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1 DIREITO CIVIL - Obrigações PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES INTRODUÇÃO O Código Civil de 2002, depois das modalidades das obrigações, disciplina a sua transmissibilidade e, por último, cuida do adimplemento e efeitos das obrigações. No Código de 1916, a cessão de crédito situava-se por último, isto é, após os efeitos das obrigações. No direito romano, a obrigação não se transmitia, salvo por sucessão hereditária. No direito moderno, o vínculo obrigacional deixa de ser pessoal e se transmuda em patrimonial e uma das características dos direitos patrimoniais é justamente a transmissibilidade. TIPOS DE TRANSMISSÃO Há dois tipos de transmissão: a) mortis causa: é regulada pelo direito das sucessões. Pode ser a título universal, quando se defere a herança ao herdeiro; e a título singular, quando se nomeia legatário. b) inter vivos: é regulada pelo direito das obrigações, no capítulo em análise, operando-se sempre a título singular ou particular. CONTEÚDO A transmissibilidade das obrigações compreende o estudo da cessão de crédito, da cessão de débito ou assunção de dívida e da cessão de contrato. CESSÃO DE CRÉDITO CONCEITO A cessão de crédito é o negócio jurídico bilateral, gratuito ou oneroso em que o credor de uma obrigação transfere os seus direitos a outra pessoa, sem extingui-la, independentemente da anuência do devedor. A cessão de crédito é similar à compra e venda. Esta, porém, versa sobre bens corpóreos; ao passo que a cessão tem por objeto o crédito, que é um bem incorpóreo, isto é, imaterial. O credor que realiza a cessão é denominado cedente; o terceiro que adquiriu o crédito é o cessionário; e o devedor, cuja anuência é dispensável, é o cedido. Note-se que o cedido não participa da cessão de crédito. A cessão de crédito pode ser total e parcial. A primeira transfere por crédito inteiro, a segunda, só uma parte. Na cessão parcial, o cedente retém para si uma parte do crédito, e, no silêncio do contrato, nem o cedente nem o cessionário terão direito de preferência no pagamento. O contrato de cessão de crédito é consensual, aperfeiçoando-se com o simples acordo de vontade, independentemente da tradição do documento. Abre-se exceção aos títulos de crédito, cujo contrato de transferência é real, isto é, exige a entrega do referido título. REQUISITOS DE VALIDADE A cessão de crédito, como os demais negócios jurídicos em geral, para ser válida, depende da

Direito Civil - Obrigações (4) -Transmissão Ob

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Direito Civil - Transmissão das obrigações

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    DIREITO CIVIL - Obrigaes PROF. FLVIO MONTEIRO DE BARROS

    TRANSMISSO DAS OBRIGAES INTRODUO O Cdigo Civil de 2002, depois das modalidades das obrigaes, disciplina a sua

    transmissibilidade e, por ltimo, cuida do adimplemento e efeitos das obrigaes. No Cdigo de 1916, a cesso de crdito situava-se por ltimo, isto , aps os efeitos das obrigaes.

    No direito romano, a obrigao no se transmitia, salvo por sucesso hereditria. No direito moderno, o vnculo obrigacional deixa de ser pessoal e se transmuda em patrimonial e uma das caractersticas dos direitos patrimoniais justamente a transmissibilidade.

    TIPOS DE TRANSMISSO H dois tipos de transmisso: a) mortis causa: regulada pelo direito das sucesses. Pode ser a ttulo universal, quando se

    defere a herana ao herdeiro; e a ttulo singular, quando se nomeia legatrio. b) inter vivos: regulada pelo direito das obrigaes, no captulo em anlise, operando-se

    sempre a ttulo singular ou particular. CONTEDO A transmissibilidade das obrigaes compreende o estudo da cesso de crdito, da cesso de

    dbito ou assuno de dvida e da cesso de contrato. CESSO DE CRDITO CONCEITO A cesso de crdito o negcio jurdico bilateral, gratuito ou oneroso em que o credor de

    uma obrigao transfere os seus direitos a outra pessoa, sem extingui-la, independentemente da anuncia do devedor.

    A cesso de crdito similar compra e venda. Esta, porm, versa sobre bens corpreos; ao passo que a cesso tem por objeto o crdito, que um bem incorpreo, isto , imaterial.

    O credor que realiza a cesso denominado cedente; o terceiro que adquiriu o crdito o cessionrio; e o devedor, cuja anuncia dispensvel, o cedido. Note-se que o cedido no participa da cesso de crdito.

    A cesso de crdito pode ser total e parcial. A primeira transfere por crdito inteiro, a segunda, s uma parte.

    Na cesso parcial, o cedente retm para si uma parte do crdito, e, no silncio do contrato, nem o cedente nem o cessionrio tero direito de preferncia no pagamento.

    O contrato de cesso de crdito consensual, aperfeioando-se com o simples acordo de vontade, independentemente da tradio do documento. Abre-se exceo aos ttulos de crdito, cujo contrato de transferncia real, isto , exige a entrega do referido ttulo.

    REQUISITOS DE VALIDADE A cesso de crdito, como os demais negcios jurdicos em geral, para ser vlida, depende da

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    capacidade das partes, da licitude do objeto e da forma legal. O cedente deve ser capaz e legitimado ao ato de alienao, alm de ser o proprietrio do

    crdito. Quanto capacidade, cumpre ressaltar que o falido e o inventariante s podem realizar a

    cesso de crdito mediante autorizao do juiz. Igualmente, os pais e o tutor s podem ceder crdito do menor com autorizao judicial (arts. 1.691, 1.748 e 1.749,III), sendo certo que a aludida cesso jamais poder ser gratuita; a cesso gratuita no pode ser autorizada pelo juiz.

    O cessionrio tambm deve ser capaz. Quanto ao tutor e curador no podem ser cessionrios do pupilo ou curatelado, ainda que haja alvar judicial (art. 1.749,III). Os testamenteiros e administradores no podem adquirir, nem mesmo em hasta pblica, o crdito que est sob sua administrao, salvo em trs situaes (art.498 do CC): cesso entre co-herdeiros, cesso em pagamento de dvida e, por fim, cesso para garantia de bens j pertencentes a essas pessoas.

    Por outro lado, em relao ao objeto da cesso, em regra, pode referir-se a qualquer crdito, conste ou no de um ttulo, ainda que antes do vencimento. Assim, por exemplo, pode ser cedido o direito de obter a reparao do dano por ato ilcito. Igualmente, o crdito tributrio, em, que j haja precatrio. Excepcionalmente, porm, veda-se a cesso de certos crditos. Com efeito, no podem ser cedidos:

    a) os crditos incessveis por natureza. Compreendem os direitos personalssimos, por exemplo, o nome civil, e os crditos de carter assistencial, como, por exemplo, o direito aos alimentos (art. 1.707). A restrio cesso de crdito alimentar, a nosso ver, refere-se apenas ao crdito atual, isto , s prestaes vincendas; nada obsta a cesso das prestaes em atraso, que pode revelar-se vantajosa ao alimentado. Tambm incessvel por natureza, a obrigao de fazer quando infungvel a prestao; os benefcios da justia gratuita; e o crdito atual, a receber do INSS, atinente indenizao por acidente do trabalho, tendo em vista o seu carter assistencial, mas nada obsta a cesso do crdito em atraso, e do crdito a receber do empregador, em razo do acidente laborativo. De fato, nada obsta a cesso do direito de haver indenizao em razo de delito ou ilcito civil, exceo das verbas de carter alimentar.

    b) os crditos incessveis por fora de lei. Exemplos: o direito de preferncia ou preempo (art. 520); o empregado no pode ceder o seu crdito de salrio que tem a receber do empregador (art 462 CLT.), o nome empresarial (art. 1.164), a herana de pessoa viva (art.247 do CC), a obrigao de fazer infungvel, o usufruto (salvo na hiptese do art. 1.393) entre outros.

    c) os crditos incessveis por conveno entre as partes. Essa clusula proibitiva da cesso no poder ser oposta ao cessionrio de boa-f, se no constar do instrumento da obrigao (art. 286).

    Finalmente, no tocante forma, a cesso negcio no-solene, sendo regida pelo princpio da liberdade das formas, aperfeioando-se com o simples consentimento das partes (cedente e cessionrio). Em algumas hipteses, porm, a cesso negcio jurdico solene, exigindo forma especial, tal ocorre, por exemplo, com a cesso de direitos hereditrios e a cesso de crdito hipotecrio, que devem ser realizados por escritura pblica (arts. 1.793 e 289). necessria a autorizao do cnjuge do cedente quando a cesso envolver direitos reais sobre bens imveis.

    EFICCIA PERANTE TERCEIROS Vimos que entre as partes, isto , cedente e cessionrio, a cesso no depende de forma

    especial. Mas, para valer perante terceiros, dispe o art. 288 do Cdigo Civil, urge que a cesso seja

    celebrada por instrumento pblico ou por instrumento particular revestido das formalidades do

    1 do art. 654, sendo certo que o art. 129, n. 9, da Lei n 6.015/73, exige ainda que o instrumento

    seja inscrito no Registro Pblico de Ttulos e Documentos. No entanto, a cesso que envolver

    crdito garantido por hipoteca deve ser averbado no Registro de Imveis. Em suma, a eficcia

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    perante terceiros depende do registro da cesso no Registro Pblico. Tratando-se, porm, de

    cesso legal ou judicial, a eficcia perante terceiro prescinde do registro.

    EFICCIA PERANTE O DEVEDOR

    A cesso do crdito no tem eficcia em relao ao devedor, seno quando a este notificada

    (art. 290, 1 parte), logo em relao ao devedor no preciso o registro da cesso, basta notific-lo.

    A lei no prev prazo para a notificao, que pode ser feita a qualquer tempo, desde que antes do

    pagamento.

    Antes de ter conhecimento da cesso, o devedor pode efetuar o pagamento ao antigo credor

    (cedente), porque a cesso ainda no lhe diz respeito (art. 292). Aps a notificao, o pagamento s

    vlido se for feito ao cessionrio.

    No instante em que notificado, esclarece Slvio Rodrigues, o devedor pode opor, tanto ao

    cedente como ao cessionrio, as excees que lhe competirem; assim sendo, poder alegar que j

    pagou a dvida, que ela se compensou, ou a existncia de vcios, tais como o erro, dolo ou coao.

    Se no o fizer nesse momento, no poder faz-lo mais tarde, porque seu silncio equivale

    anuncia com os termos do negcio e revela seu propsito de pagar ao cessionrio a prestao

    objeto da cedncia. Na verdade, o devedor, ao ser notificado deve comunicar o cessionrio as

    excees pessoais passveis de arguir contra o cedente, sob pena de no poder mais argui-las em

    face do cessionrio. claro que as nulidades absolutas e as excees pessoais contra o cessionrio

    podem ser arguidas a qualquer tempo.

    Conquanto a lei no exija forma especial, recomenda-se que a notificao seja feita por

    escrito, com o intuito de facilitar a sua prova. Acrescente-se, ainda, que a notificao pode ser

    judicial ou extrajudicial, podendo ser feita pelo cedente ou pelo cessionrio.

    Dispensa-se a notificao em quatro hipteses:

    1) quando o devedor declara por escrito, pblico ou particular, que est ciente da cesso

    (art. 290, 2 parte).

    2) ttulos ao portador, isto , transferveis por simples tradio manual.

    3) aes nominativas das sociedades annimas: transfere-se pela inscrio nos livros de

    emisso (art.31, 1, da Lei n 6.404/1976).

    4) ttulos transferveis por endosso.

    Por outro lado, o devedor que notificado de mais de uma cesso, dever efetuar o

    pagamento ao cessionrio que lhe apresentar, alm do ttulo da cesso, o ttulo da obrigao

    cedida (art. 292). Anote-se que o credor no pode ceder o crdito mais de uma vez, mas se o fizer

    valer a cesso feita ao cessionrio a quem se fez a entrega do ttulo (tradio), conforme preceitua

    o art. 291, salvo quando o crdito constar de escritura pblica, pois, nesse caso, prevalecer a

    prioridade da notificao (art. 292, ltima parte), devendo o devedor efetuar o pagamento ao

    cessionrio da primeira notificao.

    Finalmente, no concordamos com Slvio Rodrigues, quando sustenta que a eficcia da cesso

    perante o devedor depende no s da notificao como tambm da transcrio do instrumento no

    Registro, invocando, para tanto, o disposto no art. 288 do Cdigo Civil. Ora, aludido preceito legal

    refere-se a terceiros, e no a devedor; quanto a este ltimo a eficcia depende apenas da sua

    notificao (art. 290). Ressalte-se ainda que a notificao no requisito de validade da cesso,

    mas apenas condio da eficcia perante o devedor.

    EFEITOS DA CESSO

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    A cesso de crdito produz duplo efeito. O primeiro consiste na transferncia do crdito com todas as suas garantias e acessrios. Se,

    por exemplo, o crdito estava guarnecido por uma fiana, esta acompanhar o crdito cedido. Igualmente, se guarnecido por hipoteca, mas, nesse caso, a cesso deve efetivar-se por escritura pblica, cabendo ao cessionrio o nus de averbar a cesso no registro do imvel (art. 289). Acrescente-se ainda que a cesso implica tambm na transferncia do direito de ao referente ao resguardo do respectivo crdito. No penhor, o cedente obrigado a entregar o objeto empenhado ao cessionrio. Assim, os direitos e obrigaes acessrios s no sero transferidos se houver clusula expressa que os exclua.

    O segundo efeito da cesso consiste na obrigao de o cedente responder, perante o cessionrio, pela existncia do crdito poca do negcio. Assim, se o crdito for nulo ou falso, o cedente deve indenizar o cessionrio. Em duas hipteses, porm, o cedente no responde pela existncia da dvida. A primeira diz respeito cesso gratuita, salvo se o cedente proceder de m-f (art. 295, 2 parte); a segunda ocorre na cesso legal, cuja transferncia do crdito opera-se por fora de lei. Essa ltima exceo, que constava no 1.076 do Cdigo de 1916, no foi repetida pelo Cdigo de 2002, mas sua vigncia decorre da lgica, pois o cedente no pode ser responsvel pela transferncia de um crdito que se opera por fora de lei. O cedente, salvo clusula expressa, no responde pela solvncia do devedor.

    CESSO PRO SOLUTO E PRO SOLVENDO Na cesso pro soluto, o cedente responde somente pela existncia do crdito; na pro

    solvendo, o cedente responde pela existncia do crdito e pela solvncia do devedor. No silncio do negcio jurdico, a cesso pro soluto, de modo que o cedente no

    responsvel pelo pagamento da dvida. Nada obsta, porm, a estipulao expressa da clusula pro solvendo, e, nesse caso, o cedente torna-se tambm responsvel pela solvncia do devedor no instante da cesso, distinguindo-se do avalista, pois este responde tambm pela insolvncia do devedor verificada aps o aval. Anote-se, ainda, que, estipulada a clusula pro solvendo, o cedente responde apenas pela importncia que recebeu do cessionrio, com os respectivos juros, e no por todo o valor do crdito, devendo ainda ressarcir o cessionrio das despesas da cesso e com a cobrana (art. 297). Assim, a hiptese difere do devedor solidrio. De fato, na cesso pro solvendo, o cedente s responde at o limite da importncia que recebeu do cessionrio, e, mesmo assim, somente na hiptese de comprovada insolvncia do devedor, no bastando a mera inadimplncia, ao passo que o devedor solidrio pode ser cobrado em primeira mo, sendo responsvel pelo cumprimento integral da prestao.

    Finalmente, cumpre no confundir cesso pro soluto e pro solvendo com pagamento pro soluto e pro solvendo, efetuado com ttulo de crdito. O pagamento pro soluto aquele em que a simples transferncia do ttulo de crdito implica em quitao da dvida, ao passo que no pagamento pro solvendo a quitao s se perfaz com o desconto do ttulo. Assim, o pagamento de aluguel com cheque sem fundo, no sistema pro soluto, suficiente para quitar o dbito, facultando-se ao credor apenas a cobrana do cheque, e no mais do aluguel; no sistema pro solvendo, a quitao depende do desconto do ttulo, remanescendo o dbito do aluguel na hiptese de o cheque no ter fundos. No Brasil, o pagamento com ttulo de crdito pro solvendo, efetuando-se, portanto, sob condio suspensiva.

    CESSO DE CRDITO PENHORADO

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    O crdito, uma vez penhorado, no pode mais ser transferido pelo credor que tiver

    conhecimento da penhora (art. 298, 1 parte). De fato, a cesso do crdito, aps a penhora, configura fraude execuo. Anote-se, porm, que antes da penhora, a cesso ser igualmente ineficaz na hiptese de insolvncia do cedente, configurando-se fraude contra credores ou fraude de execuo; se, porm, o cedente for solvente, a cesso feita antes da penhora plenamente eficaz.

    O devedor, enquanto no notificado da penhora, poder efetuar o pagamento ao credor; mas, aps a notificao, dever consignar o pagamento em juzo, sob pena de ser compelido a pagar de novo.

    ESPCIES DE CESSO DE CRDITO A cesso de crdito pode ser convencional, legal e judicial. A cesso convencional ocorre por acordo entre o cedente e o cessionrio, aplicando-se as

    regras da compra e venda, quando onerosa (art. 498); quando gratuita assemelha-se doao. A cesso legal a que ocorre ipso jure, independentemente de qualquer declarao de

    vontade do cedente. Nessa cesso, o cedente, isto , o credor originrio no responde pela existncia da dvida e muito menos pela solvncia do devedor. So quatro as hipteses de cesso legal. A primeira diz respeito sub-rogao legal, prevista no art. 346. Ora, a nosso ver, sub-rogao diferente de cesso. A segunda compreende a cesso dos acessrios em consequncia da cesso da obrigao principal (art. 287). De fato, salvo disposio em contrrio, na cesso de um crdito abrange-se todos os seus acessrios, como juros, clusula penal, hipoteca, fiana etc. Assim, se a hipoteca ou os juros so nulos, o cedente no tem qualquer responsabilidade. O que importa a validade da obrigao principal. A terceira hiptese de cesso legal encontra-se prevista no art.636 do CC, referentemente ao depositrio que, por fora maior, perdeu a coisa depositada, mas recebeu outra em seu lugar; ele fica obrigado a entregar a segunda coisa ao depositante, e ceder-lhe as aes que no caso tiver contra o terceiro responsvel pela restituio da primeira.

    A ltima verifica-se no contrato de seguro. De acordo com o art. 786 do CC, paga a indenizao, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e aes que competirem ao segurado contra o autor do dano.

    Finalmente, a cesso judicial, tambm chamada de cesso necessria, a que se opera por sentena adjudicatria do crdito em favor do cessionrio na hiptese de recusa do cedente em formalizar a cesso.

    CESSO FIDUCIRIA E CESSO PARA COBRANA Na cesso fiduciria, o cessionrio assume a obrigao de entregar ao cedente o que recebeu

    do devedor. Na cesso para cobrana, o cedente apenas autoriza o cessionrio a cobrar a dvida em seu

    prprio nome. Distingue-se da representao, pois nesta a cobrana feita em nome do prprio

    cedente.

    Anote-se que na cesso para cobrana, o crdito transferido ao cessionrio apenas para fins

    de cobrana, de modo que o crdito passa a ter dois titulares, o cessionrio para o fim de cobrana, e o cedente para outros fins. Diferentemente, na cesso fiduciria, o cessionrio passa a ser o

    titular exclusivo do crdito.

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    CESSO DE CRDITO E NOVAO SUBJETIVA ATIVA

    Na novao subjetiva ativa, o primitivo credor extingue a obrigao com o devedor, em troca deste contrair com outro credor com dbito de igual valor. Exige-se, pois, o consentimento do

    devedor. Verifica-se, portanto, a extino da obrigao anterior em face da constituio de uma nova obrigao. Na cesso de crdito, ao revs, o mesmo crdito que transmitido com todos os

    seus acessrios, independentemente do consentimento do devedor.

    CESSO DE CRDITO E SUB-ROGAO

    Na sub-rogao, o credor originrio satisfeito em razo do pagamento efetuado pelo terceiro. Extingue-se, portanto, a dvida em relao ao credor originrio. Tal ocorre, por exemplo,

    quando o avalista efetua o pagamento do dbito. Note-se que a sub-rogao pressupe pagamento, ao passo que a cesso de crdito ocorre antes da realizao do pagamento. Na cesso

    de crdito, o cedente responsvel pela existncia do crdito ao tempo em que lho cedeu; na sub-

    rogao no h essa responsabilidade. Outra diferena que a cesso de crditos exige a

    notificao ao devedor, o que dispensvel na sub-rogao, que prescinde de qualquer medida de

    publicidade para valer perante terceiros.

    ENDOSSO E CESSO DE CRDITO

    Endosso o ato cambirio que opera a transferncia de um ttulo de crdito ordem. O endosso produz trs efeitos:

    a) transferncia da titularidade do crdito do endossante para o endossatrio; b) o endossante responde pela existncia do ttulo;

    c) o endossante se vincula ao pagamento do ttulo, isto , pela solvncia do devedor, salvo se

    o endosso contiver a clusula sem garantia. Na cesso de crdito, ao revs, o cedente no responde pelo pagamento do ttulo, isto , pela

    solvncia do devedor.

    Enquanto o cedente s responde pela existncia do ttulo perante o cessionrio, o endossante

    responde pela existncia do ttulo perante os demais endossatrios subsequentes.

    A cesso de crdito deve ser comunicada ao devedor; o endosso no. O devedor no pode arguir contra o endossatrio as defesas pessoais atinentes aos outros

    coobrigados do ttulo, por fora do princpio da autonomia e independncia das obrigaes cambiais. Em contrapartida, o devedor pode arguir contra o cessionrio, quando notificado, as defesas pessoais pertinentes ao cedente.

    Finalmente, h dois tipos de endosso, que produzem efeitos de cesso civil de crdito, porque o endossante no responde pela solvncia do devedor. O primeiro o endosso de ttulo no ordem; o segundo o endosso tardio ou pstumo, que o realizado aps o protesto do ttulo ou aps o decurso do prazo do protesto.

    ASSUNO DE DVIDA CONCEITO o negcio jurdico bilateral em que um terceiro assume a responsabilidade pela dvida do

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    devedor, com ou sem o consentimento deste, mas sempre com a anuncia expressa do credor. O Cdigo de 1916 no cogitava expressamente da assuno de dvida ou cesso de dbito,

    que podia, contudo, ser estipulada com base no princpio da liberdade das convenes. O Cdigo atual disciplina a matria nos arts. 299 a 303, que so normas dispositivas e supletivas,

    derrogveis, portanto, pela vontade das partes. DENOMINAO A assuno de dvida tambm denominada cesso de dbito. O Cdigo, acertadamente, rejeitou essa ltima expresso, porquanto no reflete todas as

    hipteses do fenmeno, pois, como veremos, a assuno de dvida pode ocorrer sem a concordncia do devedor.

    A CONCORDNCIA DO CREDOR sempre exigvel, ainda que o novo devedor seja mais abastado. Na ausncia da

    concordncia do credor, no haver assuno de dvida, mas outro tipo de negcio, irrelevante para o credor.

    FORMA Conquanto a forma seja livre, nos crditos incorporados a documentos torna-se impraticvel

    a sua transferncia seno por meio da forma escrita. ESPCIE A assuno de dvida pode verificar-se por delegao e por expromisso. ASSUNO DE DVIDA POR DELEGAO Ocorre quando o devedor transfere o dbito a uma terceira pessoa, mediante consentimento

    do credor. O devedor-cedente o delegante; o terceiro a quem se transferiu o dbito o delegado ou

    assuntor; e o credor o delegatrio. A delegao pode ser: a) privativa ou liberatria: a que libera da obrigao o devedor originrio, recaindo a

    responsabilidade exclusivamente sobre o terceiro, salvo se o terceiro que assumiu a dvida era insolvente e o credor ignorava esse fato (art.299, 2 parte, do CC).

    b) cumulativa ou de reforo ou simples: a que no libera da obrigao o devedor originrio, que continua tambm responsvel pelo pagamento juntamente com o terceiro que assumiu o dbito. Nada obsta que se estabelea o benefcio de ordem, no sentido de o terceiro s responder pelo dbito na hiptese de o devedor deixar de cumprir a obrigao. Tambm possvel a clusula expressa de solidariedade entre o devedor e o terceiro, mas no silncio no h solidariedade, embora ambos possam ter responsabilidade por todo o dbito. Contudo, na solidariedade, o devedor que paga, em regra, tem o direito de regresso; na assuno de dvida cumulativa no haver direito de regresso, diante da falta de solidariedade. O tema, porm, no pacfico, alguns

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    civilistas sustentam a existncia de solidariedade, enquanto outros, como Maria Helena Diniz, preconizam que o antigo devedor no poder ser compelido a pagar seno quando o novo devedor deixar de cumprir a obrigao que assumiu, no havendo, portanto, entre eles nenhum vnculo de solidariedade.

    ASSUNO DE DVIDA POR EXPROMISSO Ocorre quando o terceiro assume espontaneamente a dvida do devedor, mediante anuncia

    do credor. Esse terceiro denominado expromitente. Na expromisso no h a participao do devedor, pois o negcio realizado entre o credor e

    o terceiro, ao passo que na delegao h a interveno do devedor, sendo o negcio realizado entre o devedor e o terceiro, com a aquiescncia do credor.

    A expromisso pode ser: a) liberatria ou privativa: o devedor substitudo pelo expromitente. Ocorre a sucesso do

    dbito, extinguindo-se a obrigao para o primitivo devedor, salvo se o terceiro era insolvente e o credor ignorava essa situao.

    b) cumulativa ou de reforo ou simples: o expromitente entra na relao jurdica como novo devedor, ao lado do devedor originrio. O devedor e o terceiro expromitente passam a ser devedores, podendo o credor cobrar a dvida toda de um ou de outro, sem qualquer benefcio de ordem em favor do expromitente, salvo se houver clusula expressa.

    ASSUNO DE DVIDA NO SILNCIO DO NEGCIO JURDICO Deduz-se do disposto no art. 299 que, no silncio, a delegao e a expromisso so

    liberatrias, porque o devedor primitivo exonera-se da obrigao, que transferida para o terceiro, a no ser que este, ao tempo da assuno, fosse insolvente e o credor o ignorasse. Portanto, se o credor tinha cincia da insolvncia e mesmo assim anuiu cesso, o devedor continua exonerado da obrigao.

    Qualquer das partes, isto , o devedor ou terceiro, pode assinar prazo ao credor para que consinta na assuno da dvida, interpretando-se o seu silncio como recusa (pargrafo nico do art. 299 do CC), salvo na hiptese do art.303, que prev o nico caso de aceitao presumida.

    Por outro lado, na delegao persistem as garantias especiais dadas pelo devedor ao credor, como a hipoteca, a cauo, o penhor etc. Na expromisso, o devedor no participa da cesso, aplicando-se, destarte, o disposto no art. 300: Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assuno da dvida, as garantias especiais por eles originariamente dadas ao credor.

    No tocante s garantias prestadas por terceiro, como a fiana e o aval, extinguem-se a partir da cesso, seja esta realizada por delegao ou por expropriao, no se restaurando sequer com a anulao da cesso, a no ser que o terceiro que havia dado a garantia tivesse cincia do vcio que inquinava a obrigao.

    Por outro lado, o terceiro que assumiu a dvida no pode opor ao credor as excees pessoais que competiam ao devedor primitivo (art. 302 do CC). Assim, o terceiro no poder arguir, por exemplo, a compensao do crdito que o devedor originrio tem perante o credor.

    Finalmente, o adquirente de imvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crdito garantido; se o credor notificado no impugnar em trinta dias a transferncia do dbito, entender-se- dado o assentimento (art. 303 do CC). O dispositivo em apreo cuida de uma hiptese de expromisso, isto , assuno espontnea da dvida, admitindo a anuncia presumida do credor que, diante da

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    notificao, queda-se inerte por trinta dias. ASSUNO DE DVIDA E AS GARANTIAS Dispe o art.300 do CC: Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se

    extintas, a partir da assuno de dvida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor.

    Trata-se de dispositivo polmico que, ao meu ver, deve receber a seguinte interpretao: a) Na delegao, diante do consentimento do devedor, subsistem as garantias especiais

    (exemplos: penhor, hipoteca, cauo, etc) prestadas pelo prprio devedor.

    b) Na expromisso, o devedor no participa da cesso, aplicando-se o art.300 do CC, que prev

    a extino das garantias dadas por ele ao credor.

    A interpretao acima, porm, no pacfica, pois valiosas opinies sustentam que, na assuno de dvida, seja por delegao ou expromisso, as garantias reais prestadas pelo prprio devedor originrio no so atingidas pela assuno e continuam vlidas.

    Quanto s garantias prestadas por terceiro (fiana, aval e hipoteca de terceiro), s subsistiro com o consentimento deste.

    Sobre o assunto, perfeito o Enunciado n 352 do CJF: Salvo expressa concordncia de terceiros, as garantias por eles prestadas se extinguem com a assuno da dvida; j as garantias prestadas pelo devedor primitivo somente so mantidas no caso em que este concorde com a assuno.

    Referentemente s obrigaes acessrias (exemplos: juros, clusula penal etc), so transferidas ao novo devedor, salvo as personalssimas, pois estas so inseparveis da pessoa do devedor.

    ANULAO DA ASSUNO DE DVIDA Dispe o art.301 do CC: Se a substituio do devedor vier a ser anulada, restaura-se o dbito,

    com todas as suas garantias salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vcio que inquinava a obrigao.

    Com a anulao, o negcio jurdico desfeito, volvendo as partes ao status quo ante, como se nunca houvesse existido a assuno de dvida, revigorando o dbito para o primitivo devedor e liberando o terceiro (delegado ou expromitente). Os terceiros que haviam prestado garantia ao devedor primitivo, como o caso dos fiadores e avalistas, e que, diante da assuno de dvida, acabaram liberados da obrigao, continuam desvinculados, salvo se eles tinham cincia do vcio maculatrio da assuno de dvida.

    EXCEES PESSOAIS Dispe o art.302 do CC: O novo devedor no pode opor ao credor as excees pessoais que competiam ao devedor

    primitivo. Assim, o terceiro, ao ser cobrado judicialmente, no poder arguir as excees (defesas)

    pessoais que o antigo devedor teria contra o credor, como, por exemplo, a compensao, nulidade relativa, erro, dolo, coao etc. Pode, no entanto, arguir as excees comuns (exemplos: falsidade do ttulo, nulidade absoluta da obrigao, prescrio etc), outrossim, as excees pessoais suas em

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    relao ao credor (exemplos: compensao, erro, dolo, coao etc). ADQUIRENTE DO IMVEL HIPOTECADO Dispe o art.303 do CC: O adquirente do imvel hipotecado pode tomar a seu cargo o

    pagamento do crdito garantido; se o credor, notificado, no impugnar em trinta dias a transferncia do dbito, entender-se- dado o assentimento.

    O dispositivo em apreo cuida da expromisso, isto , assuno espontnea de dvida, presumindo a anuncia do credor que, diante da notificao do adquirente do bem demonstrando o interesse em pagar, queda-se inerte. Conquanto a lei seja silente, o certo que s se admitir a oposio do credor se a sua recusa for justificada de forma convincente.

    ASSUNO DE DVIDA E FIANA A fiana apresenta as seguintes caractersticas que a distinguem da assuno de dvida. So

    elas: a) O fiador responde por dvida alheia; o assuntor por dvida prpria, pois assume o plo

    passivo na relao jurdica obrigacional; b) A fiana, se no houver clusula expressa de solidariedade, subsidiria, isto , o fiador s

    responde se o devedor no puder cumprir a prestao (benefcio de ordem ou de excusso); o assuntor o devedor principal, e, mesmo na assuno de dvida cumulativa, ele no goza de benefcio de ordem.

    c) O fiador, ao pagar a dvida, sub-roga-se nos direitos do credor; o assuntor no tem direito sub-rogao.

    PROMESSA DE LIBERAO OU ACCOLO OU ASSUNO DE CUMPRIMENTO OU ACOLAO A promessa de liberao ou accolo o negcio jurdico realizado entre o devedor e o terceiro,

    em que este assume a obrigao de pagar a dvida daquele. O negcio realizado entre o devedor e o terceiro, sem qualquer participao do credor, distinguindo-se da assuno de dvida por delegao, que realizada com a anuncia do credor.

    A promessa de liberao no exonera o devedor da obrigao nem autoriza o credor a efetuar a cobrana do terceiro. Com efeito, no h qualquer relao jurdica entre o credor e o terceiro, sendo, pois, vedada qualquer ao daquele contra este, por fora do princpio da relatividade das convenes.

    ASSUNO DE DVIDA E NOVAO SUBJETIVA PASSIVA A novao subjetiva passiva a extino de uma obrigao anterior, e dos seus acessrios,

    em razo da criao de obrigao nova, substituindo-se o devedor. Assim, um novo devedor sucede ao antigo ficando este quite com o credor.

    Pode verificar-se por expromisso, quando realizada sem o consentimento do devedor, ou por delegao, quando h a concordncia do devedor. Em ambas as hipteses, h um acordo entre o credor e o novo devedor.

    A novao subjetiva passiva distingue-se nitidamente da assuno de dvida. Nesta ltima, a dvida anterior no se extingue, subsistindo a mesma obrigao, alterando-se apenas o devedor, ao passo que a novao provoca a extino da obrigao anterior. Na assuno de dvida em que h

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    assentimento expresso do devedor subsistem as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor; na novao, extinguem-se todas essas garantias.

    CESSO DE CONTRATO INTRODUO A cesso de contrato um negcio jurdico inominado, pois no se encontra previsto em lei,

    exceo da Lei n 6.766/1979 (Dispe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e d outras Providncias) que disciplina expressamente o instituto. , no entanto, lcita, fundamentando-se no princpio da autonomia contratual, desde que presentes os requisitos de validade dos negcios jurdicos em geral.

    A cesso de contrato tem sido denominada com as expresses alienao do contrato, venda de contrato, transferncia de contrato e trespasse. Este ltimo termo empregado no art.31 da Lei n 6.766/1979.

    CONCEITO Cesso de contrato a transmisso integral de todos os direitos e obrigaes atinentes

    parte que realizou esta transferncia. Distingue-se da cesso de crdito, pois esta refere-se ao fato de o credor de uma obrigao

    transferir apenas os seus direitos a outra pessoa. Tambm, no se confunde com a assuno de dvida, outrora denominada de cesso de dbito, que o negcio jurdico em que um terceiro assume a responsabilidade pela dvida do devedor.

    De fato, a distino com os institutos acima ntida, pois na cesso de contrato o cessionrio adquire tanto os direitos quanto as obrigaes do cedente, operando-se, na verdade, a substituio de uma das partes, mantendo, na ntegra, todo o contedo contratual.

    O objeto da cesso de contrato o contrato-base, isto , o contrato objeto da transferncia. Por meio da cesso, o contrato pode circular em sua integridade, valorizando-se como direito,

    representando um estmulo sua celebrao. REQUISITOS A cesso de contrato, para ser vlida, precisa observar os seguintes requisitos: a) Capacidade das partes;

    b) Objeto lcito;

    c) Forma legal Deve seguir a mesma forma que a lei prev para o contrato que transferido.

    d) Que o contrato transferido seja bilateral, isto , aquele em que as partes assumem

    obrigaes recprocas, figurando ambas como credoras e devedoras uma em face da outra. De fato,

    s h cesso de contrato quando o cessionrio assumir todos os direitos e obrigaes da parte que

    lho cedeu, e, por isso, o instituto mostra-se incompatvel com os contratos unilaterais, pois nestes

    uma das partes exclusivamente credora enquanto a outra exclusivamente devedora, de modo

    que a cesso realizada pela primeira de crdito e pela segunda de dbito.

    e) Que o contrato bilateral seja transferido antes de concludo. Com o cumprimento integral

    das obrigaes, o contrato se extingue e por consequncia deixa de existir, no podendo mais ser

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    transferido. Se uma das partes j cumpriu integralmente a sua obrigao, assumindo a posio

    exclusiva de credora, a eventual cesso que esta fizer ser de crdito, enquanto que ser de dbito

    a cesso feita pela parte que ainda no cumpriu a sua obrigao, figurando no contrato,

    exclusivamente como devedora.

    f) Que a transferncia consista em se transferir para o cessionrio todos os direitos e

    obrigaes atinentes ao cedente. Eis a marca que a distingue da cesso de crdito e assuno de

    dvida.

    g) Que a obrigao no seja personalssima intuitu personae, pois estas so intransmissveis.

    h) Que haja anuncia, prvia ou posterior, do credor, isto , do cedido. Esta anuncia

    sempre necessria na assuno de dvida, mas como a cesso de contrato implica necessariamente

    em cesso de crdito e assuno de dvida (cesso de dbito) torna-se de rigor o consentimento do

    credor, sem o qual o negcio ser-lhe- inexistente, ou para alguns autores nulo, por fora do

    princpio da relatividade dos contratos. Note-se, porm, que a despeito da falta de consentimento

    do cedido, o negcio ser valido entre o cedente e o cessionrio, tendo em vista o princpio da

    autonomia contratual. Tratando-se, porm, de compromisso de compra e venda de imvel loteado,

    no h necessidade da anuncia do loteador (Lei n 6.766/1979), que o cedido.

    EFEITOS A cesso de contrato produz os seguintes efeitos: a) Alterao de uma das partes da relao contratual. Um terceiro assume o lugar do cedente,

    tornando-se parte com todos os direitos e obrigaes que quele assistia.

    b) Subsistncia integral do contedo do contrato que foi cedido.

    c) Exonerao do cedente do liame obrigacional. Com efeito, na cesso de crdito, o cedente

    no responde pelo pagamento, isto , pela solvncia do devedor (art. 296 do CC). E, por isso, aplica-

    se este mesmo raciocnio cesso de contrato, no tocante ao crdito cedido. Quanto ao dbito

    cedido, aplica-se, no silncio do contrato, o art.299 do CC, extinguindo-se igualmente a obrigao

    para o cedente. claro que a cesso de contrato poder manter a responsabilidade do cedente,

    mas para tanto h necessidade de clusula expressa prevendo a solidariedade ou benefcio de

    ordem.

    No compromisso de compra e venda de imvel loteado, a cesso prescinde da anuncia do cedido, isto , do loteador, mas enquanto este no for comunicado por escrito, da cesso, o cedente (promissrio-comprador) continua responsvel pelo pagamento, liberando-se, porm, aps cientificar, por escrito, o loteador (cedido).

    Sobre a estipulao de clusula vedando a cesso contratual, a civilista Maria Helena Diniz ensina que, diante dessa clusula, a cesso no pode realizar-se.

    Penso que esta clusula proibitiva deve ser reputada nula de pleno direito, porque afronta o princpio da liberdade de disposio dos bens e direitos, restringindo ainda o direito de propriedade e liberdade de contratar.

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    PERGUNTAS:

    1) Quais os tipos de transmisso da obrigao? 2) O que cesso de crdito? 3) Quais os nomes das partes envolvidas na cesso de crdito? 4) Qual a distino entre cesso de crdito e compra e venda? 5) Quando h necessidade de autorizao judicial para a realizao da cesso de crdito? 6) Quais os crditos que no podem ser cedidos? 7) A clusula proibitiva da cesso de crdito pode ser oposta a terceiro? 8) Qual o requisito necessrio para a cesso de crdito ter eficcia perante terceiros? 9) Qual o requisito necessrio para a cesso de crdito ter eficcia perante o devedor? 10) Em que hipteses dispensa-se a notificao do devedor? 11) O devedor que notificado de mais de uma cesso, dever efetuar o pagamento a quem? 12) Quais os efeitos da cesso de crdito? 13) Em que hipteses o cedente no responde pela existncia da dvida? 14) O que cesso pro soluto? 15) O que cesso pro solvendo? 16) O que pagamento pro soluto? 17) O que pagamento pro solvendo? 18) O crdito penhorado pode ser cedido? 19) Quais as espcies de cesso de crdito? 20) O que cesso convencional? 21) O que cesso legal? 22) O que cesso judicial ou necessria? 23) O que cesso fiduciria? 24) O que cesso para cobrana e como se distingue da representao e da cesso fiduciria? 25) Qual a distino entre cesso de crdito e novao subjetiva ativa? 26) Qual a distino entre cesso de crdito e sub-rogao? 27) O que endosso e quais os seus efeitos? 28) Qual a distino entre endosso e cesso de crdito? 29) Quando o endosso produz efeitos de cesso de crdito? 30) O que assuno de dvida? 31) A assuno de dvida um negcio de forma livre? 32) Quais as espcies de assuno de dvida? 33) Qual a distino entre delegao e expromisso? 34) Qual a distino entre delegao privativa e cumulativa? 35) Qual a distino entre expromisso liberatria e cumulativa? 36) As garantias persistem na delegao e expromisso? 37) O que promessa de liberao? 38) Qual a distino entre assuno de dvida e novao subjetiva passiva? 39) Qual a diferena entre cesso de contrato, cesso de crdito e assuno de dvida? 40) Quais os requisitos da cesso de contrato? 41) Quais os efeitos da cesso de contrato?