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Prof. LEANDRO VILLELA CEZIMBRA Porto Alegre 2014

Aula transmissão das obrigações

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Page 1: Aula   transmissão das obrigações

Prof. LEANDRO VILLELA CEZIMBRA

Porto Alegre2014

Page 2: Aula   transmissão das obrigações

  O direito antigo não permitia a transmissão das obrigações, em virtude de entender a obrigação como um vínculo pessoal entre credor e devedor.

Mais tarde, concebeu o Direito na abertura da possibilidade de transmissão, a título universal, integrada a herança. O Herdeiro substituía o falecido.

Com a evolução das relações econômicas o crédito passou a ser considerado um elemento do patrimônio do credor, sendo permitida a sua transferência como a de qualquer outro bem.

Da mesma forma o débito passou a ser considerado um passivo no patrimônio do devedor, igualmente suscetível de transferência.

Page 3: Aula   transmissão das obrigações

A Transmissão de Direitos e obrigações se dá tanto

por ato inter vivos, como por causa mortis.

Por ato inter vivos = substituição subjetiva = vontade

das partes.

Por causa mortis = Sucessão = herdeiro substitui o

de cujus.

Page 4: Aula   transmissão das obrigações

Nosso objeto hoje é apenas a transferência do crédito,

da dívida ou da posição contratual a terceiros.

O crédito é um ativo no patrimônio do credor, o débito é

um passivo e a cessão de posição se opera como

transferência de todo um complexo contratual.

A matéria versa sobre bens, os quais podem ser objeto

de negócios jurídicos.

Page 5: Aula   transmissão das obrigações

Conceito:

“Verifica-se a cessão de um crédito quando o credor,

mediante negócio jurídico, designadamente de natureza

contratual, transmite a terceiro seu direito. Consiste,

portanto, esta figura na substituição do credor originário por

outra pessoa, mantendo-se inalterados os restantes

elementos da relação obrigacional.”

Almeida Costa

Page 6: Aula   transmissão das obrigações

Conceito:

“A cessão de crédito é contrato translativo de direitos e se

consubstancia, ao mesmo tempo na aquisição (pelo cessionário)

e na perda (pelo cedente) do direito cedido, no que toca ao seu

titular. Não é direito real, mas contrato abstrato que independe de

causa subjacente ou sobrejacente para que o tenha como

existente, válido e eficaz. Por isso é que, para sua validade é

irrelevante analisar-se o negócio que lhe antecedeu.”

Nelson Nery Júnior

Page 7: Aula   transmissão das obrigações

Em se tratando do crédito de parte integrante de um

patrimônio, possui ele um valor comercial.

Cessão de crédito é um negócio jurídico em que o

credor transfere seu direito exatamente como

contraído, alterando-se apenas o sujeito ativo. É

um negócio jurídico de feições contratuais.

Page 8: Aula   transmissão das obrigações

Importante: Não se trata de substituir uma obrigação

antiga por uma nova (novação), mas apenas em

modificar a titularidade ativa do crédito.

A cessão do crédito pode se dar de forma parcial ou

total, dependendo da vontade das partes.

Page 9: Aula   transmissão das obrigações

COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. CESSÃO. PRAZO DE ENTREGA

DA OBRA. SUBSISTÊNCIA.A CESSÃO DE CRÉDITO, DIVERSAMENTE

DO QUE SUCEDE COM A NOVAÇÃO, NÃO EXTINGUE A OBRIGAÇÃO

PRIMITIVA. EM CONSEQÜÊNCIA, A CESSÃO DE CONTRATO DE

COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL NÃO ALTERA, PARA A

CONSTRUTORA DO BEM, O PRAZO FINAL DE ENTREGA. (TJDF, 2ª

Turma Cível. Apelação Cível n.º 5263599, Relator Desembargador Getúlio

Moraes de Oliveira, Publicação dia 24.05.2000)

Page 10: Aula   transmissão das obrigações

A cessão de crédito pode ser: 

Pro soluto - o cedente responde pela existência e

legalidade do crédito, mas não responde pela

solvência do devedor;

Pro solvendo - o cedente responde também pela

solvência do devedor.

Page 11: Aula   transmissão das obrigações

Existe, também, a classificação da cessão na espécie

onerosa e gratuita.

Onerosa – com contrapartida.

Gratuita – sem contrapartida, por mera liberalidade

Almeida costa ainda classifica mais uma:

Cessão solutória – para extinguir uma obrigação

Os efeitos serão os mesmos.

Page 12: Aula   transmissão das obrigações

A cessão de crédito tem por objeto bens imateriais.

Pessoas da Cessão de Crédito:

Cedente: é o alienante do direito

Cessionário: é o adquirente do direito

Cedido: devedor

A cessão não necessita de consentimento do cedido, ele

apenas deve ser comunicado para saber a quem deverá

adimplir a obrigação.

Page 13: Aula   transmissão das obrigações

I - A cessão de créditos é disciplinada pelos artigos 1.065 e seguintes do Código Civil. A teor

de tais dispositivos, o credor é livre para ceder seus créditos, "se a isso não se opuser a

natureza da obrigação, a lei ou a convenção com o devedor." Em se tratando de créditos

provenientes de condenações judiciais, existe permissão constitucional expressa,

assegurando a cessão dos créditos traduzidos em precatórios (ADCT, Art. 78). Se assim

acontece, não faz sentido condicionar a cessão ao consentimento do devedor – tanto mais,

quando o devedor é o Estado, vinculado constitucionalmente ao princípio da impessoalidade.

II - "O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à

compensação tributária." (Súmula 213/STJ).

(RMS 12735/RO, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado

em 15/08/2002, DJ 23/09/2002, p. 225)

*Código antigo – no vigente é o art. 286 e seguintes.

Page 14: Aula   transmissão das obrigações

Cedido: devedor

O cedido não é parte no negócio da cessão, a ele só cabe tomar

conhecimento para que não pague a obrigação errada.

Se ele não tiver conhecimento expresso da cessão, poderá

pagar ao credor originário sem qualquer prejuízo.

A lei não estabelece, mas recomenda-se que o conhecimento

seja por escrito.

Page 15: Aula   transmissão das obrigações

Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor,

senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que,

em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.

Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da

cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão

notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão,

o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública,

prevalecerá a prioridade da notificação.

Page 16: Aula   transmissão das obrigações

Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um

crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou

instrumento particular revestido das solenidades do § 1o do art. 654.

Configura terceiro, neste caso, aquele que possui interesse no

patrimônio das partes, tal como aquele que possuir direitos

anteriores a cessão e que poderá ser prejudicado em relação dela.

Ex: Credores do cedente, do cessionário ou do devedor.

Page 17: Aula   transmissão das obrigações

O Art. 288 remete ao 654, §1.º:

Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração

mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a

assinatura do outorgante.

§ 1.º O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi

passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o

objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes

conferidos.

Page 18: Aula   transmissão das obrigações

Proibições da Cessão de Crédito

Por disposição contratual.

Ex: Cláusula que vede a cessão

Créditos inalienáveis por natureza.

Ex: Créditos intuitu personae, créditos provenientes de alimentos.

Créditos inalienáveis por força de lei.

Ex: Créditos penhorados e os descritos no art. 497 do Código Civil

Page 19: Aula   transmissão das obrigações

Ex:

Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública:

I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração;

II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta;

III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade;

IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados.

Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito.

Page 20: Aula   transmissão das obrigações

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a

isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei,

ou a convenção com o devedor; a cláusula

proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao

cessionário de boa-fé, se não constar do

instrumento da obrigação.

Page 21: Aula   transmissão das obrigações

PROCESSUAL CIVIL, CIVIL E CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. AÇÃO DE

ADIMPLEMENTO CONTRATUAL OBJETIVANDO A SUBSCRIÇÃO DE AÇÕES POR CESSÃO DE DIREITO.

CESSIONÁRIO DE MILHARES DE CONTRATOS DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. DESMEMBRAMENTO DOS

DIREITOS DOS CEDENTES. CONDIÇÕES PERSONALÍSSIMAS DO CEDENTE QUE NÃO SE TRANSFEREM

AO CESSIONÁRIO. QUALIDADE DE CONSUMIDOR.

HIPOSSUFICIÊNCIA. INAPLICABILIDADE DAS REGRAS DO CDC PARA A DEFINIÇÃO DE COMPETÊNCIA.

1. A jurisprudência do STJ é firme em reconhecer a existência de relação de consumo nos contratos para aquisição

de linha telefônica com cláusula de investimento em ações, haja vista que o contrato de participação financeira

está atrelado diretamente aos serviços de telefonia.

2. Na hipótese, o recorrente é cessionário de milhares de contratos de participação financeira e pleiteia, como ele

mesmo afirma em sua inicial, "todas as diferenças havidas entre as ações entregues e as que deveriam à época

terem sido, bem como todos os direitos e desdobros decorrentes dos eventos societários a que se submeteu a

Companhia", tendo o acórdão recorrido asseverado que o mesmo adquiriu o direito de pleitear as ações "na

qualidade de investidor" e não para "se utilizar pessoalmente dos serviços fornecidos pela empresa de telefonia".

Page 22: Aula   transmissão das obrigações

3. Assim, houve desmembramento dos direitos dos cedentes, tendo ocorrido cessão parcial apenas daqueles

referentes às diferenças entres as ações subscritas, mantidos os direitos de uso dos serviços de telefonia pelos

compradores originários. Portanto, desvinculando-se os serviços de telefonia da pretensão deduzida, não há falar

em incidência dos ditames do código do consumidor e, por conseguinte, das regras conferidas especialmente ao

vulnerável destinatário final. É que a mera cessão dos direitos à participação acionária acabou por afastar

justamente a relação jurídica base - uso do serviço de linha telefônica - que conferia amparo à incidência do

código protetor, por ser o comprador destinatário final dos referidos serviços de telefonia.

4. Ademais, é bem de ver que há condições personalíssimas do cedente que, apesar de não impedirem a cessão,

não serão transferidas ao cessionário caso ele não se encontre na mesma situação pessoal daquele. De fato, a

pessoa do credor, suas qualidades pessoais, muitas vezes possuem tamanha relevância para as condições do

crédito ou para determinado tratamento peculiar que, embora não seja obstáculo para a cessão e troca da

titularidade jurídica, limitará, a certo ponto, a transmissão dos acessórios que estejam diretamente vinculados a

ele, é claro, desde que também não se reflitam como qualidades do cessionário.

Page 23: Aula   transmissão das obrigações

5. No caso, o recorrente ajuizou ação objetivando adimplemento contratual em seu domicílio - Florianópolis, Santa

Catarina - por ser cessionário de milhares de contratos de participação financeira de consumidores de serviços de

telefonia. Ocorre que não há falar em cessão automática da condição personalíssima de hipossuficiente do

consumidor originário ao cessionário para fins de determinação do foro competente para o julgamento. Deverá o

magistrado, isto sim, analisar as qualidades deste para averiguar se o mesmo se encontra na mesma situação

pessoal do cedente. Assim, afastando-se a qualidade de consumidor dos cedentes, principalmente quanto a sua

hipossuficiência - condição personalíssima -, há de se aplicar, no tocante ao cessionário dos contratos de

participação financeira, as regras comuns de definição do foro de competência.

6. A reapreciação da controvérsia, para infirmar a existência de conexão, tal como lançada nas razões do recurso

especial, demandaria o revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado nos termos da

Súmula 7 do STJ. Precedentes.

7. Recurso especial a que se nega provimento.

(REsp 1266388/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe

17/02/2014)

Page 24: Aula   transmissão das obrigações

Salvo disposição em contrário, os acessórios do

crédito acompanham a cessão.

Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão

de um crédito abrangem-se todos os seus

acessórios.

Page 25: Aula   transmissão das obrigações

Faculta ao credor hipotecário a averbação da cessão no registro de imóveis, para que ela se opere em relação a terceiros.

Art. 129 da Lei de Registros Públicos –

Art. 129. Estão sujeitos a registro, no Registro de Títulos e Documentos, para surtir efeitos em relação a terceiros: 1º) os contratos de locação de prédios, sem prejuízo do disposto do artigo 167, I, nº 3;

2º) os documentos decorrentes de depósitos, ou de cauções feitos em garantia de cumprimento de obrigações contratuais, ainda que em separado dos respectivos instrumentos;

3º) as cartas de fiança, em geral, feitas por instrumento particular, seja qual for a natureza do compromisso por elas abonado;4º) os contratos de locação de serviços não atribuídos a outras repartições;

5º) os contratos de compra e venda em prestações, com reserva de domínio ou não, qualquer que seja a forma de que se revistam, os de alienação ou de promessas de venda referentes a bens móveis e os de alienação fiduciária;

6º) todos os documentos de procedência estrangeira, acompanhados das respectivas traduções, para produzirem efeitos em repartições da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer instância, juízo ou tribunal;

7º) as quitações, recibos e contratos de compra e venda de automóveis, bem como o penhor destes, qualquer que seja a forma que revistam;

8º) os atos administrativos expedidos para cumprimento de decisões judiciais, sem trânsito em julgado, pelas quais for determinada a entrega, pelas alfândegas e mesas de renda, de bens e mercadorias procedentes do exterior.

9º) os instrumentos de cessão de direitos e de créditos, de sub-rogação e de dação em pagamento.

Page 26: Aula   transmissão das obrigações

Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar

a cessão no registro do imóvel.

Ex: financiamento imobiliário.

O art. 293 assegura ao cessionário o exercício dos atos conservatórios do

direito cedido, independentemente do conhecimento do devedor.

Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor,

pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido.

Page 27: Aula   transmissão das obrigações

Em caso de várias cessões de um crédito, o devedor não é obrigado a

buscar qual o credor correto, ele pagará a quem lhe apresentar o

crédito(título).

Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que

se completar com a tradição do título do crédito cedido.

Caso o cedido tenha receio da titularidade do crédito, deve ele

consignar o valor em juízo por meio da competente ação de

consignação em pagamento.

Page 28: Aula   transmissão das obrigações

Ao devedor é facultada a possibilidade de alegação de erro ou dolo contra

o cedente, da mesma forma que para o cessionário, visto que o crédito

se transfere com as mesmas características, conforme prevê o art. 294.

Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe

competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter

conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.

No momento da comunicação da cessão, o devedor deverá informar ao

cessionário que tem exceções a opor, sob pena de perder seu direito.

Page 29: Aula   transmissão das obrigações

As responsabilidades das partes são:

Do cedido, pagar a dívida

Do cedente garantir a existência do crédito ao tempo da cessão em

caso de cessão onerosa.

Na cessão gratuita, inexiste obrigação de garantir a existência do

crédito.

O cedente somente garantirá a solvência do devedor se assim se

obrigar expressamente.

Page 30: Aula   transmissão das obrigações

CESSÃO DE DIREITOS. FICA O CEDENTE

RESPONSAVEL PELA EXISTENCIA DO CREDITO,

MAS NÃO, NECESSARIAMENTE, PELA

POSSIBILIDADE PRATICA DE QUE SEJA SATISFEITO.

(REsp 74440/MG, Rel. Ministro EDUARDO RIBEIRO,

TERCEIRA TURMA, julgado em 18/03/1997, DJ

28/04/1997, p. 15862)

Page 31: Aula   transmissão das obrigações

A responsabilidade do cedente se limita a prestar as informações

necessárias ao cessionário para o seu exercício do direito de crédito,

bem como entregar todos os documentos necessários à instrução do

crédito. Dentre as informações estão a existência de bens

penhoráveis do devedor, sob pena de responsabilização do cedente

em perdas e danos.

A partir do ato de cessão, o crédito passa a fazer parte do acervo dos

bens do cessionário, o qual possui direito de exercer medidas de

conservação de seu crédito (art. 293)

Page 32: Aula   transmissão das obrigações

Em caso de cessão parcial, o crédito se fragmenta em dois, sem

qualquer preferência entre cedente e cessionário, cabendo ao

devedor pagar a ambos.

Ex: Contratos de participação financeira (telefonia) e direito de uso de

telefone.

Page 33: Aula   transmissão das obrigações

Conceito:

“Diz-se do negócio jurídico bilateral pelo qual um terceiro, estranho à

relação obrigacional, assume a posição de devedor,

responsabilizando-se pela dívida, sem a extinção da obrigação, que

subsiste com os seus acessórios. Ou seja, é a sucessão a título

singular do pólo passivo da obrigação, permanecendo intacto o

débito originário (...)”

Ricardo Fiuza

Page 34: Aula   transmissão das obrigações

Conceito:

“À transmissão singular de dívidas corresponde o instituto da

assunção de dívida, que consiste no acto pelo qual um terceiro

(assuntor) se vincula perante o credor a efectuar a prestação devida

por outrem. A idéia subjacente é a da transferência da dívida do

antigo para o novo devedor, mantendo-se a relação obrigacional.”

Almeida Costa

Page 35: Aula   transmissão das obrigações

“Na chamada assunção de dívida (denominada cessão de débito por

alguns, denominação esta que realça uma forma de alienação, não

muito clara do fenômeno), a primeira noção a ser enfocada é que ela

não pode ocorrer sem a concordância do credor.”

Venosa

Ao contrário da cessão de crédito, a pessoa do devedor é importante e

como vimos nas obrigações de dar, o credor não é obrigado a aceitar

prestação diversa da acordada, mesmo que mais valiosa.

Page 36: Aula   transmissão das obrigações

Trata-se de transferência de valor patrimonial negativo e como tal, há

necessidade de expressa anuência do credor. O silêncio do credor configura

anuência, é o que nos diz o art. 299.

Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.

Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

Page 37: Aula   transmissão das obrigações

O devedor primitivo poderá permanecer vinculado à obrigação, por opção das

partes, ou escolha do credor. Pode, ainda o contrato originário proibir a assunção

de dívida.

Ex: Aquisição de estabelecimento comercial com cláusula expressa de isenção de

responsabilidade por dívidas e responsabilidades.

A assunção de dívidas é instituto facilitador das relações econômicas, visto que

possibilita o acerto de contas , sem deslocamento de numerário.

Page 38: Aula   transmissão das obrigações

Ex¹: A empresa A deve para B e a C deve para A...

Ex²: Transferência der estabelecimento comercial com assunção de passivo

(Fazendas)

Ex³: Alienação de imóvel com hipoteca com assunção da dívida (saldo remanescente)

Somente será necessária a confecção de escritura pública em caso de entrega de

imóvel em garantia.

Page 39: Aula   transmissão das obrigações

Modalidades:

Cumulativa ou de reforço – o terceiro assume a dívida sem excluir o devedor

primitivo.

Liberatória ou de cumprimento – o terceiro assume inteiramente a posição do

devedor originário, liberando-o.

Page 40: Aula   transmissão das obrigações

A assunção de dívidas ainda se classifica de acordo com os modos de implementação:

Expromissão ou unifigurativa – mediante contrato entre o credor e terceiro;

Nesta forma, o devedor não participa do negócio e a anuência do credor não é condição de

eficácia da transmissão em virtude de a assunção ser pactuada diretamente com o

interessado.

Esta modalidade divide-se, também, em liberatória e cumulativa.

Page 41: Aula   transmissão das obrigações

Delegação ou bifigurativa – mediante contrato entre o devedor e terceiro.

Nesta forma, ainda se separam entre privativa, quando o delegado (terceiro) assume

integralmente o débito em lugar do delegante (devedor originário) e ou simples, quando o

terceiro ingressa na relação sem a demissão do delegante.

Page 42: Aula   transmissão das obrigações

As garantias especiais dadas pelo devedor primitivo ao credor, somente subsistirão se houver concordância

do devedor primitivo e, em alguns casos, também do terceiro que houver prestado a garantia.

Ex: fiança, aval hipoteca de terceiro...

As garantias reais prestadas pelo próprio devedor originário não são atingidas pela assunção, salvo o credor

desista destas.

Page 43: Aula   transmissão das obrigações

Art. 300. Salvo assentimento expresso do

devedor primitivo, consideram-se extintas, a

partir da assunção da dívida, as garantias

especiais por ele originariamente dadas ao

credor.

Page 44: Aula   transmissão das obrigações

O art. 301 do Código Civil estabelece que: Se o contrato de assunção vier

a ser anulado, a obrigação retorna ao devedor originário.

Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o

débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por

terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação.

A assunção se sujeita às hipóteses de invalidade dos negócios jurídicos

em geral (Art. 166 e 171 do CCB)

Page 45: Aula   transmissão das obrigações

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua

validade;

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

Page 46: Aula   transmissão das obrigações

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável

o negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão

ou fraude contra credores.

Page 47: Aula   transmissão das obrigações

A anulação da assunção é diferente da anulação do negócio que gerou a

dívida, pois uma vez anulado o negócio, fica prejudicada a transmissão

por carência de objeto. A anulação da assunção restaura a situação

anteriormente estabelecida, conforme previsão do art. 301.

Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o

débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por

terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação.

Page 48: Aula   transmissão das obrigações

O débito é transferido com as exceções preexistentes, salvo as

pessoais do devedor originário, conforme refere o art. 302.

Pode o novo devedor utilizar-se das defesas pertinentes ao vínculo

obrigacional que lhe fora transmitido, além de suas próprias defesas

pessoais em relação ao credor.

No caso, incide ainda a regra prescrita no art. 281:

Page 49: Aula   transmissão das obrigações

Art. 281. O devedor demandado pode opor ao

credor as exceções que lhe forem pessoais e

as comuns a todos; não lhe aproveitando as

exceções pessoais a outro co-devedor.

Page 50: Aula   transmissão das obrigações

O assuntor poderá invocar nulidade ou anulação do contrato de assunção de

dívida, mas não poderá ele pleitear nulidade da dívida em relação ao credor

por falta de pagamento de contraprestação do devedor primitivo.

Aquele que assume a posição de devedor assume a posição do devedor na

relação obrigacional. Só poderá alegar contra o credor defesas decorrentes

do vínculo anterior, existente entre credor e devedor, não lhe cabendo invocar

as defesas pessoais que derivem das relações existentes entre ele, o novo

devedor, e o primitivo devedor, ou entre este e o credor.

Ex: Vedado direito de compensação do primitivo devedor em relação ao credor.

Page 51: Aula   transmissão das obrigações

Art. 302. O novo devedor não pode opor ao

credor as exceções pessoais que competiam

ao devedor primitivo.

Page 52: Aula   transmissão das obrigações

A assunção de débito garantido por hipoteca submete-se a regra especial, onde o

silêncio do credor resulta em anuência da assunção.

Qualquer das partes poderá notificar o credor, ônus necessário para efetivar a

assunção, pois uma vez comprovada pelo credor a falta de notificação

inviabiliza-se a assunção.

Ex: adquirente de imóvel com hipoteca.

A recusa do credor em aceitar a assunção deverá ser justificada.

Comprovado o pagamento reiterado por terceiros em seu interesse próprio, estes

produzem efeitos equivalentes ao que determina o art. 303.

Page 53: Aula   transmissão das obrigações

Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado

pode tomar a seu cargo o pagamento do

crédito garantido; se o credor, notificado, não

impugnar em trinta dias a transferência do

débito, entender-se-á dado o assentimento.

Page 54: Aula   transmissão das obrigações

Conceito:

“Consiste a cessão da posição contratual na faculdade concedida a

qualquer dos contraentes (cedente), em contratos de prestação

recíprocas, de transmitir a sua inteira posição contratual, isto é, o

complexo unitário constituído pelos créditos e dívidas que para ele

resultarem do contrato, a um terceiro (cessionário), desde que o

outro contraente (cedido) consinta na transmissão.”

Almeida Costa

Page 55: Aula   transmissão das obrigações

Seus requisitos:

Bilateralidade contratual – obrigações e direitos advém de ambas as

partes.

Consentimento do contratante originário.

Este instituto produz duas relações, a contratual originária e a

segunda, contratual com o novo contraente.

Page 56: Aula   transmissão das obrigações

Denomina-se contrato-base o instrumento inicial que faz nascer a

relação. Quando há o ingresso de terceiro em um dos pólos da

relação no contrato-base, há cessão de posição contratual.

O consentimento é imprescindível de modo que o concurso de três

vontades é o que configura a cessão.

Page 57: Aula   transmissão das obrigações

A cessão de posição contratual tem por objeto a substituição de uma

das partes no contrato, que objetivamente continuará o mesmo.

Ex: Quando se transfere a locação de imóvel, não se transferem

apenas os direitos de uso e gozo do bem perante o locador, o

cessionário assume a posição de pagar o aluguel.

Todos os direitos e deveres se transferem.

Page 58: Aula   transmissão das obrigações

ALMEIDA COSTA, Mário Júlio de. Direito das Obrigações – 7ª Edição. Coimbra: Livraria Almedina. 1998.

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