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APS e a questão racial, elementos da nossa história Uma breve introdução 1. A APS vem se debruçando sobre a questão racial porque compreende que não é possível se pensar no socialismo sem compreendermos as várias faces da formação social brasileira. A questão racial deve ser pensada de forma estratégica e não como elemento tático nas disputas cotidianas. 2. Nestes mais de 500 anos, o povo brasileiro luta contra a exploração das elites. A APS entende que o racismo é um instrumento de dominação criado pelas elites colonialistas, e que é até hoje uma forma de controle e discriminação da população negra de nosso país. A prática do racismo no sistema social e político capitalista é estrutural, ou seja, é apoiada pelo estado e por seus aparelhos ideológicos (meios de comunicação, escolas, universidades etc). Enquanto houver capitalismo, haverá racismo! 3. Em tempos de hegemonia das políticas neoliberais, o racismo brasileiro tem uma face institucional e militar: a faxina étnica. Esta política de faxina étnica define – para negros, “pardos”, “morenos” e “mulatos” – quais são os territórios em que podem viver e a forma como devem viver. Favelas, periferias, subúrbios e alagados são fenômenos que revelam, no território urbano, a unidade entre capitalismo e racismo, entre classe e raça. Esta é uma política de recolonização que divide nossas cidades em territórios distintos: um reservado aos ricos e brancos; outro, aos trabalhadores e negros.

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APS e a questão racial, elementos da nossa história

Uma breve introdução

1. A APS vem se debruçando sobre a questão racial porque compreende que não é possível se

pensar no socialismo sem compreendermos as várias faces da formação social brasileira. A

questão racial deve ser pensada de forma estratégica e não como elemento tático nas disputas

cotidianas.

2. Nestes mais de 500 anos, o povo brasileiro luta contra a exploração das elites. A APS entende

que o racismo é um instrumento de dominação criado pelas elites colonialistas, e que é até

hoje uma forma de controle e discriminação da população negra de nosso país. A prática do

racismo no sistema social e político capitalista é estrutural, ou seja, é apoiada pelo estado e

por seus aparelhos ideológicos (meios de comunicação, escolas, universidades etc). Enquanto

houver capitalismo, haverá racismo!

3. Em tempos de hegemonia das políticas neoliberais, o racismo brasileiro tem uma face

institucional e militar: a faxina étnica. Esta política de faxina étnica define – para negros,

“pardos”, “morenos” e “mulatos” – quais são os territórios em que podem viver e a forma

como devem viver. Favelas, periferias, subúrbios e alagados são fenômenos que revelam, no

território urbano, a unidade entre capitalismo e racismo, entre classe e raça. Esta é uma

política de recolonização que divide nossas cidades em territórios distintos: um reservado aos

ricos e brancos; outro, aos trabalhadores e negros.

4. Há alguns elementos que devemos apontar, há um conflito entre uma concepção em que o

racismo aparece como estruturante na formação do Estado e sociedade brasileira e precisa ser

percebido na relação não hierarquizada entre raça e classe, e outra em que o racismo é

compreendido como uma das faces do capitalismo e, portanto, a categoria mais apropriada

para compreender as desigualdades raciais é a categoria classe. Há ainda uma perspectiva que

analisa o racismo sob a onda culturalista e a “pós-moderna”, os discursos sobre o racismo nos

levaria, então, a não buscar uma síntese e sim, nos perder nas aparências da problemática que

fragmentaria a realidade. Assim, os militantes que pensam a questão racial ou de gênero

seriam aqueles que não deteriam com clarividência toda a complexidade da questão.

5. Sem entrar no longo debate que isso suscita, evidenciamos que o nosso esforço de trazer o

debate é afastá-lo da visão pós-moderna e culturalista e também de uma visão engessada do

estruturalismo. Nesse embate, vivemos uma realidade ambígua, dentro e fora da corrente:

enquanto, para dentro, somos considerados por alguns como os “pós-modernos”, para fora,

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no movimento negro, somos os que só conseguem pensar raça associado à classe, o que nos

faz ser vistos com certa desconfiança por setores que temem que a questão racial seja

subsumida pela luta de classes.

6. Esta incompreensão em relação a nossa posição é razão suficiente para que, nós, negros

comunistas, sigamos produzindo reflexão teórica e atuando no movimento social negro e nos

diversos movimentos sociais apontando para a centralidade da questão racial em um projeto

de transformação da sociedade brasileira.

7. Esse texto representa um continum do esforço de compreender algumas nuanças da realidade

brasileira no que tange a essa temática e de refletir também as nossas experiências com o

movimento negro. O texto tem três momentos. O primeiro busca evidenciar elementos da

trajetória histórica negra no Brasil, o segundo evidencia alguns elementos das opções

políticas feitas pelo movimento negro e por nós no movimento negro e por fim, elencamos

uma série de tarefas e concepções que são parte do movimento negro e na qual precisamos

nos debruçar.

8. Um traçar histórico

9. As concepções de inferioridade e superioridade entre os indivíduos estruturaram a empreitada

colonialista no século 16 e concretizaram a escravização dos povos originários da América e

dos povos africanos. Ao longo do século 19 o colonialismo consolidou práticas sociais

racistas, amplamente justificadas pela religião cristã na América e pelas demais instituições

da sociedade escravista e definiu diferentes lugares sociais para cristãos, cristãos novos,

judeus, índios e negros.

10. Para ocupar cargos na administração das colônias na América os cristãos teriam que provar

que não tinham sangue impuro, sangue de judeu ou muçulmano. Eis a origem da ideia de

pureza das raças que se propagou e que incorporou negros e índios e ainda hoje é uma

realidade concreta em várias regiões.

11. No Brasil isso se enraizou nas instituições jurídicas, políticas e religiosas, além se impregnar

nas formas de pensamentos e atitudes que excluíam de “direitos sociais” toda uma população

considerada negra ou indígena e mestiça.

12. A gênese da formação da sociedade de classes no Brasil está no Estado escravista que se

organizou de forma a garantir a dominação de uma minoria sobre uma maioria escravizada,

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ou seja, foi formado um corpo jurídico, político, legislativo, cultural e religioso que

garantisse a manutenção da ordem escravista.

13. Quando a escravidão deixou de existir o Estado brasileiro garantiu através de diversos

mecanismos o controle sobre a maioria da população agora liberta, um tratamento o mais

próximo da escravidão possível. Isso garantia a continuidade da produção para a exportação e

a manutenção da ordem hierárquica que definia a naturalidade da desigualdade entre brancos

e negros e a sua não contestação.

14. Dentre esses mecanismos destacamos o uso sistemático da repressão institucional, através da

força policial e da aprovação de uma legislação que criava barreira à mobilidade social de

negros e negras, o discurso da harmonia racial o discurso da incapacidade de aprender da

população negra que recorrentemente era usada para reduzir o poder de contestação ou para

reafirmar a sua inadequação ao modelo de civilização desejado.

15. 1.2. Controle: a reorganização da polícia no pós-abolição

16. Estudos sobre as origens da polícia militar na Bahia nos dá a exata medida que cumpre essa

instituição no Brasil. No pós-abolição a polícia se reorganizou como Corpo Militar de

Polícia, e suas funções foram redirecionadas. Os objetivos da polícia perpassavam agora pelo

controle de uma série de homens e mulheres que não mais eram escravos e que, portanto,

poderiam circular livremente pelas ruas das cidades. A prisão/encarceramento era visto como

possibilidade concreta de controle sobre a população negra.

17. O papel da polícia passou de repressão às revoltas escravas para a perseguição aos libertos, o

que nos dá a exata dimensão de que a instituição policial fora reformulada no pós-abolição

para proteger a propriedade privada e conseqüentemente os interesses e proteção dos antigos

senhores de escravos.

18. Como a prática da escravização fora proibida e a figura do capitão do mato tornada obsoleta,

as elites dominantes vão utilizar a policia militar para cumprir o papel institucional dos

antigos “capitães do mato” e transformar o negro liberto em escravo fugido, sob qualquer

alegação, a vadiagem, dentre tantas outras alegações, eram utilizadas sistematicamente como

justificativas para a repressão e encarceramento dos libertos. (Maia, 2002)

19. Assim, a polícia, enquanto agente do Estado cumpriu um papel fundamental na regulação das

relações sociais e nas relações de trabalho, além de garantir a manutenção das hierarquias e

do status quo.

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a. Controle: da vagabundagem a ridicularização do negro

20. No inicio do século 20 algumas leis sobreviveram ao fim da escravidão, por exemplo, a que

proibia a entrada de povos de cor no país só deixou de ser uma realidade em 1911, quando o

Brasil precisou estreitar relações com os chineses. Neste período vimos também uma

generalização da ideia de vagabundagem como justificativa para controlar, encarcerar e

perseguir pessoas.

21. Evidenciou-se a disseminação das idéias cientificistas que definiam que as populações negras

eram biologicamente inferiores, beirando ao animalesco, que esta tinham “naturalmente” uma

tendência a preguiça, a violência, não usavam a razão, sem discernimento entre o que era

imoral e moralmente aceito. Os discursos sobre as mulheres negras afirmavam que estas

tinham uma sexualidade exagerada.

22. Assim, afirmar a suposta inferioridade do negro, encarcerar e exterminar foi pensado e feito.

O Estado se empenhou na viabilização do processo de “embranquecimento” da população

brasileira dando continuidade a política de incentivo à imigração, em curso desde o 19.

23. Um dos objetivos desse empreendimento era diluir a mancha negra na brancura dos

imigrantes como afirmou Roquette-Pinto e Lacerda em 1912 em trabalho apresentado no e

sobre o Congresso Mundial da Raça ocorrido na Inglaterra em 1911, estes afirmaram que no

ano de 2012 os brancos representariam 80% da população brasileira, os indígenas, 17% e os

mestiços, 3%, sendo que os negros tendiam a desaparecer de vez do território nacional

(Souza, 2012).

24. Outro era escolher, controlar e impedir os nascimentos dos “degenerados”, “doentes”,

“deficientes” e uma gama impressionante das ditas anomalias além do pré-requisito racial,

como queria a eugenia no Brasil. Um exemplo disso foi a afirmação de Monteiro Lobato

numa de suas várias cartas a Renato Kehl sobre o povo brasileiro

a. [...] pais que nasce torto não indireita nem a pau. A receita [...] para

concertar o Brasil é a única que me parece eficaz. Um terremoto de 15 dias,

para afofar a terra; e uma chuva de adubo humano de outros 15 dias, para

adubá-la. E começa tudo de novo. Perfeita, não? (abril de 1936 in Diwan,

2007, 137)

25. Com força, sobretudo, nos cursos de direito e medicina, as teorias do “racismo científico”

constituíram a base de nosso direito penal e criminal e as campanhas de sanitarização que

tinha como alvo principal as populações negras e pobres das cidades. De acordo com as elites

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republicanas, “embranquecer” a nação significava modernizá-la, ou seja, varrer a “mancha

negra” da face brasileira que emperrava o desenvolvimento nacional.

26. Qualquer atitude que subvertesse a ordem ocasionaria, no mínimo, na ridicularização dos

indivíduos. Há um caso relatado pelo jornal A Tarde de 1925 ocorrido nos Estados Unidos

que ridicularizava e ironizava a ideia de se recontar a história a partir do ponto de vista racial.

A perspectiva de subverter o status quo ao buscar uma ancestralidade cristã negra como

forma de estabelecer uma identidade étnica foi um verdadeiro escândalo. Além de um

momento importante para reafirmar que aqui se vivia num paraíso racial e que os EUA eram

um inferno racial.

27. A busca por uma certa identificação racial não era interessante para as elites no Brasil, posto

que poderiam gerar uma série de conflitos e a maioria visível não era constituída por brancos.

Revelar uma batalha racial não era interessante, importante era ridicularizar a busca por uma

afirmação de identidade racial e exaltar a harmonia racial. Para ilustrar vejam a nota que o

jornal produziu.

1. Um Christo de côr de carvão? É o que querem os pretos dos Estados Unidos. 2. [...] Os congressistas decidiram que os crentes de cor devem ter nas igrejas o Christo,

a Virgem e os Santos todos negros e que pretos devem tambem ser os Moysés, Darios e Salomão nas reproduções das edições “negras” do Velho e Novo Testamento. Asseguram os negros eruditos que taes modificações não falseam, antes restabeleciam a verdade historica e desde esse momento os pretos desenhistas, pintores e escultores se esforçam para buscar documentos e realizar a transposição para a ordem negra, de todas as figuras da Historia Sagrada.[...]1

b. O mercado de trabalho

28. A necessidade da formação e regulamentação de um mercado de trabalho no país concentrou

todo o aparato de repressão do estado em torno da marginalização do povo negro. Uma nação

que queria ser um pedaço da Europa na América, punia com encarceramento, perseguição,

porrada, suicídios e homicídios aqueles que eram vistos como “vagabundos”, “cachaceiros”,

“macumbeiros” e “capoeiras” entre outros que punham em risco a consolidação do modo de

vista burguês nos trópicos.

29. Em conjunturas de crise do sistema capitalista ocorre um aumento dos processos de

favelização, encarceramento e extermínio do povo negro e dos pobres como mais um

instrumento de reprodução do sistema capitalista. O histórico da sociedade brasileira indica

1 A Tarde, 19/01/1925, p.8.

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que os postos de trabalho já estavam definidos a priori, seguindo os critérios raciais para

proporcionar melhores condições de vida para alguns.

30. Na disputa por melhores condições de vida e de trabalho nas incipientes e nascentes fábricas

no Sudeste havia uma proliferação de discursos que contribuía para garantir o trabalho de

alguns e impedir que outros ocupassem as vagas. Assim, se produzia um discurso em que os

imigrantes eram considerados melhores e mais experientes no trabalho da fábrica, mesmo que

a maioria que tenha chegado ao Brasil fosse de camponês (Domingues, 2004). Por outro lado,

difundi-se a noção de que os negros eram preguiçosos, moralmente inferiores, sexualmente

violentos, abusados, perigosos, entre outros. Assim, os postos de trabalho não deveriam ser

ocupados por estes.

31. Quando pensamos na formação das classes no mundo capitalista na modernidade é necessário

estabelecer relação com a escravidão e com o racismo. O racismo, como o conhecemos, foi

forjado nos século 17 e 18 e serviu de grande justificador para a utilização da escravidão no

trabalho das plantações no Novo Mundo, fundamental para o capitalismo. Ou seja,

capitalismo e racismo nasceram na mesma marcha de expropriação dos indivíduos na sua

relação com o trabalho (Comas, 1960).

32. No Brasil a formação das classes sociais está estritamente ligada à base racial, aqui a

manutenção do status quo está relacionada à forma como os significados raciais podem ser

traduzidos em ações. As classes dirigentes no Brasil são oriundos dos antigos senhores de

escravos que mudaram para não mudar nada, o que nos impossibilita de pensar em classe

sem pensar em raça.

33. Assim, ser branco garantia e garante melhores acessos a empregos, garante pelo menos a

certeza de que seu currículo será analisado numa entrevista, assim como ser negro ou negra

passou a ser sinônimo e de trabalho penoso, insalubre e de baixa remuneração. Como disse o

poeta “a carne mais barata do mercado é a carne negra”.

a. Uma estratégia de dominação: a democracia racial

34. Entre o final do 19 e inicio do 20 se disseminava a noção de que éramos um povo que apesar

de inferior, apesar de não sermos os ditos “grandes países civilizados da Europa” tínhamos

uma característica que nenhuma outra nação possuia. Éramos um povo que convivia

harmoniosamente com todos os outros, aqui brancos e negros conviviam bem, podiam andar

nas mesmas calçadas, freqüentarem os mesmos espaços sem que isso incitasse quaisquer

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disputas e querelas, enfim, como diziam alguns jornais do inicio do século, vivamos num

paraíso racial.

35. Muito diferente dos Estados Unidos que era considerado o inferno racial. Essa crença foi

fundamental para reduzir uma série de situações potencialmente conflituosa que fazia parte

do cotidiano dos brasileiros. (Reis, 2000)

36. Silvio Romero, reconhecido homem de ciência no inicio do século 20 expôs nas páginas do

Diário de Noticias uma visão positiva frente ao povo brasileiro, sua noção de mestiçagem

enquanto possibilidade de um futuro povo melhor. Segundo este a raça “ariana, ao reunir-se

no Brasil com negros e com índios, proporcionou a formação de uma sub-raça mestiça e

crioula, distincta da Europa” [...] O povo brasileiro como hoje se nos apresenta, se não

constitue uma só raça composta e distincta, tem elementos para acentuar com força e tomar

um ascendente original nos tempos futuros. Talvez tenhamos que representar na América um

grande destino cultural-historico”.2

37. Gilberto Freyre mais tarde, ampliará essa concepção para a perspectiva de que o melhor do

Brasil era justamente o seu povo mestiço. Mesmo que esse melhor indique um povo mestiço

cada vez mais branco, de qualquer forma essa ideia foi na contramão das que afirmavam que

o povo brasileiro era um povo degenerado.

38. As noções de harmonia racial se ampliaram para o que passamos a conhecer como

democracia racial, que sintetizou um ideal de convivência entre brancos e negros, possível de

ser verificado na fala de vários intelectuais brasileiros (Thales de Azevedo, Edison Carneiro,

René Ribeiro) e vários intelectuais estrangeiros (Ruth Lands, Donald Pierson, Roger

Bastides). Mas tínhamos também alguns intelectuais que analisaram a sociedade brasileira e

produziram importantes trabalhos que a partir da perspectiva de classe e questionaram a

noção de democracia racial consolidado pela sociedade, como Clovis Moura e Florestan

Fernandes.

39. O movimento negro a partir dos anos 1970 começou a fazer uma série de intervenções na

sociedade para afirmar que a democracia racial foi uma das maiores farsas vivenciadas no

Brasil. Um país maravilhosamente mestiço formado pelo encontro de três raças, branco,

índio e negro. Esse discurso camuflou uma sociedade profundamente desigual e

absolutamente racista.

2 Diario de Noticias, 16/12/1910, P.7.

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40. Resistência Negra: o movimento negro e a aps

41. A resistência dos negros e negras contra a opressão durante a escravidão e no pós-abolição e

ao longo do século 20 é fundamental para inspirar através do resgate da sua trajetória

histórica de luta os movimentos sociais na América e especialmente o movimento negro. Este

se constitui das formas mais variadas, mas evidencia um elemento comum, a busca da

superação da condição desigual de sobrevivência em que vive a população negra. As

estratégias de superação vão da denúncia á ação, dentro da ordem e fora da ordem.

Pretendemos nesse item elencar alguns momentos para trazer para a nossa discussão.

42. Assim, é importante falarmos de uma série de organizações negras que estavam ligadas a

religiosidade, seja a cristã ou as africanas e que de diversas formas foram fundamentais para

superar uma série de dificuldades na sociedade e imprimir uma forma de existir, uma maneira

de se relacionar com o mundo. Além destes estão também às ações organizadas para

participar do carnaval e do futebol e outros.

43. Para além destas manifestações temos o primeiro grupo que pensou estrategicamente sobre a

sociedade. Assim, destaca-se neste contexto a atuação da Frente Negra, o TEN (Teatro

Experimental do Negro) na primeira metade do século 20. Também vale a lembrança do

impacto da saída do bloco carnavalesco “Mundo Negro” em 1974, que depois veio a se

chamar Ilê Aiyê, na Bahia, que suscitou uma série de noticias para fora do estado que

evidenciava o horror dos brasileiros quanto àquela manifestação. Importante foi a influência

das lutas por direitos civis nos EUA nos movimentos negros no Brasil após os anos de 1970.

44. Consideramos importantes, também, as conquistas do movimento social negro que redefiniu

as políticas publicas brasileiras ao obrigar o Estado brasileiro reconhecer o racismo como

promotor das desigualdades sociais no Brasil, tendo destaque a Marcha “ZUMBI 100 ANOS

SEM ABOLIÇÃO” e a luta pela implementação das políticas afirmativas no Brasil, que

proporcionou a inclusão dos negros e negras nas universidades públicas através do

mecanismo das “cotas raciais”.

45. Embora o contexto recente revele um conjunto de conquistas no plano institucional, ainda é

fato que a desigualdade persiste e tem se aprofundado e com ela, principalmente em situações

em que a crise do capital atinge o Brasil, cujas saídas apresentadas pelas elites são os planos

de “Ajustes Fiscais” que transferem o ônus da crise para as costas dos trabalhadores,

principalmente pela retirada de direitos, precarização do trabalho e aumento dos impostos.

46. Neste sentido apontamos a necessidade de uma crítica duríssima às entidades de vanguarda

do movimento negro na contemporaneidade que subordinou as suas lutas ao nível das ações

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institucionais, aderindo e adotando como prioridade a lógica da disputa por dentro do aparato

do estado em quaisquer governos de plantão, e restringindo, a sua intervenção as políticas de

gabinetes. Voltaremos a falar mais a frente sobre essa atitude adesista.

47. No contexto atual da luta de classe a luta contra o racismo assumiu uma perspectiva

institucionalizada e limitada a inclusão dos negros e negras às ofertas de políticas

compensatórias dentro do formato das políticas neoliberal. Dessa forma tem se elitizado e se

distanciado da periferia, território onde reside a maioria negra.

48. 2.1 Um balanço da nossa atuação no movimento negro

49. A atual conjuntura mostra-nos que há uma lenta, mas vigorosa retomada da ação dos

movimentos sociais seja os sindicais, a exemplos dos servidores públicos e da educação nas

diversas esferas, os de luta por moradia, ou o movimento estudantil, no entanto, o mesmo não

ocorre com o movimento social negro e o feminista. Mesmo levando em consideração que as

questões raciais e as pautas levadas a cabo tanto pelo movimento feminista quanto pelo

movimento de mulheres subsistem integrando pautas de outros movimentos.

50. As cooptações do movimento negro e de muitos de seus integrantes pelos governos do Lula

PT/PL e Dilma PT/PMDB levou a um descenso das lutas. As secretarias com status de

Ministério, a exemplo da SEPPIR, e órgãos semelhantes nos estados e municípios, serviram

para atrair várias lideranças negras para institucionalidade. Como é o caso de dirigentes da

Unegro, MNU, COBEN, CEN e outros agrupamentos regionais, que subordinaram a sua

atuação ao limite da interface com os governos.

51. As bandeiras tradicionais do MN foram minimizadas ou esquecidas sob a desculpa de que

não poderia desgastar o governo porque ele reduziria as desigualdades vividas pela população

negra. Os segmentos do MN que se submeteram aos desígnios desse governo tornaram-se

correia de transmissão do partido e sustentação de seus governos. Por isso a necessidade de

uma organização autônoma e independente do governismo e seus partidos.

52. Foi na tentativa de ocupar esse espaço deixado pelo MN governista que Círculo Palmarino foi

criado. Seu surgimento foi resultado do primeiro ativo de negras e negros da APS que

aconteceu em março de 2005 no Espirito Santo e surgiu para aglutinar a nossa militância que

atuava no movimento negro, mas de forma dispersa, naquela conjuntura as organizações

negras estavam atreladas “às estruturas governamentais, parlamentares e sindicais

patrocinadas por PT e PSDB e pelos governos Lula e FHC”. Naquele momento

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acreditávamos que os afro-comunistas poderiam potencializar sua intervenção no MN,

disputando as concepções desse MN.

53. CP deveria então, formar uma nova “corrente política" no movimento negro, autônoma e

distinta das demais organizações do MN que se construíram na forma de entidades. Por conta

deste entendimento, ficou em aberto a definição em relação a nossa participação na CONEN,

no MNU e nas demais entidades e organizações negras, ressalvando-se, no entanto, que a

centralidade de nossa ação se daria por meio do CP” neste sentido o CP seria compreendido

como uma ferramenta de vanguarda para intervenção no MN com possibilidades de ter seus

militantes atuando nas diversas formas de organização do MN de caráter regional ou

nacional. (Relatório do 1° Ativo de negros e negras da Aps “Genildo Batista” Vitória-ES, 11

e 12 de março de 2005.).

54. Assim, o CP foi um dos poucas articulações do movimento negro brasileiro que se afirmava

enquanto corrente do M N, que se propunha a ser aglutinadora dos comunistas, socialistas e

lutadores sociais empenhados em fazer a luta contra a exploração do capital na sua forma

atual de dominação neoliberal, enquanto tal compunha o estreito espaço de aglutinação da

esquerda no movimento negro brasileiro, dessa forma se apresentando como uma novidade já

que seu formato pretendia estabelecer uma dinâmica de movimento e não de entidade.

55. Para resolver o problema com relação a sua face institucional foi proposto a criação do

Instituto Manuel Querido que era sua face institucional e responsável em desenvolver

pesquisas, formação e programas de intervenção no movimento social dos negros e negras.

56. Após o racha ocorrido no V encontro, a APS resultou em três forças distintas, aquela que

ficou com a maioria da executiva nacional, a “Dissidência”, e a que se constituiu

posteriormente como Rosa Zumbi e nós, APS. Os militantes dos dois coletivos recém

formados possuíam atuação no CP, o que gerou expectativas e tensões com indefinições

quanto às posições políticas no movimento social no pós-racha da APS. Este evento resultou

em vários momentos de conflitos na lista do CP, trazendo à tona as divergências de condução

do CP agravada com o racha. Essas divergências levaram a setores da APS que atuavam no

CP a se afastarem e posteriormente a defender a nossa saída dessa organização. Fato que se

consumou em 2012 em face da realização do ativo nacional de negros e negras da APS.

57. Na época os que advogavam a permanência no CP afirmavam a existência de um legado

construído por nós e que, portanto, não havia motivo para sair e sim buscava a permanência

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neste e a perspectiva de disputá-lo. Os que advogavam a saída da APS do CP argumentavam

que seus dirigentes tinham práticas antidemocráticas e cupulistas, o que dificultaria uma ação

unitária no cotidiano das relações nos movimentos sociais e foi essa posição que se tornou

vitoriosa

58. De forma contraditória ao discurso alegado para nos afastarmos do CP o processo de

construção dessa decisão, que levou a construção do ativo nacional de negros e da APS,

também revelou práticas antidemocráticas e cupulistas. Percebida pelos métodos empregados

de inchamento de delegação e construção de maioria artificial, prática condenada, herdadas

do contexto da luta sindical e transportadas de forma lamentável para a convivência dos

militantes da APS.

59. Consideramos que o processo anti-democrático do grupo dirigente do CP que veio a se

constituir no Coletivo Rosa Zumbi e na dissidência da APS, pós racha da APS, terminou por

impossibilitar a convivência amistosa dentro do CP, o que tornou a convivência um pouco

difícil, para a busca de consensos para atuar no movimento social.

60. Ilustramos essa situação em quatro momentos em que argumentos políticos e pessoais se

confundem. Foram as situações vivenciadas no Rio de Janeiro, em Belém, em Vitória e um

momento em que dirigentes do CP agiram de forma a restringir e invisibilizar as nossas

lideranças em vários momentos em outras esferas, a exemplo da ação no setorial de negros e

negras do PSOL. Deliberadamente, companheiros, hoje na RZ, intercederam de forma

autoritária e agressiva para descredenciar o companheiro Hamilton na sua indicação para

participar do Seminário Eleitoral nacional do PSOL, em São Paulo em 2012.

61. Apesar da identificação desses problemas, de cortes autoritários, da sua direção consideramos

que o legado de elaboração política do CP faz parte de nossa trajetória de intervenção no

Movimento Negro e, dessa forma, reivindicamos algumas das contribuições políticas do CP

como parte de nossa intervenção no movimento negro, principalmente no que diz respeito a

nos afirmarmos enquanto antiracistas, antiliberais e comunistas.

62. As decisões que tomamos durante a nossa permanência no CP, em relação ao balanço

balanço do MN, e a questão racial como estruturante da dominação de classe continuam em

nosso país, e a luta do povo negro nos diversos momentos da história do país como parte do

processo de construção resistência histórica das classes trabalhadoras contra a dominação.

Essa concepção é parte da nossa construção.

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63. Intervenções no Movimento Negro

64. Entretanto, resta-nos fazermos um acerto de contas com a proposta de intervenção dentro do

MN, atualizando as nossas formulações, considerando que o modelo de intervenção proposto

para CP enquanto corrente do MN sinaliza esgotamento já que não foi capaz de responder de

forma efetiva a perspectiva de criação de um espaço para organização da vanguarda socialista

anti-neoliberal e nem de uma organização de massas no interior do MN, neste sentido seria

errôneo persistir com esse modelo de intervenção e cabe buscarmos desenvolvermos novas

formas de intervenção política no MN.

65. Este modelo de organização, o de corrente, coube naquele momento em virtude da existência

da articulação para construção de um Congresso nacional de negras e negros –CONNEB- e

que propunha a articulação de frente de negros e negras através de um programa e plano de

luta que expressasse a necessidade da construção de uma alternativa de poder na perspectiva

do povo negro. Como este espaço era amplo e o PSOL ainda se colocava como alternativa

tímida de atração de novos militantes, atuar como corrente nos permitiria atrair setores

descontentes com o governismo ou suas dissidências para uma atuação unitária, dessa forma

também disputamos as bases sociais das organizações tradicionais

66. Neste sentido é possível que a tendência atual seja o de organizarmos o coletivo de negras e

negras da APS nacionalmente, e partir disso para a criação de uma nova organização social

para intervenção no MN, com perfil de entidade de massas e não de vanguarda. Esta nova

ferramenta nos possibilitaria estabelecer diversos diálogos com o movimento negro e com

setores importantes do movimento social, seja ele o sindical, ou da juventude, a exemplo do

Movimento dos Sem Tetos e do PAJEÙ, CSP-Conlutas e intersindical dentre outros.

67. Sobre a nossa atuação nacional dentro do MN é necessário pensar sobre a criação de uma

frente nacional de lutas dentro do MN somando-se aos diversos setores que fazem oposição

ao governismo e que atuam dentro MN pela esquerda e que sinalizam rachas com suas

entidades de origem a exemplo do campo constituído pela articulação “Em busca da Batida

Perfeita”, Campanha “Reaja”, Fórum de juventude Negra, dentre outros, no sentido de

construir uma pauta unitária que supere a atual centrada em políticas compensatórias.

68. Em relação a política de massas é necessário aprofunda nossa relação com os diversos

movimentos nas periferias das grandes cidades, que lutam, contra o extermínio da juventude

negra e que desenvolve novas formas de organização através dos movimentos culturais.

69. Neste sentido é necessário sairmos do encontro nacional da APS com uma comissão nacional

que seja responsável pela articulação, o mais breve possível de um seminário ou até mesmo

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de um ativo nacional de negras e negras que venha dar cabo da tarefa de realizar a atualização

das nossas elaborações que permitam qualificar a nossa intervenção dentro do movimento

negro.

70. 3.1. Uma pauta em construção

71. Reafirmamos que a luta contra o extermínio da juventude negra é fundamental no atual

contexto de consolidação da ideologia neoliberal, momento que ganha força as ações de

encarceramento da juventude negra, através da tentativa de aprovação da redução da

maioridade penal no Brasil e a aprovação da lei da terceirização pela câmara dos deputados, o

que implica em redução da idade para o trabalho e mais precarização da vida da nossa

juventude.

72. No contexto atual da luta de classe, a luta contra o racismo assumiu uma perspectiva

institucionalizada e limitada a inclusão dos negros e negras às ofertas de políticas

compensatórias dentro do formato das políticas neoliberal. Dessa verificamos uma elitização

de setores o MN e o seu distanciamento da periferia, território onde reside a maioria negra.

73. É importante observarmos os diversos grupos de resistências aos processos de faxina étnica

imposto pelas elites, que surgem diuturnamente nos espaços negros da periferia das cidades, a

exemplo do movimento Hip Hop, e de grupos de cultura que buscam romper a barreira do

isolamento e da segregação econômica, sócio espacial e cultural. Para isso propomos

pensarmos o MN a partir da ação direta de mobilização das populações negras contra

opressão capitalista, cujo centro deveria ser a busca por reparações, reformas estruturais,

sociais econômicas e políticas, ao invés de se ater no limite das políticas compensatórias.

Assim indicamos:

1. Por uma Frente Nacional de Luta Negra que unifique o movimento negro combativo

2. Defesa de uma política de reparação e de reformas estruturais

3. Fim, do Ajuste fiscal de Dilma

4. Reforma agrária sob o controle dos trabalhadores

5. Educação pública e gratuita e políticas de cotas que garantam a permanência dos estudantes

cotistas na universidade (casa, bolsa e refeição)

6. Por um Estado Laico e pela revogação do Acordo Lula-Vaticano.

7. Contra a intolerância religiosa! Apoio a Campanha “Quem é do Axé, diz que é”, promovida

por entidades do movimento negro, e que tem como objetivo estimular os adeptos das

religiões de matriz africana a assumirem esta condição durante o levantamento do Censo

2010.

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8. Pela desmilitarização da Polícia militar, por uma Política de Segurança Pública Democrática

e Popular, construída com os movimentos populares, sociais, negro, indígena e de direitos

humanos que tenha como marco o respeito aos direitos civis e as liberdades individuais.

9. Pelo respeito aos direitos humanos da população carcerária;

10. Apuração de todos os atos de violação aos direitos humanos de agentes do estado.

11. Contra o Racismo Ambiental. Retomada dos processos de demarcação e homologação dos

territórios quilombolas. Utilizar os instrumentos legais para revogar a Instrução Normativa da

Advocacia Geral da União que atenta aos interesses das populações quilombolas.

12. Organizar uma Conferência autônoma de Promoção da Igualdade Racial (CMPIR) em

Congresso dos Povos Contra o Racismo, de caráter deliberativo.

13. Propor a criação do programa “Cidade Integrada” com o objetivo de combater a faxina étnica

nos territórios negros urbanos,

14. Por uma política de saúde integral à população negra, no âmbito do município!

15. Em defesa do SUS público, gratuito e de qualidade, com ampliação do atendimento básico!

16. Política de Reforma Urbana! Plano de unidades habitacionais para os sem teto!

17. Respeito, reconhecimento e promoção das manifestações culturais da população negra (funk,

hip hop, capoeira, samba etc).

18. Estender e garantir direitos trabalhistas e previdenciários aos trabalhadores do mercado

informal.

Salvador, 08 de julho de 2015

Meire Reis

Hamilton Assis

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