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CASA DE YOGA SHANTI OM CURSO LIVRE DE FORMAÇÃO PARA INSTRUTORES DE YOGA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Profa. Maria Laura Garcia Packer OLHAR DA CIÊNCIA SOBRE O YOGA ALESSANDRA BERTINATTO - JOINVILLE - JUNHO 2011

Olhar da ciência sobre o yoga

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CASA DE YOGA SHANTI OM

CURSO LIVRE DE FORMAÇÃO PARA INSTRUTORES DE YOGA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Profa. Maria Laura Garcia Packer

OLHAR DA CIÊNCIA SOBRE O YOGA

ALESSANDRA BERTINATTO

- JOINVILLE -JUNHO 2011

Page 2: Olhar da ciência sobre o yoga

SUMÁRIO

I INTRODUÇÃO.................................................................................................................................4

1.2 OBJETIVO.................................................................................................................................6

1.3 JUSTIFICATIVA........................................................................................................................6

II REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................................................8

2.1 YOGA – SAÚDE X DOENÇA..................................................................................................8

III MÉTODO........................................................................................................................................9

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA.....................................................................................9

3.2 AMOSTRA.................................................................................................................................9

3.3 COLETA DE DADOS................................................................................................................9

3.4 ESTATÍSTICA............................................................................................................................9

IV RESULTADOS..............................................................................................................................10

4.1 CRONOLOGIA DA PUBLICAÇÃO DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA . . .10

4.2 LÍNGUA DAS PUBLICAÇÕES DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA...........11

4.3 SUB-TEMAS REFERENTES AOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA...............12

4.4 MODALIDADES REFERENTES AOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA.........13

4.5 COMPROVAÇÕES CIENTÍFICAS DE YOGA PUBLICADAS...........................................14

V CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................17

VI REFERÊNCIAS............................................................................................................................18

Page 3: Olhar da ciência sobre o yoga

“Não acrediteis em coisa alguma

pelo fato de vos mostrarem o testemunho escrito

de algum sábio antigo;

Não acrediteis em coisa alguma

com base na autoridade de mestres e sacerdotes;

Aquilo, porém, que se enquadrar na vossa razão,

e depois de minucioso estudo

for consumado pela vossa experiência,

conduzindo ao vossa próprio bem

e ao de todas as outras coisas vivas;

A isso aceitai como verdade;

E daí, pautai vossa conduta!”

(BUDA)

Page 4: Olhar da ciência sobre o yoga

I INTRODUÇÃO

O Yoga constitui-se de um complexo sistema que integra os fatores físico, moral e espiritual

do ser humano1. Teve sua origem na Índia há cerca de 2.000 anos2 e sua raiz etnográfica provém do

Sânscrito, língua oficial indiana, e significa união, ligar, manter unido (ELIADE, 1996)3. O Yoga

baseia-se em 8 princípios que conferem os Yoga Sutras de Patanjalí2. Também conhecidos como os

oito passos do Yoga, esses princípios incluem disciplina (yamas), auto-controle (niyamas), prática

corporal (asana), controle da respiração (pranayama), introspecção dos sentidos (pratyahara),

concentração (dharana), meditação (dhyana) e conexão espiritual (samadhi)2.

Há milhares de anos, os Yoguis (dedicados cientistas do mundo interior e da psicologia

profunda) intuitivamente chegaram a diversas conclusões sobre a condição humana. Foram ainda

mais além e desenvolveram técnicas práticas para se obter o equilíbrio harmônico sobre si mesmo5.

Dessa forma, com a prática de Yoga, a integração do Ser Humano é promovida a partir do equilíbrio

entre seus aspectos físicos, espirituais, psicológicos e sociais4.

Por se tratar de uma filosofia profunda e complexa, repleta de técnicas que beneficiam a

vida do ser humano, principalmente a partir de 1900, deu-se início a curiosidade em testar essas

técnicas cientificamente a fim de comprovar sua eficácia, sua aplicação e indicação. Isso se deu a

partir da relação crescente que ocorreu entre os orientais e ocidentais.

Segundo Krieger (2001)6 o “sopro inicial” do Yoga no Ocidente ocorreu em 1893, com a

chegada de um mestre indiano aos Estados Unidos, o Swami Vivekananda. A partir daí, começa a

existir um fluxo de mão dupla entre mestres que chegam da Índia, trazendo suas técnicas e

ensinamentos e no sentido inverso, os ocidentais iniciando uma peregrinação ao Oriente em busca

dos conhecimentos e ensinamentos espirituais. Outro precursor do Yoga no ocidente foi Swami

Sivananda que estudou medicina e percebeu que esta apenas curava na superfície, e já que muitos

problemas vinham do psiquismo humano, era importante divulgar uma visão abrangente do ser

humano.

As primeiras investigações científicas foram realizadas pelo Swami Kuvalayananda a partir

de 1920. A tentativa de dar bases científicas ao Yoga tornaram-se públicas em 1924, quando lançou

o Yoga Mimamsa Journal, no Instituto Kaivalyadhama, onde muitas descobertas foram feitas sobre

os efeitos terapêuticos do Yoga sobre certas doenças7. Kuvalayananda desenvolveu uma abordagem

do Yoga apropriada à mente do homem do século XX, mais racional. Esta abordagem científica foi

um dos fatores que permitiu o aumento de adeptos do Yoga no ocidente.

Em 1933, Mircea Eliade apresenta a primeira tese acadêmica sobre Yoga no Ocidente, na

Universidade de Bucareste, publicada em 1936 em francês3. Outras tentativas posteriores foram

Page 5: Olhar da ciência sobre o yoga

feitas por organizações e isoladamente, tanto na India quanto no exterior, mas só em 1961 foi

escrito o primeiro livro abrangente sobre o assunto*, publicado pelo governo da India, através de seu

Ministério da Saúde.

No Brasil, Caio Miranda, oficial militar, começa a ensinar Yoga nos anos 1940, no Rio de

Janeiro e publica o primeiro livro sobre o assunto, Libertação pelo Yoga, em 1960. O olhar

científico sobre o Yoga foi introduzido pela Profa. Mestra Ignêz Novaes Romeu, que fundou em São

Paulo o Instituto de Yoga Lonavla (1975). Finalmente, o Yoga atinge a “maioridade”, sendo

reconhecido por várias instituições de diferentes campos do conhecimento, entre elas o Ministério

da Saúde Brasileiro que o identifica, em 2003, como uma Prática Complementar de Saúde.

Nos últimos 10 anos, um número crescente de estudos têm demonstrado que a prática de

Yoga pode promover efeitos favoráveis para o Ser Humano. São encontrados efeitos físicos, como

flexibilidade, força e resistência muscular, controle de variáveis fisiológicas, como dor, pressão

arterial, respiração, frequência cardíaca e melhora do condicionamento físico; controle de variáveis

psicológicas como ansiedade, depressão, estresse, fadiga e estados de humor, além de efeitos

sociais, como mudança no estilo de vida8,9,10,11.

* Yogaterapia: princípios básicos e métodos. Swami Kuvalayananda e S. L. Vinekar

Page 6: Olhar da ciência sobre o yoga

1.2 OBJETIVO

1.2.1 Objetivo geral

Este estudo objetivou revisar a literatura científica sobre estudos realizados sobre o tema

Yoga.

1.2.2 Objetivos específicos

− Analisar a quantidade de artigos científicos publicados sobre o Yoga.

− Analisar a cronologia da publicação de artigos científicos sobre o Yoga.

− Analisar os países que publicaram artigos científicos sobre o Yoga.

− Analisar os sub-temas estudados nos artigos científicos sobre o Yoga.

− Analisar as modalidades de Yoga estudadas nos artigos científicos sobre o Yoga.

− Descrever algumas das comprovações científicas sobre Yoga.

1.3 JUSTIFICATIVA

Este é um trabalho de conclusão de curso de Yoga, de um curso muito aprofundado na

filosofia e prática de Yoga. A escolha do tema se deu pelo fato de que, pessoalmente, a autora,

durante o processo do curso, se questionou sobre pesquisar o Yoga cientificamente. Durante a

preparação para o mestrado, percebi que, em minha vida naquele momento, mais importante era

praticar! Auto-esforço e determinação, contentamento e não-violência. Escolhas...

Hoje fazendo esse estudo, mais ou menos para fechar essa coisa da pesquisa, resolvi fazer

em formato acadêmico, bem científico, para poder mostrar o modelo padrão do método científico

atual, tanto para meus companheiros da Sangha, quanto para os próximos alunos. Como é o tal do

método científico? Então este é um artigo científico sobre os artigos científicos sobre Yoga, que

tenta mostrar o quanto já se estudou sobre Yoga, no mundo acadêmico. A ideia é também provocar o

questionamento sobre a Ciência. Se ela dará conta de mensurar os efeitos de uma prática milenar e

sagrada, em curtos períodos de tempo (1 sessão, 3 meses...) e sobre aspectos que vão desde o nível

físico ao espiritual do ser humano.

Page 7: Olhar da ciência sobre o yoga

Já se pode encontrar preocupações de médicos e profissionais da saúde sobre a utilização

excessiva de medicamentos, de medidas invasivas de cura e outras intervenções convencionais. Um

grande número de modalidades não-farmacológicas demonstram efeitos mais favoráveis na

manutenção da saúde12. Brown e Gerbarg (2005)13 afirmam que intervenções corpo-mente são

benéficas tanto para desordens físicas quanto mentais. Esse autor propõe que existem bastantes

evidências de que os benefícios de um programa que combine posturas, respiração e

meditação/relaxamento, pode caracterizar-se por um método de baixo risco e baixo custo para

complementar o tratamento do estresse, ansiedade, estresse pós-traumático, depressão, doença

relacionada ao estresse, entre outros.

Dentre elas o Yoga, que mais que uma terapia é uma filosofia de vida. Uma prática profunda

e sagrada. A partir da vivência dessa filosofia, os praticantes obtém um ganho significativo de

saúde, sob seus diversos aspectos. Este estudo justifica-se também por ser um meio para demonstrar

aos instrutores de Yoga, profissionais da saúde e médicos, os resultados obtidos de um pequeno

número de sessões de Yoga sobre a Saúde de diversas pessoas.

Page 8: Olhar da ciência sobre o yoga

II REVISÃO DE LITERATURA

2.1 YOGA – SAÚDE X DOENÇA

Segundo Raymond e Brown (2000)14, atualmente tem sido difícil compreender o processo

saúde/doença pois os sintomas sentidos pelos pacientes desafiam o modelo de doença da medicina

convencional que não apresenta uma abordagem terapêutica efetiva. De acordo com Masi, White e

Pilcher (2002)15 as causas associadas à doença podem ser melhor compreendidas apenas quando a

avaliação do indivíduo parte do ponto de vista biopsicossocial, ou seja, a compreensão das causas

das doenças deve considerar características únicas individuais (bioquímicas, biomecânicas e

psicossociais), além do estado emocional e do ambiente ou contexto sociocultural ao qual o

indivíduo está inserido.

Estas limitações da medicina convencional têm levado os pacientes a optarem por terapias

alternativas e complementares16 que consistem em um grupo de práticas terapêuticas que se diferem

da medicina convencional17. Segundo os pesquisadores, essas práticas se baseiam em diversas

filosofias e formas de intervenção que focam sobre a saúde do indivíduo ao invés da doença, visto

que o modelo tradicional da medicina que enfatiza o cuidado com a doença passa a ser substituído

pelo novo paradigma da responsabilidade pessoal para manutenção da saúde.

Segundo Gaertner (2002)18, historicamente esta visão integrada do funcionamento humano é

encontrada em várias expressões milenares das tradições orientais. Na Índia, entre as várias escolas

voltadas ao desenvolvimento humano e também à saúde destacam-se o Yoga e a Medicina

Ayurvédica, sendo seu foco a concepção de que o funcionamento humano se dá a partir de uma

integração psico-somato-energético-espiritual.

Saúde, no Yoga, significa ausência de fatores que perturbem a mente e não apenas ausência

de doença7. Segundo esse autor, o Yoga dá maior ênfase à saúde mental, onde qualquer sinal de

doença manifestado no corpo é resultado de um desequilíbrio mental ou atitude não saudável. Nesse

contexto, é possível que a prática de Yoga possa ser um recurso auxiliar importante para a

manutenção da saúde, uma vez que constitui-se de um sistema filosófico que promove ao praticante

um domínio harmônico sobre si mesmo, através da consciência corporal16.

Page 9: Olhar da ciência sobre o yoga

III MÉTODO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Essa pesquisa se caracteriza como uma Revisão de Literatura, ou seja, uma pesquisa de todo,

ou boa parte, do material publicado sobre Yoga no mundo, na atualidade.

3.2 AMOSTRA

A amostra do estudo foi constituída de artigos publicados em bases de dados científicos de

saúde, que continham o termo Yoga no título e/ou resumo e que foram publicados desde os

primórdios até a atualidade (2011).

3.3 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados a partir de duas bases de dados científicos de saúde, sendo elas

Science Direct e PubMed.

O total de artigos foi diferenciado por ano de publicação, país proveniente do estudo, sub-

temas (doença sistêmica, alterações ortopédicas, distúrbios emocionais, alterações

cardiorrespiratórias, população e outros) e por modalidade de Yoga.

Foram excluídos artigos idênticos publicados nas duas bases de dados, bem como os artigos

cujos títulos e resumos não tivessem relação com o objetivo do estudo.

3.4 ESTATÍSTICA

A partir do montante final de artigos, foi realizada estatística descritiva onde foram

distribuídas as frequências e médias dos dados objetivados neste estudo. Para isso foi utilizado um

programa estatístico.

Page 10: Olhar da ciência sobre o yoga

IV RESULTADOS

Ao todo foram encontrados 7263 artigos. Foram excluídos 1591 por não haver a palavra

Yoga no título ou no resumo dos artigos, ou por se apresentarem em ambas as bases de dados.

Os resultados encontrados de acordo com os objetivos específicos do estudo estão descritos

a seguir.

4.1 CRONOLOGIA DA PUBLICAÇÃO DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA

Sobre essa questão, pode ser observado que os primeiros estudos foram realizados ainda no

início do século XX. É interessante observar o crescente número de publicações ao longo das

décadas, observando-se um salto, principalmente na década de 70 e novamente a partir do ano 2000

(Gráfico 1).

Gráfico 1 - Cronologia da publicação de artigos científicos sobre o Yoga

1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 20000

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

3 7 7 19 6 23 64325

542781

3895

Page 11: Olhar da ciência sobre o yoga

4.2 LÍNGUA DAS PUBLICAÇÕES DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA

Com relação a língua de origem do artigo, podemos observar na tabela 1, que os artigos

escritos na língua inglesa foram os mais encontrados (90%), seguidos da língua alemã (3%) e

francesa (1,6%). Outras línguas também foram catalogadas, entre elas o português (n=4) e o

sânscrito (n=1).

A relação com a língua inglesa se dá uma vez que a Europa, principalmente a Inglaterra,

apresenta grande interesse em desvendar os mistérios indianos. Além disso, sendo o inglês uma

língua considerada universal, prefere-se publicar nesse meio para que haja maior abrangência do

conhecimento obtido. Inclusive, alguns periódicos, mesmo brasileiros, exigem a tradução do artigo

para a língua inglesa para que seja aprovado para publicação.

Tabela 1 - Língua das publicações dos artigos científicos sobre o Yoga

Língua Frequência

Inglês 5123

Alemão 171

Francês 93

Russo 50

Espanhol 35

Italiano 32

Japão 21

Turco 8

Chinês 4

Outros 135

Total 5672

Page 12: Olhar da ciência sobre o yoga

4.3 SUB-TEMAS REFERENTES AOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA

Foram encontrados diversos subtemas de Yoga. Os mais prevalentes são relacionados a

alguma condição física ou emocional alterada, ou seja, estudaram o Yoga a partir de seu enfoque

terapêutico (Tabela 2).

Tabela 2 – Subtemas referentes aos artigos científicos sobre o Yoga

Grande subtema Subtemas Frequência

- Doenças Câncer 470

Hipertensão 303

Asma 224

Diabetes 196

Epilepsia 89

AIDS 57

Desordens alimentares 46

Intestino 24

Fibromialgia 21

Doenças neurológicas 17

Estômago 17

Rim 14

- Problemas ortopédicos Dor 613

Lombalgia 146

Ortopedia 39

Osteoporose 24

- Distúrbios emocionais Estresse 812

Ansiedade 513

Depressão 459

Saúde mental 342

-População Mulheres 2434

Idosos 1743

Crianças 381

Gestantes 160

- Distúrbios cardiorrespiratórios Pulmão 1306

Coração 549

- Outros subtemas Meditação 1176

Filosofia 623

Sono 262

Page 13: Olhar da ciência sobre o yoga

4.4 MODALIDADES REFERENTES AOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA

Pode ser observado que 4585 artigos foram escritos sem identificar a modalidade da prática

de Yoga utilizada no experimento, ou seja, que utilizaram técnicas do Yoga para estudar seus

devidos resultados.

Apesar disso, no gráfico 2 podemos observar que, dentre os estudos que classificaram a

modalidade no experimento, o Hatha Yoga foi a de maior interesse (n=514) pelos pesquisadores,

seguida pelo Iyengar Yoga (n=166) e Kundalini Yoga (n=141).

Gráfico 2 - Modalidades de Yoga estudadas nos artigos científicos sobre o Yoga

Kripalu Ashtanga Sudarshan Raja Kundalini Iyengar Hatha0

100

200

300

400

500

600

21 4677

122 141 166

514

Page 14: Olhar da ciência sobre o yoga

4.5 COMPROVAÇÕES CIENTÍFICAS DE YOGA PUBLICADAS

A seguir estão descritos alguns resultados interessantes de estudos sobre a prática de Yoga.

São temas diversos, como efeitos da respiração, atuação na dor, nos distúrbios emocionais, etc.

Sobre sua prevalência, em 1998, um estudo realizado com mais de 2 mil pessoas pela

Harvard Medical School, nos Estados Unidos, foi encontrado que 7,5% dos entrevistados haviam

praticado Yoga, pelo menos uma vez na vida (valor estimado: 15 milhões de pessoas), sendo que, no

momento da entrevista, 3,8% praticavam Yoga nos últimos 12 meses (7,4 milhões de pessoas)1.

Além disso, neste mesmo estudo foi encontrado que 63,7% utilizavam o Yoga em busca de bem-

estar e 47,9% para condições de saúde especificas como dores na coluna (21,0%), ansiedade

(8,2%), artrite (6,8%), depressão (6,6%) e fadiga (4,0%). Pode-se observar ainda, que dentre os

praticantes, 68,2% eram mulheres. Em 2002, esse estudo foi realizado com uma amostra maior de

participantes (>30 mil pessoas) e os seguintes dados foram encontrados: 10 milhões de praticantes,

com idade média de 40 anos, onde 76% eram mulheres e 61% relataram praticar Yoga para

manutenção da saúde, principalmente relacionando a dores musculoesqueléticas e à saúde mental 19.

Quanto à respiração, foi realizado um estudo brasileiro em 2006, pelos autores Godoy,

Bringhenti, Severa, et al. (2006)20, que comparou o efeito de provas espirométricas e pressão

inspiratória máxima entre a prática de Hatha Yoga e de ginástica aeróbia. Participaram da pesquisa

31 indivíduos (Yoga n= 16; ginástica n= 15), que realizaram duas sessões semanais de

aproximadamente 60 minutos, durante três meses, de Yoga ou ginástica aeróbia. Os resultados

encontrados quanto à prática de Yoga foram os seguintes: aumento de 20% na pressão inspiratória

máxima e ganho de função mais expressivo em relação ao grupo de ginástica. O estudo mostrou,

ainda, maior predominância do sexo feminino nas práticas de Yoga, indicando a preferência pela

modalidade.

Em outro estudo, realizado por Willians, Petronis, Smith, et al. (2005)21, 44 pessoas com

média de idade de 48 anos e portadoras de lombalgia crônica participaram de 16 semanas de Yoga.

Houve resultados significativos na capacidade funcional, sendo significativamente maior nos

praticantes de Yoga (70%), diminuição de 64% da intensidade da dor e 88% dos participantes

diminuiu ou parou de tomar medicamentos para controle da dor.

Ainda quanto à dor, o hormônio GABA (ácido gama-aminobutírico), responsável pela

inibição da dor no sistema nervoso central, Strenguita, Jensen, Perlmutter, et al. (2007)22, realizaram

um estudo de comparação entre os níveis desse hormônio antes e depois de uma prática de Yoga. O

estudo foi realizado com 11 praticantes de Yoga que realizaram uma sessão de 60 minutos de Yoga.

O resultado do antes e depois demonstrou aumento de 27% nos níveis de GABA, evidenciando que

Page 15: Olhar da ciência sobre o yoga

em praticantes de Yoga, apenas uma sessão de Yoga pode promover o aumento desse hormônio.

Esse estudo sugere que a prática de Yoga é útil para doenças relacionada à diminuição desse

hormônio.

A prática avançada de Yoga pode levar à inibição da atividade cerebral em áreas

relacionadas à dor, havendo estudos que relatam que praticantes de Yoga, quando em estado

meditativo, alegam não sentir dor23. Neste estudo um mestre de Yoga de 65 anos de idade, com 38

anos de prática, recebeu estímulos nocivos provenientes de um lazer durante estado meditativo e

não meditativo. Suas variações cerebrais foram controladas por meio de magnetoencefalograma e

ressonância magnética funcional, os quais que não demonstraram resposta esperada de dor. Ao ser

questionado sobre a intensidade da dor sentida em ambas as condições, não-meditativa e meditativa,

seus escores em uma escala de 0 (nenhuma dor) a 10 (dor extrema), foram 8 e 0 respectivamente.

Em outro estudo, realizado com pacientes com Fibromialgia constatou-se analgesia

significativa através da Yoga após três meses de prática, bem como imediatamente após cada sessão,

o que demonstra que o Yoga pode ser um recurso importante para reduzir a intensidade da dor nesta

síndrome dolorosa crônica24.

Quanto ao efeito da prática de Yoga sobre os fatores emocionais, Woolery, Myers, Sternlieb,

et al. em 200425 realizaram um estudo onde 28 sujeitos com idade entre 18 e 29 anos e níveis

moderados de depressão, que participaram de duas aulas semanais de Yoga, com duração de 60

minutos, durante cinco semanas. As variáveis estudadas foram depressão, ansiedade, estados de

humor e níveis de cortisol matinal. Os resultados da prática de Yoga foram: diminuição significativa

dos sintomas de depressão e ansiedade, diminuição significativa de raiva/hostilidade, tensão,

confusão mental, fadiga e distúrbios do humor em geral. Apresentou também aumento significativo

dos níveis de cortisol matinal no final do programa. A maioria dos participantes de um estudo de

Brown e Gerbarg13 (2005), reportaram uma redução significativa do estresse logo após cada prática

de Yoga.

Em um estudo realizado por Cowen e Adams (2005)26, onde 26 pessoas que não haviam

praticado Yoga nos últimos seis meses participaram de seis semanas de Yoga realizadas duas vezes

por semana e com a duração de 75 minutos. Foram avaliados antes e depois das 12 sessões quanto a

fatores físicos como peso, altura, pressão arterial ao repouso, flexibilidade do tronco, força e

resistência muscular e quanto a fatores psicológicos como ansiedade, percepção de saúde, dor,

saúde mental, fatores sociais, capacidade funcional, bem estar e, qualitativamente, quanto à

percepção das aulas. Foram encontrados benefícios na pressão diastólica, força e resistência

muscular, flexibilidade, percepção de estresse e percepção de saúde. Os participantes referiram

ainda percepções quanto a não competitividade da prática, encorajamento quanto a buscar o limite

individual na prática, não excedendo-se, quanto ao desafio proposto pelas posturas e sentimento de

Page 16: Olhar da ciência sobre o yoga

relaxamento após as aulas.

Avaliando a qualidade de vida, um estudo randomizado foi realizado pelos autores Smith,

Hancock, Blake-Mortimer, et al. (2007)27, comparando a prática de Hatha Yoga com exercícios de

relaxamento, quanto à redução do estresse, ansiedade, pressão arterial e melhoria da qualidade de

vida. Participaram dessa pesquisa, 117 sujeitos, sendo 83% mulheres, com média de idade de 44

anos que receberam 16 semanas de intervenção. Ambas as práticas favoreceram os participantes

quanto à redução do estresse e da ansiedade e promoveram aumento na percepção da saúde mental e

física. Dentre os praticantes de Yoga, 70% apresentaram melhora no sono e 20% referiram que a

prática de Yoga os fez realizar mudanças no estilo de vida. Houve também aumento da flexibilidade

em 32% no grupo de Hatha Yoga.

Sendo a qualidade do sono um fator fundamental para a qualidade de vida das pessoas,

Manjunath e Telles (2005)11, realizaram um estudo com 69 idosos, que foram divididos em três

grupos equivalentes em número e idade, para a prática de Yoga (posturas, respiração, relaxamento e

filosofia), de medicina ayurvédica (ervas e dieta) e um grupo controle. Foram avaliados quanto à

qualidade e quantidade do sono após 6 dias de Yoga ou Ayurveda e após três e seis meses da

intervenção inicial. A sessão de Yoga teve duração de 60 minutos por dia. Foram encontrados os

seguintes resultados em relação à prática de Yoga: diminuição do tempo de pegar no sono, aumento

no número de horas dormidas e quanto à sensação de descanso ao acordar. Não foram encontradas

diferenças significativas nos outros grupos em nenhuma das variáveis.

Page 17: Olhar da ciência sobre o yoga

V CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com relação aos objetivos traçados por essa revisão de literatura, foi possível concluir que a

literatura científica sobre o tema Yoga é vasta, engloba diversos países, diversos sub-temas e

modalidades, demonstrando sua eficácia para um estilo de vida saudável (físico, mental, emocional,

energético e espiritual).

Vale lembrar que estudar o Yoga apenas por um período curto de tempo não é possível para

captar todo o conhecimento de uma prática pessoal constante irá proporcionar. Mas é também

interessante como, em apenas 1 sessão, tantas coisas podem ser mensuradas como benéficas.

Espera-se que o conhecimento sobre esse tema continue sendo explorado na teoria e na prática, em

prol da evolução da humanidade.

Devemos considerar que, neste estudo, apenas duas bases de dados foram pesquisadas,

havendo diversos outros recursos para captação desses dados, o que evidencia que na realidade, o

número de estudos científicos extrapola o encontrado neste artigo.

Que cada vez mais o Yoga seja colocado em prática! Que continue a ser ensinado aos seres

humanos, a fim de que, a partir da integralidade individual possa haver harmonia, paz e amor em

todo o planeta Terra e em todo Universo.

Om shanti. Namaste.

Page 18: Olhar da ciência sobre o yoga

VI REFERÊNCIAS

1SAPER, R. B.; EISENBERG, D. M.; DAVIS, R. B.; CULPEPPER, L.; PHILLIPS, R. S. Prevalence and patterns on adult use in the United States - Results of a national survey. Alternative therapies, v. 10, n. 2, 2004.

2FEUERSTEIN, G. A tradição do . Motilal Banarsidass Publishers, p. 5, 2002.

3ELIADE, M. Yoga, Imortalidade e Liberdade. Ed Palas Athenas, São Paulo, 1996.

4ENGEBRETSON, J. Culture and complementary therapies. Complementary Therapies in Nursing & Midwifery, v. 8, p. 177-184, 2002.

5ARORA, H. L. A Ciência moderna à luz do Yoga milenar. Nova Era, 1999.

6KRIEGER, N. et al. Theories for social epidemiology in the 21 century: an ecosocial perspective. International Journal of Epidemiology, v. 30, p. 668, 2001.

7GHAROTE, M.L. Yoga Aplicada – da teoria à prática. Ed Phorte, 2ed, 2002.

8RAY, U. S.; MUKHOPADHYAYA, S.; PURKAYASTHA, S. S.; ASNANI, V. et al: Effect of yogic exercises on physical and mental health of young fellowship course trainees. Indian Journal of Physiology and Pharmacology, v. 45, p 37-53, 2001.

9RAUB, J. A. Psychophysiologic effects of Hatha on musculoskeletal and cardiopulmonary function: a literature review. Journal of Alternative and Complementary Medicine, v.8, p. 797-812, 2002.

10KIMBERLY, A. W.; PETRONIS, J.; SMITH, D.; GOODRICH, D.; et al.: Effect of Iyengar therapy for chronic low back pain. Pain, v.115, p. 107-117, 2005.

11MANJUNATH, N. K., TELLES, S. Influence of & Ayurveda on self-rated sleep in a geriatric population. Indian Journal of Medical Research, v. 121, p. 683-690, 2005.

12MORRIS, C. R.; BOWEN, L.; MORRIS, A. Integrative therapy for Fibromyalgia - possible strategies for an individualized treatment program. Southern Medical Journal, v. 98, n. 2, p. 177-184, 2005.

13BROWN, R. P.; GERBARG, P. Sudarshan Kriya breathing in the treatment of stress, anxiety and depression: part II - clinical applications and guidelines. Journal of Alternative and Complementary Medicine, v.11, n. 4, p. 711-717, 2005.

14RAYMOND, M. C.; BROWN, J. B. Experience of fibromyalgia - Qualitative study. Canadian Family Physician, v.46, p. 1100-1106, 2000.

15MASI, A. T.; WHITE, K. P.; PILCHER, J. J. Person-centered approach to care, teaching and research in fibromyalgia syndrome: Justification from biopsychosocial perspectives in populations. Seminars in Arthritis Rheumatism, v. 32, n. 2, p. 71-93, 2002.

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Page 19: Olhar da ciência sobre o yoga

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