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Ocupação da Reitoria da Ufrgs: um balanço necessário Tendência Estudantil s s tendenciaestudantilrp.blogspot.com - [email protected] RESISTÊNCIA POPULAR Estude e Lute! MAIO/JUNHO de 2014 Foram 9 dias de ocupação e 9 dias de uma experiência que pede um balanço político que aponte os erros e acertos dessa ação. Um balanço de quem apostou e esteve metido nessa construção e não poupou esforços para que ela saisse vitoriosa. Infelizmente não podemos dizer a mesma coisa de outros grupos políticos que, contrários a ocupação nesse momento, não só não participaram como em alguns casos, fizeram de tudo para deslegitimá-la e sabotá-la. Contudo, estes também são elementos que devemos levar em consideração na nossa avaliação, pois, entre saltos e tropeços, se (re)constrói o movimento estudantil. Porque ocupar a Reitoria? Unidade de base e/ou unidade entre correntes? Mas houveram diferentes entendimentos sobre a decisão de ocupar a reitoria. Para algumas correntes políticas, ela foi uma medida sectária de alguns grupos que não respeitaram a "decisão" tomada pelo fórum unitário "Estudantes de Luta" em não realizar a ocupação nesse momento (é bom lembrar que em uma reunião bem maior desse fórum, a ocupação foi aprovada). Essa teria sido, portanto, uma ação de vanguarda que não esperou pelo necessário trabalho de base e de articulação entre o conjunto dos DA's e CA's de Luta e que queimou um cartucho que poderia ter sido melhor aproveitado. A ocupação da Reitoria, na visão desses grupos, teria sido realizada visando a autoconstrução dos coletivos políticos que a defenderam. Uma avaliação curiosa, ainda mais vinda de grupos que só falam de trabalho de base quando diz respeito aos seus interesses de cor- rente ou quando se trata de desqualificar posições alheias, sem falar na autoconstrução em detrimento do fortalecimento da organização de base, prática corrente de alguns desses grupos no interior do Movimento Estudantil. Para outros grupos e alguns CA's, a ocupação da Reitoria concorreria com a luta de rua articulada pelo Bloco de Luta no dia 15 de maio e com as lutas dos trabalhadores marcadas para esse mesmo dia. Não é novidade para o Movimento rua convocadas pelo Bloco de Luta debate feito no "Estudantes em Estudantil da UFRGS os inúmeros pelo Transporte Público. É por isso Luta”, também é necessário dizer problemas acumulados durante que, na busca por reorganizar os que ela é a expressão da avaliação de anos e as diversas tentativas de estudantes para a luta por suas um setor que compunha esse espaço exigir soluções que acabaram reivindicações, é criado em 2014 o e que dizia haver uma conjuntura emperradas na burocracia, no "não é "bloco de DA's e CA's de Luta", favorável para essa ação, pois não comigo" das instâncias de "diálogo" depois "Bloco de Estudantes de era mais possível ficar de braços e nas desculpas de "isso já foi Luta". É nesse espaço que se iniciou cruzados acumulando debilidades. encaminhado". Da mesma forma, a longa discussão sobre ocupar ou vários Centros e Diretórios não ocupar a Reitoria, assim como Acadêmicos há algum tempo foi nesse espaço que as diferentes compartilham da análise de que em visões e concepções de movimento 2013, com as jornadas de junho, o estudantil puderam se contrapor e ME da UFRGS negligenciou a luta colocar a prova a pretensa unidade por conquistas estudantis na desse fórum de organização. Em Universidade e colocou todos os resumo, se é possível afirmar que seus esforços nas manifestações de essa ocupação é fruto de todo o

Balanço da ocupação da reitoria da ufrgs

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Page 1: Balanço da ocupação da reitoria da ufrgs

Ocupação da Reitoria da Ufrgs: um balanço necessário

Tendência Estudantils stendenciaestudantilrp.blogspot.com - [email protected]

RESISTÊNCIAPOPULAR

Estude e Lute!MAIO/JUNHO de 2014

Foram 9 dias de ocupação e 9 dias de uma experiência que pede um balanço político que aponte os erros e acertos dessa ação. Um balanço de quem apostou e esteve metido nessa construção e não poupou esforços para que ela saisse vitoriosa. Infelizmente não podemos dizer a mesma coisa de outros grupos políticos que, contrários a ocupação nesse momento, não só não participaram como em alguns casos, fizeram de tudo para deslegitimá-la e sabotá-la. Contudo, estes também são elementos que devemos levar em consideração na nossa avaliação, pois, entre saltos e tropeços, se (re)constrói o movimento estudantil.

Porque ocupar a Reitoria?

Unidade de base e/ou unidade entre correntes?Mas houveram d i fe ren tes entendimentos sobre a decisão de ocupar a reitoria. Para algumas correntes políticas, ela foi uma medida sectária de alguns grupos que não respeitaram a "decisão" tomada pelo fórum unitário "Estudantes de Luta" em não realizar a ocupação nesse momento (é bom lembrar que em uma reunião bem maior desse fórum, a ocupação foi aprovada).

Essa teria sido, portanto, uma ação

de vanguarda que não esperou pelo necessário trabalho de base e de articulação entre o conjunto dos DA's e CA's de Luta e que queimou um cartucho que poderia ter sido melhor aproveitado.

A ocupação da Reitoria, na visão desses grupos, teria sido realizada visando a autoconstrução dos c o l e t i v o s p o l í t i c o s q u e a defenderam. Uma avaliação curiosa, ainda mais vinda de grupos que só falam de trabalho de base quando diz respeito aos seus interesses de cor-

rente ou quando se trata de desqualificar posições alheias, sem falar na autoconstrução em detrimento do fortalecimento da organização de base, prática corrente de alguns desses grupos no interior do Movimento Estudantil. Para outros grupos e alguns CA's, a ocupação da Reitoria concorreria com a luta de rua articulada pelo Bloco de Luta no dia 15 de maio e com as lutas dos trabalhadores marcadas para esse mesmo dia.

Não é novidade para o Movimento rua convocadas pelo Bloco de Luta debate feito no "Estudantes em Estudantil da UFRGS os inúmeros pelo Transporte Público. É por isso Luta”, também é necessário dizer problemas acumulados durante que, na busca por reorganizar os que ela é a expressão da avaliação de anos e as diversas tentativas de estudantes para a luta por suas um setor que compunha esse espaço exigir soluções que acabaram reivindicações, é criado em 2014 o e que dizia haver uma conjuntura emperradas na burocracia, no "não é "bloco de DA's e CA's de Luta", favorável para essa ação, pois não comigo" das instâncias de "diálogo" depois "Bloco de Estudantes de era mais possível ficar de braços e nas desculpas de "isso já foi Luta". É nesse espaço que se iniciou cruzados acumulando debilidades. encaminhado". Da mesma forma, a longa discussão sobre ocupar ou vários Centros e Diretórios não ocupar a Reitoria, assim como Acadêmicos há algum tempo foi nesse espaço que as diferentes compartilham da análise de que em visões e concepções de movimento 2013, com as jornadas de junho, o estudantil puderam se contrapor e ME da UFRGS negligenciou a luta colocar a prova a pretensa unidade por conquistas estudantis na desse fórum de organização. Em Universidade e colocou todos os resumo, se é possível afirmar que seus esforços nas manifestações de essa ocupação é fruto de todo o

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Para nós da TERP a questão se colocava em outros termos. Em primeiro lugar, nosso critério era a disposição de luta dos estudantes de base que compunham alguns CA's como os das Ciências Sociais, Geografia e Biologia e a avaliação de que uma ocupação de reitoria, longe de enfraquecer ou competir com outras ações, pelo contrário, as fortaleciam, pois desde o lugar onde nos toca atuar, trataríamos de acumular experiência de luta e de organização que nos momentos oportunos seriam somadas as demais lutas, potencializando-as.

Defendiamos e continuamos defendendo que uma luta não pode inviabilizar outra. Em nenhum momento buscávamos com a ocupação da reitoria enfraquecer a luta dos estudantes da faculdade de direito, por exemplo, ou a luta do Bloco. Ambas são processos necessários, baseadas em neces-sidades reais e sentidas por cada segmento que delas tomam parte e que num momento ou outro podem se dar simultaneamente. O desafio e r a u n i f i c á - l a s , s u p e r a n d o sectarismos. Nesse sentido, nosso papel enquanto corrente estudantil, foi o de fomentar a disposição de luta encontrada nos espaços onde temos militância.

Mesmo que essa disposição ainda não encontrasse um recipiente organizativo bem estruturado, entre os CA's e DA's por exemplo, entendiamos que sua ausência não inviabilizaria medidas de luta como a ocupação.

Para nós esse recipiente só pode ser forjado em meio as lutas, com suas vitórias e derrotas. É no calor da luta concreta, enfrentando nossas debilidades e assumindo o risco da derrota que podemos fazer um balanço coletivo, fruto de uma experiência real daqueles que se colocaram dispostos a lutar para poder avançar.

Foi por isso que não tomamos como ponto de partida uma suposta unidade entre correntes e sim a unidade real e em potencial dos espaços de base.

Entendemos, portanto, que esse foi um processo construído desde a base. Para provar que as formas de fazer política de boa parte dos grupos que foram contrários a ocupação já não servem mais ao movimento estudantil é que os estudantes independentes, orga-nizados em seus DA's, CA's e coletivos de base, movidos por suas demandas concretas, após anos de diálogos infrutíferos com diferentes ins tâncias da univers idade, ocuparam a reitoria e lá ficaram até obter vitórias!

Os grupos políticos que discor-davam da ocupação , ao observar a forma com que a ocupação foi construída, que os impedia de se colocarem enquanto protagonistas e encaixar seus métodos que já não vem dialogando com os estudantes há tempo - bem pelo contrário, vem desmobilizando

A ocupação

Não nos baseamos em um critério p l e b i s c i t á r i o , t í p i c o d a s organizações eleitoreiras, que medem a disposição para lutar pelo número de estudantes mobilizados, como se fossem necessários 50% + 1 de estudantes para a organização de uma medida de pressão como a ocupação. Acreditamos sim que com um pequeno setor de base com disposição de dar enfrentamento é possível construir ações coletivas e diretas que gerem acúmulo para avançar programaticamente e organizativamente o Movimento Estudantil.

- iniciaram um vergonhoso trabalho de desconstrução e boicote ao processo de lutas expresso na ocupação.

Alguns tentaram fazer acreditar que a ocupação da Reitoria era contrária e queria enfraquecer a ocupação da f a c u l d a d e d e d i r e i t o , f a t o desmentido pela solidariedade mútua de ambas ocupações; outros fizeram o sujo trabalho de tentar impedir que a solidariedade viesse de outras entidades como DCEs de outras universidades, mas também não conseguiram, pois recebemos apoio de sindicatos como os dos municipários de porto alegre e de cachoeirinha, do DCE da PUC e dos próprios técnicos-administrativos em greve através do comando local de greve da Assufrgs, assim como de uma série de coletivos estudantis e iniciativas de luta como o Levante do Bosque da UFSC.

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Foi dentro desse contexto que, após nove dias de ocupação, deixamos o prédio da reitoria com vitórias concretas:

1. A isenção do pagamento do Restaurante Universitário para os alunos com beneficio PRAE (baixa renda);2. Uma bolsa auxílio de R$ 200,00 mensais para os alunos de baixa renda, que forem moradores da casa do estudante, para sua alimentação nos finais de semana e feriados;3. Além da não criminalização dos ocupantes.

Estas são vitórias importantes que impactam principalmente no dia-a-dia dos estudante mais pobres, tra-

balhadores, e já são um marco na luta pelos direitos estudantis já que há anos não víamos conquistas nessa área.

Além disso, o recorte claramente classista das conquistas, mostra a serviço de quem está a luta dessa nova geração do movimento estudantil. Somos nós, estudantes de baixa renda que acessamos a universidade através dos programas de inclusão, que nos deparamos com a dura realidade do ensino universitário, que segrega aqueles que não tem o apoio financeiro dos pais para se manter. Em cursos onde é impossível ou muito dificil a conciliação da vida de trabalhador com 40 horas semanais com a de universitário (que são a maioria), o

estudante tem que se submeter a uma bolsa sub-emprego de 20 horas, ganhando pouco mais da metade de um salário mínimo, e sem nenhum direito previsto na contratação, sendo obrigado a ficar refém das políticas assistencialistas da universidade. É por tudo isso que ocupamos a Reitoria e é enquanto setores dos trabalhadores e oprimidos dessa universidade que nos colocamos enquanto militância.

Os limites desse processoNão seremos hipócr i tas ou demagogos em afirmar que na Ocupação tudo foi mil maravilhas! Muito pelo contrário! A própria natureza de sua construção, levada a cabo , como j á a f i rmamos , majoritariamente por setores de base do movimento, expressa limites que acreditamos ser necessário apontar. Houveram acúmulos programáticos que em certa medida a instauração da ocupação negligenciou. Não que o conjunto de mais de 120 reivindicações tenha saído do nada, mas fato é que o processo de debate que acabou por e l ege r 41 reivindicações prioritárias não poderia ter sido feito em meio a essa ação. Embora tenha sido uma baita experiência para muita gente a forma com que as pautas foram sen-

do discutidas e "depuradas", por outro lado ela foi responsável por um certo desgaste que jogou a ocupação numa sinuca de bico: quando, com o que e como negociar?

Um segundo limite que apontamos, decorreu em parte do anterior, mas também do número limitado de CA's que tomaram a iniciativa de ocupar a r e i t o r i a . S e p o r u m l a d o continuamos achando que foi correta a iniciativa tomada, por outro reconhecemos que faltou uma maior articulação do conjunto de CA's para essa ação, o que foi dificultado posteriormente com a ocupação em curso. De qualquer forma muitos CA's se somaram depois e pegaram junto pois viram

que se tratava de uma luta sincera e legí t ima dado os inúmeros problemas da universidade. É do conjunto de CA's e DA's que em um momento ou outro construíram a ocupação, o mérito dessa vitória.

Entre conquistas parciais e estratégicas

Para nós da TERP, as conquistas da ocupação são conquistas que merecem ser saudadas. Porém, quando saudamos essas conquistas, procuramos não fazê-la de forma despolitizada ou em forma de ilusões. Não temos dúvidas que as conquistas são bastante limitadas, “parciais”. Mas o que mais nos importa nesse momento é demarcar o processo pelo qual foram conquistadas. Ao longo de mais de uma semana foi possível repensar a estrutura da universidade, contribuir para que um setor do movimento estudantil tivesse um importante acumulo organizativo, assim como sobre o debate em torno de pautas estruturais e específicas da universidade.

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Tentar diminuir essas conquistas alegando se tratar de uma conquista parcial e inserta numa política assistencialista, é ao nosso ver, um grande equívoco. Equívoco porque joga na questionável concepção do "quanto pior melhor" ao alegar que tais conquistas "assitencialistas" podem levar a desmobilização.

O que a ocupação da reitoria assinalou foi o caminho do trabalho de base, da ação direta e da unidade de base em detrimento da unidade de correntes . Assinalou que a dificuldade das lutas, assim como o esforço e o sacrifício despendidos para arrancar pautas “parciais” é o que permite conseguirmos acumular forças para uma luta prolongada, capaz de arrancar as pautas estratégicas. São estes os exemplos que estudantes e trabalhadores, me-

diante a luta sem trégua contra os governos e patrões, assinalam em suas duras lutas históricas, afinal de contas se um avanço na política de assitência estudanti l é uma conquista “parcial”, o mesmo vale para a vitória da redução da passagem de ônibus, a conquista de aumento salarial real em uma greve,

melhores condições de trabalho, etc. É a partir do acúmulo organizativo e na forja de uma subjetividade de luta permanente, semeada em meio destes processos que podemos acumular forças para conquistar as pautas estratégicas, no caso a transformação da universidade e dessa sociedade de classe.

O pós ocupação. Algumas perspectivas para o ME da Ufrgs

A luta pela melhoria das condições de estudo e pela garantia dos direitos estudantis faz parte de uma luta mais ampla, a qual esta ocupação apenas contribuiu ampliando novas possibilidades. Trata-se da luta por uma Universidade pública e popular. É buscar abrir a universidade para quem está do lado de fora e atender aos direitos e demandas dos de baixo. Lutar por uma universidade pública e popular, passa por lutar pelo fim da precarização da educação, de seu direcionamento a finalidades mercantis e também por questionar

o atual modelo em curso, fruto de mais de uma década de políticas neo-desenvolvimentistas.

Dessa forma, faz-se necessário que trabalhemos para constituir e consolidar um espaço de unidade pela base, composto pelos Centros e Diretórios Acadêmicos e que se volte, prioritariamente para a articulação de ações concretas relativas as demandas de conjunto do Movimento Estudantil. E o papel das correntes e coletivos políticos? Fomentar a participação de cada estudante em seu DA e CA, para que

eles sejam representativos dos interesses coletivos e para possam desde baixo sintetizar discussões e ações nesse fórum de entidades de base. Não buscar neste espaço um salão para troca de “tapinhas nas costas”, para os tradicionais acordos de “dirigentes” em detrimento do empoderamento das bases.

A ocupação da Reitoria não foi o primeiro e nem será o último passo dado nas lutas estudantis. Mas com certeza foi um passo importante e necessário para oxigená-las.

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