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GOIÂNIA GOIÁS PROJETO “SER UM MANO” Jóquei Clube de Goiás / Prefeitura de Goiânia Secretaria Municipal de Cultura É necessária uma reforma educacional radical para que o conhecimento, o aprendizado e o saber sejam valorizados em si mesmos e para que o ócio, a diversão e o lazer substituam o trabalho como atividades dignificantes.” Bertrand Russel OUTUBRO, 2007

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GOIÂNIA – GOIÁS

PROJETO “SER UM MANO”

Jóquei Clube de Goiás / Prefeitura de Goiânia

Secretaria Municipal de Cultura

“É necessária uma reforma educacional radical para que o conhecimento, o aprendizado e o saber sejam valorizados em si mesmos e para que o ócio, a diversão e o lazer substituam o trabalho como

atividades dignificantes.” Bertrand Russel

OUTUBRO, 2007

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Introdução

A mudança no mundo do trabalho e nas relações sociais nos remete reconstruir

os paradigmas do mundo de hoje, que possui novos riscos sociais, causados pelo

principal agente regulador da atual sociedade: o mercado. O novo mundo do trabalho e

de organização social, que passou pelo coletivismo, escravismo, feudalismo e

industrialismo, agora, na era da cibernética nos traz uma nova civilização, com novos

riscos, que se somam a riscos sociais bastante antigos, advindos do enfraquecimento da

sociedade salarial, com a precarização do trabalho e a pauperização da vida. É

constatação comum que, no mundo de hoje, o progresso intelecto-científico deu passos

gigantescos em comparação com o progresso moral.

O aumento populacional intensifica o número de casos de violência,

toxicomanias, depressão, egocentrismo, diante da perda de valores humanos essenciais,

em uma sociedade fútil, cheia de valores efêmeros e sem preocupação com a saúde e

com a vida. A alienação sobre si e sobre o mundo, contamina e sufoca a vida cotidiana.

A sedução permanente do prático, do pragmático, do mágico, do ilusório, se

confunde com a falta de recursos e de oportunidades de lazer em nosso sistema sócio-

econômico elitista, excludente e desequilibrado onde se percebe uma sociedade com

certo estado cultural patológico, em que se menospreza a ética, se desvaloriza os afetos

e se promove a alienação, a passividade e a virtualidade. O setor privado, que investe

em lazer, não se preocupa com os efeitos do que oferece e trabalha 24 horas por dia.

Compreendendo a cultura enquanto elemento integrante e integrador da

sociedade, faz-se necessário aqui, compreende-la não reduzida às expressões artísticas,

de acordo com a declaração da UNESCO, preconizando, em 1982, na Conferência

Mundial sobre Políticas Culturais, o Mondiacult, que se criem “abordagens políticas

que enfatizem um conceito amplo, mais antropológico de cultura, que inclua não apenas

as artes e as letras, mas também os modos de vida, os direitos humanos, os costumes e

as crenças; e ainda, que se considerem a interdependência das políticas nos campos da

cultura, da educação, das ciências e da comunicação”.

Agnes Heller cita os cinco atributos (a partir de Marx) que definem a essência

humana: o trabalho, a sociabilidade, a universalidade, a consciência e a liberdade. Esses

tributos estão em potência, são possibilidades que queremos trabalhar neste Projeto, a

partir da máxima “Mente sã em corpo são”.

“Eu acho que se trabalha demais no mundo de hoje, que a crença nas virtudes do trabalho produz

males sem conta e que nos modernos países industriais é preciso lutar por algo totalmente diferente do que sempre se apregoou.”

Bertand Russel

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Desenvolvimento

Vivemos em uma dinâmica urbana perversa, em um capitalismo tão selvagem

que quase sempre se esquece que quando as pessoas estão estressadas dificilmente

conseguem render o máximo de sua capacidade, em uma sociedade com frágeis relações

de amizade, solidariedade e cultura e ainda, com alto grau de desgaste físico e mental

em sua população.

A superação do individualismo, da falta de solidariedade e de consciência

coletiva, passa a ser um problema, um desafio político que tem a ver com o

enfrentamento da deserção do social e do esvaziamento das instituições. Para alguns

estudiosos, a videodependência é responsável por doenças mentais e problemas sociais

como a violência, a criminalidade, o consumo abusivo de drogas e os suicídios.

Buscar um pensamento inovador, capaz de oferecer motivação e esperança para

uma relação com a vida no mais largo sentido, com a natureza, o meio ambiente, na

perspectiva da garantia de direitos e de exercício de cidadania, requer ousadia e políticas

públicas que permitam a realização de se ser humano, que promovam o

desenvolvimento de talentos e habilidades pessoais únicas, que ampliem a socialização

da cultura e do saber, que façam a interseção entre a história e o futuro.

Antônio Gramsci, intelectual italiano, apregoou que junto às batalhas

econômicas e políticas, a batalha cultural proporcionaria a sociedade justa pela qual os

libertários sonhavam, e que viria com a emergência do Ser total.

Neste Projeto, busca-se a construção de uma visão de mundo comum com um

conjunto de aspirações, sentimentos e idéias comuns em um universo intersubjetivo de

crenças e valores, através de uma metodologia atrativa, capaz de liberar energias,

aprimorar capacidades e talentos e substituir programas sócio-educativos arcaicos, que

frustram a criatividade, minam as energias e ignoram os resultados. As principais falhas

parecem ter a ver com os meios, não com os objetivos.

Educar para os bons hábitos de saúde, para a consciência ambiental, para a paz,

em um ambiente de complementaridade entre as pessoas, fazendo as conexões entre o

que é existência e subsistência, entre objetivo e subjetivo, singular e coletivo, local e

global, igual e diferente, indivíduo e cidadão, parte e todo, requer uma linguagem que

crie significações através da combinação de elementos da autopercepção do indivíduo

no mundo, e que alterem, inclusive, padrões de consumo e produção, para uma vida

sustentável.

Daí o desenvolvimento de clubes e grupos com atividades como teatro, música,

artes plásticas, acampamentos, viagens, passeios, gincanas, festas, visitas a instituições

públicas diversas, concursos, seminários e oficinas, por exemplo, que deverão fazer

parte desta proposta que pretende criar um Ser mais pleno de sentido, percebendo que a

pobreza não é algo apenas material, e que a rede de proteção social que precisa ser

construída, deverá atender não só às necessidades naturais ou primárias do ser humano,

mas também às necessidades voltadas ao prazer, às necessidades sociais e às

necessidades políticas, em um olhar integral. Embora nos Clubes, seja observada a

idade do membro, nas atividades dos grupos, deverão se misturar os diversos Clubes,

por opção de atividade e não por idade, sexo etc.

Buscar na arte, um recurso para a transformação social aqui, é percebê-la

enquanto processo transformador de idéias, percepções, sentimentos. Capaz de produzir

bens subjetivos junto a um povo com a identidade ameaçada por espaços sócio-

educativos sem plenitude democrática, com abordagens fragmentadas, nos moldes do

neoliberalismo que produziu programas sociais seletivos e focalizados em parcelas das

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demandas sociais e compreendendo como situações de risco e de vulnerabilidade,

apenas aquelas em que se envolve o baixo poder aquisitivo e o desemprego.

Esta proposta é uma ação preventiva, educativa, multiprofissional, com

condições de se desenvolver através de parceria, no Jóquei Clube de Goiás, que está

com uma proposta de “Rehumanização” (em anexo) que contém as atividades aqui

citadas.

Serão necessários, além de arte-educadores, profissionais da educação física, da

fisioterapia, da terapia ocupacional, da sociologia, da filosofia, da nutrição, da

enfermagem, da assistência social, da medicina e da pedagogia por exemplo.

“As diversões das modernas populações urbanas tendem a ser cada vez mais passivas e coletivas,

consistindo na observação inativa das habilidades dos outros”.

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Conclusão

Esta ação, que será desenvolvida estrategicamente a partir da classe média,

poderá alterar a projeção de futuro de pessoas sem esperanças, desmotivadas, com baixa

auto-estima. Talvez de criança ou jovem ainda em período de formação ou de pessoa

adulta que desaprendeu o uso da fala ou que nunca usou de senso crítico.

Pretende-se aqui, através do resgate de hábitos como bater papo, ler, praticar um

esporte, pintar, dançar, cantar, um resultado objetivo no plano social, com avaliação

contínua, sem ativismo nem verbalismo, que denote uma democracia progressiva,

consistentemente percebida em sua dimensão teórica, política e técnica, sabendo-se que

a prática social é essencialmente histórica e que não se revela em sua imediaticidade. As

práticas como um acampamento, uma viagem ao interior de Goiás, ou assistir e

comentar um filme, ou ser voluntário de algum grupo de produção ou animação,

participar de um seminário, de uma oficina de argila ou de discussão temática entre

outras, são meios, não atividades fins. São meios de despertar nas pessoas envolvidas, a

cultura do amor à vida, da paz, da saúde, da consciência coletiva.

“Quando acaba o sonho e a utopia vem o desespero, a angústia...”.

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Bibliografia

Jornais diários: Diário da Manhã e O Popular

Cotidiano: Conhecimento e Crítica. José Paulo Netto e Maria do Carmo Falcão. Ed.

Cortez.

Desenvolvimento de Comunidade e Participação, Maria Luiza de Souza. Ed. Cortez.

Gramsci – Um Estudo Sobre Seu Pensamento Político. Carlos Nelson Coutinho. Ed.

Campus.

O Elogio ao Ócio. Bertrand Russel. Editora Sextante.

Os Intelectuais e o Poder. Norberto Bobbio. Ed. Unesp

O Princípio de Autodeterminação no Serviço Social: Visão Fenomenológica, Ana Maria

Braz Pavão. Ed. Cortez.

O que é Poder Local. Ladislau Dowbor. Ed. Brasiliense

O que é Pós-Moderno. Jair Ferreira dos Santos. Ed. Brasiliense.

ALEXANDRA MACHADO COSTA – ASSISTENTE SOCIAL

GOIÂNIA, 09 DE OUTUBRO, 2007