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Luiza Eluf Sílvio Salata A decisão do TSE de estender o poder da Ficha Limpa a casos anteriores à sua sanção foi co- memorada pela procuradora Luiza Eluf. Para ela, a norma es- tá “perfeita e coerente” com o ordenamento jurídico. “A socie- dade quer seriedade não apenas do Legislativo e do Executivo, mas também do Judiciário”, diz. Como a senhora interpreta o resultado? O Ficha limpa foi uma iniciati- va popular que ganhou apoio de vários setores, porque ninguém poderia se posicionar aberta- mente contra. Depois veio a Jus- tiça tendo que se posicionar. Existiu uma pressão popular pa- ra cumprir a lei – sem abrir ex- ceções que permitissem a deter- minadas pessoas concorrer às eleições. Qual será o impacto e o alcan- ce real do julgamento de ontem? Em princípio, é um posiciona- mento do Tribunal Superior Eleitoral, mas podem acontecer decisões que contrariam essa consulta. Ainda assim, já foi um marco. A tendência é que se cumpra o que ficou estabeleci- do nessa consulta. Não é uma garantia, não tem poder vincu- lante, mas é um princípio nor- teador. O TSE deixou, ainda, alguma questão em aberto? A Justiça não gosta de se pro- nunciar de forma taxativa em casos abstratos. Estamos falan- do de uma regra geral. Essa con- sulta traz princípios balizado- res, interpretações que serão aplicadas, mas não é uma posi- ção taxativa sobre todo e qual- quer caso. Mas a sociedade está alerta e quer seriedade. / LUCAS DE ABREU MAIA ENTREVISTAS O advogado Sílvio Salata, presi- dente da Comissão de Estudos Eleitorais da OAB-SP, considera que o Supremo Tribunal Federal (STF) é que vai dar a última pala- vra sobre A Lei da Ficha Limpa. Crítico da validade da Lei 135/2010 para este ano por, em sua visão, se contrapor ao artigo 16 da Constituição – segundo o qual a legislação que modifica as eleições só pode valer se for apro- vada um ano antes –, Salata afir- ma que a lei vai levar a um “acú- mulo de recursos nos tribunais”. Como o sr. viu o resultado da consulta ao TSE? Com muita preocupação. A apro- vação, quando já têm ocorrido as convenções dos partidos, vai ge- rar um grande aumento do deba- te sobre o tema nos tribunais re- gionais e represar no TSE. Os mi- nistros Marco Aurélio e Marcelo Ribeiro demonstraram, de for- ma cabal, que a inelegibilidade é uma pena de fato, ao contrário do que afirmaram os demais. Quais as consequências? A resposta atentou contra o prin- cípio da anualidade previsto no artigo 16 da Constituição. Have- rá uma enxurrada de recursos ao próprio TSE e ao STF e temo que não haja tempo para julgá-los. Poderia haver contestações quanto à constitucionalidade da lei? Não tenho dúvidas. O ministro Marco Aurélio é do STF e foi contra, desde o início, a valida- de da lei para estas eleições. Além do mais, há um caso curio- so: embora tenham decidido, os ministros deixaram no ar a pos- sibilidade de verificar o caso concreto, no ato do registro. Ha- verá muitas contestações. / MOACIR ASSUNÇÃO Lula comemora ‘vaquinha’ de R$ 10 mil feita por sindicalistas Nacional TSE decide que Ficha Limpa vale para condenados também antes da sanção Cenário: Felipe Recondo CELSO JUNIOR/AE D uas das estratégias mais usadas por políticos corruptos para se livra- rem da Justiça se tornaram armadi- lhas com a Lei da Ficha Limpa. Quem se valer da desculpa de que o dinheiro obtido pela prática de corrupção é caixa 2 de campanha,ou recurso não contabilizado, esta- rá banido das eleições pelo prazo de 8 anos. Da mesma forma, parlamentares que renuncia- remparaevitaraaberturadeprocessodecassa- ção, como fez o ex-senador Joaquim Roriz, es- tarão inelegíveis por 8 anos. Essas duas saídas já faziam parte da cultura política brasileira. A lei aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Lula devem mudar esse recei- tuário.Para aqueles que seguiram essa linha de defesa, articulada por competentes advoga- dos, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é catastrófica. Nos últimos anos, basta- va ser descoberto por corrupção para dizer que o dinheiro se destinaria à campanha eleitoral. As punições brandas para crimes eleitorais ba- nalizaram o termo caixa 2. Todos os mensalões descobertos não passaram, pela versão dos en- volvidos,deescorregadelanascontasdacampa- nha. Foi essa a desculpa do PT, o subterfúgio do PSDB mineiro e a alegação do DEM, com o ex- governador José Roberto Arruda. O político condenado por caixa 2 estará en- quadrado pela Lei da Ficha Limpa e não poderá secandidatar.Viroucostumetambém autiliza- ção da renúncia como saída para evitar a perda dos direitos por quebra de decoro. São exem- plos o ex-governador Arruda, o ex-vice Paulo OctávioedeputadosfilmadosemBrasília,rece- bendo dinheiro do esquema de corrupção. A descoberta do mensalão do PT também levou à renúncia de deputados acusados de envolvi- mento, como Valdemar Costa Neto (PR-SP), Paulo Rocha (PT-PA). Resta, para os políticos que se vejam nessa situação, confiar no corpo- rativismo e enfrentar o processo. Caso contrá- rio, a pena é a inelegibilidade por 8 anos. ‘Decisão do tribunal é um marco e traz princípios balizadores’ Votação. Ricardo Lewandowski (à esq.) preside sessão no TSE: único voto contra foi de Marco Aurélio Mello Web. Estrategistas questionam limites da legislação eleitoral PROCURADORA DE JUSTIÇA DO MINSITÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO CÁRMEN LÚCIA MINISTRA DO TSE “No caso da inelegibilidade, o que se busca é a proteção da sociedade. Como não é pena, não há retroação.” estadao.com.br/e/web ‘A resposta atentou contra a determinação da anualidade’ Felipe Recondo Mariângela Gallucci BRASÍLIA O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu ontem, por 6 vo- tos a 1, que os políticos conde- nados por órgãos colegiados antes de sancionada a Lei da Fi- cha Limpa também estão inele- gíveis. As mudanças na lei, por- tanto, não valem somente pa- ra aqueles políticos que forem condenados a partir da sanção e publicação da norma, em 7 de junho deste ano. Nalista dos barrados em decor- rência dessa decisão do TSE está, por exemplo, o deputado Paulo Maluf (PP-SP), condenado por improbidade administrativa. Além dos casos de condenação, a lei vale também para os parla- mentares que renunciaram ao mandato para evitar processos de cassação por quebra de deco- ro. Esta lista é extensa: o ex-go- vernador do Distrito Federal Jo- sé Roberto Arruda, o ex-senador Joaquim Roriz (PSC) e os ex-de- putados distritais Junior Bru- nelli e Leonardo Prudente, flagra- dos recebendo dinheiro do cha- mado “mensalão do DEM”. Os ministros indicaram que não poderá haver aumento da sanção para os políticos que fo- ram condenados definitivamen- te no passado pela Justiça Eleito- ral. Antes, a pena de inelegibilida- de era de 3 anos. Com a nova lei, passou para 8 anos. Nessa situa- ção estão políticos cassados re- centemente pelo TSE, como os ex-governadores Jackson Lago (Maranhão), Cássio Cunha Lima (Paraíba) e Marcelo Miranda (Tocantins). No entanto, como os ministros não decidiram espe- cificamente sobre essa questão, ostrês ex-governadores ainda po- dem se tornar inelegíveis. Na raiz desse julgamento está uma mudança de última hora fei- ta pelo Senado no texto da lei aprovado pela Câmara. Uma emenda do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) alterou o pro- jeto para dizer que aqueles “que forem” condenados e não os que “tenham sido” condenados esta- riam inelegíveis. Os senadores aprovaram o texto com essa mu- dança e passaram a entender que apenas políticos condenados após a sanção e publicação da lei estariam inelegíveis. Alegavam que a lei não poderia retroagir pa- ra prejudicar os políticos. Em consulta ao TSE, o deputa- do Ilderlei Cordeiro (PPS) per- guntou qual era o entendimento da Justiça Eleitoral. O presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, chegou a consultar um professor especialista em semântica e con- cluiu que os condenados antes da lei poderiam ser barrados. Situação. “Não se trata de re- troatividade de norma eleitoral. Mas de sua aplicação aos regis- tros de candidatura futuros. A causa de inelegibilidade incide sobre a situação do candidato no momento do registro da candida- tura”, afirmou, durante o julga- mento o relator da consulta, mi- nistro Arnaldo Versiani. O ministro rejeitou também o argumento de que a lei estaria im- pondo uma pena, que seria a ine- legibilidade, a pessoas que ainda não foram condenadas definiti- vamente pela Justiça. “Quando se trata de inelegibilidade nin- guém está sendo considerado culpado do que quer que seja”, disse Arnaldo Versiani. “Como a inelegibilidade não constitui pe- na não significa que esteja se an- tecipando o cumprimento de uma eventual pena.” Para justificar esse entendi- mento, o ministro lembrou que alguns grupos são inelegíveis, co- mo os juízes e parentes de políti- cos. Versiani disse que a inelegibi- lidade não precisa ser imposta na condenação. “A condenação é que, por si, acarreta a inelegibili- dade”, afirmou. “No caso da ine- legibilidade, o que se busca é a proteção da sociedade”, disse a ministra Cármen Lúcia. “Como não é pena, não há retroação.” Marco Aurélio Mello votou contra. “Aprendi desde cedo que no sistema brasileiro o direito posto visa a evitar que o cidadão tenha sobre a sua cabeça uma ver- dadeira espada de Dâmocles. Aprendi que a lei não apanha fa- tos passados”, afirmou. PRESIDENTE DA COMISSÃO DE ESTUDOS ELEITORAIS DA OAB-SP Conceito Táticas para driblar lei viram armadilha para corruptos Sucessão. Por 6 votos a 1, Tribunal Superior Eleitoral decidiu ontem pela inelegibilidade de políticos condenados por órgãos colegiados antes de 7 de junho; decisão vale também para parlamentares que renunciaram ao mandato para evitar processos de cassação estadão.com.br Tânia Monteiro / BRASÍLIA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou a informação que recebeu ontem da diretoria da Confederação Geral do Traba- lhadores do Brasil (CGTB) de que os filiados fizeram uma “va- quinha” e já arrecadaram os R$ 10 mil para pagar a multa impos- ta a ele pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A multa foi apli- cada ao presidente por ter feito propaganda eleitoral antecipada em favor da candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rous- seff, em janeiro passado. “Ótimo, porque não tenho sa- lário pra pagar esta porra”, teria dito Lula ao presidente da CG- TB, Antonio Neto, ao fim de sua participação na reunião do Con- selho de Desenvolvimento Eco- nômico e Social, no Itamaraty, ao saber que o dinheiro está à dis- posição dele e do partido. A multa foi aplicada por dis- curso durante a inauguração da sede do Sindicato dos Trabalha- dores de Processamento de Da- dos e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo, no dia 21 de janeiro de 2010. “Avisamos ao presidente e estamos também comunicando ao Dutra (presiden- te do PT, José Eduardo Dutra) que já estamos com dinheiro ar- recado em vaquinha para pagar a multa. Vamos fazer uma soleni- dade para entregar o cheque ad- ministrativo a ele para quitar es- sa dívida”, disse Neto, que rela- tou o palavrão supostamente di- to por Lula. Inauguração. Esta foi uma das quatro multas aplicadas ao presi- dente Lula pelo TSE por campa- nha antecipada. Há ainda outras três recomendações de novas multas pela Procuradoria-Geral Eleitoral. Durante a inauguração do sin- dicato, a multa foi aplicada por- que Lula afirmou: “Então, eu penso que a cara do Brasil vai mu- dar muito. E quem vier depois de mim, e eu, por questões legais, não posso dizer quem é – espero que vocês adivinhem, espero –, quem vier depois de mim já vai encontrar um programa pronto, com dinheiro no Orçamento, porque eu estou fazendo o PAC 2 porque eu preciso colocar di- nheiro no Orçamento para 2011, para que as pessoas comecem a trabalhar.” Antes, o presidente, em públi- co, deixou escapar um palavrão ao discursar para empresários e ministros na reunião do Conse- lho de Desenvolvimento Econô- mico e Social. Lula reclamava das altas taxas de seguro nos fi- nanciamentos para casa própria quando disse “porra”. Em segui- da, pediu desculpas e continuou a criticar os preços cobrados pe- los bancos. Ao STF Como os atingi- dos pela nova lei deverão ter o registro de candidatura negado pelos TREs, minis- tros do TSE esperam uma enxurrada de demandas pa- ra tentar rever- ter a inelegibili- dade. Que aca- bará no STF. A4 SEXTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Estado de são paulo 18.06.2010 pág. a4

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Luiza Eluf Sílvio Salata

A decisão do TSE de estender opoder da Ficha Limpa a casosanteriores à sua sanção foi co-memorada pela procuradoraLuiza Eluf. Para ela, a norma es-tá “perfeita e coerente” com oordenamento jurídico. “A socie-dade quer seriedade não apenasdo Legislativo e do Executivo,mas também do Judiciário”, diz.

● Como a senhora interpreta oresultado?O Ficha limpa foi uma iniciati-va popular que ganhou apoio devários setores, porque ninguémpoderia se posicionar aberta-mente contra. Depois veio a Jus-tiça tendo que se posicionar.

Existiu uma pressão popular pa-ra cumprir a lei – sem abrir ex-ceções que permitissem a deter-minadas pessoas concorrer àseleições.

● Qual será o impacto e o alcan-ce real do julgamento de ontem?Em princípio, é um posiciona-

mento do Tribunal SuperiorEleitoral, mas podem acontecerdecisões que contrariam essaconsulta. Ainda assim, já foi ummarco. A tendência é que secumpra o que ficou estabeleci-do nessa consulta. Não é umagarantia, não tem poder vincu-lante, mas é um princípio nor-teador.

● O TSE deixou, ainda, algumaquestão em aberto?A Justiça não gosta de se pro-nunciar de forma taxativa emcasos abstratos. Estamos falan-do de uma regra geral. Essa con-sulta traz princípios balizado-res, interpretações que serãoaplicadas, mas não é uma posi-ção taxativa sobre todo e qual-quer caso. Mas a sociedade estáalerta e quer seriedade. / LUCAS

DE ABREU MAIA

ENTREVISTAS

O advogado Sílvio Salata, presi-dente da Comissão de EstudosEleitorais da OAB-SP, consideraque o Supremo Tribunal Federal(STF) é que vai dar a última pala-vra sobre A Lei da Ficha Limpa.Crítico da validade da Lei135/2010 para este ano por, emsua visão, se contrapor ao artigo16 da Constituição – segundo oqual a legislação que modifica aseleições só pode valer se for apro-vada um ano antes –, Salata afir-ma que a lei vai levar a um “acú-mulo de recursos nos tribunais”.

● Como o sr. viu o resultado daconsulta ao TSE?Com muita preocupação. A apro-

vação, quando já têm ocorrido asconvenções dos partidos, vai ge-rar um grande aumento do deba-te sobre o tema nos tribunais re-gionais e represar no TSE. Os mi-nistros Marco Aurélio e MarceloRibeiro demonstraram, de for-ma cabal, que a inelegibilidade éuma pena de fato, ao contrário

do que afirmaram os demais.

● Quais as consequências?A resposta atentou contra o prin-cípio da anualidade previsto noartigo 16 da Constituição. Have-rá uma enxurrada de recursos aopróprio TSE e ao STF e temo quenão haja tempo para julgá-los.

● Poderia haver contestaçõesquanto à constitucionalidade dalei?Não tenho dúvidas. O ministroMarco Aurélio é do STF e foicontra, desde o início, a valida-de da lei para estas eleições.Além do mais, há um caso curio-so: embora tenham decidido, osministros deixaram no ar a pos-sibilidade de verificar o casoconcreto, no ato do registro. Ha-verá muitas contestações. /

MOACIR ASSUNÇÃO

Lula comemora ‘vaquinha’ deR$ 10 mil feita por sindicalistas

NacionalTSE decide que Ficha Limpa vale paracondenados também antes da sanção

Cenário: Felipe Recondo

CELSO JUNIOR/AE

D uas das estratégias mais usadas porpolíticos corruptos para se livra-rem da Justiça se tornaram armadi-lhas com a Lei da Ficha Limpa.

Quem se valer da desculpa de que o dinheiroobtido pela prática de corrupção é caixa 2 decampanha,ou recurso não contabilizado,esta-rá banido das eleições pelo prazo de 8 anos. Damesma forma, parlamentares que renuncia-remparaevitar aaberturade processodecassa-ção, como fez o ex-senador Joaquim Roriz, es-tarão inelegíveis por 8 anos. Essas duas saídasjá faziam parte da cultura política brasileira.

A lei aprovada pelo Congresso e sancionadapelo presidente Lula devem mudar esse recei-tuário.Para aqueles que seguiram essa linhadedefesa, articulada por competentes advoga-dos, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral(TSE) é catastrófica. Nos últimos anos, basta-va ser descoberto por corrupção para dizer queo dinheiro se destinaria à campanha eleitoral.As punições brandas para crimes eleitorais ba-nalizaram o termo caixa 2. Todos os mensalõesdescobertos não passaram, pela versão dos en-volvidos,deescorregadelanascontasdacampa-nha.Foi essa adesculpa do PT,o subterfúgio doPSDB mineiro e a alegação do DEM, com o ex-governador José Roberto Arruda.

O político condenado por caixa 2 estará en-quadrado pela Lei da FichaLimpa e não poderásecandidatar.Viroucostumetambémautiliza-ção da renúncia como saída para evitar a perdados direitos por quebra de decoro. São exem-plos o ex-governador Arruda, o ex-vice PauloOctávioedeputadosfilmadosemBrasília,rece-bendo dinheiro do esquema de corrupção. Adescoberta do mensalão do PT também levouà renúncia de deputados acusados de envolvi-mento, como Valdemar Costa Neto (PR-SP),Paulo Rocha (PT-PA). Resta, para os políticosque se vejam nessa situação, confiar no corpo-rativismo e enfrentar o processo. Caso contrá-rio, a pena é a inelegibilidade por 8 anos.

‘Decisão do tribunal é um marcoe traz princípios balizadores’

Votação. Ricardo Lewandowski (à esq.) preside sessão no TSE: único voto contra foi de Marco Aurélio Mello

Web. Estrategistas questionamlimites da legislação eleitoral

PROCURADORA DE JUSTIÇA DO MINSITÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

CÁRMEN LÚCIAMINISTRA DO TSE“No caso da inelegibilidade,o que se busca é a proteçãoda sociedade. Comonão é pena, não háretroação.”

estadao.com.br/e/web

‘A resposta atentou contraa determinação da anualidade’

Felipe RecondoMariângela GallucciBRASÍLIA

O Tribunal Superior Eleitoral(TSE) decidiu ontem, por 6 vo-tos a 1, que os políticos conde-nados por órgãos colegiadosantes de sancionada a Lei da Fi-cha Limpa também estão inele-gíveis. As mudanças na lei, por-tanto, não valem somente pa-ra aqueles políticos que foremcondenados a partir da sançãoe publicação da norma, em 7de junho deste ano.

Nalistados barrados emdecor-rência dessa decisão do TSE está,por exemplo, o deputado PauloMaluf (PP-SP), condenado porimprobidade administrativa.Além dos casos de condenação, alei vale também para os parla-mentares que renunciaram aomandato para evitar processosde cassação por quebra de deco-ro. Esta lista é extensa: o ex-go-vernador do Distrito Federal Jo-sé Roberto Arruda, o ex-senadorJoaquim Roriz (PSC) e os ex-de-putados distritais Junior Bru-nelli eLeonardo Prudente, flagra-dos recebendo dinheiro do cha-mado “mensalão do DEM”.

Os ministros indicaram quenão poderá haver aumento dasanção para os políticos que fo-ram condenados definitivamen-te no passado pela Justiça Eleito-ral.Antes, a pena de inelegibilida-de era de 3 anos. Com a nova lei,passou para 8 anos. Nessa situa-ção estão políticos cassados re-centemente pelo TSE, como osex-governadores Jackson Lago(Maranhão), Cássio Cunha Lima(Paraíba) e Marcelo Miranda(Tocantins). No entanto, comoos ministros não decidiram espe-cificamente sobre essa questão,ostrês ex-governadores ainda po-dem se tornar inelegíveis.

Na raiz desse julgamento estáuma mudança de última hora fei-ta pelo Senado no texto da lei

aprovado pela Câmara. Umaemenda do senador FranciscoDornelles (PP-RJ) alterou o pro-jeto para dizer que aqueles “queforem” condenados e não os que“tenham sido” condenados esta-riam inelegíveis. Os senadoresaprovaram o texto com essa mu-dança e passaram a entender queapenas políticos condenadosapós a sanção e publicação da leiestariam inelegíveis. Alegavamque a lei não poderia retroagir pa-ra prejudicar os políticos.

Em consulta ao TSE, o deputa-

do Ilderlei Cordeiro (PPS) per-guntou qual era o entendimentoda Justiça Eleitoral. O presidentedo TSE, Ricardo Lewandowski,chegou a consultar um professorespecialista em semântica e con-cluiu que os condenados antesda lei poderiam ser barrados.

Situação. “Não se trata de re-troatividade de norma eleitoral.Mas de sua aplicação aos regis-tros de candidatura futuros. Acausa de inelegibilidade incidesobre a situação do candidato nomomento doregistro da candida-tura”, afirmou, durante o julga-mento o relator da consulta, mi-nistro Arnaldo Versiani.

O ministro rejeitou também oargumento de que a lei estaria im-pondo uma pena, que seria a ine-legibilidade, a pessoas que aindanão foram condenadas definiti-vamente pela Justiça. “Quandose trata de inelegibilidade nin-guém está sendo considerado

culpado do que quer que seja”,disse Arnaldo Versiani. “Como ainelegibilidade não constitui pe-na não significa que esteja se an-tecipando o cumprimento deuma eventual pena.”

Para justificar esse entendi-mento, o ministro lembrou quealguns grupos são inelegíveis, co-mo os juízes e parentes de políti-cos.Versiani disse quea inelegibi-lidade não precisa ser imposta nacondenação. “A condenação éque, por si, acarreta a inelegibili-dade”, afirmou. “No caso da ine-legibilidade, o que se busca é aproteção da sociedade”, disse aministra Cármen Lúcia. “Comonão é pena, não há retroação.”

Marco Aurélio Mello votoucontra. “Aprendi desde cedo queno sistema brasileiro o direitoposto visa a evitar que o cidadãotenha sobre a sua cabeça umaver-dadeira espada de Dâmocles.Aprendi que a lei não apanha fa-tos passados”, afirmou.

PRESIDENTE DA COMISSÃO DE ESTUDOS ELEITORAIS DA OAB-SP

● Conceito

Táticas para driblarlei viram armadilhapara corruptos

Sucessão. Por 6 votos a 1, Tribunal Superior Eleitoral decidiu ontem pela inelegibilidade de políticos condenados por órgãoscolegiados antes de 7 de junho; decisão vale também para parlamentares que renunciaram ao mandato para evitar processos de cassação

estadão.com.br

Tânia Monteiro / BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula daSilva comemorou a informaçãoque recebeu ontem da diretoriada Confederação Geral do Traba-lhadores do Brasil (CGTB) deque os filiados fizeram uma “va-quinha” e já arrecadaram os R$10 mil para pagar a multa impos-

ta a ele pelo Tribunal SuperiorEleitoral (TSE). A multa foi apli-cada ao presidente por ter feitopropaganda eleitoral antecipadaem favor da candidata do PT aoPalácio do Planalto, Dilma Rous-seff, em janeiro passado.

“Ótimo, porque não tenho sa-lário pra pagar esta porra”, teriadito Lula ao presidente da CG-

TB, Antonio Neto, ao fim de suaparticipação na reunião do Con-selho de Desenvolvimento Eco-nômico e Social, no Itamaraty,ao saber que o dinheiro está à dis-posição dele e do partido.

A multa foi aplicada por dis-curso durante a inauguração dasede do Sindicato dos Trabalha-dores de Processamento de Da-dos e Tecnologia da Informaçãodo Estado de São Paulo, no dia 21de janeiro de 2010. “Avisamos aopresidente e estamos tambémcomunicando ao Dutra (presiden-

te do PT, José Eduardo Dutra)que já estamos com dinheiro ar-recado em vaquinha para pagar amulta. Vamos fazer uma soleni-dade para entregar o cheque ad-ministrativo a ele para quitar es-sa dívida”, disse Neto, que rela-tou o palavrão supostamente di-to por Lula.

Inauguração. Esta foi uma dasquatro multas aplicadas ao presi-dente Lula pelo TSE por campa-nha antecipada. Há ainda outrastrês recomendações de novas

multas pela Procuradoria-GeralEleitoral.

Durante a inauguração do sin-dicato, a multa foi aplicada por-que Lula afirmou: “Então, eupenso que a cara do Brasil vai mu-dar muito. E quem vier depois demim, e eu, por questões legais,não posso dizer quem é – esperoque vocês adivinhem, espero –,quem vier depois de mim já vaiencontrar um programa pronto,com dinheiro no Orçamento,porque eu estou fazendo o PAC 2porque eu preciso colocar di-

nheiro no Orçamento para 2011,para que as pessoas comecem atrabalhar.”

Antes, o presidente, em públi-co, deixou escapar um palavrãoao discursar para empresários eministros na reunião do Conse-lho de Desenvolvimento Econô-mico e Social. Lula reclamavadas altas taxas de seguro nos fi-nanciamentos para casa própriaquando disse “porra”. Em segui-da, pediu desculpas e continuoua criticar os preços cobrados pe-los bancos.

● Ao STFComo os atingi-dos pela novalei deverão tero registro decandidaturanegado pelosTREs, minis-tros do TSEesperam umaenxurrada dedemandas pa-ra tentar rever-ter a inelegibili-dade. Que aca-bará no STF.

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A4 SEXTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO