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Educar para um Mundo em Mudança, Educar para Mudar o Mundo Maria Emília Brederode Santos Sente-se a necessidade de repensar a educação e a escola face às mudanças rápidas que se têm vindo a verificar nas últimas décadas e cuja constante aceleração se prevê. A “revolução digital”, as alterações demográficas, a globalização e as deslocações populacionais e empresariais, as mudanças climatéricas e a tomada de consciência das necessidades de sustentabilidade ecológica e social, o desenvolvimento científico, designadamente das neurociências, o crescimento exponencial da informação e da comunicação tudo isto tem sido apontado como factores de mudança com consequências pouco previsíveis excepto quanto à continuação da sua aceleração e dos seus efeitos na precariedade das relações e na incerteza do futuro. “Tempos líquidos” lhes chamou, com propriedade, Zygmut Bauman. Por outro lado, de vez em quando há acontecimentos que, pelo choque que provocam, levam as sociedades a interrogar-se sobre si mesmas e muitas vezes a interpelar a escola e a educação em geral. Estes acontecimentos tornam-se como que marcos simbólicos a partir dos quais as coisas deixam de poder continuar a ser como eram. 2015 parece ter sido um desses anos-charneira. A chamada “crise dos refugiados” e os ataques terroristas em Paris em Janeiro e Novembro vieram interpelar a velha Europa, fazendo regressar a problemática dos valores que defendemos e em que pretendemos formar as novas gerações bem como do papel de formação e integração da escola . A maioria das propostas educativas recentes (inclusive da OCDE) aponta para três cenários alternativos no que se refere à evolução da escola: - o recuo para formas de escolarização do passado, com a ênfase nos conteúdos, no papel transmissor da escola e nos exames como motor de aprendizagem e controlo dos actores educativos; - a continuação do status quo, numa navegação à vista com adaptações várias, designadamente no número e variedade de línguas estrangeiras a aprender ou na modernização tecnológica do equipamento escolar; - a transformação educativa e da organização escolar em função de finalidades que não são unívocas nem consensuais, mas que é importante conhecer e confrontar para que não nos limitemos a “sofrer” as mudanças, adaptando-nos mais ou menos a elas como a um futuro a que estaríamos condenados e sim para que possamos participar da construção de um futuro desejado. A presente comunicação visa ser um contributo para mudar a educação e a escola através de uma proposta organizacional e curricular de Educação para a Cidadania.

Conferência "Projetar o Futuro" - A educação para um mundo em mudança

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Page 1: Conferência "Projetar o Futuro" - A educação para um mundo em mudança

Educar para um Mundo em Mudança,

Educar para Mudar o Mundo

Maria Emília Brederode Santos

Sente-se a necessidade de repensar a educação – e a escola – face às mudanças rápidas

que se têm vindo a verificar nas últimas décadas e cuja constante aceleração se prevê.

A “revolução digital”, as alterações demográficas, a globalização e as deslocações

populacionais e empresariais, as mudanças climatéricas e a tomada de consciência das

necessidades de sustentabilidade ecológica e social, o desenvolvimento científico,

designadamente das neurociências, o crescimento exponencial da informação e da

comunicação – tudo isto tem sido apontado como factores de mudança com

consequências pouco previsíveis excepto quanto à continuação da sua aceleração e dos

seus efeitos na precariedade das relações e na incerteza do futuro. “Tempos líquidos”

lhes chamou, com propriedade, Zygmut Bauman.

Por outro lado, de vez em quando há acontecimentos que, pelo choque que provocam,

levam as sociedades a interrogar-se sobre si mesmas e muitas vezes a interpelar a escola

e a educação em geral. Estes acontecimentos tornam-se como que marcos simbólicos a

partir dos quais as coisas deixam de poder continuar a ser como eram. 2015 parece ter

sido um desses anos-charneira. A chamada “crise dos refugiados” e os ataques

terroristas em Paris em Janeiro e Novembro vieram interpelar a velha Europa, fazendo

regressar a problemática dos valores que defendemos e em que pretendemos formar as

novas gerações bem como do papel de formação e integração da escola .

A maioria das propostas educativas recentes (inclusive da OCDE) aponta para três

cenários alternativos no que se refere à evolução da escola:

- o recuo para formas de escolarização do passado, com a ênfase nos conteúdos, no

papel transmissor da escola e nos exames como motor de aprendizagem e controlo dos

actores educativos;

- a continuação do status quo, numa navegação à vista com adaptações várias,

designadamente no número e variedade de línguas estrangeiras a aprender ou na

modernização tecnológica do equipamento escolar;

- a transformação educativa e da organização escolar em função de finalidades que não

são unívocas nem consensuais, mas que é importante conhecer e confrontar para que

não nos limitemos a “sofrer” as mudanças, adaptando-nos mais ou menos a elas como a

um futuro a que estaríamos condenados e sim para que possamos participar da

construção de um futuro desejado.

A presente comunicação visa ser um contributo para mudar a educação e a escola

através de uma proposta organizacional e curricular de Educação para a Cidadania.