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Salienta-se o facto de não termos identificado relatos da realização de dessensibilização ao AAS no contexto de uma homozigotia do
PAI-1, sugerindo que as indicações deste procedimento podem incluir outras trombofilias, nomeadamente hereditárias, em que o
tratamento com AAS esteja indicado, mesmo na existência de hipersensibilidade grave a este fármaco.
Ângela Gaspar1, Natacha Santos1, Susana Livramento2, Graça Sampaio1, Mário Morais-Almeida1
1Unidade de Imunoalergologia, 2Unidade de Medicina Interna, Hospital CUF Descobertas, Lisboa
A dessensibilização ao ácido acetilsalicílico (AAS) é um procedimento
essencial em doentes com hipersensibilidade e com necessidade
imprescindível de tratamento crónico com este fármaco.
É mais frequentemente realizada no contexto de doença cardiovascular e
doença respiratória exacerbada pela aspirina, estando também descrita a sua
indicação em mulheres com síndrome de anticorpos antifosfolípidos.
Apresentamos o caso de uma doente com homozigotia (polimorfismo 4G/4G)
do PAI-1 (Figura 1), referenciada à consulta de Imunoalergologia para
dessensibilização ao AAS.
Doente de 41 anos, do sexo feminino, com rinite alérgica (sensibilização a gramíneas).
História de 3 abortos espontâneos até às 8 semanas.
Estudo de trombofilias: homozigotia do PAI-1 (risco tromboembólico e perda fetal).
Refere aos 35 anos reacção anafiláctica (urticária generalizada e dispneia) após a
toma de AAS (dose não especificada) e posterior reacção cutânea (urticária
generalizada) 30 minutos após ingestão de ibuprofeno 200 mg, motivando recurso
hospitalar, com regressão das queixas após tratamento com anti-histamínico e
corticosteróide. Tolera paracetamol e AINE inibidores preferenciais da COX-2
(nimesulide e meloxicam).
Na Unidade de Imunoalergologia realizou dessensibilização pré-gestacional ao AAS em
dose antiagregante plaquetar (Tabela 1). Concluiu a dessensibilização com dose
cumulativa total de 251,1 mg e manutenção de toma única diária de 100 mg de AAS
com boa tolerância.
Tempo
(min)
Dose
(mg)
Dose cumulativa
(mg)
0 0,1 0,1
30 1 1,1
60 5 6,1
90 10 16,1
180 20 36,1
210 40 76,1
240 75 151,1
360 100 251,1
Tabela 1. Protocolo modificado de Rossini1 e Wong2
incluindo avaliação espirométrica
Sensação de aperto orofaríngeo e rinite, com redução
do FEV1 em 10% (310mL) relativamente ao basal e
resolução espontânea em 30 minutos. Foi realizado
ajuste do tempo para a dose seguinte.
1 Rossini R, Angiolillo DJ, Musumeci G, Scuri P, Invernizzi P, Bass TA, Mihalcsik L, Gavazzi A. Aspirin desensitization in patients undergoing percutaneous coronary interventions with stent implantation. Am J Cardiol. 2008;101:786-9.
2 Wong JT, Nagy CS, Krinzman SJ, Maclean JA, Bloch KJ. Rapid oral challenge-desensitization for patients with aspirin-related urticaria-angioedema. J Allergy Clin Immunol. 2000;105:997-1001.
Activador do plasminogénio (tPA)
Uroquinase
Inibidor do activador do
plasminogénio tipo 1 (PAI-1)
Plasminogénio
Plasmina
Fibrina Fragmentos de fibrina
Figura 1. Esquema simplificado da fibrinólise