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JUIZ RUI RANGEL VAI DECIDIR NOVO RECURSO DE JOSÉ SÓCRATES 22.2.17 O juiz já deitou abaixo o segredo de justiça e criticou os investigadores da Operação Marquês. Agora, também lhe cabe decidir se o processo acaba porque ainda não há despacho de arquivamento ou acusação. É uma decisão, no mínimo, surpreendente. O Tribunal da Relação de Lisboa distribuiu o 38º recurso da Operação Marquês a um juiz que já foi relator de um acórdão naquele processo: o desembargador Rui Rangel. É este magistrado judicial que vai decidir o mais recente recurso intentado pela defesa de José Sócrates, que na prática quer a nulidade dos actos processuais e o fim do inquérito por ainda não se ter fixado um prazo final para a acusação ou arquivamento dos factos que estão sob investigação. Segundo apurou a SÁBADO, a distribuição de mais um recurso de José Sócrates a um mesmo desembargador está a causar mal-estar junto de fontes do Ministério Público (MP) que lidam mais de perto com a Operação Marquês. "Alguém devia explicar como é que está a ser feita a distribuição de processos na Relação de Lisboa", especifica uma fonte, alertando que a distribuição do processo a Rui Rangel pode ser o prenúncio de "algo muito mau para os investigadores da Operação Marquês, incluindo o juiz de instrução Carlos Alexandre". E isto porque o juiz Rui Rangel já se manifestou extraordinariamente crítico na decisão de 2015 que fez cair o segredo de justiça do processo. Na altura, por unanimidade, Rangel e o desembargador Francisco Caramelo criticaram a forma como foi gerido o segredo de justiça pelo procurador Rosário Teixeira e pelo juiz Carlos Alexandre, dizendo, segundo o acórdão, que nenhum arguido pode ser "vítima de truques" que o impeçam de ter acesso às provas que existem contra si. O acórdão da Relação de Lisboa frisou também que "toda esta autoestrada do segredo, sem regras, passou sem qualquer censura pelo juiz de instrução, desprotegendo de forma grave os interesses e garantias da defesa do arguido, que volvido tanto tempo de investigação, continua a não ser confrontado, como devia, com os factos e as provas que existem contra si". Perante as sucessivas decisões de Carlos Alexandre em manter o processo "Operação Marquês" em segredo de justiça, ambos os juízes desembargadores lamentaram o seguinte: é "pena que entre nós não exista a cultura de que uma acusação será mais forte e robusta e, sobretudo mais confiante, consoante se dê uma completa e verdadeira possibilidade ao arguido de se defender". E concluíram: "E que não seja vítimas dos truques e de uma estratégia dos investigadores". Agora, é Rangel que vai decidir se a Operação Marquês pode ainda continuar em investigação. A decisão é recorrível pelo Ministério Público. A Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, prorrogou a investigação até 17 de Março próximo, mas ninguém ainda anunciou oficialmente se a Operação Marquês termina mesmo nesse prazo. Fonte: Sabado.

Juiz rui rangel vai decidir novo recurso de josé sócrates

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JUIZ RUI RANGEL VAI DECIDIR NOVO

RECURSO DE JOSÉ SÓCRATES 22.2.17

O juiz já deitou abaixo o segredo de justiça e criticou os investigadores da Operação Marquês. Agora,

também lhe cabe decidir se o processo acaba porque ainda não há despacho de arquivamento ou acusação.

É uma decisão, no mínimo, surpreendente. O Tribunal da Relação de Lisboa distribuiu o 38º recurso da

Operação Marquês a um juiz que já foi relator de um acórdão naquele processo: o desembargador Rui

Rangel. É este magistrado judicial que vai decidir o mais recente recurso intentado pela defesa de José

Sócrates, que na prática quer a nulidade dos actos processuais e o fim do inquérito por ainda não se ter

fixado um prazo final para a acusação ou arquivamento dos factos que estão sob investigação.

Segundo apurou a SÁBADO, a distribuição de mais um recurso de José Sócrates a um mesmo

desembargador está a causar mal-estar junto de fontes do Ministério Público (MP) que lidam mais de

perto com a Operação Marquês. "Alguém devia explicar como é que está a ser feita a distribuição de

processos na Relação de Lisboa", especifica uma fonte, alertando que a distribuição do processo a Rui

Rangel pode ser o prenúncio de "algo muito mau para os investigadores da Operação Marquês, incluindo

o juiz de instrução Carlos Alexandre".

E isto porque o juiz Rui Rangel já se manifestou extraordinariamente crítico na decisão de 2015 que fez

cair o segredo de justiça do processo. Na altura, por unanimidade, Rangel e o desembargador Francisco

Caramelo criticaram a forma como foi gerido o segredo de justiça pelo procurador Rosário Teixeira e

pelo juiz Carlos Alexandre, dizendo, segundo o acórdão, que nenhum arguido pode ser "vítima de

truques" que o impeçam de ter acesso às provas que existem contra si.

O acórdão da Relação de Lisboa frisou também que "toda esta autoestrada do segredo, sem regras, passou

sem qualquer censura pelo juiz de instrução, desprotegendo de forma grave os interesses e garantias da

defesa do arguido, que volvido tanto tempo de investigação, continua a não ser confrontado, como devia,

com os factos e as provas que existem contra si".

Perante as sucessivas decisões de Carlos Alexandre em manter o processo "Operação Marquês" em

segredo de justiça, ambos os juízes desembargadores lamentaram o seguinte: é "pena que entre nós não

exista a cultura de que uma acusação será mais forte e robusta e, sobretudo mais confiante, consoante se

dê uma completa e verdadeira possibilidade ao arguido de se defender". E concluíram: "E que não seja

vítimas dos truques e de uma estratégia dos investigadores".

Agora, é Rangel que vai decidir se a Operação Marquês pode ainda continuar em investigação. A decisão

é recorrível pelo Ministério Público. A Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, prorrogou

a investigação até 17 de Março próximo, mas ninguém ainda anunciou oficialmente se a Operação

Marquês termina mesmo nesse prazo. Fonte: Sabado.