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C M Y K C M Y K Saúde Editora: Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 29 CORREIO BRAZILIENSE Brasília, domingo, 25 de outubro de 2009 U ma pesquisa da Organização Pan-ameri- cana de Saúde, do Ministério da Saúde e do Observatório de Recursos Humanos em Odontologia traçou o perfil dos den- tistas brasileiros e constatou que, enquanto há uma grande concentração de profissionais nos grandes centros urbanos como São Paulo, as re- giões mais pobres e distantes sofrem enormemen- te com a falta de atendimento. Especialistas garan- tem que estimular a descentralização da oferta de atendimento é essencial na oferta de um serviço de saúde de qualidade. A pesquisa concluiu que os quase 220 mil den- tistas existentes atualmente são mais do que sufi- cientes para oferecer um atendimento de qualida- de para a população. A média nacional, de um odontologista para cada 838 habitantes, é uma das melhores do mundo. “O desafio é interiorizar tanto a formação quanto o acesso para esses profissio- nais”, explica a coordenadora do estudo, a profes- sora do departamento de Medicina Oral e Odonto- logia Infantil da Universidade Estadual de Londri- na (UEL) Maria Celeste Morita. Apesquisa mostra que, mesmo com uma quan- tidade adequada de profissionais no país, a maioria ainda se localiza nas regiões Sudeste e Sul. Juntos, os sete estados dessas regiões concentram quase 75% de todos os dentistas brasileiros, deixando apenas 25% para as outras 20 unidades da federa- ção. Só o estado de São Paulo abriga um terço de todos os profissionais da área. Por outro lado, a maioria dos 85 milhões de bra- sileiros que vivem nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste experimentam uma realidade dife- rente. No Norte, são 1,8 mil pessoas, em média, pa- ra cada profissional, e em alguns municípios do Nordeste, como em Paçatuba (CE), esse índice dis- para para mais de 65 mil para cada dentista, um número 77 vezes maior que a média nacional. Prejuízos Ter um dentista próximo de casa não é apenas uma questão de comodidade. A necessidade de deslocamento para outras regiões em busca de tra- tamento dificulta o acompanhamento constante e preventivo. “Se um paciente tem que ir pra outra ci- dade, ele só procura o dentista quanto sente dores, e o tratamento acaba sendo muito mais difícil. A proximidade com esse profissional de saúde facili- ta um diagnóstico precoce e um tratamento mais eficaz”, explica Maria Celeste Morita. Uma das razões dessa má distribuição é a con- centração das faculdades de odontologia. O Sudes- te concentra metade das instituições do tipo no país. O Nordeste, menos de 10%. Quando se anali- sam cursos de pós-graduação, a situação é ainda pior. O Norte não possui nenhum mestrado ou doutorado na área, enquanto o Sudeste ostenta so- zinho 75% das pós-graduações na área. Para o presidente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Norberto Lubiana, a solução do problema passa por uma política pública de estí- mulo à fixação dos profissionais em áreas mais dis- tantes. “O governo precisa articular com urgência uma política de estímulo, inclusive financeiro, para que profissionais formados em outras regiões op- tem por trabalhar em áreas mais carentes”, conta. O Ministério da Saúde sustenta que já tem ado- tado medidas para tentar amenizar a má dis- tribuição de profissionais. Segundo a diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, Ana Estela Haddad, uma das medidas que pode ajudar no enfrentamento do problema é a volta dos pareceres do Conselho Nacional de Saúde quando o Ministério da Educação vai autorizar, reconhecer ou renovar cursos de odontologia no país. “Nessas áreas com grande concentração, o conselho só dá parecer favorável se o curso em questão for ex- tremamente inovador”, diz. Para conseguir com que os profissionais optem por se fixar nas chamadas regiões de vazio assisten- cial, Ana Estela aposta em uma medida que está sendo preparada para vigorar, em um primeiro momento, para médicos: garantir um bom descon- to na amortização dos pagamentos das dívidas es- tudantis para quem escolher trabalhar nessas áreas. É uma medida de estímulo financeiro como a apregoada pelo presidente da ABO. Juventude Outro dado apontado na pesquisa foi a pouca idade dos dentistas brasileiros. Cerca de 55% têm menos de 40 anos. Para a responsável pelo estudo, isso favorece ainda mais a concentração. “Nessa idade, o profissional está constituindo família e, as- sim, ele escolhe se fixar em lugares que não só te- nham oportunidades para ele, como boas escolas e opções culturais para os filhos, como para o cônju- ge”, diz Maria Celeste. Brasil tem grande número de profissionais, mas distribuição desigual atinge duramente regiões mais pobres do país. Líderes da classe sugerem incentivo do Estado para diminuir saturação de odontólogos nas capitais e em áreas com alta renda Muitos dentistas, pouco atendimento O Distrito Federal tem uma situação privilegia- da, com uma média de 438 dentistas por habitante — a segunda melhor do Centro-Oeste, perdendo apenas para Goiânia, onde o número é de 346. Para o presidente do Conselho Regional de Odontologia (CRO), Júlio César, a ótima proporção se deve ao al- to poder aquisitivo na capital. “Um local com alta renda e ótima qualidade de vida como Brasília atrai o estabelecimento desses profissionais”, analisa. Mesmo com a grande quantidade, o DF tam- bém possui problemas na distribuição interna dos profissionais. A grande maioria ainda se con- centra em regiões próximas ao Plano Piloto. Em cidades mais distantes, como Gama, Ceilândia e Brazlândia, a quantidade de dentistas ainda é pe- quena. “Pela mesma razão que os profissionais preferem Brasília pela alta renda, a baixa renda expulsa os profissionais desses outros locais”, completa César. DF também tem má distribuição Danílson Carvalho/CB/D.A Press

Muitos Dentistas, Pouco Atendimento

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C M Y K C M YK

Saúde EEddiittoorraa:: Ana Paula Macedo [email protected]

3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155

29 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 25 de outubro de 2009

Uma pesquisa da Organização Pan-ameri-cana de Saúde, do Ministério da Saúde edo Observatório de Recursos Humanosem Odontologia traçou o perfil dos den-

tistas brasileiros e constatou que, enquanto háuma grande concentração de profissionais nosgrandes centros urbanos como São Paulo, as re-giões mais pobres e distantes sofrem enormemen-te com a falta de atendimento. Especialistas garan-tem que estimular a descentralização da oferta deatendimento é essencial na oferta de um serviço desaúde de qualidade.

A pesquisa concluiu que os quase 220 mil den-tistas existentes atualmente são mais do que sufi-cientes para oferecer um atendimento de qualida-de para a população. A média nacional, de umodontologista para cada 838 habitantes, é uma dasmelhores do mundo. “O desafio é interiorizar tantoa formação quanto o acesso para esses profissio-nais”, explica a coordenadora do estudo, a profes-sora do departamento de Medicina Oral e Odonto-logia Infantil da Universidade Estadual de Londri-na (UEL) Maria Celeste Morita.

Apesquisa mostra que, mesmo com uma quan-tidade adequada de profissionais no país, a maioriaainda se localiza nas regiões Sudeste e Sul. Juntos,os sete estados dessas regiões concentram quase75% de todos os dentistas brasileiros, deixandoapenas 25% para as outras 20 unidades da federa-ção. Só o estado de São Paulo abriga um terço detodos os profissionais da área.

Por outro lado, a maioria dos 85 milhões de bra-sileiros que vivem nas regiões Norte, Nordeste eCentro-Oeste experimentam uma realidade dife-rente. No Norte, são 1,8 mil pessoas, em média, pa-ra cada profissional, e em alguns municípios doNordeste, como em Paçatuba (CE), esse índice dis-para para mais de 65 mil para cada dentista, umnúmero 77 vezes maior que a média nacional.

PrejuízosTer um dentista próximo de casa não é apenas

uma questão de comodidade. A necessidade dedeslocamento para outras regiões em busca de tra-tamento dificulta o acompanhamento constante epreventivo. “Se um paciente tem que ir pra outra ci-dade, ele só procura o dentista quanto sente dores,e o tratamento acaba sendo muito mais difícil. Aproximidade com esse profissional de saúde facili-ta um diagnóstico precoce e um tratamento maiseficaz”, explica Maria Celeste Morita.

Uma das razões dessa má distribuição é a con-centração das faculdades de odontologia. O Sudes-te concentra metade das instituições do tipo nopaís. O Nordeste, menos de 10%. Quando se anali-sam cursos de pós-graduação, a situação é aindapior. O Norte não possui nenhum mestrado oudoutorado na área, enquanto o Sudeste ostenta so-zinho 75% das pós-graduações na área.

Para o presidente da Associação Brasileira deOdontologia (ABO), Norberto Lubiana, a solução doproblema passa por uma política pública de estí-mulo à fixação dos profissionais em áreas mais dis-tantes. “O governo precisa articular com urgênciauma política de estímulo, inclusive financeiro, paraque profissionais formados em outras regiões op-tem por trabalhar em áreas mais carentes”, conta.

O Ministério da Saúde sustenta que já tem ado-tado medidas para tentar amenizar a má dis-tribuição de profissionais. Segundo a diretora doDepartamento de Gestão da Educação na Saúde,Ana Estela Haddad, uma das medidas que podeajudar no enfrentamento do problema é a volta dospareceres do Conselho Nacional de Saúde quandoo Ministério da Educação vai autorizar, reconhecerou renovar cursos de odontologia no país. “Nessasáreas com grande concentração, o conselho só dáparecer favorável se o curso em questão for ex-tremamente inovador”, diz.

Para conseguir com que os profissionais optempor se fixar nas chamadas regiões de vazio assisten-cial, Ana Estela aposta em uma medida que estásendo preparada para vigorar, em um primeiromomento, para médicos: garantir um bom descon-to na amortização dos pagamentos das dívidas es-tudantis para quem escolher trabalhar nessasáreas. É uma medida de estímulo financeiro comoa apregoada pelo presidente da ABO.

JuventudeOutro dado apontado na pesquisa foi a pouca

idade dos dentistas brasileiros. Cerca de 55% têmmenos de 40 anos. Para a responsável pelo estudo,isso favorece ainda mais a concentração. “Nessaidade, o profissional está constituindo família e, as-sim, ele escolhe se fixar em lugares que não só te-nham oportunidades para ele, como boas escolas eopções culturais para os filhos, como para o cônju-ge”, diz Maria Celeste.

Brasil tem grande número de profissionais, mas distribuição desigual atinge duramente regiões mais pobres do país. Líderesda classe sugerem incentivo do Estado para diminuir saturação de odontólogos nas capitais e em áreas com alta renda

Muitos dentistas,pouco atendimento

O Distrito Federal tem uma situação privilegia-da, com uma média de 438 dentistas por habitante— a segunda melhor do Centro-Oeste, perdendoapenas para Goiânia, onde o número é de 346. Parao presidente do Conselho Regional de Odontologia

(CRO), Júlio César, a ótima proporção se deve ao al-to poder aquisitivo na capital. “Um local com altarenda e ótima qualidade de vida como Brasília atraio estabelecimento desses profissionais”, analisa.

Mesmo com a grande quantidade, o DF tam-

bém possui problemas na distribuição internados profissionais. A grande maioria ainda se con-centra em regiões próximas ao Plano Piloto. Emcidades mais distantes, como Gama, Ceilândia eBrazlândia, a quantidade de dentistas ainda é pe-quena. “Pela mesma razão que os profissionaispreferem Brasília pela alta renda, a baixa rendaexpulsa os profissionais desses outros locais”,completa César.

DF também tem má distribuição

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