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Água Fria - Justiça barra exoneração servidores

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA BAHIA

FÓRUM DA COMARCA DE IRARÁ

VARA CÍVEL

Praça Tancredo Neves, s/n, CEP 44.255-000

Telefone: (75) 3247-2081 / 2527 / 2209

PROCESSSO: 000805-14.2014.805.0109

D E C I S Ã O

Vistos etc.

Trata-se de MEDIDA CAUTELAR INIBITÓRIA INCIDENTAL À

EXECUÇÃO DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONTUDA COM PED IDO

FORMULADO EM SEDE LIMINAR , formulado pelo Representante do Ministério

Público, em desfavor do MUNICÍPIO DE ÁGUA FRIA/BA , representado pelo Prefeito

Municipal, Sr. EVANGIVALDO DOS SANTOS DESIDÉRIO, na qual, após apresentar

os fatos e fundamentos pertinentes, requer a concessão de tutela inibitória, a fim de

que este juízo de direito determine que o Município de Água Fria/BA se abstenha de

exonerar os 49 (quarenta e nove) servidores públicos municipais nomeados através do

Edital 04/2013, conforme acordado na reunião realizada em 19/12/2013 e encartada

nos autos da execução em apenso.

Pugna, ainda, caso as exonerações já tenham sido realizadas, pela

anulação dos atos administrativos com a reintegração dos servidores aos quadros da

administração municipal.

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Juntou petição e documentos de fls. 08/34 , e DVD com gravações

às fls. 35.

É O RELATÓRIO. DECIDO.

Inicialmente, defiro o pedido de justiça gratuita.

Impende que se verifique, em seguida, se, ante a narração dos fatos,

bem como pela análise das provas produzidas pelo órgão ministerial, estão presentes

os requisitos ensejadores da concessão do provimento liminarmente pleiteado.

De fato, inegável a presença do periculum in mora , uma vez que, comprovou-

se nos autos, através de gravações realizadas pelos servidores municipais que em

reunião convocada pelo Município de Água Fria/BA, os servidores foram informados

que seriam exonerados por mero ato discricionário e ilegal da administração municipal,

conforme expressamente afirmou o Assessor Jurídico Municipal, Sr. HENRIQUE

TANAJURA , ao afirmar expressamente que: “a gente não pode manter vocês na

folha de pagamento por o seguinte, porque agente ta cometendo ilegalidade... A

gente quer falar de alternativas... a gente tá busc ando alternativas de manter as

pessoas por outros tipos de vínculo”.

Diante das afirmações do Sr. advogado que defende os interesses municipais

em juízo, percebe-se que carecem aos representantes jurídicos municipais o

adequado conhecimento das normas jurídicas de direito administrativo, as quais NÃO

permitem a exoneração de servidores públicos concursados, sejam estáveis ou em

ainda em estágio probatório, por mero ato administrativo unilateral, coativo e

impositivo de vontades pessoais do Chefe do Poder Executivo, necessitando, para

tanto, a tramitação de regular e devido processo administrativo em que seja

assegurada a observância dos princípios constitucionais da ampla defesa e do

contraditório, garantias constitucionais a serem aplicadas também aos servidores

concursados.

Tampouco há no mundo jurídico a possibilidade de exoneração de ofício pela

administração pública e permanência dos servidores exonerados como

cooperativados, como pretende o Assessor Jurídico Municipal, Sr. HENRIQUE

TANAJURA, sendo este ato, inclusive, passível de aplicação das sanções de

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improbidade administrativa e eventuais sanções penais aos responsáveis pelos atos

ilícitos, os quais caso sejam efetivados serão punidos com rigor pelo Poder Judiciário,

nos termos da legislação pátria.

A fim de melhor elucidar a questão debatida e conferir esclarecimentos

jurídicos CORRETOS e VERÍDICOS acerca da matéria, segue entendimento

sumulado e decisão da corte máxima de Justiça deste país, SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL, a qual afirma de forma cristalina que a exoneração de servidores públicos

concursados depende de prévio procedimento administativo em que sejam

assegurados o contraditório e a ampla defesa e desde que baseados na legalidade,

senão vejamos:

"SÚMULA 21 - STF: FUNCIONÁRIO EM ESTÁGIO

PROBATÓRIO NÃO PODE SER EXONERADO NEM

DEMITIDO SEM INQUÉRITO OU SEM AS FORMALIDADES

LEGAIS DE APURAÇÃO DE SUA CAPACIDADE".

“EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário.

Servidor público. Exoneração. Procedimento administrativo

prévio. Inexistência. Princípio da ampla defesa e d o

contraditório. Violação. Estabilidade. Discussão. Reexame de

fatos e provas. Impossibilidade. Precedentes. 1. O Tribunal de

Justiça concluiu, com fundamento nos fatos e nas provas dos

autos, que o agravado era estável ao tempo da exoneração e

que o seu desligamento do serviço público se deu sem a

instauração de prévio procedimento em que fossem

asseguradas as garantias do contraditório e da ampla defesa,

motivos pelos quais determinou a reintegração do agravado ao

cargo. 2. Consoante a jurisprudência desta Corte, os atos

da Administração Pública que tiverem o condão de

repercutir sobre a esfera de interesses do cidadão deverão

ser precedidos de prévio procedimento em que se

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assegure ao interessado o efetivo exercício do dire ito ao

contraditório e à ampla defesa. 3. Inadmissível, em recurso

extraordinário, o reexame dos fatos e das provas dos autos.

Incidência da Súmula nº 279 do Supremo Tribunal Federal. 4.

Agravo regimental não provido. (STF - AG.REG. NO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO RE 590964 AL, Data de

publicação: 09/11/2012)”

É prática comum a exoneração de servidor público sem o devido processo

legal, como pretende o Município de Água Fria/BA, ocorrendo muitas vezes

verbalmente, ou através de ato administrativo AD NUTUM, muitas vezes ausente de

qualquer publicação, ferindo, de forma inconteste, vários princípios norteadores da

Administração Pública, afrontando diretamente o art. 37 da Constituição Federal.

Tal ato, não pode ter respaldo no mundo jurídico, de forma a não ecoar seus

reflexos no vínculo criado entre o servidor e a administração. É inconcebível e

totalmente arbitrário exoneração de cargo público sem o devido processo legal, sem

direito ao contraditório e ampla defesa, devendo de imediato ocorrer a reintegração ao

cargo.

O consagrado professor Alexandre de Moraes, por sua vez, ao tratar da

matéria em sua obra Constituição do Brasil Interpretrada e Legislação Constitucional,

pág. 318/319, 7ª ed., Atlas, citando precedente oriundo do STJ, assegura o respeito ao

contraditório e ampla defesa:

"ANULAÇÃO DO ATO DE POSSE DE SERVIDOR PÚBLICO E

CONTRADITÓRIO: STJ - Inegável à administração o poder

revisional de seus atos. Tal poder, no entanto, deve ater-se ao

limite de não atingir direitos de outrem, concedidos pelo próprio

ato revisado. Se empossado servidor, mediante aprovação

em concurso público, só se pode desfazer o ato de p osse

mediante a concessão do contraditório em toda a sua

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amplitude. (STJ - 1ª T. - RMS nº 520/MA - Rel. Min. Pedro

Acioli. Ementário STJ nº 03/014)".

Vejamos outro precedente oriundo do Superior Tribunal de Justiça - STJ, in

verbis:

"Ementa: RECURSO ADMINISTRATIVO EM MANDADO DE

SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO

MUNICIPAL. CONCURSO PÚBLICO. EXONERAÇÃO.

INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E

DO CONTRADITÓRIO. ILEGALIDADE. PRECEDENTES DO

STJ. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

I - Não é lícito ao ente público desconsiderar o at o de

posse e o efetivo exercício das funções por parte d os

impetrantes que, mesmo aprovados em concurso públic o

promovido pela própria Administração Municipal, for am

sumariamente exonerados sem que fosse a esses

garantidos o contraditório e a ampla defesa através de

procedimento administrativo válido.

II - A Administração Pública tem o poder de anular seus

próprios atos, de ofício, quando eivados de ilegalidade,

conforme entendimento consubstanciado no enunciado

sumular nº 473 do Supremo Tribunal Federal. Todavia, a

possibilidade de revisão de seus próprios atos quan do

viciados ou por conveniência e oportunidade não a

autoriza a desconsiderar situações constituídas que

repercutam no âmbito dos interesses individuais dos

administrados sem a observância do devido processo

legal.

III - Este Superior Tribunal de Justiça, ao aprecia r casos

análogos ao presente, consolidou entendimento no se ntido

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de que a exoneração de servidores concursados e

nomeados para cargo efetivo, ainda que em estágio

probatório, deve ser efetuada com observância do de vido

processo legal e do princípio da ampla defesa.

Precedentes.

IV - Agravo interno desprovido".

(AgRg no RMS 21078/AC, STJ, T5, Rel. Min. Gilson Dipp, DJ

de 28/08/2006).

Além disso, vislumbro que a atitude ilegal e unilateral dos mencionados

representantes em “ameaçar” exonerar os servidores públicos concursados

nomeados, viola o princípio da proibição do comportamento contraditório, também

conhecido como “venire contra factum proprium”, haja vista que o Município réu,

através de seu Prefeito, Sr. EVANGIVALDO SANTOS DESIDÉRIO, assinou acordo de

nomeação dos candidatos aprovados no concurso público municipal perante este

Magistrado e o Promotor de Justiça desta Comarca no dia 19 de dezembro de 2013,

na sala de audiência deste Fórum, acordo que foi, inclusive, amplamente divulgado na

mídia falada e escrita nesta Comarca.

Assim, celebrado o acordo e sendo este homologado judicialmente, não cabe,

passados mais de 6 (seis) meses, ao ente municipal pretender descumprir as

cláusulas estabelecidas de nomeação dos aprovados no concurso público.

Por outro lado, o órgão ministerial, através dos fatos narrados, bem

como da documentação acostada a exordial, logrou êxito em comprovar a este Juízo,

numa análise sumária, a presença do fumus boni juris , o que conduz à conclusão de

que deve ser deferido o pleito liminar, destacando-se que conforme documentos e

DVD juntados aos autos comprova-se o alto risco do Prefeito Municipal, Sr.

EVANGIVALDO SANTOS DESIDÉRIO, representante do Município de Água Fria/BA,

exonerar os servidores concursados cujas nomeações o próprio ente municipal se

dispôs a realizar perante este magistrado e o Promotor de Justiça desta Comarca em

audiência judicial, conforme comprova-se através da Ata de Reunião constante às fls.

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153/154 dos autos da Execução do Termo de Ajustamento de Conduta 0001533-

89.2013.805.0109.

Além disso, vislumbro que o Município de Água Fria/ BA não

informou a existência do referido acordo homologado judicialmente nos autos

do Pedido de Suspensão de Liminar 23623-30.2013.8.0 5.0000 endereçada ao

Excelentíssimo Senhor Presidente do Egrégio Tribuna l de Justiça da Bahia, que

determinou a suspensão de decisão liminar que fora revogada com a celebração

do mencionado acordo em 19/12/2013, atuando o ente municipal de forma

desleal e com violação à boa-fé objetiva, fato este grave que será informado ao

Excelentíssimo Senhor Presidente para as medidas ca bíveis.

Por fim, ressalto que ao Tribunal de Contas dos Municípios cabe

apenas emitir parecer apontando eventuais irregularidades encontradas, razão pela

qual não persistem as alegações inverídicas e infundadas do Município ao afirmar que

as exonerações devem ocorrer por determinação do referido órgão, haja vista que no

Parecer 01698-13 NÃO houve análise do mérito do concurso público pelo órgão

referido.

Outrossim, presente o perigo da demora, deve o Poder Judiciário

intervir para assegurar o direito dos candidatos nomeados a permanência nos cargos

públicos

Ante o exposto, evidenciados os requisitos ensejado res da

concessão do provimento liminar, DEFIRO liminarment e a medida cautelar

inibitória requerida pelo Ministério Público, nos t ermos do art. 804 do CPC, e

DETERMINO que o MUNICÍPIO DE ÁGUA FRIA/BA, represen tado pelo Prefeito

Municipal, Sr. EVANGIVALDO DOS SANTOS DESIDÉRIO, se abstenha de

exonerar os 49 (quarenta e nove) servidores público s municipais nomeados

através do Edital 04/2013, conforme acordado na reunião realizada em 19/12/2013 e

encartada nos autos da execução em apenso, e fixo multa pessoal ao Prefeito

Municipal de Água Fria/BA, Sr. EVANGIVALDO DOS SANTOS DESIDÉRIO, no valor

de R$ 100.000,00 (cem mil reais), bem como multa ao ente municipal no valor de R$

200.000,00 (duzentos mil reais), além de responsabilização do Prefeito Municipal de

Água Fria/BA, pelo crime de prevaricação previsto no Código Penal e

responsabilização pela prática de atos de improbidade administrativa, em caso de

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descumprimento da presente determinação judicial, nos termos dos art. 461 e

parágrafos do CPC.

Caso as exonerações já tenham sido realizadas, DETE RMINO a

anulação dos atos administrativos e a reintegração dos servidores aos quadros

da administração municipal, no prazo improrrogável de 48 (quarenta e oito)

horas , sem prejuízo do recebimento de todos os direitos e vantagens pessoais ao

servidores exonerados, a partir dos atos de exoneração, garantindo-se aos mesmos

todos os direitos como se no exercício estivessem. Ultrapassado o prazo referido sem

o cumprimento integral da determinação judicial de anulação dos atos administrativos

e reintegração dos servidores concursados, fixo multa diária de R$ 50.000,00

(cinquenta mil reais) ao ente municipal, bem como multa diária e pessoal ao Prefeito

Municipal de Água Fria/BA, Sr. EVANGIVALDO DOS SANTOS DESIDÉRIO, no valor

de R$ 10.000,00 (dez mil reais), valores estes a serem revertidos em favor dos

concursados prejudicados, além de responsabilização do Prefeito Municipal de Água

Fria/BA, pelo crime de prevaricação previsto no Código Penal e responsabilização pela

prática de atos de improbidade administrativa, em caso de descumprimento da

presente determinação judicial, nos termos dos art. 461 e parágrafos do CPC.

Oficie-se IMEDIATAMENTE ao Excelentíssimo Desembargador

Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça da Bahia, dando-lhe ciência da celebração

do acordo de nomeação dos candidatos aprovados no concurso público municipal

perante este Magistrado e o Promotor de Justiça desta Comarca no dia 19 de

dezembro de 2013, na sala de audiência deste Fórum, remetendo-lhe cópia integral do

presente processo, bem como do acordo constante da Ata de Reunião de fls.

153/154 dos autos da Execução do Termo de Ajustamento de Conduta 0001533-

89.2013.805.0109, pugnando, ao final, pela adoção das medidas que entender

cabíveis, a fim de ser reconsiderada a determinação judicial de suspensão das

nomeações nos autos do Pedido de Suspensão de Liminar 23623-30.2013.8.05.0000,

em razão da celebração do acordo ora mencionado.

Cite-se o demandado, através de seu representante legal, para apresentar

contestação no prazo legal, nos termos do art. 802 do CPC.

Atribuo a esta decisão força de mandado judicial, e m atenção ao

princípio da economia e celeridade.

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Publique-se na íntegra no DJE. Intimem-se, COM URGÊ NCIA.

Irará/BA, 12 de junho de 2014.

RAPHAEL LEITE GUEDES

JUIZ SUBSTITUTO