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1 REINVENTANDO O BRASIL Fernando Zornitta* Abordagem: Texto propõe mudanças de postura na forma de administrar o país, sugerindo a abertura de espaços para o potencial endógeno da população para aqueles que têm competências. Também propõe uma mudança no regime presidencialista para o parlamentarista e a fidelidade ao poder legislativo, ou seja, quem foi eleito para o legislativo, não pode migrar e exercer cargos no executivo. O Brasil até que poderia dar certo, mas do jeito que está sendo retomado agora e se anuncia para o pós-impeachment, com o ressurgimento dos mesmos políticos, parece que não vai conseguir reverter o anunciado caos por causa dos mesmos erros. Enquanto nos outros países “a máquina anda” adaptando-se aos novos tempos e, onde as competências de fora da política são valorizadas, no Brasil a “máquina teima em emperrar” nas mãos daqueles que poderiam fazê-la andar: os políticos de sempre e a já cansada estrutura de governança - exclusivamente em mãos de políticos e do fechado círculo partidário. Em países em que a estrutura de governo coloca-se à disposição da lógica e do bom-senso adaptando-se aos novos desafios, tudo funciona. Entretanto no Brasil, insiste-se no erro; a começar pelo comprovado e ultrapassado regime de governo, presidencialista, em que um único cidadão ou cidadã mesmo que eleito pelo voto direto, fica como têm ficado por mais de um mandato quando reeleito, comandando os destinos de uma nação; decidindo sobre tudo e agindo quase como um imperador e adequando com uma mão na caneta e legislando através das “medidas provisórias” - de acordo com a sua vontade e conveniência; condicionando assim os destinos do país. E, para isso, também arregimenta aqueles que poderiam barrar suas intenções os partidos políticos e em nome da pseudo “governabilidade”. Em troca lhes oferece e distribui cargos na estrutura administrativa do país desde ministérios até os cargos e funções mais simples. E, com o poder para tal, loteia e indica em todos os poderes e escaninhos da República, trazendo uma pesada carga ao país 1 . O Governo Federal tem 22.700 cargos comissionados, enquanto os EUA, por exemplo - que tem uma população com 100 milhões de pessoas a mais que o Brasil - tem cerca de 8 mil cargos na sua estrutura de governo. Nos Estados da Federação os cargos são em número de 115 mil indicados pelos governadores e por seus aliados e há 600 mil cargos de confiança dos Governos nas diversas 1 Segundo o documento encaminhado ao Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, intitulado Global Action Proposition ALL FOR THE PLANET, ALL FOR PEACE. Green Wave Movement contribution for human attitudes change, for peace and planet save / Inputs Suggestion to Post-2015 GSA and to new Agreement 2015 from Clime. Brazil, 2015. Zornitta, Fernando et Alii.

REINVENTANDO O BRASIL

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RREEIINNVVEENNTTAANNDDOO OO BBRRAASSIILL Fernando Zornitta*

Abordagem: Texto propõe mudanças de postura na forma de administrar o país, sugerindo a abertura de

espaços para o potencial endógeno da população – para aqueles que têm competências. Também propõe

uma mudança no regime presidencialista para o parlamentarista e a “fidelidade ao poder legislativo”, ou

seja, quem foi eleito para o legislativo, não pode migrar e exercer cargos no executivo.

O Brasil até que poderia dar certo, mas do jeito que está sendo retomado agora e se anuncia para

o pós-impeachment, com o ressurgimento dos mesmos políticos, parece que não vai conseguir

reverter o anunciado caos por causa dos mesmos erros.

Enquanto nos outros países “a máquina anda” adaptando-se aos novos tempos e, onde as

competências de fora da política são valorizadas, no Brasil a “máquina teima em emperrar” nas

mãos daqueles que poderiam fazê-la andar: os políticos de sempre e a já cansada estrutura de

governança - exclusivamente em mãos de políticos e do fechado círculo partidário.

Em países em que a estrutura de governo coloca-se à disposição da lógica e do bom-senso

adaptando-se aos novos desafios, tudo funciona. Entretanto no Brasil, insiste-se no erro; a

começar pelo comprovado e ultrapassado regime de governo, presidencialista, em que um único

cidadão ou cidadã – mesmo que eleito pelo voto direto, fica – como têm ficado – por mais de um

mandato quando reeleito, comandando os destinos de uma nação; decidindo sobre tudo e agindo

quase como um imperador e adequando com uma mão na caneta e legislando através das

“medidas provisórias” - de acordo com a sua vontade e conveniência; condicionando assim os

destinos do país.

E, para isso, também arregimenta aqueles que poderiam barrar suas intenções – os partidos

políticos e em nome da pseudo “governabilidade”. Em troca lhes oferece e distribui cargos na

estrutura administrativa do país – desde ministérios até os cargos e funções mais simples. E, com

o poder para tal, loteia e indica em todos os poderes e escaninhos da República, trazendo uma

pesada carga ao país1.

O Governo Federal tem 22.700 cargos comissionados, enquanto os EUA, por exemplo - que tem uma população com 100 milhões de pessoas a mais que o Brasil - tem cerca de 8 mil cargos na sua estrutura de governo. Nos Estados da Federação os cargos são em número de 115 mil indicados pelos governadores e por seus aliados e há 600 mil cargos de confiança dos Governos nas diversas

1 Segundo o documento encaminhado ao Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, intitulado Global Action Proposition

ALL FOR THE PLANET, ALL FOR PEACE. Green Wave Movement contribution for human attitudes change, for peace and planet save / Inputs Suggestion to Post-2015 GSA and to new Agreement 2015 from Clime. Brazil, 2015. Zornitta, Fernando et Alii.

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unidades da federação.2 Proporcionalmente aos respectivos PIBs, o Brasil gasta para o funcionamento do Congresso Nacional e da Câmara dos Deputados, 11 vezes mais do que a Espanha, 9 vezes mais do que o Reino Unido e 6 vezes mais do que os EUA e oferece uma mordomia de país rico, tanto para o legislativo quanto para os membros do poder judiciário3. Este último tem estruturas palacianas e salários de reis; 950 mil processos sem julgamento e prazos para finalização dos processos que podem passar de 20 anos, enquanto a população segue com a falta de justiça, que no Brasil não cumpre o seu papel.

Assim, mudam-se ministros, gestores. Mudam-se como mudam-se as roupas íntimas – de acordo

com a imundice que surge (embora as vezes nem sempre são trocadas, como recentemente vimos

na gestão da PETROBRÁS e em outras empresas públicas que passaram por graves problemas de

corrupção bem debaixo dos narizes dos seus gestores e dos Conselhos de Administração “que lhes

dão o norte e o suporte” – sem esquecermo-nos do CAF ou do próprio Conselho de Administração

da PETROBRAS); sendo que e o gestor e sua “diretoria” continuavam sendo os mesmos.

A política partidária e o comando de todos os escalões e postos da República estando nas mãos de

políticos e politiqueiros de plantão e não nas mãos daqueles(as) que através da educação foram

em busca das competências para contribuir socialmente; fazendo parte do potencial endógeno e

da inteligência da nação; os quais quando aproveitados ficam relegados àqueles que ocupam

politicamente a estrutura. Assim a máquina não pode andar e nem se azeita, pois os interesses da

política partidária raramente estão afinados com o que deve ser feito e nem com as premências

da nação.

Sem as competências e o domínio das áreas administradas, vemos aventuras empíricas que viram

bandeiras nas mãos dos gestores; projetos e programas alienígenas que não se concretizam;

vemos o desperdício de recursos públicos; vemos – como vimos - aviões caindo e pessoas

calcinadas; vemos o patrimônio ambiental se depreciar; a economia retrair-se; as diversas áreas

de serviços fundamentais à população e todos os problemas aumentarem. Assim, não dá e não

vai.

Pegando-se como exemplo alguns Ministérios, podemos comprovar isso. O do Turismo, que

representa uma das atividades mais importantes pelo potencial que tem o país4, beira a uma piada

e raramente é administrado como uma das vertentes macro econômicas adequadas. Desde que o

turismo ganhou o status de ministério no Brasil, mesmo que misturado com outras pastas – como

já foi com a da Indústria, Comércio (Ministério da Indústria, Comércio e Turismo); ou com a do

Esporte (Ministério do Esporte e Turismo); em 24 anos foram 18 ministros empossados. De 2003

para cá (governo do PT) já foram 8 ministros – alguns não esquentando a cadeira por mais de um

ano (menos do que um treinador de futebol).

2 Artigo “Brasil gasta demais com funcionários públicos”, Comunicação Millenium em Blog, 03/10/2014.

3 O Brasil gasta por ao de 1,3 PIB e 2,5% de todos os gastos anuais da nação só com a justiça – equivalentes a mais de 61 bilhões de Reais em 2013 e 89% destes recursos são para os recursos humanos; segundo o estudo Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça.

4 Movimenta perto de 60 setores da economia e pode contribuir para o desenvolvimento local, regional, nacional e transnacional na aproximação dos povos e promoção da paz. Ajuda a valorizar o patrimônio cultural e o meio ambiente onde se desenvolve. Mas para isso, deve ser corretamente administrado.

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E, quem eram eles - no sentido das competências para administrar a pasta a partir do amplo

contexto econômico, sociocultural e ecológico ambiental desta atividade; pelos nomes pode-se

avaliar:

Governo Luiz Inácio Lula da Silva:

- WALFRIDO DOS MARES GUIA (de 01 de janeiro de 2003 a 22 de março de 2007)

- MARTA SUPLICY (de 23 de março de 2007 a 02 de junho de 2008)

- LUIZ BARRETO FILHO (de 03 de junho de 2008 a 31 de dezembro de 2010)

Governo Dilma Rousseff:

- PEDRO NOVAIS (de 01 de janeiro de 2011 a 14 de setembro de 2014)

- GASTÃO VIEIRA (de 14 de setembro de 2011 a 17 de março de 2014)

- VINÍCIUS LAGES (de 17 de março de 2014 a 16 de abril de 2015)

- HENRIQUE EDUARDO ALVES (de 16 de abril de 2015 a 28 de março de 2016)

- ALESSANDRO TEIXEIRA (desde 22 de abril de 2016)

O regime presidencialista tem se mostrado um entrave para a operacionalização, funcionamento e

desenvolvimento do país. O descrédito popular nas instituições, poluídas pela incompetência e

pela corrupção, são das maiores demonstradas na história; além de uma das piores do mundo

(assim se manifestam sobre isso os setores produtivos, emperrados e agora sem saídas).

No caminho dos indicativos de solução, sugere-se três adaptações que podem melhorar o país

neste momento e, já deixando como sugestão às nossas instituições para que se consiga

conquistá-las:

- MUDANÇA NO REGIME DE GOVERNO PARA O PARLAMENTARISMO – O regime presidencialista

no sistema republicano de governo, em vez de contribuir está travando o desenvolvimento do país

e é chegada a hora de buscarmos um sistema mais acomodável às mudanças e aos novos tempos,

como é o Regime Parlamentarista de governo – o qual permite uma substituição do líder máximo

da nação se não corresponder à expectativa através de um parlamento eleito. Assim sugere-se

que o Brasil passe por uma extensa campanha explicativa à população sobre o que vem a ser e

como funciona este sistema e, após seja procedido um plebiscito para termos a anuência e a

legalidade na mudança (ver texto “O PARLAMENTARISMO PODE SER UM NOVO CAMINHO” 5).

- ABERTURA DO SISTEMA DE GOVERNANÇA – O sistema atual de governança, que se caracteriza

pela encampação de toda a estrutura do poder executivo por políticos em nome da pretensa

“governabilidade”, deve mudar; deve sair desta forma ultrapassada e exclusiva de governança que

loteia a estrutura da gestão pública aos partidos políticos e abrir-se às competências de cidadãos

comuns na administração da coisa pública;

- FIDELIDADE AOS PODERES / FIDELIDADE AO LEGISLATIVO - Hoje um cidadão(ã) eleito(a) para o

legislativo, pode migrar para o poder executivo e exercer cargos e funções para as quais é

5 Acessível em http://pt.slideshare.net/fernandozornitta/brasil-o-parlamentarismo-pode-ser-um-novo-caminho

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convidado(a), abandonando o mandato para o qual foi eleito(a). Isso é insano e beira a falsidade

ideológica; mas é assim que ocorre6. A proposição é que por legislação específica haja o

impedimento da migração do legislativo para o executivo, além de outros aspectos apontados, tais

como aquele que já migrou, restitua aos cofres públicos os recursos aplicados para a sua eleição –

dentre outros aspectos sugeridos. Essa nossa proposição do autor é antiga - do início deste século

para ser mais exato e já foi enviada em 2005 para todos os deputados então em exercício em

Brasília – sem qualquer resposta, por educação que fosse (ver texto FIDELIDADE AO PODER

LEGISLATIVO7).

Assim e pontuando essa vertente, sugere-se que de imediato e enquanto não tivermos em leis o

que aqui vai sugerido; que pelo menos na composição das forças para ajudar ao país a sair do

buraco em que se encontra, todos possam ajudar e a estrutura de governo não mais seja

encampada e possuída por políticos de carreira e oportunistas de plantão. Assim, também

sugerimos aos governantes – independentemente de quem venha a ser o gestor máximo da

nação; se for aprovado ou não o impeachment – que adote-se essa postura e o país se abra às

contribuições de cidadãos que tenham competências para ajudar o país a mudar e melhorar.

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Fica autorizada a reprodução do texto.

José FERNANDO ZORNITTA, Ambientalista, Arquiteto e Urbanista, Especialista em Lazer e Recreação (Escola Superior de Educação Física da UFRGS/Porto Alegre) e em Turismo (OMT-ONU/Gov. Italiano/Roma). Estágio de Aperfeiçoamento em Planejamento Turístico junto à Universidade. de Messina (Laboratório de Geografia Econômica / Direção Prof. Carmelo Cavallaro -Messina /Itália). Período presencial do Curso de Doutorado em Planejamento e Desenvolvimento Regional na Universidade de Barcelona (com foco no turismo e projeto de pesquisa na América Latina e Caribe). Curso de Técnico de Realização Audiovisual e desenvolve atividades como artista plástico e designer. Tem produção literária – livro e artigos técnicos publicados. É coidealizador e sócio-fundador de ONGs atuantes nas áreas de meio ambiente, cinema e vídeo, esportes e lazer – dentre outras. Foi membro do GTMA (Grupo de Trabalho de Meio Ambiente do CREA-CE – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) e membro do GTPA (Grupo de Trabalho em Planejamento da Acessibilidade do CREA-CE) durante 6 anos; membro do Fórum do Idoso e da Pessoa com Deficiência há 8 anos. Cidadania brasileira italiana. Domínio do português, espanhol, italiano e regular inglês. Nascido em Porto Alegre, tem cidadania brasileira e italiana (não é filiado e nem milita em partidos políticos) E-mail: [email protected]

6 O clímax disso foi o de 24 parlamentares, entre eles 4 Ministros de Estado e Secretários Estaduais – que estavam nomeados e em exercício, simultaneamente terem pedido afastamento, para retornarem à Câmara dos Deputados, para votarem contra o indicativo do impeachment da Presidente Dilma Rousseff em 17 abril de 2016.

7 Acessível em http://pt.slideshare.net/fernandozornitta/fidelidade-ao-poder-legislativo