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INTEIRO TEOR DA DELIBERAÇÃO 84ª SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA CÂMARA REALIZADA EM 16/12/2014 PROCESSO TCE-PE Nº 0990129-2 PRESTAÇÃO DE CONTAS DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE CANHOTINHO, RELATIVA AO EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2008 INTERESSADOS: ÁLVARO PORTO DE BARROS E OUTROS ADVOGADOS: DR. JESSÉ DAVID MARQUES DE MENDONÇA – OAB/PE Nº 26.641- D; DR. EDUARDO LYRA PORTO DE BARROS, OAB/PE Nº 23.468 RELATOR: CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO MARCOS NÓBREGA PRESIDENTE EM EXERCÍCIO: CONSELHEIRO DIRCEU RODOLFO DE MELO JÚNIOR RELATÓRIO Cuidam os autos da Prestação de Contas da Prefeitura Municipal de Canhotinho, referente ao exercício financeiro de 2008, que teve como Chefe do Executivo Municipal à época o Sr. Álvaro Porto de Barros. A equipe técnica juntou seu relatório de auditoria às fls. 2491/2556. Em suas conclusões, consta o seguinte quadro de irregularidades: ITEM IRREGULARIDADE LEGISLAÇÃO INFRINGIDA RESPONSÁVEIS VALOR PASSÍVEL DE DEVOLUÇÃO (R$) 4.1 Ausência de documentos da prestação de contas. Anexo I da Resolução TC nº 19/2008. Álvaro Porto de Barros 0,00 4.2 Ausência de informações obrigatórias nos documentos da prestação de contas. Anexo I da Resolução TC n° 19/2008. Álvaro Porto de Barros 0,00 4.3 Despesas novas contraídas nos 02 (dois) últimos quadrimestres sem recursos financeiros para pagá-las. Artigo 42 da Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Álvaro Porto de Barros 0,00 1

Álvaro Porto tem contas rejeitadas pelo TCE

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INTEIRO TEOR DA DELIBERAÇÃO84ª SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA CÂMARA REALIZADA EM 16/12/2014PROCESSO TCE-PE Nº 0990129-2PRESTAÇÃO DE CONTAS DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE CANHOTINHO, RELATIVA AO EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2008INTERESSADOS: ÁLVARO PORTO DE BARROS E OUTROSADVOGADOS: DR. JESSÉ DAVID MARQUES DE MENDONÇA – OAB/PE Nº 26.641-D; DR. EDUARDO LYRA PORTO DE BARROS, OAB/PE Nº 23.468RELATOR: CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO MARCOS NÓBREGAPRESIDENTE EM EXERCÍCIO: CONSELHEIRO DIRCEU RODOLFO DE MELO JÚNIOR

RELATÓRIOCuidam os autos da Prestação de Contas da Prefeitura

Municipal de Canhotinho, referente ao exercício financeiro de 2008, que teve como Chefe do Executivo Municipal à época o Sr. Álvaro Porto de Barros.

A equipe técnica juntou seu relatório de auditoria às fls. 2491/2556. Em suas conclusões, consta o seguinte quadro de irregularidades:

ITEM IRREGULARIDADELEGISLAÇÃO

INFRINGIDARESPONSÁVEIS

VALOR PASSÍVEL DE DEVOLUÇÃO

(R$)

4.1 Ausência de documentos da prestação de contas.

Anexo I da Resolução TC nº 19/2008. Álvaro Porto de Barros 0,00

4.2Ausência de informações obrigatórias nos documentos da prestação de contas.

Anexo I da Resolução TC n° 19/2008. Álvaro Porto de Barros 0,00

4.3

Despesas novas contraídas nos 02 (dois) últimos quadrimestres sem recursos financeiros para pagá-las.

Artigo 42 da Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal).

Álvaro Porto de Barros 0,00

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ITEM IRREGULARIDADELEGISLAÇÃO

INFRINGIDARESPONSÁVEIS

VALOR PASSÍVEL DE DEVOLUÇÃO

(R$)

4.4 Saldo da conta do FUNDEB com saldo superior ao permitido em lei.

Artigo 21, § 2º, da Lei Federal nº 11.494/2007. Álvaro Porto de Barros 0,00

4.5.1

Não recolhimento integral das contribuições previdenciárias retidas das folhas de pagamento dos servidores vinculados ao RPPS.

Artigo 93, § 6º, da Lei Municipal nº 1.482/2007.

Artigo 40, caput, da Constituição Federal.

Álvaro Porto de Barros 0,00

4.5.2Não contabilização e recolhimento integral da contribuição previdenciária patronal ao RPPS.

Artigo 83 da Lei Federal nº 4.320/1964.

Artigo 93, § 6º, da Lei Municipal nº 1.482/2007.

Artigo 40, caput, da Constituição Federal.

Álvaro Porto de Barros 0,00

4.5.3Não contabilização e recolhimento da contribuição previdenciária patronal complementar ao RPPS.

Artigo 83 da Lei Federal nº 4.320/1964.

Artigo 93, inciso V, § 3º, da Lei Municipal nº 1.482/2007.

Artigo 40, caput, da Constituição Federal.

Álvaro Porto de Barros 0,00

4.5.4

Recolhimento em atraso das contribuições previdenciárias dos servidores vinculados ao RPPS e sem o devido pagamento de multas e juros.

Artigo 93, § 6º e § 7º, da Lei Municipal nº 1.482/2007.

Artigo 40, caput, da Constituição Federal.

Álvaro Porto de Barros 0,00

4.5.5 Não recolhimento integral das Artigo 30, inciso I, Álvaro Porto de Barros 0,00

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ITEM IRREGULARIDADELEGISLAÇÃO

INFRINGIDARESPONSÁVEIS

VALOR PASSÍVEL DE DEVOLUÇÃO

(R$)

contribuições previdenciárias retidas das folhas de pagamento dos segurados vinculados ao RGPS.

alíneas “a” e “b”, da Lei Federal nº 8.212/1998.

4.5.6Não recolhimento integral da contribuição previdenciária patronal para o RGPS

Artigo 30, inciso I, alínea “b”, da Lei Federal nº 8.212/1998.

Álvaro Porto de Barros 0,00

4.6.1

Inexigibilidade fora das hipóteses legais – Contratação bandas musicais e cantores para as festividades de São Sebastião e Carnaval do Município

Artigo 37, caput, da Constituição Federal.

Artigos 3º, 25, inciso III, 26, parágrafo único, inciso III, e 89 da Lei Federal nº 8.666/1993.

Artigo 4º, combinado com o artigo 2º, inciso I, e o artigo 3º, parágrafo único, da Lei Federal nº 6.533/1978.

Álvaro Porto de Barros

Jucicleide Borges da Silva

Maria José Castanha Silva

Elenice Pimentel da Silva

0,00

4.6.2

Inexigibilidade fora das hipóteses legais – Contratação de bandas musicais e cantores para as festividades de emancipação política do Município.

Artigo 37, caput, da Constituição Federal.

Artigos 3º, 25, inciso III, 26, parágrafo único, inciso III, e 89 da Lei Federal nº 8.666/1993.

Artigo 4º, combinado com o artigo 2º, inciso I, e o artigo 3º, parágrafo único, da Lei Federal nº 6.533/1978.

Álvaro Porto de Barros

Jucicleide Borges da Silva

Maria José Castanha Silva

Elenice Pimentel da Silva

0,00

4.6.3 Artigo 37, caput, da Álvaro Porto de Barros 0,00

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ITEM IRREGULARIDADELEGISLAÇÃO

INFRINGIDARESPONSÁVEIS

VALOR PASSÍVEL DE DEVOLUÇÃO

(R$)

Não publicação na imprensa oficial de extratos dos contratos.

Constituição Federal.

Artigo 3º e 61, § 1º, da Lei Federal nº 8.666/1993.

Jucicleide Borges da Silva

Maria José Castanha Silva

Elenice Pimentel da Silva

ITEM IRREGULARIDADELEGISLAÇÃO

INFRINGIDARESPONSÁVEIS

VALOR PASSÍVEL DE DEVOLUÇÃO

(R$)

4.7 Repasse a maior do duodécimo do Poder Legislativo.

Artigo 29-A, caput, inciso I e § 2º, inciso, da Constituição Federal.

Álvaro Porto de Barros0,00

4.8 Inconsistências de informações contábeis.

Artigos 11, § 1º e 2º, e 83 da Lei Federal nº 4.320/1964.

Artigos 2º, inciso IV, 18 e 48 da Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade

Álvaro Porto de Barros

Wilmar Pires Bezerra

0,00

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Fiscal – LRF).

Artigo 37, caput, da Constituição Federal.

4.9.1

Ausência de indicação na Lei Orçamentária do exercício de 2008 dos projetos e atividades vinculados às metas previstas no Plano Municipal de Educação.

Artigo 37, caput, da Constituição Federal.

Álvaro Porto de Barros0,00

4.9.2

Ausência de indicação na Lei Orçamentária do exercício de 2008 dos projetos e atividades vinculados à ampliação de matrículas.

Artigo 37, caput, da Constituição Federal.

Álvaro Porto de Barros0,00

VALOR TOTAL (R$) 0,00

Todos os interessados foram devidamente notificados, conforme se verifica nas fls. 2591 e 5756/5760, entretanto só apresentaram defesa os Srs. Wilmar Pires Bezerra e Álvaro Porto de Barros.

A equipe técnica juntou sua Nota Técnica de Esclarecimento às fls. 5808/5814.

Posteriormente o interessado juntou defesa complementar às fls. 5822/5844, anexando documentos pertinentes à irregularidade relativa ao não recolhimento das contribuições previdenciárias.

Passa-se à análise dos termos do Relatório de Auditoria, das defesas e da Nota Técnica de Esclarecimento para posterior julgamento das irregularidades acima elencadas.

É o relatório.

VOTO DO RELATORPreliminarmente, entendo por afastar a exposição de

comentários em relação a alguns aspectos, ora pelo seu caráter essencialmente formal, ora pela inaplicabilidade de qualquer sanção, no caso a multa prevista no art. 73 da Lei Orgânica desta

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Corte, face ao elástico interstício entre a formalização do processo neste Tribunal e a oportunidade do julgamento. Referem-se à ausência de documentos da Prestação de Contas (item 4.1), ausência de informações obrigatórias nos documentos da Prestação de Contas (item 4.2), inconsistências de informações contábeis (item 4.8), ausência de indicação na Lei Orçamentária do exercício de 2008 dos projetos e atividades vinculados às metas previstas no plano Municipal de Educação e à ampliação de matrículas (itens 4.9.1 e 4.9.2) .

Quanto às irregularidades relevantes para o juízo sobre as contas, temos:

1. Despesas novas contraídas nos 02 (dois) últimos quadrimestres sem recursos financeiros para pagá-las (item 4.3 do relatório de auditoria)

A Prefeitura Municipal de Canhotinho descumpriu o artigo 42 da Lei de Responsabilidade Fiscal ao contrair novas despesas nos dois últimos quadrimestres do mandato do prefeito, no valor de R$ 202.170,00 (duzentos e dois mil, cento e setenta reais), sem que houvesse disponibilidade de caixa para cobri-las, havendo insuficiência financeira no final do exercício, no valor de R$ 1.904.476,30, mesmo antes da inscrição em restos a pagar não processados. Havia ainda, no referido exercício, restos a pagar processados no valor de R$ 1.640.184,22.

A defesa do interessado afirma que a disponibilidade de caixa ao final do exercício financeiro de 2008 era suficiente para cobrir as despesas novas contraídas nos dois últimos quadrimestres, que ficaram em restos a pagar da Prefeitura e do Fundo Municipal de Saúde. Afirmou que a soma dos restos a pagar processados e não processados de 2008 totalizou um montante de R$ 1.059.516,08, e que a disponibilidade de caixa em 31/12/2008 era de R$ 1.722.381,17.

A defesa do interessado não pode ser considerada, haja vista não estar embasada em documentos. Já as informações sobre a insuficiência de caixa e o montante total de restos a pagar apresentadas pela auditoria foram retiradas do Demonstrativo de Disponibilidade de Caixa, elaborado pela própria Prefeitura e encaminhado junto com a prestação de contas às fls. 570.

2. Saldo da conta do FUNDEB com saldo superior ao permitido em lei (item 4.4 do relatório de auditoria)

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Diz o Relatório de Auditoria que a Prefeitura do Município de Canhotinho deixou remanescer um saldo da conta do FUNDEB de 8,85%, maior que o permitido no artigo 21, § 2º, da Lei Federal nº 11.494/2007 que é 5%.

Na defesa, o interessado alega que o percentual correto de saldo desses recursos é de 2,54%, e não de 8,85%, e que tal divergência se deu por falha procedimental na elaboração dos relatórios que compõem a prestação de contas, pois se levou em consideração os empenhos a pagar no período de 01/01 a 30/04/2008, e 01/05/2008 a 31/12/2008, sendo que os restos a pagar vinculados a fonte de recursos FUNDEB já haviam sido pagos quando da emissão dos relatórios, por isso não se classificando mais como empenhos a pagar. Informa que o valor dos restos a pagar processados vinculados ao FUNDEB no exercício de 2008 é de R$ 339.151,04, e não de R$ 33.253,06, fundamentando assim a ausência de irregularidade.

Mais uma vez o interessado apresenta cálculos com novos valores, mas desprovidos de comprovação documental, razão pela qual não merece ser acatada a defesa. No entanto, a irregularidade em comento não é passível de rejeição das contas, cabendo apenas determinação.

3. IRREGULARIDADES NA CONTABILIZAÇÃO E REPASSE DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS PARA O RPPS E O RGPS (ITEM 4.5 DO RELATÓRIO DE AUDITORIA)

A equipe técnica descreveu em seu Relatório de Auditoria uma série de irregularidades por parte da Prefeitura de Canhotinho, referentes à gestão dos Regimes Geral e Próprio de Previdência. As irregularidades apontadas foram:

• Em relação ao RPPS , a Administração Municipal deixou de recolher integralmente as contribuições previdenciárias retidas dos servidores municipais, referentes ao exercício de 2008 e ao anterior. Tal omissão correspondeu ao montante de R$ 295.334,05;• Deixou também de contabilizar e recolher a contribuição patronal referente ao exercício de 2008. As omissões na contabilização e no recolhimento foram nos valores, respectivamente, de R$ 11.111,09 e R$ 123.424,15;

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• Outra irregularidade foi o não recolhimento da contribuição previdenciária patronal complementar estabelecida pela Lei Municipal nº 1.482/2007, em seu artigo 93, inciso V, § 3º, como mecanismo de cobrir eventuais insuficiências financeiras do Regime Próprio de Previdência Social. A omissão na contabilização e recolhimento da contribuição mencionada correspondeu ao montante de R$ 234.622,52, valor calculado com base na alíquota definida para o exercício de 2008 na avaliação atuarial realizada em 2007;• A Administração Municipal recolheu as contribuições, tanto patronais quanto dos segurados, referentes ao período de janeiro a outubro de 2008, em atraso e sem o pagamento de juros e multa;• Quanto ao RGPS , a Administração Municipal deixou de recolher integralmente as contribuições previdenciárias retidas das folhas de pagamento dos funcionários. A omissão correspondeu ao exercício de 2008, e também ao exercício anterior, totalizando R$ 151.822,76. Da mesma maneira, a Administração não recolheu a contribuição patronal, referente ao exercício de 2008, no valor de R$ 101.197,32. O valor devido era de R$ 134.974,69, sendo que apenas R$ 33.777,37 foi recolhido.

Argumenta a defesa que o interessado reconheceu e assumiu todos os débitos previdenciários e anexa cópias da Lei Municipal nº 1.525/2010, que dispõe sobre amortização e parcelamento das dívidas junto ao RPPS, e do Termo de Parcelamento de Dívida Previdenciária entre o Município e o Instituto de Previdência de Canhotinho - IPREC. Quanto à alíquota da contribuição patronal complementar argumenta que só pode ser alterada através de nova lei, de modo que o presidente do Instituto de Previdência do Município não questionou a alíquota adotada no exercício de 2008.

Em defesa complementar, juntada aos autos em 20/11/14, o interessado encaminha uma certidão negativa do Instituto de Previdência narrando que as parcelas do Acordo firmado vem sendo pagas, mas não junta os respectivos comprovantes de pagamento. Em relação à dívida junto ao RGPS, o interessado alega ter havido também parcelamento e anexa documentos emitidos pela RFB. Por fim, aduz que "a jurisprudência desta Corte de Contas relativizou o entendimento, referente a débitos previdenciários, principalmente

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nos exercícios anteriores a edição da Súmula 08 desta Corte ..." e cita a decisão do Processo TC nº 1340077-0.

A defesa do interessado reconhece todas as irregularidades apontadas, no entanto a confissão da dívida e a realização de parcelamento de débitos, apesar de serem medidas para regularizar a situação junto ao RPPS e RGPS não têm o condão de afastar as irregularidades, até porque só foram realizados em 2011.

Ressalte-se que não cabe ao gestor público decidir como alocar os recursos previdenciários, ou seja, sua atuação não está adstrita à discricionariedade administrativa, e sim vinculada ao que dispõe a lei. Não há margem para realização de juízos de conveniência e oportunidade. Considero grave a irregularidade, constituindo motivo suficiente para rejeição das contas. Ao contrário da suposta relativização da questão previdenciária alegada pela defesa, que utilizou apenas a decisão de um único processo (nos quais estavam presentes questões específicas, como a decretação de situação de emergência no município), esta Corte de Contas há muito firmou posicionamento no sentido de não aceitar os desmandos cometidos pelos gestores municipais na administração dos recursos previdenciários, visto que, ao não recolher os valores efetivamente devidos ao Fundo Previdenciário e ao INSS, o gestor compromete o sistema previdenciário, na medida em que, para regularizar a situação junto às entidades competentes, tem que lançar mão de termos de parcelamento de débitos, com a consequente formação do dano aos cofres públicos decorrentes de juros e multas. Corroborando esse entendimento, vejamos os julgados abaixo transcritos:

PROCESSO T.C. Nº 0860044-2 PRESTAÇÃO DE CONTAS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CUMARU (EXERCÍCIO DE 2007) RESPONSÁVEL: Sr. ROOSEVELT GONÇALVES DE LIMA ADVOGADOS: Drs. WALLES HENRIQUE DE OLIVEIRA COUTO – OAB/PE Nº 24.224 E HENRIQUE CÉSAR FREIRE DE OLIVEIRA – OAB/PE Nº 22.508 RELATOR: CONSELHEIRO, EM EXERCÍCIO, LUIZ ARCOVERDE FILHO ÓRGÃO JULGADOR: SEGUNDA CÂMARA DECISÃO T.C. Nº 0414/10 CONSIDERANDO o não recolhimento ao Regime Geral de Previdência Social - RGPS de parte das contribuições previdenciárias descontadas dos servidores vinculados ao Regime, assim como das contribuições descontadas dos prestadores de serviços autônomos e de transporte (item 3.4.2 do Relatório), caracterizando

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possível crime de apropriação indébita previdenciária previsto no artigo 168-A do Código Penal; CONSIDERANDO o não recolhimento ao Regime Geral de Previdência Social - RGPS de parte das contribuições patronais devidas (item 3.4.2 do Relatório); CONSIDERANDO que o reconhecimento da dívida e o parcelamento do débito não elidem a irregularidade, uma vez que geram ônus ao Município, referentes aos juros e multas incidentes e comprometem as gestões futuras ;...Decidiu a Segunda Câmara do Tribunal de Contas do Estado, à unanimidade, em sessão ordinária realizada no dia 15 de abril de 2010, Julgar IRREGULARES as contas do responsável, Sr. Roosevelt Gonçalves de Lima, Ordenador de Despesas no exercício, deixando de aplicar multa por força do § 6º do artigo 73 da Lei Orgânica deste Tribunal.

PROCESSO T.C. Nº 0930064-8 PRESTAÇÃO DE CONTAS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SIRINHAÉM (EXERCÍCIO DE 2008) INTERESSADOS: Srs. FERNANDO LUIZ URQUIZA LIMA E IVALDECI HIPÓLITO DE MEDEIROS FILHO ADVOGADOS: Drs. MÁRCIO JOSÉ ALVES DE SOUZA – OAB/PE Nº 5.786, LEUCIO LEMOS FILHO - OAB/PE Nº 5.807, MARCO JOSÉ ALBANEZ – OAB/PE Nº 7.658, LILIANE CAVALCANTI BARRETO CAMPELLO – OAB/PE Nº 20.773, AMARO ALVES DE SOUZA NETTO - OAB/PE Nº 26.082, DIMITRI DE LIMA VASCONCELOS – OAB/PE Nº 23.536 E EDSON MONTEIRO VERA CRUZ FILHO – OAB/PE Nº 26.183 RELATOR: CONSELHEIRO ROMÁRIO DIAS ÓRGÃO JULGADOR: SEGUNDA CÂMARA DECISÃO T.C. Nº 0371/10 ...CONSIDERANDO que a falta de repasse das contribuições previdenciárias descontadas dos servidores e do recolhimento a menor de contribuições patronais, mesmo que haja posterior parcelamento, é omissão que gera ônus futuro ao Município, multas e juros ; ...Decidiu a Segunda Câmara do Tribunal de Contas do Estado, à unanimidade, em sessão ordinária realizada no dia 06 de abril de 2010, Julgar IRREGULARES as contas do Ordenador de Despesas e Prefeito do Município de Sirinhaém, relativas ao exercício de 2008, Sr. Fernando Luiz Urquiza Lima, aplicando-lhe, nos termos do artigo 73, inciso III, da Lei Estadual nº 12.600/04, multa no valor de R$ 3.000,00, a qual deverá ser recolhida, no prazo de 15 (quinze) dias do trânsito em julgado desta decisão, ao Fundo de Aperfeiçoamento Profissional e Reequipamento Técnico deste Tribunal, por intermédio de boleto bancário a ser emitido no sítio da internet desta Corte de Contas (www.tce.pe.gov.br).

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PROCESSO T.C. Nº 0760027-6 PRESTAÇÃO DE CONTAS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE LAGOA DO CARRO (EXERCÍCIO DE 2006) RESPONSAVEL: Sr. ANTÔNIO CARLOS GUERRA BARRETO ADVOGADOS: Drs. ALCIDES FERREIRA DE FRANÇA – OAB/PE Nº 699-B E BRUNO MACEDO DA FONTE – OAB/PE Nº 23.890 RELATOR: CONSELHEIRO, EM EXERCÍCIO, LUIZ ARCOVERDE FILHO ÓRGÃO JULGADOR: PRIMEIRA CÂMARA DECISÃO T.C. Nº 1218/08 CONSIDERANDO a ausência de repasses ao LAGOAPREVI das contribuições retidas dos servidores no valor de R$ 133.925,26, bem como a ausência da contribuição patronal no valor de R$ 333.193,78; CONSIDERANDO que a celebração do acordo de parcelamento e confissão de débitos previdenciários entre o Executivo Municipal e o LAGOAPREVI não descaracteriza a forma irregular como foi executada a contabilização e recolhimento dos valores relativos à contribuição patronal, assim como aqueles decorrentes dos descontos sobre a remuneração dos servidores no exercício financeiro de 2006 ; CONSIDERANDO que a administração coloca-se em posição de inércia diante da obrigatoriedade de adoção dos procedimentos referentes aos valores devidos à Previdência, transformando em habitual o procedimento excepcional de reconhecimento e parcelamento de débitos, o qual gera, obrigatoriamente, a incidência de multa e juros que devem ser imputados ao Ordenador de Despesas, haja vista sua responsabilidade diante do procedimento que se repete ao longo de sua gestão; ...Decidiu a Primeira Câmara do Tribunal de Contas do Estado, à unanimidade, em sessão ordinária realizada no dia 25 de novembro de 2008, Julgar IRREGULARES as contas do Ordenador de Despesas, Sr. Antônio Carlos Guerra Barreto, aplicando-lhe multa no valor de R$ 1.400,00, nos termos do artigo 73, inciso III, da Lei nº 12.600/04, que deverá ser recolhida ao Fundo de Aperfeiçoamento Profissional e Reequipamento Técnico do Tribunal, através da conta-corrente n° 9.500.322, Banco 356 – REAL S/A, Agência n° 1016, no prazo de 15 (quinze) dias do trânsito em julgado desta Decisão, encaminhando a este Tribunal cópia da guia de recolhimento para baixa do débito” (Destaques aditados).

Tal entendimento, inclusive, foi pacificado pelo Plenário do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco - TCE/PE, em Sessão Ordinária realizada em 28.03.2012, mediante a edição das Súmulas TCE/PE nºs 07 e 08 (DOE: 03.04.2012), vazadas nos seguintes termos:

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Súmula TCE/PE nº 07: “o parcelamento de débitos previdenciários não sana irregularidades praticadas em exercícios anteriores.”Súmula TCE/PE nº 08: “os parcelamentos de débitos previdenciários não isentam de responsabilidades o gestor que tenha dado causa ao débito, salvo se demonstrada força maior ou grave queda de arrecadação.”

4. Inexigibilidades fora das hipóteses legais para contratação de bandas e artistas musicais para diversas festividades realizadas no Município (item 4.6.1 a 4.6.3 do relatório de auditoria)

A Prefeitura Municipal de Canhotinho contratou, por meio de inexigibilidade de licitação, artistas e bandas para a realização de festividades no Município para as comemorações de São Sebastião, Carnaval e emancipação política do município. As contratações se deram por meio dos Processos de Inexigibilidade nº 004/2008 e nº 009/2008.

O fundamento da inexigibilidade utilizado pela Administração Municipal foi a previsão do artigo 25, inciso III, da Lei Federal nº 8.666/1993. Os requisitos exigidos pela lei para tal procedimento se referem ao objeto da contratação (que deve ser um artista profissional), à forma por meio da qual é feita (diretamente ou mediante empresário exclusivo) e à consagração do artista (deve ser consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública).

Para o cumprimento da primeira exigência, faz-se necessária a inscrição do artista na Delegacia Regional do Trabalho, como manda o artigo 4º da Lei Federal nº 6.533/1978. Porém, diz o relatório de auditoria que não foi exigida pela Comissão Permanente de Licitação, em nenhum dos dois processos, documentação que comprovasse a referida inscrição, para garantir a regularidade da contratação por inexigibilidade quanto a este aspecto.

Diz o rRlatório que as outras duas exigências também não foram atendidas nos dois processos. As cartas de exclusividade apresentadas pelos artistas e agenciadores corresponderam apenas ao período de realização dos eventos, sendo que tal exclusividade deve ter caráter de permanência. A CPL também não tomou providências no sentido de averiguar a veracidade das declarações de exclusividade, por meio de outras provas da anterioridade do

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vínculo, desrespeitando os princípios da moralidade e da legalidade (art. 37, caput, CF/88). As razões de convencimento acerca da consagração pela crítica especializada ou pela opinião pública dos artistas e bandas contratados também não foram apresentadas, na contramão do que determina o dispositivo usado para fundamentar a dispensa de licitação, artigo 25, III, da lei federal 8.666/93.

Também não foi feita a justificativa do preço das contratações, como determina o artigo 26, parágrafo único, III, da Lei nº 8.666/93. Por fim, a auditoria contatou que a Administração Municipal descumpriu a determinação do parágrafo único do artigo 61 da Lei nº 8.666/93, referente à “publicação do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na Imprensa Oficial”, pois não realizou a publicação dos instrumentos de contratos firmados com as empresas TN Produções Ltda. e Carlos Bernardo Almeida.

Quanto ao objeto da contratação – o profissional artista, a defesa do interessado se limita a afirmar o interesse do gestor em sanar qualquer irregularidade e observar as orientações do Tribunal, bem como de que o artigo 4º da Lei nº 6.533/1978 não prevê penalidade para omissão da Administração em observar a determinação. Afirma que o fato de a CPL não ter buscado comprovação da exclusividade do vínculo não configura irregularidade, tendo em vista que não há exigência no ordenamento quanto ao meio de se demonstrar a exclusividade, sendo aceita inclusive declaração do próprio artista. Afirma, quanto à anterioridade do vínculo, que tal exigência não deve prosperar, sob o fundamento de que o importante é que o contrato celebrado com a administração seja cumprido, e de que a vontade do artista de outorgar o privilégio da exclusividade não pode ser desconsiderado.

Argumenta quanto à consagração pela opinião pública e pela crítica especializada que a legislação deve acompanhar a evolução da sociedade. Argumenta a defesa que a não justificação do preço da contratação representa irregularidade formal. Quanto à não publicação dos extratos dos contratos, junta cópia da homologação das inexigibilidade, o que obviamente não afasta a irregularidade.

Sobre esse tema, contratação de shows artísticos, tenho acompanhado, nos processos de prestação de contas do qual sou Relator, o entendimento do conselheiro João Carneiro Campos, proferido nos autos do Processo TC nº 0980081-5, in verbis:

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De fato, esta Casa já se manifestou favoravelmente a contratações semelhantes em vários casos no passado. Contudo, através da Decisão TC nº 004/11, relativa ao julgamento de auditoria especial realizada na Empetur, foram estabelecidas regras claras para contratações dos artistas. Desta forma, entendo que não há como responsabilizar o interessado pelos atos praticados no exercício de 2008, quando não existiam regras claras definidas por esta Corte de Contas. Assim, remeto a matéria às determinações do acórdão.

Ademais, questões importantes como a verificação se as apresentações de fato ocorreram e se os preços praticados eram compatíveis com os de mercado não foram realizadas pela equipe técnica. Portanto, as questões de ser o artista profissional, da consagração pelo público e da representação exclusiva do empresário, considerando o entendimento desta Casa à época, conforme registrado no voto supra transcrito, é irregularidade que pode ser relevada.

5. Repasse a maior do duodécimo do Poder Legislativo. (item 4.7 do Relatório de auditoria)

Diz o Relatório de Auditoria que foi descumprido o limite para o repasse do duodécimo ao Poder Legislativo Municipal, pois foi feito um repasse a maior no valor de R$ 13.490,99, alcançando o percentual de 8,13% da receita efetivamente arrecadada no exercício anterior.

A defesa do interessado alega que em 2008 a Prefeitura Municipal de Canhotinho foi condenada judicialmente a repassar à Câmara de Vereadores o valor de R$ 15.000,00, em razão de repasse a menor do duodécimo no exercício de 2006, conforme documentos às fls. 2713-2720. Afirma que não pode ser considerado para o cálculo do repasse de 2008 o valor correspondente ao pagamento da condenação, estando, por isso, correto o valor repassado.

Acato a defesa do interessado, considerando os documentos colacionados às fls. 2713-2720.

Pelo exposto,

CONSIDERANDO o descumprimento do art. 42 da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF;

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CONSIDERANDO o não recolhimento integral das contribuições previdenciárias retidas dos servidores vinculados ao RPPS;

CONSIDERANDO a não contabilização e recolhimento integral da contribuição previdenciária patronal e patronal complementar ao RPPS;

CONSIDERANDO que não foram pagos os juros e as multas devidos em decorrência dos atrasos nos recolhimentos das contribuições dos servidores e patronal ao RPPS;

CONSIDERANDO o não recolhimento integral da contribuição retida dos servidores vinculados ao RGPS;

CONSIDERANDO o não recolhimento integral da contribuição patronal para o RGPS;

CONSIDERANDO o disposto nos artigos 70 e 71, inciso I, combinados com o artigo 75 da Constituição Federal,

VOTO pela emissão de Parecer Prévio recomendando à Câmara Municipal de Canhotinho a rejeição das contas do Sr. Álvaro Porto de Barros, de acordo com o disposto nos artigos 31, parágrafos 1º e 2º, da Constituição do Brasil e 86, § 1º, da Constituição de Pernambuco.

CONSIDERANDO o disposto nos artigos 70 e 71, inciso II c/c o artigo 75, da Constituição Federal, e no artigo 59, inciso III, alínea “b” da Lei Estadual nº 12.600/04 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco),

JULGO IRREGULARES as contas do Sr. Álvaro Porto de Barros, ordenador de despesas da Prefeitura Municipal de Canhotinho, relativas ao exercício financeiro de 2008.

Outrossim, dou quitação aos demais interessados, Jucicleide Borges Gomes da Silva, Maria José Castanha Silva, Elenice Pimentel da Silva e Wilmar Pires Bezerra, citados como Responsáveis por irregularidades no Relatório de Auditoria.

DEIXO de aplicar multa, haja vista o disposto no art.73, § 6º da Lei orgânica do Tribunal de Contas do Estado - LOTCE.

DETERMINO com base no disposto no artigo 69 da Lei Estadual nº 12.600/2004, que o(a) Prefeito(a) do Município de CANHOTINHO, ou quem vier a sucedê-lo(a), adote as medidas a seguir relacionadas, a partir da data de publicação desta Decisão, sob pena de aplicação da multa prevista no inciso XII do artigo 73 do citado Diploma legal:

1.Elaborar o Plano Municipal de Educação para vigorar por 10 anos, conforme determina a Lei Federal nº 10.172/2001;

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2.Aprimorar os instrumentos de planejamento da gestão educacional (Plano Municipal de Educação, Plano Plurianual e Lei Orçamentária), através da adoção de técnicas adequadas, de forma a permitir um diagnóstico mais real da situação, a indicação das ações necessárias para se atingir os objetivos e metas da política educacional (definidas com base no disposto na Constituição Federal, nas leis voltadas para a Educação e no diagnóstico da situação), bem como o estabelecimento de mecanismos de acompanhamento e controle da execução física das ações definidas, em nível de programas, projetos e atividades inclusos nas leis de orçamento (Leis que instituírem os Planos Plurianuais, as Diretrizes Orçamentárias e os Orçamentos anuais);3.Promover urgentemente as ações necessárias ao atendimento em creches das crianças na faixa etária de 0-3 anos;4.Estabelecer formalmente um programa de capacitação continuada voltado para os profissionais da educação como forma de promover o seu aperfeiçoamento profissional;5.Implementar formalmente o processo de avaliação funcional dos servidores da educação, nos termos dos artigo 16 da Lei Complementar Municipal nº 01/98, para fins de promoção/progressão na carreira;6.Proceder à atualização das pastas funcionais dos servidores da Secretaria Municipal de Educação para que estas possam refletir corretamente sua vida funcional, observados os aspectos legais;7.Implementar os processos de avaliação institucional e de produção de informações gerenciais, consoante disposto no Plano Municipal de Educação.

O CONSELHEIRO PRESIDENTE ACOMPANHOU O VOTO DO RELATOR. PRESENTE O PROCURADOR DR. RICARDO ALEXANDRE DE ALMEIDA SANTOS.

ASF/ACP

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