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Pletismografia

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Pletismografia – resistência das vias aéreas

1. CONCEITOS E DETERMINANTES FISIOLÓGICOS

DO FLUXO AÉREO

Existem três principais medidas de resistência do siste-ma respiratório; 1) resistência pulmonar; 2) resistênciadas vias aéreas (Rva) e 3) resistência respiratória total (RTotal).

Resistência pulmonar refere-se à resistência coletiva dostecidos pulmonares e vias aéreas e é usualmente determi-nada com um balão esofagiano. Rva refere-se à resistên-cia ao fluxo nas vias aéreas entre a boca e os alvéolos.Resistência total, como determinado com as técnicas deoscilação forçada e do interruptor, é a soma da Rva, pa-rede torácica e tecido pulmonar.

A resistência das vias aéreas foi medida por pletismo-grafia pela primeira vez em 1956 por Dubois(2).

A resistência é modelada pela lei de Poiseuille, que re-laciona a queda de pressão friccional associada com ofluxo aéreo à área de secção transversal da via aérea,para a viscosidade específica do gás:

P = µ L V / π r4

P = pressãoµ = viscosidadeL = comprimento do tuboV = fluxor = raio do tubo

Embora este seja um modelo conceitual conveniente,ele se aplica apenas às condições de fluxo laminar e es-truturas rígidas. O fluxo nas grandes vias aéreas é turbu-lento e a natureza elástica das vias aéreas leva a compres-são dinâmica, mesmo na ausência de doença.

De um ponto de vista prático, a medida da resistência éfeita com base na aplicação da lei de Ohm, na qual Re-sistência = Pressão/Fluxo; conhecendo-se a pressãopropulsora e o fluxo, a resistência é calculada. Resistên-cia de vias aéreas (Rva) pode ser então definida como adiferença de pressão entre o alvéolo e a boca divididapela taxa de fluxo ou como a pressão necessária paraproduzir um fluxo de 1L/s para dentro e para fora dospulmões. A condutância das vias aéreas (Gva), o inversoda resistência, é o fluxo gerado por unidade de pressãoatravés das vias aéreas, sendo fornecida juntamente coma Rva.

Quando a resistência das vias aéreas é medida por ple-tismografia, a pressão alveolar é estimada após oclusãode um obturador, situado ao nível da boca.

Pletismografia – resistência das vias aéreasCARLOS ALBERTO DE CASTRO PEREIRA, MARIA ÂNGELA F. MOREIRA

Existem duas presunções fundamentais nesta aborda-gem(3). A primeira é que a pressão medida imediatamenteapós a oclusão da via aérea reflete a mesma força propul-sora que causou o fluxo antes da oclusão. Esta presunçãoé geralmente verdadeira em um intervalo curto, se o pa-ciente foi bem estimulado e continua a gerar o mesmoesforço respiratório. Pode-se avaliar a validade desta pre-sunção observando-se o sinal de pressão-volume resul-tante.

A segunda presunção é baseada no princípio de Pas-cal, que afirma que à medida que não existe fluxo, qual-quer pressão imposta em um ponto de um tubo preenchi-do com fluido ou gás irá ser distribuída igualmente atravésdo tubo. O princípio de Pascal foi desenvolvido para tu-bos rígidos; devido a que as vias aéreas não são comple-tamente rígidas, presunções de que a pressão de bocaiguala a pressão alveolar pode ser inválida, particularmentese o esforço do paciente muda em resposta à oclusão.Com vias aéreas de complacência variada, é possível quea expansão maior de uma região particular de via aéreapoderia permitir um desvio de ar para esta região, assimviolando a presunção de que o fluxo aéreo cessou. Esteconceito tem sido proposto como uma possível explica-ção para a hiperestimativa dos volumes pulmonares porpletismografia em asmáticos e as medidas hiperestima-das de pressão alveolar durante as medidas de resistênciade vias aéreas. Instruções apropriadas e a redução da fre-

Lista de abreviaturasP – PressãoV – FluxoRva – Resistência das vias aéreas. A resistência das vias aéreas

(Rva) é referida em cmH2O/L/s.Gva – Condutância das vias aéreas. A condutância das vias aéreas

é referida em L/s/cmH2O e é recíproca da resistência (1/Rva).Rva x Vp – Resistência das vias aéreas específica, corrigida para o

volume pulmonar.Gva/Vp – Condutância das vias aéreas, corrigida para o volume

pulmonar. A condutância específica das vias aéreas é referida emL/s/cmH2O/L e é recíproca da resistência (1/Rva) dividida pelovolume pulmonar na qual a medida da resistência foi feita.

VGT – Volume de gás torácico. VGT é expresso em litros (BTPS) eé o volume de gás no pulmão quando o obturador bucal estáfechado. Em estudos pletismográficos, é comumente usado pararepresentar a capacidade residual funcional (CRF).

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qüência respiratória para 60-90 respirações por minutoeliminam esta preocupação.

Durante a respiração, ocorre uma diferença (∆P) de pres-são entre o alvéolo e a via aérea aberta (boca), o que geraum fluxo. Se não há fluxo, a pressão fica igual a zero enão há resistência. A resistência das vias aéreas está dire-tamente relacionada com a pressão e inversamente rela-cionada com o fluxo aéreo: Rva = ∆P (Patm-Palv)/V.

O aumento da pressão de condução e alterações dapressão transmural das vias aéreas requeridos para au-mentar o fluxo também leva a alterações na geometriadas vias aéreas intratorácicas, distendendo as vias aéreasna inspiração e acentuando o estreitamento dinâmico naexpiração. Assim, a resistência expiratória tende a sermais alta que a resistência inspiratória.

Há vários fatores que interferem na resistência das viasaéreas: o tamanho das vias aéreas (calibre interno menorocasiona maior resistência), o número de vias aéreas (aredução da área transversal gera maior resistência) e aretração elástica pulmonar (se aumentada reduz a resis-tência).

Durante a respiração normal há queda de pressão aolongo da árvore brônquica, sendo os bronquíolos a áreade menor resistência, devido ao seu grande número egrande área de secção transversal.

Outras variáveis podem influenciar a resistência, comoos volumes pulmonares. A relação entre a Rva e o volu-me pulmonar é hiperbólica: em grandes volumes pulmo-nares, o diâmetro das vias aéreas aumenta e a resistênciacai; em baixos volumes pulmonares, sucede o contrário(Figura 1). Conseqüentemente torna-se necessário sabero volume pulmonar absoluto no qual a resistência estásendo medida.

As manobras para medida da Rva por pletismografianão necessitam de inspiração profunda, a qual pode alte-rar o tono muscular em normais e asmáticos(4). Em indiví-duos normais, a inspiração profunda causa dilatação dasvias aéreas, enquanto que em asmáticos pode haver bron-coconstrição.

A resistência específica das vias aéreas (Rva/Vp) é ob-tida multiplicando-se a Rva pelo volume no qual foi medi-da: Rvs x Vp = Rva x VGT.

A recíproca da resistência chama-se condutância dasvias aéreas (Gva), que é a maior ou menor facilidade comque a via aérea se deixa permear (Rigatto). A relação en-tre condutância e volume pulmonar é linear. Em baixosvolumes pulmonares a condutância é baixa e em altosvolumes pulmonares a condutância é alta. A relação en-tre Gva e volume pulmonar é denominada de condutân-cia específica das vias aéreas (Gva/Vp).Gva = 1/Rva; Gva/Vp = Gva/VGT.

Fluxo aéreo resulta quando a pressão propulsora ven-ce a resistência e a inertância. Rva pode ser caracterizadacomo a propriedade dinâmica da resistência friccional aofluxo de gás através das vias aéreas uma vez que o fluxode gás começou.

Os determinantes do fluxo aéreo são as interações en-tre a retração elástica, resistência das vias aéreas e o es-forço do paciente, que varia dependendo do grau de es-forço (expiração forçada ou respiração quieta).

Durante a inspiração, a contração do diafragma e ou-tros músculos inspiratórios expande a caixa torácica, oque cria um gradiente de pressão entre os alvéolos e aboca. Quando este gradiente é suficiente para vencer aresistência, o fluxo inspiratório ocorre. Expiração duran-te a respiração quieta é basicamente um processo passi-vo. À medida que os músculos inspiratórios relaxam, aretração elástica reverte o gradiente de pressão de modosemelhante a um balão inflado, uma vez que a oclusão éliberada. Em ambas as fases, a magnitude do fluxo aéreoé determinada pelo gradiente de pressão e Rva. A retra-ção elástica, complacência e o suporte estrutural da viaaérea normalmente atuam para maximizar o tamanho davia aérea, expandindo-a durante a inspiração à medidaque o volume pulmonar aumenta e resistindo à compres-são durante a expiração. Mudanças na Rva refletem alte-rações na área de secção transversal das vias aéreas.

O parênquima e as vias aéreas são, portanto, interde-pendentes. O parênquima depende das vias aéreas parafornecer o volume de gás para expansão; as vias aéreasdependem do parênquima para fornecer as forças estabi-lizadoras que mantêm a permeabilidade das vias aéreas ea distensão para expandir o tamanho da via aérea.

Partindo-se da capacidade pulmonar total, a expiraçãoforçada irá resultar em fluxos máximos no início da expi-

Figura 1 – Variação da resistência e da condutância das vias aéreascom o volume pulmonar

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ração. Isto ocorre porque em altos volumes as vias aéreasestão dilatadas (e com mínima resistência), a retração elás-tica do parênquima é máxima, bem como o esforço dopaciente, pela vantagem dos músculos expiratórios. Osfluxos progressivamente são reduzidos à medida que ovolume pulmonar decai. À medida que o volume residualé atingido, a forma da curva passa a sofrer maior influên-cia da condutância das vias aéreas.

Em algum ponto, geralmente em torno da CapacidadeResidual Funcional (CRF), o efeito da resistência das viasaéreas se torna o fator dominante no fluxo aéreo. Comulteriores reduções no volume pulmonar, a estabilidadedas vias aéreas se torna o fator predominante à medidaque forças compressivas aumentam no ponto de fecha-mento da via aérea.

Esta inter-relação também esclarece a concepção equi-vocada de que a espirometria provê a mesma informaçãoque a Rva. As medidas derivadas da manobra expiratóriaforçada dependem da pressão propulsora (pressão elásti-ca), do esforço do paciente bem como da Rva.

Em pacientes com distúrbios restritivos e obstrutivos, oPFE e o VEF1 em valores absolutos e percentuais podemestar reduzidos. Quando a complacência é reduzida, aincapacidade de expandir o pulmão normalmente irá re-sultar em queda do PFE e do VEF1, porque a área de sec-ção transversal das vias aéreas não aumentou, embora aRva medida durante a respiração quieta seja normal. Odiagnóstico de obstrução usualmente é feito relacionan-do-se a queda do VEF1 ou dos fluxos com a CapacidadeVital. Entretanto se esta é reduzida (ex. asmático obeso),a relação VEF1/CVF poderá ser normal. Nesta situação oaumento da Rva ou a redução da condutância específicaindicam a presença de obstrução.

Durante a respiração não forçada em volumes pulmo-nares ao redor da CRF, a importância da retração elástica,complacência e esforço do paciente como determinantesdo fluxo são diminuídos e o efeito da Rva se torna domi-nante. Existem essencialmente três causas de Rva aumen-tada durante a respiração normal: 1) oclusão das vias aé-reas; 2) constrição do músculo liso; ou 3) colapso das viasaéreas. Estas condições também afetam o fluxo aéreomáximo à medida que a expansão pulmonar não podeaumentar o calibre das vias aéreas. O colapso das viasaéreas é sugerido pela preservação da resistência e fluxosinspiratórios, com redução dos fluxos expiratórios asso-ciada à resistência expiratória elevada.

2. MEDIDAS

A pletismografia de corpo inteiro determina o volumede gás torácico bem como a resistência das vias aéreas.Os pletismógrafos podem ser de pressão variável e volu-me constante, volume variável e pressão constante e de

fluxo variável com volume e pressão constantes. Os pri-meiros são os mais comuns.

A medida do volume pulmonar se baseia na lei de Boy-le, que reza que o volume de um gás em temperaturaconstante varia inversamente com a pressão aplicada (vervolumes pulmonares).

O pletismógrafo de corpo inteiro é um aparelho com-posto de um sistema computadorizado acoplado a umacabine, que deve ser hermeticamente fechada e que pos-sui sensores que captam variações de pressão internascom grande sensibilidade, as quais variam com mudançasno volume do tórax. Estas variações de pressão refletemportanto variações de volume pulmonar(2). Na cabine hátambém um pneumotacógrafo com uma válvula solenói-de que permite o registro contínuo e instantâneo do fluxoaéreo. A válvula, comandada do exterior, permite blo-quear o fluxo aéreo.

A calibração deve ser efetuada diariamente, em duasetapas: calibração do fluxo e do integrador com injeçõesde volume e dos transdutores de pressão com a geraçãode pressões conhecidas.

A Rva é medida mais freqüentemente enquanto o pa-ciente está encerrado em um pletismógrafo de volumeconstante, construído para medir variações de pressão efluxo. Duas manobras são requeridas: 1) arquejo com oobturador aberto; 2) arquejo com o obturador fechado. Aseguinte explicação presume um pletismógrafo do tipo

Figura 2 – Medida da resistência das vias aéreas por pletismografia

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volume-constante, embora outros tipos possam ser usa-dos.

Durante a manobra de arquejo com o obturador aber-to, a pressão na cabine (Pplet) e o fluxo são medidos emostrados, de modo que a inclinação da relação (isto é,∆P/∆Pplet) possa ser determinada (Figura 3). Note quedurante a expiração, a Pplet diminui porque o gás nosalvéolos é comprimido pela pressão necessária para ge-rar o fluxo.

Durante as medidas de resistência, o paciente está sen-tado com os lábios firmemente fechados em torno dodispositivo sensor de fluxo, usando um grampo nasal, esustentando as bochechas com as mãos espalmadas. Opaciente é instruído a gentilmente arquejar (movendo de50 a 100ml por respiração). A freqüência deve situar-seentre 90-150 respirações por minuto (60 a 90 em casosde obstrução moderada/acentuada ao fluxo aéreo). Du-rante esta fase, ∆V/∆Pplet é mostrada no monitor. Quan-do um número de arquejos tecnicamente aceitáveis é ob-tido (tipicamente 3), um obturador bucal é fechado e ∆Pbc/∆Pplet é medida, permitindo a medida do volume pulmo-nar no qual a Rva foi obtida.

Assim, durante as medidas de resistência feitas em umpletismógrafo, o paciente deve selecionar o volume pul-monar no qual sente-se confortável para realizar a mano-bra (e não deve ser forçado a arquejar na CRF) desde quevalores derivados serão ajustados para o volume. Quan-do o paciente sente-se confortável durante o teste, os re-sultados são mais consistentes e aceitáveis e serão obti-dos em menor tempo. Quando indivíduos com limitaçãoao fluxo aéreo com ou sem hiperinsuflação são instruídospara arquejar, eles invariavelmente realizam as medidasde resistência em volumes acima da CRF. O valor da Rvaem volume pulmonar maior será menor que o valor naCRF, mas o ajuste para o volume irá mostrar que há limi-tação ao fluxo aéreo (resistência específica elevada oucondutância específica reduzida).

A resistência é expressa como a média de ambas, aresistência inspiratória e expiratória. Contudo, estas po-dem ser expressas separadamente. À semelhança dascurvas espirométricas forçadas ex e inspiratórias, as me-didas separadas da Rinsp e Rexp podem indicar doençasespecíficas de vias aéreas. As medidas de resistência iso-ladamente são limitadas desde que o volume pulmonarexerce um papel importante em sua determinação. As-sim, valores ajustados para o volume devem ser incluídosquando se avalia a presença ou o grau de disfunção pul-monar. Rva é comumente elevada na asma, bronquitecrônica, estenose de cordas vocais, tumores de vias aé-reas e em indivíduos com pequeno tamanho pulmonar(indivíduos baixos).

Obstrução na espirometria associada a Rva normal apon-ta para obstrução de vias aéreas periféricas ou enfisema.

No enfisema a resistência expiratória é maior do que ainspiratória, que é normal. A Gva/Vp reduzida indica obs-trução ao fluxo aéreo e é normal na presença de tama-nho pulmonar pequeno.

3. REALIZAÇÃO DO TESTE(5)

A técnica descrita a seguir refere-se a teste realizadoem pletismografia de corpo de volume constante e pres-são variável, o tipo mais utilizado.

Imediatamente após a manobra de arquejamento como obturador aberto, o obturador é fechado e o pacientearqueja contra o obturador fechado. As mudanças na pres-são pletismográfica (∆Pplet) são então medidas e mostra-das de modo que a inclinação da relação (isto é, ∆P/∆Pplet) pode ser determinada (Figura 4). A Rva é obtidada razão das duas inclinações do seguinte modo:

Rva =∆ Pbc/∆ Pplet

∆V/∆ Pplet

Pbc = pressão na boca

ou

Rva =∆ Pbc

∆V

Figura 4 – Traçadoobtido com obturador

fechado em que a pressãode boca é plotada contra

pressão na caixa

Figura 3 – Representaçãográfica de uma alça de

resistência com obturadoraberto em que a pressão

da caixa é desenhadacontra a variação do fluxo

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Pletismografia – resistência das vias aéreas

• O paciente não deve fumar por pelo menos 1 horaantes do teste. Refeição e atividade física também devemser evitadas neste prazo.

• Broncodilatadores devem ser suspensos antes doexame, à semelhança do descrito em espirometria.

• O diagnóstico clínico e a indicação do exame devemser anotados; idealmente a radiografia deveria ser revista.

• Os transdutores do pletismógrafo devem preencheras seguintes especificações.

Pressão bucal: ± 20 a 50cmH2OPressão cabina: ± 2cmH2O com caixa de 500LFluxo: < 2L/sCalibração e verificação• Assegure-se de que o tubo do transdutor de pressão

está conectado na seqüência apropriada, de acordo coma recomendação do fabricante.

• Ligue o equipamento e deixe aquecer pelo tempoadequado.

• Verifique se a porta está livre de vazamento em cadadia de uso.

• Verifique a velocidade de fechamento do obturadorbucal e a facilidade de: ativação, fechamento e abertura.O obturador não deve emperrar ou fechar lentamente.

• A calibração do equipamento deve ser realizada pelomenos uma vez ao dia antes dos testes e a cada 4 horasdurante o uso.

A calibração de múltiplos transdutores de pressão énecessária. O técnico deve usar um manômetro de água(ou método equivalente) que é capaz de acuradamentedar uma pressão de ± 20cmH2O (para calibração da pres-são da caixa) e um rotâmetro capaz de gerar 0 a 15L/s(para calibração do dispositivo sensor de fluxo).

Em alguns sistemas, a seringa de calibração é usadapara calibrar o fluxo. A calibração do dispositivo paramedida de volume com uma seringa de calibração de 3,0Ldeve ser realizada a cada dia do teste. O valor deve diferir± 3% no máximo.

Teste• O procedimento total deve ser explicado e demons-

trado ao paciente. Deve-se salientar a importância de re-laxar e respirar “normalmente” entre as medidas e danecessidade de arquejar enquanto as bochechas são sus-tentadas com as mãos espalmadas.

• A manobra de arquejamento (durante o obturadoraberto) requer que as respirações sejam: pequenas (~ 50a 100ml), rápidas (90 a 150/min; com obstrução ao flu-xo aéreo 60-90/min) e uniformes (igual volume de entra-da e saída).

• Demonstre a manobra e use frases descritivas. Como obturador aberto: arquejar “como um cachorrinho”.Obturador fechado: “parecido como respirar com as cos-tas das mãos sobre a boca”.

• Conforte o paciente constantemente, para reduzir aansiedade associada com o teste ou por estar fechadonuma cabine, enfatizando que: o teste deve durar menosde 5 minutos; se o paciente quiser, o teste pode ser inter-rompido e a porta aberta.

• Verifique se o sistema de comunicação está funcio-nante. Feche a porta do pletismógrafo e espere o equilí-brio térmico. Informe ao paciente que a temperatura in-terior deve alcançar um certo nível antes do início do teste,o que pode ser um pouco desconfortável. Observe o pa-ciente e pergunte se está tudo bem.

• Instrua o paciente para inserir a peça bucal, assegu-rando que a língua ou os dentes não estejam bloqueandoo dispositivo. Depois de colocar o clipe nasal e sustentaras bochechas com os dedos, peça ao paciente para rela-xar os ombros e respirar normalmente.

• Ative o computador. Peça ao paciente para arquejarcom pequeno volume na freqüência desejada (usualmen-te mostrada na tela). As alças com o obturador abertodevem ser fechadas (ou quase) e lineares (não elípticas),particularmente na faixa de ± 0,5L/s. O traçado inteirodeve estar visível e dentro da faixa de pressão calibrada(mostrada na tela).

• Assim que duas a três alças com o obturador abertoforem coletadas, feche o obturador bucal e instrua o pa-ciente a continuar arquejando. A alça Pbc/Pplet deve serfechada ou quase fechada. Variações de pressão aceitá-veis devem estar dentro da faixa de pressão calibrada decada transdutor. O traçado inteiro deve ser visível. Asmudanças de pressão que são muito grandes ou muitopequenas podem dar resultados errôneos. Durante a co-leta dos dados com o obturador fechado, o tempo deveser curto (≤ 2s), para evitar desconforto.

• Abra o obturador e instrua o paciente para respirarnormalmente.

• Repita as manobras até que quatro a cinco mano-bras aceitáveis sejam obtidas.

• Assegure que o paciente volta ao volume correnteentre as manobras. A inspiração profunda pode resultarem broncodilatação ou broncoconstrição.

Encoraje o desempenho do paciente durante cada ten-tativa, oferecendo sugestões de como melhorar em ma-nobras subseqüentes (ex. “reduza a freqüência da respira-ção”, “respire usando volumes menores”, “faça o mesmona próxima tentativa”).

Pergunte ao paciente se ele é capaz de continuar ounecessita de um período de repouso. Inspecione visual-mente cada manobra para assegurar que preenche crité-rios de aceitação de que não há evidência de desvio tér-mico e de que as freqüências de arquejo são semelhantes.Em alguns indivíduos os valores da Rva tornam-se pioresem altas freqüências, possivelmente devido às constantes

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de tempo desiguais dentro das vias aéreas (“resistênciadependente da freqüência”).

Se medidas seriadas devem ser realizadas, a freqüênciade arquejamento deve ser mantida a mesma, para ajudarna interpretação.

ResultadosA média de três a cinco manobras aceitáveis deve ser

relatada (o que pode requerer fluxo de +0,5 a –0,5L/s).Para alças que exibem histerese, as alças inspiratóriaspodem ser usadas e o relatório deve conter um comentá-rio a respeito.

O relatório deve comentar sobre a qualidade do testee, se apropriado, que critérios não foram alcançados.

Qualidade do testeOs resultados são válidos se o equipamento funciona

bem e o indivíduo é capaz de realizar as manobras deuma maneira aceitável e reprodutível.

Manobras de VGT podem ser consideradas aceitáveisquando:

1. O traçado indica técnica de arquejamento apropria-da; a alça da Pbc/Pplet (obturador fechado) deve ser fe-chada ou quase. O paciente deve sustentar as bochechascom as mãos para impedir mudanças de pressão induzi-das pela boca. Isto deve ser feito sem suportar os cotove-los ou elevar os ombros.

2. As mudanças de pressão registradas devem estardentro da faixa de pressão calibrada de cada transdutor.O traçado inteiro deve ser visível. Variações de pressãoque são muito grandes ou muito pequenas podem darresultados errôneos.

3. Deve haver evidência de equilíbrio térmico, os tra-çados não devem sofrer desvios.

4. A freqüência de arquejamento deveria ser de apro-ximadamente 1Hz.

O VGT relatado1) deve ser a média de 3 a 5 manobras aceitáveis, se-

paradas;2) deve ser calculado usando-se as tangentes ou ângu-

los que concordam 10% da média; a média de valoresaltamente variados pode ser relatada, com a observaçãode variabilidade;

3) deve-se indicar se o volume torácico era na CRF ouem outro nível;

4) deve ser comparado com outras determinações devolume (diluição He, lavagem N2) se realizadas;

5) para alguns sistemas deve ser corrigido para o pesodo paciente.

Uma manobra de capacidade vital lenta. A maior CVobtida deve ser usada para cálculo dos volumes pulmona-res derivados. A CI e o VRE devem ser retirados da maiorCV.

Comentários

Deve ser enfatizado que as medidas são feitas duranteo fluxo aéreo e o fechamento do obturador é meramenteum dispositivo de calibração para expressar Pplet emtermos de Palv. O fechamento do obturador permite, en-tretanto, a estimativa simultânea do volume de gás toráci-co e daí o cálculo da condutância específica das vias aé-reas.

Stanescu et al.(6) chamaram a atenção para o erro po-tencial em pacientes com obstrução ao fluxo aéreo pelouso da mudança da pressão de boca para indicar a mu-dança da pressão alveolar – o mesmo erro que causa hi-perestimativa do VGT também leva a hiperestimativa dacondutância das vias aéreas (subestimativa da resistênciadas vias aéreas) mas, desde que a Gva e o VGT são altera-dos na mesma proporção, Gva/Vp não é afetada. A rea-lização do teste com freqüências respiratórias mais baixaselimina este problema.

Certas condições patológicas resultam em vazamentono sistema (como tímpanos perfurados ou vazamento napeça bucal). Variações diurnas na função pulmonar cau-sam diferenças; repetir na mesma hora do dia. As medi-das de resistência devem preceder as manobras expirató-rias forçadas, as quais podem causar broncoespasmo ealterar os valores de repouso. Pacientes com asma nãodevem realizar manobras de inspiração profunda entre asmedidas, o que pode alterar a R, em geral para mais, àsvezes para menos.

Padrões

Normalmente, a curva pressão-fluxo, R x V, é discreta-mente sigmóide, e a pressão de boca vs. pressão pletis-mográfica, com o obturador fechado, é uma linha reta.

Padrão de resistência menor que o normal é observadoem pacientes que têm pressão pleural excessivamentenegativa ou tração maior que o normal dos tecidos pul-monares sobre as paredes das vias aéreas, como ocorreem fibrose. Isto usualmente é acompanhado por um vo-lume de gás torácico reduzido; assim, a inclinação do vo-lume pulmonar é desenhada como uma linha mais verti-cal.

Durante o arquejamento, a interface entre o ar quentee úmido dos pulmões e o ar mais frio e seco do pletismó-grafo permanece dentro do pneumotacógrafo e daí o flu-xo de calor e vapor d’água de um para o outro continuana mesma taxa durante a inspiração e a expiração. Cominspiração mais profunda, o ar mais frio e seco entra nospulmões, rapidamente recebendo calor, vapor d’água eCO2, assim expandindo e deslocando a pressão pletismo-gráfica para a direita. Durante a expiração profunda, o arúmido e quente dos pulmões ultrapassa o tacógrafo e entrano pletismógrafo, onde lentamente esfria e condensa. Tais

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mudanças não ocorrem enquanto o obturador está fe-chado.

O erro mais comum associado com o teste pletismo-gráfico é a falência de alcançar o equilíbrio térmico antesde iniciar o teste. Pplet com a via aérea aberta pode serusada como uma função da pressão alveolar apenas semudanças não ocorrem devido à temperatura e umidadedo gás e para isso a cabine deve ter umidade e tempera-tura semelhante às corporais (daí o calor e a umidadedentro do pletismógrafo). O equilíbrio térmico é atingidoem certo tempo, usualmente 1 a 3 minutos, dependendodo tamanho do indivíduo e do volume da câmara.

Instabilidade térmica pode ser reconhecida durante oteste pela presença de desvio no traçado, o que causavariações do sinal na tela (Figura 5).

Este desvio torna impossível a verificação precisa dasmudanças da pressão alveolar e assim nenhum teste de-veria ser realizado até que o desvio não seja mais eviden-te.

O segundo erro mais comum se relaciona com instru-ções inadequadas. A determinação da Rva é diferente deoutros testes de função pulmonar no sentido de que opaciente não é solicitado para realizar esforços máximos.Durante a manobra de Rva, o paciente deve fazer excur-

sões suaves antes e depois do fechamento do obturador.Estes esforços devem ser cuidadosamente controlados paratamanho e freqüência. Comumente, o esforço do pacien-te é muito grande (Figura 6).

A prática é essencial. Uma boa técnica é praticar amanobra com o indivíduo antes de fechar a porta da cabi-ne e repetir a manobra enquanto se aguarda para o equi-líbrio térmico.

Outra abordagem excelente é treinar o indivíduo e fa-zer a medida da Rva antes de fechar a válvula e medir ovolume de gás torácico. Isto é baseado na premissa deque é mais fácil ensinar ao paciente arfar com o obtura-dor aberto do que com ele fechado.

Os traçados deveriam incluir esforços na faixa de ± 2L/s de fluxo com o obturador aberto e semelhantes com oobturador fechado. Esforços grandes tendem a reduzir areprodutibilidade e adicionam efeitos de histerese ao tra-çado; esforços pequenos tendem a ampliar os erros demedida associados com o desenho da linha através dosdados.

Outros padrões que denotam problemas técnicos sãomostrados na Figura 7(3).

A formação de alça com o obturador fechado podeocorrer se há um vazamento no pletismógrafo, na peça

Figura 5 – Equilíbrio térmico na pletismografia

Figura 6 – Esforços variáveis na determinação da resistência das vias aéreas

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bucal, clipe nasal não está sendo usado ou está mal colo-cado, o tubo que mede a pressão bucal está parcialmenteobstruído, há fechamento da laringe, as bochechas estãoabauladas, ou existe grande quantidade de gás abdominal.

Na presença de obstrução ao fluxo aéreo, a curva émais inclinada para a direita, mas não pode ser horizon-tal. Alguns pacientes têm uma curva pressão-fluxo que édobrada no meio, indicando que a resistência associadacom a direção expiratória do fluxo aéreo é maior queaquela que ocorre durante a inspiração. Esta curva em 8denota respirações muito rápidas que excedem as carac-terísticas de freqüência de resposta do pletismógrafo ouheterogeneidade das constantes de tempo entre as uni-dades pulmonares(5). Esta situação é comumente remedi-ada solicitando-se ao paciente que respire em freqüên-cias menores.

Uma alça no sentido dos ponteiros do relógio na curvainspiratória revela um aumento da resistência à medidaque o volume pulmonar é reduzido (padrão de colapso,mudança na Rva inspiração/expiração. Ocasionalmentese percebe uma alça completa (inertância). Isto implicaque o gás em parte do pulmão não pode ou não entra ounão deixa aquela região em tempo de liberar sua pressãoà medida que o fluxo de gás inspiratório e expiratóriocessa no pneumotacógrafo. Gás aprisionado se compor-ta desta maneira. Enchimento e esvaziamento retardadode regiões também atua da mesma maneira. Deve-se re-duzir a freqüência respiratória, para tentar minimizar a

alça. Para se assegurar da existência de tal alça deve-sedescartar um desvio de fase no tacógrafo, artefato de tem-peratura do gás, peça bucal frouxa, abaulamento de bo-chechas e vazamento no pletismógrafo).

Rexp e Rinsp, se medidas separadamente: o ângulo de-ve incluir fluxos de 0 a –1,0L/s para a resistência inspirató-ria e 0 a +1,0L/s para a resistência expiratória (Figura 8).

O valor da condutância e resistência específicas jaz naconsideração do volume pulmonar no qual são medidos.Devido a que a Rva normalmente diminui com o volumepulmonar aumentado, uma reação compensatória nor-mal para pacientes com DPOC é hiperinsuflação para

Figura 8 – Padrão de colapso das vias aéreas com medidas emseparado da R inspiratória e R expiratória

Figura 7 – Alças de medida da resistência

R inspiratória

R expiratóriaVolume da caixa

(pressão)

Flu

xo

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Pletismografia – resistência das vias aéreas

manter uma resistência menor. Seguindo-se broncodila-tação, se a hiperinsuflação é removida, a Rva pode pare-cer inalterada, mesmo que melhora significativa seja no-tada nos volumes e fluxos pulmonares. O uso da Gva eRva específicas permite a detecção de pequenas mudan-ças no calibre das vias aéreas, a despeito da compensa-ção de volume.

4. INDICAÇÕES

A determinação por pletismografia corporal do VGT,Rva e Gva pode ser indicada em diversas situações.

1) Melhor classificação dos distúrbios ventilató-rios

Pletismografia é o método mais rápido e acurado paramedir os volumes pulmonares absolutos. O pletismógra-fo mede o volume total compressível no tórax e sua acu-rácia não é afetada pela presença de espaços aéreos malventilados, que freqüentemente resulta em subestimativado volume pulmonar pelas técnicas de diluição dos gases.Os valores em indivíduos normais para os volumes nãodiferem entre as técnicas com diluição dos gases e completismografia e, assim, podem ser adotadas as equaçõesusuais.

Vinte a quarenta por cento dos distúrbios restritivos,assim caracterizados pela espirometria, serão classifica-dos como inespecíficos quando se mede a CPT(7). Em pa-cientes com obstrução ao fluxo aéreo e CV(F) reduzida, adeterminação da CPT é necessária para classificação cor-reta do distúrbio, como misto ou obstrutivo isolado. Quan-do a CV(F) se situa na faixa prevista, a CPT raramente seráreduzida, de modo que sua medida é supérflua.

Nas doenças com obstrução ao fluxo aéreo, a CPT ten-de a aumentar. Portanto, na presença de distúrbio combi-nado, o que se espera é uma CPT não tão elevada para oque seria esperado em obstrução ao fluxo aéreo (mas quepode se situar na faixa normal) e não apenas abaixo doprevisto. Se esta última for usada para caracterizar distúr-bio misto, raramente este diagnóstico funcional será feito.

Em 668 pacientes com DPOC, Dikstra(8) encontrou porpletismografia, VR em média de 190%, variando (IC 95%)entre 105 e 297%. A CPT foi em média 111%, variandoentre 90 a 154%. Em 268 asmáticos a CPT variou entre88-134% do previsto. Pereira e Sato(9) avaliaram a CPTpor diluição de hélio em 100 pacientes com obstrução aofluxo aéreo. Doença potencialmente restritiva associadafoi excluída por achados clínicos e cardiológicos. A CPTfoi em média de 122% e o 5o percentil foi de 94%. Combase nestes dois estudos, o achado de obstrução ao fluxoaéreo associado com CPT ≤ 90% sugere distúrbio misto.Algoritmos para interpretação dos distúrbios ventilatórioscom as medidas de volume por pletismografia são mos-trados nas Tabelas 1 e 2.

TABELA 2Interpretação da função pulmonar quando a

CV(F) é reduzida com pletismografia disponível (II)

CV(F) reduzida

VEF1/CV(F) e FEF25-75/CV(F)e

Gva/Vp na faixa prevista

CPT (%)

↓ ↓

< 80% previsto ≥ 80% previsto

↓ ↓ ↓

Distúrbio Gva/Vp Gva/VPrestritivo < 0,12 > 12

e e/ou

VR > 130% VR < 130%

↓ ↓

Distúrbio Distúrbioinespecífico obstrutivo

TABELA 1Interpretação da função pulmonar quando a

CV(F) é reduzida e pletismografia é disponível (I)

CV(F) reduzida

VEF1/CVF ou FEF25-75/CV(F)ou Gva/Vp reduzidas

Obstrução ao fluxo aéreo

CPT (%)

↓ ↓

< 90% previsto ≥ 90% previsto

↓ ↓

Distúrbio misto Distúrbio obstrutivoisolado

2) Doenças obstrutivasA medida da CV reflete primariamente a função paren-

quimatosa. O Pico de Fluxo reflete primariamente a re-tração elástica, o volume pulmonar, e a força. Os volu-

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mes em determinados tempos refletem a função da viaaérea, o componente parenquimatoso, e a diferença depressão entre os alvéolos e a boca à medida que ela serelaciona com o ponto de igual pressão e estreitamentodas vias aéreas; contudo elas são menos sensíveis à forçaou ao esforço. Quando o fluxo é prejudicado, os volumesforçados englobam volumes pulmonares mais elevados eassim englobam disfunção parenquimatosa e de vias aé-reas. Com restrição os volumes forçados incluem mais daCV total e assim a ênfase se desloca para o envolvimentoparenquimatoso.

As medidas da Rva ou Gva, por outro lado, refletempredominantemente o calibre das vias aéreas. A maiorparte da Rva reside nas grandes vias aéreas acima da 4a

geração e inclui a orofaringe. Hogg(10) sugeriu que as viasaéreas periféricas (< 2-3mm) contribuem com aproxi-madamente 20% da resistência total em normais, masestudos mais recentes estimam a contribuição relativa aaproximadamente 40%(11,12). Em pacientes com DPOC, ocomponente periférico aumenta dramaticamente enquan-to que o valor absoluto da Rva pode permanecer inaltera-do, devido à compensação resultante da hiperinsuflação.A Gva/Vp estará geralmente reduzida.

Há uma correlação negativa entre a resistência das viasaéreas e os fluxos expiratórios máximos e o VEF1

(13), demodo que em geral a espirometria é suficiente para odiagnóstico de obstrução difusa ao fluxo aéreo, porémem casos individuais a medida da Gva pode ser mais sen-sível.

A pletismografia é indicada para avaliação de doençasobstrutivas como enfisema bolhoso, bronquiectasias, asmae bronquiolites, que resultam em CV(F) reduzida e volumespulmonares artificialmente baixos se os volumes foremmedidos por diluição de hélio ou lavagem de nitrogênio.Nestes casos não é incomum o encontro de falso distúr-bio restritivo pela espirometria, especialmente se fatoresque impedem a expansão da caixa torácica, como obesi-dade, estão associados.

O diagnóstico de obstrução ao fluxo aéreo pode serfeito pelo encontro de condutância específica de vias aé-reas reduzida e/ou volume residual elevado. Este podeser isoladamente elevado, o que sugere enfisema ou obs-trução de vias aéreas periféricas, como visto em bron-quiolites.

Um exemplo real é mostrado abaixo:

72 anos, não tabagista, feminina, obesa, dispnéia há 3 meses.Exame físico normal. Radiografia e tomografia de tórax de alta resolução

normais. Tomografia expiratória com áreas de aprisionamento de ar.

Previsto Pré- % Pós- % %Bd previsto Bd previsto mudança

CVF 2,91 2,10 72 2,17 75 3

VEF1 2,19 1,74 79 1,74 79 0

VEF1/CVF 75 83 80

FEF25-75% 1,90 1,49 79 1,54 81

TFEF25-75% 0,76 0,75 –1

CV 2,91 2,35 81 3,15 108 34

VR 2,26 2,38 105 1,54 68 –35

CPT 5,14 4,73 92 4,69 91 –1

Rva 1,29 3,94 306 2,65 206 –33

Gva 0,26 0,08 31 0,12 48 53

DCO 23,2 20,1 87

Comentários: Nota-se diferença significativa entre asmedidas da capacidade vital lenta e forçada (0,25L), su-gestiva de aprisionamento de ar. Embora pela espirome-tria não se caracterize obstrução do fluxo aéreo, a condu-tância das vias aéreas é reduzida. Após broncodilatadorhouve elevação significativa da CV e da Gva, bem comoredução do volume residual, demonstrando que havia araprisionado. A DCO é normal.

Concluiu-se como doença obstrutiva de vias aéreas pe-riféricas.

A partir destes dados a TCAR expirada revelou áreascom aprisionamento de ar.

A biópsia transbrônquica foi inconclusiva, mas o lava-do broncoalveolar mostrou linfocitose significativa. Indi-cada biópsia pulmonar a céu aberto, que mostrou tratar-se de bronquiolite por pneumonia de hipersensibilidade.

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Pletismografia – resistência das vias aéreas

A paciente referia trabalho recente em ambiente comparedes mofadas.

3) Doença bolhosaNo enfisema bolhoso ou em bolhas pulmonares, estas

são ventiladas colateralmente por comunicações muitopequenas, o que impede sua medida de volume pelosmétodos de diluição dos gases.

Bolhas (espaços aéreos cheios de ar, de parede finafreqüentemente multiloculadas) podem ser vistas em pul-mões sem outras alterações. No teste de função pulmo-nar, sua presença é sugerida por um aumento no volumeresidual medido pletismograficamente em comparaçãocom o volume pulmonar medido pela diluição dos gases.Devido a que os espaços aéreos cheios de ar comprimemo pulmão normal, o padrão espirométrico pode ser “res-tritivo” na espirometria.

Mais comumente, as bolhas são parte de enfisema ge-neralizado. Evidência funcional de limitação ao fluxo aé-reo e enfisema estão presentes. As bolhas em pacientescom limitação crônica ao fluxo aéreo são mais comunsem lobos superiores.

Indicação cirúrgica: pacientes com: 1) dispnéia signifi-cativa (muitos doentes com enfisema parasseptal têm dis-pnéia discreta ou ausente); 2) bolhas ocupando mais de40-50% do pulmão; 3) diferença CRF pletismográfica –CRF diluição gases > 1L; 4) Dco/VA normal ou poucoalterada (significando enfisema difuso ausente ou poucoexpressivo), e 5) achados de compressão do parênquimaremanescente, como CV reduzida. A TCAR pode corrobo-rar em vários destes achados.

Uma diferença entre a CRF pletismográfica e por dilui-ção de gases acima de 1L caracteriza espaço significativopreenchido pelas bolhas, o que, na ausência de enfisemadifuso associado (como visto na TCAR ou pela Dco/VA),sugere sucesso cirúrgico(14,15).

4) Obstrução de vias aéreas centraisDesde que a resistência das vias aéreas é dominada

pelo calibre da parte mais estreita da árvore brônquica,sua medida é particularmente sensível ao estreitamentoda traquéia e laringe(16). Lesões traumáticas e corpos es-tranhos em grandes vias aéreas também ocasionam au-mento da resistência, acompanhada de aumento do tra-balho respiratório. O fluxo aéreo na traquéia e grandesbrônquios é essencialmente turbulento, e a obstrução acen-tua esta turbulência.

5) Resposta a broncodilatadorWatanabe et al. mediram as variações da resistência e

condutância das vias aéreas em 75 indivíduos normais de20 a 81 anos de idade (16 eram fumantes)(17). Calculan-do-se o limite superior de resposta (teste unicaudal) as

seguintes respostas são consideradas significativas emrelação ao valor inicial:

Rva – 35%; Gva – 49%; Gva/Vp – 46%

A resposta é melhor caracterizada em obstrutivos pelaGva/Vp, desde que freqüentemente o uso de Bd resultaem queda do volume pulmonar, o que pode manter aresistência inalterada ou menos reduzida. Valores aci-ma de 50% para Gva/Vp caracterizam broncodi-latação significativa.

Diversos estudos demonstraram que, em pacientes comobstrução ao fluxo aéreo, a melhora da dispnéia e dodesempenho de exercício após broncodilatador se corre-laciona melhor com a redução dos volumes pulmonares,por desinsuflação pulmonar, do que com a mudança doVEF1

(18,19). Além disso, o broncodilatador muda a elastân-cia da parede brônquica, o que facilita seu colapso naexpiração. A medida da resistência das vias aéreas (que éfeita sem manobra forçada) e a determinação dos volu-mes pulmonares, ambos possíveis pela pletismografia,permitem a rápida medida da resposta ao broncodilata-dor, em termos de volumes, Rva e Gva/Vp.

6) Hiperresponsividade brônquica em resposta ametacolina, histamina, carbacol ou hiperventilação iso-cápnica.

O teste de broncoprovocação pode ser avaliado atra-vés de medidas de condutância específica ou de resistên-cia das vias aéreas, embora a resposta seja usualmenteavaliada pelo VEF1. É dito que as medidas de Rva e Gvasão mais variáveis que o VEF1. Em um estudo nacional asensibilidade e a especificidade foram semelhantes em 50normais e 50 asmáticos, quando as respostas do VEF1 eda Rva foram comparadas(20). Aumentos de 35% da Rvaou quedas de 35-40% na Gva/Vp são considerados signi-ficativas e ocorrem em média com doses 2,5 menores doque as necessárias para queda de 20% do VEF1.

Seis a 15% dos pacientes com testes espirométricosnegativos desenvolvem sibilos durante o teste de bronco-provocação, sem queda do VEF1

(21). A inspiração profun-da que precede a manobra expiratória forçada pode abo-lir a broncoconstrição induzida em vários pacientes. Amedida da Rva, ao não utilizar manobras inspiratóriasmáximas, evidencia hiperreatividade nestes casos.

7) Cirurgia redutora de volumeAvaliação pletismográfica é essencial na seleção dos

candidatos à cirurgia.A medida da resistência inspiratória das vias aéreas e

dos volumes pulmonares, especialmente da relação VR/CPT, são bons preditores do sucesso cirúrgico em pacien-tes selecionados (ver indicações de espirometria)(22,23).

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8) Para acompanhar o curso da doença e a res-posta ao tratamento

Contra-indicaçõesContra-indicações relativas são:1) Confusão mental, incoordenação muscular, e outras

condições que impeçam o indivíduo de entrar na cabinedo pletismógrafo ou de realizar as manobras adequadas.

2) Claustrofobia3) Uso de infusões IV com bombas ou outros equipa-

mentos que não cabem no pletismógrafo, ou que podeminterferir com as mudanças de pressão (ex. dreno toráci-co, tímpano perfurado)

4) Uso de O2 contínuo que não pode ser interrompido

5. VALORES NORMAIS

Não existem estudos adequados para medida da resis-tência em grande número de não fumantes, selecionadosao acaso da população geral.

Os valores amplamente citados de Briscoe e DuBoissão dos anos 50(24). Apenas 26 adultos com idade entre16-81 anos, de ambos os sexos, foram estudados. Con-dutância específica variou entre 0,13 a 0,30L/s/cmH2O.

Pelzer e Thomson(25) mediram a condutância específi-ca em 82 normais, de 17-82 anos. A Gva/Vp foi inde-pendente da idade, altura e sexo e teve distribuição log-normal; apenas 47 eram não fumantes. Valores normaispara condutância específica variaram de 0,11 a 0,40. Re-calculando seus dados apenas para os não fumantes, (n =47) e considerando a distribuição como log-normal, o li-mite inferior seria de 0,13 e o limite superior, de 0,37.

Em um grupo de 85 pacientes com espirometria nor-mal, de acordo com o I Consenso da SBPT, avaliados naUnidade de Fisiologia Pulmonar do Serviço de Pneumo-logia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (dados nãopublicados), sem alçaponamento aéreo na pletismogra-fia, o valor da Rva foi de 1,40 ± 0,85cmH2O/L/s (0,55 a2,55) e da Gva/Vp 0,24 ± 0,12L/s/cmH2O (0,12 a 0,36).

Com base nestes estudos sugerimos que os valores nor-mais adotados sejam:

Rva = 0,5 a 2,50cmH2O/L/s

Gva/Vp = 0,12 a 0,37L/s/cmH2O

TABELA 3Classificação de gravidade da obstrução aofluxo aéreo pela medida da resistência(26)

Rva Gravidade

2,5-4,4 Leve4,5-8,0 Moderada> 8,0 Acentuada

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