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Publicação da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia outubro/novembro/dezembro 2011 ano IV número 18 ISSN 2179-4855 MAIOR DO MUNDO O TERCEIRO CONSOLIDAÇÃO INSTITUCIONAL Assembleia Geral Ordinária define a diretoria da Associação para os próximos dois anos PARCERIA INÉDITA ABHH e AABB formalizam programa de certificação dos serviços de hemoterapia ÍTALO- BRASILEIRO Integração e desenvolvimento científico aproximam profissionais dos dois países QUALIDADE NA PROGRAMAÇÃO CIENTÍFICA, SUCESSO DE PÚBLICO E PARTICIPAÇÃO INTERNACIONAL DÃO NOVA DIMENSÃO AO CONGRESSO BRASILEIRO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA

Entrevista I Sistema nacional de sangue e hemoderivados

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Alexandre Padilha fala sobre o sistema nacional de sangue e hemoderivados. Ele anuncia que, até 2012, o MS pretende implantar um sistema de etiquetagem nacional chamado ISBT 128 que irá possibilitar aos gestores o controle de todo sangue coletado e estocado no País.

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Publicação da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia

outubro/novembro/dezembro 2011ano IV número 18

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maior do mundo

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Consolidação instituCional

assembleia Geral ordinária define a diretoria da Associação

para os próximos dois anos

ParCeria inédita

ABHH e AABB formalizam programa de certificação dos

serviços de hemoterapia

Ítalo-brasileiro

Integração e desenvolvimento científico aproximam

profissionais dos dois países

Qualidade na programação científica, sucesso de público e participação internacional

dão nova dimensão ao congresso brasileiro de hematologia e hemoterapia

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giro

Com palestra sobre doação vo-luntária de sangue, a Fundação He-moba esteve presente na Semana da Qualidade de Vida, promovida pela Faculdade Ruy Barbosa. A assisten-te social do hemocentro, Gabriela Reis, ministrou palestra no dia 25 de outubro para funcionários da insti-tuição de ensino do campus Rio Ver-melho, que demonstraram bastante interesse pelo tema. No mesmo dia, a Fundação Hemoba comemorou dois anos de Hemóvel – unidade móvel de coleta de sangue.

Hemoba participa

de evento

na Faculdade

Ruy Barbosa

A Fundação (Hemopa) promo-veu campanha de conscientização e diagnóstico precoce da Leucemia Mielóide Crônica (LMC), em par-ceria com o Hospital Ophir Loyola e as empresas Novartis Oncologia e Diagnocel, na Praça da Batista Campos, centro de Belém (PA), en-tre os dias 15 e 16 de outubro. Fo-ram realizados aproximadamente 200 hemogramas gratuitos em pes-soas com mais de 30 anos em uma unidade móvel do Hemopa, além de esclarecimentos de dúvidas e distribuição de material educativo sobre o tema.

As pessoas que tiveram resul-tado suspeito para a doença foram encaminhadas para consulta médica no hemocentro para confirmação do diagnóstico e, em caso positivo, con-duzidas para tratamento no Hospital Ophir Loyola. Levantamento do Ins-tituto Nacional do Câncer (INCA) revelou que o estado do Pará registra

Pará promove mutirão em prol da LMC

População recebe

atendimento do

Hemopa

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46% do total de casos da doença na região Norte. Aproximadamente mil exames de hemograma são realiza-dos por mês na Fundação Hemopa

e, quando necessário, são efetivados outros exames para confirmação e diagnóstico da doença em pacientes da capital e interior do estado.

Em parceria com a Secreta-ria de Estado da Saúde (Sesa) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Centro de Hemoterapia e Hematologia do Espírito Santo (Hemoes) promo-veu a 1ª Oficina de Capacitação em Hemoterapia, no dia 23 de novembro, no auditório da Faesa, em Vitória (ES).

O encontro visava contribuir para a melhoria do serviço de he-moterapia, atualizar os profissio-nais de saúde em relação à nova legislação sanitária e aos procedi-

mentos e normas técnicas relacio-nadas ao ciclo do sangue. Com a participação de representantes da Anvisa e do Ministério da Saú-de, foram apresentadas palestras sobre legislação, hemovigilância, comitês transfusionais, organi-zação e processos de trabalho da hemorrede estadual.

Aproximadamente 80 médicos, enfermeiros, farmacêuticos e técni-cos de laboratório dos serviços de hemoterapia dos hospitais públicos, filantrópicos e privados do Espírito Santo, participaram da oficina.

Capacitação emhemoterapia no Hemoes

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HEMO | 11outubro/novembro/dezembro 2011

giro

Anualmente, o Brasil comemora o Dia Nacional do Doador de Sangue em 25 de novembro. Este ano, a Fundação Pró-Sangue programou recepção calorosa para os doadores, com apresentação de corais, grupos musicais, mágicos e palhaços, entre os dias 21 e 26 de novembro. “Essa corrente precisa de você. Doe san-gue” é o lema da campanha nacional de incentivo à doação de sangue de 2011, promovida pelo Ministério da Saúde (MS) e Governo Federal.

Dia Nacional doDoador de Sangue

Com o objetivo de aperfeiçoar os processos de produção, qualifi-cação e armazenagem do plasma sanguíneo, a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) assinou contrato de in-centivo com o Centro Regional de Hemoterapia de Ribeirão Preto.

Para a assinatura estiveram pre-sentes o presidente da Hemobrás, Romulo Maciel Filho; a chefe de ga-binete da estatal, Heloiza Machado; o diretor-presidente do hemocentro

Hemobrás assina contrato com Hemocentro de Ribeirão Preto

e vice-presidente da ABHH, Dimas Covas; e o assessor da presidência do serviço, Ricardo Haddad.

Desde julho de 2010, a Hemo-bras firmou parcerias com os ser-viços de hemoterapia de Brasília (FHB), Minas Gerais (Hemominas), Pernambuco (Hemope), Bahia (He-moba), Rio de Janeiro (Hemorio), São Paulo (Pró-Sangue e Colsan) e Santa Catarina (Hemosc). A previ-são é que, até o final do ano, mais 110 serviços tornem-se parceiros.

Em comemoração ao Dia do Servidor Público, comemorado em 28 de outubro, a Fundação Hemo-pa promoveu programação recrea-tiva com apresentação do coral do hemocentro, composto unicamente por funcionários, apresentação de stand up com o comediante pa-raense Serginho Cunha, curso de auto maquiagem e show do fun-cionário do Hemopa e cantor Jor-

Hemopa comemora

Dia do Servidor Público

ginho Gomez. A programação foi organizada pela Assessoria de Gestão de Pessoas (Agesp), com apoio do Serviço de Assistência à Saúde do Servidor (SASS). A pre-sidente do hemocentro, Luciana Maradei, parabenizou e agradeceu cada servidor da hemorrede pela competência e pelo compromisso com a manutenção da qualidade no atendimento ao público.

A Fundação Hospitalar de Hema-tologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) comemorou 29 anos de serviços prestados à comunidade.

Segundo o diretor-presidente da Hemoam, Nelson Fraiji, a evolução da Fundação aconteceu para melho-rar o atendimento à população. “Na Hemoam não fazemos o que pode-mos fazer. Fazemos o que deve e precisa ser feito.”

Com aproximadamente 300 fun-cionários, atividades de ciência e

Hemoam comemora 29 anos de serviço à

população

tecnologia, atendimento ambulato-rial multidisciplinar, enfermaria, la-boratório de análises clínicas e ban-co de sangue, a Fundação enfrentou mudanças administrativas nos últi-mos seis meses. As alterações resul-taram em aumento de doadores fi-delizados, treinamentos específicos, reorganização institucional, além da valorização do compromisso de cada profissional com a prestação de serviços de excelência em hemato-logia e hemoterapia.

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12 | HEMO outubro/novembro/dezembro 2011

giro

Um aplicati-vo foi apresenta-do no Facebook (http:/ /www.facebook.com/

minsaude) do Ministério da Saúde (MS) para cadastrar doadores de sangue no País, em comemoração ao Dia Nacional do Doador Volun-tário, 25 de novembro. A iniciativa também busca estimular as doações de sangue no final do ano, período em que os estoques caem entre 20 e 30%, segundo o coordenador da

Doação de sangue virtualCoordenação de Sangue e Hemo-derivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez.

Dessa maneira, o Ministério espera atingir mais regularidade nas doações, e que os mais de 300 bancos distribuídos pelo País con-voquem número maior de pessoas com doadores mais específicos (de acordo com a necessidade de determinado tipo se sanguíneo). Os interessados podem preencher um formulário informando seu tipo sanguíneo.

De 18 a 20 de outubro, o Centro de Hematologia e Hemo-terapia do Ceará (Hemoce) pro-moveu o VI Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme, no La Maison Dunas. A iniciativa é fru-to de parceria entre os Governos Federal, Estadual e Municipal, por meio do Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria de Saúde do Estado e do Município.

Aproximadamente mil pes-soas participaram do evento, entre profissionais de serviços de saúde do Brasil e de outros países, pesquisadores, represen-tantes do controle social e ges-tores estaduais e municipais. Na ocasião, foram abordados temas como Programa Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme; Avanços em Doença Falciforme: 100 anos após o primeiro diagnóstico; Abordagem multidisciplinar em Doença Falciforme; Auto-cuida-do em Doença Falciforme; Teste do pezinho; Aspectos clínicos da Doença Falciforme no adulto e na criança; e novas terapias em Doença Falciforme: transplante de células-tronco e diagnóstico e tratamento da sobrecarga de fer-ro em Doença Falciforme.

HemocepromoveSimpósiode DoençaFalciforme

A Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/ DF) promoveram entre os dias 19 e 20 de outubro, o Seminário “Aten-ção Integral às pessoas com Coa-gulopatias Hereditárias no Distrito Federal”. O intuito do encontro foi possibilitar a troca de experiên-cias, capacitar servidores da saú-de e aprofundar algumas questões relacionadas ao tema, por meio de palestras, debates e apresentação de casos clínicos. Na mesma opor-

Seminário de coagulopatias

hereditárias no DF

tunidade foram realizadas pales-tras reservadas especialmente para os pacientes, como “Conversando com a Federação Brasileira de He-mofilia – FBH” e “Treinamento para Infusão Domiciliar”.

O Seminário reuniu mais de 130 profissionais de saúde e contou com a presença de diversos palestrantes do Distrito Federal e de outros esta-dos. Os arquivos das apresentações estão disponíveis para visualização no site do FHB – www.fhb.gov.br

“Atendimento aos hemofíli-cos nos hemocentros regionais”, “Experiências dos profissionais que atuam nos hemocentros re-gionais” e “Apresentação de ca-sos clínicos” foram os principais temas abordados no IV Encontro sobre Hemofilia da Hemorrede do Ceará, promovido pelo Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), no dia 5 de no-

Hemofilia é tema

de encontro no Ceará

vembro. O encontro foi direciona-do aos profissionais que atuam no Programa de Coagulopatias Here-ditárias da hemorrede. Atualmente a assistência aos portadores dessas doenças no estado é realizada pelo Hemocentro Coordenador, com sede em Fortaleza e nos Hemocen-tros Regionais de Quixadá, Igua-tu, Sobral, Crato e no Hemonúcleo em Juazeiro do Norte.

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HEMO | 13outubro/novembro/dezembro 2011

giro

No dia 1º de dezembro é come-morado o Dia Mundial de Luta Con-tra a Aids. A campanha deste ano será focada nos jovens de 15 a 24 anos das classes C, D e E. Segundo o Departamento de DST, Aids e He-patites Virais do Ministério da Saú-de, a ação visa discutir as questões relacionadas à vulnerabilidade ao HIV/Aids da população prioritária, sob o ponto de vista do estigma do preconceito. Ainda de acordo com o Departamento, a ideia é estimular a reflexão sobre a falsa impressão de que a Aids afeta apenas o outro, distante da percepção de que todos somos vulneráveis.

Além dos jovens com idade entre 15 e 24 anos, profissionais de saúde, gestores, profissionais da área de educação e comunidade escolar, serão contemplados pela campanha, a ser veiculada por TV, rádio, internet, cartazes, folders e mobiliários urbanos.

Dia Mundial deLuta Contra a Aids

Outra ação para o Dia Mun-dial de Luta Contra a Aids é uma parceria entre o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, a As-sociação Brasileira de Municípios (ABM) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), para promover a Campa-nha do Laço Vermelho 2011.

A proposta é que todas as pre-feituras dos municípios brasilei-ros instalem um laço vermelho (símbolo da data) em um marco de referência de sua cidade. A pre-feitura de Alagoa (MG) foi a pri-meira a oficializar a participação na Campanha do Laço Vermelho. Entre os dias 25 de novembro e 5 de dezembro, laços vermelhos foram instalados em pontos estra-tégicos da cidade, além de ações de conscientização para jovens e adolescentes na Escola Estadual do Carmo Lima Pinto, no dia 1º de dezembro.

Com 18 trabalhos científicos apresentados, a Fundação Hemo-minas participou do Hemo 2011 com estudos apresentados na área de equipamentos: ‘pré-qualifica-ção de equipamentos e refigeração para os processos de aquisição da Fundação Hemominas’, que mos-tra os resultados e experiências referentes ao processo de pré-qualificação de equipamentos de refrigeração que são adotados na Fundação desde 2009.

Além disso, a pesquisa ‘Mo-dernização do Sistema de Controle de Temperatura de Equipamentos da Cadeia de Frios da Fundação

Hemominas no Hemo 2011

Hemominas’, que aborda assuntos ligados ao processo de moderni-zação do sistema de controle de temperatura dos equipamentos de refrigeração mais antigos da Fun-dação, mostrando que estes possam ter uma vida útil maior.

Segundo a presidente da He-mominas, Júnia Cioffi, os estudos podem trazer grande visibilidade para a Fundação. “As pesquisas sobre equipamentos repercutem diretamente na qualidade dos pro-dutos oferecidos à população, além da otimização de recursos e da me-lhoria do parque tecnológico da Hemominas.”

Com apoio da Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados do Mi-nistério da Saúde, do Estabelecimento Francês do Sangue e da Embaixada da França, a Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) sediou, no dia 22 de no-vembro, a ‘Oficina de Controle de Qua-lidade em Hemocomponentes’.

Os especialistas Stéphane Begue e Nadine Marpaux ministraram palestras sobre o funcionamento da instituição francesa. “O encontro é de extrema importância para a qualificação dos serviços de controle de qualidade dos serviços de sangue”, afirmou a diretora-presidente da FHB, Beatriz MacDowell Soares.

FHB sedia evento

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entrevista

Oportunidadee decisão

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Médico infectologista formado pela Universidade Estadual de Campinas (Uni-camp), com especialização na Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Padilha coordenou o Núcleo de Extensão em Medicina Tropical do Depar-tamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Numetrop-USP), entre 2000 e 2004. No mesmo

período foi coordenador de Projetos de Pesquisa, Vigilância e Assistência em Doenças Tropicais, no Pará, iniciativa realizada em conjunto com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e com o Fundo de Pesquisa em Doenças Tropicais da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Também em 2004, assumiu o cargo de diretor Nacional de Saúde Indígena da Fundação Na-cional de Saúde (Funasa), órgão ligado ao Ministério da Saúde (MS). Nomeado ministro de Es-tado Chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República em setembro de 2009, Padilha já atuava na coordenação política do governo Lula desde agosto de 2005, quando atuou como Subchefe de Assuntos Federativos (SAF) entre janeiro de 2007 até a posse como ministro no início deste ano.

Em entrevista exclusiva a Hemo em revista, Alexandre Padilha fala sobre o sistema nacional de sangue e hemoderivados. Ele anuncia que, até 2012, o MS pretende implantar um sistema de etiquetagem nacional chamado ISBT 128 que irá possibilitar aos gestores o controle de todo sangue coletado e estocado no País. Segundo Padilha, a padronização é um passo importante para a estru-turação do plano nacional de contingência do sangue que o Ministério está desenvolvendo para o enfrentamento de calamidades nacionais ou situações em que há grande aglomeração de pessoas como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Ministro da Saúde anuncia sistema nacional de

padronização com código de barras para controlar

a produção e a estocagem de sangue

Por Marina Panham

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HEMO | 15outubro/novembro/dezembro 2011

entrevista

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entrevista

Quais são os maiores desafios para tornar o Brasil auto-suficiente na área de sangue e hemoderivados?Alexandre Padilha: O desafio principal é aumen-tarmos, progressivamente, o número de doações e doadores de sangue no Brasil. Nossa meta é coletar 4,5 milhões de bolsas de sangue por ano. Avança-mos ao criar o novo Regulamento Técnico de Pro-cedimentos Hemoterápicos, que reforça as medidas de proteção a quem doa, a quem recebe o sangue, e estabelece um programa de controle de qualidade nos hemocentros. Outra medida foi a ampliação da faixa etária de doação, que passou a ser, no Brasil, de 16 a 68 anos. Com isso, aproximadamente 14 milhões de brasileiros serão incentivados a torna-rem-se potenciais doadores. O aumento de doações é necessário diante da demanda crescente de proce-dimentos de alta complexidade cirúrgica realizados no Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo nas áreas de transplante e oncologia. As campanhas de doação de sangue lançadas pelo Ministério da Saúde (MS), a cada ano, são fundamentais neste sentido. Vamos ampliá-las para mobilizar um número cada vez maior de brasileiros. A participação deve envol-ver maior número de famílias e outros setores da sociedade, como empresas e clubes de serviço. Uma etapa importante para atingirmos a auto-suficiência na área de hemoderivados é a conclusão da fábrica da Hemobrás, que iniciará as atividades em 2014. A ativação desta fábrica representará o fortalecimento do complexo industrial da Saúde no País e nos dará condições de desenvolver novas pesquisas, além de produzir, nacionalmente, medicamentos essenciais à vida de pessoas com hemofilia, além de portado-res de imunodeficiência genética, cirrose, câncer, AIDS e queimados.

E qual é o estágio atual da fábrica de Hemoderi-vados em construção na cidade de Goiana (PE)? Padilha: As operações da fábrica da Hemobrás, em Pernambuco, terão início em 2014. Será a maior fábrica de hemoderivados da América La-tina, com capacidade para processar 500 mil litros de plasma sanguíneo por ano. Serão investidos R$ 670 milhões neste projeto e, em dezembro deste ano, vamos inaugurar a primeira etapa da obra, que inclui o prédio em que será armazenado todo o plasma coletado nos hemocentros destinado ao fracionamento dos medicamentos. A segunda eta-pa, que engloba 12 blocos e a finalização de toda a parte civil, teve a sua construção iniciada em maio de 2011 e será concluída em dois anos.

Quais são as próximas ações do MS em prol da hemoterapia e hematologia nacional?Padilha: Uma das nossas metas é desenvolver políticas públicas que garantam acesso seguro e qualificado nas áreas de hemoterapia e hematolo-gia. Além da implementação do NAT brasileiro, destaco o início das tratativas com a Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH) e a American Association of Blood Banks (AABB) para a execução do programa brasileiro de acredi-tação dos estabelecimentos públicos e privados de sangue. Outra ação que estamos desenvolvendo é a criação do banco nacional de registro de preços. Este cadastro permitirá aos hemocentros otimizar a oferta dos seus serviços e racionalizar os gastos com a compra de insumos. Queremos implantar no Brasil, até 2012, um sistema de informações que possibilite aos gestores o controle de toda a produ-ção e estocagem do sangue coletado no País. Este

Alexandre Padilha

anunciou que a

meta do MS é coletar

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entrevista

A padronização nacional é um passo

importante para a estruturação do

plano nacional de contingência daárea do sangue

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sistema vai integrar os bancos de sangue já exis-tentes e garantirá maior segurança e qualidade aos serviços. Isso será possível por meio da implanta-ção de um sistema de etiquetagem nacional (ISBT 128). Esta norma é importante para padronizar a rede brasileira em relação à troca de dados pelos serviços de hemoterapia e os gestores do SUS. Com este sistema será possível, por exemplo, a trans-ferência de uma bolsa de sangue coletada no Rio Grande do Sul para ser aproveitada no Amazonas ou em outro país. O sistema permite que isso seja feito a partir da leitura do código de barras impres-so na bolsa, que registrará toda informação sobre o processo produtivo e as características imunohe-matológicas da coleta. A padronização nacional é um passo importante para a estruturação do plano nacional de contingência da área do sangue, que estamos desenvolvendo para o enfrentamento de calamidades naturais ou situações em que há gran-des aglomerações de pessoas, como acontecerá no Brasil com a realização dos dois grandes eventos, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Na área assistencial, vamos distribuir este ano 572.498.085 UI de fator VIII, o que nos faz alcançar a meta projetada de 35.000 UI por pa-ciente ao ano. A nossa perspectiva é elevar até o fim de 2011 a distribuição de medicamentos para índices de referência internacionais de qualidade, o que nos credenciará para dar início à profilaxia primária para hemofilia A e B já no próximo ano. Pela primeira vez, em 2011, o programa brasilei-ro de coagulopatias conseguiu exercer a aquisição de concentrado de fator VIII para o tratamento de imunotolerância para pacientes com hemofilia A e presença de inibidor.

Durante campanha realizada no Dia Mundial do Doador de Sangue, o senhor anun-ciou a expansão do Teste NAT para todos os hemocen-tros do País. Qual a previsão para que isso ocorra?Padilha: Em 2012 toda a hemorrede pública estará operando com o teste NAT. A nova tecnologia brasileira – desenvolvida pelo Instituto Biomanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fio-cruz) – trará mais segurança para as transfusões sanguíneas. Com o novo kit, o tempo entre a in-fecção viral e a capacidade de detecção do teste di-minuirá de 22 para 11 dias para o HIV e de 70 para 22 dias para a hepatite C. É importante destacar que reduzimos o custo do teste para aquisição pelo mercado nacional de US$ 25 para US$ 6. Desde o início do processo de implantação do NAT brasi-leiro, cerca de 400 mil amostras foram testadas nos serviços de hemoterapia coordenadores do Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas (SP), Pernambuco, Santa Catarina, Minas Gerais e Brasília. Na próxi-ma etapa, mais sete plataformas serão instaladas no Ceará, Amazonas, Bahia, Ribeirão Preto (SP), Pará, Paraná e Mato Grosso do Sul. O Ministério já in-vestiu R$ 25 milhões para a realização dos testes e R$ 30 milhões foram aplicados para a implantação das plataformas.

A ABHH emitiu mensagem ao MS exprimindo o sentimento de hematologistas e hemoterapeutas sobre a ausência de definições claras quanto aos rumos da assistência no caso de leucemia mie-lóide crônica e aguda, e do linfoma. Que medi-das o MS irá tomar diante dessa situação?Padilha: A atenção a pacientes com linfomas e leucemia mielóide crônica e aguda está assegu-rada no SUS, inclusive com o fornecimento dos medicamentos indicados a esses tratamentos. Recentemente, publicamos novas medidas com o objetivo de aperfeiçoar o sistema de controle, especialmente no caso de leucemia mielóide crô-nica. Posso garantir que o Ministério continuará acompanhando a efetividade e o bom uso dos pro-cedimentos terapêuticos e, assim, garantir acesso e cuidados aos pacientes atendidos no SUS. Uma das novidades neste ano foi a compra centralizada do medicamento Glivec pelo governo federal que, ao adquiri-lo em grande escala, obteve redução superior a 50% no preço do produto. A economia gerada com esta negociação é de, aproximada-mente, R$ 400 milhões até 2012.