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Último Segundo Economia Esportes Gente Delas iGay Deles Entretenimenro Redes Sociais Compartilhe Expressões do cárcere julho 18, 2013 16:09 Compartilhar 0 Tweetar 0 Projeto realizado no Rio Grande do Sul mostra que trabalhar de fato com a ressocialização dos presos não é uma aposta perdida Texto e fotos por Nina Fideles Esta matéria faz parte da edição 122 da Fórum, compre aqui. Câmeras na mão, depoimentos, máquinas fotográficas, poses e muitas ideias para jogar na internet. Esse cenário se repete uma vez por semana na Galeria E1, tida como modelo no Presídio Central de Porto Alegre (RS), e tem muito mais importância do que pode parecer. Na contramão do que grande parte da população acredita que deva ser o tratamento dado aos presidiários, Carmela Grune, advogada, jornalista e coordenadora do projeto Direito no Cárcere, pensa e faz diferente. Com cerca de 60 detentos da galeria, para onde são encaminhadas as pessoas com problemas de drogadicção, o projeto pretende, por meio do trabalho com as memórias e com o direito de expressão, que eles cumpram pena com dignidade e possam voltar para o convívio social com trabalho e inclusão. De acordo com Carmela, “muitas pessoas querem apagar crimes que ocorreram na história da humanidade, mas como podemos aprender para não cometêlos novamente? O fato de abrirmos o diálogo, de dentro para fora da prisão, permite discutir o sentido da pena”, defende. Ela ressalta ainda que o fato de o Brasil ter uma das maiores populações carcerárias do mundo é reflexo de uma cultura que prefere excluir, e não incluir, com um pensamento de que violência se combate com violência. Desde 2011, com apoio da Superintendência de Serviços Penitenciários (SusepeRS), Ministério Público e Brigada Militar, o projeto utiliza diversas ferramentas, divulga artigos, poesias e músicas, além de realizar mutirões de pintura, oficinas de música, debates e intervenções. Tudo isso configura o que acontece lá dentro como algo inédito e o que poderíamos chamar de primeira plataforma de expressão de detentos em regime fechado no Brasil. Obviamente, não é fácil manter isso. Ainda existem preconceitos e desafios a serem superados. 1 Curtir Fórum Semanal Publicidade Tipo de curso desejado: Qual é a sua área de inter Selecionar Qual é a sua escolaridade Selecionar CEP Encontre o curso ide A distância Últimas notícias Joaquim Barb redução da m 17:42, 1.jul 2 Novo texto pa maioridade p hoje; PT e PCd 17:03, 1.jul 2 Ações na Just mandato de B 16:40, 1.jul 2 Após mais de vão reabrir em 15:16, 1.jul 2 Cunha segura investigação diz jornal Sobre a revista Equipe Contato Apoiadores Buscar Home Brasil Global Política Movimentos Direitos Ambiente Comunicação Cultura Mulher LGBT TV Fórum Notícias Edições

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julho 18, 2013 16:09

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Projeto realizado no Rio Grande do Sul mostra que trabalhar de fato com a ressocialização dos presos não é uma aposta perdida

Texto e fotos por Nina Fideles

Esta matéria faz parte da edição 122 da Fórum, compre aqui.

Câmeras na mão, depoimentos, máquinas fotográficas,poses e muitas ideias para jogar na internet. Esse cenário serepete uma vez por semana na Galeria E1, tida como modelono Presídio Central de Porto Alegre (RS), e tem muito maisimportância do que pode parecer. Na contramão do quegrande parte da população acredita que deva ser otratamento dado aos presidiários, Carmela Grune, advogada,jornalista e coordenadora do projeto Direito no Cárcere,pensa e faz diferente. Com cerca de 60 detentos da galeria,para onde são encaminhadas as pessoas com problemas dedrogadicção, o projeto pretende, por meio do trabalho com asmemórias e com o direito de expressão, que eles cumprampena com dignidade e possam voltar para o convívio socialcom trabalho e inclusão.

De acordo com Carmela, “muitas pessoas querem apagar crimes que ocorreram na história da humanidade, mas como podemos aprender para nãocometê­los novamente? O fato de abrirmos o diálogo, de dentro para fora da prisão, permite discutir o sentido da pena”, defende. Ela ressalta aindaque o fato de o Brasil ter uma das maiores populações carcerárias do mundo é reflexo de uma cultura que prefere excluir, e não incluir, com umpensamento de que violência se combate com violência.

Desde 2011, com apoio da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe­RS), Ministério Público e Brigada Militar, o projeto utiliza diversasferramentas, divulga artigos, poesias e músicas, além de realizar mutirões de pintura, oficinas de música, debates e intervenções. Tudo issoconfigura o que acontece lá dentro como algo inédito e o que poderíamos chamar de primeira plataforma de expressão de detentos em regimefechado no Brasil. Obviamente, não é fácil manter isso. Ainda existem preconceitos e desafios a serem superados.

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Para dar início ao projeto, Carmela visitou por mais de seis meses o vice­diretor do presídio, para sensibilizar a direção sobre o trabalhoapresentado e ganhar a confiança de todos os envolvidos. A jornalista conta que teve de mostrar que os detentos “são pessoas capazes, quepodem repensar o caminho das próprias vidas, as escolhas profissionais e resgatar sonhos”. “Enquanto a grande maioria da população acha quetem de excluir, penalizar, congelar o tempo, porque todo detento é uma pessoa perigosa, eu queria mostrar que é possível fazer com que elesdesenvolvam atividades que gerem outra cultura do cárcere, por meio da expressão. Fazer com que essas experiências sejam compartilhadas;caso contrário, a gente vai continuar andando em círculos”, acredita.

A democrática redeEm menos de um ano, mais de 30 mil exibições foram feitas do conteúdodisponibilizado na internet. E, por meio dela, foram feitas doações de sapatos,camisetas, livros, instrumentos musicais, tinta e outros materiais para asatividades realizadas na galeria. Mas não só isso. Lá, há acesso aosdepoimentos dos detentos, trechos do cotidiano, campanhas. É uma forma desaber o que acontece ali e a real situação das pessoas que se encontramdetidas. Seus dramas, histórias, desafios.

Para Leandro*, um dos presos que participa do projeto, “a tecnologia está muitoavançada. Há alguns anos, o pobre não tinha acesso a câmeras, computadoresetc. Hoje, a gente tem a possibilidade de conhecer melhor os equipamentos. Éum momento para se expressar e poder mostrar para a sociedade, através dascâmeras, que não somos monstros, como eles acham que nós somos. Somos seres humanos, temos sentimentos”.

Podemos dizer que são pouquíssimos os projetos no Brasil que fazem a reflexão sobre a utilização dessas ferramentas para o avanço doprocesso de ressocialização proposto pelo sistema penitenciário. Além das dificuldades burocráticas de entrada de equipamentos, o primeiroempecilho é a aprovação do projeto, a permissão de entrada nas unidades prisionais e apoio financeiro. Até hoje, depois de quase dois anos,Carmela não recebeu nenhum retorno do Sistema Nacional de Justiça (SNJ), colocando­se à disposição para o andamento das atividades. Elaconta que a burocracia faz com que um bom projeto ande a passos lentos ou demore muito para acontecer, ficando na gaveta e caindo noesquecimento.

Para Sidinei Jose Brzuska, juiz da Fiscalização dos Presídios da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre e da Região Metropolitana,a maior dificuldade para que o Estado aplique outros projetos como esse é a forma como a Administração Pública enxerga a questão e a falta deenvolvimento de setores da sociedade civil com o sistema prisional. “Trata­se de um divórcio de difícil reconciliação. A sociedade civil organizada,de um modo geral, quer distância das prisões, por acreditar que deva ficar afastada da marginalidade, com o pensamento de que a prisão devacaracterizar­se por sofrimento, pura e simplesmente. E o Estado também costuma impor barreiras burocráticas quando alguém quer ajudar. Sente­se cobrado, mais fiscalizado. Os agentes precisam trabalhar mais”, conclui.

Tanto a experiência do projeto quanto a presença atuante de Carmela dentro da Galeria transcenderam as paredes do presídio. É o caso deCaroline Duarte, que, tendo seu marido preso, se inspirou no blogue da jornalista, chamado Direito no Cárcere(http://direitonocarcere.blogspot.com.br/) e criou também seu espaço virtual, intitulado Amor no Cárcere. Com esta iniciativa, recebeu muito apoio eencarou o desafio de lutar pela liberdade do companheiro, que hoje se encontra em regime semiaberto, após um ano e oito meses na Galeria E1.Ela passou a escrever os documentos necessários, inclusive habeas corpus, para apresentar à Justiça. Usou também a rede social com opseudônimo de Maria Esperança, se servindo do exemplo da assistente social Maria Tavares, gaúcha que ficou conhecida por criar o ServiçoSocial Penitenciário, em 1952, e a Instituição Patronato Lima Drummond, que abriga pessoas que cumprem pena em regime aberto e semiaberto.

Para Caroline, o projeto mudou bastante a vida do marido. “Eu ficava muito tranquila sabendo que ele estava participando, bem amparado, comacompanhamento médico e psicológico, cumprindo as regras exigidas e em um lugar de melhor convivência entre eles. Nas outras galerias dopresídio, é um nojo”, destaca.

Homeostase socioculturalTodo esse processo, baseado no desenvolvimento das expressões individuais, não é empírico, ou parte da boa vontade das pessoas envolvidas.O conceito de “homeostase sociocultural”, do neurocientista Antônio Damásio, explica um pouco do projeto. Homeostase é, primeiramente, umtermo da Biologia, que representa o equilíbrio de um sistema fechado para manter a sua condição orgânica estável. Mas a terminologia é utilizadaem outras esferas do conhecimento, para explicitar o equilíbrio e a interdependência de elementos em um mesmo organismo para um fim comum:a saúde, psíquica ou emocional, e a manutenção de um ambiente. Para Damásio, possuímos dois modelos de homeostase. A básica, consideradainconsciente, e a sociocultural, consciente e reflexiva. Ambas agem pela sobrevivência, mas a última age deliberadamente em busca do bem­estar, por meio do processo de desenvolvimento que a própria consciência gerou ao longo da história da humanidade, da linguagem, raciocínio,criatividade, ou seja, expressões culturais arraigadas ou não.

Baseando­se nisso, o projeto envolve as diversas formas de expressão cultural para a busca do bem­estar e da recuperação, misturando a relaçãonecessária do Direito, das neurociências e da arte, indo além da tecnologia, mas a utilizando constantemente. “Uma das primeiras coisas que eupedi para a Brigada foi um espelho de meio corpo, para que a pessoa consiga se ver. Enxergar o outro é muito importante, mas devemos nosenxergar primeiro. E isso os estimulou, hoje é tão espontânea a participação com o vídeo que eles pegam a máquina, registram, falam, seautogerenciam”, acredita Carmela.

E na vida de Vanderlei*, um dos participantes do projeto há pouco mais de um ano, as mudanças foram muitas. “Te largam aqui dentro pra cumprira pena e esquecem que tu é um ser humano e que pode sair daqui com a cabeça diferente, com um outro sentido pra vida. Eu redescobri meussentimentos, me redescobri, aprendi a conviver melhor com a minha família, consegui ver o mundo de uma forma diferente. Aprendi a viver denovo, a gostar das pessoas, a sonhar, a amar…”, salienta.

Projetos como esse, segundo o juiz Brzuska, com a participação de pessoas da sociedade interagindo com o sistema, são importantes paradiminuir a distância entre as pessoas privadas da liberdade e a sociedade em geral, para onde um dia os presos irão retornar. “Embora a Lei dasExecuções Penais estabeleça a obrigatoriedade de representantes das associações comerciais e industriais visitarem, mensalmente, osestabelecimentos prisionais, isso raramente ocorre. Como consequência, aumenta­se o fosso existente”, sustenta. F

*Os nomes dos detentos foram preservados.

A passos lentosA população carcerária do Brasil, segundo dados de junho de 2012 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), é de quase 550 mil pessoas. No Rio Grande do Sul, estão aproximadamente 5,5% destas. Com capacidade para 1.984 presos, o Presídio Central de Porto Alegre, o maior do

ὕ 14:42, 1.jul 2015

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estado, abriga hoje mais de 4,5 mil detentos em seis pavilhões. Construído em 1959, tem uma históriamarcada por violações de direitos humanos, com superlotação e péssimo estado de conservação, e foiconsiderado um dos piores do Brasil pela CPI do sistema carcerário, em 2008.

No início deste ano, entidades que integram o Fórum da Questão Penitenciária no estado denunciaramà Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (Cidh) da Organização dos Estados Americanos(OEA) a situação do presídio. São mais de cem páginas, que relatam a falta de saneamento,superlotação, defasagem estrutural e vinte medidas cautelares, entre elas a proibição de ingresso denovos detentos, realocação do excedente populacional e melhoria nas instalações.

Segundo o juiz Brzuska, a realidade do sistema penal gaúcho é estruturalmente precária, compéssimas condições dos prédios e de conservação, número de servidores aquém do necessário esuperlotação. Porém, na área da informatização, há muitos avanços, pois os principais dados dospresos estão na internet e podem ser facilmente acessados. “As decisões judiciais ficam disponíveisinstantaneamente. As comunicações são feitas virtualmente. Em outras palavras, não temosproblemas jurídicos significativos. O impacto do último mutirão feito pelo CNJ no estado foi de apenas0,43% na população carcerária. Essa administração mais positiva tem evitado um descontentamentomaior por parte da massa carcerária”, acredita.

Leia outras matérias desta edição:

Redução da maioridade: ilusão e oportunismo

O domínio da cultura punitiva

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Redes SociaisCompartilhe julho 18, 2013 16:09

TAGS: Fórum 122 Galeria E1 Nina Fideles Presídio Central de Porto Alegre

guiomarexcelente matéria sobre o sistema penitenciário, situação massificante e desumana

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julho 18, 21:16

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