1
O USO DE PESQUISA PARTICIPATIVA COMO FERRAMENTA PARA A CARACTERIZAÇÃO DA FROTA PESQUEIRA DOS “BÓTÕES DE CAMOCIM” THE USE OF PARTICIPATIVE METHODS OF RESEARCH AS A TOOL TO CHARACTERIZE “BOTÕES DE CAMOCIM” FISHING FLEETS RESUMO O presente argo apresenta os dados que caracterizam a frota pesqueira artesanal conhecida como botes bastardos ou bótões de Camocim – CE. As informações foram coletadas através de pesquisa-parcipava, com uso de ferramentas de Diagnósco Rápido Parcipavo – DRP. A pesquisa consisu no levantamento de informações sobre a dinâmica das pescarias e a cadeia produva, apontando as principais caracteríscas dessa modalidade de pesca tradicional e vulnerabilidades socioeconômicas, com ênfase na segurança destes trabalhadores no mar. PALAVRAS-CHAVE: Botes Bastardos; Camocim; Pesca Artesanal; Ceará, Diagnósco Rápido Parcipavo (DRP) ABSTRACT This arcle characterizes arsanal fishing fleet known as “Botões de Camocim”. Informaon was collected through parcipave methods using DRP tools. The research consisted of collecng informaon on the dynamics of fisheries and its supply chain, poinng out the main features of this tradional fishing method and socioeconomic vulnerabilies, focusing on safety of these workers at sea. KEYWORDS: Arsanal Fishing Fleets, Rapid Rural Appraisal, Ceará, Camocim INTRODUÇÃO Existem diferentes métodos de caracterização da cadeia produva da pesca artesanal. O diagnósco do meio socioeconômico é muito ulizado para estudos de impactos ambientais, sendo o mais comum buscar o conhecimento oriundo apenas das lideranças formais. Entretanto, o envolvimento maior da comunidade proporciona mais precisão às informações sobre suas avidades, como é o caso do uso de métodos de pesquisas parcipavas, sobretudo, as ferramentas de Diagnósco Rápido Parcipavo – DRP que possibilitam o envolvimento da base comunitária na pesquisa invesgava. Neste estudo de caso, as ferramentas auxiliaram a destacar a visão dos pescadores de botões de Camocim. Este po de pesca é muito importante para a economia local, gerando emprego e renda a mais de 300 pescadores profissionais artesanais do município. O objevo de estudo foi caracterizar a práca desse po de pesca, assim como a sua vulnerabilidade a fenômenos internos e externos a esta práca sociocultural. MATERIAL E MÉTODO Originalmente, o estudo foi realizado pela necessidade de se conhecer e analisar a dinâmica das frotas pesqueiras artesanais ao longo de 19 municípios situados na faixa litorânea, de Itarema – CE até Cururupu – MA. A finalidade foi idenficar possíveis interferências diretas e indiretas a estes pescadores, de acordo com sua rona e artes de pesca embarcadas, frente à realização de uma avidade de pesquisa sísmica na bacia de Barreirinha que encontra-se em processo de Licenciamento Ambiental Federal conduzido pela Coordenadoria de Petróleo e Gás (CGPEG/IBAMA). Informações como as rotas de navegação, áreas de pesca, métodos de captura, principais recursos explorados, além dos locais de embarque e desembarque foram priorizadas ao longo dos trabalhos de campo, a fim de orientar ajustes no projeto e adoção de medidas de migação e até compensação para a avidade pesqueira local. Para o levantamento das informações foram ulizadas as seguintes ferramentas/técnicas juntos aos pescadores abordados: entrevistas semi- estruturadas, matrizes de pesca, calendários sazonais, mapas mentais, fluxogramas e croquis. Dentre os pos de pesca constatados, os “bótões de Camocim” chamaram a atenção devido à sua peculiaridade e risco associado à sua práca pesqueira. Assim, esse trabalho está focado nesse grupo. A pesquisa foi orientada pela seleção de sujeitos chave (informantes): atores sociais pré-selecionados pelo notório conhecimento da avidade de pesca dos bótões. Esta decisão se deu pela impossibilidade de se abordar todos os pescadores da região, buscando-se assim: i) Pescadores e mestres na ava e reconhecidos pela própria comunidade pelo grande saber que possuem sobre a avidade pesqueira invesgada e pela posição dentro das comunidades pesqueiras: ii) Lideranças formais como presidentes de colônia, sindicato, associações e representantes de órgãos de governo que atuam sobre a pesca ; e iii) Líderes informais como carpinteiros navais, mecânicos, atravessadores, comerciantes, monitores de desembarque, técnicos de pesca, priorizando atores sociais com grande tempo de profissão em relação a sua idade e/ou nascidos ou moradores na comunidade em boa parte de sua vida profissional. RESULTADOS A pesquisa de campo ocorreu entre os dias 26 de julho e 7 de agosto de 2014. Contribuíram para as informações de atores sociais envolvidos com a avidade dos municípios de Camocim, além de pescadores na ava abordados nos municípios de Cruz-CE, Luis Correia-PI e Tutóia-MA. Ao todo foram 10 abordagens e 30 informantes com notório saber neste po de pescaria, sendo que 22 informantes eram armadores, mestres e pescadores na ava, 6 eram de lideranças formais da pesca e 1 atravessador que compra a produção pesqueira dos bótões. A frota de botões é constuída por cerca de 40 embarcações de comprimento de 10 a 14 metros , cuja propulsão é exclusivamente a vela, com o casco, convés e mastros de madeira. Não possuem equipamento eletrônico a bordo, além de um GPS de mão, e nenhum sistema elétrico que propicie na iluminação, além da luz de lampião a gás. Também não há sistema de comunicação, como rádios VHF ou até PX, tornando-os bastante vulneráveis em rotas de navegações de embarcações de grande porte. Possuem de 7 a 8 tripulantes e pescam exclusivamente de linha de mão, em áreas de profundidade prioritariamente entre 50 a 130m, com uma pequena variação. Porém, segundo os relatos, não angem profundidades superiores a 150m, pois como só pescam fundeados, a profundidade se limita a quandade de cabo que possuem na embarcação. As pescarias geralmente ocorrem à noite e são cerca de 25 categorias de pescado capturados (SMDS, 2014), com destaque para a cavala e a serra (Scombridae), o sirigado (Serranidae) e os peixes vermelhos (Lutjanidae). A conservação de pescado a bordo é no gelo. A área de pesca é ao longo da quebra do talude connental, “ os barrancos”, desde o Serrote (Farol de Jericoacoara) até a longitude de 44º já próximo a divisa entre os Estados do Maranhão com o Pará. Nestas pescarias mais distantes, cada vez mais comuns pela maior produvidade, ulizam de porto o Cais do Anchieta em Luís Correia (PI) ou no Cais da Allmare em Tutóia (MA). Esta estratégia ocorre principalmente na época de ventos fortes (a parr de agosto), diminuindo o tempo de navegação em até 6 dias, a depender da localização do pesqueiro. Quando desembarcam em Tutóia ou Luís Correia, o armador busca de caminhão os pescadores e o pescado que regressam a Camocim, as viagens por rodovia duram entre 4 e 5 horas. No Porto, onde a embarcação fica atracada, um vigia garante a segurança na ausência da tripulação, além de realizar pequenos reparos e ajustes necessários para a próxima pescaria (intervalo médio de 5 dias). Durante as pescarias, em casos de emergência fazem porto também em Raposa -MA, como em situações de quebra de mastro, rasgos das velas, perda de cabo, ancora e danos no casco. Estes pescadores, ficam até 25 dias no mar, onde até 11 dias, podem ser desnados exclusivamente a navegação, a depender do pesqueiro visado, do porto de saída e de chegada. Os custos de armação da pescaria é considerado alto, apesar de não terem o maior gasto de uma pescaria convencional para este porte de embarcação que é o óleo combusvel, há porém os custos com a tripulação, a isca (150 kg), gelo (450 barras), rancho, além do transporte rodoviário, cujos valores podem chegar a R$ 8.000,00. A capacidade de estocagem a bordo é de até 7 toneladas, porém a produção considerada atualmente boa é de 1,3 toneladas de pescado. O escoamento da produção é realizado normalmente pelo próprio armador até o Mercado de São Sebasão em Fortaleza, o que segundo os mesmos, compensa por agregar entre R$ 2,00 a R$3,00 a mais o quilo de pescado. Contudo, foram relatados riscos freqüentes de roubos na estrada quando o carregamento é de espécies valorizadas. Segundo os entrevistados, enquanto em Camocim o preço de primeira venda da cavala era R$ 13/kg, em Fortaleza chegava a R$ 15-17/kg, o mesmo ocorreu para o sirigado (R$17/kg e R$ 20/kg), pargo (R$ 12/kg e R$15-17/kg) e a guaiuba (R$ 13/kg e R$ 15,00). DISCUSSÃO Segundo os dados do MPA, são 1.017 pescadores com RGP em Camocim, além de 171 embarcações permissionadas (SINPESQ, 2014), normalmente atreladas à pescaria de espécies controladas, como o pargo e a lagosta. Sobre os botões, os dados levantados pelo DRP esmaram cerca de 40 embarcações e um conngente de aproximadamente 300 pescadores (SOMA, 2015), um efevo considerável de pessoas que dependem exclusivamente desta avidade. Segundo o IPHAN, Camocim possui hoje um dos maiores portos de pesca à vela do mundo, com barcos que ulizam a vela lana. A região está inserida nos primeiros estudos realizados desde 2010, pelo órgão para o mapeamento de paisagens culturais brasileiras. Estas embarcações, pela sua tradicionalidade apresentam-se nos dias de hoje como o registro vivo das pescarias do passado. Foram registrados relatos com pescadores de outras frotas na região, que retratam os pescadores de botões como “guerreiros” e até “loucos”, devido à coragem destes homens de se sujeitarem a locais tão distantes e por tantos dias e em condições de trabalho tão precárias. Casos de incidentes com embarcações a vela são comuns na região. Isto pode ser potencializado com o eminente aumento no fluxo de embarcações de grande porte no local devido ao novo ciclo de expansão de avidades de exploração e produção de petróleo na faixa da costa brasileira denominada Margem Equatorial (entre o litoral do Amapá até o Rio Grande do Norte). Uma medida simples como a instalação de refletores de radar nos mastros dos botões é uma ação que propiciaria a estes homens maior segurança durante as pescarias. Apenas isto reduziria os riscos de albarroamento no mar por embarcações de longo curso, cabotagem e de apoio às avidades da indústria do petróleo. CONCLUSÕES O uso de pesquisa-parcipava pode ser uma importante fonte de pesquisa invesgava, principalmente em diagnóscos com pouco tempo disponíveis para sua execução. As pescarias de botões ou botes bastardos são uma importante avidade socioeconômica geradora de trabalho e renda para mais de 300 pescadores de Camocim e para suas famílias. Sua área de atuação é extensa, ulizando-se de portos em outros dois estados para o desembarque. Por outro lado, as condições de trabalho são precárias ao ulizar embarcações dependentes da propulsão a vela, sem luzes de navegação e sem sistema de comunicação. Estes fatores os tornam vulneráveis a albarroamentos e às condições oceanográficas adversas. AGRADECIMENTOS Aos guerreiros pescadores e mestres de botões de Camocim; a todos que contribuíram com a pesquisa: pescadores, mestres, armadores, comerciantes e ao Sr. Elson da SMDS de Camocim, Capitania dos Portos, Colônia Z-01 e Sindicato dos Pescadores de Camocim. Maurício DÜPPRÉ de Abreu ¹ , 2 ; Sérgio A. COELHO-SOUZA 2 ; Alysson FRAGA 2 & Gabriel, SILVA 2 ¹ Engenheiro de Pesca, Mestre em Engenharia Ambiental ( [email protected] ) 2 SOMA Desenvolvimento & Meio Ambiente. ([email protected] ) REFERENCIAS CAMBELL, J., & SALAGRAMA, V. New Approaches to parcipaon in fisheries research. Roma: FAO. 2001. IBAMA Termo de Referência CGPEG/DILIC/IBAMA Nº 29/14 IPHAN Patrimônio Naval – CE. Acesso ao portal em maio de 2014. MINISTÉRIO DA PESCA E DA AQUICULTURA- SINPESQ. Acesso em setembro de 2014. SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – SMDS. Dados de Produção da Pesca Artesanal. Coordenação de Desenvolvimento Rural e Pesca. Porto dos Botes, Camocim, 2014. SOMA Diagnósco do Meio Sócio Econômico Rev00. Estudo Ambiental - Bacia de Barreirinhas. Rio de Janeiro, Fevereiro de 2015. SOMA Curso de Capacitação em Diagnósco Parcipavo, Setembro de 2008. XIX Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca 4 a 8 de outubro de 2015. São Luís - Maranhão Tabela I - Descrição das ferramentas parcipavas ulizadas no presente Diagnósco Socioeconômico com seus respecvos objevos de aplicação. Tabela II – Caracteríscas dos sujeitos sociais abordados durante pesquisa parcipava. Tabela III – Distância dos pesqueiros prioritários aos porto ulizados. Tabela IV – Principais riscos associados a pescaria em bótões. Imagens - Momentos das abordagens e realização da pesquisa parcipava. Tutóia - MA Luís Correia - PI Camocim- CE

O uso de pesquisa participativa na caracterização da frota pesqueira dos "bótões de Camocim"

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O uso de pesquisa participativa na caracterização da frota pesqueira dos "bótões de Camocim"

O USO DE PESQUISA PARTICIPATIVA COMO FERRAMENTAPARA A CARACTERIZAÇÃO DA FROTA PESQUEIRA DOS “BÓTÕES DE CAMOCIM”

THE USE OF PARTICIPATIVE METHODS OF RESEARCH AS A TOOL TO CHARACTERIZE “BOTÕES DE CAMOCIM” FISHING FLEETS

RESUMO

O presente artigo apresenta os dados que caracterizam a frota pesqueiraartesanal conhecida como botes bastardos ou bótões de Camocim – CE. Asinformações foram coletadas através de pesquisa-participativa, com uso deferramentas de Diagnóstico Rápido Participativo – DRP. A pesquisa consistiu nolevantamento de informações sobre a dinâmica das pescarias e a cadeiaprodutiva, apontando as principais características dessa modalidade de pescatradicional e vulnerabilidades socioeconômicas, com ênfase na segurançadestes trabalhadores no mar.

PALAVRAS-CHAVE: Botes Bastardos; Camocim; Pesca Artesanal; Ceará,Diagnóstico Rápido Participativo (DRP)

ABSTRACT

This article characterizes artisanal fishing fleet known as “Botões de Camocim”.Information was collected through participative methods using DRP tools. Theresearch consisted of collecting information on the dynamics of fisheries and itssupply chain, pointing out the main features of this traditional fishing methodand socioeconomic vulnerabilities, focusing on safety of these workers at sea.

KEYWORDS: Artisanal Fishing Fleets, Rapid Rural Appraisal, Ceará, Camocim

INTRODUÇÃO

Existem diferentes métodos de caracterização da cadeia produtiva da pescaartesanal. O diagnóstico do meio socioeconômico é muito utilizado paraestudos de impactos ambientais, sendo o mais comum buscar o conhecimentooriundo apenas das lideranças formais. Entretanto, o envolvimento maior dacomunidade proporciona mais precisão às informações sobre suas atividades,como é o caso do uso de métodos de pesquisas participativas, sobretudo, asferramentas de Diagnóstico Rápido Participativo – DRP que possibilitam oenvolvimento da base comunitária na pesquisa investigativa.

Neste estudo de caso, as ferramentas auxiliaram a destacar a visão dospescadores de botões de Camocim. Este tipo de pesca é muito importante paraa economia local, gerando emprego e renda a mais de 300 pescadoresprofissionais artesanais do município. O objetivo de estudo foi caracterizar aprática desse tipo de pesca, assim como a sua vulnerabilidade a fenômenosinternos e externos a esta prática sociocultural.

MATERIAL E MÉTODO

Originalmente, o estudo foi realizado pela necessidade de se conhecer eanalisar a dinâmica das frotas pesqueiras artesanais ao longo de 19 municípiossituados na faixa litorânea, de Itarema – CE até Cururupu – MA. A finalidade foiidentificar possíveis interferências diretas e indiretas a estes pescadores, deacordo com sua rotina e artes de pesca embarcadas, frente à realização de umaatividade de pesquisa sísmica na bacia de Barreirinha que encontra-se emprocesso de Licenciamento Ambiental Federal conduzido pela Coordenadoriade Petróleo e Gás (CGPEG/IBAMA). Informações como as rotas de navegação,áreas de pesca, métodos de captura, principais recursos explorados, além doslocais de embarque e desembarque foram priorizadas ao longo dos trabalhosde campo, a fim de orientar ajustes no projeto e adoção de medidas demitigação e até compensação para a atividade pesqueira local. Para olevantamento das informações foram util i zadas as seguintesferramentas/técnicas juntos aos pescadores abordados: entrevistas semi-estruturadas, matrizes de pesca, calendários sazonais, mapas mentais,fluxogramas e croquis.

Dentre os tipos de pesca constatados, os “bótões de Camocim” chamaram aatenção devido à sua peculiaridade e risco associado à sua prática pesqueira.Assim, esse trabalho está focado nesse grupo. A pesquisa foi orientada pelaseleção de sujeitos chave (informantes): atores sociais pré-selecionados pelonotório conhecimento da atividade de pesca dos bótões. Esta decisão se deupela impossibilidade de se abordar todos os pescadores da região, buscando-seassim: i) Pescadores e mestres na ativa e reconhecidos pela própriacomunidade pelo grande saber que possuem sobre a atividade pesqueirainvestigada e pela posição dentro das comunidades pesqueiras: ii) Liderançasformais como presidentes de colônia, sindicato, associações e representantesde órgãos de governo que atuam sobre a pesca ; e iii) Líderes informais comocarpinteiros navais, mecânicos, atravessadores, comerciantes, monitores dedesembarque, técnicos de pesca, priorizando atores sociais com grande tempode profissão em relação a sua idade e/ou nascidos ou moradores nacomunidade em boa parte de sua vida profissional.

RESULTADOS

A pesquisa de campo ocorreu entre os dias 26 de julho e 7 de agosto de 2014.Contribuíram para as informações de atores sociais envolvidos com a atividade dosmunicípios de Camocim, além de pescadores na ativa abordados nos municípios deCruz-CE, Luis Correia-PI e Tutóia-MA. Ao todo foram 10 abordagens e 30 informantescom notório saber neste tipo de pescaria, sendo que 22 informantes eramarmadores, mestres e pescadores na ativa, 6 eram de lideranças formais da pesca e 1atravessador que compra a produção pesqueira dos bótões. A frota de botões é constituída por cerca de 40 embarcações de comprimento de 10 a14 metros , cuja propulsão é exclusivamente a vela, com o casco, convés e mastros demadeira. Não possuem equipamento eletrônico a bordo, além de um GPS de mão, enenhum sistema elétrico que propicie na iluminação, além da luz de lampião a gás.Também não há sistema de comunicação, como rádios VHF ou até PX, tornando-osbastante vulneráveis em rotas de navegações de embarcações de grande porte.Possuem de 7 a 8 tripulantes e pescam exclusivamente de linha de mão, em áreas deprofundidade prioritariamente entre 50 a 130m, com uma pequena variação. Porém,segundo os relatos, não atingem profundidades superiores a 150m, pois como sópescam fundeados, a profundidade se limita a quantidade de cabo que possuem naembarcação. As pescarias geralmente ocorrem à noite e são cerca de 25 categoriasde pescado capturados (SMDS, 2014), com destaque para a cavala e a serra(Scombridae), o sirigado (Serranidae) e os peixes vermelhos (Lutjanidae). Aconservação de pescado a bordo é no gelo.A área de pesca é ao longo da quebra do talude continental, “ os barrancos”, desde oSerrote (Farol de Jericoacoara) até a longitude de 44º já próximo a divisa entre osEstados do Maranhão com o Pará. Nestas pescarias mais distantes, cada vez maiscomuns pela maior produtividade, utilizam de porto o Cais do Anchieta em LuísCorreia (PI) ou no Cais da Allmare em Tutóia (MA). Esta estratégia ocorreprincipalmente na época de ventos fortes (a partir de agosto), diminuindo o tempode navegação em até 6 dias, a depender da localização do pesqueiro. Quandodesembarcam em Tutóia ou Luís Correia, o armador busca de caminhão ospescadores e o pescado que regressam a Camocim, as viagens por rodovia duramentre 4 e 5 horas. No Porto, onde a embarcação fica atracada, um vigia garante asegurança na ausência da tripulação, além de realizar pequenos reparos e ajustesnecessários para a próxima pescaria (intervalo médio de 5 dias).Durante as pescarias, em casos de emergência fazem porto também em Raposa -MA,como em situações de quebra de mastro, rasgos das velas, perda de cabo, ancora edanos no casco. Estes pescadores, ficam até 25 dias no mar, onde até 11 dias, podemser destinados exclusivamente a navegação, a depender do pesqueiro visado, doporto de saída e de chegada.Os custos de armação da pescaria é considerado alto, apesar de não terem o maiorgasto de uma pescaria convencional para este porte de embarcação que é o óleocombustível, há porém os custos com a tripulação, a isca (150 kg), gelo (450 barras),rancho, além do transporte rodoviário, cujos valores podem chegar a R$ 8.000,00. Acapacidade de estocagem a bordo é de até 7 toneladas, porém a produçãoconsiderada atualmente boa é de 1,3 toneladas de pescado.O escoamento da produção é realizado normalmente pelo próprio armador até oMercado de São Sebastião em Fortaleza, o que segundo os mesmos, compensa poragregar entre R$ 2,00 a R$3,00 a mais o quilo de pescado. Contudo, foram relatadosriscos freqüentes de roubos na estrada quando o carregamento é de espéciesvalorizadas. Segundo os entrevistados, enquanto em Camocim o preço de primeiravenda da cavala era R$ 13/kg, em Fortaleza chegava a R$ 15-17/kg, o mesmo ocorreupara o sirigado (R$17/kg e R$ 20/kg), pargo (R$ 12/kg e R$15-17/kg) e a guaiuba (R$13/kg e R$ 15,00).

DISCUSSÃO

Segundo os dados do MPA, são 1.017 pescadores com RGP em Camocim, além de171 embarcações permissionadas (SINPESQ, 2014), normalmente atreladas àpescaria de espécies controladas, como o pargo e a lagosta. Sobre os botões, osdados levantados pelo DRP estimaram cerca de 40 embarcações e um contingente deaproximadamente 300 pescadores (SOMA, 2015), um efetivo considerável de pessoasque dependem exclusivamente desta atividade.Segundo o IPHAN, Camocim possui hoje um dos maiores portos de pesca à vela domundo, com barcos que utilizam a vela latina. A região está inserida nos primeirosestudos realizados desde 2010, pelo órgão para o mapeamento de paisagensculturais brasileiras. Estas embarcações, pela sua tradicionalidade apresentam-se nosdias de hoje como o registro vivo das pescarias do passado. Foram registrados relatos com pescadores de outras frotas na região, que retratam ospescadores de botões como “guerreiros” e até “loucos”, devido à coragem desteshomens de se sujeitarem a locais tão distantes e por tantos dias e em condições detrabalho tão precárias. Casos de incidentes com embarcações a vela são comuns naregião. Isto pode ser potencializado com o eminente aumento no fluxo deembarcações de grande porte no local devido ao novo ciclo de expansão deatividades de exploração e produção de petróleo na faixa da costa brasileiradenominada Margem Equatorial (entre o litoral do Amapá até o Rio Grande doNorte). Uma medida simples como a instalação de refletores de radar nos mastrosdos botões é uma ação que propiciaria a estes homens maior segurança durante aspescarias. Apenas isto reduziria os riscos de albarroamento no mar por embarcaçõesde longo curso, cabotagem e de apoio às atividades da indústria do petróleo.

CONCLUSÕES

O uso de pesquisa-participativa pode ser uma importante fonte de pesquisainvestigativa, principalmente em diagnósticos com pouco tempo disponíveis para suaexecução. As pescarias de botões ou botes bastardos são uma importante atividadesocioeconômica geradora de trabalho e renda para mais de 300 pescadores deCamocim e para suas famílias. Sua área de atuação é extensa, utilizando-se de portosem outros dois estados para o desembarque. Por outro lado, as condições detrabalho são precárias ao utilizar embarcações dependentes da propulsão a vela, semluzes de navegação e sem sistema de comunicação. Estes fatores os tornamvulneráveis a albarroamentos e às condições oceanográficas adversas.

AGRADECIMENTOS

Aos guerreiros pescadores e mestres de botões de Camocim; a todos quecontribuíram com a pesquisa: pescadores, mestres, armadores, comerciantes e ao Sr.Elson da SMDS de Camocim, Capitania dos Portos, Colônia Z-01 e Sindicato dosPescadores de Camocim.

Maurício DÜPPRÉ de Abreu ¹, 2; Sérgio A. COELHO-SOUZA2; Alysson FRAGA2 & Gabriel, SILVA2

¹ Engenheiro de Pesca, Mestre em Engenharia Ambiental ([email protected])2 SOMA Desenvolvimento & Meio Ambiente. ([email protected] )

REFERENCIAS

CAMBELL, J., & SALAGRAMA, V. New Approaches to participation in fisheries research. Roma: FAO. 2001.IBAMA Termo de Referência CGPEG/DILIC/IBAMA Nº 29/14IPHAN Patrimônio Naval – CE. Acesso ao portal em maio de 2014.MINISTÉRIO DA PESCA E DA AQUICULTURA- SINPESQ. Acesso em setembro de 2014.SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – SMDS. Dados de Produção da Pesca Artesanal. Coordenação de DesenvolvimentoRural e Pesca. Porto dos Botes, Camocim, 2014.SOMA Diagnóstico do Meio Sócio Econômico Rev00. Estudo Ambiental - Bacia de Barreirinhas. Rio de Janeiro, Fevereiro de 2015. SOMA Curso de Capacitação em Diagnóstico Participativo, Setembro de 2008.

XIX Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca4 a 8 de outubro de 2015.São Luís - Maranhão

Tabela I - Descrição das ferramentas participativas utilizadas no presente Diagnóstico Socioeconômico com seus respectivos objetivos de aplicação.

Tabela II – Características dos sujeitos sociais abordados durante pesquisa participativa.

Tabela III – Distância dos pesqueiros prioritários aos porto utilizados.

Tabela IV – Principais riscos associados a pescaria em bótões.

Imagens - Momentos das abordagens e realização da pesquisa participativa.

Tutóia - MALuís Correia - PICamocim- CE