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Inclui DVD em portuguê Atendimento Pré-hospitalar ao Traumatizado PHTLS American College of Surgeons COMMITTEE TRAUMA MOSBY NAEMT Comité do PHTLS da National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT) em cooperação com o Comité de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões

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1. Inclui DVD em portugu Atendimento Pr-hospitalar ao Traumatizado PHTLS American Collegeof Surgeons COMMITTEE TRAUMAMOSBY NAEMT Comit do PHTLS da NationalAssociation of Emergency MedicalTechnicians (NAEMT) em cooperao com o Comit de Trauma do ColgioAmericano de Cirurgies 2. PREFCIO Na Argentina, na Amrica Latina, e no mundo inteiro, o trauma uma causa importante de morbidade, em decorrncia de colises automobilsticas, violncia e acidentes de trabalho, entre outras causas Uma resposta a essa situao foi iniciada na Argentina em 1954, atravs do captulo local do Colgio Americano de Cirurgies. Decorreriam mais 35 anos at ser feito o primeiro curso ATLS, em *1989. Durante os anos seguintes, o atendimento ao doente trau- matizado tornou-se vital, devido ao crescente nmero de vtimas e ao treinamento inadequado em atendimento pr- hospitalar. Os milhares de pessoas mortas ou permanentemente in capacitadas na Argentina custaram muito ao pas, tanto so cial quanto economicamente. Assim, em 1996, o programa PHTLS foi iniciado na Argentina pelos docentes interna cionais Norman McSwain, Will Chapleau e Greg Chapman. Foram treinados setenta instrutores e o pas foi dividido em oito regies, englobando 23 provncias. Desde o incio, o curso expandiu-se por todo o pas, tornando-se um signifi cativo marco na criao de respostas integradas pr-hospita- lares e hospitalares nas esferas pblica e privada. Desde aquela poca, este curso treinou mdicos, enfer meiros, bombeiros, grupos de resgate, equipes militares e brigadas industriais da Argentina at pases latinoameri- canos fronteirios. At hoje, o programa PHTLS em nosso pas organizou Conferncias Internacionais e Seminrios de Atualizao em Trauma nas sucessivas edies deste livro. Realizamos essas atividades com o apoio do escritrio in ternacional do PHTLS, dirigido por Will Chapleau e Corine Curd, e com a generosa colaborao de outros coordenado res latinoamericanos de Mxico, Colmbia, Brasil e Bol via, alm de diversos instrutores dos Estados Unidos. Alm disso, o programa PHTLS da Argentina contribui e coorde nou a implementao do programa em pases como Bolvia, Uruguai, Chile, Peru e, agora, Equador. Pessoalmente, na qualidade de mdico especializado em emergncia com mais de 30 anos de experincia clnica e cientfica em sociedades acadmicas que lidam com o do ente crtico, devo ressaltar o desenvolvimento contnuo do programa que, com seu sentido estrito baseado em evidncia cientfica, faz do PHTLS um curso universalmente adolado em mais de 40 pases, tanto na rea civil quanto na rea militar. Passaram-se 15 anos desde o primeiro curso em nosso pas. Treinamos mais de 7.500 alunos. No mundo inteiro, educamos mais de meio milho de socorristas. Nada disso teria sido possvel sem os esforos dirios de pessoas como Norman McSwain, Will Chapleau, Jeff Salomone e outros de grande valor, como Scott Frame, que no esto mais co- nosco, e centenas de diretores e instrutores nos outros 50 pases que trabalham dia aps dia ensinando e aplicando os conceitos e as prticas do programa em seus doentes. Alualmente, na Argentina, o tratamento inicial ao doente traumatizado tem um nico protocolo, "a maneira PHTLS". E uma honra compartilhada por todos ns, que trabalha mos no pr-hospitalar, sentirmo-nos parte dessa filosofia de trabalho e termos o sentimento de pertencer a ela. Sentimos muito orgulho quando um bombeiro, um mdico, um sol dado ou um brigadista diz: "Sou do PHTLS", e quando esta mos trabalhando com as vtimas de um acidente, sinto que esses 15 anos de treinamento deram frutos e eu percebo que "eles esto fazendo a diferena". Lembrarei sempre de uma frase que Norrnan McSwain disse na Argentina: "Se um de ns puder salvar novamente uma vtima, voc pode mudar o mundo." Assim, superando qualquer barreira geopoltica, o PHTLS uma ponte de co nhecimento sobre o mundo. Oswaldo Rois, MD Presidente, Fundacion EMME Diretor, PHTLS Argentina xvii 3. APRESENTAO Os socorristas devem aceitar a responsabilidade de pres tar atendimento ao doente de uma forma que seja o mais prximo possvel da perfeio absoluta. Isso no pode ser realizado com conhecimentos insuficientes sobre o assunto. Devemos lembrar que o doente no escolheu estar envolvido em uma situao traumtica. Por outro lado, o so corrista fez a escolha de estar ali para cuidar do doente. O socorrista est obrigado a empregar 100% de seus esforos durante o conlalo com cada doente. O doente teve um mau dia; o socorrista no pode ter tambm um mau dia. Ele deve estar sempre atento e preparado na competio entre o doente e a morte e a enfermidade. 0 doente a pessoa mais importante na cena de uma emer gncia. No h tempo para pensar na sequncia em que a ava liao do doente deve ser realizada ou que tratamentos devem ter prioridade sobre os outros. No h tempo para praticar uma tcnica antes de a utilizar em um determinado doente. No h tempo para pensar em que lugar o equipamento ou os suprimentos necessrios ao atendimento esto guardados na mochila. No h tempo para pensar para onde a vtima deve ser transportada. Todas essas informaes e outras mais devem estar armazenadas na mente do socorrista, e todos os suprimentos e equipamentos devem estar na mochila quando o socorrista chega cena. Sem o conhecimento ou o equi pamento apropriado, o socorrista pode esquecer-se de fazer coisas que poderiam potencialmente aumentar as possibili dades de sobrevivncia do doente. As responsabilidades do socorrista so grandes demais para permitir a ocorrncia de tais erros. Todos aqueles que prestam atendimento pr-hospitalar so membros da equipe de atendimento ao traumatizado, tanto quanto os enfermeiros ou mdicos do pronto-socorro, do cen tro cirrgico, da unidade de terapia intensiva, da enfermaria eda unidade de reabilitao. Os socorristas devem estar bem treinados, para poderem,de maneira rpidae eficiente, retirar o doente do local do incidente e transport-lo para o hospital apropriado mais prximo. POR QUE O PHTLS? Filosofia Educacional do Curso 0 PHTLS enfatiza princpios, no em preferncias. Ao enfa tizar os princpios do bom atendimento ao traumatizado, o PHTLS estimula o raciocnio crtico. O Comit Executivo da Diviso PHTLS da National Association of Emergency Medi cal Technicians (NAEMT) acredita que, tendo uma boa base de conhecimento, os socorristas so capazes de tomar as de cises adequadas no atendimento do doente. A memorizao mecnica de processos mnemnicos desencorajada. Alm disso, no existe um "mtodo PHTLS" para a execuo de determinada tcnica. Ensina-se o princpio que est por trs da tcnica e, em seguida, apresentado um mtodo aceitvel de executar a tcnica, que esteja de acordo com o princpio. Os autores entendem que nenhum mtodo nico pode ser aplicado s inmeras situaes concretas encontradas no pr- hospitalar. Informao Atualizada O desenvolvimento do programa PHTLS comeou em 1981, imediatamente depois do incio do programa Advanced Trauma Life Support (ATLS) para mdicos. Como o curso ATLS revisado a cada 4 ou 5 anos, as alteraes pertinentes so incorporadas edio seguinte do PHTLS. Esta 7- edio do programa PHTLS foi revisada com base no curso ATLS de 2008, assim como em publicaes subsequentes na literatu ra mdica. Embora siga os princpios do ATLS, o PHTLS est voltado especificamente para as necessidades prprias do atendimento ao traumatizado no pr-hospitalar. Foram acres centados novos captulos, enquanto outros foram amplamente revisados. Novos captulos incluem informao sobre a Arte e Cincia da Medicina. Tambm foi includo um DVD com videoclipes das tcnicas e questes prticas. Observe, ao lon go do livro,as referncias ao smbolo , indicando que mais informaes podem ser encontradas no DVD. Base Cientfica Os autores e editores adotaram uma abordagem "baseada em evidncias", que inclui referncias da literatura mdica que apoiam os princpios fundamentais. Alm disso, so citados, quando aplicvel, outros documentos publicados por organi- zaes nacionais, que marcam sua posio sobre determinado assunto. Foram acrescentadas muitas referncias, para permi tir que os socorristas com mente inquisidora leiam os dados cientficos que amparam nossas recomendaes. Ajuda NAEMT A NAEMT fornece a estrutura administrativa para o programa PHTLS. Nenhuma verba originria do programa PHTLS (taxas ou royalties do livro e dos materiais audiovisuais) vai para os editores ou autores deste trabalho ou para o Comit de Trauma do Colgio Americano de Cirurgies, ou para qualquer outra organizao mdica. Todos os lucros do programa PHTLS so redirecionados para a NAEMT, para prover recursos para as suntos e programas de importncia fundamental para os pro- xix 4. XX APRESENTAO fissionais dos SME, como conferncias educacionais e lobby junto ao Poder Legislativo, em prol dos interesses dos socor ristas. 0 PHTLS um Lder Mundial Devido ao sucesso indito das edies anteriores do PHTLS, o programa tem continuado a crescer em grande velocidade. Os cursos do PHTLS continuam a proliferar atravs dos Estados Unidos, e os militares americanos adotaram-no, ensinando o programa ao pessoal das Foras Armadas americanas em mais de 100 centros de treinamento pelo mundo inteiro. O PHTLS foi exportado para mais de 50 pases, e muitos outros expres sam interesse em levar o PHTLS para o seu pas, num esforo para melhorar a qualidade do atendimento pr-hospitalar ao traumatizado. Os socorristas tm a responsabilidade de assimilar este co nhecimento e estas tcnicas, para os utilizarem em benefcio dos doentes pelos quais so responsveis. Os editores e au tores deste material e o Comit Executivo da Diviso PHTLS da NAEMT esperam que voc incorpore estas informaes na sua prtica e que diariamente se dedique ao atendimento daqueles que no podem cuidar de si mesmos - os doentes traumatizados. Jeffrey P. Salomone, MD, FACS, NREMT-P Peter T. Pons, MD, FACEP Editores Norman E. McSwain, Jr., MD, FACS, NREMT-P Editor-Chefe, PHTLS Will Chapleau, EMT-P, RN,TNS, CEN Gregory Chapman, EMT-P, RRT Jeffrey S. Guy, MD, MSc, MMHC, FACS, EMT-P Editores Associados 5. SUMRIO DIVISO 1 Introduo 1 PHTLS: Passado, Presente e Futuro, 1 2 Preveno de Trauma, 15 DIVISO 2 Avaliao e Tratamento 3 A Cincia e a Arte dos Cuidados Pr-hospitalares: Princpios, Preferncias e Pensamento Crtico, 33 4 Biomecnica do Trauma, 43 5 Avaliao Local, 87 6 Avaliao e Atendimento do Doente, 109 7 Controle da Via Area e Ventilao, 133 8 Choque, 179 DIVISO 3 Leses Especficas 9 Leso Cerebral Traumtica, 217 10 Trauma Vertebromedular, 245 11 Trauma Torcico, 291 12 Trauma Abdominal, 317 13 Trauma Musculoesqueltico, 333 14 Leses por Queimadura, 355 15 Trauma Peditrico, 377 16 Trauma no Idoso, 403 DIVISO 4 Resumo 17 Princpios de Ouro do Atendimento Pr-hospitalar ao Traumatizado, 421 DIVISO 5 Vtimas em Massa e Terrorismo 18 Atendimento a Desastres, 431 19 Exploses e Armas de Destruio em Massa, 447 DIVISO 6 Consideraes Especiais 20 Trauma Ambiental I:Calor e Frio,477 21 Trauma Ambiental II:Afogamento, Raios, Mergulho e Altitude, 521 22 Atendimento ao Traumatizado em Locais Remotos, 561 23 Suporte Mdico de Emergncia em Operaes Tticas Civis (SMEOT), 579 Glossrio, 591 ndice, 605 XXI 6. TCNICAS ESPECFICAS DIVISO 2 Avaliao e Tratamento 7 Trao da Mandbula no Trauma, 158 7 Trao da Mandbula no Trauma Alternativa, 158 7 Elevao do Mento no Trauma (Dois Socorristas), 159 7 Cnula Orofarngea (Mtodo de Introduo com Elevao da Lngua e da Mandbula), 160 7 Cnula Orofarngea (Mtodo de Introduo com Abaixador de Lngua), 161 7 Cnula Nasofarngea, '162 7 Ventilao com Bolsa-Valva-Mscara (Dois Socorristas), 164 7 Combitube, 166 7 Cnulas King, 168 7 Mscara Larngea, 170 7 Intubao Orotraqueal do Traumatizado sob Viso Direta, 172 7 Intubao Orotraqueal Face a Face, 174 7 Cricotirotomia por Agulha e Ventilao Transtraqueal Percutnea, 176 8 Acesso Vascular Intrasseo, 213 8 Aplicao de Torniquete: Bandagem Israelense, 215 DIVISO 3 Leses Especficas 10 Colar Cervical: Tamanho e Colocao, 267 10 Rolamento em Bloco/Posio Supina, 269 10 Rolamento em Bloco/Doente em Decbito Ventral ou Semipronao, 271 10 Colocao da Prancha Longa com o Doente em P (Trs ou mais Socorristas), 273 10 Colocao da Prancha Longa com o Doente em P (Dois Socorristas), 275 10 Imobilizao Sentada (Dispositivo para Retirada, do Tipo Colete), 277 10 Retirada Rpida (Trs ou mais Socorristas), 280 10 Retirada Rpida (Dois Socorristas), 283 10 Assento para Crianas, 284 10 Dispositivo para Imobilizao de Crianas, 286 10 Remoo de Capacete, 288 11 Descompresso por Agulha, 314 xxii _ 7. PHTLSPASSADO, PRESENTE E FUTURO ATLS Como acontece com frequncia na vida, uma experincia pessoal originou as mudanas no atendimento de emergn- cia que resultaram no nascimento do curso ATLS (e, no fim, no programa PHTLS). O ATLS comeou em 1978, dois anos depois da queda de um avio particular em uma rea rural do estado de Nebraska. O curso ATLS surgiu a partir daquela massa de metal retorcido, dos feridos e dos mortos. 0 piloto,um cirurgio ortopdico, a sua mulher e os quatro filhos estavam voando em seu bimotor, quando o avio caiu. A esposa morreu instantaneamente. Os filhos ficaram grave mente feridos. Eles ficaram esperando pela chegada de ajuda pelo que pareceu ser uma eternidade, mas o o socorro nunca chegou. Depois de cerca oito horas, o cirurgio andou cerca de um quilmetro por uma estrada de terra at chegar a uma rodovia, e fez sinal para um carro parar, depois de dois cami nhes terem passado direto. Foram com o carro at o local da queda do avio e puseram as crianas no carro, levando-as at hospital mais prximo, alguns quilmetros ao sul do local do acidente. Quando chegaram porta do pronlo-socorro desse hospital rural, viram que a ela eslava trancada e tiveram que bater para entrar. Pouco depois, chegaram os dois mdicos desta peque na comunidade rural. Um deles pegou uma das crianas fe ridas pelos ombros e pelos joelhos e levou-o para a sala de raio-x. Mais tarde, ele voltou e informouque no havia fratura de crnio. No se preocupou com a coluna cervical. Comeou ento a suturar a lacerao. Finalmente, o piloto telefonou para o seu scio mdico, contou-lhe o que linha acontecido e disse-lhe que precisavam ir para o Hospital Lincoln o mais rpido possvel. Os mdicos e a equipe nesse pequeno hospital tinham pou ca ou nenhuma preparao para esse tipo de situao. Havia uma falta evidente de treinamento para triagem e tratamento apropriado. As pessoas cansaram-se das crticas ao tratamento recebido na regio rural do acidente. A queixa no era sobre o atendi mento em uma instituio qualquer em particular, mas sobre a falta generalizada de um sistema de atendimento para tratar o traumatizado na fase aguda, na rea rural. Eles decidiram que queriam ensinar aos mdicos da rea ruraluma forma sis temtica de tratar os traumatizados, escolheram um formato semelhante ao ACLS e chamaram-no ATLS. Foi criado um programa, que foi organizado de uma forma lgica para abordar e tratar o traumatizado. Foi desenvolvida a metodologia de "tratar medida que vai andando". Foram desenvolvidos os ABCs do trauma para organizar a ordem de avaliao e tratamento segundo prioridades. O prottipo foi testado no campo, em Auburn, Nebraska, em 1978, com o auxlio de diversos profissionais. O curso foi apresentado Universidade de Nebraska e, posteriormente, ao Comit de Trauma do Colgio Americano de Cirurgies. Desde aquele primeiro curso em Auburn, Nebraska, trs dcadas j se passaram e o ATLS continua se disseminando e crescendo. O que foi inicialmente planejado como um curso para a rea rural do Nebraska lornou-se um curso para o mun do inteiro, em todos os tipos de cenrios de trauma, e serviu como base para o PHTLS. PHTLS Como o Dr. Richard H. Carmona, antigo General Surgeon dos Estados Unidos, declarou em sua introduo sexta edio deste livro: "Algum disse que nos apoiamos nos ombros de gigantes em muitos sucessos aparentes, e o PHTLS no di ferente. Com grande viso e paixo, do tamanho dos desafios, um pequeno grupo de lderes foi persistente e desenvolveu o PHTLS h mais de um quarto de sculo." Frequentemente chamado de "Pai dos SMEs", o Dr. Joseph D. "Deke" Farrington, FACS (1909-1982), es creveu o artigo "Morte em Uma Vala", que muitos acreditam ser o ponto de virada dos modernos SMEs nos Estados Unidos. Em 1958, ele convenceu o Departamento do Corpo de Bombeiros de Chicago a trei nar seus profissionais para tratar os doentes de emergncia. Trabalhando com o Dr. Sam Banks, Deke iniciou o Programa de Treinamento de Trauma em Chicago. Milhares de bom beiros foram treinados seguindo as diretrizes desenvolvidas nesse programa de referncia. Deke continuou a trabalhar em lodos os nveis dos SMEs, desde a cena, passando pela edu cao e pela legislao, assegurando que os SMEs crescessem at se tornarem a profisso em que trabalhamos hoje. Os prin cpios estabelecidos por seu trabalho formam parle do ncleo do PHTLS, e seus ombros esto entre aqueles sobre os quais nos apoiamos. O primeiro presidente do comit ad hoc do ATLS do Colgio Americano de Cirurgies e Presidente do Subcomit de Atendimento Pr-hospitalar ao Traumatizado do Colgio xxiii - 8. xxiv PHTLS PASSADO, PRESENTE E FUTURO Americano cie Cirurgies, Dr. Norman E. McSwain. Jr. FACS, sabia que aquilo que eles haviam iniciado com o ATLS teria um profundo efeito na evoluo dos doentes traumatizados. Alm disso, ele tinha um forte sentimento de que um efeito ainda maior poderia resultar se esse tipo de treinamento cr tico fosse levado para os socorristas. O Dr. McSwain, membro fundador do conselho diretor da NAEMT,obteve apoio do pre sidente da Associao, Gery Labeau,e comeou a planejar uma verso pr-hospitalar do ATLS. O presidente Labeau instruiu o Dr. McSwain e Robert Nelson, NREMT-P, para determinarem a viabilidade de um programa do tipo ATLS para socorristas. Na qualidade de professor de cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Tulane, em New Orleans, Louisiana, o Dr. McSwain recebeu o apoio da universidade na elaborao de um esboo do programa daquilo que viria a tornar-se o Atendimento Pr-Hospitalar ao Traumatizado (PHTLS). Criado esse esboo, foi estabelecido um comit do PHTLS em 1983. Esse comit continuou a aperfeioar o programa e, no hm do mesmo ano, foram feitos cursos-piloto em Lafayette e New Orleans, Louisiana, no Marian Health Center em Sioux City, Iowa, na Faculdade de Medicina de Yale em New Haven, Connecticut, e no Hospital Norwalk,em Norwalk, Connecticut. ./ Richard W. "Rick" Vomacka (1946-2001) foi parte da for- a-tarefa que desenvolveu o curso PHTLS com base no pro grama ATLS do Colgio Americano de Cirurgies. O PHTLS lornou-se a sua paixo medida que o curso tomava fornia, e ele viajou por todo o pas no incio dos anos 1980 fazendo cursos-piloto e seminrios com os instrutores regionais, e tra balhou com o Dr. McSwain e os outros membros originais da fora-tarefa para fazer ajustes finos no programa. Rick foi a chave para o ntimo relacionamento que se estabeleceu entre o PHTLS e as Foras Armadas dos Estados Unidos, e tam bm trabalhou nos primeiros locais de cursos internacionais do PHTLS. Ele foi uma parte importante dos primrdios do PHTLS e ser sempre lembrado com gratido por seu traba lho rduo e dedicao causa de melhorar o atendimento aos traumatizados. A disseminao em mbito nacional foi iniciada com trs seminrios intensivos em Denver, Colorado, em Bethesda, Maryland e em Orlando, Flrida, entre setembro de 1984 e fevereiro de 1985. Os graduados destes primeiros cursos for maram os chamados "Barnstormers" (Cabos Eleitorais),instru tores nacionais e regionais que viajaram pelo pas formando outros instrutores, anunciando que o PHTLS linha chegado.. Alex Butman, juntamente com Rick Vomacka, trabalhou com diligncia, frequentemente pondo dinheiro do prprio bolso, para a realizao das duas primeiras edies do pro grama PHTLS. Sem sua ajuda e trabalho, o PHTLS nunca teria comeado. Os cursos iniciais eram direcionados ao suporte avanado de vida (SAV). Em 1986, desenvolveu-se um curso que abran gia o suporte bsico de vida (SBV). O curso cresceu de forma exponencial. Comeando com esse pequeno grupo de instru tores entusiasmados, inicialmente dzias, depois centenas e atualmenle milhares de socorristas participam anualmente em cursos PHTLS no mundo inteiro. medida que o curso cresceu, o comit do PHTLSse tornou uma diviso da NAEMT. A demanda pelo curso e a necessi dade de manter a continuidade e a qualidade do mesmo obriga ram formao de uma rede de instrutores afiliados, estaduais, regionais e nacionais. Existem coordenadores nacionais para cada pas e, em cada pas, existem coordenadores regionais e estaduais juntamente com instrutores afiliados, para assegurar que o conhecimento seja disseminado e os cursos sejam consis tentes, no importando se o socorrista faz o curso em Chicago Heights, Illinois,ou em Buenos Aires, Argentina. Durante todo o processo de crescimento, foi feita supervi so mdica pelo Comit de Trauma do Colgio Americano de Cirurgies. Por quase 20 anos a parceria entre o Colgio Ame ricano de Cirurgies e a NAEMT garantiu que os participantes do curso recebessem a oportunidade de oferecer aos doentes traumatizados, em qualquer lugar do mundo, a melhor chance de sobrevida. Mais recentemente, o Dr. Scott B. Frame, FACS, FCCM (1952-2001) foi o Diretor Mdico Associado do programa PHTLS. Sua nfase principal consistiu no desenvolvimento dos recursos audiovisuais do PHTLS e sua promulgao em mbito internacional. Na ocasio de sua morte precoce, ele ti nha assumido a responsabilidade de coordenar a quinta edio do curso PHTLS. Isso inclua a reviso no apenas do texto, mas tambm do manual do instrutor e de todos os materiais auxiliares de ensino. Ele aceitara a indicao de se tornar o Diretor Mdico do curso PHTLS quando a quinta edio fosse publicada.Ele publicou captulos e artigos sobre SME e trauma nos principais livros e revistas cientficas. O programa PHTLS cresceu tremendamente sob a liderana de Scott e sua continuao no futuro deve-se ao que Scott fez e parte de sua vida que emprestou ao PHTLS e a seus doentes. sobre os ombros destes indivduos, e de muitos outros, numerosos demais para serem mencionados, que o PHTLS se apoia e continua a crescer. O PHTLS nas Foras Armadas Desde 1988, as Foras Armadas americanas comearam a treinai- sistematicamente os seus socorristas usando PHTLS. Coordenado pelo Defense Medical Readiness Training Institute (DMRTI) em Fort Sam, Houston, no Texas, o programa PHTLS ensinado em todos os Estados Unidos, Europa, sia e em qualquer localidade onde as foras armadas americanas este jam presentes. Em 2001, o programa 91WB do Exrcito padro nizou o treinamento de mais de 58.000 socorristas do Exrcito nos moldes do PHTLS. Foi acrescentado um captulo militar na quarta edio. Aps a publicao inicial da quinta edio, criou-se uma forte relao entre a organizao do PHTLS e o 9. PHTLS PASSADO, PRESENTE E FUTURO xxv recm-criado Comil de Atehdimento a Vtimas em Combate Ttico. O primeiro fruto dessa relao foi um captulo mili tar completamente revisado na quinta edio (revisado) e em 2004 foi publicada uma verso militar do livro. Essa colabo rao levou criao de diversos captulos militares para a sexta edio do livro PHTLS militar. O PHTLS foi ensinado diversas vezes "no teatro das operaes" durante as guerras do Afeganisto e do Iraque, lendo contribudo para o mais baixo ndice de mortalidade em todos os conflitos armados da hist ria dos Estados Unidos. O PHTLS Internacional Os slidos princpios do atendimento pr-hospitalar ao trau matizado enfatizados no curso PHTLS levaram socorristas e mdicos de fora dos Esalados Unidos a solicitar a importao do programa para os seus diversos pases. Os instrutores do ATLS que participam de cursos ATLS no mundo inteiro deram suporte a essa iniciativa. Essa rede proporciona a orientao mdica e a continuidade do curso. medida que o PHTLSse disseminou pelos Estados Unidos epelo mundo afora, fomos confrontados com as diferenas cul turais e climticas e tambm com a similaridade das pessoas que devotam suas vidas a cuidar dos enfermos e dos traumati zados. Todos ns, que fomos abenoados com a oportunidade de ensinar no exterior, experimentamos o companheirismo de nossos parceiros internacionais e sabemos que somos um s povo no esforo de cuidar daqueles que mais necessitam de atendimento. A famlia PHTLS continua a crescer com quase um milho de alunos treinados em 50 pases. Por ano, so dados mais de 2.600 cursos, com 34.000 alunos. As naes da crescente famlia PHTLS (at a publicao des ta edio) incluem: Argentina, Austrlia, ustria, Barbados, Blgica, Bolvia, Brasil, Canad, Chile, China e Hong Kong, Colmbia, Costa Rica, Chipre, Dinamarca, Frana, Gergia, Alemanha, Grcia, Granada, Irlanda, Israel, Itlia, Litunia, Luxemburgo,Mxico,Holanda,Nova Zelndia, Noruega,Om, Panam, Peru, Filipinas, Polnia, Portugal, Arbia Saudita, Esccia, Espanha, Sucia, Sua, Trinidad e Tobago, Emirados rabes, Reino Unido, Estados Unidos, Uruguai e Venezuela. Foram feitos cursos de demonstrao na Bulgria, Macednia e, em breve, na Crocia, na esperana de estabelecer equipes de instrutores nesses pases. Japo, Coreia, frica do Sul, Equador, Paraguai e Nigria esperam juntar-se famlia num futuro prximo. no. Esto em curso negociaes para publicao do texto em outros idiomas. Com essa finalidade, existem legendas em di versas lnguas no DVD que acompanha este livro. A Viso para o Futuro A viso para o futuro do PHTLS a famlia. O pai do PHTLS, Dr. McSwain, continua sendo a base da crescente famlia que proporciona treinamento vital e contribui com conhecimento e experincia para o mundo. O primeiro simpsio de Trauma do PHTLS internacional ocorreu prximo a Chicago, Illinois, em 2000. Em 2010, realizou-se o primeiro encontro europeu do PHTLS. Esses programas unem o trabalho dos socorristas e pesquisadores em lodo o mundo para determinar o padro de atendimento ao traumatizado para o novo milnio. O apoio da famlia PHTLS em lodo o mundo, todos doando voluntariamente incontveis horas de suas vidas, permite que a liderana do PHTLS mantenha o crescimento do programa. Essa liderana consiste em: Tradues Nossa crescente famlia internacional tem criado tradues do texto. Atualmente o livro est disponvel em ingls, espanhol, grego, portugus, francs, holands, georgiano, chins e italia- Conselho Executivo do PHTLS Presidentes do PHTLS Internacional Will Chapleau, EMT-P, RN, TNS 1996- presente Elizabeth M. Wertz, RN, BSN, MPM 1992-1996 James L. Paturas ,s 1991-1992 John Sinclair, EMT-P . 1990-1991 David Wuertz, EMT-P 1988-1990 James L. Paturas 1985-1988 Richard Vomacka, REMT-P *1983-1985 Diretor Mdico do PHTLS Internacional Norman E. McSwain, Jr., Dr., FACS, NREMT-P 1983-presente Diretores Mdicos Associados do PHTLS Jeffrey S. Guy, Dr., FACS, EMT-P 2001-presente Peter T. Pons, Dr., FACEP 2000-presente Jeffrey Salomone, Dr., FACS, NREMT-P 1996-20*10 Scott B. Frame, MC, FACS, FCCM "1994-2001 Membros do Comil Executivo Augie Bamonli, EMT-P Gregory Chapman, EMT-P, RRT, Assoc. Chair, PHTLS Frank K. Butler, Dr Michael J. Hunter, EMT-P Craig Jacobus, EMT-P, DC Steve Mercer, EMT-P, MEd Dennis Rowe, EMT-P 10. xxvi PHTLS PASSADO, PRESENTE E FUTURO Enquanto continuamos desenvolvendo o potencial do curso PHTLS e da comunidade de socorristas em todo o mundo, devemos lembrar-nos de nosso compromisso com: s Avaliao rpida e precisa e Identificao de choque e da hipoxia S3 Incio das intervenes corretas no momento adequado s Transporte oportuno da vtima para o local adequado Cabe tambm lembrar a declarao de nossa misso, re digida durante uma longa sesso na conferncia da NAEMT realizada em '1997. O PTHLS continua a ler a misso de pro porcionar o mais alto padro de qualidade educacional em atendimento pr-hospitalar ao traumatizado a todos os que desejarem usufruir dessa oportunidade. A misso do PHTLS tambm reala a misso da NAEMT. O programa PHTLS est comprometido com melhora de qualidade e desempenho. Para tal, o PHTLS est sempre atento aos avanos da tecno logia e dos mtodos para prestar atendimento pr-hospitalar, que possam ser utilizados para melhorar qualidade clnica e o servio deste programa. NationalAssociation of Emergency Medical Technicians - NAEMT A NAEMT representa os interesses dos socorristas no mundo inteiro. A NAEMT foi fundada com a ajuda do National Registry of EMTs (NREMT), em 1975. Desde a sua fundao, a associao tem trabalhado para promover o status profissional dos socor ristas, desde o primeiro socorrista at o administrador. Os seus programas educacionais comearam como um modo de ofere cer educao continuada consistente aos socorristas de todos os nveis, e lornaram-se o padro de educao pr-hospitalar continuada em todo o mundo. A NAEMT mantm uma relao de reciprocidade com de zenas de organizaes americanas e internacionais, agncias federais e particulares, que influenciam cada aspecto do aten dimento pr-hospitalar. A participao da NAEMT assegura que a voz do atendimento pr-hospitalar seja ouvida na deter minao do futuro da nossa profisso. A MISSO DA NAEMT A misso da National Association of Emergency Medical Technicians, Inc. (NAEMT) ser uma organizao de representao profissional para receber e representar os pontos de vista e opi nies dos socorristas e influenciar o futuro dos SMEs, como profisso aliada sade. A NAEMT proporciona a seu quadro de participantes programas educacionais, atividades de ligao, de senvolvimento de padres nacionais e reciprocidade, alm do desenvolvimento de programas para beneficiar os profissionais da rea. * Com essa misso claramente definida e desempenhada com paixo, a NAEMT continuar 'a oferecer liderana nessa especialidade de atendimento pr-hospitalar, que est em constante evoluo na direo do futuro. 11. DIVISO UM Introduo CAPTULO 1 PHTLS: Passado, Presente e Futuro OBIETIVOS DO CAPITULO Ao final deste captulo, o leitor estar apto a Reconhecer a magnitude do problema causado pelas leses traumticas, em termos humanos e financeiros. Entender a histria e a evoluo do atendimento pr-hospitalar ao trauma. / Identificar e reconhecer os componentes e a importncia da pesquisa pr-hospitalar e sua literatura. 12. 2 ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO Introduo Nossos doentes no nos escolhem. Ns os escolhemos. Pode ramos ler escolhido outra profisso, mas no o fizemos. Aceita mos a responsabilidade de cuidar de doentes e, algumas vezes, nas piores condies: quando estamos cansados ou com frio; quando est chuvoso e escuro; quando no podemos prever que condies iremos encontrar. Devemos aceitar essa respon sabilidade ou desistir dela. Devemos oferecer a nossos doen tes o que h de melhor em ns - no sonhando acordados, no com equipamento sem prvia conferncia, no com suprimentos incompletos e no com um conhecimento ultrapassado. Sem ler e aprender todos os dias, no poderemos saber qual o conheci mento mdico mais atualizado, nem estar prontos para tratar de nossos doentes. O curso de Atendimento Pr-hospitalar ao Trau matizado (PHTLS) contribui para enriquecer o conhecimento do socorrista e, ainda mais importante, beneficia o indivduo que precisa de ns - o doente. Ao fim de cada jornada de trabalho, devemos sentir que nosso doente recebeu o melhor que temos a oferecer. Filosofia do PHTLS O PITTLS traz conhecimentos que incluem a compreenso de anatomia e fisiologia, habilidades relacionadas ao atendimento do doente e s limitaes de tempo e perda de sangue, alm da necessidade de encaminhar o doente ao centro cirrgico o mais rpido possvel. Essa filosofia permite, e tambm requer, que o socorrista raciocine de forma crtica, tomando decises e agindo de modo a aumentai' a sobrevida do doente que sofreu um trauma. O PHTLS no treina os socorristas para usar protoco los durante o atendimento do doente. Protocolos so abordagens robticas,que no permitem a considerao propicia alternativas mais adequadas. Em vez disso, o PHTLS propicia a compreenso do atendimento mdico e o raciocnio crtico paraa obteno des ses objetivos. Cada contato enfie o socorrista e o doente envolve um conjunto nico de circunstncias. Se o socorrista entender as bases do atendimento mdico e as necessidades de cada doente, decises nicas podem ser tomadas, que deem a este indivduo a maior chance de sobrevida. No sistema educacional PHTLS, acredita-se que os profis sionais no so socorristas que executam instrues vindas "de cima", mas possuem uma boa base de conhecimentos, so pen sadores crticos e conhecem as tcnicas adequadas para atender, com excelncia, seus doentes. O PHTLS no "diz" ao socorrista o que fazer, mas d a ele o conhecimento e as habilidades ade quadas para o uso do raciocnio crtico, de modo a o melhor atendimento ao(s) doente(s) com trauma. A oportunidade de um socorrista ajudar outra pessoa maior no atendimento de vtima de trauma do que no de qual quer outro doente. O nmero de doentes vtimas de trauma maior que grande parte de outros tipos de doentes, e a chance de sobrevivncia de um doente traumatizado, que recebe um tratamento hospitalar adequado, provavelmente maior do que a de qualquer outro tipo de doente em estado grave. O socor rista pode aumentar a quantidade de anos vividos de doentes traumatizados e beneficiar a sociedade por meio do atendimento prestado. Dessa forma, o socorrista, por meio de um atendi mento adequado da vtima, tem uma influncia importante na sociedade. Entender, aprender e praticar os princpios do PHTLS pro porciona ao doente mais benefcios que qualquer outro pro grama educacional.1 Os fatos que se seguem levaram reviso e expanso do Captulo 2, que trata de preveno de trauma. 0 Problema Trauma a causa de morte mais comum entre 1ano de vida a 44 anos de idade." Aproximadamente 80% das mortes em adolescentes e 60% na infncia so decorrentes de trauma; nos idosos, aparece como a stima causa de bito. Quase trs vezes mais americanos morrem anualmente vtimas de trauma do que aqueles que morreram em combate em toda a guerra do Vietn e do Iraque at 2008. 1 A cada 10 anos, mais americanos mor rem de trauma do que em todos os conflitos militares somados na histria dos Estados Unidos. Apenas na quinta dcada de vida, as causas de morte por neoplasias e doenas cardiovas culares competem com o trauma. A cada ano. morrem aproxi madamente 70 vezes mais doentes em decorrncia de trauma fechado ou penetrante nos Estados Unidos do que o nmero de fatalidades anuais na guerra do Iraque at 2008. Cuidados pr-hospitalares podem melhorar pouco a sobre vida de doentes oncolgicos. No entanto, em vtimas de trauma, os cuidados pr-hospitalares podem fazer a diferena entre a vida e a morte; entre uma sequela temporria, grave ou perma nente; ou entre uma vida produtiva e uma destituda de bem-es- tar. Nos Estados Unidos ocorrem, eifi mdia, 60 milhes de trau mas a cada ano; destes, 40 milhes'necessitam de atendimente de emergncia; 2,5 milhes destes doentes so hospitalizados e 9 milhes apresentam sequelas. Cerca de 8,7 milhes de vti mas estaro com sequelas temporrias e 300 mil, com sequelas permanentes.4,5 O custo no tratamento de doentes com trauma assombroso. Bilhes de dlares so gastos no tratamento de doentes vtimas de trauma, no incluindo perdas com honorrios, seguros, cus tos administrativos, dano propriedade e custos empregatcios. O National Safety Council dos Estados Unidos estima que, nc ano de 2007, o impacto econmico gerado por traumas fatais c no fatais tenha sido de aproximadamente 684 bilhes de dla res. (> A perda de produtividade de doentes com sequelas poi trauma equivalente a 5,1 milhes de anos e a um custo de 65 bilhes de dlares anualmente. Para os doentes que morrem 5,3 milhes de anos so perdidos (34 anos perdidos por pes soa) e a um custo que ultrapassa 50 bilhes de dlares. Compa rativamente, o custo (em dlares e em anos de vida perdidos! para cncer e doenas cardiovasculares muito inferior, come ilustrado na Figura 1-1. Como exemplo: a proteo adequada coluna cervical fraturada pode fazer a diferena entre uma qua- driplegia vitalcia e uma vida produtiva e sem restries em sue alividade fsica. Socorristas encontram vrios outros exemplo quase diariamente. 13. CAPTULO 1 PHTLS: Passado, Presente e Futuro 3 400 300- 200- o s .30-1 Trauma Cncer Doena cardiovascular Trauma Cncer Doena cardiovascular FIGURA 1-1 A: Custos comparativos anuais, em milhares de dlares, para vtimas de trauma, cncer e doena cardiovascular nos Estados Unidos. B: Nmero comparativo de anos perdidos como resultado de trauma, cncer e doena cardiovascular. Os dados a seguir so do projeto Global Burden of Disease da OMS, 2004: Leses provocadas por acidentes de trnsito constituem um enorme problema de sade pblica e desenvolvimento - Ocorrncias de trnsito matam 1,3 milho de pessoas todos os anos, com uma mdia de 3.242 indivduos ao dia. Por ano, esses incidentes provocam leses temporrias ou per manentes em 20 a 50 milhes de pessoas. As ocorrncias de trnsito so a nona principal causa de morte, sendo res ponsveis por 2,2% das fatalidades "em lodo o mundo. A maioria das leses provocadas por acidentes de trnsito afeta indivduos de pases de renda baixa ou mediana, principalmente jovens do sexo masculino e usurios vul nerveis - Noventa por cento das mortes em incidentes de trnsito ocorrem em pases de renda baixa ou mediana" (Fig. 1-2). O impacto das leses passveis de preveno mundial. Embora os eventos que provocam tais leses e mortes possam apresentar diferentes etiologias em cada pas, as consequncias so as mesmas. O trauma um problema mundial.Ns, que traba lhamos com traumas, temos a obrigao para com nossos doentes de prevenir as leses, no apenas trat-las aps sua ocorrncia. Uma histriabastante contada sobre a medicina de emergn cia ilustra este ponto. Em uma estrada montanhosa, havia uma curva em que os carros derrapavam e caam no precipcio, 30 metros abaixo. A comunidade decidiu colocar uma ambulncia na parte baixa da rea perigosa, para atender os doentes que se acidentavam. A melhor alternativa teria sido colocar cercas de segurana na curva, para PREVENIR a ocorrncia de incidentes. O atendimento ao trauma dividido em trs etapas: pr- evento, evento e ps-evento. O socorrista tem responsabilidade nas trs etapas. Fase Pr-evento Trauma no acidente, embora frequentemente seja assim cha mado. Um acidente definido como "um evento ocorrido por acaso ou oriundo de causas desconhecidas" ou "um aconteci mento desastroso por falta de cuidado, ateno ou ignorncia". A maior parte das mortes e leses por trauma se enquadra nessa segunda definio, mas no na primeira, e pode ser prevenida. Incidentes traumticos se enquadram em duas categorias - intencionais e no intencionais. A fase pr-evento envolve as circunstncia que provocam inna leso traumtica. Os esforos nessa fase. concentram-se, essencialmente, na preveno do trauma. Ao trabalhar na preven o do trauma, o socorrista deve educar o pblico incentivando o uso de cinto de segurana nos veculos, promover meios de dimi nuir o uso de armas em atividades criminais e estimular resolu es pacficas para conflitos. Alm dos cuidados com a remoo da vtima traumatizada, toda a equipe tem a responsabilidade de diminuir o nmero de vtimas. Atualmente, a violncia e o trauma no intencional levam a um nmero maior de bitos do que todas as doenas juntas. A violncia responsvel por um tero des- Africa Amricas Sudeste Europa Mediterrneo Pacfico asitico oriental ocidental Pases com renda baixa Pases com renda alta FIGURA 1-2 Distribuio mundial de mortes por acidentes de trnsito a cada populao de 100.000 indivduos. 14. ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO Desconhecido 1% Outras Suicdio Homicdio 70% Trauma no intencional Queimaduras Quedas Afogamentos FIGURA 1-3 O trauma no intencional responsvel por mais mortes do que quaisquer outras causas de morte por trauma combinadas. (Dados do National Center for Injury Prevention and Control: Wisqars leadindcauses of death reports, 1999-2006.Centers for Disease Control and Prevention.) ses bitos (Fig. 1-3). Veculos motorizados e armas de logo esto envolvidos em mais da metade de lodos os bitos por trauma, dos quais a maioria passvel de preveno (Fig. 1-4). A legislao que torna obrigatrio o uso de capacetes para motociclistas um exemplo de ao que previne mortes por trauma. Em 1966, o Congresso americano concedeu ao Departa mento de Transportes a autoridade para que os estados legislas sem sobre o uso obrigatrio de capacetes. Com o uso do capacete em quase 100%,o ndice dos casos de bitos por acidentes com motocicletas diminuiu drasticamente. Em 1975, o Congresso rescindiu essa autoridade. Mais da metade dos estados america nos revogou ou modificouas leis existentes. ConCome os estados reinstituam ou no essas leis, as taxas de mortalidade foram alteradas. Recentemente, mais estados repeliram, em vez de ins tituir, tais leis, resultando em um aumento nas laxas de morta lidade cm 2006 e 2007. 9 As mortes decorrentes de colises com motocicletas esto aumentando, ao passo que as decorrentes de colises com automveis diminuem. A elevao do nmero de mortes por incidentes envolvendo motocicletas foi de 11% em 2006. 10 A causa mais provvel para esse dramtico aumento de mortalidade a reduo do uso de capacetes por motociclistas. Apenas 20 estados norte-americanos possuem leis universais regulamentando o uso de capacetes. Nos estados em que obri gatrio, o capacete utilizado por 74% dos motociclistas; em estados que no possuem lais leis, a taxa de uso de 42%.U O menor nmero de estados norte-americanos que possuem tal legislao o principal fator responsvel pela queda no uso geral de capacetes, de 71% em 2000 para 51% em 2006. Como exemplo, em um estado norte-americano, a Flrida, a alterao da lei, em 2002, elevou a taxa de mortalidade 24% a mais do que o aumento esperado dado o nmero de licenciamentos. Em agosto de 2008, a Secretria norte-americana de Transpor tes, Mary Peters, relatou uma diminuio do nmero de mor tes em rodovias provocadas por automveis, ao mesmo tempo que houve um aumento das fatalidades em colises envolvendo Veculos motorizados Armas de fogo Envenenamento FIGURA 1-4 Traumas por veculos motorizados e armas de fogo so responsveis por quase metade das mortes causadas por leso traumtica. (Dados do NationalCenter for Injury Preventionand Control: Wisqars leadind causes of death reports, 1999-2006.Centers for Disease Controland Prevention.) motocicletas. Houve uma grande melhora em todos os aspectos da segurana veicular, exceo das motocicletas.1" Outro exemplo de bito por trauma que pode ser prevenido relaciona-se com o motorista alcoolizado.1,1Como consequncia da presso para mudana nas leis estaduais sobre o nvel de embriaguez ao dirigir, e por meio de atividades educacionais de organizaes, como MADD (Mothers Against Drunk Drivers -Mes contra Condutores Embriagados), o nmero de motoris tas alcoolizados envolvidos em colises fatais tem diminudo I constantemente desde 1989. Outra forma de prevenir trauma pelo uso de assentos de I segurana para crianas. Muitos centros de trauma, a polcia e I os servios mdicos de emergncia (SME) desenvolvem progra- 1 mas para instruir os pais sobre a instalao e o uso correto de I assentos de segurana para crianas. Outro componente da fase pr-evento o preparo, pelos I profissionais responsveis pelos atendimentos de vtimas de I trauma, para eventos que no podem ser prevenidos. O pre- 1 paro inclui instruo adequada e completa, com informaes I atualizadas acerca do tratamento mdico aluai. To importante I quanto atualizar seu conhecimento das prticas mdicas a I atualizao de seu computador domstico ou palm top com a I mais nova verso de software disponvel. Alm disso, neces srio revisar o equipamento da unidade de resposta no incio de cada turno, e rever, com seu parceiro, quais as responsabili dades individuais e quais as expectativas sobre quem realizar determinada funo. To importante quanto revisar a conduta de atendimento ao chegar ao focal do trauma decidir quem ir dirigir e quem ficar na parle de trs com o doente. Fase do Evento Esta se o momento do trauma real. As aes realizadas na I fase de pr-evento podem influenciar o resultado final da fase I do evento. Isso se aplica no apenas aos nossos doentes, mas I tambm a ns mesmos. Ao dirigir um veculo particular ou | veculo de emergncia, os socorristas devem estar protegidos e I 15. CAPTULO 1 PHTLS: Passado, Presente e Futuro 5 dar o exemplo. Sempre devem dirigir com cuidado, obedecer s leis de trnsito, no se distrair em atividades como usai' o tele fone celular para conversar ou enviar mensagens de texto e usar todos os equipamentos de segurana disponveis, como cinto de segurana na cabine do motorista e na cabine do passageiro ou de atendimento ao doente. Fase Ps-evento Obviamente, o pior desfecho possvel aps um evento traum tico a morte do doente. O Dr. Donald Trunkey descreveu uma categorizao trimodal para bitos em trauma.1'1A primeirofase de bitos ocorre desde poucos minutos at uma hora aps o evento. Essas mortes ocorreriam mesmo com o pronto atendi mento mdico. A melhor forma de combater esses bitos com a preveno do trauma e estratgias de segurana. A segunda fase de mortes ocorre nas primeiras horas aps o incidente. Esses bitos podem ser prevenidos com um bom atendimento pr-hospitalar e hospitalar. A terceira fase ocorre desde alguns dias at vrias semanas aps o trauma. Esses bitos geralmente ocorrem por falncia de mltiplos rgos. Muito ainda precisa ser aprendido no atendimento e na preveno da falncia de mltiplos rgos; no entanto, uma abordagem precoce e agres siva do choque na fase pr-hospitalar pode prevenir alguns des ses bitos (Fig. '1-5). O Dr. R. Adams Cowley - fundador do MIEMS (ylaryland Institute of Emergency Medical Services), um dos primeiros centros de trauma dos Estados Unidos - descreveu e definiu o que chamou de "Hora de Ouro".10 Com base em suas pesqui sas, Cowley concluiu que os doentes que receberam tratamento definitivo e precoce dos traumas tiveram um ndice de sobre vivncia muito maior do que aqueles que passaram por atraso no atendimento. Um dos motivos para o aumento da sobrevida a preservao da capacidade clo corpo em produzir energia e manter as funes dos rgos. Para a equipe de socorristas, isso se traduz em manter oxigenao e perfuso e providenciai' uma remoo para um centro especializado, preparado para conti nuar o processo de reanimao, usando sangue e plasma (Rea nimao com Controle de Danos) e sem elevar, artificialmente, a presso arterial (