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PROCESSO Nº 0010240-42.2014.5.14.0002 RECLAMANTE(S): FRANCISCO EDSON DA SILVA OLIVEIRA RECLAMADO(S): EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS SENTENÇA RELATÓRIO: O reclamante afirmou que foi vítima de dano moral em decorrência de roubo na agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) em Candeias do Jamari RO, onde funciona um Banco Postal, tendo a ação dos meliantes provocado tensão e humilhação que lhe acarretaram abalo psicológico, por isso pleiteia a reparação pecuniária de R$50.000,00 (id 610391). A reclamada em sua defesa suscitou preliminar de ilegitimidade de parte, argumentando que a segurança pública não lhe competente, por ser atribuída ao próprio Estado. No mérito, afirmou que a matéria deverá ser analisada sob o prisma da responsabilidade subjetiva, e não sob o prisma da responsabilidade objetiva na vertente da teoria do risco, pelo que a culpa deverá ser perquirida. Asseverou que a violência é decorrente de problema socioeconômico do país, e que por isso o caso se equipara a caso fortuito e força maior. Também não está obrigada a implementar medida de segurança como os bancos, pois a ECT não é uma instituição financeira, mas sim correspondente bancário. Apesar disso, a empresa vem se estruturando para dotar suas unidades com aparato de segurança. Sobrevindo condenação postula seja o montante fixado em quantia módica (id 785436). Na audiência realizada em 29.05.2014 a instrução foi encerrada sem outras provas (id 834838). As propostas conciliatórias foram rejeitadas. É o relatório, em síntese, razão pela qual decido. FUNDAMENTAÇÃO: PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE DE PARTE: Cabe ao Estado o dever de prestar a segurança pública para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

Processo francisco 1

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PROCESSO Nº 0010240-42.2014.5.14.0002

RECLAMANTE(S): FRANCISCO EDSON DA SILVA OLIVEIRA

RECLAMADO(S): EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS

SENTENÇA

RELATÓRIO:

O reclamante afirmou que foi vítima de dano moral em decorrência de

roubo na agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) em

Candeias do Jamari – RO, onde funciona um Banco Postal, tendo a ação dos

meliantes provocado tensão e humilhação que lhe acarretaram abalo

psicológico, por isso pleiteia a reparação pecuniária de R$50.000,00 (id

610391).

A reclamada em sua defesa suscitou preliminar de ilegitimidade de

parte, argumentando que a segurança pública não lhe competente, por ser

atribuída ao próprio Estado. No mérito, afirmou que a matéria deverá ser

analisada sob o prisma da responsabilidade subjetiva, e não sob o prisma da

responsabilidade objetiva na vertente da teoria do risco, pelo que a culpa

deverá ser perquirida. Asseverou que a violência é decorrente de problema

socioeconômico do país, e que por isso o caso se equipara a caso fortuito e

força maior. Também não está obrigada a implementar medida de segurança

como os bancos, pois a ECT não é uma instituição financeira, mas sim

correspondente bancário. Apesar disso, a empresa vem se estruturando para

dotar suas unidades com aparato de segurança. Sobrevindo condenação

postula seja o montante fixado em quantia módica (id 785436).

Na audiência realizada em 29.05.2014 a instrução foi encerrada sem

outras provas (id 834838).

As propostas conciliatórias foram rejeitadas.

É o relatório, em síntese, razão pela qual decido.

FUNDAMENTAÇÃO:

PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE DE PARTE:

Cabe ao Estado o dever de prestar a segurança pública para a

preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

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Essa responsabilidade, entretanto, não é exclusiva do Estado, pois,

segundo o artigo 144 da CF, a obrigação quanto à segurança pública também

é dever de todos os que habitam o território nacional.

Além disso, nas relações de trabalho, considerando caber ao

empregador os riscos da atividade econômica, cabe a ele zelar pelo

trabalhador, física e moralmente (CLT – art. 2º).

Por isso, repilo a preliminar suscitada pela reclamada.

DANO MORAL:

A ECT, uma empresa pública de serviços postais, presta relevantes

serviços públicos, tendo passado a atuar também como correspondente

bancário em passado recente, quando agregou às suas atividades as

atividades de banco postal.

Conquanto não se trate de um banco, na acepção jurídica, é notório

que a partir da indicação amplamente divulgada pela ECT de que além das

atividades postais também presta serviço bancário, passou a incutir nas

pessoas, especialmente nos substratos menos instruídos, de onde provém

majoritariamente – mas não exclusivamente – os criminosos, a ideia de que a

empresa realizada operações bancárias, inclusive mantendo em depósitos

valores expressivos. Ou seja, assim como os bancos, o banco postal é

chamariz de ladrão.

Apesar dessa percepção, as unidades da ECT não estão guarnecidas

de aparato de segurança apto a rechaçar ações criminosas, especialmente em

cidades do interior, o que contribuiu para evento como o ocorrido em Candeias

do Jamari – RO (onde o reclamante prestou serviços e foi vítima do assalto

referido nos ids 610433 e 610444, que o abalou psicologicamente e o levou ao

psiquiatra, de onde saiu com prescrição de remédio controlado [id 610439]).

Conquanto afirme não estar obrigada a observar a Lei 7.102/83,

asseverando que essa norma tem alcance limitado, restrita às instituições

financeiras, a reclamada informa que vem paramentando suas unidades com

“Cofres com Fechadura Eletrônica com Retardo, sistema de Alarme Eletrônico,

sistema de Gravação de Imagens por circuito interno de TV”, além de estar

contratando empresas de segurança privada para algumas agências conforme

o porte das mesma. São medidas dignas de reconhecimento, que também

devem atingir as unidades de menor porte, situadas nos recônditos do Estado.

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Considero que não se pode tributar ao caso fortuito ou de força maior o

roubo perpetrado na agência da ECT situada em Candeias do Jamari,

conquanto presumível o evento pelo atrativo do epíteto “banco postal” adotado

pela unidade dos correios e a falta de segurança.

Assim, por criar uma situação propícia ao fato criminoso sem propiciar

a segurança necessária ao trabalhador, a reclamada negligenciou uma

obrigação decorrente de seu poder diretivo, o de se responsabilizar pelos

riscos do negócio (CLT – art. 2º), por isso, com fulcro no artigo 927 do CC,

condeno-a a pagar indenização por dano moral no valor de R$10.000,00, já

que a Constituição Federal de 1988 colocou no centro de suas atenções os

valores humanos, e erigiu a dignidade da pessoa como um dos fundamentos

do Estado Democrático de Direito (CF – art. 1º, III).

DEDUÇÃO:

Fica autorizada a dedução dos valores pagos sob os mesmos títulos

dos deferidos, desde que demonstrados nos autos.

JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA:

Os juros de mora e correção monetária incidentes sobre o valor da

reparação do dano moral devem incidir a partir da data de prolação desta

sentença, aplicando-se as Súmulas nº 54 e 362 do C. STJ.

Além disso, os juros moratórios não poderão ultrapassar o percentual

de 6% ao ano ou 0,5% ao mês, considerando a equiparação da ECT à

Fazenda Pública, com fulcro no artigo 1º-F da Lei nº 9.494/97.

HONORÁRIOS ASSISTENCIAIS:

Quando o sindicato age na condição de substituto processual tem

direito à percepção de honorários assistenciais à ordem de 15%, desde que a

parte assistida comprove a percepção de salário inferior ao dobro do salário

mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar

sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família (TST – Súmula 219,

I).

Enquanto empregado, o reclamante possui suficiência econômica, por

isso rejeito o pedido de honorários assistenciais.

DEDUÇÃO:

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Fica autorizada a dedução dos valores pagos sob o mesmo título dos

deferidos ao reclamante, desde que comprovados nestes autos, para não

propiciar o enriquecimento sem causa.

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA E IMPOSTO DE RENDA:

Quanto aos descontos previdenciários, empregado e empregador

responderão pelas suas respectivas cotas-partes, nos termos da Lei nº.

10.035/2000 e Provimento 01/96 da E. Corregedoria Geral da Justiça do

Trabalho, incidentes sobre as parcelas sujeitas a esses descontos, salvo os

montantes que não compõem o salário-de-contribuição, definidos no parágrafo

9º do artigo 28 da Lei 8.212/91.

Já os descontos fiscais são devidos exclusivamente pelo reclamante,

cabíveis sobre as verbas tributáveis, desde que superada a faixa de isenção.

JUSTIÇA GRATUITA:

Considerando a disposição no tópico “honorários assistenciais”, nego

ao obreiro o pedido de gratuidade judiciária.

CONCLUSÃO:

Pelo exposto, julgo PROCEDENTES EM PARTE os pedidos

formulados por FRANCISCO EDSON DA SILVA OLIVEIRA, assistido pelo

SINDICATO DOS TRABALHADORES DA EMPRESA DE CORREIOS E

TELÉGRAFOS DE RONDÔNIA, para condenar a EMPRESA BRASILEIRA DE

CORREIOS E TELÉGRAFOS a pagar:

a) R$10.000,00 de indenização por danos morais;

b) Contribuição previdenciária, Imposto de Renda, Juros e correção

monetária na forma da lei;

c) Liquidação por “cálculos”, ficando autorizada a dedução dos valores

pagos pelos mesmos títulos;

Custas calculadas sobre o valor arbitrado à condenação, de

R$10.000,00, no importe de R$200,00, a cargo da reclamada, e de cujo

pagamento fica eximida.

Intimem-se.

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(assinado digitalmente)

JOSÉ ROBERTO DA SILVA

Juiz do Trabalho