aumento de popularidade destas técnicas na área de consumo alimentar, a sua
metodologia encontra-se em constante evolução e otimização para que se torne mais simples e
exata a sua aplicabilidade.
Submetido a 23/04/2014. Os autores são mestrandos das Faculdades de Ciências e de Ciências da Nutrição e
Alimentação, Universidade do Porto, Rua do Campo Alegre, 4169-007 Porto. Questões sobre o estudo devem ser
remetidas a Cláudio Carvalho ou a Leandra Neto (E-mails respetivamente, [email protected] ou
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 2
Introdução
A técnica do preference mapping tem como
objetivo alcançar um conhecimento mais
profundo sobre o posicionamento dos
produtos, quer da própria empresa quer das
concorrentes, sendo uma ferramenta
importante para a gestão de portefólio de
produtos (MacFie 2007). Ao nível da gestão
estratégica e do marketing, esta técnica – se
corretamente aplicada - pode, por exemplo,
ajudar a desenvolver o processo de
segmentação do mercado, de forma bem
definida, em grupos de consumidores mais
reduzidos (Helgesen et al. 1997). As valências
desta técnica não se ficam por aqui e podem,
também, auxiliar no desenvolvimento de
novos produtos e na reformulação de produtos
existentes, estando, assim, igualmente
alinhada com a vertente da investigação,
desenvolvimento e inovação (I&D+i) de uma
organização (MacFie 2007).
Esta técnica de estatística multivariada centra-
se na modelação da relação entre as
preferências dos consumidores e os perfis
sensoriais dos diferentes produtos (Tijskens et
al. 2001, Meullenet et al. 2007) e terá tido a
sua génese num artigo de 1972 do matemático
1 Visualizar, como "recomenda" MacFie (2007),
por exemplo, as publicações que constam do
"Journal of Sensory Studies"
(http://onlinelibrary.wiley.com/journal/10.1111/(I
SSN)1745-459X), do "Food Quality and
Preference"
J. D. Carroll: A sua primeira aplicação terá
ocorrido em 1976, no setor alimentar,
nomeadamente em carne (Horsfield e Taylor
1976, MacFie 2007). Desde aí a técnica tem
vindo a ser alvo de interesse e inerente estudo
académico e científico1, mas os grandes
disseminadores dos conceitos aliados a esta
técnica são, essencialmente, os profissionais
ligados ao mercado alimentar europeu e norte-
americano, particularmente investigadores na
área sensorial e de recursos humanos afetos à
realização de estudos de mercado(s) (MacFie
2007).
Apesar da importância da opinião do
consumidor e das inerentes técnicas e
ferramentas de business e consumer
intelligence desenvolvidas pelas organizações
para avaliar o comportamento do consumidor
e, consequentes, políticas de desenvolvimento
de novos produtos, a técnica do preference
mapping toma particular relevo se atentarmos
ao facto de que, apesar dos consumidores
serem clarividentes quanto ao facto de
afiançarem gostar ou não de determinado
produto, não são tão claros em descrever os
motivos associados a tais preferências (van
Kleef et al. 2006).
Desenvolvida que está, ainda que de forma
sumária, a conceptualização temática e a
(http://www.journals.elsevier.com/food-quality-
and-preference/) e do "Journal of Food Science"
(http://onlinelibrary.wiley.com/journal/10.1111/(I
SSN)1750-3841).
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 3
contextualização histórica, apresentar-se-ão,
de seguida, descrições mais detalhadas sobre a
técnica em análise, juntamente com extratos
do que consideramos mais relevante de
determinados estudos desenvolvidos, para
facilitar a compreensão sobre o objeto de
estudo. Posteriormente, apresentar-se-á, uma
referência sintética aos softwares utilizados
para efeitos de modelização e, findar-se-á,
com a conclusão da revisão bibliográfica aqui
exposta, assim como das respetivas
referências bibliográficas.
Conceptualização: “Preference
Mapping” Interno e “Preference
Mapping” Externo
Esta técnica pode ser subdividida em duas
categorias: uma análise de cariz interno,
denominada de multidimensional preference
analysis (ou simplesmente, MDPREF) e, outra
de cariz externo, denominada, simplesmente,
por preference mapping (recorrentemente,
aparecendo designada como PREFMAP)
(Helgesen et al. 1997, Yenket et al. 2011).
Quanto a esta segunda categoria, outros
autores preferem denomina-la como
preference mapping externo (Meullenet et al.
2007, Lovely e Meullenet 2009). Ambas as
técnicas são "tipicamente avaliadas com base
em critérios exclusivamente estatísticos" (van
Kleef et al. 2006) e têm objetivos similares, ou
seja, visam analisar as dimensões subjacentes
para analisar as preferências e escolhas dos
consumidores, contudo a opção por uma das
técnicas não é arbitrária, visto que "fornecem
uma perspetiva diferente sobre a mesma
informação" (van Kleef et al. 2006).
Segundo van Kleef et al. (2006), a análise
interna faz prevalecer as preferências dos
consumidores, recorrendo
complementarmente a informações de
perceção. Os mesmos autores, sobre a análise
externa, consideram que esta "dá prioridade à
informação percetual com base em avaliações
de atributos" e só, posteriormente atenta para
as preferências dos consumidores. Neste
sentido, a Tabela 1 descreve as principais
diferenças entre este tipo de análises.
Tabela 1: Visão global das principais diferenças entre a "análise de preferência interna" e a "análise preferência
externa". Fonte: van Kleef et al. (2006).
Análise de preferência interna Análise preferência externa
Primazia da Preferência Perceção
Posições do
produto no mapa
dão relevo à variação na
preferência/gosto
dão relevo à variação na
perceção/similaridade (dados de ordem
sensorial, muitas vezes)
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 4
Primeira
dimensão
explica a variabilidade máxima em
direções preferenciais entre estímulos
ao nível do produto
explica a variabilidade máxima em
direções do foro da perceção (e.g.
sensorial) entre estímulos ao nível do
produto
Informação/Dado
s relativos às
preferências
fomenta a orientação do espaço do
produto
é suplementar/complementar: adaptada
ao espaço da perceção "fixo" do
produto
Informação/Dado
s relativos às
perceções
é usada como fonte de informação
complementar/suplementar: adaptada
ao espaço preferencial "fixo" do
produto
fomenta a orientação do espaço do
produto
De seguida, explorar-se-á, de forma separada,
cada uma destas categorias. Atente-se que uma
das primeiras decisões prévias à aplicação de
qualquer uma das técnicas (interna ou externa)
é se se usam ou não dados normalizados, i.e.
se se usam matrizes de correlações ou de
covariâncias, respetivamente. Tal será
referenciado na secção seguinte.
Preference Mapping Interno
A primeira categoria – i.e. preference mapping
interno ou MDPREF - recorre aos resultados
da avaliação hedónica ou afetiva - ou, vulgo
"gosto" - por parte dos consumidores face a
determinadas características sensoriais de
produtos, possibilitando a representação
multidimensional de produtos e consumidores
num espaço comum (Meullenet et al. 2007).
A representação multidimensional dos
produtos e consumidores pelo preference
mapping interno é obtida através da análise de
componentes principais (ACP), pela
organização de uma matriz de produtos (nas
linhas) e de consumidores (como variáveis ou
colunas), “do mesmo modo que a ACP
identifica a maior fonte de variação e extrai
estas como componentes” (Fernandes et al.
2009). As componentes principais avaliadas
são habitualmente referidas como dimensões
preferenciais e para cada produto (ou
amostras) e consumidor, os dados usados estão
associados aos resultados da avaliação
hedónica supra referidos (Meullenet et al.
2007). Todavia, tipicamente, é utilizada a
matriz de covariância ao invés da matriz de
correlação (matriz não normalizada),
característica da ACP, de acordo com Naes e
Risvik (1996). Em consequência deste
processo de análise, obtém-se um mapa de
amostra ou produto e um mapa de consumidor,
como veremos adiante dois exemplos, com
abordagens diferentes. Naes e Risvik (1996)
referem, ainda, que o resultado desta técnica é
um mapa exemplo, baseado na informação,
providenciada por cada consumidor, de
aceitabilidade de um produto. Em
consequência, poder-se-á realizar análises de
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 5
segmentação dos consumidores e visualizar as
direções das preferências dos consumidores ou
poder-se-á, também, recorrer ao algoritmo de
classificação usando os parâmetros da ACP.
Atente-se que quanto mais complexa é a
estrutura das preferências da população em
análise, maior será o número de componentes
principais necessários para interpretar a
informação, todavia não é recomendável a
utilização de mais do que duas dimensões.
Destaca-se, desta feita, algumas das vantagens
e desvantagens da técnica preference mapping
interno, segundo Naes e Risvik (1996):
Como vantagens:
Mais fácil de usar e entender que o
mapeamento de preferência externo,
pois é semelhante à análise de
componentes principais.
Permite que as dimensões reais de
preferência sejam determinadas, uma
vez que são usados apenas os dados de
aceitação dos consumidores.
Pode ser usado como um
procedimento de triagem sem perfis
sensoriais, para a obtenção de
amostras dignas para o
desenvolvimento de trabalhos a nível
sensorial e de consumidor.
2 Bebida à base de goiaba adoçado com as seguintes
alternativas: Sacarose; Aspartame; mistura
Sacarina + Ciclamato de sódio + Acesulfame-K;
Como desvantagens:
O programa falha quando são usadas
mais de duas dimensões em termos de
interpretação.
A variância percentual representada
pelas diferentes dimensões é
frequentemente baixa.
Atente-se agora para dois exemplos onde esta
técnica foi aplicada.
Estudo-exemplo I: O estudo de Fernandes
et al. (2009) como exemplo
Tome-se como exemplo o que consta do
estudo de Fernandes et al. (2009). Tendo por
base dados obtidos previamente, fruto de
testes de aceitação, em consumidores, de seis
tipos de formulações diferentes de uma
determinada bebida (neste caso de uma bebida
de goiaba)2, foi criado um mapa de preferência
interno face a um determinado atributo em
análise (neste caso que apresentamos como
exemplo, o atributo "sabor"). Como supra
referido, temos um mapa - cujas coordenadas
são as componentes principais e em que a
componente principal 1 explica 70,2% da
variância e a componente principal 2 explica
10,2% - para cada formulação, amostra ou
Estévia; mistura Ciclamato + Sacarina; e,
finalmente, Acesulfame-K.
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 6
produto (vd. figura do lado esquerdo) e
consumidores (vd. figura do lado direito).
Figura 1: Mapa de preferência interno para o atributo sabor de uma bebida de goiaba com a adição de Sacarose;
Aspartame; mistura Sacarina + Ciclamato de sódio + Acesulfame-K; Estévia; mistura Ciclamato + Sacarina;
Acesulfame-K. Fonte: Fernandes et al. (2009).
Observando-se a figura à esquerda, constata-
se a formação de dois grupos, a saber: a)
Sacarose; Aspartame; Sacarina + Ciclamato de
sódio + Acesulfame-K e b) Estévia; Ciclamato
+ Sacarina, sendo que c) Acesulfame-K ficou
isolada. A figura à direita informa-nos,
atentando a que não se registaram pontos (i.e.
provedores) no centro do mapa - ponto
(0,0;0,0) -, que não "todos discriminaram as
amostras em relação ao sabor".
Concomitantemente, constata-se que a
preferência dos consumidores recai
predominantemente para o grupo a) e alguns
consumidores aproximam-se da preferência
por Acesulfame-K (i.e. c)). O mesmo estudo
que estamos a tomar como exemplo faz análise
análoga para o atributo "doçura" e, ainda, faz
uma avaliação global.
Estudo-exemplo II: Meullenet et al. (2007)
como estudo-exemplo
Tomando-se outro exemplo que consta do
estudo de Meullenet et al. (2007),
nomeadamente um mapa de preferência
interno obtido pelos dados de aceitação global
de 80 consumidores relativamente a 11 tipos
de snacks de tortilhas (vd. Figura 2).
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 7
Figura 2: Mapa de preferência interno relativos à aceitação global de snacks de tortilhas de milho brancas, com
representação dos diferentes tipos de produtos e dos consumidores. Fonte: Meullenet et al. (2007).
Atente-se às coordenadas: as duas dimensões
preferenciais explicam 42,62% da variância e
se fosse incluída uma terceira dimensão, a
variância dos dados seria explicada em
55,33%. Os pontos são referentes às 11
amostras do produto em causa, as “retas a
tracejado” – denominados no estudo por
vetores - representam a direção de aumento do
gosto ou afeto para cada consumidor e o
tamanho do vetor é diretamente proporcional
à variância explicada pelas dimensões
preferenciais selecionadas para cada
consumidor (Meullenet et al. 2007). Tendo em
conta o exposto, observa-se que a maior parte
dos consumidores prefere o produto
respeitante à SAN (Santita’s), TBS (Tostito’s
bite size) e TRS (Tostito’s restaurant style) e
que há pouca segmentação dos consumidores,
não obstante um dos objetivos principais desta
análise seja “visualizar a segmentação dos
consumidores” (Meullenet et al. 2007). Se os
vetores não estiverem concentrados numa só
direção do mapa – como acontece com a figura
supra disposta -, mas distribuídos pelos quatro
quadrantes, verifica-se a possibilidade de
segmentar o mercado.
Preference Mapping Externo
Neste ponto, debruçar-nos-emos sobre o
preference mapping externo, que pode ser
obtido por intermédio de diversas técnicas
estatísticas disponíveis (Yenket et al. 2011).
De forma simplificada, o preference mapping
externo ou PREFMAP - recorre a
características sensoriais ou a uma
caracterização instrumental de produtos para
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 8
fornecer uma representação multidimensional
de produtos, características sensoriais e/ou
instrumentais e consumidores num mesmo
espaço (Meullenet et al. 2007). Ou seja,
representa-se multidimensionalmente
produtos segundo o seu perfil sensorial ou de
acordo com um conjunto de dados obtidos
instrumentalmente como cor, textura ou sabor.
Considerando o exposto, “a representação é
obtida pela análise de componentes principais
de uma matriz de dados com produtos nas
linhas e dados externos como variáveis ou
colunas” (Meullenet et al. 2007).
Segundo Naes e Risvik (1996), o estudo dos
dados pode simplesmente ser considerada uma
análise estatística de regressão nos dados,
onde as dimensões do perfil do espaço são
variáveis independentes, enquanto a aceitação
são as variáveis dependentes. Na prática,
existem dois tipos de comportamento de
preferência: o que se encaixa numa regressão
linear (modelo vetor) e aquele que se encaixa
numa regressão quadrática (modelo ponto
ideal):
Modelo de vetor
O modelo de vetor (vd. Figura 3) pertence ao
comportamento "quanto mais, melhor" típico
de aceitação o que significa, que não existe
qualquer amostra que é percebida como tendo
muito ou pouco das características que
determinam aceitabilidade. Na prática, a
equação de regressão linear múltipla, é
determinada para cada um dos consumidores,
e a partir deste surge um vetor que descreve a
direção de preferência crescente que pode ser
descrita no espaço de amostragem.
De acordo com Hough e Sanchez (1998), o
algoritmo do preference mapping externo
implica quatro fases, sendo que a quarta é
respeitante à que "implica uma relação direta
entre uma ou mais características que
aumentam ou diminuem ao longo do espaço de
estímulo" (modelo de vetor) e as restantes três
serão descritas mais adiante (vd. modelo de
ponto ideal).
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 9
Figura 3: Representação gráfica do modelo de vetor (fase 4). Fonte: Naes e Risvik (1996).
Modelo de ponto ideal
O modelo de ponto ideal pertence também ao
comportamento do tipo aceitação mas já
considera que “uma certa quantidade é ideal".
Basicamente, isto significa que existem
amostras no espaço, que são vistas como tendo
quantidades excessivas ou insuficientes de um
ou mais, dos atributos sensoriais. Subjacente
ao modelo de ponto ideal é a suposição de que
há alguma combinação de atributos que
tornam o produto ideal. No entanto, pode ser
errado assumir que cada consumidor tem
apenas um produto ideal.
Existem três tipos de modelo de ponto ideal,
sendo que quanto menor o número de fase,
mais complexo (e específico) é o modelo:
(i) o modelo de ponto ideal circular
(ou modelo fase 3 ou III) – vd.
Figura 4;
(ii) o modelo de ponto ideal elíptico
(ou modelo fase 2 ou II) – vd.
Figura 5;
(iii) e o modelo de ponto ideal elíptico
com rotação (ou modelo fase 1 ou
I) – vd. Figura 6.
Todos os pontos ideais podem ser positivos ou
negativos. Um ponto ideal positivo representa
um ponto de máxima preferência, enquanto
um ponto ideal negativo é um ponto de
repulsão.
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 10
Figura 4: Representação gráfica do modelo de ponto ideal (fase 3). Fonte: Naes e Risvik (1996).
Figura 5: Representação gráfica do modelo de ponto ideal (fase 2). Fonte: Naes e Risvik (1996).
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 11
Figura 6: Representação gráfica do modelo de ponto ideal (fase 1). Fonte: Naes e Risvik (1996).
Aqui, também segundo os autores Hough e
Sanchez (1998), na fase III existe uma
distância fixa relativamente ao ponto ideal,
pelo que a aceitação é constante
independentemente da direção; na fase II, as
dimensões do espaço de estímulo não
contribuem igualmente para o modelo de
aceitação; e, finalmente, "para a fase I dos
eixos de contorno são rodados entre as
dimensões".
Esta representação, ainda que sendo
provavelmente mais popular que a do
preference mapping interno, é alvo de críticas
por parte de alguns autores, como referem
Meullenet et al. (2007). Tal deve-se ao facto
da representação do preference mapping
externo ser obtida por intermédio de dados
externos isolados sem hierarquização de
preferência dos atributos por parte dos
consumidores e, consequentemente, a
representação obtida pode não ter relevância
para a avaliação da aceitabilidade dos produtos
por parte do consumidor (Meullenet et al.
2007). A senda desta abordagem crítica,
sumaria-se em seguida algumas das vantagens
e desvantagens da técnica preference mapping
externo (Naes e Risvik 1996):
Como vantagens:
Oferece um procedimento direto para
relacionar a informação sensorial e do
consumidor e posterior otimização do
produto.
Ajuda a identificar novos mercados.
Fornece orientação para o
desenvolvimento futuro de produtos.
Fornece informações sobre a
segmentação de mercado, no que diz
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 12
respeito às preferências sensoriais.
Pode identificar a necessidade de
fazer produtos alternativos para
diferentes segmentos de mercado.
Através de amostras de mercado, a
técnica pode ser o primeiro passo na
procura de produtos atualmente
disponíveis para o consumidor, antes
de desenvolver formulações
específicas para um estudo mais
detalhado.
Como desvantagens:
É muitas vezes necessário um número
elevado de amostras (por exemplo,
12-20), para garantir que o mapa de
preferência possa ser realizado com
sucesso.
Cada consumidor deve avaliar todas
as amostras apresentadas para o
julgamento no mesmo momento.
Pode ter custos elevados.
Pode ser difícil a programação do
procedimento devido à complexidade
do programa de mapeamento.
Os dados de preferência nem sempre
são diretamente relacionados com o
mapa de perfil sensorial, devido à
forma como os provadores treinados
têm perceção diferente dos produtos
em relação aos consumidores.
Tende a ser utilizado para a
compreensão e direção, não previsão.
Nem todos os consumidores são bem
representados pelos modelos.
Observem-se mais dois exemplos mas, desta
feita, para a técnica de preference mapping
externo.
Estudo-exemplo III: O estudo de Peçanha
et al. (2006)
Tomando este último estudo referenciado
como meramente ilustrativo, apresenta-se de
seguida uma figura relativa ao mapa externo
da preferência de oito marcas do produto em
estudo (vd. pontos A a H) e apresentando, de
igual forma, os atributos sensoriais3.
3 A saber: Cor Vermelha (codificado como
"CorVerm"); Aparência da superfície de corte
(codificado como "ApSupCor"); Presença de
partículas (codificado como "PresPart"); Brilho;
Aroma de goiabada caseira (codificado como
"ArGdaCas"); Aroma de goiaba verde (codificado
como "ArGVerde"); Sabor de goiaba (codificado
como "SabG"); Sabor de goiabada (codificado
como "SabGda"); Gosto doce (codificado como
"Gdoce"); Acidez; Sabor estranho (codificado
como "SabEstr"); Resistência ao mastigar
(codificado como "ResMast"); Resistência ao corte
(codificado como "RseCort"); Firmeza.
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 13
Figura 7: Mapa de preferência externo representando amostras de oito marcas (pontos A a H) e atributos
sensoriais. Fonte: Peçanha et al. (2006).
Com esta imagem constata-se que as
componentes principais em estudo
contribuíram para 69,8% da variância, sendo
50,1 respeitante à dimensão 1 (agrupamento
de atributos de aparência como a cor, aroma,
sabor e textura) e 19,7% à dimensão 2
(agrupamento de atributos associados à
aparência, como a aparência da superfície de
corte e a presença de partículas) (Peçanha et
al. 2006). Uma outra figura (vd. abaixo) do
mesmo estudo que mostra a “direção da
preferência [de] dois segmentos de
consumidores” – obtido através de análise de
cluster -, demonstra que a amostra da marca F
é a menos preferida face aos dois segmentos
apresentados e, adicionalmente, permite-se
observar que: (i) os consumidores do
segmento 1 preferem as amostras das marcas
E, D, B e A que valorizaram mais os atributos
de “aparência (cor vermelha e brilho), textura
(firmeza, resistência ao corte e resistência ao
mastigar) e sabor (sabor de goiaba e gosto
doce) ” (Peçanha et al. 2006); (ii) os
consumidores do segmento 2 preferem as
amostras das marcas H, G e C, associado a
“atributos de aparência (cor vermelha e
brilho), textura (firmeza, resistência ao corte e
resistência ao mastigar) e sabor (sabor de
goiaba e gosto doce) [ainda que menos
intenso] ” (Peçanha et al. 2006).
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 14
Figura 8: Mapa de preferência externo representando amostras de oito marcas (pontos A a H) e a direção da
preferência dos dois segmentos de consumidores identificados. Fonte: Peçanha et al. (2006).
Estudo-exemplo IV: O estudo de Hough e
Sanchez (1998)
Um dos três objetivos traçados por este estudo
escolhido como exemplificativo (i.e. estudo
"Análise descritiva e preference mapping
externo do leite em pó chocolate" referente a
1998) foi de "relacionar o perfil sensorial com
a aceitabilidade do consumidor, recorrendo ao
preference mapping externo" (Hough e
Sanchez 1998).
Na figura abaixo disposta - i.e. Figura 9 -
poder-se-á visualizar um preference map
externo para o ponto ideal circular, ou modelo
fase III, em que são tidas como componentes
principais: a preferência global e a
aparência/textura. Atentando à figura exposta,
observa-se que para a média dos
consumidores, o ponto ideal encontra-se na
região nas amostras 1, 4 e 5 (Hough e Sanchez
1998).
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 15
Figura 9: Preference map externo para o modelo de ponto ideal circular. (Notas: os números representam
amostras; o asterisco representa o consumidor médio para o modelo circular; o triângulo o consumidor médio
para o modelo de ponto ideal elíptico, considerando todos os consumidores; o quadrado considera apenas
consumidores que se adequam ao modelo elíptico). Fonte: Hough e Sanchez (1998).
Todavia, se se atentar ao mapa de uma
dimensão aroma/sabor (vd. Figura 10),
constata-se que se pode desenvolver um
produto que procure alcançar um consumidor
médio ou um grupo de consumidores com
preferências específicas; até porque os adultos
encontram-se menos dispersos nos mapas do
que as crianças (Hough e Sanchez 1998).
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 16
Figura 10: Distribuição dos pontos referentes ao consumidor ideal ao longo da componente principal aroma/sabor,
usando modelo de ponto ideal de representação unidimensional. (Nota: os números representam amostras; x
representa a posição do consumidor médio). Fonte: Hough e Sanchez (1998).
Softwares como recursos ao “dispor” do
preference mapping
Como nota final, importa referir brevemente
alguns dos softwares que podem ser utilizados
para criar os diferentes mapas.
Os autores Meullenet al. (2007) destacam que
o preference mapping interno pode ser
desenvolvido com recursos a diversos
programas informáticos, como por exemplo:
SAS, SensGear, Senstools, Systat e MDSX.
Por sua vez, para efeitos da análise na vertente
do preference mapping externo, regista-se o
uso do software XLSTAT-MX, a título
exemplificativo (e.g. ver estudo de Peçanha et
al. (2006)).
Não tendo, este trabalho académico, por
missão, estudar exaustivamente esta matéria,
sugere-se a leitura do estudo de Yenket et al.
(2011) que fazem uma comparação de sete
técnicas de preference mapping usando quatro
programas informáticos diferentes. Referência
para alguns "apontamentos" dignos de
destaque, nomeadamente que "nenhum dos
métodos aplicados providencia uma imagem
completa da interação dos gostos do
consumidor, produtos e características dos
produtos" (Yenket et al. 2011) e que a
interpretação dos mapas não é direta.
Conclusão
Com esta revisão bibliográfica foi possível
perceber em que consiste o preference
2014 © Análise Sensorial e Desenvolvimento de Novos Produtos 17
mapping e as suas aplicações. Verifica-se que
a capacidade de uma empresa para produzir
um produto que satisfaz as necessidades dos
consumidores, otimização de produtos (em
termos de preferência do consumidor que
consequentemente agradam a um maior leque
de consumidores) passa pela utilização desta
técnica e interpretação dos seus resultados. A
preferência dos consumidores por
determinado alimento depende de fatores
distintos, que podem estar relacionados com o
próprio produto, com o consumidor ou com o
ambiente que o rodeia pelo que é possível
relacionar estes fatores e perceber as
necessidades do consumidor e como colmatá-
las. Através dos estudos apresentados (a título
de exemplo) conhece-se a aplicabilidade desta
técnica. São também abordados em síntese
alguns softwares que são usados para o
processamento de resultados. Estudos mais
aprofundados de preference mapping poderão
contribuir para aumentar o seu uso assim como
a sua versatilidade.
____________________________________
Referências bibliográficas
Fernandes, A. G.; Sousa, P. H. M.; Maia, G.
A.; Silva, D. S.; Santos, S. M. L. (2009).
"Avaliação sensorial de bebidas de goiaba
adoçadas com diferentes agentes adoçantes."
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