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Cultura do arroz em mg

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Informe Agropecuário Belo Horizonte v. 25 n.222 p.1-108 2004

ISSN 0100-3364

Informe AgropecuárioUma publicação da EPAMIG

v.25 n.222 2004Belo Horizonte-MG

Sumário

Apresentação

Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista ........................................................................................................................ 5

Aspectos da produção e do mercado de arroz

Carlos Magri Ferreira e Patricio Mendez del Villar ............................................................... 11

Melhoramento genético de arroz em Minas Gerais

Antônio Alves Soares, Plínio César Soares, Emílio da Maia de Castro, Orlando Peixoto de

Morais, Paulo Hideo Nakano Rangel e Moizés de Sousa Reis .............................................. 20

Cultivares de arroz de terras altas e de várzeas recomendadas para Minas Gerais

Plínio César Soares, Antônio Alves Soares, Orlando Peixoto de Morais, Emílio da Maia

de Castro, Paulo Hideo Nakano Rangel, Vanda Maria de Oliveira Cornélio e

Moacil Alves de Souza ........................................................................................................ 25

Produção e qualidade de sementes de arroz no estado de Minas Gerais

Vanda Maria de Oliveira Cornélio, Antônio Rodrigues Vieira, Plínio César Soares, Antônio

Alves Soares e Moizés de Sousa Reis .................................................................................... 36

Arroz irrigado em sistema de cultivo pré-germinado

Ronaldir Knoblauch e Moizés de Sousa Reis ........................................................................ 44

Plantio direto em arroz

Moizés de Sousa Reis, Antônio Alves Soares e Cleber Morais Guimarães ............................ 52

Desvendando o segredo do insucesso do plantio direto do arroz de terras altas

Antônio Alves Soares ........................................................................................................... 61

Arroz irrigado por aspersão

Luís Fernando Stone e Pedro Marques da Silveira ................................................................ 70

Produção agroecológica de arroz irrigado

José Alberto Noldin, Domingos Sávio Eberhardt, Ronaldir Knoblauch, Honório Francisco

Prando e Gosuke Sato ......................................................................................................... 77

Doenças do arroz

Vanda Maria de Oliveira Cornélio, Vicente Luiz de Carvalho e Anne Sitarama Prabhu ......... 84

Qualidade de grãos e padrões de classificação de arroz

Noris Regina de Almeida Vieira ........................................................................................... 94

Arroz como alimento

Priscila Zaczuk Bassinello e Emílio da Maia de Castro ......................................................... 101

A cultura do arroz está em baixa há algumtempo, perdendo espaço para a soja e o mi-lho, que têm apresentado melhores preçose vantagens comparativas em relação a estecereal. Mas felizmente, nas últimas duas safras,2002 e 2003, os preços do arroz em casca, emnível de propriedade rural, reagiram, o que dei-xou os orizicultores mais animados, vislum-brando uma tendência de expansão das áreascultivadas com este cereal nas próximas safras.Este é um momento favorável para a retomadado arroz no Brasil.

Como apoio a esta tendência e pela im-portância deste cereal na alimentação dapopulação brasileira, a EPAMIG leva aos pro-dutores esta edição do Informe Agropecuáriosobre Avanços Tecnológicos para a Cultura doArroz. Fonte de renda e de nutrição, a orizi-cultura é enfocada em seus aspectos socio-econômicos, alimentares e ambientais, comabordagem de temas como melhoramentogenético, cultivares, processamento industrial,arroz orgânico e tecnologias disponíveis paraelevação dos índices de produtividade, melho-ria da qualidade do produto colhido e do meioambiente.

Este número do Informe Agropecuárioconstitui o quarto sobre o agronegócio Arroz.A última edição foi publicada em 1989. Nesta,portanto, são apresentados os avanços tec-nológicos obtidos nos últimos 15 anos, pelapesquisa em arroz.

Plínio César Soares

Orlando Peixoto de Morais

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© 1977 EPAMIG

ISSN 0100-3364

INPI: 1231/0650500

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer

meios, sem autorização escrita do editor. Todos os direitos

são reservados à EPAMIG.

Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes

ao quadro da EPAMIG são de inteira responsabilidade de

seus autores.

COMISSÃO EDITORIAL

Baldonedo Arthur Napoleão

Luis Carlos Gomes Guerra

Manoel Duarte Xavier

Carlos Alberto Naves Carneiro

Sanzio Mollica Vidigal

Edson Marques da Silva

Aldo Fernandes da Silva Júnior

Vânia Lacerda

EDITOR

Vânia Lacerda

COORDENAÇÃO TÉCNICA

Plínio César Soares e Orlando Peixoto de Morais

REVISÃO LINGÜÍSTICA E GRÁFICA

Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira

NORMALIZAÇÃO

Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira

PRODUÇÃO E ARTE

Programação visual: Rosangela Maria Mota Ennes

e Thiago Fernandes Barbosa

Diagramação/formatação: Rosangela Maria Mota Ennes

e Maria Alice Vieira

Capa: Thiago Fernandes Barbosa

Fotos da capa: Erasmo Pereira - EPAMIG e

Salvador Francisco Oliveira Naves - Fazenda Ipoeira - Arinos-MG

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Assessoria de Marketing

Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova

Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 - Belo Horizonte-MG

Telefax: (31) 3488-8468

IMPRESSÃO

EMBRAPA

Informe Agropecuário é uma publicação da

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG

Assinatura anual: 6 exemplares

Aquisição de exemplares:

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depósito bancário identificado (CNPJ ou CPF)

no Banco Itaú, agência 3380, conta 648-0,

favorecido à EPAMIG, com cópia para o endereço abaixo

ou através do telefax (31) 3488-6688.

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Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados

apenas para conveniência do leitor, não havendo

preferências, por parte da EPAMIG, por este ou aquele produto

comercial. A citação de termos técnicos seguiu a nomenclatura

proposta pelos autores de cada artigo.

O Informe Agropecuário é indexado na

AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo

Horizonte: EPAMIG, 1977 - .

v.: il.

Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-

ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).

ISSN 0100-3364

1. Agropecuária - Periódico. 2. Agricultura - Aspecto

Econômico - Periódico. I. EPAMIG.

CDD 630.5

Governo do Estado de Minas Gerais

Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária

EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV

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Tecnologia asseguraqualidade, produtividade

e rentabilidade para o arroz

A produção de cereais, de leguminosas e de oleaginosas noBrasil deve chegar a 132 milhões de toneladas este ano, um volume7,3% superior à safra de 2003, que se situou em 123 milhões detoneladas. A área plantada deve crescer 6,6% e chegar a 46,2 milhõesde hectares. O arroz ocupa o terceiro lugar na produção de cereaisno País, com 12 milhões de toneladas.

No cenário internacional, o Brasil ocupa a décima posição entreos maiores produtores de arroz, com destaque para os países asiáticos,principalmente China, Índia e Indonésia, líderes na produção destecereal e que, juntos, produzem 60% da produção mundial. No Brasil,a hegemonia na produção do arroz é do Rio Grande do Sul, comcerca de 45%, seguido do Mato Grosso, Santa Catarina e Maranhão.Minas Gerais situa-se em nono lugar entre os Estados maiores pro-dutores e, na safra de 2003, contribuiu com 196 mil toneladas, numaárea plantada de 89 mil hectares.

O arroz constitui alimento básico de mais da metade dos 6 bi-lhões de habitantes do planeta Terra. Seu consumo per capta, no Brasil,corresponde a 67,7 kg/hab./ano do produto em casca, ou 48,7 kg/hab./ano do produto beneficiado polido. A produção brasileira destecereal é destinada ao consumo interno, ocorrendo, também, eventuaisimportações para complementar o abastecimento.

Diante dessa situação, as instituições de pesquisa têm procuradogerar novas tecnologias visando aumento de produtividade, melhoriada qualidade e rentabilidade no cultivo dessa gramínea nos ecossistemasde várzeas e de terras altas. Isso poderá permitir ao País a auto-suficiência e até mesmo a exportação de arroz em prazo relativamentecurto.

Este Informe Agropecuário reúne 15 anos de pesquisas reali-zadas para o desenvolvimento da cultura do arroz, em Minas Gerais eno País, e apresenta os principais avanços tecnológicos alcançados,com o objetivo de apoiar o desenvolvimento da cadeia produtiva desseimportante cereal.

Baldonedo Arthur Napoleão

Presidente da EPAMIG

GOVERNO DO EST ADO DE MINAS GERAISAécio Neves da Cunha

Governador

SECRETARIA DE EST ADO DE AGRICULTURA,PECUÁRIA E ABASTECIMENTOOdelmo Leão Carneiro Sobrinho

Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

PresidênciaBaldonedo Arthur Napoleão

Diretoria de Operações TécnicasManoel Duarte Xavier

Diretoria de Administração e FinançasLuiz Carlos Gomes GuerraGabinete da Presidência

Carlos Alberto Naves CarneiroAssessoria de Marketing

Aldo Fernandes da Silva JúniorAssessoria de Planejamento e Coordenação

Maria Lélia Rodriguez SimãoAssessoria J urídica

Gilson Márcio BoncompagniAssessoria de Informática

Artur Fernandes Gonçalves FilhoAuditoria Interna

Carlos Roberto DitadiDepartamento de Pesquisa

Sanzio Mollica V idigalDepartamento de Produção

Edson Marques da SilvaDepartamento de Ações e Desenvolvimento

Sebastião Gonçalves de OliveiraDepartamento de Recursos Humanos

José Eustáquio de V asconcelos RochaDepartamento de Patrimônio e

Administração GeralMarlene do Couto Souza

Departamento de Contabilidade e FinançasJosé Roberto Enoque

Centro Tecnológico-Instituto de Laticínios Cândido Tostes

Gérson OcchiCentro Tecnológico-Instituto Técnico de

Agropecuária e CooperativismoMarusia Guimarães Pereira Rodrigues

Centro Tecnológico do Sul de MinasAdauto Ferreira Barcelos

Centro Tecnológico d o N orte d e M inasCláudio Egon Facion

Centro Tecnológico d a Z ona da M ataJuliana Cristina V iecceli de Carvalho

Centro Tecnológico d o Centr o-OesteWaldir Botelho

Centro Tecnológico do Triângulo eAlto Paranaíba

Roberto Kazuhiko Zito

A EPAMIG integra o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, coordenado

pela EMBRAPA

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Arroz brasileiro tem competitividadeno mercado internacional

IA - Os produtores e beneficiadores de

arroz do Mercosul querem tornar di-

nâmicas as exportações do bloco aos

terceiros mercados. O que o senhor

pensa a respeito disso?

Artur de Albuquerque - O Brasil é o

sétimo maior produtor de arroz do mun-

do. Considerando-se que os seis que o

precedem são asiáticos, é lícito concluir

que ele é o maior produtor de arroz do

mundo ocidental. Quem possui esta po-

sição significativa não pode e não deve

prescindir da ambição de exportar, até

porque, sempre tivemos qualidade e agora

temos, também, preços capazes de com-

petir no mercado internacional.

Ocorre que o arroz é o produto mais

subsidiado nos EUA, algo em torno de 86%.

Seja na Tailândia, seja no Vietnã, a água é

custeada pelo governo, pois trata-se de um

subsídio direto, isto é, ela é um dos itens

mais significativos na composição do cus-

to de produção. Assim, nosso esforço para

exportação bate, exatamente, no subsídio

operado em nossos três únicos concorrentes

diretos.

No Brasil, no Uruguai e na Argentina,

não há qualquer tipo de subsídio. Por outro

lado, em lato sensu, o Brasil não exporta

arroz há cerca de 35 anos. Já o Uruguai

possui comércio desse cereal com 25 paí-

ses e a Argentina comercializa com quase

uma dezena de países. E ambos, que an-

tes do Mercosul exportavam 85% de seu

arroz para terceiros mercados, após, pas-

saram a exportar 80% de sua produção

para o Brasil e apenas 20% para terceiros

países.

Com o Mercosul, tivemos uma virtual

nacionalização do arroz do Uruguai e da

Argentina. Após muitos embates, enten-

demos que o mais sensato é acolher o arroz

do Mercosul, como parte de nosso su-

primento. E assim operamos atualmente.

Por isso, não somos nacionalmente auto-

suficientes, muito embora tenhamos total

condição para isso.

Assim, a exportação que visualiza uma

grife Mercosul, resolve vários problemas

de uma só vez. Primeiro, aproveita-se o

know-how no Uruguai, para acessar espe-

cialmente o mercado internacional. Se-

gundo, com exportações equaliza-se o

quadro de oferta e demanda com uma re-

gulação permanente do mercado de arroz.

Terceiro, ao operar em conjunto, teremos

condições de consensualizar uma Tarifa

Externa Comum (TEC) para o bloco, ca-

paz de dar-nos competitividade na Alca e

possibilidade de nos proteger no mercado

internacional .

IA - Qual o papel das entidades asso-

ciativistas na cadeia produtiva do

arroz?

Artur de Albuquerque - A cadeia pro-

dutiva do arroz sempre teve uma matu-

ridade política muito grande. Têm-se em

18 Estados brasileiros entidades orga-

nizadas nos mais diversos elos da cadeia.

Talvez, por isso é que conseguimos criar

Artur Oscar Loureiro de Albuquerque é proprietário

rural nos municípios de Bagé e Lavras do Sul, RS, e na

província de Cerro Largo, no Uruguai, onde se dedica à

atividade agropecuária. Advogado, formado pela PUC-

RS, é também membership do International Center on Le-

gal Science, com sede em Haia, Holanda. Entre suas

atividades, exerce a Presidência do DCE da PUC, sendo

também diretor jurídico do Sindicato Rural de Bagé. Foi

presidente da Associação de Arrozeiros de Lavras do Sul,

diretor administrativo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e conselheiro desta institui-

ção pelo município de Lavras do Sul. Atualmente, responde por entidades ligadas à cadeia

produtiva do arroz, sendo presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do

Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz) e presidente da Associação Brasileira da Ca-

deia Produtiva do Arroz (Abrarroz).

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a Abrarroz, única entidade nacional que

reúne verticalmente uma cadeia produ-

tiva.

É esta maturidade política que fez do

Brasil o maior produtor do mundo ociden-

tal e que o permitiu espargir o gosto pelo

arroz, do Chuí ao Oiapoque.

Foi também por isso que conseguimos,

através da Abrarroz, elevar o preço desse

cereal de R$ 11,00 a saca, em 2000, para

R$ 45,00 a saca, em 2003, sem que este

aumento de 500% fosse repassado ao

consumidor. Em 2000, a margem do su-

permercado era de mais de 60%. Hoje, este

segmento faz parte da cadeia produtiva,

da Abrarroz, e sua margem adaptou-se às

dos outros elos da cadeia.

É difícil ver, no meio rural, um setor

tão organizado como o dos arrozeiros, e esta

organização é fundamental para todos nós.

IA - Qual a participação do orizicultor no

aquecimento do mercado de arroz na

última safra?

Artur de Albuquerque - Até 2001, o

orizicultor vendia até o mês de junho de

70% a 80% de seu produto. Isto inunda-

va o mercado e, naturalmente, derrubava

o preço. Desde 2002, o orizicultor passou

a ofertar, até a mesma data, no máximo

40% de seu produto. Isto regulou o mer-

cado. A curva de preço deixou de ser uma

hipérbole e passou a ser algo mais pareci-

do com uma reta. O referencial de merca-

do deixou de ser o preço do fardo benefi-

ciado para ser a saca de 50 kg do arroz em

casca.

Diante disso, percebe-se que a parti-

cipação do orizicultor foi importantíssi-

ma.

IA - Os atuais preços do arroz em casca

remuneram a contento o produtor?

O senhor acredita que esses preços

serão mantidos para a safra 2004,

mesmo com a previsão de aumento

da produção brasileira?

Artur de Albuquerque - O custo de pro-

dução é de cerca de R$30,00. Imagina-

se que 10%, para início de safra, é uma

margem plausível. Portanto, calcula-se que

o arroz tenha um preço entre R$33,00 e

R$ 34,00 no início da safra. É um preço

bom para início de colheita.

Acredita-se que a safra será normal.

Não haverá superprodução. Houve quebra

no Centro-Oeste, no Nordeste e no Norte.

No Rio Grande do Sul, houve problemas

de replantio e de pouca luminosidade.

Haverá uma produção total em torno de

11,8 milhões de toneladas para um consu-

mo de 12,5 milhões de toneladas. O arroz

do Mercosul equalizará oferta e deman-

da. Assim, não há por que imaginar qual-

quer grande alteração de preços. Eles se

manterão estáveis desde o produtor até o

consumidor.

IA - As novas normas de classificação do

arroz, estabelecidas pelo Ministério

da Agricultura, estão definidas e em

vigor? Os produtores de arroz do Rio

Grande do Sul e Santa Catarina, que

obtiverem produtos de melhor qua-

lidade, serão beneficiados com estas

novas regras?

Artur de Albuquerque - As novas nor-

mas de classificação do arroz ainda não

foram implementadas. Antes disso, haverá

um amplo debate com a cadeia produtiva,

especialmente com a Abrarroz. Este é o

compromisso do MAPA.

Estas alterações necessárias darão um

novo perfil ao arroz e ao produtor. Portan-

to, a implantação dessas normas deverá ser

paulatina, para se adequar a todos.

IA - Quais as formas de consumo do arroz

no Brasil? Como são definidos os tipos

de arroz para comercialização?

Artur de Albuquerque - O arroz vai, co-

mercialmente, do Tipo 1 ao Tipo 3. A alte-

ração das normas de classificação desse

cereal criará, talvez, o Tipo 4 e o Tipo 5,

já previstos em Lei, mas não operados

comercialmente.

Os grandes centros consomem arroz

Tipo 1 e Tipo 2. O interior do Norte e do

Nordeste consome o Tipo 3.

IA - Quais são os subprodutos resultantes

do processo de obtenção do arroz be-

neficiado polido e como são utili-

zados?

Artur de Albuquerque - O Japão já clas-

sificou cerca de mil derivados do arroz. No

Brasil, trabalha-se com o arroz beneficiado,

o farelo para ração animal e para confecção

de óleo de arroz.

A casca do arroz, que outrora foi um

instrumento poluidor, hoje é fonte de ener-

gia para a indústria e até mesmo para as

usinas de energia que a vendem para tercei-

ros. A casca possui 96% de sílica. O dia em

que for explorado todo este potencial, não

será exagero dizer que o arroz é o subpro-

duto da casca, pois da sílica depende toda

a indústria de alta tecnologia para fabricar

os chips de computador, por exemplo.

Em Brasília, há um projeto de desen-

volvimento de casa de casca de arroz. Trata-

se de um material mais durável que qual-

quer outro, com um tempo de construção

inferior em mais da metade ao dos concor-

rentes e com um preço 60% mais barato

que qualquer outro material.

IA - Como o senhor vê a escolha de 2004

como Ano Internacional do Arroz pela

FAO?

Artur de Albuquerque - Quase a metade

da população mundial tem o arroz na base

de sua alimentação. A produção mundial

desse cereal está em baixa e o consumo em

alta. Para nós, maiores produtores e con-

sumidores de arroz do mundo ocidental, é

um momento oportuno para posicionarmos

de maneira concreta, efetiva e positiva como

grandes produtores e quem sabe, grandes

exportadores desse produto, ainda que

através do Mercosul.

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O aumento da produtividade do arrozé um reflexo da pesquisa

IA - Na sua opinião, quais os maiores

avanços alcançados pela pesquisa

com arroz no Brasil nos últimos 15

anos?

Beatriz Pinheiro - Enquanto no perío-

do pós-revolução verde, os avanços em

arroz irrigado no ambiente subtropical

tiveram como maior componente o me-

lhoramento genético, nos últimos quin-

ze anos, os avanços podem ser atribuídos,

em sua maior parte, ao aperfeiçoamen-

to das técnicas de manejo da cultura. Des-

de o lançamento das cultivares BR-IRGA

409 e BR-IRGA 410, no final da década

de 70, a produtividade potencial da cul-

tura do arroz irrigado no Sul do País se

mantém relativamente inalterada, em

torno de 12 t/ha. Por outro lado, a lacuna

de produtividade, que é a diferença entre

a produtividade média de lavoura e aque-

la obtida em condições ótimas de ma-

nejo, vem sendo gradativamente redu-

zida.

Considera-se como um importante

avanço no cultivo do arroz irrigado na zona

subtropical, a diversificação dos sistemas

de plantio, destacando-se o Sistema de

Plantio Direto (SPD), com sua variante, o

cultivo mínimo. Neste particular, a pes-

quisa foi grandemente propulsionada pela

ousadia do produtor, pois o SPD em arroz

irrigado foi estabelecido pioneiramente,

no ano agrícola de 1983/1984, na Fazen-

da Cerro do Tigre, em Alegrete, RS. Atual-

mente, mais de 50% da área desse Esta-

do é implantada no SPD, utilizando a

taipa, ou maracha de base larga, que pro-

porciona o plantio direto em linha, sobre

os resíduos da cultura anterior, em toda a

lavoura. A pesquisa teve um papel rele-

vante na consolidação desse sistema e de

outros, como o pré-germinado e o mix, e

continua avançando na geração de dados

relativos aos efeitos de longo prazo dos

sistemas de produção. Deve-se destacar o

trabalho da Embrapa Clima Temperado,

que tem também procurado obter cultiva-

res de sorgo, milho e soja adaptadas ao

ambiente de várzeas, como culturas alter-

nativas ao arroz, visando o melhor aprovei-

tamento desse agroecossistema. Sua atual

agenda de pesquisa reflete a preocupação

com o ambiente e a consolidação de boas

práticas agrícolas, incluindo redução do

uso de insumos químicos e aumento da

rentabilidade do produtor.

Outra atividade, que visa à redução da

lacuna de produtividade, vem sendo rea-

lizada pelo IRGA, no Rio Grande do Sul,

desde 1998, com bastante sucesso. Consis-

te na integração de ações de pesquisa e

extensão rural, com o ambiente produtivo,

pela condução de Unidades Demonstra-

tivas (UD), no âmbito do Projeto Manejo

Adequado de Lavoura de Arroz. O moni-

toramento das atividades de lavoura e a

comparação com as práticas executadas

nas UDs permitem não só a identificação

dos fatores limitantes à produtividade, mas

A engenheira agrônoma, Beatriz da Silveira Pinheiro, formada pela

Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, de Pelotas, RS, possui douto-

rado em Biologia Vegetal, pela Unicamp, e mestrado em Fisiologia

Vegetal, pela Universidade da Califórnia, Davis, EUA. Autora e co-

autora de mais de 30 publicações em periódicos nacionais e estran-

geiros, Beatriz Pinheiro participou de vários projetos de pesquisa na

área de melhoramento, fisiologia do estresse hídrico e fisiologia da

produção do arroz de sequeiro, no âmbito da Embrapa e parcerias

nacionais. Participou também em projetos da Comunidade Econômica

Européia (CEE) e Agência Britânica de Desenvolvimento (ODA), em

parceria com instituições internacionais. Foi coordenadora nacional

da Rede de Avaliação Genética de Arroz, no âmbito global (INGER

Global) e na América Latina (INGER LAC). Na área administrativa,

atuou como coordenadora do Programa Nacional de Pesquisa de Arroz, período 1989-1993,

como secretária-executiva do Programa “Sistema de Produção de Grãos” período 1993-1997,

chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Arroz e Feijão, período de 2001 a

2003, tendo assumido, recentemente, a chefia-geral deste Centro.

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também a correta disseminação das prá-

ticas recomendadas pela pesquisa. Atual-

mente, estas ações, realizadas no âmbito

do Projeto 10, estão gerando muito entu-

siasmo entre os orizicultores e asseguran-

do produtividades de lavoura na faixa de

9 t/ha, superando em mais de 3 t/ha a pro-

dutividade média do Estado.

Em Santa Catarina, os avanços da pes-

quisa foram notáveis, atestados pelo acele-

rado crescimento da produtividade, que

hoje se situa próximo a 7 t/ha. A estrutura

de produção local, composta por peque-

nos produtores agregados em cooperativas,

permite um rápido acesso aos resultados

da pesquisa gerados pela Epagri. Nesse

ambiente, o sistema pré-germinado trouxe

uma excelente contribuição para ameni-

zar os estresses bióticos e ainda permitiu

conciliar a produção de arroz com a de

outros produtos, como peixes e aves.

Na zona tropical, o sistema de cultivo

de sequeiro desempenha um papel pre-

dominante. Em contraste com o sistema

irrigado, sua produtividade manteve-se

praticamente inalterada no período 1970-

1989. Entretanto, nos últimos quinze anos,

os incrementos foram bastante significa-

tivos. E podem ser creditados tanto ao me-

lhoramento genético, que promoveu o

aumento da produtividade potencial, quan-

to à melhoria do manejo das lavouras,

decorrente do deslocamento da cultura

para regiões de menor risco climático.

Um grande avanço da pesquisa diz res-

peito ao zoneamento agroclimático. Mas o

impacto mais visível da pesquisa de arroz

nos cerrados brasileiros diz respeito à alte-

ração do tipo de planta e, especialmente,

da aparência do grão das novas cultivares.

Sua ótima aparência física e caracterís-

ticas de cocção fizeramdo arroz de sequei-

ro um produto competitivo no mercado,

assegurando-lhe bom preço pela indústria.

Contudo, na sua nova denominação, “arroz

de terras altas”, como contraponto ao estig-

matizado sequeiro, a cultura tem ainda

grandes desafios de pesquisa. Dados re-

centes, relativos à dinâmica da produção

do arroz no Mato Grosso, indicam que

ainda se mantém um forte papel na aber-

tura de novas áreas ou reforma de pasta-

gens. Nesta última, a pesquisa tem apre-

sentado soluções bastante atrativas, com

destaque para o Sistema Barreirão, que

preconiza a consorciação do arroz com a

braquiária, utilizando grade ou arado de

aiveca no preparo do solo. Mais recente-

mente, a pesquisa vem trabalhando na

viabilização do consórcio no ambiente do

SPD, sob a denominação Santa Fé. Con-

tudo, neste sistema que promove a inte-

gração lavoura-pecuária, a participação

do arroz ainda é menor do que a de outras

culturas, devido a dificuldades de ajuste

ao SPD. Portanto, a pesquisa tem hoje o

grande desafio de consolidar a cultura,

tanto como um componente estável de

sistemas de produção de grãos, como na

renovação de pastagens degradadas, espe-

cialmente sob plantio direto no ambiente

dos cerrados.

IA - Que comparação pode ser feita entre

a pesquisa brasileira de arroz e a de-

senvolvida em países como Japão,

China e EUA, que são grandes pro-

dutores mundiais desse cereal?

Beatriz Pinheiro - A pesquisa básica

está em um estádio mais avançado nesses

países do que no nosso. Mas, no que se re-

fere às tecnologias tradicionais, no âmbito

do melhoramento genético e do manejo do

cultivo, a lavoura nacional está bem ampa-

rada pela pesquisa, o que se reflete nas

médias de produtividade nos dois ecossis-

temas. Quanto às tecnologias de ponta,

pode-se fazer uma análise da situação atual:

híbridos de arroz, com uma vantagem de

10% a 15% sobre a melhor linhagem, fo-

ram criados na China em meados da dé-

cada de 70 e hoje ocupam 45% da área

cultivada nesse país. Acredita-se que a

área sob híbridos na Ásia tropical aumen-

te significativamente. No Brasil, apesar das

iniciativas na década de 80, a pesquisa

pública terminou por abandonar a estra-

tégia, os primeiros híbridos foram recen-

temente liberados pela iniciativa priva-

da.

Uma forma de aumentar a variabili-

dade genética é através da hibridização

da espécie cultivada com espécies silves-

tres. Cruzamentos de O. sativa com O.

glaberrima, produziram as linhagens Ne-

rica, de alta rusticidade e bom comporta-

mento sob estresses abióticos na África.

Linhagens provenientes de cruzamentos

com O. rufipogon estão sendo testadas em

vários locais na Ásia e na América Lati-

na. O Brasil também vem trabalhando na

introgressão de genes de espécies silves-

tres. Cruzamentos de O. glumempatula

e O. sativa resultaram em linhagens de

alto vigor inicial e grande número de

panículas, ora em testes de rendimento na

Embrapa.

Na Engenharia Genética, avanços con-

sideráveis foram feitos nos países desen-

volvidos. Considera-se que o Brasil possui

um bom domínio de técnicas e vem, efici-

entemente, utilizando marcadores mole-

culares como ferramenta na seleção assis-

tida. Espera-se que sejam produzidas

cultivares com resistência estável e pira-

midação de genes, especialmente para

resistência à brusone.

Os protocolos para a transformação

de plantas já estão bem estabelecidos e,

atualmente, é possível introduzir genes

simples que podem seletivamente modi-

ficar as características determinantes da

produtividade. Como exemplos de carac-

teres benéficos pode-se citar o gene stay

green, que afeta a longevidade da copa, os

que regulam as enzimas da rota metabóli-

ca C4, permitindo aumentar a fotossínte-

se, e o BT, que codifica para as toxinas do

Bacilus thuringiensis, resultando em re-

sistência à broca-do-colmo. Outro impor-

tante avanço foi a introdução de genes

de biosíntese da trehalose, provenientes

da bactéria Escherichia coli. As plantas

transgênicas acumularam trehalose de 3 a

4 vezes mais que no controle e apresenta-

ram maior tolerância à seca e à salinidade.

Page 11: Cultura do arroz em mg

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 2 , 2 0 0 4

O sequenciamento do genoma do arroz foi

realizado em parceria da pesquisa públi-

ca com a privada. A base de dados resul-

tante vai permitir criar uma geração de

cultivares com características diferencia-

das, dentre as quais a que possui maior

valor nutricional. Parceria entre os Cen-

tros Internacionais, Sistemas Nacionais de

Pesquisa e o setor privado, especialmente

na área da Biotecnologia Moderna, deve

ser ampliada, para melhorar a nossa capa-

cidade de pesquisa e causar impacto não

só sobre a produtividade, mas também so-

bre a eficiência produtiva do arroz e a qua-

lidade do produto.

IA - Quais os principais pólos de produ-

ção desse cereal?

Beatriz Pinheiro - Em contraste com

outros países, tanto o ecossistema de vár-

zeas, sob o sistema de cultivo irrigado,

quanto o de terras altas, sob o sistema de

cultivo de sequeiro, desempenham um

importante papel na produção de arroz no

Brasil. Além da estabilidade de área, uma

característica do sistema de cultivo de

arroz irrigado é sua localização em áreas

determinadas, que podem ser considera-

das pólos de produção. Possui alta con-

centração na Região Sul do País, sob clima

subtropical, que detém cerca de 98% da

área total cultivada sob o sistema e 40%

da área sob a cultura. Somente o Rio Grande

do Sul produz cerca de 6 milhões de tone-

ladas, em área de quase 1 milhão de hec-

tares. Também na Região Sul, encontra-

se o segundo maior produtor nacional de

arroz irrigado, que é Santa Catarina, com

cerca de 120 mil hectares cultivados sob

a cultura. Outras áreas ou pólos relevan-

tes sob o sistema de cultivo irrigado estão

localizadas sob clima tropical. Os maio-

res projetos de irrigação localizam-se nos

estados de Tocantins, com 60 mil hectares

na Bacia do Rio Araguaia, do Mato Gros-

so do Sul, em área que hoje atinge mais de

40 mil hectares, e em vários estados da

Região Nordeste, na Bacia do Rio São Fran-

cisco e outros afluentes. Os estados de Mi-

nas Gerais e Rio de Janeiro já foram impor-

tantes produtores, especialmente sob o

ecossistema de várzeas sem irrigação, ou

várzeas úmidas. Contudo, esse sistema,

grandemente estimulado na década de 80

sob o Programa Provárzeas, não se conso-

lidou e hoje está quase desaparecido.

O cultivo de sequeiro encontra-se difu-

so em quase todo o País, caracterizando-

se, nos últimos 20 anos, por uma pronun-

ciada dinâmica. Como cultura pioneira,

ocupou uma grande área no período de

abertura dos cerrados, iniciada no final

da década de 60, sendo os estados de Goiás

e Maranhão os principais produtores.

Contudo, desde o final da década de 80,

observa-se progressiva redução da área de

sequeiro, que até o final da década de 90,

reduziu-se em 50%. Atualmente, o cultivo

está mais concentrado nas áreas de me-

nor risco climático, na pré-Amazônia, em

especial nos estados do Mato Grosso, Pará

e Maranhão.

Felizmente, a dramática redução de

área sob o sistema de sequeiro não implicou

em redução da produção global, devido ao

gradativo aumento da produtividade nos

dois ecossistemas.

IA - Quais são as possibilidades de expan-

são de áreas de cultivo do arroz de

terras altas e várzeas no País?

Beatriz Pinheiro - Apesar de existirem

no Rio Grande do Sul cerca de 3 milhões

de hectares de áreas de várzea já integra-

das ao sistema de produção, não há uma

perspectiva imediata de crescimento da

atual área cultivada, que é de cerca de

1 milhão de hectares. Além da existência

de um sistema agrícola, com base na explo-

ração arroz-carne, seria difícil intensificar

a produção de arroz irrigado, por limita-

ções de abastecimento de água, risco de

deterioração ambiental, alta incidência de

arroz-vermelho e altos custos de produção.

Incorporar de imediato novas áreas em

várzeas tropicais, é algo pouco provável,

pois acarretaria um investimento muito

pesado ao País. Acredita-se, portanto, que

as maiores possibilidades de expansão de

área e produção de arroz no Brasil residam

no ecossistema de terras altas, em áreas de

cerrado de baixo risco climático, nas Re-

giões Centro-Oeste e Norte do País. Reto-

mar a extensão de área cultivada com arroz

de sequeiro, de 3,5 milhões de hectares,

no início da década de 90, utilizando estri-

tamente áreas de baixo risco climático,

asseguraria uma produtividade média de

3 t/ha. Isto proporcionaria uma produção

de 10,5 milhões de toneladas somente nes-

te ecossistema.

IA - O que a Embrapa Arroz e Feijão tem

feito para aumentar a competitivi-

dade do arroz de terras altas no mer-

cado nacional?

Beatriz Pinheiro - Um grande avanço

no melhoramento do arroz para o sistema

de cultivo de sequeiro vem da melhoria do

grão, não só no que se refere à dimensão e

ao formato, que permitem sua classificação

como longo-fino, mas também ao que se

refere às características do grão, intrínse-

cas ao amido, que determinam a qualidade

industrial e de cocção. As novas cultivares

de arroz de terras altas, em especial a ‘Pri-

mavera’, possuem teor de amilose e tempe-

ratura de gelatinização intermediários.

Estes parâmetros significam que os grãos,

ao cozinhar, vão ficar soltos e macios. E

que, ao esfriarem e ser reaquecidos para o

jantar - um hábito da família brasileira -

os grãos manter-se-ão soltos e macios, sem

formar grumos ou endurecer. Uma outra

vantagemdessas cultivares é que seus grãos

podem ser beneficiados logo após a colhei-

ta, característica muito desejável em locais

onde os estoques não são mantidos de uma

safra para a outra.

Esses avanços devem-se a um cuidado-

so processo de avaliação para qualidade

de grãos, implantado no programa de me-

lhoramento da Embrapa Arroz e Feijão, no

início da década de 90. O programa prevê

o cuidadoso escrutínio das gerações ini-

ciais, em campo, para as dimensões do

grão, usando um escore visual com base

Page 12: Cultura do arroz em mg

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 2 , 2 0 0 4

em padrões bem definidos. Desde a geração

F4, as amostras são levadas para labo-

ratório, onde a metodologia foi modificada

para reduzir substancialmente o tamanho

da amostra, e avaliados para temperatura

de gelatinização. Nas gerações mais avan-

çadas, são realizadas as medições de teor

de amilose e rendimento de engenho.

Deve-se, contudo, destacar que ao com-

parar produtos derivados dos dois ecossis-

temas, aquele proveniente do irrigado ten-

de a uma melhor uniformidade, pela me-

nor presença de defeitos agregados, como

trincas, gesso, manchas, picados, etc. Nes-

se ambiente, a água garante um microcli-

ma mais controlado, o que resulta em pro-

duto mais uniforme.

IA - Qual a importância do zoneamento

agroclimático do arroz de terras altas

para a agricultura brasileira?

Beatriz Pinheiro - O zoneamento agro-

climático do arroz de terras altas é uma

importante ferramenta para caracterização

do risco climático e um conseqüente nor-

teador das práticas agrícolas para o cultivo.

As atividades que permitiram o zonea-

mento das principais localidades, onde se

cultiva o arroz, tiveram início ainda em

1983, no âmbito da parceria da Embrapa

com o Irat (atual Cirad), França, na área de

Agrometeorologia. O trabalho consiste na

caracterização do regime pluviométrico e

do balanço hídrico da cultura, conside-

rando as chuvas diárias de uma dada lo-

calidade, por período mínimo de 10 anos,

a evapotranspiração potencial, a capaci-

dade de armazenamento de água no solo e

o coeficiente da cultura para cada fase

fenológica. Utilizando o modelo Sarrazon

de simulação do balanço hídrico e tendo

como variáveis o ciclo da cultivar e a ca-

pacidade de armazenamento de água, é

possível estimar a probabilidade de risco

climático para cada época de plantio. São

assim construídos mapas que categori-

zam o risco climático em alto, médio ou

baixo.

Já existem mapas detalhados para os

principais Estados produtores, que podem

ser utilizados eficientemente para reduzir

os riscos de deficiência hídrica, ao definir

a época mais apropriada de plantio e o

ciclo da cultivar que melhor se ajusta ao

regime pluviométrico de uma dada lo-

calidade. Estes mapas têm sido utilizados

pelo Governo como suporte na determina-

ção das áreas mais indicadas para plantio

e na formulação de políticas de incentivos

à produção, incluindo o crédito agrícola.

Sua eficiência vem sendo comprovada pela

consistente redução de pedidos de seguro

agrícola, devido a perdas por seca, não só

em arroz, mas também em outras culturas

como soja, milho e trigo.

IA - O governo brasileiro tem como uma

de suas grandes metas o apoio e o

incentivo à agricultura familiar. Co-

mo a Embrapa Arroz e Feijão pretende

trabalhar para atingir este público

tão importante para a produção agrí-

cola do País?

Beatriz Pinheiro - De acordo com os

mais recentes levantamentos, a agricultura

familiar no Brasil envolve 4,14 milhões

de estabelecimentos, perfazendo 30% da

área total utilizada na agricultura e repre-

sentando 85% do total dos estabelecimen-

tos rurais. Em termos econômicos, os cul-

tivos de arroz e feijão representaram, em

2001, respectivamente 3,8% e 3,3% do PIB

agrícola.

Evidentemente que todos os avanços

em C&T que se aplicam ao agronegócio

brasileiro do arroz e do feijão, aplicam-se

aos segmentos de pequena propriedade e

da agricultura familiar organizadas e inse-

ridas no mercado. Contudo, no âmbito dos

segmentos menos organizados, que inclui

tanto as pequenas propriedades, produ-

zindo de forma deficitária para o auto-

consumo, quanto boa parte dos assen-

tamentos, os avanços da C&T não têm um

eco imediato, pois dependem de educação,

treinamento, acesso a crédito e a mercados,

entre outros fatores propulsores.

Assim, consideramos que um dos fato-

res mais decisivos para apoiar o segmento

seja o estabelecimento de uma efetiva inter-

locução. Destacam-se, nesse sentido, a

implementação de mecanismos de co-

municação e articulação, no âmbito regio-

nal, bem como a ampliação de eventos de

capacitação da assistência técnica, para

que esta possa atuar diretamente na edu-

cação das comunidades carentes. Outros

fatores que fixam e mantêm a população

no meio rural são a agregação de valor ao

produto e a diversificação da produção,

que permitem uma melhor remuneração

ao proprietário e ao trabalho na proprie-

dade. A agricultura orgânica e a agro-

ecologia são linhas de pesquisa que estão

sendo trabalhadas pela Embrapa e suas

parceiras, com um excelente potencial pa-

ra agregação de valor aos produtos da

agricultura familiar. Adicionalmente, a

Embrapa pode dar uma decisiva contri-

buição, apoiando a formulação de políticas

públicas para este segmento, como por

exemplo, a criação de linhas de crédito

especiais para adoção de maquinário de

pequeno porte no âmbito de comunidades

de agricultores familiares.

Considera-se que a estratégia de cria-

ção, em 2002, do Núcleo Temático de Agri-

cultura Familiar da nossa Unidade, já está

dando reflexos positivos. Um dos projetos

do Núcleo, denominado “Produção de Grãos

em Propriedades Familiares de Assenta-

dos”, está em execução há dois anos, no

assentamento Canudos, nos municípios de

Palmeiras de Goiás, Campestre e Guapó

(GO), apoiado pelo CNPq, foi contemplado

com o prêmio Fundação Banco do Brasil

de Tecnologia Social. Contudo, a agricul-

tura familiar envolvendo arroz e feijão está

presente nos vários Estados brasileiros.

Assim, temos como grande desafio expan-

dir nossas ações, usando as estratégias e

parcerias adequadas para potencializar

a obtenção dos resultados e sua eficaz

transferência.Por Vânia Lacerda

Page 13: Cultura do arroz em mg

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11Arroz: avanços tecnológicos

1Engo Agr o, M.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected].

2Economista, Ph.D., Pesq. Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement (Cirad). Correio eletrônico:[email protected].

Aspectos da produção e do mercado de arroz

Carlos Magri Ferreira1

Patricio Mendez del Villar2

INTRODUÇÃO

O arroz é produzido em todos os Es-tados brasileiros. Essa cultura passou porum período de intensas transformações,tanto na área tecnológica, quanto na pre-ferência de padrão pelos consumidores,além de competir com produtos de outrospaíses. Dessa forma, o Brasil, que durantedécadas trabalhava com a perspectiva deatingir o mercado internacional, passou aser o quart o maior importador mundial.Um novo cenár io surge com o ProgramaFome Zero, principalmente porque, além dopossível aumento do consumo, este Pro-grama prioriza a produção dos alimentosem pequenas propriedades, nas própriasregiões de consumo, como forma de ativara economia local. Como o arroz se encaixaperfeitamente nesses preceitos pode estarsurgindo um novo ciclo da cultura. Dian-

te disso, é fundamental avaliar a situaçãointernacional e nacional, para que os seg-mentos da cadeia produtiva possam situar-se melhor no atual contexto.

PANORAMA INTERNACIONAL

O arroz é uma das fontes alimentíciasmais importantes para cerca da metade dosseis bilhões de habitantes no mundo. Eleatende a 21% das necessidades diárias emcalorias e 14% em proteínas. É produzidonos cinco continentes, em cerca de 116 paí-ses, tanto em regiões tropicais como tem-peradas. A Ásia é a principal produtora dearroz. Nesse continente concentra-se maisde 90% da produção mundial. Os paísesque se destacam são: China, Índia e Indo-nésia (Quadro 1), que respondem, respec-tivamente, por 30%, 23% e 8% da produçãomundial de arroz.

China 179,3

Índia 136,5

Indonésia 50,0

Bangladesh 38,5

Vietnã 31,9

Tailândia 26,9

Birmânia 21,3

Filipinas 12,9

Japão 11,3

Brasil 10,1

Estados Unidos 9,6

Mundo 595,2

QUADRO 1 -Produção mundial de arroz em cas-ca, em milhão de toneladas – 2001

FONTE: FAO (2003).

PaísProdução

(t)

Resumo - Nos últimos anos, o arroz foi praticamente esquecido por vários setoresda economia nacional. Dentre as causas que concorreram para isso, podem-se citar: avalorização das commodities, a capacidade de o Rio Grande do Sul aumentar a oferta, afacilidade de importação do produto, principalmente, do Mercosul. Avaliando a situaçãointernacional, observa-se que o mercado está ajustado e com nichos bem delimitados,que são disputados pelos países exportadores. No âmbito nacional, observa-se que oarroz de terras altas ganhou competitividade, mas devido a problemas intrínsecos dosistema, como dificuldade de comercialização, não ampliou sua participação noabastecimento interno. O arroz irrigado, principalmente o do Rio Grande do Sul, cada vezmais é responsável pela maior fatia do mercado interno. Com a proposta do ProgramaFome Zero, do Governo Federal, esse produto voltou a merecer a atenção. Aqueles Estadose regiões que deixaram de produzi-lo, poderão voltar a cultivá-lo.

Palavras-chave: Oryza sativa. Comercialização. Commodity. Fome zero.

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12 Arroz: avanços tecnológicos

No ano de 2001, foram produzidas 595milhões de toneladas de arroz em casca.Os p aíses e xportadores c omercializaram26,7 milhões de toneladas de arroz benefi-ciado, que corresponde a 6,6% da produçãototal. Valor pequeno, se comparado com asoja e o trigo, que representam quase 25%e 20%, respectivamente. Em termos finan-ceiros é importante, pois essa cultura mo-vimentou, aproximadamente, sete bilhõesde dólares (FAO, 2003).

O mercado mundial do arroz apresentaalgumas singularidades em relação aos mer-cados de outras commodities. Os maiorespaíses produtores necessariamente não sãoos principais exportadores, pois muitosproduzem para abastecer o próprio mer-cado doméstico e exportam só o excedente.Assim, os fluxos do comércio e dos preçosmundiais dependem da evolução da pro-dução nos países mais deficitários da Ásiaou das flutuações nos suprimentos inter-nos de países com alt o consumo. As polí-ticas para a cultura são basicamente nacio-nais e, praticamente, não existem, em nívelinternacional e regional, acordos comerciaispara estabilizar os fluxos comerciais e ospreços mundiais. Desta falta de regulaçãoresulta uma competição comercial agres-siva entre países, que, para apoiar seusprodutores e exp ortadores, usam medidasprotecionistas e subsídios. Esses são algunsingredientes que tornam o mercado flu-tuante e imprevisível.

PRODUÇÃO MUNDIAL

A produção mundial no período de 1991a 2001 aumentou cerca de 14%; a área colhidacresceu apenas 0,7%, enquanto a produti-vidade foi incrementada em 13,3%. Duranteesse mesmo período, o consumo mundialaumentou 16,5% e ocorreu uma reduçãode 12,3% dos estoques, enquanto a quanti-dade transacionada no comércio interna-cional passou de 13 milhões de toneladaspara 26 milhões de toneladas. De acordocom a projeção de especialistas, o ritmo decrescimento da produção de arroz deve di-minuir, pois consideram que, nos próximosdez anos, a produção asiática poderá cres-

cer somente 1% ao ano. Esta previsão baseia-se na redução das áreas de arroz em algunspaíses, principalmente naqueles em que oprocesso de urbanização tem sido alto, nafalta de mão-de-obra e de água para as cul-turas irrigadas. Por outro lado, nos últimosdez anos, a produção de arroz cresceu naAmérica do Sul e na África a uma taxa mé-dia de 3,2% e 3,6% ao ano, respectivamen-te. A previsão para o próximo decênio é ade que a taxa de crescimento não ultrapassea 2,5% ao ano, pois a expectativa é de quenão ocorram novos ganhos de rendimen-tos.

COMÉRCIO EXTERNO

Nos grandes países asiáticos, a pro-dução de arroz é suficiente para atender aoconsumo doméstico. Países como China eIndonésia exercem grande influência nocomportamento do mercado mundial, hajavista que são gra ndes produtores e pos-suem alto nível populacional. Assim, emanos de produção deficitária são obriga-dos a importar arroz e em anos de exceden-tes eles ofertam o produto. Dessa forma,os preços no mercad o mundial têm umaestreita relação com a produção desses paí-ses.

A oferta de arroz é dominada por pou-cos países. Os principais exportadores des-se produto são Tailândia, Vietnã, EstadosUnidos e Paquistão. E les comercializamquase 70% do volume total do comérciomundial de arroz (Quadro 2). Estes países

competem duramente entre si para con-quistar novos mercados. Nos últimos 25anos o volume do comércio mundial dearroz apresentou um crescimento médioanual de 3,5%.

PANORAMA NACIONAL

O arroz tem importância econômica esocial no Brasil, que é grande produtor eocupa a décima posição em produção nomundo e, a primeira, fora dos países asiá-ticos. Além disso, é uma cultura cultivadaem todos os Estados bra sileiros, mas aprodução nacional está concentrada, prin-cipalmente, nas regiões Centro-Oeste e Sul.Na década de 90, a Centro-Oeste produ-ziu, em média, 15% da produção nacional,com destaque para o estado de Mato Gros-so que respondeu por, aproximadamente,9,0% da produção total. Os estados do RioGrande do Sul e Santa Catarina são os maio-res produtores de arroz irrigado, com umamédia de, respectivamente, 44% e 6,8% daprodução nacional naquele período (Qua-dro 3).

Apesar de a pr odução de arroz e starpulverizada no Brasil pode-se dividi-la emtrês pólos, ou seja, o primeiro é a RegiãoSul, com destaque para o estado do RioGrande do Sul; o segundo é a Região Cen-tral, abrangendo os estados de São Paulo,Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso; o ter-ceiro é a Região Nordeste, abrangendo oestado do Maranhão, que além da impor-tância histórica na produção, na década

FONTE: FAO (2003).

Tailândia 7,5 Nigéria 1,6

Vietnã 3,5 Indonésia 1,5

Estados Unidos 2,6 Iraque 1,2

Paquistão 2,4 Costa do Marfim 1,1

China 2,0 Irã 1,0

Mundo 23,7 Filipinas 0,9

QUADRO 2 - Comércio mundial de arroz, em milhão de toneladas – 2001

Exportação Importação

Quantidade(t)

Quantidade(t)

País País

Page 15: Cultura do arroz em mg

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13Arroz: avanços tecnológicos

de 90 foi o terceiro maior produtor destecereal. A orizicultura nesse Estado tem ca-racterísticas singulares como forte auto-abastecimento na própria região de pro-dução. Del Villar et al. (2001) estimaram-noem 30%. De acordo com estes autores, 52%da produção do arroz do Maranhão é oriun-da de lavouras com baixa utilização de tec-nologia.

No final da década de 60, cerca de 80%do arroz produzido no Brasil originava-se do sistema de terras altas, áreas nãoirrigadas. Em meados da década de 70, aquantidade produzida neste sistema caiupara, aproximadamente, 75% da produçãonacional. Desse montante, a metade eraproduzida nos estados de Goiás, MatoGrosso, Minas Gerais e São Paulo. O arroz

irrigado era produzido no Rio Grande doSul, em algumas áreas em Santa Catari-na, no Vale do Paraíba em São Paulo e noestado de Goiás. No início dos anos 80, arelação entre a produção de sequeiro e ade irrigado era de 1 : 3 . Visualiza-se, noQuadro 4, o aumento da participação doarroz irrigado nos quinqüênios 1986/1990,1991/1995 e 1996/2000.

No Quadro 5, observa-se que a taxa decrescimento da produção do arroz irrigado,na década de 90, foi de 1,2%, sendo a prin-cipal causa o crescimento da produtivida-de que foi de 1,6%, já que a área decresceu0,5%. No mesmo período, a produção dearroz de várzea apresentou uma queda de11,6% e, devido à redução da área de 11,7%,a produtividade praticamente manteve-seestável (0,1%). A produção do arroz de ter-ras altas ficou estável (0,13%), enquantoa área decresceu 4,6% e a produtividadeaumentou 4,5%. Portanto, a área plantadano Brasil apresentou tendência de redução,enquanto na produção e na produtividadea tendência foi de crescimento. Nota-seainda, que a produtividade do arroz irriga-do apresentou pequena variação positiva,enquanto a taxa do arroz de terras altas foibem maior.

No Gráfico 1, apresenta-se a produti-vidade média de arroz no Brasil, nos últi-mos 50 anos. Pode-se observar que estaprodutividade manteve-se praticamenteconstante no período de 1940 a 1970. Daí,inicia-se uma tendência de aumento, quese acentua a partir do início da década de80.

Pode ser visto, no Gráfico 2, o compor-tamento do preço a partir de 1970. Observa-se que, no período de 1970 a 1975, ocorreramvariações nos preços, mas o arroz de terrasaltas continuou com o preço mais alto. Em1975, ocorreu uma inversão, mas o domíniodo arroz irrigado começou a vigorar a par-tir de 1980. Este comportamento pode serjustificado pela introdução de novas culti-vares de arroz irrigado e pela mudança depreferência dos consumidores. A conse-qüência foi que muitas regiões e produtoresque não apresentavam vantagens compa-

1 RS 4.538,6 44,1 1 RS 908,1 22,2

2 MT 929,6 9,0 2 MA 665,9 16,3

3 MA 778,1 7,6 3 MT 493,8 12,1

4 SC 696,8 6,8 4 MG 334,2 8,2

5 MG 596,4 5,8 5 GO 244,8 6,0

6 GO 372,1 3,6 6 PI 229,5 5,6

7 TO 363,7 3,5 7 PA 225,8 5,5

8 PA 320,3 3,1 8 TO 160,0 3,9

9 PI 270,5 2,6 9 SC 143,3 3,5

10 MS 229,1 2,2 10 SP 119,3 2,9

11 SP 227,6 2,2 11 RO 118,6 2,9

12 RO 197,5 1,9 12 PR 105,8 2,6

13 PR 195,9 1,9 13 MS 91,2 2,2

14 CE 170,3 1,7 14 CE 70,0 1,7

15 BA 87,7 0,9 15 BA 59,2 1,4

16 ES 62,9 0,6 16 AC 28,1 0,7

17 RJ 42,8 0,4 17 ES 20,6 0,5

18 AC 40,3 0,4 18 RJ 13,3 0,3

19 RR 39,1 0,4 19 RR 12,7 0,3

20 SE 35,9 0,3 20 SE 9,6 0,2

21 AL 31,1 0,3 21 PB 8,2 0,2

22 PE 19,2 0,2 22 AL 8,2 0,2

23 PB 13,8 0,1 23 AM 7,3 0,2

24 AM 13,0 0,1 24 PE 4,8 0,1

25 RN 3,3 0,0 25 DF 2,5 0,1

26 DF 2,8 0,0 26 RN 2,3 0,1

27 AP 0,5 0,0 27 AP 0,6 0,0

QUADRO 3 - Produção e participação média dos Estados em relação à produção total de arroz noBrasil, no período 1991-2001

Produção ÁreaOrdem Estado

t (1.000) %Ordem Estado

t (1.000) %

FONTE: LSPA (2002).

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14 Arroz: avanços tecnológicos

Média 1986/1990 22,1 51,9 77,9 48,1

Média 1991/1995 28,4 58,5 71,6 41,5

Média 1996/2000 34,6 61,2 65,4 38,8

QUADRO 4 - Relação percentual da participação do arroz irrigado e de terras altas na produção totaldo Brasil nos quinqüênios 1986/1990, 1991/1995 e 1996/2000

FONTE: LSPA (1986 a 2000).

Arroz irrigado Arroz de terras altas

Área(ha)

Produção(%)

Área(ha)

Período Produção(%)

rativas para produzir o arroz, abandonaramou reduziram o plantio, ou seja, não tinhamcondições de competir com preço e quali-dade, assim, substituíram o arroz por outrasculturas. Por ex emplo, podem-se citar osestados de São Paulo, Paraná, Minas Geraise outros. No período de 1994 a 1998, ocor-reu uma redução entre o diferencial de pre-ço. Nos anos de 1990 e 1991, o arroz irrigadovolta a ser mais valorizado, mas a partir de1992 o arroz de terras altas inicia um perío-do de recuperação, tendência que vem-semantendo.

As mudanças tecnológicas ocorridasna cultura do arroz na última década e suasconseqüências foram discutidas e perce-bidas somente por alguns segmentos dacadeia p rodutiva. R essalta-se q ue n esseprocesso ocorreu uma ligeira mudança doperfil do produtor de arroz de terras altas,principalmente no estado do Mato Gros-so e que o nível de exigência do consumi-dor foi fundamental na determinação dosrumos do processo produtivo. Outro com-

Irrigado -0,5 1,2 1,6

Várzea -11,7 -11,6 0,1

Sequeiro -4,6 0,1 4,5

Total -3,0 0,5 3,6

QUADRO 5 - Taxa média de crescimento anual da área, produção e rendimento do arroz de sequeiro,irrigado e de várzea, no Brasil, no período entre 1991 e 2001

Taxa média de crescimento anual (%), com baseem regressão econométrica

Área Produção Produtividade

FONTE: LSPA (1991 a 2001).

Arroz

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15Arroz: avanços tecnológicos

Gráfico 1 - Produtividade do arroz no Brasil, nas décadas de 40 a 90, em kg/ha

FONTE: Embrapa Arroz e Feijão (2003).

ponente importante foi a mudança do pa-pel do governo, que era o maior compradore vendedor de arroz. Também é relevantemencionar que o governo não estimulavaa qualidade, ou seja, não havia estímulopara que se produzisse com qualidade. Omaior interesse era estimular grandes vo-lumes de produção.

A conjunção de outros fatores políticostambém influenciou nas significativas trans-formações no agronegócio do arroz brasi-leiro. Dentre outras variáveis citam-se: omovimento de globalização, a política eco-nômica nacional que promoveu a aberturacomercial por meio da redução de tarifas,desburocratização dos processos de com-pra e venda internacionais e da desregula-mentação do mercado, além da integraçãoao Mercosul.

As médias de produção e consumo dearroz no Brasil, nos últimos dez anos, fo-ram, respectivamente, 10,3 milhões e 11,6milhões de toneladas. O déficit médio foide 1,3 milhão de toneladas (Gráfico 3). Por-tanto, entre 1992 e 2001, cerca de 10,6% dademanda interna foi complementada comproduto importado. Nesse período, o anocom menor participação de arroz importadofoi 2001 (6,1%) e o maior foi 1998 (19,6%).A necessidade de importação certamentenão ocorre por falta de competitividadedo produto nacional, pois, de acordo comGasquez e Villa Verde (1998), o arroz na-cional, beneficiado, colocado em São Paulocusta US$ 17,87 a saca de 60 kg e o impor-tado chega a US$ 18,38 a saca de 60 kg.O arroz uruguaio e o argentino são coloca-dos naquele mercado com um preço emmédia 5% superior ao nacional.

Este quadro de defasagem entre a ofertae a demanda pode-se agravar , caso ocorraum aumento de consumo em virtude do Pro-grama Fome Zero, em que o governo assu-me o compromisso de assegurar o direitohumano à alimentação. Algumas ações prio-ritárias previstas para alcançar esse obje-tivo são: reforma agrária, fortalecimento daagricultura familiar; criação de um banco dealimentos; Programa Cartão-Alimentação;alimentação escolar; restaurantes popula-res; educação alimentar; compra direta de

Gráfico 2 - Relação entre o preço pago aos produtores de arroz de terras altas noestado de Goiás e o preço pago aos produtores de arroz irrigado no estadodo Rio Grande do Sul, no período 1970 - 2001

FONTE: Embrapa Arroz e Feijão (2003).

Gráfico 3 - Quantidade produzida, importada e estocada anualmente, no período 1980 -2001

FONTE: Embrapa Arroz e Feijão (2003).

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16 Arroz: avanços tecnológicos

agricultores familiares para formação deestoques estratégicos de alimentos; cestasbásicas emergenciais. Nota-se que o arrozé um produto amplamente adaptado no bo-jo dessas ações. Assim, caso o Programase efetive, o consumo desse produto devecrescer, bem como deve sur gir a necessi-dade de ele voltar a ser produzido em maiorquantidade em todas as reg iões.

O agronegócio e o arroz naeconomia nacional

No período de 1994 a 2001, observa-seque a participação média do agronegóciono Produto Interno Bruto (PIB) brasileirofoi de cerca de 30,5%, enquanto o PIB daagricultura foi de 21,5% e da pecuária 9%.Portanto, o agronegócio respondeu porcerca de um terço da economia nacional(Quadro 6). A importância do agronegó-cio não se resume na participação efetivado setor na economia, mas no poder quepossui para alavancar outros setores. Essaaptidão foi verificada por Portugal e Alves(2002). Esses autores utilizaram um modelopara determinar a influência do PIB agríco-la sobre a variação do PIB não agrícola em5.434 municípios brasi leiros. Chegaram adois resultados: o primeiro foi que, em 609municípios, não havia um bom ajuste queexplicasse a causalidade entre os PIBs des-ses setores. Neste caso, concluíram que aagricultura é pouco importante em relaçãoaos setores urbanos. No segundo caso, nos4.825 municípios restantes, onde residiam69,8 milhões de pessoas, o PIB agrícola tevegrande poder de explicação da variação doPIB não agrícola. Foram encontradas rela-ções mostrando que um incremento de 10%no PIB agrícola trazia reflexos positivos de9% do PIB dos setores industrial e de ser-viços.

Políticas macroeconômicas margina-lizaram determinados setores e p rodutos.Exemplo disso foi a produção de alimentosbásicos, como o a rroz, que, apesar de suaimportância, não recebeu o mesmo trata-mento de outros produtos. A produção deprodutos básicos foi negligenciada em de-trimento de produtos agrícolas com maior

destaque no agronegócio brasileiro. No pe-ríodo de 1990 a 2002, ela respondeu por6,88% da renda agrícola total, sendo o sex-to produto em renda, ficando atrás da soja(18,47%), cana-de-açúcar (13,94%), milho(13,68%), laranja (7,67%), café (7,38%).

No Quadro 8, observa-se que o arroz temum papel de destaque no agronegócio, ouseja, de 1994 a 2001 apresentou um PIB mé-dio de 5,2 milhões de reais, o que representacerca de 0,49% do PIB nacional. Observa-se ainda que sua participação relativa estádiminuindo. Esses dados foram calculadoscom base na informação da AssociaçãoBrasileira de Agribusiness (2002), de quedo total do PIB agrícola cerca de 30% égerado dentro da porteira, 66% depois daporteira e 4% correspondem a gastos combens e serviços. Assim, no caso do arroz edo feijão, que agregam pouco valor , osdados podem estar superdimensionados,enquanto os da soja, produto bastanteprocessado e que se desdobra em vários

FONTE: Furtuoso e Guilhoto (2002), LSP A (1990 a 2001), Fundação Getúlio Vargas (1990 - 2001),Associação Brasileira de Agribusiness (2002).

1994 1.002 329 77,9 5,2 4.5 10.7 0,52 0,46 1,07

1995 1.044 338 78,3 7,7 5.0 10.0 0,74 0,48 0,96

1996 1.072 333 74,4 5.8 4.3 12.3 0,55 0,41 1,15

1997 1.107 330 71,5 5,8 4.4 14.0 0,53 0,40 1,26

1998 1.109 332 71,2 4,9 5.4 11.1 0,45 0,49 1,00

1999 1.118 338 72,0 4,8 3.6 10.2 0,44 0,32 0,91

2000 1.167 338 67,7 3,9 3.3 11.9 0,34 0,29 1,03

2001 1.184 344 69,3 3,8 3.3 14.0 0,32 0,28 1,19

QUADRO 8 - PIB nacional, PIB agrícola, PIB da agricultura, PIB do arroz, PIB do feijão e PIB da sojaem relação ao PIB nacional

PIB (milhões de Reais)Participação % em relação

ao PIB totalAno

Total Agrícola Arroz Feijão Soja Arroz Feijão SojaAgri-

cultura

-1,34 -1,58 -1,86 -3,80 1,23 6,05 -0,50 0,03

FONTE: LSPA (1990 a 2001), Fundação Getúlio Vargas (1990-2001).

QUADRO 7 - Crescimento percentual da renda agrícola no Brasil, no período 1994 - 2001

ProdutosTotal

Milho Arroz Laranja Café Soja FeijãoCana-de-

açúcar

FONTE: Furtuoso e Guilhoto (2002), IPEA (2002).

possibilidade de exportação. No Quadro 7,observam-se os resultados dessa política.

Apesar dessa forte concorrência de la-vouras mais voltadas para o mercado exter-no, a rizicultura continua numa posição de

1994 33 24 9

1995 32 23 9

1996 31 22 9

1997 30 21 9

1998 30 21 9

1999 30 21 9

2000 29 20 9

2001 29 20 9

QUADRO 6 - Participação do PIB do agronegó-cio, da agricultura e da pecuária noPIB nacional de 1994 a 2001

Pecuária

Participação do PIB em relaçãoao PIB nacional

AnoAgro-

negócioAgri-

cultura

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17Arroz: avanços tecnológicos

outros, podem estar subdimensionados.Com certeza, parte do arroz não está con-tabilizada nas estatísticas oficiais e, conse-qüentemente, os dados apresentados noQuadro 8 devem ser considerados apro-ximados.

PANORAMA EM MINAS GERAIS

Minas Gerais é o quarto Estado em área,o quinto em produção e responde, respec-tivamente, por 8,2% e 5,8% em termos depaís. Visualiza-se no Gráfico 4 que a áreaplantada em Minas Gerais está decres-cendo. A r izicultura irrigada em áreas devárzeas neste Estado, devido aos váriosproblemas enfrentados, foi drasticamentereduzida e o a rroz de t erras a ltas não semostrou rentável como outras culturas.Portanto, Minas Gerais, apesar de sua tra-dição na produção de arroz e de sua proxi-midade geog ráfica dos mercad os consu-midores, deixou de ser um importante cen-tro no abastecimento interno deste cereal.

Nas Figuras 1 e 2 visualiza-se a situaçãodos municípios mineiros em relação à áreaplantada em 1990 e em 2000. Observa-se que

Gráfico 4 - Evolução da área plantada, em hectares, em Minas Gerais, no período1990 - 2001

FONTE: LSPA (1990 a 2001).

Figura 1 - Áreas de arroz em Minas Gerais em 1990

FONTE: LSPA (1990).

a rizicultura deixou de ser uma atividadeagrícola importante, já que a área cultivadadecresceu de forma expressiva. Os muni-cípios que cultivam as maiores áreas con-tinuam sendo os da região de Paracatu e

Unaí e alguns municípios no Tr iânguloMineiro, próximos a Uberlândia, onde exis-te uma concentração de agroindústria dearroz, que, hoje, opera basicamente comproduto do Sul do País e de Mato Grosso.

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18 Arroz: avanços tecnológicos

Figura 2 - Áreas de arroz em Minas Gerais em 2000

FONTE: LSPA (2000).

Tendo em vista que o Estado possuicerca de 18,4 milhões de habitantes e umconsumo médio de arroz de 75 kg/habi-tante/ano, seriam necessárias 1.375,7 miltoneladas por ano, base casca, para abaste-cer sua população. Considerando que nasafra 2001 foram produzidas 177,3 miltoneladas, verifica-se que nesse ano o Esta-do foi deficitário em cerca de 1.194,4 milhãode toneladas/ano. Portanto, se a produti-vidade média nos ú ltimos c inco anos foide 2.919 kg/ha, seriam necessários culti-var mais 409,1 mil ha para atingir a auto-suficiência.

CONCLUSÃO

O abastecimento do mercado internode arroz no Brasil está polarizado na pro-dução do Rio Grande do Sul e de MatoGrosso. O Maranhão é um grande produtormas, a exemplo de outras regiões, sua pro-dução destina-se, basicamente, ao mercadolocal. Apesar da melhoria da tecnologia edo aumento da competitividade, o arroz deterras altas não conseguiu superar o rendi-mento que outras culturas oferecem aos

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FAO. Agricultural production. Disponível em:<http://fao.org>. Acesso em: 7 maio 2003.

produtores. O País continua dependendoda importação para complementar o abas-tecimento e recebe arroz principalmentedo Mercosul. O quadro de dificuldade doarroz é visível no estado de Minas Gerais,que deixou de ser Estado produtor para serimportador. Os novos tempos sugerem apossibilidade e até mesmo a necessidadeque antigas regiões prod utoras voltem adesenvolver essa atividade.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Preçosrecebidos pelos produtores . Rio de Janeiro,1990-2001.

FURTUOSO, M.C.O.; GUILHOTO, J.J.M. PIBdo agronegócio brasileiro confirma di-namismo d o s etor. Disponível e m: < http://cepea.esalq.usp.br>. Acesso em: 25 ago. 2002.

GASQUEZ, J.G.; VILLA VERDE, C.M. Grãos.In: _______; _______; TOMICH, F.A.; DE NEGRI,J.A.; MAGALHÃES, L.C.G.; SOARES, R.P.Competitividade de grãos e de cadeias se-lecionadas do agribusiness. R io d e J aneiro:IPEA, 1998. p.7-18 (IPEA. Textos paraDiscussão, 538).

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20 Arroz: avanços tecnológicos

INTRODUÇÃO

O arroz é o produto agrícola mais impor-tante do m undo, não só em valor de pro-dução, mas principalmente por se constituirno principal alimento do homem. A produ-ção mundial é de, aproximadamente, 600 mi-lhões de toneladas anuais (AGRIANUAL,2003). Dessas, 85% são destinados ao con-sumo humano. Por ser um dos cereais maisantigo u tilizado pelo homem, sofreu um

Melhoramento genético de arroz em Minas Gerais

Antônio Alves Soares1

Plínio César Soares2

Emílio da Maia de Castro3

Orlando Peixoto de Morais4

Paulo Hideo Nakano Rangel5

Moizés de Sousa Reis6

processo gradual de melhoramento, aindaque de maneira empírica e pouco conscien-te.

Durante séculos, a produtividade doarroz ficou estagnada em 1,0 a 1,5 t/ha, namaioria dos países asiáticos, até o final de1950. Somente no Japão, ocorreram aumen-tos graduais de produção de mais ou me-nos 1,3 t/ha, no ano 900 a.C., para 2,5 t/hano final do século XIX. Esses aumentos

1Engo Agro, D.Sc., Prof. UFLA-Depto Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:

[email protected] Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:

[email protected] Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:

[email protected] Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected]

deveram-se à expansão da área irrigada eao melhor manejo da irrigação (SW AMI-NATHAN, 1984). Este autor relata, ainda,que países como a Indonésia e as Filipinasaumentaram mais a produção e a produ-tividade durante as décadas de 60 e 70, doque nos 7 mil anos que os precederam, ede importadores passaram a exportadores.Que transformação aconteceu? Sem dúvi-da, foi o desenvolvimento de cultivares de

Resumo - A pesquisa na área de melhoramento genético de arroz no Brasil e em Minas Ge-rais tomou impulso a partir de meados da década de 70, quando foram criadas a Embrapae diversas empresas estaduais de pesquisa, dentre elas a EPAMIG. Destacam-se comoresultados de pesquisa o lançamento de 85 cultivares até 1997, que revolucionaram a orizi-cultura no País, e a obtenção de cultivares de terras altas de grãos agulhinhas (longo-fino),tornando esse sistema de cultivo competitivo com o de várzea. Ganhos genéticos foramobtidos em Minas Gerais desde a década de 70. Para o arroz de terras altas, o ganho médioanual foi de 1,26% para materiais do grupo precoce e 3,37% para os de ciclo médio; para oarroz de várzea, o ganho médio foi de 0,98%. Em Minas Gerais, foram recomendadas paraplantio comercial 25 novas cultivares, as quais deram sustentação à orizicultura mineira.Apesar dos grandes avanços obtidos, acréscimos no potencial de produção de grãos estãocada vez menores, sobretudo para o arroz irrigado. Por isso, os programas de melhoramentode arroz vêm adotando novas estratégias, e uma delas é o uso da seleção recorrente comoalternativa mais adequada para elevar o atual nível de produtividade das futuras cultivares.

Palavras-chave: Oryza sativa. Cultivares. Ganho genético. Seleção recorrente.

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21Arroz: avanços tecnológicos

alto potencial produtivo, associado ao me-lhor manejo do solo e da água e à fertiliza-ção das plantas. O resultado foi uma ele-vação na produção de grãos de arroz namaioria dos países, a qual excedeu a 5% aoano. A chave genética para esses avançosfoi o desenvolvimento de cultivares semi-anãs altamente produtivas do grupo índica.A cultivar índica tradicional era alta, fron-dosa, mas de baixo potencial genético paraprodução de grãos.

IMPACTO DOMELHORAMENTO DE ARROZPARA A REVOLUÇÃO VERDE

A maior contribuição da genética pa-ra o aumento da produção de grãos em arroznos anos recentes foi o descobrimento doalelo recessivo para porte baixo, presentenas cultivares chinesas Dee-geo-woo-gene I-geo-tze. Elas são as únicas cujo nanismonão afeta as panículas e nem as espiguetas.O alelo da ‘Dee-geo-woo-gen’ para nanis-mo introduziu-se em um grande número decultivares e linhagens índicas melhoradase, mais recentemente, nas japônicas. A ori-gem precisa da ‘Dee-geo-woo-gen’ é des-conhecida, embora ela tenha sido cultivadapelos agricultores Taiwanenses, antes de1951 (JENNINGS et al., 1981).

Em 1949, ‘Dee-geo-woo-gen’, uma culti-var índica semi-anã, que perfilha intensa-mente, foi cruzada com ‘Tsai-yuan-chung’,uma cultivar de porte alto e resistente a do-enças. Desse cruzamento, foi selecionadae l ançada, em 1956, a cultivar TaichungNative 1 (TN1). A ‘TN1’ respondia a altosníveis de N e produzia 6 t/ha em média comrecordes de 8,1 t/ha. Dessa forma, ela foiconsiderada a primeira cultivar índica dealta produtividade e seu desenvolvimentoé considerado um dos mais significativosna história do melhoramento do arroz. Essacultivar demonstrou que o aumento do po-tencial de rendimento do arroz índica podiaser obtido pelo melhoramento dentro dasíndicas. Assim, ela apontou o caminho pa-ra o melhoramento do arroz tropical (DEDATTA, 1981, YOSHIDA, 1981).

Em 1960, foi criado o International RiceResearch Institute (IRRI), pelas FundaçõesFord e Rockeffeler, em cooperação com ogoverno Filipino. Em 1962, os melhoristasdo IRRI c ruzaram a ‘ Dee-geo-woo-gen’com a ‘ Peta’, uma cultivar a lta de eleva-do perfilhamento. Desse cruzamento, foiselecionada e lançada, em 1966, a cultivarIR8, a qual possui folhas eretas, alto per-filhamento, insensibilidade ao fotoperío-do, porte baixo (semi-anã), colmos rígidos,responde bem ao N e produz em torno de6 t/ha na estação úmid a e 9 t/ha na esta-ção seca e, ocasionalmente, excede a 10 t/ha.A ‘IR8’ é considerada a primeira cultivarde arroz índica altamente produtiva adap-tada a climas tropicais. Seu impacto foi ele-gantemente descrito como: arroz-anão – umgigante na Ásia Tropical. Tornou-se conhe-cida como “o arroz milagroso” (YOSHIDA,1981).

A rápida difusão da ‘IR8’ e de outrascultivares que a sucederam na Ásia e emoutros continentes promoveu o que se de-nomina Revolução Verde; e o arroz passoua chegar mais fartamente e com menor custoà mesa do consumidor . O resultado maisfantástico desse esforço do melhoramentogenético foi o de que a produção mundialde arroz duplicou de 257 milhões de tone-ladas, em 1965, para 520 milhões de tone-ladas, em 1990. Em 2003, levantamentos pre-liminares indicam uma produção mundialpróxima de 600 milhões de toneladas. Certa-mente, o melhoramento genético deu a maiorcontribuição para esse aumento espetacularda produção de arroz.

No Brasil, a primeira cultivar semi-anãdo grupo moderno introduzida no final dadécada de 60 foi a ‘IR8’ que, com outrasque a sucederam, contribuiu para o saltode produtividade de arroz irrigado, que hojese conhece.

MELHORAMENTO GENÉTICODE ARROZ NO BRASIL EEM MINAS GERAIS

Programas oficiais de melhoramentogenético da cultura do arroz no Brasil so-mente iniciaram-se em 1937, no Instituto

Agronômico de Campinas (IAC), em SãoPaulo e, em 1938, no Instituto Rio Granden-se do Arroz (IRGA), no Rio Grande do Sul.O IAC sempre priorizou em suas atividadeso arroz de sequeiro, hoje denominado arrozde terras altas, enquanto o IRGA dedicou-se com exclusividade ao arroz irrigado porinundação contínua em várzeas. Inicialmen-te, ambos os institutos adotaram a estra-tégia de selecionar , entre as cultivares oulinhagens até então disponíveis no País ouintroduzidas do exterior , as que melhorprestavam-se ao cultivo nas condições lo-cais de São Paulo e do Rio Grande do Sul,respectivamente. O Ministério da Agricul-tura, através da sua antiga rede de institu-tos de pesquisa agropecuária, pertencen-tes ao extinto Departamento Nacional dePesquisa Agropecuária (DNPEA), tambémcontribuiu relevantemente para o melho-ramento do arroz no País. O ex-InstitutoAgronômico de Minas Gerais tambémdesenvolveu programas importantes deseleção nas cultivares tradicionais entãoexistentes em Minas Gerais, contribuindopara a melhoria da qualidade das sementesde arroz utilizadas no Estado (MORAIS;RANGEL, 1997).

Em 1973, foi criada a Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (Embrapa) emsubstituição ao DNPEA e, em 1974, foi insti-tuído o Centro Nacional de Pesquisa deArroz e Feijão (CNPAF), hoje EmbrapaArroz e Feijão, que começou os trabalhoscom arroz em 1976. Os dois primeiros anosdo CNPAF foram dedicados a coletas na-cional e internacional de germoplasma e, apartir daí, foram realizados os primeiros cru-zamentos e avaliação de populações segre-gantes (GUIMARÃES; MORAIS, 1987).No decorrer da década de 70, foram esta-belecidas várias instituições estaduais depesquisa agropecuária, que com a Embrapa,o IAC e o IRGA organizaram-se para cons-tituir o Sistema Cooperativo de PesquisaAgropecuária (SCPA). A partir de então,pôde-se ampliar de forma significativa asatividades d e p esquisa a gropecuária n opaís, inclusive as de melhoramento gené-tico do arroz.

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22 Arroz: avanços tecnológicos

O fato mais marcante no melhoramen-to genético do arroz no Brasil foi a criação,em 1982, das Comissões Técnicas Regio-nais de Arroz (CTArroz), envolvendo inicial-mente 35 instituições de pesquisa, sob acoordenação da Embrapa Arroz e Feijão.O país foi subdividido em três regiões e emcada uma estabeleceu-se uma ComissãoTécnica, a ssim d iscriminadas: CTArroz I(Região Sul, exceto o Paraná), CTArroz II(Regiões Sudeste e Centro-Oeste, mais osestados do Paraná, Bahia e Tocantins) eCTArroz III (Regiões Norte e Nordeste). AsComissões tinham a função de coordenaro processo de avaliação de cultivares e li-nhagens de arroz criadas pelos diferentesprogramas de pesquisa de melhoramentonacional ou internacional, definindo estra-tégias, critérios e opinando sobre a conveni-ência de lançamento de cultivares (CUTRIM,1994). Em cada uma dessas regiões, sãoavaliadas, por meio das instituições de cadaComissão Técnica, as linhagens anual-mente disponíveis no país, utilizando-setrês classes de ensaios: observação (EO),preliminares (ECP) e avançados (ECA). Umalinhagem somente é lançada como culti-var, se se mostrar pr omissora nos ensaiosEO e ECP e comportar-se mais vantajo-samente que as testemunhas na rede deensaios ECA por pelo menos dois anos(EMBRAPA, 1994). Esse programa coope-rativo de melhoramento contribuiu decisi-vamente para a melhoria da eficiência daorizicultura b rasileira e , somente após acriação das Comissões Técnicas, até 1997,foram lançadas 85 cultivares, sendo 32 pa-ra as condições de terras altas e 53 paravárzeas (GUIMARÃES et al., 1997). Nesseperíodo, foram avaliadas mais de dez millinhagens e, em média, foram necessáriosmais de oito anos para lançar uma cultivar.Cabe ressaltar também, que a produtividadedas lavouras, tanto do sistema de sequei-ro, quanto do sistema irrigado aumenta-ram cerca de 30%, devido principalmente àsubstituição d as c ultivares a ntigas p elasmais recentes (MORAIS; RANGEL, 1997).

Após a criação da Lei de Proteção deCultivares em 1997, os ensaios compara-

tivos avançados estão sendo utilizadostambém como valor de cultivo e uso (VCU),com a finalidade de registro e proteção decultivares. Após entrar em vigor esta Lei,as Comissões Técnicas de arroz sofreramum revés com algumas instituições de pes-quisa desvinculando-se dela, em face dosinteresses particulares de cada uma, o quegerou conflitos sobre a detenção das culti-vares lançadas comercialmente, recebi-mento de royalties etc.

A história do melhoramento genéticodo arroz em Minas Gerais concentra-se,basicamente, na Empresa de Pesquisa Agro-pecuária de Minas Gerais (EPAMIG), cria-da em 1974, em substituição ao ProgramaIntegrado de Pesquisas Agropecuárias(Pipaemg). Até então, os trabalhos compa-rativos entre cultivares e linhagens de arrozforam conduzidos, principalmente, peloextinto Instituto de Pesquisas e Experi-mentação Agropecuárias do Centro-Oeste(Ipeaco) e pela Universidade Federal deViçosa (UFV), sendo recomendadas, na-quela época, entre outras, as cultivares Pra-tão Precoce e IAC 1246, para as lavourasde terras altas, e a ‘IAC 435’ e ‘IAC 120’,para as várzeas (SOARES; SOARES, 1984).

O Programa de Melhoramento de Arrozde Terras Altas, até o início da década de90, limitava-se a avaliar cultivares e linha-gens desenvolvidas por outras instituiçõesnacionais e int ernacionais de pesqui sa.Somente em 1993, a EPAMIG, em coope-ração com a Universidade Federal de La-vras (Ufla) e a Embrapa Arroz e Feijão, deuinício ao Programa de Avaliação de Po-pulações Segregantes F 2, conduzido peloMétodo Bulk, para extração de linhagensmais adaptadas às condições edafoclimá-ticas do Estado (EPAMIG, 1993). Para oarroz de várzea úmida, a EPAMIG, em par-ceria com a Embrapa Arroz e Feijão, iniciouem 1980 um prog rama de melhoramentoatravés de introdução de populações se-gregantes F 2, nas quais se procederamavanços de geração e seleção de progêniesadaptadas às várzeas de Minas Gerais.Como resultado desse trabalho, obtiveram-se duas cultivares específicas para várzea

úmida, que são a ‘Mucuri’ e ‘Samburá’,recomendadas em 1995, e uma para irrigadopor inundação, que é a ‘Urucuia’, lançadaem 1994 e até hoje cultivada no Estado.

O alto índice de adoção das novas cul-tivares de arroz de terras altas lançadas pe-la pesquisa, em Minas Ger ais (nove nosúltimos 17 anos), retrata por si só a eficiênciado Programa de Melhoramento. Todaviauma quantificação do ganho genético parauma auto-avaliação e reflexão sobre o Pro-grama foi realizada por Soares et al. (1999),abrangendo o p eríodo d e 1 974 a 1 995.Nesses 21 anos de pesquisa, foram tes-tados, apenas nos ensaios comparativosavançados, 74 materiais precoces e 70 deciclo médio ou mais tardio. Os resultadosmostraram um ganho genético médio anualde 1,26% para os materiais do grupoprecoce e de 3,37% para os do grupo médioou tard io, indicando que o P rograma deMelhoramento Genético do Arroz de TerrasAltas foi bastante eficiente no período, oque justifica plenamente os recursos alo-cados para a pesquisa. Contudo, uma dasmaiores contribuições que o melhoramen-to trouxe para o arroz de terras altas foi odesenvolvimento de cultivares de grãosagulhinha de alta qualidade culinária, ca-racterística que até meados da década de90 só as cultivares de várzeas possuíam.Portanto, hoje, o arroz de terras altas é tãocompetitivo quanto o irrigado no mercadode grãos.

No que se refere ao arroz de várzeas(irrigado e várzea úmida), os programas demelhoramento desenvolvidos no Estadopela EPAMIG, em parceria com outras ins-tituições (Embrapa e Ufla), possibilitaramcolocar à disposição dos agricultores 14novas cultivares que muito contribuírampara a orizicultura irrigada mineira. Com oobjetivo de avaliar o ganho genético pro-porcionado pelo Programa de Melhor a-mento de Arroz Irrigado em Minas Gerais,Santos et al. (1999) procederam um estudoutilizando dados de produtividade de grãosdos ensaios comparativos avançados noperíodo de 1974/1975 a 1995/1996. O ganhogenético médio obtido em todo o período

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23Arroz: avanços tecnológicos

foi de 33 kg/ha/ano (0,98 % ao ano), sen-do altamente significativo estatisticamente(P ≤ 0,01). Esse número por si espelha aimportância da pesquisa na área de melho-ramento de arroz irrigado para o Estado.

NOVA ESTRATÉGIA DOPROGRAMA DEMELHORAMENTO DE ARROZ

A avaliação de linhagens que, indubi-tavelmente, é a fase mais difícil de qualquerprograma de melhoramento tem sido tarefade todas as instituições de pesquisa dearroz do sistema cooperativo, contudo arecombinação das unidades de avaliaçãoselecionadas constitui incumbência depoucos, sobretudo da Embrapa Arroz eFeijão. Praticamente, todos os métodosconvencionais de melhoramento de autó-gamas têm sido utilizados, mas a hibridaçãoartificial e a condução das populações se-gregantes pelo método geneológico sem-pre foram, destacadamente, as mais empre-gadas (MORAIS; RANGEL, 1997).

Os programas tradicionais de melhora-mento genético de arroz utilizam, de maneirageral, métodos que maximizam a endogamiano desenvolvimento de novas linhagens.Normalmente, após a síntese de uma novapopulação com os recursos da hibridaçãoentre genitores, as gerações segregantessão conduzidas, recorrendo-se ao proces-so natural da autofecundação. A endoga-mia progressiva no d ecorrer das sucessi-vas gerações, reduz de maneira crescenteas chances de recombinação, pois, com aidentidade entre alelos de um mesmo loco,os processos de crossing-over tornam-seinefetivos na produção de novos recombi-nantes. Assim, os métodos convencionaisde melhoramento de arroz apresentammenor potencial de geração de variabili-dade do que teria, se os intercruzamentosentre unidades de recombinação fossemmais freqüentes. Reduzindo-se a geraçãode variabilidade, diminui-se, como con-seqüência, os ganhos genéticos por sele-ção. Uma das alternativas utilizáveis, paraaumentar os ganhos por seleção em arroz,consiste em sintetizar populações de base

genética mais ampla e conduzi-las por meioda seleção re corrente.

Seleção recorrente é um método de me-lhoramento que aumenta a freqüência dosgenótipos favoráveis em uma populaçãoatravés da aplicação cíclica de intercruza-mentos e seleção (IKEHASHI; FUJIMAKI,1980). Esta técnica é amplamente utilizadaem plantas alógamas, devido principalmen-te à facilidade de intercruzamentos. Recen-temente, foram desenvolvidas novas téc-nicas de cruzamentos em arroz, além do usoda macho-esterilidade, as quais possibi-litam o uso da seleção recorrente no melho-ramento desse cereal.

Sendo a produção de grãos governadapela ação de um desconhecido, porém sabi-damente grande número de genes menores,a probabilidade de encontrar um indiví-duo, em qualquer geração segregante, queencerre todos os alelos favoráveis, é muitopequena. Esta probabilidade diminui, àmedida que se aumenta a geração em con-sideração (RAMALHO et al., 1993). Essesalelos normalmente estão dispersos nosindivíduos ou progênies sob avaliação.Selecionando-se os indivíduos não aparen-tados ou menos apare ntados (mais diver-gentes), com maior número possível dealelos, e intercruzando-os, aumenta-se afreqüência dos alelos favoráveis no novociclo e, com isso, têm-se maiores chancesde encontrar indivíduos com todos osalelos favoráveis. Esse é o fundamento bá-sico da seleção recorrente, que cada vezmais vem sendo considerada a melhor alter-nativa para obter ganhos em característicasquantitativas, como a produtividade degrãos (MORAIS, 1995).

Constatada as vantagens de gerar po-pulações sucessivamente melhores e commaior potencial para extração de linhagens,optou-se por adotar a seleção recorrentecomo base dos Programas de Melhora-mento de Arroz. Atualmente, já foram cons-tituídas pela Embrapa Arroz e Feijão oitopopulações (CG 1, CG 2, CG 3, CNA 6, CNA7, CNA 8, CNA 9 e CNA 10), para o sistemade terras altas (MORAIS et al.,1997). Todasjá foram ou estão sendo submetidas a um

ou mais ciclo de seleção massal, visandocaracterísticas de alta herdabilidade, comoresistência a doenças, arquitetura, unifor-midade de ciclo e qualidade de grãos. Aseleção para maior produtividade de grãosinicia-se apenas a partir do ponto em que apopulação já pode ser considerada pelomenos satisfatória quanto às outras carac-terísticas de interesse (MORAIS et al., 1995,RANGEL; NEVES, 1997 ). Duas popula-ções, a CG 3 (ciclo médio) e a CG 1 (ciclocurto), já são avaliadas em Minas Geraisem condições de terras altas e diversas fa-mílias foram selecionadas e e stão s endoavançadas pelo Método Bulk para extraçãode linhagens. Paulatinamente, as popula-ções dos programas de seleção recorrenteestão substituindo os cruzamentos con-vencionais como base para extração d e li-nhagens.

O fato de Minas Gerais possuir regimede distribuição de chuvas muito irregular ,com freqüentes veranicos, sobretudo nosmeses de fevereiro e/ou março, geralmenteperíodo de maior exigência do arroz emágua, faz com que a pesquisa priorize paraterras altas o desenvolvimento de novascultivares cada vez mais precoces. Estas,porém, apresentam maiores chances deescape dos referidos veranicos, reduzindo,assim, os riscos da lavoura. Além do mais,cultivares mais precoces facilitam a rotaçãode culturas tão em uso hoje em dia, nota-damente nas condições irrigadas por asper-são, onde o uso da terra é mais intenso.

Para o sistema irrigado em várzeas, está-se iniciando um programa semelhante aode terras altas, em parceria com a EmbrapaArroz e Feijão, que já constituiu cinco po-pulações de seleção recorrente (CNA 1,CNA 5, CNA 11, CNA-IRAT 4 e CNA-IRAT P). As instituições parceiras do Es-tado avaliam anualmente um conjunto defamílias S0:2, em que as superiores são se-lecionadas para avanço de geração até ahomozigose, para, então, extrair linhagensmais adaptadas às condições edafoclimá-ticas de Minas Gerais.

A seleção de linha gens para obtençãode novas cultivares baseia-se em algumas

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24 Arroz: avanços tecnológicos

prioridades. Entre as principais, podem-sedestacar, para cada sistema de cultivo, asseguintes:

a) terras altas tradicional:

- tolerância a déficit hídrico;- ciclo curto;- resistência à brusone, escaldadura

e mancha-de -grãos;- porte médio;- tolerância ao acamamento;- tolerância à toxidez de alumínio;- grãos longo-fino (agulhinha);- boa qualidade culinária;- adaptação ao plantio direto;

b) terras altas com irrigação suple-

mentar:

- precocidade;- porte baixo/intermediário;- resistência ao acamamento;- resistência às doenças;- alto vigor inicial das plantas;- responsivas à melhoria de ambien-

te;- grão agulhinha e de boa qualidade;- alto potencial produtivo;

c) irrigado por inundação contínua:

- tolerância à toxidez de ferro e man-ganês;

- resistência ao acamamento;- resistência às principais enfermi-

dades;- perfilhadoras;- boa qualidade de grãos;- alto potencial genético p ara pro-

dução de grãos;

d) várzea úmida:

- alto vigor inicial das plantas;- tolerância à toxidez de ferro e man-

ganês;- resistência ao acamam ento;- resistência às principais enfermi-

dades;- alto potencial genético p ara pro-

dução de grãos;- grão agulhinha e de boa qualidade.

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25Arroz: avanços tecnológicos

INTRODUÇÃO

Minas Gerais situa-se entre os princi-pais Estados produtores de arroz do país,sendo também expressivos os níveis dedemanda do produto. O arroz de terras altase o irrigado por inundação contínua juntosresponderam, na safra de 2002, por 57% daprodução mineira do cereal, sendo metadeem cada ecossistema. O restante (43%) foiproduzido em condições de várzeas úmidas(IBGE, 2002).

O plantio de arroz de terras altas semprese destacou como um dos mais importantes

Cultivares de arroz de terras altas e de várzeas recomendadas para Minas Gerais

Plínio César Soares1

Antônio Alves Soares2

Orlando Peixoto de Morais3

Emílio da Maia de Castro4

Paulo Hideo Nakano Rangel5

Vanda Maria de Oliveira Cornélio6

Moacil Alves de Souza7

Resumo - Caracterização das cultivares de arroz recomendadas para terras altas e devárzeas de Minas Gerais, no período de 1992 a 2004, com base em pesquisas demelhoramento genético desenvolvidas no Estado, pela EPAMIG e Ufla, em parceria coma Embrapa Arroz e Feijão. Com essas pesquisas foi possível disponibilizar aos orizicultoresmineiros, no referido período, 16 cultivares de arroz, sendo nove apropriadas ao cultivoem várzeas e sete indicadas para o plantio em terras altas.

Palavras-chave: Oryza sativa. Melhoramento genético. Arroz de sequeiro. Arroz irrigado.

em Minas Gerais, todavia, nos anos recen-tes, ocorreu grande redução de área e deprodução, ocasionada principalmente pelabaixa remuneração do produto, em funçãodo tipo de grão e de sua menor qualidadeindustrial e culinária. Somente nos últimos13 anos a área de plantio no Estado reduziu-se em cerca de 70% e a produção de grãos,em torno de 65% (MINAS GERAIS, 1995,IBGE, 2002). Preocupados com essa situa-ção, os melhoristas de arroz deram um novorumo ao programa de melhoramento, enfo-cando a obtenção de cultivares modernasadaptadas ao cultivo em terras altas, seja

1Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Prof. UFLA-Depto Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:

[email protected] Agr o, D.Sc., P esq. E mbrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, C EP 75375-000 S anto Antônio de Goiás-GO. Correio e letrônico:

[email protected] Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375 -000 Santo Antônio de Go iás-GO. Correio elet rônico:

[email protected] Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Prof. UFV-Depto Fitotecnia, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

no sistema de sequeiro tradicional, seja nosistema irrigado por aspersão. Essas culti-vares teriam que apresentar porte interme-diário, resistência ao acamamento, à seca ea doenças, responsivas a altas tecnologiase, sobretudo, ter boa qualidade de grãos.Para as condições de várzeas, a situação ésemelhante, com reduções significativas emárea e produção nos últimos anos.

Um dos principais fatores que contri-buem para melhor produção de arroz é oemprego de cultivares melhoradas, adapta-das a cada modalidade de cultivo. Isso por-que a tecnologia gerada (novas cultivares)

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26 Arroz: avanços tecnológicos

é de baixo custo e de f ácil adoção pelosagricultores, proporcionando ganhos expres-sivos no rendimento das lavouras.

Dessa forma, os avanços tecnológicosatuais, a ssociados ao uso de novas culti-vares superiores, darão um novo impulsoà produção de arroz em Minas Gerais, compossibilidades de reversão de tendência dedeclínio dessa importante cultura, poden-do o E stado v oltar a s er a uto-suficienteneste cereal.

CULTIVARES RECOMENDADASPARA MINAS GERAIS

Com base em resultados de pesquisasobtidos pelos Programas de Melhoramen-to Genético de Arroz de Várzeas (irrigado ede várzea úmida) e de Terras Altas, desen-volvidos em Minas Gerais, pelo consórcioEPAMIG, Embrapa Arroz e Feijão e Univer-sidade Federal de Lavras (Ufla), elaboraram-se os Quadros 1 e 2 com as principais carac-terísticas botânicas, morfológicas, fenoló-gicas e agronômicas das cultivares de arrozlançadas e/ou recomendadas para o Esta-do, no período de 1992 a 2004. A seguir,serão descritas as características de cadacultivar por sistema de cultivo.

Cultivares paraarroz de terras altas(sequeiro tradicional eirrigado por aspersão)

‘Caiapó’

‘Caiapó’ é a denominação varietal dalinhagem de arroz ‘CNAx 782-28-2-1’, obtidapela Embrapa Arroz e Feijão e registradano Banco Ativo de Germoplasma (BAG),com o número ‘CNA 6187’. Originou-se docruzamento múltiplo de ‘IRAT 13’ / ‘BeiraCampo’ // ‘CNAX 104-B-18 Py-2B’ / ‘Pé-rola’.

A ‘Caiapó’ é uma cultivar de ciclo mé-dio que floresce aos 110 dias, em média, eatinge a maturação por volta dos 135 dias.Possui altura média de 95 cm e boa capa-cidade de perfilhamento. Por ser uma cul-tivar de porte alto e frondosa, a ‘Caiapó’ ésuscetível ao acamamento, principalmenteem solos férteis.

Antes de ser lançada em 1992, a ‘Caia-pó’ foi avaliada em 12 ensaios regionais,durante três anos agrícolas (1988/1991), nasFazendas Experimentais da EPAMIG emLambari, Lavras, Paracatu, Patos de Minas,Patrocínio, Uberaba e Unaí , com uma pro-dutividade média de 2.725 kg/ha, superan-do em 7% a testemunha ‘Rio Paranaíba’,com 2.543 kg/ha (Quadro 2). Apesar de tersido lançada há mais de dez anos, ainda éuma das cultivares mais plantadas nascondições de terras altas de Minas Gerais.

‘Canastra’

A ‘Canastra’ originou-se do cruzamen-to de ‘Tox 939-107-2-101-B’//‘Colômbia 1/M312A’///‘Tox 1780-2-1-1P-4’, realizadopelo Centro Internacional de AgriculturaTropical (Ciat). Foi introduzida no Brasilpela Embrapa Arroz e Feijão com a deno-minação ‘CT 7415-6-5-1-2-B’. Após avalia-ções preliminares, foi selecionada e distri-buída nos Estados por meio da rede deensaios das Comissões Técnicas Regionaisde Arroz. Seu número no BAG da Embrapaé ‘CNA 7475’. Em Minas Gerais, foi intro-duzida em 1992, e seu comportamento su-perior nos ensaios, em diversas regiões,habilitou-a a ser lançada como cultivar em1996, para plantio em condições de sequei-

ro tradicional e sob pivô central, em todo oEstado.

No sistema de sequeiro tradicional, acultivar Canastra apresentou produtividadesemelhante à ‘Guarani’ e à ‘Douradão’, quesão cultivares precoces. Por outro lado,superou a ‘Caiapó’, que é de ciclo médio,em 17%. Cabe esclarecer que, em MinasGerais, as cultivares precoces (ciclo infe-rior a 120 dias) tendem a produzir mais queas de ciclo médio, em virtude de serem maisfavorecidas pela distribuição de chuvas(SOARES,1992). Isso mostra o bom desem-penho da ‘Canastra’, que, mesmo sendode ciclo mais tardio (134 dias), foi tão efi-ciente quanto as testemunhas precoces,por ocasião de sua recomendação (Qua-dro 2).

No sistema irrigado por aspersão, ondea distribuição de chuvas é atenuada pelairrigação suplementar (SOARES, A.A. etal., 1997), a ‘Canastra’ destacou-se como amais produtiva (3.063 kg/ha), todavia nãodiferiu das testemunhas, confirmando o seubom desempenho em ambos os sistemasde cultivo (Quadro 2).

Ainda hoje, é expressiva a área plantadacom a cultivar Canastra no Estado, devidoao seu alto potencial genético para produ-ção de grãos (Fig. 1), sua adaptabilidade e

Figura 1 - Cultivar Canastra

NOTA: Lançada em 1996, é ainda hoje uma das mais plantadas em Minas Gerais.

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28 Arroz: avanços tecnológicos

Caiapó 1992 Sequeiro tradicional 12 2.725 2.543 (Rio Paranaíba) 7

Canastra 1996 Sequeiro tradicional 14 2.452 2.100 (Caiapó) 2.401 (Douradão) 2.510 (Guarani) 0 e 17Irrigada por aspersão 10 3.063 2.844 (Caiapó) 2.878 (Douradão) 2.973 (Guarani) 3 a 8

Confiança 1996 Sequeiro tradicional 14 1.937 2.100 (Caiapó) 2.401 (Douradão) 2.510 (Guarani) 0Irrigada por aspersão 10 2.601 2.844 (Caiapó) 2.878 (Douradão) 2.973 (Guarani) 0

Carisma 1999 Sequeiro tradicional 22 3.579 2.974 (Confiança) 3.139 (Douradão) 3.397 (Caiapó) 5 a 18Irrigada por aspersão 19 4.253 3.322 (Confiança) 3.799 (Douradão) 3.998 (Guarani) 6 a 23

Primavera 2000 Sequeiro tradicional 29 3.482 3.031 (Confiança) 3.458 (Caiapó) 3.541 (Canastra) 0 a 13Irrigada por aspersão 19 4.283 3.322 (Confiança) 3.799 (Douradão) 3.998 (Guarani) 7 a 24

BRSMG Conai 2004 Sequeiro tradicional 17 4.145 3.575 ( Canastra) 3.595 (Caiapó) 3.977 (Carisma) 4 a 16

BRSMG Curinga 2004 Sequeiro tradicional 19 3.687 3.268 ( Canastra) 3.394 (Caiapó) 3.729 (Carisma) 0 a 13

Urucuia 1994 Irrigada por inundação 24 5.700 5.383 (MG1) 5.417 (MG2) 5.936 (Inca) 0 a 6

Sapucaí 1994 Irrigada por inundação 24 5.636 5.383 (MG1) 5.417 (MG2) 5.936 (Inca) 0 a 5

Capivari 1994 Irrigada por inundação 24 6.102 5.383 (MG1) 5.417 (MG2) 5.936 (Inca) 0 a 13

Samburá 1995 Várzea úmida 24 5.019 2.961 ( Chorinho) 3.983 ( Matão) 4.029 (De Abril) 25 a 70

Mucuri 1995 Várzea úmida 24 4.794 2.961 ( Chorinho) 3.983 ( Matão) 4.029 (De Abril) 19 a 62

Jequitibá 1997 Irrigada por inundação 22 6.787 5.517 (Javaé) 6.184 (BR-IRGA 409) 10 e 23

Rio Grande 1999 Irrigada por inundação 23 6.958 5.918 ( BR-IRGA 4 09) 6.068 ( Jequitibá) 6.367 (Urucuia) 7 a 15

BRS Ourominas 2001 Irrigada por inundação 18 6.488 5.531 ( BR-IRGA 4 09) 5.881 ( Jequitibá) 6.056 (Urucuia) 9 a 16

BRSMG Seleta 2004 Irrigada por inundação 14 6.821 5.560 (BR-IRGA 409) 5.836 (Jequitabá) 6.447 (Urucuia) 6 a 23

FONTE: Dados básicos: Soares, A.A. (1992), Soares, A.A. et al. (1993, 1995, 1996, 1997, 1999, 2000, 2001), Soares, P .C. et al. (1997, 1998, 2000, 2002),EPAMIG (2004).

QUADRO 2 - Produtividade das cultivares de arroz recomendadas para Minas Gerais de 1992 a 2004, por ocasião do seu lançamento

Produção de grãos(kg/ha)

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estabilidade de comportamento nos diver-sos ambientes das lavouras de terras altas(sequeiro e irrigado por aspersão), tolerân-cia às principais doenças fúngicas queatacam o arroz e boa qualidade industrial eculinária dos grãos.

‘Confiança’

A ‘Confiança’ originou-se do cru-zamento entre ‘IAC 164’ e a ‘Rio Verde’(‘IRAT 216’), realizado pela Embrapa Ar-roz e Feijão, em 1986. A partir de 1987, foiselecionada em áreas de cerrado no estadode Roraima, pela Embrapa Roraima, e

registrada no BAG da Embrapa Arroz eFeijão como ‘CNA 7706’. Em 1990/1991 foiintroduzida em Minas Gerais, e seu bomdesempenho produtivo, aliado à boa quali-dade de grãos, permitiu lançá-la, em 1996,para o cultivo em sequeiro tradicional e sobirrigação por aspersão em todo o Estado(Quadros 1 e 2).

A ‘Confiança’ é uma cultivar de ciclomédio (140 dias para maturação) e apresen-ta grãos característicos de casca dourada,classificados como longo-fino. Possui ren-dimento de grãos inteiros no beneficia-mento superior a 60% (Quadro 1).

Esta cultivar exibe porte em torno de90 cm. Sua menor altura de plantas confere-lhe maior resistência ao acamamento, ca-racterística de grande importância, sobre-tudo para o cultivo sob pivô central, o queexpõe as plantas de arroz a maiores riscosde tombamento.

A cultivar Confiança possui teor deamilose intermediário (próximo a 25%) e tem-peratura de gelatinização também interme-diária (índice 4,0), conferindo-lhe excelentequalidade de panela. Essa alta qualidadede grãos da ‘Confiança’ pode proporcionara ela melhor remuneração na comercializa-

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29Arroz: avanços tecnológicos

ção, compensando, assim, a menor produ-ção de grãos.

‘Carisma’

A ‘Carisma’ foi obtida do cruzamen-to realizado em 1989, no Ciat, entre as li-nhagens ‘CT 7244-9-1-5-3’ // ‘CT 6196-33-11-1-3’. Desse cruzamento, selecionou-sea linhagem ‘CT 11251-7-2-M-M’, que foiintroduzida pela Embrapa Arroz e Feijão,com o código ‘CNA 8305’, e distribuída aosdiversos Estados brasileiros para avalia-ção.

Em Minas Gerais, a ‘Carisma’ foi intro-duzida em 1993, e o seu comportamentosuperior nos ensaios de sequeiro tradicio-nal e irrigado por aspersão, em diversasregiões do Estado, possibilitou que fosselançada em 1999, como nova cultivar, paraesses dois sistemas de plantio.

Apesar de a ‘Carisma’ ser uma cultivarde terras altas, apresenta plantas tipo mo-derno (com alguma semelhança com ascultivares de várzeas), ou seja, com folhasestreitas, curtas e eretas, porte intermediá-rio (92 cm), perfilhadora e moderadamenteresistente ao acamamento. Seu ciclo é de,aproximadamente, 125 d ias, podendo serclassificado como semiprecoce. Apresentatambém resistência moderada às princi-pais doenças fúngicas do arroz que são:brusone, escaldadura foliar e a mancha-de-grãos.

No Quadro 2, são mostradas as médiasde produção de grãos, obtidas com a ‘Ca-risma’ e com as cultivares testemunhas nossistemas de plantio de terras altas tradi-cional e irrigado por aspersão suplemen-tar. Verifica-se que a ‘Carisma’ possui altopotencial de produtividade de grãos (3.579-4.253 kg/ha), superando, por ocasião de seulançamento, a ‘Caiapó’, a ‘Douradão’ e a‘Confiança’ entre 5% e 23%. Apesar de a‘Carisma’ possuir arquitetura de planta mo-derna, demonstrou ser tolerante a estressehídrico, uma vez que no sistema de sequei-ro tradicion al superou, em produ ção degrãos, as cultivares reconhecidamente re-sistentes à seca, como ‘Caiapó’ e ‘Doura-dão’.

Importantes características dos grãosda cultivar Carisma, como dimensões, pesode 100 grãos e rendimento de grãos intei-ros, constam no Quadro 1. Pelas dimensõesdos grãos, observa-se que a ‘Carisma’ per-tence à classe de grãos longo-fino ou agu-lhinha, os mais procurados e os mais valo-rizados pelo mercado brasileiro. A ‘Carisma’é, portanto, a terceira cultivar lançada erecomendada para Minas Gerais com grãosagulhinha, tendo como antecessoras a ‘Ca-nastra’ e a ‘Confiança’. Essas três cultivaressão atualmente as mais plantadas em terrasaltas, graças ao bom desempenho, tantoem nível de lavouras, quanto em nível deindústria e de mesa do consumidor (Fig. 2).Outro fator que contribui para a preferênciados orizicultores por essas cultivares, é amaior disponibilidade de sementes no mer-cado mineiro.

‘Primavera’

A ‘Primavera’ foi desenvolvida pelaEmbrapa Arroz e Feijão, por meio do cruza-mento realizado entre as linhagens ‘IRAT10’e a ‘LS 85-158’, em 1987, tendo como pedigreea denominação ‘CNAx 3608-6-1-2-1’. Pos-teriormente, recebeu o código ‘CNA 8070’,com o qual foi distribuída para compor expe-rimentos das instituições estaduais, para

avaliações regionais. Em Minas Gerais, aintrodução ocorreu em 1993 e, desde então,foi testada em diver sas condições edafo-climáticas do Estado. Seu bom desempenhoquanto à produtividade de grãos, classelongo-fino, e à boa qualidade culinária, comgrãos soltos, macios e saborosos, após ocozimento, habilitou-a para ser recomen-dada como nova cultivar apropriada ao cul-tivo em terras altas do Estado, a partir de2000.

A planta da ‘Primavera’ é do tipo tra-dicional, com porte intermediário (médiade 100 cm), perfilhamento médio e baixaresistência ao acamamento (uma de suasdeficiências), sobretudo em solos de boafertilidade, ou quando o agricultor usa altatecnologia, como doses elevadas de fertili-zantes, associadas à irrigação suplementar.Assim, o risco de acamamento aumenta nosplantios sob pivô central ou em áreas dealta fertilidade. Seu ciclo é de, aproxima-damente, 115 dias (semiprecoce). É susce-tível à brusone e mostra resistência modera-da à escaldadura foliar e à mancha-de-grãos(Quadro 1).

As médias de produção de grãos da‘Primavera’ e de cultivares t estemunhas,obtidas nas condições de sequeiro tradicio-nal, no período de 1995/1996 a 1999/2000,

Figura 2 - Cultivar Carisma

NOTA: Mostra ótimo desempenho tanto em nível de campo, quanto em nível de indústria

de beneficiamento e de mesa para o consumidor.

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30 Arroz: avanços tecnológicos

em diversas regiões de Minas Gerais, sãoapresentadas no Quadro 2. Como se ver i-fica, o comportamento produtivo da ‘Prima-vera’ foi bom (3.482 kg/ha), porém seme-lhante às cultivares Caiapó e Canastra, queexibiram produtividades de grãos de 3.458e 3.541 kg/ha, respectivamente, na médiados 29 ensaios.

Ainda no Quadro 2, são mostradas asprodutividades médias de grãos alcançadaspela cultivar Primavera e três testemunhasem terras altas com irrigação suplementar,durante quatro anos agrícolas (1995/1996a 1998/1999), totalizando 19 ensaios. Nes-ta modalidade de cultivo, a ‘Primavera’ foiuma das mais p rodutivas, com média de4.283 kg/ha, superando as cultivares Gua-rani, Douradão e Confiança.

Embora a ‘Primavera’ apresente váriosatributos desejáveis, ela ainda não ocupaáreas d e p lantio e xpressivas e m M inasGerais, ao contrário do que acontece nosEstados do Centro-Oeste, notadamente emMato Grosso e em Goiás, onde esta culti-var é bastante difundida entre os orizicul-tores e com excelente aceitação pelos ma-quinistas e cerealistas (intermediários), oque resulta em bom preço na comerciali-zação.

Deve-se ressaltar que a ‘Primavera’ ébastante exigente quanto ao ponto de co-lheita, devendo ser colhida com umidadedos grãos entre 20% e 24%. O atraso dacolheita pode aumentar o percentual degrãos quebrados no beneficiamento, o queconstitui um de seus principais defeitos.

‘BRSMG Conai’

A ‘Conai’ é oriunda do cruzamento entreas cultivares Confiança e Aimoré, realiza-do na Embrapa Arroz e Feijão em 1998.Procurou-se, com esse cruzamento, reunirem uma só cultivar as características deprecocidade da ‘Aimoré’ com a qualidadede grão longo-fino da ‘Confiança’, o quefoi obtido com a ‘Conai’. As sementes F2’sobtidas foram enviadas a Minas Gerais, emnovembro de 1999, quando se realizou o pri-meiro plantio para avanço de geração e se-leção. Utilizou-se o método de melhoramen-to de bulk dentro de família, na obtenção

da ‘Conai’, resultando na seguinte genealo-gia: CNAx7394-MG-6-B-B-4. A partir do anoagrícola 2001/2002, a ‘Conai’ integrou arede de ensaios de competição regional decultivares, também denominados de en-saios de valor de cultivo e uso (VCU), ondefoi submetida a diversas condições edafo-climáticas de Minas Gerais, bem como àpressão das principais enfermidades doarroz. Seu bom desempenho permitirá o seulançamento para as regiões produtoras dearroz do Estado, a partir de 2004.

A produção de grãos da ‘Conai’ e dastestemunhas ‘Carisma’, ‘Caiapó’ e ‘Canastra’é apresentada no Quadro 2. Na média dos18 ensaios, a ‘Conai’ superou a ‘Carisma’em 4,2%, a ‘Caiapó’ em 15,3% e a ‘Canastra’em 15,9%. Mas apesar de ser uma culti-var superprecoce, ela possui alto poten-cial genético para produtividade de grãos,tornando-se uma excelente opção para osprodutores de arroz de sequeiro do estadode Minas Gerais.

O teor de amilose intermediário (27,5%)e a temperatura de gelatinização interme-diária (nota 4,1) conferem à ‘Conai’ umaboa qualidade de grãos após o cozimento,os quais se apresentam soltos e macios.É a primeira cultivar de arroz de sequeirosuperprecoce que possui grãos do tipoagulhinha, os preferidos e os mais valori-zados do mercado.

‘BRSMG Curinga’

A ‘Curinga’ foi originada inicialmentede uma família selecionada na geração F3,pelo Ciat, na Colômbia, descendente doseguinte cruzamento: CT9978-12-2-2P-4/CT10037-56-4-M-4-1-p-1//P5589-1-1-3P-1-1P/CT9356. Foi introduzida, em 1994, pelaEmbrapa Arroz e Feijão, a qual continuouo processo de melhoramento em Goiânia.Em 1995/1996, a referida família, já na ge-ração F5, foi submetida à seleção individualde plantas e, dentre as selecionadas, umadeu origem à linhagem CT11251-7-2-M-M-BR1, na geração F6, a qual foi registrada noBAG da Embrapa Arroz e Feijão com onúmero CNAs 8812. Em Minas Gerais, essalinhagem foi introduzida em 1997/1998 atra-vés do ensaio de observação e após ter

sido selecionada, participou no ano seguin-te do ensaio comparativo preliminar. Tendo-se destacado mais uma vez, a partir de 1999/2000 passou a integrar os ensaios compa-rativos avançados em diversas regiões doEstado, nas condições de terras altas e devárzea úmida ou drenada. O excelente de-sempenho dessa linhagem nas diversascondições edafoclimáticas de Minas Geraispossibilitou o se u lançamento como novacultivar, em 2004.

O desempenho produtivo da ‘Curin-ga’, em relação às testemunhas ‘Carisma’,‘Caiapó’ e ‘Canastra’ em condições desequeiro, é mostrado no Quadro 2. Ele foiligeiramente inferior à ‘Carisma’ (-1,14%),que é mais precoce e superior à ‘Caiapó’(8,63%) e ‘Canastra’ (12,82%), que são deciclos se melhantes. A ssim, a ‘ Curinga’,apesar de possuir arquitetura com folhaseretas, semelhantes à de arroz irrigado porsubmersão, t em boa resistência à seca ealto potencial de produção, mesmo nocultivo de terras altas.

No sistema de cultivo de várzea úmidaou drenada, a ‘Curinga’ apresentou produ-tividade média de 4.465 kg/ha, com variaçãode 4.428 kg/ha a 4.497 kg/ha (Quadro 2).Portanto, ela mostrou alta estabilidade deprodução de grãos. Superou as cultiva-res testemunhas ‘Carisma’, ‘Canastra’ e‘Caiapó’ em 9,65%, 11,76% e 19,71%, res-pectivamente. Assim, a ‘Curinga’ vempreencher essa lacuna de cultivares me-lhoradas para as condições de várzea úmi-da ou drenada em Minas Gerais.

A ‘Curinga’ apresenta boa qualidadeculinária, os grãos ficam soltos e maciosapós o cozimento. Essa característica éconferida, principalmente, pelo teor de ami-lose (26,6%) e temperatura de gelatinização(nota 3,7) intermediários.

Cultivares para várzeas(irrigada por inundação ouem baixada úmida)

‘Urucuia’, ‘Sapucaí’ e ‘Capivari’

Após avaliações e seleções efetuadasem populações segregantes, em ensaios deobservação e preliminares de rendimento

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31Arroz: avanços tecnológicos

de 1983 a 1987, as linhagens que deram ori-gem às cultivares Urucuia, Sapucaí e Capi-vari passaram a integrar a rede de ensaiosavançados da EPAMIG a partir do ano agrí-cola 1988/1989. Suas destacadas caracterís-ticas credenciaram-nas a tornarem-se no-vas cultivares comerciais, em 1994.

A descrição e alguns caracteres botâ-nicos, morfológicos e agronômicos dascultivares Urucuia, Sapucaí e Capivari sãomostrados nos Quadros 1 e 2. Dentre ascaracterísticas, podem-se destacar a maiorresistência à brusone da folha e do pescoçoda cultivar Urucuia e a maior tolerânci a àtoxidez de ferro da ‘Sapucaí’ e da ‘Capivari’.Assim, em ambientes de alta incidência debrusone, o produtor dev eria optar peloplantio da ‘Urucuia’. Por outro lado, se oteor de ferro no solo for elevado, a opçãoseria pela ‘Sapucaí’ e pela ‘Capivari’.

Os resultados de produção de grãosobtidos das três cultivares e das testemu-nhas ‘Inca’, ‘MG 1’ e ‘MG 2’ em 24 expe-rimentos, conduzidos em diversas localida-des do Estado, durante cinco anos agríco-las (1988/1989 a 1992/1993), estão expostosno Quadro 2. Observa-se que todas ascultivares superaram a ‘MG 1’ e a ‘MG 2’na média dos cinco anos agrícolas e apenasa ‘Capivari’ foi superior à ‘Inca’. O excep-cional desempenho produtivo da ‘Inca’, em1988/1989, foi a causa da sua superioridadeem relação à ‘Urucuia’ e à ‘Sapucaí’. A rigor,pode-se considerar que as cultivares Ca-pivari, Urucuia, Sapucaí e Inca possuíampotencial de produção de grãos semelhan-te, quando do lançamento das três primei-ras, em 1994. Até então a cultivar Inca erauma das mais plantadas nas várzeas minei-ras, tanto em lavouras irrigadas por inun-dação contínua, quanto em lavouras con-duzidas em várzeas úmidas, graças a suarusticidade e resistência a doenças.

A qualidade química dos grãos era aprincipal característica que distinguia asnovas cultivares das testemunhas ‘Inca’,‘MG 1’ e ‘MG 2’, que empapam após ocozimento. A análise química dos grãos,realizada pela Embrapa Arroz e Feijão, re-velou que as novas cultivares possuíam

temperatura de gelatinização intermediáriae teor médio de amilose que oscilava entre28% e 30%, contribuindo para a boa quali-dade culinária e para que os grãos fiquemsoltos depois de cozidos.

Outra característica das cultivares Uru-cuia, Sapucaí e Capivari que deve ser desta-cada é a boa conformação física dos grãos,que são da classe longo-fino (agulhinha),sendo mais valorizados no mercado; tam-bém merece destaque o alto rendimento degrãos inteiros no beneficiamento, supe-rando a ‘Inca’, ‘MG 1’ e ‘MG 2’, as culti-vares mais plantadas nas várzeas mineirasna década de 80 e início de 1990.

‘Samburá’ e ‘Mucuri’

A ‘Samburá’ e ‘Mucuri’, lançadas em1995, constituem as primeiras cultivaresmelhoradas de arroz, recomendadas paraas várzeas úmidas de Minas Gerais, sendoindicadas também, na época do lançamen-to, para plantios sob irrigação por inun-dação.

Na genealogia destas duas cultivaresdesenvolvidas pela Embrapa Arroz e Feijão,dois genitores são comuns: ‘Nanicão’ e a‘MG 1’; uma vez que a ‘Samburá’ originou-se do cruzamento ‘Nanicão’ / ‘BG 90-2’ //‘MG 1’ e ‘Mucuri’, do cruzamento que en-volveu a ‘Nanicão’ / ‘CICA 8’ // ‘MG 1’.Nos ensaios de rendimento conduzidos emMinas Gerais, pela EPAMIG, elas receberamas denominações ‘MG 431’ e ‘MG 447’.

As cultivares S amburá e Mucuri pro -duziram 19% a 70% mais do que as teste-munhas tradicionais ‘Matão’, ‘Chorinho’e ‘De Abril’, e não d iferiram s ignificati-vamente da cultivar moderna MG1 (Qua-dro 2).

Com relação à altura de planta, estasduas cultivares são adequadas ao plantioem várzeas úmidas, uma vez que possuemporte intermediário (95-100 cm), que con-cilia resistência ao acamamento com possi-bilidade da colheita manual, muito usualnesta m odalidade d e c ultivo n o E stado.Seus grãos são longo-fino e têm endosper-ma translúcido, além de exibir um alto ren-dimento de grãos inteiros (62% em média).

Quanto à qualidade de cocção, a ‘Samburá’e a ‘Mucuri’ a ssemelham-se à ‘ Inca’ e à‘MG1’; ou seja, deixam a desejar em relaçãoa este quesito. Outro defeito grave destascultivares l ançadas em meados da déca-da de 90 é o ciclo longo (160-170 dias paraatingir a maturação).

‘Jequitibá’

Essa cultivar, lançada em 1997, é oriun-da de cruzamento simples entre as cultiva-res CICA 9 e BR-IRGA 409, realizado peloInstituto Rio Grandense do Arroz (IRGA).A linhagem, primeiramente, foi denominada‘IRGA 117-7-1P-3’ e, posteriormente, ‘CNA6808’, no BAG da Embrapa Arroz e Feijão.A ‘Jequitibá’ começou a ser avaliada emMinas Gerais, em 1988. Sua denominação éem homenagem a um rio do Centro-Oestemineiro. É a décima primeira cultivar lan-çada e indicada para as lavouras de arrozem várzeas mineiras. A ‘Jequitibá’ é umacultivar de ciclo curto, semelhante à ‘BR-IRGA 409’ e à ‘Javaé’; floresce aos 90-95dias, em média, atingindo a maturação emtorno de 130 a 135 dias. É a mais precoce detodas as cultivares indicadas oficialmentepara plantio nas várzeas de Minas Gerais.O caráter precocidade tem bastante rele-vância. Primeiro, quando o produtor teminteresse em utilizar suas várzeas com outroplantio de arroz ou de outra cul tura, logoapós a colheita do arroz da safra de verão.Segundo, quando a água de irri gação temcusto elevado nos projetos irrigados porbombeamento.

A cultivar Jequitibá apresenta alta ca-pacidade de perfilhamento e porte médio(90-95 cm), adequado para lavouras irriga-das em que a colheita é feita manualmen-te ou por meio de colhedoras. É resistenteao acamamento e apresenta degrane normalna maturação.

A s m édias d e r endimento d e g rãos(kg/ha), obtidas com a ‘Jequitibá’ e com astestemunhas ‘BR-IRGA 409’ e ‘Javaé’, em22 ensaios comparativos avançados de arrozirrigado, conduzidos no Estado, de 1992/1993 a 1995/1996, estão registradas no Qua-dro 2. A ‘Jequitibá’ produziu, em média,

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32 Arroz: avanços tecnológicos

6.787 kg/ha, contra 6.184 e 5.517 kg/ha dascultivares testemunhas, rendendo 9,75% e22% a mais que estas, respectivamente.Essa produtividade era o dobro da médiaestadual da época, nesse sistema de cultivo.Esse resultado, aliado a outras caracterís-ticas de interesse, justificou a sua recomen-dação para plantios comerciais em todasas regiões do Estado.

Nas avaliações de incidência de doen-ças, realizadas em campo, nos ensaios com-parativos avançados, essa cultivar mostrou-se mais resistente às principais doençasfúngicas do arroz (brusone, mancha-pardae mancha-de-grãos), que as cul tivarestestemunhas ‘BR-IRGA 409’ e ‘Javaé’.

Os grãos da ‘Jequitibá’, a exemplo dastestemunhas ‘Javaé’ e ‘BR-IRGA 409’, sãoclassificados como longo-fino e têm en-dosperma translúcido, o que atende às exi-gências dos consumidores mineiros e bra-sileiros. Exibe bom rendimento de grãosinteiros no beneficiamento (acima de 55%).Apresenta, ainda, excelentes característicasculinárias, com grãos soltos, macios esaborosos. A comprovação disso está no“teste de panela”, realizado antes de seulançamento, com números significativos dedonas de casa.

‘Rio Grande’

A ‘Rio Grande’ resultou do cruzamentoentre as linhagens ‘18.467’ // ‘2.940’ /‘5.730’, efetuado pelo Ciat, Colômbia. Em1988, a Embrapa Arroz e Feijão introduziua linhagem no Brasil e a registrou em seuBAG com o n o ‘CNA 7857’. Após aval ia-ções preliminares para a produtividade,reação a doenças e qualidade de grãos,realizadas pelo referido Centro de Pesquisa,a linhagem ‘CNA 7857’ foi disponibilizadaàs instituições de pesquisa do Brasil, em1991.

Em Minas Gerais, a ‘Rio Grande’ mos-trou um ótimo comportamento produtivo,com alta adaptabilidade e estabilidade deprodução no sistema de cultivo de arrozirrigado por inundação (Fig. 3), aliado àótima qualidade industrial (rendimento degrãos inteiros em torno de 60%) e culinária(grãos soltos e macios após cozimento),possibilitando seu lançamento em todo oEstado, a partir de 1999. A denominação‘Rio Grande’ é em homenagem ao impor-tante rio do Sudoeste mineiro.

A cultivar Rio Grande foi avaliada emMinas Gerais, no período de 1993 a 1998,nos ensaios comparativos avançados, tota-lizando 23 diferentes ambientes, onde se

produziu, em média, 6.958 kg/ha. Os índicesde aumento de produtividade em relaçãoà ‘Urucuia’, ‘Jequitibá’ e ‘BR-IRGA 409’variaram de 7% a 15% (Quadro 2).

Nesses ensaios, a cultivar Rio Grandemostrou-se mais re sistente às principaisdoenças do arroz (brusone e mancha-de-grãos), que as testemunhas ‘Urucuia’ e‘BR-IRGA 409’. Porém, ela apresentou de-sempenho semelhante à ‘Jequitibá’, quantoà reação a doenças, em nível de campo.

‘BRS Ourominas’

A ‘BRS Ourominas’ originou-se do cru-zamento que envolveu as linhagens ‘17.719’,‘5.738’ e ‘IR21015-72-3-3-3-1’, realizado pe-lo Ciat e introduzida no Brasil em gera-ção F4, pela Embrapa Arroz e Feijão, queefetuou vários ciclos de seleção obtendoa linhagem ‘CNA 7556’. Através das Co-missões Técnicas Regionais de Arroz, foicolocada à d isposição da Rede Nacionalde Avaliação de Arroz Irrigado (Renai).Começou a ser avaliada em Minas Gerais,pela EPAMIG, a partir de 1993. Constituia décima terceira cultivar de arroz irriga-do lançada no Estado, pelo Programa deMelhoramento Genético de Arroz de Vár-zeas, executado pelo consórcio EPAMIG eEmbrapa Arroz e Feijão.

A ‘BRS Ourominas’ é de ciclo médio,floresce aos 100-105 dias, em média, atin-gindo a maturação próximo de 135-140 dias,dependendo da região, época e método deplantio. Esta cultivar apresenta folha “ban-deira” ereta, ótima capacidade de perfilha-mento e porte médio em torno de 90 cm,adequado para lavouras irrigadas. A colhei-ta é processada manualmente ou por meiode colhedoras. A cultivar BRS Ourominasé resistente ao acamamento e apresenta de-grane normal na maturação. Foi avaliadaem Minas Gerais, no período de 1995 a 2000,nos ensaios comparativos avançados dearroz irrigado, totalizando 18 diferentesambientes. Nestas pesquisas a ‘BRS Ouro-minas’ produziu em média 6.488 kg/ha,contra 6.056, 5.881 e 5.531 kg/ha das culti-vares testemunhas ‘Urucuia’, ‘Jequitibá’ e‘BR-IRGA 409’, respectivamente. Os índi-

Figura 3 - Cultivar de arroz irrigado Rio Grande

NOTA: Lançada em 1999, ainda é uma das mais expressivas no cultivo em várzeas de

Minas Gerais.

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33Arroz: avanços tecnológicos

ces de aumento de produtividade em rela-ção às testemunhas variaram de 9% a 16%.Tal desempenho produtivo, aliado a outroscaracteres agronômicos de interesse, per-mitiu sua recomendação para plantios co-merciais em todas as regiões do Estado, apartir de 2001 (Quadro 2).

Esta nova cultivar mostrou-se maisresistente à s p rincipais doenças fúngicasdo arroz (brusone e mancha-de-grãos), queas cultivares testemunhas ‘Urucuia’ e ‘B R-IRGA 409’. Porém, ela apresentou compor-tamento semelhante à Jequitibá, quanto àreação a doenças no campo (Quadro 1).

A ‘BRS Ourominas’ está enquadradana classe longo-fino (tipo agulhinha), seusgrãos têm endosperma vítreo, alto rendi-mento de grãos inteiros no beneficiamento(em torno de 60%), boa massa e excelente“qualidade de panela”, pois ficam soltos,macios e saborosos após o cozimento, alémda boa expansão de volume. Assim, a ótimaqualidade industrial e culinária dos grãos,aliada ao alto potencial genético para pro-dução e outros caracteres agronômicos deinteresse (Quadro 1 e Fig. 4), torna a ‘BRSOurominas’ uma das melhores cultivaresde arroz de várzeas lançadas, até então, noestado de Minas Gerais.

‘BRSMG Seleta’

A ‘BRSMG Seleta’ é originária do cru-zamento triplo CT 7415 / P4743 // CT 8154,realizado pelo Ciat, Colômbia, em 1988, eintroduzida no Brasil em 1990 pela EmbrapaArroz e Feijão. No período de 1990/1991 a1994/1995, as populações segregantes fo-ram conduzidas utilizando-se os métodosgenealógicos e massal, selecionando-seuma linhagem que foi registrada no BAGda unidade, com o código de CNA 8479. Apartir de 1995/1996 a linhagem passou aintegrar a rede nacional de avaliação delinhagens de arroz irrigado por meio doensaio de observação.

Avaliações subseqüentes realizadas emMinas Gerais, no Ensaio Comparativo Pre-liminar no ano agrícola 1996/1997 e nos En-saios Comparativos Avançados ou VCUs,durante cinco anos agrícolas (1997/1998 a2001/2002), totalizando 14 ensaios, eviden-ciaram o seu comportamento superior àscultivares testemunhas, levando a sua re-comendação para cultivo sob irrigação porinundação contínua em todas as regiõesde Minas Gerais, a partir de 2004.

A ‘BRSMG Seleta’ atinge o ponto decolheita aos 140-145 dias, enquadrando-sena categoria de ciclo médio. É de porte inter-

Figura 4 - Cultivar Ourominas

NOTA: Possui elevado potencial genético para produção de grãos e excelente com-

portamento industrial e culinário.

mediário, com altura média de planta osci-lando entre 95 e 100 cm. Comporta-se comoresistente ao acamamento e também tem-semostrado resistente à brusone e à mancha-de-grãos.

Em um total de 14 ensaios de VCUs,conduzidos sob irrigação por inundaçãocontínua em várzeas mineiras, no períodode 1997/1998 a 2001/2002, a ‘BRSMG Sele-ta’ a presentou m édias d e p rodutividademais elevadas que as da melhor testemu-nha, ‘Urucuia’ ou ‘Jequitibá’, demonstran-do seu alto potencial genético para produ-ção de grãos.

Em média, superou em 5,8%, 16,8% e22,7% as cultivares testemunhas BR-IRGA409, Jequitibá e Urucuia, respectivamente(Quadro 2). Seu rendimento de grãos intei-ros no beneficiamento, quando colhidosno ponto ideal de colheita (20-22% umida-de), situa-se entre 55% e 60%, com baixaintensidade de centro branco. Seus grãossão da classe longo-fino, com dimensõessimilares aos da cultivar Ourominas (compri-mento 7,52 mm; largura 2,01 mm; espessura1,77 mm; e relação comprimento/largura de3,72mm, após beneficiados). Com relação àtemperatura de gelatinização e teor de ami-lose, os grãos da ‘BRSMG Seleta’ são simi-lares aos da ‘Ourominas’, apresentando-se soltos, macios e enxutos, com boa expan-são de volume após cozidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

C abe salientar que na década de 90priorizou-se o quesito qualidade de grãos.É notória a ênfase dada a este caráter portodos os programas de melhoramento dearroz e de outros grãos, tanto em nível esta-dual, como em nível nacional ou mundial.Como resultado deste esforço, as cultiva-res lançadas mais recentemente possuemgrãos de melhor qualidade, em seus dife-rentes fins, beneficiando a todos: produ-tores, industriais e consumidores.

Os Programas de Melhoramento Ge-nético de Arroz de Terras Altas e de Vár-zeas, desenvolvidos em Minas Gerais pelaEPAMIG, em parceria com a Embrapa Arroze Feijão e Ufla, mostraram-se eficientes no

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34 Arroz: avanços tecnológicos

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período analisado (1992/2004). Foram lan-çadas 16 cultivares de arroz, sendo novepara as lavouras irrigadas em várzeas e setepara as de terras altas (sequeiro tradicionalou irrigadas por aspersão).

Destas, atualmente, as mais cultivadasem terras altas em Minas Gerais são: ‘Caia-pó’, ‘Canastra’ e ‘Carisma’ e em várzeas(irrigadas por inundação ou em várzeasúmidas) são: ‘Jequitibá’, ‘Rio Grande’ e‘BRS Ourominas’.

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1Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CE P 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Prof. UFLA – Dep to Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da tecnologiade sementes, pesquisadores e produtoresconscientizam-se cada vez mais da neces-sidade de obter materiais reprodutivos dealta qualidade, não só quanto à reproduçãodas características da espécie e cultivar, mastambém quanto ao desempenho em campoe à agregação de valores, gerando assimmaior produtividade.

A obtenção de semente de alta quali-dade inicia-se com o programa de melho-ramento e, posteriormente, com o processode multiplicação das classes, durante as

Produção e qualidade de sementes de arroz no estado de Minas Gerais

Vanda Maria de Oliveira Cornélio1

Antônio Rodrigues Vieira2

Plínio César Soares3

Antônio Alves Soares 4

Moizés de Sousa Reis5

Resumo - Dentre os insumos básicos necessários à exploração agrícola, a semente é um dosmais importantes. Constitui-se em um fator limitante da produtividade, uma vez que con-tém todas as potencialidades produtivas da planta. É por intermédio das sementes que ascaracterísticas desejáveis introduzidas pelos melhoristas, no trabalho de melhoramento genéticoda espécie, são levadas ao agricultor. O nível de demanda de sementes de alta qualidade é,historicamente, um fato que indica o estádio de desenvolvimento da agricultura em qualquerpaís. Utilizando-se sementes sadias e com alto poder germinativo de uma cultivar melhoradaadaptada às condições de plantio, podem-se obter melhores produções, resguardando-seáreas de potencial agrícola contra a introdução ou acúmulo de agentes fitopatogênicos, pragase plantas invasoras de importância econômica. Para o agricultor, é decisivo encontrar nomercado, em quantidades suficientes, sementes de alta qualidade, pois somente elas propiciama ação dos demais insumos e fatores empregados na lavoura.

Palavras-chave: Oryza sativa. Patógenos. Sementes fiscalizadas. Sementes básicas.

diferentes fases de produção (no campo ena pós-colheita). Isto reflete na qualidadefinal da semente a ser comercializada, a qualtem uma profunda influência na produçãoeconômica de todas as espécies agrícolas.Assim, o termo qualidade, quando aplicadoà semente, resume o estado dos atributosou propriedades que contribuem ou deter-minam o desempenho, possibilitando des-de a expressão de um estande perfeito atéa plena manife stação das característicasdesejáveis introduzidas pelos melhoristasno trabalho de melhoramento genético daespécie.

PRODUÇÃO DE SEMENTESEM MINAS GERAIS

A Empresa de Pesquisa Agropecuá-ria de Minas Gerais (EPAMIG), em 1975,devido ao compromisso assumido junto àSecretaria de Agricultura de Minas Gerais,iniciou a produção de sementes básicas,visando atender à demanda criada pelosprodutores de sementes fiscalizadas e, pos-teriormente, pelos de sementes certificadas.A partir de então, a EPAMIG começou umprograma de produção de sementes bási-cas de algodão, arroz, feijão, milho-pipoca,soja, trigo e forrageiras.

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37Arroz: avanços tecnológicos

Dentre estes programas, o de produ-ção de sementes básicas de arroz, cuja clas-se só é produzida em Minas Gerais, pelaEPAMIG, é mantido tanto em suas basesfísicas (Fazendas Experimentais), como emregime de cooperação com terceiros. Atra-vés deste trabalho, a EPAMIG coloca à dis-posição dos produtores de sementes dearroz cultivares de alta qualidade e produ-tividade, desenvolvidas pela pesquisa, econtribui, assim, para um melhor desenvol-vimento da cultura no Estado.

A produção de sementes certificada efiscalizada é realizada por produtores regis-trados e/ou credenciados e inspecionadospelo Instituto Mineiro de Agropecuária(IMA), com a finalidade de assegurar se-mentes de alta qualidade para atender àdemanda dos produtores de grãos.

A evolução das áreas plantadas e co-lhidas com sementes básicas de arroz, emMinas Gerais, no período de 1994/1995 a2001/2002, é mostrada no Gráfico 1. Comose observa, há grande oscilação em ambase a causa provavelmente esteja relaciona-da com a demanda de sementes de arroz noano anterior. Os anos agrícolas de 1994/1995 e 1999/2000 foram os que tiveram maiorárea destinada ao cultivo de sementes bá-sicas pela EPAMIG, no Estado. Embora aprodução de sementes básicas esteja rela-cionada com a demanda de sementes cer-tificada e/ou fiscalizada, nem sempre todaprodução dessas s ementes é d irecionadapara essas classes, uma vez que a classede s emente certificada t ambém a tende àclasse fiscalizada.

A produção bruta colhida e a produçãoaprovada em análise de sementes básicasde arroz em Minas Gerais, no período de1994/1995 a 2001/2002, são apresentadasno Gráfico 2. Verifica-se que houve um picode produção em 1994/1995 e queda nos doisanos seguintes. Certamente, o excesso deprodução no ano de pico ocasionou baixanos preços que refletiram nos dois anosseguintes. A pequena oferta de sementesbásicas, no ano de 1996/1997, impulsionouos preços, o que promoveu uma elevaçãono ano seguinte, cujo ciclo decrescentereiniciou-se, mas com menor intensidade.

Comparando-se as áreas plantadas ecolhidas com sementes básicas e fiscaliza-das (Gráfico 1 e 3), nota-se que a área colhi-da é sempre menor que a área plantada.Este fato ocorre, devido à condenação deglebas de cultivo, durante as inspeções decampo, considerando a presença de conta-minantes tais como plantas daninhas, plan-

tas atípicas, misturas varietais etc. e o ata-que de doenças. No caso de doenças, umcampo de produção de sementes de arroznão deverá ser aceito, quando a intensida-de de ataque de brusone, cercosporiose,mancha-parda e outras doenças for eviden-te e comprometer a qualidade das sementes(MINAS GERAIS, 1985).

Gráfico 1 - Áreas plantadas e colhidas com sementes básicas de arroz irrigado e deterras altas no estado de Minas Gerais, no período 1994 - 2002

FONTE: IMA.

Gráfico 2 - Produção bruta colhida e produção aprovada em análise de sementes básicasde arroz irrigado e de terras altas produzidas em Minas Gerais, no período1994 - 2002

FONTE: IMA.

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38 Arroz: avanços tecnológicos

Com relação às sementes fiscalizadas,o Gráfico 3 retrata a magnitude da área plan-tada em Minas Gerais, no ano agrícola de1994/1995 a 2001/2002. A semente fiscaliza-da é a que é vendida diretamente aos produ-tores de grãos e, portanto, reflete direta-mente a situação do mercado de sementes,bem como da área plantada e da produçãode grãos. Examinando o Gráfico 3, constata-se que, a partir de 1994/1995, tanto a áreaplantada, quanto a área colhida vêm so-frendo constantes decréscimos, porém amaior queda é observada na safra 1994/1995 para 1995/1996, sendo que, a partir de1996/1997, a queda é menor, permanecen-do em torno de 2.000 ha. Esses dados refle-tem que a demanda por sementes fiscaliza-das vem caindo nos últimos anos, o queindica queda no plantio do arroz no Estado.

O Gráfico 4 representa a produção bru-ta colhida e a produção aprovada em aná-lise de sementes fiscalizadas de arroz emMinas Gerais, no período de 1994/1995 a2001/2002. À semelhança do que ocor reucom a área (Gráfico 3), a produção de se-mentes fiscalizadas sofreu redução acen-tuada na safra de 1994/1995 para 1995/1996,estabilizando-se nos cinco anos agrícolasposteriores. A produção de sementes fisca-lizadas apresenta uma correlação estreitacom a produção de grãos no Estado, nomesmo período (Gráfico 5). Cabe salientarque a maior par te da área de arroz planta-da em Minas Gerais é fei ta por agriculto-res que utilizam os próprios grãos colhidosou fazem a troca com vizinhos. E les utili-zam esse grão como semente, mascarandoassim, a relação entre a produção de semen-tes fiscalizadas e a produção de grãos.Outra questão que merece ser destacada éque parte da semente fiscalizada produzidano Estado é comercializada em outrasUnidades da Federação, principalmente noNorte e Nordeste.

A produção de sementes fiscalizadasde arroz de terras altas por cultivar, de 1994/1995 a 2001/2002, é plotada no Gráfico 6.As principais cultivares, cujas sementesforam produzidas, são: ‘Guarani’, ‘Dou-radão’, ‘Caiapó’, ‘Canastra’, ‘Confiança’,

‘Carisma’ e ‘Primavera’. Nos dois primei-ros anos, houve grande predominância da‘Guarani’, seguida pela ‘Caiapó’ e, em 1994/1995 foi o último ano de produção da ‘Dou-radão’. Essa cultivar manteve-se por pou-co tempo no mercado em face da sua baixaqualidade culinária. A ‘Guarani’, emboratenha grãos longos e largos, dominou o mer-

cado de sementes desde o seu lançamen-to em 1987 até 1996/1997; a partir daí con-tinuou a ser produzida, porém em menorescala. Isso se deve ao fato de que a ‘Gua-rani’ e a ‘Douradão’ eram as únicas cultiva-res precoces disponíveis no mercado e comalto p otencial g enético d e p rodução d egrãos. A ‘Caiapó’ foi a última cultivar do

Gráfico 3 - Áreas plantada e colhida com sementes fiscalizadas de arroz irrigado e deterras altas no estado de Minas Gerais, no período 1994 - 2002

FONTE: IMA.

Gráfico 4 - Produção bruta colhida e produção aprovada em análise de sementes fisca-lizadas de arroz irrigado e arroz de terras altas, produzidas em Minas Ge-rais, no período 1994 - 2002

FONTE: IMA.

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tipo tradicional e de grãos agulhinh a lan-çada no mercado mineiro. É uma cultivarde porte alto, de elevado vigor inicial e com-petitiva com plantas daninhas; por isso éainda bastante plantada. O lançamento decultivares modernas de porte intermediá-rio, arquitetura mais ereta, tolerantes àsdoenças e de grãos da classe longo-fino(agulhinha), de alta qualidade culinária, co-mo são a ‘Canastra’, ‘Confiança’, ‘Carisma’e ‘Primavera’, a partir de 1996, coincidiucom a expansão da soja e do milho, no País,em detrimento do arroz. Apesar de seremcultivares muito superiores às lançadasanteriormente, não conseguiram evitar aqueda do cultivo do arroz em Minas Gerais,em função de preços mais atrativos da sojae do milho.

A situação do arroz irrigado por inun-dação não foi diferente, como mostra o Grá-fico 7. Entre as cultivares, predominam a‘Inca’, até 1998/1999, quando, então, foilançada a ‘Rio Grande’, que, praticamente,é a única cultivar de arroz irrigado recomen-dada para Minas Gerais, que tem sido pro-duzida por produtores de sementes fisca-lizadas. A ‘Capivari’ e a ‘Sapucaí’ tiverampequenas produções no início do períodoe a ‘Jequitibá’ e ‘Urucuia’, embora sejamcultivares excepcionais, tiveram sementesfiscalizadas produzidas somente em 1998/1999. Os baixos preços do arroz nos anosrecentes foram a principal causa da intensaredução de área e de produção dessa cul-tura no Estado.

QUALIDADEFISIOLÓGICA E SANITÁRIADAS SEMENTES

O conhecimento da qualidade das se-mentes, l ogo após a colheita, é um fatorimportante a ser considerado em qualquerprograma de produção de sementes. Essainformação rápida e segura torna-se indis-pensável para qualquer decisão a ser toma-da em relação ao destino das sementes.

A qualidade f isiológica de sementes édefinida como sendo a reunião de todos osatributos que revelam sua capacidade dedesempenhar funções vitais (POPINIGIS,

Gráfico 5 - Produção de grãos de arroz irrigado e de terras altas em Minas Gerais, noperíodo 1994 - 2002

FONTE: IBGE (2003).

Gráfico 6 - Produção de sementes fiscalizadas de arroz das cultivares Guarani, Doura-dão, Caiapó, Canastra, Confiança, Carisma, Primavera, no período 1994-2002

FONTE: IMA.

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1975). Muitos testes são utilizados paradeterminar a qualidade fisiológica das se-mentes de arroz, como o de germinação, ode comprimento de raiz, o de envelhecimen-to acelerado, o d e emergência de p lântu-las, entre outros, tendo cada um suas par-ticularidades.

A qualidade fisiológica potencial deuma semente é determinada por sua heran-ça genética, porém, sua qualidade real éfunção das condições ambientais em quefoi produzida e armazenada, bem como dastecnologias de produção, de colheita, se-cagem, beneficiamento e comercialização(KRZYZANOWSKI, 1974). Segundo Mo-reno Martinez et al. (1982), vários são osfatores internos e externos que afetam aqualidade da semente. Os internos, condi-cionados pelo genótipo, definem suascaracterísticas bioquímicas e fisiológicas,as quais interagem com os externos, repre-sentados pelos fatores ambientais, físicose bióticos que, aceleram o seu processo dedeterioração.

Assim, a manutenção da qualidade dasemente constitui-se em um grande pro-blema para a agricultura em todo o mundo,principalmente em regiões tropicais, ondeas temperaturas e umidade relativa são

elevadas durante os períodos de maturaçãoe armazenamento das sementes.

Para Carvalho e Nakagawa (1988), ascondições climáticas das regiões de culti-vo podem afetar não só a quantidade, mastambém a qualidade das sementes produ-zidas. Deve-se considerar que a região sejaapta para a produção de sementes e tam-bém conhecer o histórico da área de pro-dução. O produtor, conhecendo a área emque irá produzir suas sementes, poderáevitar contaminação genética, varietal, pato-gênica ou por plantas daninhas etc. A esco-lha da área, onde o patógeno é i ncapaz dese estabelecer ou ter um desenvolvimentotolerável, é uma medida eficaz para a pro-dução de sementes sadias (MACHADO,1988).

No período de 1994 a 2002, foram ana-lisados pelo teste padrão de germinação(TPG), alguns lotes de sementes de arrozproduzidos em Minas Gerais. Pelos resul-tados obtidos, verificou-se que a germina-ção dessas sementes variou de 80% a 97%,estando dentro dos padrões mínimos exi-gidos pela Comissão Estadual de Sementese Mudas do Estado de Minas Gerais (Cesm-MG), os quais variam de acordo com asclasses (básica 80%, certificada e fiscali-

zada 85%). Ressalta-se que a variação naporcentagem de germinação existente entreos lotes de sementes pode ter sido pelascondições às quais essas sementes foramproduzidas, pelo manuseio após a colheitae também pela qualidade sanitária delas.

A perda de viabilidade das sementes,durante o período de armazenamento, écausada por vários fatores, dentre os quaisdestaca-se a ação de vários microorganis-mos. Pinto (1996) cita que os fungos sãoos principais responsáveis pela deteriora-ção de grãos e sementes, causando desco-loração, degradação de proteínas, açúcarese carboidratos, podendo ainda produzirodores desagradáveis. Com o desenvolvi-mento dos fungos, ocorre também a pro-dução de calor , o que acelera o processode deterioração.

Machado (1988) alerta para o fato de amaioria das doenças conhecidas poder terseus agentes etiológicos transmitidos pelassementes de seus hospedeiros e destacaos fungos como o maior grupo dessesagentes. Segundo este autor, a importânciaeconômica da associação de patógenos àssementes deve ser analisada não só pel osdanos potenciais à cultura hospedeira emuma dada safra, mas também pela fonte deinóculo na área de cultivo. Tanaka (1982)alerta para o fato de as chances de apareci-mento de doenças serem maiores, se asemente estiver infectada, uma vez que ospatógenos têm sua introdução asseguradana lavoura.

No Brasil, a preocupação com a quali-dade s anitária d as s ementes d e a rroz éantiga. Terra (1958) realizou uma pesquisa,em que procurou detectar esporos de fun-gos em sementes de arroz. Segundo esteautor, as doenças que atacam a cultura nãosão e xclusivamente t ransportadas p elassementes. Ocorrem contaminações, devidoa restos de cultura, solo, ar atmosférico,hospedeiros naturais etc.

As sementes de arroz são responsáveispela disseminação de inúmeros patógenosque causam doenças de grande importânciaeconômica nessa cultura, além de ser umeficiente meio de sobrevivência desses pa-

Gráfico 7 - Produção de sementes fiscalizadas de arroz irrigado das cultivares Capivari,Inca, Jequitibá, Sapucaí, Urucuia e Rio Grande, no período 1994 - 2002

FONTE: IMA.

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tógenos na natureza (AMARAL, 1987). Se-gundo Richardson (1990), os fungos sãoo principal grupo de organismos patogê-nicos que se podem associar às sementesde arroz, abrangendo, aproximadamente, 50espécies já relatadas. As maiores per dasda cultura são atribuídas às doenças causa-das por Pyricularia grisea Sacc, agentecausal da brusone e Drechslera oryzae(Breda de Haan) Su bram & Jain, agentecausal da mancha-parda (AMARAL, 1987,PINTO, 1989). Em Minas Gerais, tem sidoobservado um aumento na incidência dosfungos Phoma spp . um dos causadoresda mancha-de-grãos e Gerlachia oryzae,agente causal da escaldadura das folhas .Cornélio et al. (1998) detectaram alta por-centagem desses patógenos em sementesde arroz de experimentos realizados noEstado.

Durante as safras de 1994/1995, 1995/1996, 1996/1997, 1998/1999, 1999/2000, 2000/2001 e 2001/2002 foram analisados lotes desementes de arroz das cultivares Caiapó,Guarani, Canastra e Carisma, através doteste de sanidade, utilizando-se o Blottertest. Os fungos avaliados foram Pyriculariagrisea, Gerlachia oryzae, Drechsleraoryzae e Phoma spp. (Quadro 1). Observa-se que a contaminação das sementes pelopatógeno Phoma spp. apresentou níveiselevados em todas as cultivares e em todasas safras estudadas, demonstrando ser umproblema que deve ser atacado no plantiode sementes de arroz no Estado. Para osdemais fungos, a variação no índice decontaminação t eve i nfluência d o a no d ecultivo, indicando que, em algumas safras,as condições ambientais foram mais favo-ráveis ao desenvolvimento dos patógenos.Deve-se r essaltar que o fun go P.griseacausador da brusone, principal doença queataca a cultura, apresentou índices maiselevados em cinco dos 49 lotes analisados.

Outros fungos, incluindo os saprófitas,podem também diminuir a qualidade dassementes, por causarem descoloração ediminuírem o valor comercial, tanto dassementes, quanto dos grãos para consumo(NEERGAARD, 1979).

94/95 Caiapó 0,00 0,50 0,50 5,75

94/95 Caiapó 0,00 4,50 3,50 16,00

94/95 Caiapó 0,50 2,50 4,50 55,20

94/95 Caiapó 2,00 10,20 5,00 43,50

94/95 Caiapó 1,25 0,50 0,25 26,50

95/96 Caiapó 0,50 0,00 0,00 12,00

95/96 Guarani 0,00 0,00 0,00 36,50

96/97 Caiapó 0,00 0,50 0,50 1,00

96/97 Caiapó 0,50 0,00 0,00 21,00

96/97 Canastra 0,00 0,00 0,00 14,00

96/97 Canastra 0,00 0,00 0,00 12,50

96/97 Canastra 0,00 0,00 0,00 14,00

98/99 Caiapó 9,00 3,00 0,00 15,00

98/99 Guarani 1,00 2,50 0,50 18,00

98/99 Canastra 0,00 0,00 0,00 2,00

98/99 Canastra 1,50 4,50 0,00 12,00

98/99 Canastra 0,00 4,00 13,25 11,00

98/99 Canastra 0,00 5,25 10,25 5,50

98/99 Canastra 0,00 4,00 10,50 7,50

98/99 Canastra 0,00 6,00 0,25 32,75

98/99 Carisma 0,50 7,00 0,50 14,00

98/99 Carisma 0,00 5,75 3,25 2,75

98/99 Carisma 2,75 1,75 8,75 19,25

99/00 Caiapó 8,50 11,50 0,00 9,00

99/00 Caiapó 15,00 3,50 1,50 24,50

99/00 Guarani 0,00 5,50 0,00 19,00

99/00 Canastra 22,00 2,50 0,00 27,50

99/00 Canastra 9,00 1,50 1,50 10,00

99/00 Canastra 0,00 0,20 0,20 5,70

99/00 Carisma 1,50 3,50 0,00 31,50

99/00 Carisma 0,00 0,00 1,00 3,20

99/00 Carisma 5,00 1,00 9,00 5,50

99/00 Carisma 4,00 0,00 7,50 6,00

99/00 Carisma 0,00 4,00 0,00 32,00

99/00 Carisma 0,00 3,00 1,00 24,50

00/01 Canastra 0,00 6,50 0,00 14,00

00/01 Canastra 0,00 11,50 0,00 11,00

00/01 Canastra 0,00 3,00 0,00 9,00

00/01 Canastra 0,00 2,50 0,00 7,50

00/01 Canastra 11,50 17,00 0,00 17,00

00/01 Canastra 0,00 4,00 0,00 15,00

QUADRO 1 - Resultado de análise sanitária realizada em lotes de sementes de arroz produzidos emMinas Gerais, no período 1994/1995 - 2001/2002

Phoma spp.Ano agrícola Cultivar Pyriculariagrisea

Drechsleraoryzae

Gerlachiaoryzae

(continua)

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42 Arroz: avanços tecnológicos

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Os patógenos que atacam a cultura doarroz de terras altas e o irrigado são pratica-mente os mesmos, existindo porém varia-ções na incidência e patogenicidade delespara os diferentes locais e manejo da cultura.

Uma das maneiras de controlar fungosem sementes de arroz é pelo tratamento quí-mico, que deve protegê-las, no período dagerminação, e as plantas, durante os está-dios iniciais de desenvolvimento. Deve-seressaltar, no entanto, que sementes comgerminação baixa, devido principalmente aoutros fatores além da condição sanitária,não respondem ao tratamento. SegundoMachado (1994), métodos eficazes de trata-mento de sementes podem tornar mais flexí-veis os padrões de tolerância para determi-nados patógenos e vice-versa.

Para Pereira (2001), o manejo integradode doenças deve ser levado em conside-ração no momento de tomar decisões nocontrole das enfermidades associadas asementes. Dentre vários aspectos, no con-trole de doenças associado a sementes dearroz, como de qualquer outra, deve-seconsiderar a análise dos impactos causadosno ambiente, avaliados pelo técnico que orecomenda, devendo sempre prevalecer obom senso e o conhecimento do profissio-nal na tomada de decisões.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cultivo do arroz em Minas Gerais vemdecrescendo ao longo dos últimos anosem função, principalmente, da substituiçãoda cultura por outras mais rentáveis, comoa soja e o milho. No intuito de minimizar

essa situação, a pesquisa tem desenvolvi-do novas cultivares com alto potencial pro-dutivo e de excelente qualidade culinária.A utilização de sementes com alta qualida-de fisiológica e sanitária dessas cultivaresdesenvolvidas pela pesquisa poderá con-tribuir para aumentar a rentabilidade dacultura, propiciando, assim, a retomada docrescimento da cultura do arroz no Estado.

Phoma spp.Ano agrícola Cultivar Pyriculariagrisea

Drechsleraoryzae

Gerlachiaoryzae

01/02 Caiapó 3,00 3,75 5,50 4,75

01/02 Canastra 16,25 6,25 0,50 18,75

01/02 Canastra 14,25 11,25 0,00 25,75

01/02 Canastra 3,50 4,25 0,00 10,00

01/02 Canastra 7,75 4,00 0,00 12,50

01/02 Canastra 9,00 12,50 0,50 25,00

01/02 Canastra 1,00 6,25 0,00 5,25

01/02 Canastra 6,50 12,75 0,25 12,50

(conclusão)

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1Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí, Caixa Postal 277, CEP 88301-970 Itajaí-SC. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

O sistema de cultivo pré-germinado éaquele que utiliza sementes de arroz pre-viamente germinadas, semeadas a lançosobre uma lâmina d’água. Para esse tipode cultivo, as quadras devem ser siste-matizadas em nível, de forma que a águacubra todo o solo, com a mesma profun-didade.

No Brasil, o sistema pré-germinado teveseu início no estado de Santa Catarina, noinício do século 20, na região do Vale doRio Itajaí, introduzido por imigrantes ita-lianos. Em muitos casos, as próprias áreas,por serem encharcadas e de difícil drena-gem, fizeram com que os produtores se

Arroz irrigado em sistema de cultivo pré-germinado

Ronaldir Knoblauch1

Moizés de Sousa Reis2

vissem obrigados a cultivar o solo comágua, bem como a realizar a semeadura e ocultivo sem secar a terra.

Com a criação do Provárzeas nacional,no início da década de 80, muitos Estadosbrasileiros começaram a sistematizar suasvárzeas e, alguns deles, passaram a adotaro sistema de cultivo pré-germinado. Naque-la época, em toda a área do Sul do estadode Santa Catarina, aproximadamente 40 milhectares, utilizava-se o sistema de semea-dura em solo seco e irrigação, aos 30 diasapós a semeadura. A produtividade eraem torno de três toneladas por hectare.Após a troca do sistema de cultivo para opré-germinado, o rendimento começou a

aumentar, chegando, atualmente, a patama-res superiores a 7 toneladas por hectare.O incremento obtido foi devido, principal-mente, ao melhor controle de plantas da-ninhas, em especial do arroz vermelho, àliberação de nutrientes, devido ao a laga-mento antecipado do solo, bem como aostrabalhos de pesquisa, principalmente nacriação de cultivares adaptadas ao s iste-ma e aos trabalhos de assistência técnica eextensão rural.

Além de Santa Catarina, outros Estadosbrasileiros como Rio Grande do Sul, Para-ná, São Paulo, Minas Gerais, dentre outros,também cultivam arroz no sistema pré-germinado.

Resumo - O arroz é cultivado em terras altas (arroz de sequeiro) e em terras de várzeas(arroz irrigado). No cultivo irrigado, existem vários sistemas: – convencional, em que osolo é preparado no seco, as sementes semeadas em linha e a irrigação realizada porinundação, aos 20 a 30 dias após a semeadura; – sistema de plantio direto, em que assementes são semeadas em sulcos sem preparo, ou seja, sem revolvimento do solo; sistemade cultivo irrigado favorecido, utilizado nas áreas baixas das regiões Nordeste e Centro-Oeste, onde são aproveitadas as chuvas para inundação da área; - sistema pré-germina-do, no qual as sementes são previamente germinadas e semeadas em lâmina d’água coma área alagada. Este último sistema, embora utilizado em vários Estados brasileiros, écaracterístico de Santa Catarina, onde foi introduzido por imigrantes italianos, no iníciodo século 20. Nesse Estado, 100% da área de arroz irrigado é cultivada em sistema pré-germinado e apresenta como principais vantagens: controle das plantas daninhas,especialmente do arroz daninho (vermelho e preto), através da água; preparo do solo e asemeadura, mesmo em épocas de chuva; uso intensivo da área, sem rotação de cultura;menor custo e maior produtividade, elevando, dessa forma, a rentabilidade para o produtor.Principais dificuldades para a sua adoção: – custo inicial de sistematização do solo; –necessidade de cultivares adaptadas ao sistema, as quais devem apresentar maior resistênciaao acamamento e à toxidez por ferro.

Palavras-chave: Oryza sativa. Arroz de várzeas. Cultivo.

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Diferentemente dos demais sistemas, opré-germinado exige sistematização da áreae a realização de estruturas fixas, as quaisdeverão ser planejadas e realizadas antesdo cultivo. Além disso, possui algumaspeculiaridades, tais como, preparo do solocom água, uso de máquinas e equipamen-tos adaptados e controle de plantas dani-nhas, através da lâmina d’água e de h er-bicidas aplicados d iretamente sobre e ssalâmina.

Como em todos os sistemas de pro-dução, o pré-germinado possui vantagense dificuldades, as quais serão abordadas aseguir.

VANTAGENS DOSISTEMA PRÉ-GERMINADO

O sistema de cultivo pré-germinadopossui inúmeras vantagens, sendo as prin-cipais:

a) controle de plantas daninhas, espe-cialmente do seu maior inimigo, oarroz daninho (vermelho e preto).Este, por ser da mesma espécie doarroz cultivado, é de difícil controle.Atualmente, o uso da água é ainda ométodo mais prático e barato a serempregado;

b) cronograma das atividades: tendoem vista que tanto o preparo do so-lo como a semeadura independemdas condições meteorológicas paraserem realizados, os agricultorespodem definir as datas em que pre-tendem implantar suas lavouras;

c) uso intensivo do solo: como prati-camente não há erosão do solo e ocontrole de plantas daninhas é maisfacilitado, as áreas de cultivo pré-germinado vêm sendo exploradasano após ano. Existem lavouras noVale do Rio Itajaí, em Santa Catarina,que são cultivadas com arroz pré-germinado há mais de 80 anos e asprodutividades vêm aumentandogradativamente;

d) formação de lâmina uniforme nosquadros, o que facilita o manejo da

água e o controle das plantas da-ninhas;

e) maior disponibilidade de nutrientes;além de outros benefícios ao cultivo,proporcionados pela água, o alaga-mento antecipado do terreno, promo-ve a liberação antecipada de algunsnutrientes, especialmente fósforo,potássio, cálcio e magnésio;

f) menor consumo de água: trabalhosrealizados por Eberhardt (1993) eMarcolin et al. (1999), comparandovários sistemas de cultivo de arrozirrigado, concluíram que o s istemapré-germinado consome menos águaque os demais.

DIFICULDADES DOSISTEMA PRÉ-GERMINADO

A princípio, é necessário que se leveem consideração que nem todas as á reaspossíveis de ser cultivadas com arroz irri-gado, são adequadas à implantação do sis-tema pré-germinado. Além disso, existemalgumas dificuldades, como:

a) custo inicial da lavoura: as áreas parao sistema pré-germinado devem sersistematizadas e o custo inicial é,normalmente, alto;

b) ataque de pássaros: diferentemen-te dos demais sistemas, no pré-

germinado as sementes ficam expos-tas tanto para os pássaros de hábitoaquático (marrecos selvagens), co-mo para o pássaro-preto;

c) ataque de insetos de vida aquática emoluscos;

d) pode haver perda de argila e nutrien-tes em suspensão, quando os qua-dros são drenados logo após a for-mação de lama. Todavia, esta práticanão é recomendada;

e) cultivares adaptadas: em função dainundação por um período maiordo que nos demais sistemas, as cul-tivares tendem a acamar com maiorfacilidade. Além disso, as plantaspodem ser prejudicadas pela toxidezpor ferro.

A seguir serão abordadas as práticasculturais recomendadas para o sistema pré-germinado.

SISTEMATIZAÇÃO DA ÁREA

A sistematização preconiza o completonivelamento da superfície do terreno, atra-vés da movimentação do solo e da constru-ção do s istema de i rrigação e d renagempermanente (Fig. 1 e 2). O nivelamento temcomo objetivo construir planos uniformescercados por taipas denominados quadrosou tabuleiros. É recomendado que o nive-

Figura 1 - Sistematização do solo

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lamento do terreno seja realizado de talmaneira que a camada mais fértil, ou seja, ohorizonte A, seja deixado na superfície,evitando, dessa forma, maiores problemasde fertilidade da área. Além disso, é neces-sário que se construa uma rede de estradasinternas que facilitem a movimentação domaquinário e o transporte do arroz para forada lavoura.

Considerações a respeito da sistema-tização:

a) tendo em vista a movimentação dosolo, recomenda-se que a área aser sistematizada seja a mais planapossível. Em áreas mais declivosas,deve-se primeiro retirar a camada ará-vel (0 a 20 cm), realizar o nivelamen-to e, em seguida, distribuir uniforme-mente o solo sobre a área plana;

b) o solo deve ser apropriado à inun-dação - os argilosos perdem menoságua que os arenosos. Solos comhorizonte B impermeável são maisrecomendados;

c) o sistema de irrigação e drenagemdeve ser muito bem planejado. A inun-dação e/ou drenagem da área devemser realizadas com a maior agilidadepossível, tendo em vista que estasoperações são fundamentais para osucesso do cultivo;

d) o sistema pré-germinado normalmen-te apresenta problemas de sustenta-ção do solo ao tráfego das máquinase equipamentos. Por isso, é recomen-dável que os canais de drenagemsejam eficientes na retirada da águados quadros.

SOLOS

Os solos mais adequados para a culturado arroz irrigado são os planos, argilosos,com camada subsuperficial pouco permeá-vel. Entretanto, outros tipos de solo podem

ser utilizados, inclusive orgânicos, quandodevidamente sistematizados.

PREPARO DO SOLO

São inúmeras as formas do preparo dosolo no sistema pré-germinado. Contudo,todas elas têm por finalidades a formaçãode lama (Fig. 3) e o perfeito nivelamento ealisamento da superfície do solo. A maio -ria dos p rodutores, após o a lisamento f i-nal (Fig. 4), faz pequenos sulcos na super-fície do solo para um melhor escorrimentoda água no momento da drenagem, nor-malmente três a cinco dias após a se mea-dura.

Tendo em vista que a maioria das ope-rações m ecânicas é realizada dentro daágua ou com o solo encharcado, as máqui-nas e equipamentos a serem utilizados sãodiferentes daqueles usados em cultivos desequeiro. Nesse caso, utilizam-se máquinase equipamentos com rodas de maior áreade contato, chamadas rodas gaiola (Fig. 5),rodas de ferro auxiliares ou rodas em “V”(Fig. 6), as quais são adaptadas para entrardentro da lavoura com a cultura já implan-tada.

A prancha alisadora e a roda gaiola sãoimplementos muito importantes para osistema pré-germinado e não são utilizadasnos demais sistemas de cultivo do arroz.

Figura 2 - Área sistematizada

Figura 3 - Formação de lama com rolão

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Figura 4 - Alisamento final e sulcamento para drenagem superficial

Figura 6 - Pulverização com roda em ‘V’

ADUBAÇÃO

No sistema pré-germinado, além da fer-tilidade natural do solo, a adubação estárelacionada com as diversas condiçõesde cultivo, como histórico da área, manejoda água de irrigação, cultivar a ser utilizada,condições meteorológicas, dentre outras.

A cultivar utilizada deve ser compatí-vel com a fertilidade da área, o tipo de solo(orgânico ou mineral), a adaptação regionale a reação ao acamamento e às doenças.

O histórico da área com cultivos ante-riores fornece informações importantes, taiscomo distúrbios nutricionais (toxidez porferro e salinidade) e, principalmente, a ocor-rência de doenças, especialmente a bruso-ne (Pirycularia grisea ).

A recomendação de adubação develevar em conta estes fatores, que poderãodeterminar o sucesso ou o fracasso da adu-bação.

Adubação de base:fósforo (P) e potássio (K)

Estes dois elementos essenciais às plan-tas, para serem melhor utilizados pela cul-tura, devem ser incorporados ao solo du-rante a formação da lama ou do alisamentodos quadros.

O costume de alguns produtores de pra-ticar a adubação com P e K, durante o perfi-lhamento das plantas, reduz o aproveita-mento destes nutrientes.

As fontes de P e K mais utilizadas sãoo superfosfato triplo (42% P2 O5) ou super-fosfato simples (18% P2 O5) e o cloreto depotássio (60% K 2O). Quando forem utili-zadas fó rmulas pront as, estas devem seradequadas às análises de solo. As quan-tidades d estes n utrientes, r ecomendadaspara Minas Gerais e Santa Catarina, estãonos Quadros 1 e 2, r espectivamente.

Adubação de cobertura:nitrogênio (N)

A adubação de cobertura com N baseia-se no teor de matéria orgânica do solo.Entretanto, o técnico deverá, cuidado-samente, observar o histórico da área, a

Figura 5 - Detalhe da roda gaiola

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cultivar a ser utilizada e o acompanhamen-to anterior da cultura.

Áreas novas, comumente, requeremmaiores cuidados, pois o excesso de N libe-rado pelo solo provoca desequilíbrio entreN, P e K.

Cultivos anteriores que tenham mos-trado ocorrência de brusone, falhas noenchimento dos grãos ou acamamento po-dem indicar desequilíbrio nutricional, emgeral, devido ao excesso de N.

Indica-se como fonte de N a uréia (45%N) ou o sulfato de amônio (21% N), por se-rem os fertilizantes amoniacais mais acon-selhados para a cultura do arroz irrigado.

As quantidades de N a serem aplicadasobedecem, em princípio, a recomendaçãodo Quadro 3, podendo, a critério do técni-

co, sofrer modificações em função deocorrências anteriores, cultivar e estadonutricional da cultura no momento daadubação de cobertura.

Quando recomendadas quantidadesinferiores a 50 kg/ha, pode-se dispensar ofracionamento. N este c aso, a plica-se ofertilizante em cobertura, pouco antes dadiferenciação do primórdio floral.

Quando a recomendação for de 50 kgde N ou mais por hectare, deve-se fracionara dose, ou seja, 50% da dose no início doperfilhamento (quarta folha), o que ocorrede 20 a 25 dias após a emergência, e, 50%,pouco antes do ponto de algodão, quevaria de 55 a 65 dias após a emergência,para cultivares de ciclo precoce ou médio.

Para cultivares de c iclo longo (acimade 135 dias), recomenda-se o fracionamentoem três vezes, no iní cio do perfilhamentoaos 20 a 25 dias, no perfilhamento plenoaos 50 a 55 dias e no início da diferenciaçãodo primórdio floral aos 70 a 80 dias.

A adubação de cobertura não exige reti-rada de água, apenas abaixa-se o nível daágua ao mínimo, para evitar infestações daárea por plantas daninhas e perdas de nutri-entes. Após a adubação de cobertura (trêsa cinco dias), recoloca-se água no nível ne-cessário.

O aspecto visual da cultura é importan-te e , em casos de vegetação exuberante,pode-se diminuir ou até mesmo dispensara adubação de cobertura.

Em casos de ocorrência sistemática detoxidez por ferro, recomenda-se aumentara dose e o número de operações da aduba-ção nitrogenada.

Quando o cultivo for realizado nas re-giões Centro-Oeste, Norte e Nordeste bra-sileiros, deve-se f icar atento ao ciclo doscultivos, bem como ao maior consumo denitrogênio, causado pelas altas temperatu-ras e, por conseqüência, maior metabolismodas plantas.

CALAGEM

Não é necessária a aplicação de calcá-rio para a correção do solo (solo mineral)na cultura do arroz irrigado.

Entretanto, pode-se recomendar calcá-rio:

a) quando a análise de solo indicar teo-res de cálcio (Ca) mais magnésio (Mg),inferiores a 5cmolc/L, recomenda-seaplicar 1t/ha de calcário dolomíticocomo nutriente;

b) para m inimizar e feitos t óxicos d eferro, devem-se fazer análises espe-ciais;

c) em solos orgânicos, a calagem po-derá ser necessária em doses maiselevadas - neste caso recomenda-seprocurar orientação técnica especia-lizada.

TOXIDEZ POR FERRO

Entende-se por toxidez por ferro os efei-tos causados pelo excesso de ferro em so-lução no solo.

Existem dois tipos de toxidez por ferro,a direta e a indireta.

20 90 60 30 70 45 20 70

Quadro 1 - Adubação NPK (kg/ha) recomendada para o arroz irrigado, em Minas Gerais

FONTE: Ribeiro et al. (1999).NOTA: B - Baixo; M - Médio; A – Alto.

Nos solos turfosos ou com altos teores de MO, não se deve aplicar N no plantio.Para aplicações de fertilizantes a lanço, recomenda-se que as quantidades sejam elevadas em50%.

Teor de K no soloN

(cobertura)

P2O5 K2O

N(cobertura)

Teor de P no solo

B M A B M A

Fósforo (P) kg de P2 O5 /ha< 3,0 Muito baixo 40

3,1 a 6,0 Médio 40> 6,0 Bom 20

Potássio (K) kg de K2 O/ha< 30 Muito baixo 80

31 a 60 Médio 40> 60 Bom 40

QUADRO 2 -Adubação de base com P e K r e-comendada para o arroz irrigado,em sistema pré-germinado, paraSanta Catarina

Recomendação

FONTE: Comissão de Fertilidade do Solo - RS/SC(1994).

Teor no solo(mg/L) Interpretação

< 2,5 Muito baixo 80 - 90

2,5 a 5,0 Médio 60 - 80

> 5,0 Bom 30 - 60

QUADRO 3 - Adubação de cobertura com nitro-gênio, e m a rroz i rrigado, n o s is-tema pré-germinado para SantaCatarina

Recomen-dação

(kg de N/ha)

Teor de matéria orgânica

(%)

Interpre-tação

FONTE: Comissão de Fertilidade do Solo - RS/SC(1994).

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49Arroz: avanços tecnológicos

A toxidez direta ocorre, quando, atra-vés da redução do solo, há transformaçãode compostos oxidados de ferro da formaférrica (Fe+3) para a forma de ferrosa (Fe+2),sendo esta última mais solúvel e absorvi-da em excesso pelas plantas. A toxidez di-reta é, portanto, um excesso de absorçãode Fe+2 e manifesta-se através da formaçãode numerosas pontuações minúsculas nasfolhas mais velhas, conferindo-lhes colo-ração marrom ou arroxeada. Esta forma detoxidez parece afetar muito pouco a pro-dutividade.

A toxidez indireta é causada pela pre-cipitação de Fe+3 sobre as raízes e colo dasplantas. Durante a respiração, a planta eli-mina oxigênio através das raízes e há, comesse processo, a reoxidação do Fe +2 (maissolúvel) em Fe +3 (pouco solúvel). O fer-ro férrico (Fe+3) precipita sobre as raízes eforma uma capa cor de tijolo, bloqueando aabsorção pela planta de outros elementos,como cálcio, magnésio, fósforo, potássio,nitrogênio, zinco.

Os sintomas são identificados pela des-coloração das folhas, que se mostram ama-relas ou alaranjadas. A toxidez indireta écomumente conhecida como alaranjamen-to. Esta forma de toxidez pode causar pre-juízos de 10% a 80% na produção de grãos,de acordo com sua intensidade.

As Figuras 7 e 8 mostram sintomas ca-racterísticos de plantas com toxidez diretae indireta, respectivamente.

Métodos de controle datoxidez por ferro

Os principais métodos de controle detoxidez por ferro são os seguintes:

a) drenagem durante o ciclo da cultura:

esta prática tem o efeito de reoxidaros compostos reduzidos pela irriga-ção. Para que a drenagem atinja oobjetivo é necessário que o solo se-que por completo, o que demandaum longo período de suspensão dairrigação;

b) calagem: pode ser utilizada, mas,dependendo da área a ser corrigida eda quantidade a ser empregada, pode

não ser econômica. Recomendam-se, para este fim, análises e estudosmais aprofundados para cada caso;

c) nitrogênio: o fracionamento da adu-bação de cobertura em maior númerode vezes, bem como doses maioresque as normais, podem amenizar oproblema, sem contudo resolvê-lo;

d) pré-inundação da área: antecipa opico máximo de disponibilidade deFe+2, evitando-se a fase crítica que éa diferenciação do primórdio floral;

e) cultivares tolerantes: a solução maiseconômica e viável é o uso de culti-vares tolerantes. Nas áreas em que

o problema ocorre, em quadros no-vos ou recém-sistematizados, deve-se evitar a semeadura de cultivaressuscetíveis à toxidez por ferro.

ÁGUA DE IRRIGAÇÃO

Quantidade

A cultura do arroz, devido às suas ne-cessidades h ídricas, t em c omo m étodomais apropriado de cultivo o uso da irriga-ção por inundação. Em geral, cada hectarecultivado com arroz consome entre 7 mil e10 mil m3/ha de água, durante o seu ciclo.No sistema pré-germinado, a água pode serclassificada em trê s categorias: água para

Figura 7 - Toxidez direta de ferro

Figura 8 - Toxidez indireta de ferro

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50 Arroz: avanços tecnológicos

saturação do solo e formação da lama, águapara evapotranspiração e água para com-pensar as perdas na condução, infiltraçãoprofunda e infiltração later al através dastaipas. No sistema pré-germinado, a maiordemanda por água oco rre por ocasião doalagamento da área para o preparo do so-lo. Outra fase de grande demanda ocorreapós a aplicação de herbicidas em pulveri-zação, pois a água deve ser reposta em, nomáximo, 48 horas.

Para a manutenção da lâmina d’ água,geralmente a vazão de 1,0 L/s/ha é sufi-ciente.

Qualidade

Na análise da qualidade da água, devem-se considerar todos os problemas decor-rentes de produtos lançados ou existentesnela e que possam vir a prejudicar a pro-dutividade e a qualidade do arroz, o soloou a própria saúde humana e animal. Co-mo exemplo podem-se citar os rejeitos daextração mineral, rejeitos industriais, agro-tóxicos, salinidade etc. O principal proble-ma da qualidade da água no Brasil refere-se a salinidade.

Os sintomas visuais de toxicidade, de-vido ao excesso de sais na água de irriga-ção, variam em função do estádio das plan-tas, da cultivar e da concentração de saisna água. Os períodos mais críticos em queocorrem os maiores danos são na fase deplântula e no florescimento. Em solos sa-linos sódicos, o gesso (CaSO42H2O) podeser utilizado como corretivo para lixiviar ossais da superfície.

Em locais onde a salinidade é even-tual, motivada pela estiagem ou marés,recomenda-se deixar de irrigar a lavoura dearroz, quando a condutividade elétrica atin-gir 2,2 mS/cm. Uma medida prática para osprodutores rurais, é a de não utilizar a águapara irrigação, quando esta apresentar umteor de sal superior a 0,5 g/L.

Manejo da água

No sistema de cultivo pré-germinado, airrigação é feita pelo método da inundaçãoou alagamento. Esse método, além de su-

prir a necessidade de água para as plantas,auxilia na formação da lama, na liberaçãode alguns nutrientes como fósforo, potás-sio, cálcio e magnésio, dentre outros, noaumento do pH do solo e no controle dasplantas daninhas.

Na entressafra, recomenda-se deixar osolo drenado, a fim de permitir sua aeração,o que facilitará a germinação das sementesde plantas daninhas e a decomposição damatéria orgânica. A manutenção de umalâmina d’ água durante esse período reduza germinação das plantas daninhas naépoca da implantação da lavoura. Essa con-dição também favorece o desenvolvimentode plantas daninhas aquáticas, que pode-rão produzir sementes e aumentar o pro-blema.

Em áreas infestadas com arroz verme-lho, recomenda-se o alagamento do solopor 20 a 30 dias antes da semeadura. Essaprática impede a germinação das sementesabaixo da camada oxidada do solo. As plân-tulas provenientes das sementes que ger-minaram antes do alagamento serão des-truídas, por ocasião da formação da lama.Após esta formação, recomenda-se deixara água parada no quadro, para que ocorraa decantação da argila e, em seguida, realizara semeadura.

SEMEADURA

A semeadura é feit a pela distribuiçãouniforme a lanço das sementes pré-germi-nadas, nos quadros nivelados e inundados.A pré-germinação das sementes consisteno aceleramento do processo natural degerminação, por meio da hidratação, ouseja, imersão das sementes em água, du-rante 24 a 48 horas, acondicionadas emsacos ou tanques. Após este período, assementes são retiradas da água e colocadasà sombra por igual período (24 a 48 ho-ras), fase esta conhecida como incubação.Durante este período, ocorre a emissão docoleóptilo e da radícula, que caracterizam oprocesso de pré-germinação. Por ocasiãoda semeadura, estas estruturas não devemter ultrapassado 2 mm de comprimento, pa-ra evitar seu rompimento e amontoamento

das sementes a serem lançadas sobre a lâ-mina d’água.

Para que a semeadura seja facilitada,recomenda-se executá-la no período do diaem que o vento seja mínimo e a água dosquadros esteja limpa. Dessa forma, o de-senvolvimento das plântulas sob a lâminad’água será mais fácil.

A densidade de semeadura deve possi-bilitar o estabelecimento de, aproximada-mente, 300 plântulas por metro quadrado.Como parâmetro geral, para todas as culti-vares e épocas de semeadura, devem-seutilizar entre 400 e 500 sementes aptas pormetro quadrado. A quantidade de sementesa ser utilizada pode ser calculada em funçãodo peso de mil sementes e do poder germi-nativo delas.

CONTROLE DASPLANTAS DANINHAS

No sistema pré-germinado aparecempraticamente as mesmas espécies de plan-tas daninhas que ocorrem nos demais.Todavia, em função do alagamento do so-lo por um período maior, é comum o apa-recimento de plantas daninhas de hábitosaquáticos, especialmente a Sagitariamontevidensis (sagitária), a Heteranterareniformis (aguapé) e a Luziola peruviana(grama-boiadeira).

Os métodos de aplicação de herbicidastambém são praticamente aqueles realiza-dos nos demais sistemas, tendo como únicadiferença o sistema de aplicação em ben-zedura

A aplicação em benzedura é realizadana lâmina d’água com as plantas daninhasencobertas por ela. Para os herbicidas Siriuse Gamit, o capim-arroz deve estar no está-dio de até duas folhas, e para os herbici-das Facet, Ordran e Satanil, no máximo trêsfolhas.

É importante que os quadros estejambem nivelados. Os produtos devem seraplicados diluídos em água (20-40 L/ha),com auxílio de pulverizador costal sem bi-co. Deve-se evitar a circulação de água entreos quadros por um período mínimo de quin-ze dias.

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51Arroz: avanços tecnológicos

CONTROLE DE PRAGAS

Da mesma forma que para as plantasdaninhas, as pragas que ocorrem no sis-tema p ré-germinado são p raticamente a smesmas dos demais sistemas. O diferen-cial está no ataque dos adultos da bichei-ra da raiz ( Oryzophagus oryzae ), nos

Insumos

Semente kg 150

Superfosfato triplo kg 100

Cloreto de potássio kg 130

Adubo de cobertura (uréia) kg 200

Preparo do solo

Aração h/t 2,0

Rotavação h/t 3,0

Renivelamento e alisamento h/t 2,0

Adubação de base e cobertura h/m 1,0

Semeadura h/m 1,0

Manejo da lavoura

Irrigação e drenagem d/H 2,0

Manejo da água d/H 3,0

Manutenção de canais e taipas d/H 4,0

Tratos culturais

Aplicação de herbicidas h/t 1,0

Aplicação de inseticidas d/H 0,5

Aplicação de adubo em cobertura (3 vezes) h/t 3,0

Colheita

Colheita % da produção 10

Transporte i nterno h/t 1,5

Mão-de-obra auxiliar d/H 0,25

Secagem % da produção 3

Produção

Produção média de arroz sc/50 kg 150

REFERÊNCIAS

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MARCOLIN, E.; CORREA, N.I.; LOPES, M.S.;MACEDO, V.R.M.; MARQUES, J .B.B.Determinação do consumo de água em três siste-mas de cultivo de arroz irrigado. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 1.; REU-NIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO,23., 1999, Pelotas. Anais... Pelotas: EmbrapaClima Temperado, 1999. p.263-265.

RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZV., V.H. (Ed.). Recomendação p ara o u so d ecorretivos e fertilizantes em Minas Gerais:5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Ferti-lidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.359p.

coleóptilos das sementes, logo após a se-meadura.

COEFICIENTES TÉCNICOS

No Quadro 4 são apresentados os coefi-cientes técnicos para cálculo de 1 hectarede arroz irrigado, no sistema pré-germinado.

QUADRO 4 - Coeficientes técnicos para cálculo de custo de produção de 1 ha de arroz irrigado, nosistema pré-germinado, para áreas cultivadas de, aproximadam ente, 10 a 30 ha

Coeficiente técnicoEspecificação Unidade

NOTA: d/H – dia/homem; h/t – hora/trator; h/m – hora/máquina.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BACHA, R.E.; HOSSNER, L.R. Characteristicsof coating formed on rice roots as affected byiron and manganes e additions. Soil ScienceSociety of America Journal , Madison, v .41,p.931-935, 1977.

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_______. Sistema de produção para arrozirrigado em Santa Catarina (pré-germi-nado). Florianópolis, 1998. 79p. (EPAGRI.Sistemas de Produção, 32).

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REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO,22., 1997, Balneário Camboriú. Arroz Irrigado:recomendações técnicas da pesquisa para o sul doBrasil. Itajaí: Epagri/Pelotas: EMBRAPA-CPACT/Cachoeirinha: IRGA, 1997. 80p.

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52 Arroz: avanços tecnológicos

1Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Prof. UFLA - Dep to Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agr o, D .Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, C aixa Postal 179, C EP 75375-000 S anto Antonio de Goiás-GO. C orreio e letrônico:

[email protected]

INTRODUÇÃO

O plantio direto (PD) consiste na semea-dura direta sem as operações primárias esecundárias no solo (arações e gradagens),feitas sobre uma cobertura vegetal previa-mente dessecada por herbicidas (DERPSCH,1984).

Além de novas tecnologias que são fre-qüentemente adotadas pelos produtores,visando, principalmente, redução de custose aumento da produtividade, sem compro-meter a qualidade dos produtos, há um apreocupação crescente de preservar o meioambiente, com o uso de tecnologias auto-sustentáveis.

O aspecto conservacionista do PD, semdúvida, tem merecido destaque e incenti-vado o seu uso, impulsionado pela novamentalidade de agricultura sustentável napreservação dos recursos naturais, ondeas perdas de solo e água são mínimas. No

Plantio direto em arroz

Moizés de Sousa Reis1

Antônio Alves Soares2

Cleber Morais Guimarães3

plantio convencional (PC) empregado hoje,revolve-se excessivamente a camada ará-vel pelo uso intensivo de implementos,resultando em compactação da camada su-perficial, desagregação do solo, selamentosuperficial etc. Assim, iniciam-se os proces-sos erosivos, comprom etendo o potencialprodutivo do solo, a economia do sistemae o meio ambiente.

Dentre os efeitos positivos do PD, pode-se destacar o controle quase total da ero-são, com perdas mínimas de solo e água eatenuação da temperatura e da amplitudetérmica do solo, o que favorece a ação dosmicroorganismos e da mesofauna do solo,além de melhorar a absorção de nutrientespelas plantas. Promove também uma me-lhor manutenção da umidade do solo peloefeito da cobertura morta, tem ação comoreserva de nutrientes, cuja liberação é paula-tina, e, finalmente, exerce controle parcial

de plantas daninhas, dificultando sua ger-minação ou impedindo sua emergência(LANDERS, 1995). Entretanto, esses efei-tos positivos podem não existir se não hou-ver a devida atenção para a cobertura morta.Nos cerrados, no entanto, tem sido difícil aformação e, principalmente, a manutençãode volume de palhada em quantidade paraproteger plenamente a superfície do solo.Altas temperaturas associadas à umidadeprovocam a rápida decomposição dos resí-duos vegetais. A experiência tem mostradoque nos cerrados, o cultivo do milheto paraformação da cobertura morta, tem sido umaboa alternativa para o grande impulso noPD. Seu cultivo é geralmente feito no finalou na entrada do período chuvoso.

O uso do PD no cultivo do arroz de terrasaltas ainda é bastante incipiente. Trabalhosde pesquisa estão sendo empreendidosna busca de informações para tornar essa

Resumo - O uso do plantio direto no cultivo do arroz de terras altas ainda é bastante inci-piente. Trabalhos de pesquisa estão sendo empreendidos na busca de informações paratornar essa prática vantajosa para o orizicultor de terras altas. Alguns autores afirmamque faltam apenas melhores ajustes para tornar a cultura viável. Na cultura do arrozirrigado, a técnica teve boa aceitação no Rio Grande do Sul, pois além de propiciar umbom controle do arroz vermelho, considerado o maior problema da orizicultura gaúcha,pelas altas infestações, proporciona vantagens como redução de custos de produção,semeadura em época mais adequada e melhor integração lavoura-pecuária. A utilizaçãodo arroz de terras altas, em plantio direto, como componente de sistemas agrícolassustentáveis, e o uso desta técnica de cultivo em arroz irrigado poderão incrementar aprodução de arroz, tendo em vista os benefícios proporcionados à orizicultura.

Palavras-chave: Oryza sativa. Arroz de terras altas. Arroz irrigado. Cultivo.

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prática vantajosa para o orizicultor de terrasaltas. Na cultura do arroz irrigado, no entan-to, a adoção do sistema é tida como a solu-ção potencialmente capaz de minimizar ascrescentes infestações do arroz vermelho.

Este trabalho tem como objetivo levar,aos produtores de arroz de terras altas e dearroz irrigado, informações técnicas sobreos sistemas de cultivo sob PD.

PLANTIO DIRETO DEARROZ DE TERRAS ALTAS

O uso do PD no cultivo do arroz de ter-ras altas encontra-se em fase de pesquisas enão se têm, ainda, resultados conclusivosacerca do benefício que ele possa propor-cionar.

O arroz é uma planta com sistema ra-dicular frágil, que ao ser cultivada em con-dições a dversas t em c omprometida s uacapacidade de absorver água e/ou nutrien-tes. Conforme Guimarães e Moreira (2001),o sistema radicular do arroz é diminuído como aumento da densidade do solo a partirde 1,2 g/cm3. Resultados similares foramobservados por Rosolem et al. (1994) eFernandez e t al. (1995). Conforme Atwell(1990), o crescimento das raízes seminais é,também, muito sensível à compactação dosolo. Esse autor verificou um crescimentode 0,6 e 1,78 cm dia-1, em solo compactadoe d escompactado, r espectivamente. P oroutro lado, Grohmann e Queiroz Neto (1966)observaram uma total inibição do crescimen-to radicular de plântulas de arroz nas den-sidades do solo superiores a 1,38 g cm -3.

O preparo do solo é o melhor método iden-tificado até o momento para o arroz de terrasaltas, pois consiste em passar a grade ara-dora, para trituração e pré-incorporação dosresíduos orgânicos, seguida da aração pro-funda (30-40cm), preferencialmente comarado de aivecas, concluída, se necessário,com gradagem de nivelamento/destorroa-mento (SEGUY et al., 1984 apud KLUTH-COUSKI, 1998).

Alguns trabalhos de pesquisa demons-tram rendimentos inferiores para o arroz deterras altas em PD, quando comparado comoutros sistemas. Kluthcouski (1998) , porexemplo, obteve rendimentos superiores de

até 46%, com uso de implementos, compa-rados ao PD. O autor atribuiu o fraco desem-penho a problemas com o perfil do solo,afirmando que, onde domina a microporo-sidade e horizontes superficiais compacta-dos, sempre acarreta baixas produtividadesde arroz.

As experiências com PD na cultura doarroz de terras altas são poucas. Entretan-to, resultados de experimentos conduzidosna Embrapa Arroz e Feijão indicam que odesempenho da cultura neste sistema de

cultivo melhora com o passar dos anos(STONE et al., 1984). O aumento do conteúdode matéria orgânica com o tempo no sistemae o efeito das raízes das culturas de cober-tura na reestruturação do solo podem redu-zir a densidade deste (STONE et al., 2002).

Stone et al. (2002) verificaram que asprodutividades do arroz de terras altas sobPD e no preparo com arado foram na mé-dia de quatro anos, respectivamente, 32%e 21% superiores à obtida no preparo comgrade (Quadro 1). Verifica-se no Quadro 2

Grade aradora (10-15 cm) 1.662 1.971 1.205 1.643 1.620 b (100)Arado de aiveca (30 cm) 1.805 2.017 1.796 2.203 1.955 a (121)Plantio direto 2.710 1.152 2.179 2.548 2.147 a (132)

CV (%) 3 0,4

DMS (kg/ha) 251,2

QUADRO 1 - Produtividades de arroz relativas aos sistemas de preparo do solo e ao período 1998/1999-2001/2002

Produtividade(kg/ha)

FONTE: Stone et al. (2002).NOTA: CV – Coeficiente de variação; DMS – Distância mínima significativa.(1) Médias da análise conjunta, seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%de probabilidade; valores entre parênteses são relativos à comparação com a grade.

Sistema de preparo

1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 Média(1)

FONTE: Stone et al. (2002).NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, dentro de cada camada de solo, não apresentam

diferenças significativas a 5% pelo teste de Tukey.

0 - 10 cm 0 - 10 cmGrade aradora (10-15 cm) 1,41 a 0,467 aArado de aiveca (30 cm) 1,31 a 0,505 aPlantio direto 1,32 a 0,501 a

10 - 20 cm 10 - 20 cmGrade aradora 1,48 a 0,446 aArado de aiveca 1,38 b 0,479 aPlantio direto 1,36 b 0,488 a

20 - 30 cm 20 - 30 cmGrade aradora 1,38 a 0,484 aArado de aiveca 1,34 a 0,497 aPlantio direto 1,35 a 0,491 a

QUADRO 2 - Médias de quatro anos da densidade e porosidade do solo nas camadas de 0-10, 10-20 e20-30 cm de profundidade, em três sistemas de preparo do solo

Porosidade(m3/m3)

Sistema de preparoDensidade do solo

(Mg/m3)

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que a densidade do solo na camada de10-20 cm foi maior no preparo com grade.No caso do PD, a cobertura do solo commaterial vegetal todo o tempo resulta emalta concentração de material orgânico nacamada superficial e promove intensa ativi-dade biológica, o que resulta em produtosque desempenham função na formação eestabilização (agentes cimentantes) dosagregados e melhora, com o tempo, as con-dições físicas do solo.

Apesar de muitos depoimentos des-favoráveis ao PD de arroz de terras altas,Seguy et al. (1998), em seus trabalhos naregião Centro-Norte de Mato Grosso, afir-mam que, sob determinadas condições, aprodutividade de grãos foi igual ou até su-perior à obtida no PC.

Desenvolvimento radicularNo PD, o adensamento das c amadas

superficiais e subsuperficiais limita o de-senvolvimento radicular. Guimarães (1997)concluiu que, comparativamente ao PD, aaração promoveu maior desenvolvimentoradicular em profundidade. No PD tambémfoi observada uma redução no desenvol-vimento da parte aérea do arroz. Gassen eGassen (1996) e Balbino (1997), entretanto,afirmam que pode haver compensação dis-so pela continuidade dos poros resultantesda atividade microbiológica e da decom-posição das raízes da cobertura morta.

Conforme Kluthcouski et al. (2002), oarroz de terras altas sob PD produziu me-nos, quando comparado com as condiçõesem que houve revolvimento do solo.Observou-se também maior esterilidade dasespiguetas, podendo ser reflexo da deficiên-cia hídrica ou mineral, em função, provavel-mente, do reduzido enraizamento, devido àcompactação/adensamento do solo. A altu-ra de plantas, a área foliar e ainda a produ-ção de matéria seca foram inferiores no PD.Stone et al. (1980) e Guimarães (1997) obser-varam redução na produtividade do arrozno PD e a causa seria a limitação do desen-volvimento radicular, devido à compactaçãodo solo.

A maior limitação do arroz de terras altasao PD talvez seja devido à redução na ma-

croporosidade que o sistema provoca e,aliado à concentração superficial dos nutri-entes, impede o desenvolvimento radicularem p rofundidade, l imitando a p rodutivi-dade do arroz sobretudo em sistemas eregiões dependentes de chuvas. As raízesnão conseguem reduzir seu diâmetro parapenetrar nos microporos menores que suasextremidades. Assim, elas têm que deslocaras partículas do solo, o que esgota rapida-mente sua força e restringe o seu alonga-

mento (MARCHNER, 1986 apud KLUTH-COUSKI, 1998). Conforme Guimarães et al.(2001), o arroz apresenta um sistema radi-cular muito sensível à compactação do solo,como a observada em áreas de PD na regiãodos cerrados. Nestas condições, o sistemaradicular é men os desenvolvido (Fig. 1).Entretanto, quando as condições físicas dosolo são favoráveis, o sistema radicular atin-ge maiores profundidades (Fig. 2). Sistemaradicular pouco desenvolvido não acarreta

Figura 1 - Sistema radicular do arroz de terras altas, em plantio direto, após o cultivo da

soja - Fazenda Piratini, Dom Aquino (MT)

Figura 2 - Sistema radicular do arroz de terras altas em solo preparado com arado de

aiveca - Bela Vista (GO)

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grandes problemas à planta, quando há boadisponibilidade hídrica no solo, porém,pode se agravar com o efeito dos verani-cos, pela menor capacidade de a plantaabsorver água. Por outro lado, sistema ra-dicular superficial não absorve os nutri-entes que se movimentam para as camadasinferiores do solo. Isto é particularmenteimportante nas regiões com alta precipi-tação e em solos arenosos como na pré-Amazônia. Semeadoras de PD, equipadascom dispositivos para romper o solo a maio-res profundidades (Fig. 3), têm apresentadoresultados positivos na indução do apro-fundamento do sistema radicular do ar rozde terras altas. Um destes dispositivos é ahaste escarificadora acoplada à semeadora,atrás do disco de corte que, ao romper osolo a uma maior profundidade e aplicar50% do fertilizante a, aproximada mente,20-22 cm e o restante a 5-8 cm, aumen ta osistema radicular (Fig. 4) e propicia melhorcapacidade de absorção de água e nutrien-tes, principalmente daqueles mais lixiviá-veis. Este artifício tem resultado em aumen-to de até 100% na produtividade, quandoperíodos de veranicos expõem a planta aoestresse hídrico. Entretanto, quando a dis-ponibilidade hídrica é adequada e a fertili-dade do solo é satisfatória, esse efeito nãotem sido observado (GUIMARÃES et al.,2001).

Cultivares

Um dos aspectos mais importantes emrelação à adoção do PD para o arroz de ter-ras altas é o comportamento das cultivaresneste tipo de cultivo. Poucos estudos têmsido feitos para selecionar linhagens oucultivares para esse sistema. Num dessestrabalhos, realizado por Moura Neto (2001),observou-se que as linhagens e cultivaresde arroz testadas comportaram-se de modosemelhante no PD e no PC, para p roduti-vidade de grãos. Entretanto, sob PD, hou-ve uma tendência de redução da alturade plantas, alongamento do ciclo e menorincidência de doenças. Guimarães et al. (noprelo) também avaliaram genótipos emcondições de PD. Eles observaram que

edafoclimáticas locais, ao apresentar efeitosignificativo na i nteração l ocais x genó-tipos. A linhagem ‘CNA 8557’ foi maisestável, ao apresentar uma diferença de53 kg ha-1 entre a maior e a menor produtivi-dade. Esta linhagem produziu 4.422 kg ha-1,4.370 kg ha-1 e 4.396 kg ha -1, em BuritiAlegre e Rio Verde (GO), e em Campo Ver-de (MT), respectivamente, enquanto a cul-tivar Bonança foi a mais instável, ao apre-

Figura 3 - Semeadora de plantio direto

equipada com haste escarifica-

dora

Figura 4 - Sistema radicular do arroz (‘Ca-

nastra’) em plantio direto, com

semeadora equipada com disco

de corte e haste escarificadora

os genótipos diferiram significativamenteentre si, em termos de produtividade. A li-nhagem CNA 8557 produziu, em média,4.390 kg ha-1, superior aos demais genó-tipos. Sua superioridade produtiva foide 9,0%; 12,6%; 19,3% e 26,3% em rela-ção à ‘Carisma’, ‘Primavera’, ‘Bonança’ e‘Canastra’, respectivamente (Quadro 3).Observaram também que foram influen-ciados diferentemente pelas condições

Bonança 4.118 a 3.919 a 2.769 c

CNA 8557 4.422 a 4.370 a 4.396 a

Canastra 3.828 a 3.416 b 3.243 c

Carisma 4.184 a 4.005 a 3.913 ab

Primavera 4.292 a 3.980 a 3.343 bc

CV (%) 10,15

QUADRO 3 - Produtividade dos genótipos de arroz de terras altas, ‘CNA 8557’, ‘Carisma’, ‘Primavera’,‘Canastra’ e ‘Bonança’ no plantio direto conduzido em Buriti Alegre e Rio Verde (GO)e Campo Verde (MT)

Cultivares Buriti Alegre Rio Verde(1) Campo Verde

FONTE: Guimarães et al. (no prelo).NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferiram significativamente pelo teste de

Tukey a 5% de probabilidade.CV - Coeficiente de variação.

(1) Média de dois anos.

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56 Arroz: avanços tecnológicos

sentar uma diferença de 1.349 kg ha-1 entrea maior e a menor produtividade.

A instabilidade da produtividade dosgenótipos nos três locais foi explicada, emparte, pela esterilidade das espiguetas. Esta,na maioria das vezes, é uma conseqüênciadireta da incidência de brusone, que, quan-do ocorre no arroz, durante a fase de emis-são e formação das panículas, aumenta onúmero de espiguetas vazias ou estéreis.A brusone, durante esta fase, ao necrosara base da panícula ou da própria espigueta,estrangula o fluxo de carboidratos e com-promete o enchimento de grãos.

As novas cultivares de grãos agulhi-nhas de arroz de terras altas, de boa cotaçãocomercial, têm influenciado grandemente aprocura por este cereal, para o PD, por ra-zões e conômicas e /ou p ela n ecessidadede rotação, tão importante para o sistema.É evidente a grande demanda atual para ouso do arroz de terras altas em PD, sobre-tudo em ár eas recuperadas de regiõ es fa-vorecidas com boa precipitação e/ou sobpivô central com perspectivas de altas pro-dutividades, haja vista a grande área cul-tivada atualmente com PD de milho/soja,onde o arroz apresenta-se como uma alter-nativa.

Assim, para que se possa expandir asáreas de PD cultivadas com arroz de terrasaltas, é preciso selecionar cultivares e linha-gens adaptadas, visando uma exploraçãomais eficiente e lucrativa desse sistema agrí-cola.

Adubação

O suprimento de nitrogênio é inadequa-do às plantas no PD pela maior lixiviação,volatilização de amônia, retenção na palhae imobilização microbiana (GUIMARÃES;YOKOYAMA, 1998, KITUR et al., 1984,HEINRICHS et al., 2001). A imobilização éainda maior após o uso de gramíneas comalta relação C/N, o que causa uma demandade nitrogênio no solo maior para sua de-composição, competindo com a cultura.Nestas condições, estes autores consi-deram necessário aplicar maiores doses denitrogênio no PD comparado com o PC.

Esse efeito ocorre para todas as gramíneas,com maiores problemas para o arroz deterras altas, pelo enraizamento superficiale pela menor eficiência na absorção denutrientes. A mesma afirmação é feita porSeguy et al. (1998), que recomendam, ainda,que o nitrogênio pode ser antecipado empré-plantio, aplicado na rebrota da biomas-sa, logo nas primeiras chuvas. Kitur et al.(1984) verificaram que mais de 50% do Nimobilizado encontrava-se na camada su-perficial de 5 cm, em que o teor de matériaorgânica e a atividade microbiana erammaiores, consumindo parte do N mineralque seria destinado à cultura principal.Entretanto, a população microbiana não semantém crescendo indefinidamente e, apartir do momento em que o carbono (C)facilmente oxidável desaparece e o sistemaem decomposição tiver a relação C:N menorque 25:1, começa a ocorrer liberação de Npara as plantas (SÁ, 1999).

A recomendação atual de adubação ni-trogenada para o arroz de terras altas, noPC de preparo do solo, varia de 15 a 60 kgde N ha-1 ( FAGERIA, 1998, STONE; SIL-VA, 1998) e, no PD, de 40 a 90 kg de N ha-1

(FAGERIA, 1998), dependendo da susce-tibilidade da cultivar ao acamamento e àbrusone. Entretanto, como a magnitude emque a imobilização afeta a disponibilidadedo N depende da relação C:N, da compo-sição e da quantidade de resíduos produ-zidos pela cultura anterior, a resposta doarroz de terras altas à adubação nitrogena-da no PD deverá ser diferente após umaleguminosa ou uma gramínea.

Guimarães et al. (no prelo) observaramque o arroz apresentou maior resposta àadubação nitrogenada após a pastagemque após a soja. Quando o N foi aplicadototalmente na semeadura, a produtividadeaumentou até a dose de 118 kg ha -1, apre-sentando o valor de 2.754 kg ha-1 , superiorem 153% à produtividade estimada no tra-tamento sem aplicação de N. A dose de adu-bação nitrogenada que propiciou a máximaeficiência econômica foi 100 kg de N ha-1,para uma produtividade de 2.713 kg ha -1,situando-se pouco acima do limite superior

da faixa de recomendação de Fageria (1998),para o PD, e acima da faixa de valores reco-mendados para o PC de preparo do solo(FAGERIA, 1998, STONE; SILVA, 1998).

Ehlers e Claupein (1992) observaramque nos anos iniciais do PD foi necessárioaplicar mais N para atingir os níveis deprodutividade do PC de preparo do solo.Entretanto, após alguns anos do PD, comadubações extras de N ou com a introduçãode leguminosas no sistema, a demanda e aeficiência da adubação nitrogenada nosdois sistemas aproximavam-se. Isto deveu-se à maior demanda de N na fase de im-plantação da cultura no PD, em função daimobilização m icrobiana d o n itrogênio(KITUR et al., 1984, HEINRICHS et al.,2001).

O aumento da produtividade com oincremento da dose de N pode ser explicadopelo aumento no número de panículas porm2, que apresentou resposta quadrática,segundo a equação Y = 92,9 + 1,187X -0,0039X2, R2 = 0,99**, com ponto de máxi-mo igual a 152 kg de N ha-1 , e pelo aumen-to no número de grãos por panícula, queapresentou resposta linear , segundo aequação Y = 101,7 + 0,201X, r2 = 0,92*.

A massa de 100 grãos diminuiu com oaumento da dose de N, segundo a equaçãoquadrática Y = 2,38 + 0,0001X – 0,00001X2,R2 = 0,98*, e a esterilidade de espiguetasapresentou resposta linear positiva às do-ses de N, segundo a equação Y = 16,8 +0,048X, r2 = 0,74*. Isto foi devido à maiorocorrência de brusone nas panículas. Asinfecções ocasionadas pela doença geral-mente ocorrem no primeiro nó abaixo dapanícula, necrosando os tecidos e estran-gulando o fluxo de carboidratos, o que com-promete o enchimento dos grãos (PRABHUet al., 1986). O N em doses elevadas inten-sifica a severidade da brusone (SANTOSet al., 1986). Estes autores afirmam tambémque a aplicação da totalidade do N no sul-co, por ocasião da semeadura, aumenta aseveridade da brusone, quando comparadacom a aplicação parcelada. Entretanto, nes-te experimento foi observado que a aplica-ção de todo o N na semeadura resultou em

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menor severidade da doença, comparati-vamente com as aplicações parceladas nasemeadura e em cobertura. A aplicação detodo o N na semeadura propiciou menoresterilidade de espiguetas, 18,2%, em rela-ção aos outros modos de aplicação, 22,5%e 21,4%, respectivamente.

A maior imobilização microbiana deN em solos com resíduos de alta relaçãoC : N na superfície, como na área de PDapós pastagem de Brachiaria, C:N ≥ 70(REZENDE et al., 1999), pode ter contribuí-do para a redução na esterilidade de espi-guetas, uma vez que a reciclagem de nutri-entes é mais vagarosa (FERNANDES et al.,1999). Isto pode explicar a menor ocorrênciade brusone, quando a adubação nitroge-nada foi aplicada totalmente na semea-dura.

O arroz cultivado após a soja apresen-tou índices de produtividade mais altos queapós a pastagem, entretanto respondeucom menor intensidade à adubação nitro-genada. Para esta condição, a produtivida-de e seus componentes, com exceção damassa de 100 grãos, só apresentaram res-posta significativa às doses de N. A produ-tividade média máxima foi de, aproxima-damente, 3.441 kg ha -1, para uma dose de107 kg de N ha-1, um aumento de produti-vidade de apenas 23% em relação à estima-da para a dose zero de N. O máximo eco-nômico foi de 68 kg de N ha -1, para umaprodutividade de 3.353 kg ha-1, situando-se, aproximadamente, no meio da faixa derecomendação proposta por Fageria (1998),para o PD. Neste experimento, a deman-da por N foi menor em virtude do cultivoter sido conduzido em área de soja, ondeocorre maior mineralização do nitrogênio.Segundo Wienhold e Halvorson (1999), oaumento na taxa de mineralização de N re-presenta um aumento do estoque destenutriente no solo na fórmula orgânica lá-bil. Solos com grande estoque de N lábilsão capazes de suprir a maior parte da de-manda da planta por N. Além do mais, esteN não se perde por lixiviação, o que explicao bom efeito da adubação aplicada total-mente na semeadura.

O aumento da produtividade com oincremento da dose de N pode ser explica-do pelo maior número de panículas por m2,que apresentou resposta quadrática, se-gundo a equação Y = 218,1 + 0,829X -0,0031X2, R2 = 0,87*, com ponto máximoigual a 134 kg de N ha-1.

O número de grãos por panícula, aocontrário d o o bservado a pós p astagem,apresentou tendência em diminuir com oaumento da dose de N, embora não tenhasido possível ajustar uma equação queexplicasse esta relação de maneira signi-ficativa. Como a cultivar Canastra, usadaneste experimento, perfilhou bem mais quea cultivar Primavera usada no experimentoapós pastagem, o que se refletiu no maiornúmero de panículas por m2, observa-seque esta redução está relacionada coma maior competição entre plantas com oaumento da dose de N. Santos et al. (1986)e Stone e Pereira (1994) também observa-ram redução no número de grãos por paní-cula com o aumento do número de panículaspor m2.

O PD de arroz após soja, apesar de maispropenso ao ataque de brusone, por seusresíduos apresentarem baixa relação C:N,16 a 23 (GILMOUR et al., 1998), comparati-vamente ao ambiente após pastagem, apre-sentou menor índice de esterilidade deespiguetas provavelmente em virtude depulverizações preventivas contra esta do-ença. Isto, contudo, não impediu o aumentoda esterilidade de espiguetas com o aumen-to d as do ses d e N , s egundo a e quaçãoquadrática Y = 13,9 – 0,006X + 0,0002X2,R2 = 0,99**.

A massa de 100 grãos não foi afetadasignificativamente pelos tratamentos, aocontrário d o o bservado a pós p astagem.Este comportamento diferenciado deveestar relacionado com as diferentes culti-vares utilizadas e suas reações à bruso-ne.

Ocorrência de doenças

Um assunto que merece atenção e pre-cisa ser estudado na cultura do arroz sobPD é a incidência de doenças. Segundo

Costamilan (1999), o PD concentra resíduosnos primeiros 10 a 15 cm de solo, aumentan-do, nesse perfil, a quantidade e a diversi-dade da população de patógenos de soloassociados a restos culturais. A manuten-ção de restos culturais na superfície do soloprolonga a viabilidade dos patógenos e suapermanência na área, pois retarda a decom-posição de resíduos, mantendo, por maistempo, a fonte nutricional. Por outro lado,o aumento do teor de matéria orgânica dossolos é importante, pois confere melhorescondições de resistência a danos de doen-ças e favorece a atividade microbiana, indu-zindo o desenvolvimento de populaçõesde microorganismos benéficos e de con-trole biológico.

Para a cultura do arroz, os fungos ne-crotróficos, ou seja, os que podem cau-sar maiores danos em PD, são os causa-dores da brusone ( Pyricularia grisea) eda mancha-de-grãos ( Drechslera oryzae,Phoma sorghina, Alternaria padwickii)(AZEVEDO, 2000). Azevedo (2000) afirmaainda que, além da grande capacidade desobrevivência em restos culturais, essespatógenos utilizam as sementes como meiode disseminação.

Dessa forma, a utilização de cultivaresresistentes às principais doenças é de fun-damental importância, para que a culturado arroz seja viabilizada nesse sistema.

PLANTIO DIRETODE ARROZ IRRIGADO

Na cultura do arroz irrigado em várzeas,o uso do PD passou a ser expressivo a par-tir do início da década de 80, principalmen-te após a criação do Clube do Plantio Dire-to com Cultivo Mínimo de Arroz Irrigado.A técnica teve boa aceitação no Rio Grandedo Sul, pois além de propiciar um bomcontrole do arroz vermelho, considerado omaior problema da orizicultura gaúcha pelasaltas infestações, proporciona vantagenscomo redução de cu stos de produção, se-meadura em época mais adequada e melhorintegração lavoura-pecuária (MENEZES etal., 1997). Resultados de trabalhos de pes-quisa e observações a campo concluíram

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que a redução dos níveis de infestaçãochegou a 85% com o uso do PD. Os bonsresultados iniciais obtidos fizeram com queatualmente a área plantada sob PD, com ocultivo mínimo, sofresse um bom incremen-to, estimando-se em, aproximadamente,40% da área total com a cultura no Rio Gran-de do Sul (AZAMBUJA et al., 1999).

Em experimento comparativo de arrozirrigado, média de três anos, nos PC, cul-tivo mínimo e PD, Gomes et al. (1995) con-cluíram que houve menor incidência deplantas daninhas no PD e no cultivo míni-mo, do que no PC. Estes autores atribuíramessa menor incidência ao não revolvimentodo solo por ocasião da semeadura e, possi-velmente, ao efeito alelopático da cober-tura v egetal. N este m esmo t rabalho, o srendimentos de grãos observados nestessistemas foram iguais ou superiores aoobservado no PC.

Segundo Sousa et al. (1995), o PD apre-senta variações, tais como: PD propria-mente dito, PD com preparo de verão e PDcom cultivo mínimo. O PD propriamente di-to é aquele em que a semeadura do arroz éfeita sobre a resteva de uma cultura anterior,pastagem ou flora de sucessão, dessecadapor herbicida de ação total, sem nenhumrevolvimento do solo. É especialmente indi-cado para áreas sistematizadas e que nãoapresentam problemas de irrigação e dre-nagem. No PD com preparo de verão, sãofeitas operações de aração, gradagens eaplainamento nos meses de janeiro a mar-ço. Após o preparo do solo, normalmenteé semeada uma pastagem de inverno, quese constitui em alimento de melhor qualida-de para a pecuária. Nesse período, os ani-mais podem permanecer sobre a pastagematé próximo à semeadura do arroz que érealizada entre os meses de setembro enovembro, sobre a cobertura dessecadacom herbicida de ação total. O PD com cul-tivo mínimo compreende o preparo reduzidodo solo, resumindo-se normalmente a duasgradagens leves e aplainamento do solo.As operações são feitas no final do invernoe/ou primavera com o objetivo principal deforçar a emergência das plantas daninhas,

especialmente do arroz vermelho, que sãocontroladas pelo uso de herbicidas de açãototal, antes da semeadura direta do arrozque normalmente é realizada 30 a 45 diasapós o preparo do solo.

Frizzo (1991) cita algumas operaçõesimportantes que devem ser realizadas parao PD e cultivo mínimo em arroz irrigado:

a) preparo do solo: as operações depreparo do solo são reduzidas a umaaração, uma ou duas gradagens e aspassadas de aplainadeiras que foremnecessárias para uma boa regulariza-ção do terreno. As irregularidadescomprometem o sistema. Realizadoo preparo do solo, nos meses de de-zembro a fevereiro, semeia-se o aze-vém e deixa-se a área em pousio atéa época da semeadura. Ressalta-seque quanto maior a cobertura ve-getal melhores serão os resultadosobtidos;

b) drenagem: os drenos devem serconstruídos nos locais adequadose com a capacidade de vazão sufi-ciente para eliminar o excesso de águadas chuvas no menor espaço de tem-po possível. Uma boa drenagem pos-sibilita a antecipação do plantio apósas chuvas e o estabelecimento deum bom estande de plantas;

c) adubação: diferentemente do PC, aadubação potássica não deve sermuito pesada no plantio, pois poderáafetar a germinação das sementes,por ser higroscópica, disputará umi-dade do solo em caso de déficit hí-drico;

d) herbicidas: deve-se aplicar um her-bicida total, de preferência sistêmi-co, no mínimo seis horas antes doplantio. Havendo plantas daninhasde difícil controle, esperar um prazomaior para sua efetivação. A dosa-gem varia de 1,5 a 2 L/ha, até cercade 6 L/ha, em função da vegetaçãoexistente, do clima e da umidade dosolo. Normalmente, uma aplicação ésuficiente, se a área for bem aplai-

nada e não se atrasar com a entradada água na lavoura, em torno de dezdias após o início da emergência dasplantas de arroz, mantendo-as quase“afogadas” por dois a três dias, bai-xando depois o nível da água, semretirá-la completamente, para evitara reinfestação. Daí em diante, a irri-gação passa a ser semelhante ao PC.Quando, por qualquer motivo, hou-ver reinfestação das plantas dani-nhas, recomenda-se a ap licação deum herbicida convencional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O aumento da área cultivada de arrozde t erras a ltas sob PD e sobretudo a suaperenização em sistemas agrícolas susten-táveis dependem da integração efetiva emsistemas de rotação e do envolvimento deoutras culturas, como soja, milho, pasta-gem, etc.

O PD sempre foi destacado por suasvantagens na conservação e recuperaçãodos solos. Na cultura do arroz irrigado, noentanto, a adoção do sistema é tida como asolução potencialmente capaz de minimizaras crescentes infestações do arroz ver-melho.

A utilização do arroz de terras altas emPD, como componente de sistemas agrí-colas sustentáveis, e o uso de PD em arrozirrigado poderão incrementar a área de cul-tivo e a produção desta cultura, tendo emvista os benefícios que este sistema de cul-tivo poderá proporcionar à orizicultura.

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1Engo Agro, D.Sc., Prof. UFLA - Dep to Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

O plantio direto do arroz de terras altastem sido considerado como não competi-tivo com o sistema convencional (aração egradagem), ou seja, na maioria dos casos,a produtividade de grãos obtida tem ficadoaquém da desejada. Tem-se observado quea p lanta a presenta p equeno d esenvolvi-mento do sistema radicular, com reduçãoda resistência à seca e menor número deperfilhos e de panículas por área, além dediminuir o desenvolvimento sobretudo du-rante a fase vegetativa.

Diversos trabalhos de pesquisa foramempreendidos na tentativa de solucionaresse problema. Entre eles, podem-se des-tacar o da adaptação do facão de corte daplantadeira para efetuar uma descompac-tação subsuperficial maior, o que facilita odesenvolvimento do sistema radicular daplanta, e o de variações de doses e épocas

de aplicação de nitrogênio (N), entre outros.O fato é que todos os trabalhos sugeremque a planta de arroz possui um sistemaradicular frágil e exige macroporosidade nosolo em detrimento da microporosidade eque o arroz de terras altas não é adaptadoao sistema de plantio direto, ao contráriodo arroz irrigado por inundação, onde osistema já é amplamente utilizado e combastante sucesso.

Quem planta arroz (lavoura ou áreaexperimental) já teve a oportunidade deobservar que as linhas de plantio situadassob as rodas do trator , que sofrem fortecompactação (sistema convencional), apre-sentam melhor germinação, maior vigorinicial e perfilhamento e, em geral, melhordesenvolvimento das plantas durante todoo ciclo. Ora, se estas importantes carac te-rísticas são favorecidas pela compactaçãodas rodas do trator, como o arroz de terrasaltas não se adapta ao cultivo sob plantio

direto? Muitos alegam que essa compac-tação aumenta o contato da semente como solo, facilitando a absorção da umidadedeste, o que acelera a germinação. Isso éverdade, mas não explica o desenvolvimen-to superior das plantas após o estádio deplântula, quando a absorção de nutrientesé intensificada. De modo tradicional, no-tadamente nas várzeas, os agricultoresrealizam u ma c ompactação l ogo a pós asemeadura, seja com rolo compactador, sejacom tronco de madeira, ou mesmo com ospés. O fato é que a planta de arroz respondepositivamente à compactação, contrarian-do seu desempenho inferior em cultivo sobplantio direto.

Trabalho de pesquisa de tese de douto-rado realizado na Universidade Federal deLavras (Ufla), utilizando cinco níveis decompactação combinados com três níveisde umidade, em dois solos, aluvial (várzea)e Podzólico Vermelho-Escuro, mostrou que

Desvendando o segredo do insucesso do plantio diretodo arroz de terras altas

Resumo - O plantio direto no Brasil para as principais culturas já é uma prática consolidada,sendo utilizado em mais de 40% da área cultivada, com tendência de crescer ainda mais.Infelizmente, o arroz de terras altas ainda não embarcou nesse novo sistema de plantio ea principal causa é a falta de competitividade com o sistema convencional. Várias tentativasde adequar o arroz de terras altas ao plantio direto já foram experimentadas, mas nenhumasolucionou por completo as deficiências do sistema, provavelmente, por não terem des-vendado a principal causa que limita a sua adaptação. Uma das hipóteses aventadas é a deque o principal fator limitante ao bom desempenho do arroz de terras altas ao sistema deplantio direto está relacionado com a incapacidade de a planta utilizar, na fase jovem, onitrogênio na forma de nitrato, com a conseqüente redução do sistema radicular, doperfilhamento e do desenvolvimento inicial dela. Supõe-se que, se o arroz de terras altasnão se adaptar ao sistema de plantio direto ficará marginalizado, visto que os agricultoresnão estão mais dispostos a efetuarem o revolvimento do solo.

Palavras-chave: Oryza sativa. Nitrogênio. Compactação de solo. Várzea.

Antônio Alves Soares1

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a compactação per si não é barreira para ocultivo do arroz de terras altas em plantiodireto.

Há um dito popular importante, que diz:“o arroz de terras altas só deve ser cultivadoem terra nova ou descansada e o milho emterra velha”. Observa-se que, para o milho,isso é facilmente explicável, pois ele neces-sita das devidas correções do solo e eleva-ção do pH para 6,0 a 6,5. Quanto ao arroz,em princípio, não há relação, pois ele é ape-nas mais tolerante a solos mais ácidos,onde a faixa ideal de pH varia de 5,5 a 5,8.Mesmo assim, após cultivos sucessivos,seu plantio tem de ser abandonado, diantedo péssimo desenvolvimento das plantase das baixas produtividades obtidas. Essaobservação vem ao encontro de um outrodito popular: “o arroz só deve ser cultivadopor dois anos em uma mesma área, quandoentão terá de deixar esta área descansar oumudar de cultura”. Por que o arroz apre-senta essa característica tão diferente dasoutras espécies?

Hoje, há um consenso entre os espe-cialistas de arroz de que a causa da bruscaqueda de produtividade deste cereal, apósdois cultivos sucessivos, é devida aos des-conhecidos efeitos alelopáticos, defini-dos como qualquer efeito prejudicial, diretoou indireto, de uma planta sobre a outra,através da produção de compostos quími-cos, liberados no meio (RICE, 1974 apudGUIMARÃES; BEVITÓRI, 1999). Em arroz,em que o efeito se faz sentir sobre o próprioproduto, o termo mais adequado é auto-toxicidade. Os ácidos fenólicos considera-dos como responsáveis pelos efeitos auto-tóxicos já foram descartados por Turanoe Ogana (1974 apud GUIMARÃES;BEVITÓRI, 1999), pois, segundo estes auto-res, esses ácidos são rapidamente decom-postos no solo pela ação dos microorga-nismos e não inibem especificamente ocrescimento radicular do arroz de terrasaltas. Além do mais, é inconcebível admitirque a natureza cometeria uma aberraçãodessas, ou seja, o arroz produzir aleloq uí-micos que inibissem seu próprio desenvol-vimento. Os efeitos al elopáticos de u ma

espécie sobre outras já estão bem estuda-dos e não há questionamento sobre eles;apenas no caso do arroz é difícil admitiressa autotoxicidade. Felizmente, as contes-tações de seus efeitos são maiores do queas comprovações.

Ao contrário do arroz de terras altas,no sistema irrigado por inundação contínuaou várzea úmida com solo saturado, os efei-tos alelopáticos são pouco percebidos, oque possibilita o cultivo sucessivo do arrozna mesma área por vários anos consecuti-vos, principalmente por pequenos produ-tores em áreas de brejo, onde o solo perma-nece saturado em quase todo o período decultivo. Daí, surge a dúvida: Por que o efei-to alelopático só tem significado no arrozde terras altas? Diante de todas as consi-derações anteriores, está, portanto, mon-tado o quebra-cabeça para desvendar essesfatos que es tão inter-relacionados.

ALELOPATIA OU NITROGÊNIO:O VILÃO DO ARROZ DETERRAS ALTAS

Tudo começou em uma propriedade nomunicípio de Capitólio, MG, onde se plan-tou uma cultivar de arroz de terras altas emvárzea (solo aluvial) bem drenada, há seisanos. Os efeitos da compactação dos pneusdo trator sobre as linhas de arroz sempreforam gritantes em comparação com aslinhas não compactadas (Fig. 1), mas issofoi aceito como melhor contato da sementecom o solo. Notou-se também que a produ-tividade era alta no primeiro ano de plantio,razoável no segundo ano e com decréscimoacentuado no terceiro; a partir do quartoano iniciava-se a rotação de culturas. Essesistema estava, portanto, dentro do triviale aceito como causa o efeito alelopático, apartir do segundo ano, e mais intensamen-te, a partir do terceiro ano.

Em uma área de 25 ha, por sinal muitofértil e anteriormente explorada com pasta-gens, iniciou-se o plantio de arroz em 2000/2001, repetindo-se o mesmo nos dois anosagrícolas subseqüentes, utilizando o siste-ma de plantio convencional. Nos dois pri-

meiros anos, não se procedeu adubaçãonitrogenada de cobertura, mesmo assim, asprodutividades foram excelentes (5 t/ha).No terceiro ano (2002/2003), realizou-se aadubação de cobertura, aplicando-se 90kg/ha de nitrato de amônio, 30 dias após aemergência. O fato é que o arroz não se de-senvolveu, ficou raquítico, não perfilhou,e o sistema radicular não cresceu, emboraas condições de distribuição e precipitaçãotenham sido excelentes. A primeira justifi-cativa foi o efeito da alelopatia (autotoxida-de) e, a segunda, a ocorrência de desnitrifi-cação por causa de chuvas intensas alter-nadas com período de sol, sem chuvas. Daío questionamento - Por que nos dois pri-meiros anos, em que as condições forambem semelhantes, as plantas desenvol-veram-se normalmente? Surgiu então, aidéia de aplicar uma segunda adubação ni-trogenada numa pequena área da lavoura,onde o arroz encontrava-se mais raquíti-co. Foram aplicados 120 kg/ha de N nu-ma área de 0,2 ha. Em resposta, as plantasrecuperaram-se intensamente, exibindo altaprodutividade (5 t/ha), ao contrário do res-tante da lavoura que produziu em médiamenos de 1 t/ha. Constatou-se que o nitro-gênio é o principal fator limitante da produ-tividade e não o efeito alelopático. Dado oprimeiro passo, resta explicar como todoesse processo ocorre.

ABSORÇÃO E UTILIZAÇÃODO NITROGÊNIO PELO ARROZ

Realizou-se, a partir de então, um traba-lho de pesquisa bibliográfica na tentativade esclarecer as inter-relações de terra no-va, terra velha, compactação (pneu do tra-tor), nitrogênio e planta de arroz.

A primeira avaliação foi a de que o pre-paro do solo, através de aração e gradagem,promove a incorporação da matéria orgâni-ca e aeração do solo, acelerando, assim, oprocesso de mineralização da matéria orgâ-nica pelos microorganismos aeróbicos, coma conseqüente disponibilização de gran-des quantidades de nitrogênio para o arroz.A disponibilidade de nitrogênio é máxima

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no primeiro ano, razoável no segundo e bai-xa a partir do terceiro ano. Isso explica aredução de produtividade de grãos no se-gundo ano e uma queda brusca a partir doterceiro ano. Portanto, recomenda-se deixara terra descansar (pousio), para acumularnovamente matéria orgânica e, assim, voltara plantar arroz. Esse procedimento já é roti-neiramente praticado pelos agricultores.

A grande questão que surge é por queesse processo ocorre mais acentuadamen-te com a cultura do arroz, enquanto outrasespécies cultivadas sofrem pequenas re-duções de produtividade, ocasionadasmais pelo monocultivo do que pela queimada matéria orgânica. Vejam por exemplo, ocaso do milho que mantém produtividadessatisfatórias por anos seguidos de cultivo.Em que então o arroz difere das outras espé-cies? Todo esse imbróglio sugere, em prin-cípio, uma capacidade diferencial de absor-ção de formas diferentes de nitrogênio. Vá-

rios autores como, De Datta (1981), Fageria(1984, 1999), Barbosa Filho (1987), FornasieriFilho e Fornasieri (1993), Ribeiro et al. (1999)afirmam que o arroz absorve nitrogênio tan-to na forma amoniacal (NH +

4 ), quanto nanítrica (NO−

3 ), não havendo diferença entreelas. Entretanto, a forma nítrica é ligeira-mente mais eficiente para o arroz de terrasaltas, podendo-se então aplicar fertilizantescontendo qualquer uma das fontes. Essedogma da eqüidade de eficiência de absor-ção de nitrogênio, tanto na forma de amô-nio como na de nitrato, dificultou esclarecero provável diferencial do arroz em relaçãoàs outras espécies.

Malavolta (1980) relata que um hectarede solo possui, na profundidade de 30 cm,entre 1.000 kg e 1.500 kg de nitrogênio totale que quase todo esse nitrogênio está naforma orgânica; a fração mineral, geralmen-te nitrato e um pouco de amônia, correspon-de a apenas 25 kg. Malavolta (1980) afirmaainda que a maior proporção de nitrogê-nio orgânico do solo está ligada à ligninacomo um complexo ligno-protéico. Portan-to, as transformações sofridas pelo nitrogê-nio orgânico através de microorganism ostornam o nitrogênio disponível para asplantas. Esse mecanismo pode ser resumi-do em:

ProteínaProteólise

(microorganismos)Aminoácidos

Desaminaçãohidrolítica

Amônia +outros

compostos(microorganismos)

Figura 1 - Efeito da compactação dos pneus do trator nas linhas de plantio sobre a germinação, estande, vigor e desenvolvimento dasplantas de arroz

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64 Arroz: avanços tecnológicos

A amônia e, por conseguinte o N-NH+4 , é, assim, a primeira forma disponível para as

plantas. Entretanto, um outro fenômeno que se processa com rapidez nas condiçõesaeróbicas de solo, principalmente por bactérias autotróficas (Nitrosomonas e Nitrobacter),é o da nitrificação, que consiste em oxidar o nitrogênio amoniacal a nitrato (MALAVOLTA,1980, DE DATTA, 1981, YOSHIDA, 1981, FAGERIA, 1984, 1999, LEÓN; ARREGOCÉS,1985, BARBOSA FILHO, 1987).

Assim, o nitrato torna-se a forma química de nitrogênio mais abundante no solo etambém a mais absorvida pelas plantas.

O processo de nitrificação do nitrogênio amoniacal (N-NH +4 ) ocorre da seguinte for-

ma (MALAVOLTA, 1980):

dades com mudanças no pH da solução.Quando NH +

4 e NO −3 estão disponíveis, a

planta de arroz prefere NH +4 e o pH da so-

lução diminui. Entretanto, posteriormente,o pH da solução aumenta, quando NO −

3 éabsorvido. O mecanismo ocorre da seguin-te forma: quando o arroz absorve cátion dasolução, um íon de hidrogênio é lançadoda raiz para manter a neutralidade elétri-ca na solução. Como conseqüência, o pHda solução abaixa. Por outro lado, quan-do ânion é absorvido da solução, um íonbicarbonato é lançado da raiz. Esse íon com-bina com o de hidrogênio para formar ácidocarbônico indissociável, liberando o íon hi-droxila. Em conseqüência, o pH aumenta.O efeito secundário das alterações do pH,tais como deficiência de ferro para valoresaltos de pH, algumas vezes dificulta conclu-sões seguras.

Numa revisão realizada por Yoshida (1981),foi constatado que nos estádios iniciais dedesenvolvimento e com o teor de N acimade 200 ppm, a planta de arroz desenvolve-se melhor com N-NH +

4 do que com N-NO−3 ,

embora cucurbitáceas t enham comporta-mento oposto. Após o início da diferen-ciação da panícula e com teor de 100 ppm

de N, o nitrato é a melhor fonte de nitrogêniopara o arroz do que a amônia. A 20 ppm deN, todavia, a amônia é tão eficiente quan-to o nitrato. Assim, em níveis reais de con-centração de N no solo, o N- NH +

4 pareceser melhor ou t ão bom quanto o ni trato,considerando todo o ciclo de desenvol-vimento da planta. A melhor utilização doN-NH +

4 pelo arroz em relação ao N-N O −3

é relatada também por León e Arregocés(1985).

Yoshida (1981) relata ainda que o arroztem preferência na absorção da amônia aonitrato, na solução que contém ambos, em-bora o oposto ocorra para outras espécies(Gráfico 1). E ra ízes excisadas de plântu-las de arroz absorvem amônia cinco a vintevezes mais rápido do que nitrato, dependen-do do pH da solução. Com planta intacta, oarroz também absorve amônia mais rapi-damente que o nitrato. Embora o arroz tenhapreferência pela amônia, ele não a acumulanos tecidos da folha; ela é convertida emasparagina. Por outro lado, tecidos de plan-tas de arroz acumulam nitrato, quando aconcentração dessa forma na solução é alta.Isso sugere que a planta de arroz tem baixacapacidade de reduzir o nitrato à amônia.Cabe ressaltar que o nitr ogênio só é utili-zado na planta na forma reduzida; na for-ma oxidada como é o caso de nitrato, não éaproveitado. Além do mais, a planta de arrozterá de produzir ácidos orgânicos paraneutralizar cátions acompanhantes do ni-trato (MALAVOLTA, 1980), constituindo-se, portanto, em mais um ônus para oarroz.

Em bioenergética, a assimilação do ni-trato requer mais energia que a da amônia,porque o nitrato deve ser reduzido à amô-nia na planta. A relação estequiométricapara síntese de proteína, a partir das duasformas, é fornecida pelas seguintes equa-ções (PENNING DE URIES; LAAR, 1977apud YOSHIDA, 1981):

NitrosomonasN-NH +

4 + 1,5 O2 N-NO −3 + H2O + 2H+ + energia⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯→

NitrobacterN-NO + 1,5 O2 N-NO −

3 + energia⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯→

Desse modo, o N-NH , oriundo tantoda decomposição da matéria orgânica, quan-to de fertilizantes, quando aplicado ao solona presença de oxigênio, é rapidamentenitrificado a nitrato.

No caso do arroz de várzea (solo inun-dado ou saturado), o meio predominante éo anaeróbico, logo a nitrificação é minimi-zada e só ocorre nos primeiros centímetrossuperficiais do solo, onde há presença deoxigênio. Nessas condições, há grande pre-dominância de N-NH +

4 , mesmo porque oN-NO −

3 seria desnitrificado. Observa-se que,assim, não há queda brusca da produ ti-vidade a partir do terceiro ano consecuti-vo de plantio. Tudo leva a crer que o pontofundamental da queda de produtividade doarroz de terras altas está relacionado com adiminuição do teor de N-NH +

4 , sugerindoque essa forma é mais bem aproveitada emrelação ao N-NO −

3 . Na literatura, como men-cionado, relata-se que o arroz não tem pre-ferência por uma das formas e que ambassão igualmente eficientes.

Segundo Yoshida (1981), estudos paradeterminar a eficácia relativa do N-NH +

4 edo N-NO−

3 como fonte de nitrogênio parao arroz, freqüentemente enfrentam dificul-

1 g glicoce + 0,125 g NH+4 + 0,137 g O2 → 0,616 g proteína + 0,256 g CO2 + 0,386g H2O

1 g glicoce + 0,276 g NO −3 + 0,174 g O2 → 0,404 g proteína + 0,673 g CO2 + 0,373g H2O

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A chave de todo esse imbróglio, queparece esclarecer as diferenças de eficiên-cia do N-NH +

4 e do N-NO −3 para a cultu-

ra do arroz, foi encontrada em Malavolta(1980). Segundo esse autor, “o arroz, tantoo de sequeiro quanto o irrigado, nas duasou três primeiras semanas de vida, quandocultivado em solução contendo N-N O −

3 ,desenvolve-se muito pouco, apresentandosintomas típicos da falta de N, o que nãoacontece, se o N-NH +

4 for a fonte de nitro-gênio; entretanto, aos poucos começa a sedesenvolver e suas fo lhas, antes amarela-das pela falta de N, tornam-se verdes, oque indica síntese e funcio namento daredutase do nitrato”. No processo de redu-ção do nitrato à amônia, denominado re-dução assimilatória do nitrato, é essenciala presença da enzima redutase do nitrato.Assim, a ausência ou a baixa disponibili-dade dessa enzima, no primeiro mês de vidada planta, faz com que o N-NO −

3 não sejaaproveitado pelo arroz.

A deficiência de nitrogênio nesta fasede desenvolvimento da planta comprometea lavou ra, pois pre judica o desen volvi-mento da parte aérea, reduz a competitivi-

dade com as plantas daninhas, o crescimen-to do sistema radicular e provoca intensaredução do número de perfilhos. Com oavanço e desen volvimento da cultura, aplanta passa a produ zir a enzima redutasedo nitrato e a deficiência de nitrogênio ten-de a desaparecer, mas o prejuízo inicial épraticamente irreversível, comprometendoo potencial produtivo do arroz. Certamente,o desconhecimento dessa informação cau-sou muita confusão nos estudos de avalia-ção de eficiência de uso de nitrogênio naforma amoniacal e nitrato. Esse atraso nasíntese da redutase do nitrato é bastanteevidenciado em lavouras de pequenos agri-cultores em condições de várzea úmida,onde, muitas vezes, não se realiza fertili-zação, ou seja, as lavouras, quando jovem,permanecem amareladas, mas depois dealgum tempo tornam-se verdes, sem nenhu-ma aplicação de nitrogênio, o que indica oaproveitamento do N-NO−

3 .Uma q uestão q ue s urge é p or q ue a

planta de arroz possui essa característica?Uma hipótese que pode ser aventada é ade que o arroz é uma planta de origem hi-drófila, logo, evoluiu em um ambiente comgrande abundância de água, em um meioredutor, onde havia predominância de ni-trogênio amoniacal. Dessa forma, sob baixaconcentração de nitrato no meio, a plantajovem do arroz não desenvolveu o mecanis-mo de redução do nitrato, uma vez que oambiente era rico em amônia e a demandainicial baixa. Com o crescimento da planta,a demanda por nitrogênio é maior e a plantateve de lançar mão do nitrato, desenvol-vendo, portanto, o mecanismo de aprovei-tamento dessa forma de nitrogênio, aindaque tardiamente.

NITROGÊNIO ESUSTENTABILIDADE DOARROZ DE VÁRZEA

Após essa fund amentação, tornou-sepossível compreender os mecanismos queinfluenciam o desenvolvimento do a rrozsob várias condições de cultivo, bem comoa sustentabilidade delas em anos sucessi-vos de cultivo. Inicialmente, será discutido

Portanto, a assimilação do N-N O −3 é

menos vantajosa do ponto de vista ener-gético que a do N-NH +

4 .Em plantas superiores, incluindo o arroz,

a redução de nitrato ocorre predominante-mente nas folhas sob luz. Sob alta lumino-sidade, em que a taxa de difusão do CO2 éque limita a taxa de fotossíntese global, aenergia requerida para redução do nitratopode ser fornecida pela energia excedenteproduzida pela reação fotoquímica na fo-tossíntese. Neste caso, a redução do nitra-to processa-se livre de custo, ou seja, semconsumo de assimilados para gerar a ener-gia requerida. Entretanto, sob baixa lumi-nosidade, a redução do CO2 (reação escura)e do nitrato é provavelmente competitiva.Sob tais condições, a taxa de assimilaçãodo nitrato em nitrogênio orgânico pareceser mais lenta em arroz (DIJKSHOOSN;ISMUNADJI, 1972 apud YOSHIDA, 1981).Fica evidente, portanto, que dias claros,límpidos, com alta luminosidade favorecemintensamente o aproveitamento do nitrogê-nio absorvido na forma de nitrato sem con-sumo de assimilados, o que contribui parao aumento de produtividade.

Gráfico 1 - Absorção seletiva de amônia e nitrato em solução nutritiva

FONTE: Tadano e Tanaka (1976 apud YOSHIDA, 1981).

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o caso do arroz irrigado por inundação con-tínua. Em geral, não se dá muita importânciaao efeito da a lelopatia/autotoxidade noscultivos em campos de arroz irrigado, coma justificativa de que nesse sistema, o re-ferido efeito é pequeno, possibilitando cul-tivos sucessivos por anos consecutivos.À luz dos conhecimentos, é pro vável quea predominância da fonte de N-N H +

4 e apequena perda de nitrogênio por desnitri-ficação sejam a causa da maior sustenta-bilidade do plantio em campos inundados.De Datta (1985) relata que a disponibilidadede nitrogênio em solos inundados é maisalta que em solos não inundados. Isto por-que, embora a matéria orgânica seja mine-ralizada a uma taxa mais lenta em solosanaeróbicos do que aeróbicos, a quanti-dade líquida mineralizada é maior, porquemenos nitrogênio é imobilizado. Dessa for-ma, associando-se maior quantidade de ni-trogênio mineralizado (líquida) com menorperda por desnitrificação e predominânciada forma amoniacal, é possível compreen-der o melhor desenvolvimento do arroz e amaior sustentabilidade em campos inun-dados.

Deve-se acrescentar também que o pre-paro do solo através de aração e gradagem,com certa antecedência ao plantio e à inun-dação do tabuleiro, provoca redução doteor de matéria orgânica do solo pela de-composição aeróbica que é bastante inten-sa. Essa prática a curto prazo aumenta adisponibilidade de nitrogênio, mas a médioe longo prazos, reduz a principal fonte denitrogênio para o arroz, que é a matéria orgâ-nica. Lavouras de arroz fertilizadas obtêmde 50% a 80% de seu nitrogênio requeri-do do solo; lavouras não adubadas obtêmuma proporção muito maior, principalmenteatravés de mineralização de fontes orgâni-cas. Assim, o arroz depende primariamentede fontes orgânicas para obter seu nitro-gênio (KOYAMA, 1975, BROADBENT,1979 apud DE DATTA, 1981). Para produ-ção de uma tonelada de g rãos na culturado arroz irrigado são necessários somente

para a parte aérea 22,5 kg de N (FAGERIA,1999). Portanto, para uma produtividadede 8 t/ha são necessários 180 kg/ha de N.Considerando uma adubação nitrogenadacom 120 kg/ha (600 kg/ha de sulfato deamônia, por exemplo) e um aproveitamentode 40% de N aplicado (eficiência de apro-veitamento não ultrapassa 30% a 40%,segundo Barbosa Filho (1987) e Fageria(1984), ou seja, 48 kg), será necessário queo solo forneça 132 kg/ha de N (73% dototal necessário). I sso explica o fracassodo Provárzeas em várias regiões do País,após oito a dez anos de sua impla ntação.Um exemplo, que pode ser citado, é o doPolder de Careaçu, no Sul de Minas Gerais,onde as produtividades no início da implan-tação do Projeto eram de, aproximadamente8 t/ha, mas, depois de oito anos consecuti-vos de plantio, não ultr apassaram 3 t/ha,levando ao abandono da exploração orizí-cola. Obviamente que faltou ori entaçãotécnica sobre m anejo, rotação de cult urasetc.

No caso do arroz de várzea úmida oudrenada, sem irrigação, a questão do nitro-gênio é muito mais crítica. Primeiro, porqueos constantes preparos de solo causamaeração e decomposição rápida da matériaorgânica, reduzindo assim o reservatórionatural de nitrogênio; segundo, porque asfreqüentes alternâncias de encharcamento,ocasionadas por altas precipitações, segui-das de drenagens, causam intensa desni-trificação. Reddy e Patrick (1975 apud DEDATTA, 1981), relatam que a maior perdade nitrogênio por desnitrificação ocorrenum ciclo aeróbico-anaeróbico de doisdias, quando comparado com ciclos maislongos.

Assim, o N-NH +4 , oriundo primariamen-

te da decomposição da matéria orgânicaem condições aeróbicas, rapidamente, so-fre nitrificação a N-NO −

3 , que, em seguida,é perdido por desnitrificação, caso ocorraencharcamento do solo, o que é muito co-mum em várzea, devido à lenta drenagem.O resultado é uma alta deficiência de nitro-

gênio nas lavouras de arroz que apresen-tam coloração amarelada, plantas raquíticase um sistema ra dicular pouco desenvolvi-do. Essa deficiência só não é observadanos dois primeiros anos de cultivos, quan-do o alto teor de matéria orgânica do soloconsegue suprir de n itrogênio as exigên-cias das plantas. Esse período pode sermais longo, dependendo do teor de matériaorgânica do solo, da acidez, da temperatura,da umidade, aeração, número de gradagensetc.

EFEITO BENÉFICODA COMPACTAÇÃO PELOSPNEUS DO TRATOR

Voltando ao efeito benéfico da compac-tação das rodas do trator para germinação,vigor e desenvolvimento das plantas, ahipótese que surge é que a compactaçãodo solo reduz a aeração pela menor difu-são do oxigênio atmosférico. Isso implicaem menos n itrificação e , possivelmente,menor imobilização. Em conseqüência, hámaior conservação do N-NH +

4 , que é a for-ma de nitrogênio mais aproveitada pelasplantas de arroz na fase jovem, e menor per-da por desnitrificação, uma vez que a ve-locidade de transformação do nitrogênioamoniacal a nitrato (nitrificação) é menor.Além do mais, a compactação superficialna linha do arroz reduz a perda de umi-dade do solo que sobe por capilaridade. Éinteressante ressaltar que plantas jovens deoutras espécies, eficientes na utilização donitrato, como milho, sorgo, soja etc., nãoexibem d iferenças a centuadas e ntre a slinhas compactadas pelo pneu do trator eas não compactadas, corroborando essahipótese.

EFEITO DO NITROGÊNIOSOBRE O PLANTIO DIRETO

Quanto ao plantio direto do arroz deterras altas ou de sequeiro, são efetuadasas seguintes observações: entre as culturasprodutoras de grãos mais importantes do

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67Arroz: avanços tecnológicos

País, a do arroz de terras altas é a única quenão está sendo usada em larga escala nosistema de plantio direto, cujas razões jáforam mencionadas; como mais de 40% daárea cultivada no Brasil, j á é sob p lantiodireto, com tendência a crescimento, e osprodutores não estão dispostos a efetuarrevolvimento de solo, para não desestabi-lizar o sistema, o arroz de terras altas teráde se adaptar a essa modalidade de plan-tio ou ficará marginalizado. Diante dessequadro, é que se têm buscado novas tecno-logias ou ajustamento das existentes, como intuito de tornar o arroz de terras altasuma alternativa viável no sistema agrícola,participando na rotação de culturas atravésde plantio direto.

Ao que parece, todas as tecnologias jádesenvolvidas não foram suficientes paraconvencer os agricultores de terras altas aadotarem o plantio direto como um sistemade semeadura rotineiro, mesmo porque apesquisa ainda não recomenda esta se-meadura. Certamente, o ponto fundamentalque prejudica o bom desempenho do arrozde terras altas, no sistema de plantio direto,ainda não foi atacado. Tudo leva a crer quea principal barreira pode estar relacionadacom a disponibilidade e uso do nitrogêniodurante a fase jovem de desenvolvimentoda planta. No sistema de cultivo inundado,o plantio direto é adotado sem restrições eé um dos mais utilizados, hoje, no Rio Gran-de do Sul. Pelo que já foi discutido anterior-mente, a diferença básica entre o arroz deterras altas e o irrigado, além da farta dispo-nibilidade de água deste último, está naforma predominante do nitrogênio no solo,que é de nitrato no sequeiro e de amôniono irrigado. Obviamente, que a inundaçãodo solo provoca uma série de alteraçõesfísicas, biológicas e químicas, mas não pa-recem ser elas a vertente do sucesso ouinsucesso do plantio direto.

O ponto que será discutido refere-seapenas ao nitrogênio. Na ausência de re-volvimento do solo por aração ou grada-gem, ocorre um acúmulo gradual de matéria

orgânica na superfície do solo com o passardos anos, seja pelos restos culturais, sejapela v egetação n ativa m orta, p astagem,dejetos animais etc. Esse acúmulo de ma-téria orgânica ocorre simplesmente pelofato de os microorganismos terem menorcontato com a massa vegetal, ou pela de-composição lenta realizada pelos microor-ganismos a naeróbicos n os a mbientes d ebaixo arejamento. Dessa forma, no perfildo solo, forma-se um gradiente diferencialde acúmulo de matéria orgânica, sendo ricana superfície, intermediária na camadasubsuperficial e pobre nas camadas maisprofundas. Com o revolvimento do solo,inverte-se esse gradiente, areja o solo, ocor-re decomposição rápida da matéria orgâ-nica, redundando em alta disponibilidadede nitrogênio amoniacal para o arroz. Sóque esse processo não é sustentável, poisem dois anos a maior parte dessa matériaorgânica é mineralizada e passa, então, apredominar no solo (camada de 0-20cm)nitrogênio químico quase que exclusiva-mente na forma de nitrato. Essa é a principalrazão de o arroz de terras altas só produzirbem nos dois primeiros anos, como já co-mentado.

No sistema de plantio direto, não hárevolvimento de solo, a densidade é maiore a aeração menor, implicando numa lentadecomposição da matéria orgânica do solo,com a conseqüente l iberação lenta de ni-trogênio amoniacal. O mais grave é que opouco N-NH +

4 produzido na mineralização,se não for absorvido pela planta, é imobi-lizado pelos microorganismos ou rapida-mente nitrificado a nitrato, uma vez que nasuperfície do solo o meio é rico em oxigênio.Assim, no plantio direto, sobretudo nosseis primeiros anos de implantação dosistema, quando a imobilização do carbono,por conseguinte a do nitrogênio, é maiordo que a mineralização (SÁ, 1999), o arrozsofre intensa carência de nitrogênio amo-niacal, visto que, no primeiro mês de vida,a planta não produz a enzima redutase donitrato, ou, se a produz, é em quantidade

insuficiente para reduzir o nitrato. Essa de-ficiência afeta fortemente o desenvolvi-mento radicular, o perfilhamento e o desen-volvimento inicial do arroz. A menor inci-dência de brusone em arroz de terras altasno sistema de plantio direto em relação aoconvencional detectada por Mo ura Neto(2001), também reflete a menor disponibi-lidade de nitrogênio para a planta, uma vezque esse elemento potencializa a ocorrên-cia da referida enfermidade (BARBOSAFILHO, 1987).

Na avaliação do conteúdo de nitrogêniomineral (N-NH +

4 e N-NO −3), em amostras de

terra coletadas em várias profundidades deum Latossolo Vermelho-Escuro, cultivadodurante dez anos sob plantio direto e pre-paro convencional, Sá (1999) observou umcomportamento diferenciado para os siste-mas de manejo, que foi assim resumido: nacamada de 0-7 cm, o nitrogênio mineral nosdois sistemas de manejo foi representa-do pelo N-NO −

3 , e os valores obtidos noplantio direto foram quase três vezessuperiores a os e ncontrados s ob p reparoconvencional ao final de dez semanas deincubação. Nessa camada, o pH, o conteú-do de matéria orgânica e de bases trocá-veis era mais elevado do que no preparoconvencional, favorecendo maior atividadede microorganismos nitrificadores. Poroutro lado, nas camadas abaixo de 30 cmpredominou a forma amoniacal nos doissistemas de manejo. Nesse caso, a acidezelevada seria o fator que limitaria a atividadedos nitrificadores, não impedindo contudoa ação dos amonificadores.

Dessa constatação, pode-se especularque a preferência do arroz de terras altaspor solos ligeiramente ácidos (pH entre 5,5e 5,8) pode estar mais relacionada com amaior disponibilidade do N-N H +

4 no solopela ação limitada dos microorganismosnitrificadores, sem prejuízo dos amonifi-cadores, do que a própria acidez per si, quereduz a disponibilidade de vários nutrientese aumenta toxidez por alumínio, corroboran-do, portanto, a melhor utilização do nitro-

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gênio amoniacal pelo arroz na fase juvenil.Certamente, que a maior disponibilidade doN-NH +

4 em solos ácidos induziu o arroz deterras altas a desenvolver um mecanismode melhor adaptação ou tolerância a essessolos. No caso do arroz irrigado por inun-dação, o pH estabiliza-se depois de trêssemanas de inundação em 6,5-7,0. Contudo,o alto pH não prejudica o desenvolvimentodo arroz, uma vez que nessa modalidadede cultivo predomina o N-NH +

4 .Sintetizando, a situação ideal para o

arroz de terras altas no plantio direto se-ria aquela em que o sistema já estivesseestabilizado por oito a dez anos, quando aimobilização do nitrogênio é menor que amineralização, e os solos fossem levementeácidos, onde a nitr ificação é inferio r àamonificação. Com isso, aumentaria tantoa disponibilidade, quanto a predominânciado N-NH +

4 para o arroz.Olofintoye (1983 apud MOURA NETO,

2001), que observou o comportamento dacultura de arroz de terras altas sob os sis-temas de plantio direto e convencional pordois anos, constatou menor altura e plan-tas menos vigorosas nos estádios iniciaisde desenvolvimento sob plantio direto emrelação ao convencional. Observações se-melhantes também foram relatadas porOgunremi et al. (1986 apud MOURA NETO,2001), em que afirmam ser o fraco desempe-nho nas fases iniciais, no plantio direto,devido à imobilização do nitrogênio apli-cado pelos microorganismos, na decom-posição da cobertura morta. Relatam aindaque as diferenças na altura de plantas vãodiminuindo, à medida que se aproxima afase de f loração, motivadas pela segundacobertura nitrogenada e pela disponibili-dade de nutrientes oriundos dos resíduosdecompostos. Embora estes autores utili-zem outros fundamentos para justificar asdiferenças de desempenhos nos dois siste-mas de plantio (direto e convencional), osresultados vêm confirmar tudo que foi dis-cutido sobre disponibilidade e uso de nitro-gênio na fase jovem e mais tardia, quando

o arroz produz a enzima redutase do ni-trato.

Os cultivos sob plantio direto apresen-tam maior compactação, maior adensamen-to, menor macroporosidade e maior micro-porosidade. Portanto, está sujeito à menoraeração, e mesmo chuvas com menos inten-sidade p odem c ausar d esnitrificação d onitrato, reduzindo sua disponibilidade parao arroz nos estádios mais avançados dedesenvolvimento. Isso exige uma atençãomaior, quanto ao manejo do nitrogênio, co-mo época de aplicação, doses e fonte doelemento.

O plantio direto do arroz de terras altas,que, hoje, é pouco utilizado por não ser acurto prazo competitivo com o convencio-nal, a médio e longo prazos é a melhoralternativa de produzir com sustentabi-lidade esse cereal em solos bem drenadose arejados. Isso porque o aumento da ma-téria orgânica, ao longo do tempo, no sis-tema estabilizado, é a forma mais correta deprover um fluxo contínuo de nitrogênioamoniacal às plantas de arroz no início dodesenvolvimento da lavoura. Pesquisarealizada por Moura Neto (2001), com oobjetivo de avaliar o desempenho de cul-tivares e linhagens de arroz de terras altasnos sistemas de plantio direto e convencio-nal, em uma área onde se praticava plantiodireto intensamente nas safras e entressa-fras, durante 14 anos consecutivos, mos-trou que as produtividades médias dos 14materiais, comuns aos dois anos agrícolas(1998/1999 e 1999/2000), foram de 5.606 e5.608 kg/ha, respectivamente. Esse resul-tado corrobora o potencial do plantio diretopara o arroz de terras altas a médio e longoprazos.

Fageria (1999) relata que para produ-zir uma tonelada de a rroz de t erras a ltassão necessários 47 kg de nitrogênio somen-te para a parte aérea. Assim, para uma pro-dutividade de 4 t/ha serão necessários 188kg/ha de nitrogênio. Supor uma adubaçãonitrogenada de 60 kg/ha, quantidade re-comendada por Ribeiro et al. (1999) e uma

eficiência de aproveitamento de 40% donitrogênio aplicado, ou seja, 24 kg. P araesse nível de produtividade, as plantas te-rão de extrair do solo 104 kg/ha de nitro-gênio, representando, portanto, 87% dototal absorvido. Isso evidencia por que, amédio e longo prazos, somente o sistemade plantio direto tem condições de acumularmatéria orgânica e suprir o arroz de terrasaltas de suas necessidades de nitrogênio,sobretudo, o amoniacal na fase inicial dedesenvolvimento. Assim, desfaz-se o pa-radoxo de que o arroz de terras altas não seaplica ao sistema de plantio direto. Hoje, oinsucesso do plantio direto do arroz deterras altas é atribuído à incapacidade de osistema radicular romper-se em solos maiscompactados. Realmente, a maior compac-tação do solo no plantio direto é barreiramecânica para um melhor desenvolvimen-to do sistema radicular , mas isso é válidopara todas as espécies. Seguramente, queplantas jovens de arroz, bem nutridas deN-NH +

4 , terão a mesma habilidade que outrasespécies, para se desenvolver em solos demaior densidade. Pode-se especular tam-bém que plantas fixadoras de nitrogênio,como a soja por exemplo, têm maior habi-lidade de adaptar ao planti o direto, vistoque o nitrogênio é um elemento importan-te para o desenvolvimento radicular dasplantas.

SUGESTÕES DE MANEJODO NITROGÊNIO NOPLANTIO DIRETO

Muitas pesquisas, certamente, deverãoser realizadas para comprovar e aprimoraresse referencial e as hipóteses aventadas.Todavia, para aqueles que já p raticam oplantio direto em terras bem drenadas oupretendem adotar o sistema, uma sugestãoempírica, com relação à fertilização nitro-genada, é aplicar no sulco e ao lado das fi-leiras do arroz fontes amoniacais em quatroparcelas, ou seja, no plantio, aos 15, 30 e45 dias após a semeadura, empregando a

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dosagem de 20 a 30 kg/ha de nitrogênio,dependendo do solo, cultivar , regime dechuvas etc. O parcelamento sugerido é umamaneira de prover um fluxo contínuo denitrogênio amoniacal no período em que oarroz não produz a enzima redutase donitrato. Recomenda-se também, sempreque possível, efetuar o plantio mais cedo,para fugir dos períodos de alta precipita-ção, que provocam intensas perdas denitrogênio por desnitrificação, no momentoem que o arroz mais demanda esse elemen-to, que é a partir da diferenciação do primór-dio floral. Para os atuais e futuros usuáriosdo plantio direto no cultivo do arroz de ter-ras altas, recomenda-se não mais revolvero solo, pois só assim, os produtores vãoimitar a natureza e ter para sempre uma ter-ra nova, apta para o cultivo sustentável doarroz de terras altas ou de várzeas drenadas.O acúmulo de matéria orgânica no solo emcultivo sob plantio direto é lento, portanto,o produtor não deve esperar uma respos-ta rápida e imediata. Deve ter paciência,porque, aos poucos, a produtividade vaiaumentando até estabilizar-se no níveldesejado.

Uma a lternativa importante, para darmaior sustentabilidade ao arroz de terrasaltas, seria a utilização de nitrogênio amo-niacal revestido, que já vem sendo usadoem vários países e tende a reduzir as perdasdesse elemento pela liberação gradativa donitrogênio no solo. O nitrogênio revestidojá foi disponibilizado no Brasil comercial-mente, mas sua baixa utilização inibiu suaimportação e, hoje, não está mais dispo-nível. Contudo, se houver demanda, asimportações poderão ser retomadas, princi-palmente se a pesquisa recomendar o seuuso.

Malavolta (1953 apud MALAVOLTA;FORNASIERI FILHO, 1983), obteve maio-res produções de matéria seca em umacultivar de arroz de terras altas, quandoforneceu N-NO −

3 , do que quando usouN-NH +

4 , desde que o primeiro fosse acom-

panhado de níveis m ais altos de molibdê-nio. P ortanto, a s íntese d a r edutase d onitrato é induzida pela presença desse mi-croelemento. Assim, pesquisas nessa áreadevem ser empreendidas para antecipare/ou aumentar a quantidade da referidaenzima na planta jovem do arroz.

Entretanto, a solução definitiva desseproblema está no desenvolvimento de cul-tivares transgênicas portadoras do geneque codifica a enzima redutase do nitratofuncional na fase inicial de desenvolvimen-to da planta. Para tanto, deve-se identificaro referido gene e transferi-lo de outras espé-cies para o arroz. Culturas como milho, sor-go, soja, beterraba e cucurbitáceas sãoeficientes na absorção do n itrato na f asejovem, logo, são espécies promissoras parafornecimento desse gene. Como são espé-cies utilizadas na alimentação, a aprovaçãodo arroz transgênico para essa característi-ca não geraria polêmica e seria rápida. Tal-vez, a transferência apenas de gene regu-lador da síntese da redutase do nitrato,induzindo a produção dessa enzima maiscedo do que ocorre hoje solucionaria o pro-blema. Certamente que t ransgênicos comessa característica elevariam o patamar doatual potencial de produção de grãos dascultivares de arroz , sobretudo, daquelasde terras altas.

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1Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

2Engo Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

INTRODUÇÃO

A cultura do arroz de terras altas ocu-pou, em 2001, uma área de 1.867.835 ha(LSPA, 2001), correspondendo a cerca de59% da área total cultivada com arroz noBrasil, ou seja, 3.143.530 ha. Entretanto, res-pondeu por apenas 32% da produção totalde 10.194.346 t, devido à produtividademédia (1.740 kg/ha), alcançada nesse sis-tema, ser de aproximadamente 3 ,2 vezesmenor que a obtida em condições de irriga-ção por inundação, 5.589 kg/ha.

Isto ocorre, porque grande parte daslavouras de arroz de terras altas está loca-lizada na região dos Cerrados, onde predo-minam Latossolos (Oxissolos), com baixacapacidade de armazenamento de água.Durante a estação chuvosa (outubro-abril),

Arroz irrigado por aspersãoLuís Fernando Stone1

Pedro Marques da Silveira2

quando é feito o cultivo do arroz, a distri-buição das chuvas é irregular, sendo comuma ocorrência de estiagens de duas a três se-manas. A alta demanda evapotranspirativa,aliada à caract erística dos solos, faz comque essas estiagens causem consideráveisdecréscimos na produtividade do arroz,provocando oscilações na produção nacio-nal. Entretanto, com o uso da irrigação su-plementar por aspersão, os riscos de defi-ciência hídrica são minimizados e pode-seempregar mais tecnologia, o que resulta emexpressivos aumentos na produtividade.Considerando que a produtividade nessesistema pode atingir níveis semelhantes aosobtidos com irrigação por inundação, comqualidade equivalente, o cultivo do arroz sobaspersão é uma alternativa interessante.

VANTAGENS

A maior vantagem da irrigação por asper-são na cultura do arroz de terras altas estána sua contribuição para a estabilidade daprodução, pela redução do estresse hídri-co. Adicionalmente, a irrigação propiciamaiores produtividades e melhor qualidadedo produto. Manzan (1984), em Uberaba,MG, o bservou a umentos d e a té 7 0% n aprodutividade do arroz irrigado por asper-são, em comparação com a testemunhasem irrigação. Rodrigues e Arf (2002), emSelvíria, MS, no ano agrícola de 1999/2000,verificaram incremento de 30% na pro-dutividade do arroz, pelo uso da irrigaçãosuplementar por aspersão. Para o mesmolocal, o incremento alcançou 91%, em 2000/2001 (SORATTO et al., 2002). Arf et al. (2001)

Resumo - Embora apresente alta suscetibilidade ao estresse hídrico, cerca de 59% do arrozno Brasil é cultivado no ecossistema de terras altas, sem irrigação. Grande parte das la-vouras está localizada na região dos Cerrados, onde, durante a estação chuvosa, quando oarroz é cultivado, é comum a ocorrência de estiagens por duas a três semanas. Aliada àbaixa capacidade de armazenamento de água dos solos, essas estiagens causam sériosdecréscimos na produtividade do arroz, provocando oscilações na produção nacional.A irrigação suplementar por aspersão é uma alternativa para estabilizar a produção, alémde propiciar maiores produtividades e melhor qualidade do produto. A utilização doequipamento de irrigação para outras culturas na estação seca, aumenta a rentabilidade doagricultor. Para esta condição já foram desenvolvidas cultivares, denominadas de sequeirofavorecido, e feitos ajustes no sistema produtivo delas. A época de semeadura adequada éa usual do arroz de terras altas, com pequena flexibilidade. O espaçamento entre as linhaspode ser reduzido para 0,20 a 0,30 m e a adubação deve ser aumentada, especialmente anitrogenada. A irrigação deve ser conduzida de maneira que o potencial da água do solonão atinja valores menores que -0,025 MPa.

Palavras-chave: Oryza sativa. Época de semeadura. Cultivar. Espaçamento entre linhas.Manejo do solo. Adubação. Irrigação.

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verificaram, nos anos com ocorrência deestiagens, que a irrigação suplementar pro-moveu incrementos na produtividade quevariaram de 113% a 177%.

Os freqüentes períodos de estresse hí-drico que a plant a de arroz em condiçõesde sequeiro sofre durante o ciclo provocamqualidade de grão inferior, em comparaçãocom o arroz irrigado. A porcentagem degrãos chochos e gessados aumenta consi-deravelmente, quando a deficiência hídricaocorre durante as fases de emissão da paní-cula e enchimento dos grãos (SANT’ANA,1989). Com o uso de irrigação por aspersão,a planta de arroz não fica sujeita a estresseshídricos e, como resultado, o processo deenchimento dos grãos não sofre descon-tinuidade. Conseqüentemente, o númerode grãos por panícula (ST ONE; SILVA,1998, SORATTO et al., 2002) e a massa dosgrãos (STONE; SILVA, 1998, ARF et al.,2001, SORATTO et al., 2002) são maiorese o número de grãos chochos é menor(RODRIGUES; ARF, 2002). A formaçãoinadequada d os g rãos e a p resença d egrãos gessados prop iciam a ocorrênciade maior porcentagem de grãos quebrados.Arf et al. (2002b) verificaram que a irrigaçãopor aspersão aumentou tanto o rendimentode benefício, quanto o rendimento de intei-ros, principalmente em ano com estiagens.

Além de propiciar aumento na produ-tividade e na qualidade do arroz, o equipa-mento de irrigação pode ser utilizado paraoutras culturas (feijão e trigo, por exemplo),na safra de outono-inverno, promovendoseu maior uso e maior rentabilidade ao agri-cultor.

ÉPOCA DE SEMEADURA

A semeadura do arroz de terras altassitua-se, dependendo da região, no pe-ríodo de outubro a dezembro. Este períodofoi determinado em função da probabi-lidade de ocorrer distribuição adequada dechuvas durante a s f ases mais c ríticas dociclo da cultura. Com a utilização da irri-gação por aspersão, é questionado se esseperíodo não poderia ser modificado. Entre-

tanto, além da pre cipitação, que pode sersuplementada ou substituída pela irrigaçãopor aspersão, outros elementos climáticosnão-controláveis, como temperatura e fo-toperíodo, limitam o sucesso do cultivo doarroz em determinadas épocas do ano.

Na região dos Cerrados, o cultivo du-rante o período de menor índice pluvial(maio-setembro) teria como vantagem acolheita na entressafra, quando o preço doarroz é mais elevado. Contudo, vai deman-dar a utilização intensiva do equipamen-to de irrigação, em virtude de o arroz seruma das espécies mais exigentes em água.Assim, o elevado custo da irrigação pode-rá limitar o cultivo do arroz nesse período.Ademais, em regiões com temperaturasmais baixas e em latitudes mais elevadas, oproblema do frio e a sensibilidade ao foto-período são fatores l imitantes ao cultivo.Em Santo Antônio de Goiás, GO, Lobato eSilva (1995) verificaram que a semeadurano final de abril aumentou o ciclo de duascultivares de arroz em 30 dias e reduziu aprodutividade em cerca de 70%, devido àalta freqüência de temperaturas mínimas doar inferiores a 15oC.

A antecipação da época usual de se-meadura, isto é, de julho a setembro, teriacomo vantagens, além do melhor preço demercado, a redução dos custos de irrigaçãoem relação à semeadura no início da estaçãoseca, embora ainda se mantenham elevadosem relação à época usual de semeadura.A possibilidade de ocorrência de chuvasdurante a colheita é um fator problemáticodo cultivo nesse período. Adicionalmente,o alongamento do ciclo, devido à sensibi-lidade a baixas temperaturas, a ssociadasao fotoperíodo, pode-se tornar sério pro-blema. De fato, Lobato e Silva (1995) verifi-caram que a semeadura nos meses de agos-to e setembro aumentou o c iclo da culti-var Rio Paranaíba, devido à alta freqüênciade temperaturas mínimas do ar inferioresa 15oC e ao aumento do fotoperíodo, queinduziu a planta a florescimento tardio,visto que o arroz é planta de dias curtos.Spohr et al . (2002), em Santa Maria, RS ,

também verificaram alongamento no ciclopara a semeadura realizada em 18 de se-tembro em relação à realizada em 5 denovembro, devido à ocorrência de baixastemperaturas nos meses de setembro eoutubro.

A semeadura em janeiro e fevereiroapresenta as dificuldades de preparo dosolo e plantio em pleno período chuvoso.Outro problema sério é a ocorrência de bai-xas temperaturas durante a floração, o quecausa altos índices de esterilidade de espi-guetas. Além disso, como observaramLobato e Silva (1995), na semeadura reali-zada em janeiro ocorreu encurtamento de20 dias no ciclo pela influência do fotope-ríodo, provocando redução de cerca de 50%na produtividade. Arf et al. (2000) tambémverificaram redução no ciclo do arroz nasemeadura feita em janeiro em relação à denovembro.

Arf et al. (2000), em Selvíria, MS, ve-rificaram que a semeadura realizada emnovembro propiciou produtividades maiselevadas. Considerando os dois anosagrícolas estudados, as menores produti-vidades oco rreram nas semead uras desetembro, janeiro e fevereiro. Concluindo,pode-se dizer que a melhor época de semea-dura do arroz irrigado por aspersão é a épo-ca usual de semeadura do arroz de terrasaltas (SANT’ANA, 1989, ARF et al., 2000),podendo ser estendida, no Centro-Oeste,até a primeira quinzena de janeiro (LOBATO;SILVA, 1995). Nesse período, o risco de per-da da lavoura por problemas climáticos se-ria extremamente reduzido, e os custos deirrigação seriam mínimos. Na metade Suldo estado do Rio Grande do Sul, embora amaior produtividade tenha sido obtida nasemeadura de 19 de outubro, o arroz irriga-do por aspersão pode ser semeado de 18de setembro a 5 de novembro, sem queocorram reduções significativas na produ-tividade (SPOHR et al., 2002).

CULTIVARES

Os estudos sobre irrigação do arroz poraspersão, no Brasil, iniciaram na década de

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70, entretanto esta tecnologia esbarrava,principalmente, na inexistência de cultiva-res a daptadas a e sse s istema d e c ultivo.As cultivares desenvolvidas para o sistemade irrigação por inundação não se adapta-vam às condições f ísico-químicas dossolos bem drenados e apresentavam altasuscetibilidade à s doenças. As cultivarestradicionais de terras altas apresentavamproblemas em condições de alta tecnolo-gia (alta adubação, espaçamento reduzido),que eram preconizadas para o sistema deirrigação suplementar por aspersão, comoconseqüência d a e liminação d o r isco d edeficiência hídrica. Elas apresentavam gran-de desenvolvimento vegetativo, com folha-gem luxuriante e porte alto, o que favore-cia o a camamento. A lém d isso, q uandosemeadas em alta densidade, tornavam-semais sensíveis às doenças, especialmenteà brusone. Para solucionar este impasse, aEmbrapa Arroz e Feijão iniciou, na déca-da de 80, um programa de melhoramentocom base em trabalho desenvolvido porPinheiro et al. (1985), em que eram compa-radas cultivares com tipo de planta con-trastante, na presença e na ausência dedeficiência hídrica. Este programa de me-lhoramento tem por objetivo básico criarcultivares para as condições de terras altasfavorecidas quanto à distribuição de chu-vas ou sob irrigação suplementar por asper-são. As características desejáveis da plantapara essas condições, segundo Sant’Ana(1989), são alta capacidade produtiva, resis-tência ao acamamento, ciclo de precoce amédio, resistência à brusone e à mancha-parda, certo grau de tolerância à seca e dedormência, grãos longos, finos e trans-lúcidos. Em 1996, foi lançada a primeiracultivar, chamada de sequeiro favorecido,adaptada a essas condições, a ‘Maravilha’(EMBRAPA,1997). De maneira geral, des-de que não acamem em condições de altatecnologia, todas as cultivares de arroz deterras altas são aptas ao cultivo sob irriga-ção, i nclusive as l ançadas m ais r ecente-mente, ‘BRS Talento’ e ‘BRS Soberana’. NoRio Grande do Sul, utilizando-se o espaça-

mento entre as linhas de 0,17 m, têm sidoobtidas, sob aspersão, produtividades va-riando de 5.696 a 6.754 kg/ha, com a cultivarPrimavera, de ciclo precoce (MICHELONet al., 2002, SPOHR et al., 2002, TOESCHER;KÖPP, 2002), embora ocorra elevado acama-mento em algumas situações. Cultivares dearroz irrigado sob aspersão, como é o casoda ‘IRGA 417’, têm alcançado produtivida-des mais elevadas, 8.706 kg/ha (TOESCHER;KÖPP, 2002). No Paraná, a ‘Iapar 9’, cultiva-da no espaçamento de 0,40 m, produziu7.310 kg/ha (ENDO et al., 2002). No MatoGrosso do Sul, as produtividades sob asper-são têm variado de cerca de 3 mil a pou-co mais de 4 mil kg/ha, para as cultivaresMaravilha, P rimavera e Confiança (ARFet al., 2002a, RODRIGUES; ARF, 2002,SORATTO et al., 2002). Nesse mesmo Esta-do, produtividades acima de 6 mil kg/hatêm sido obtidas com as cultivares IAC 201e IAC 202, no espaçamento de 0,40 m(BAZANINI et al., 2002), embora a ‘IAC201’ tenha apresentado elevado acamamen-to. Em Goiás, Stone et al. (1999) obtiveram,no espaçamento de 0,20 m, produtividademédia sob aspersão de 4.973 kg/ha, com acultivar Maravilha.

PREPARO DO SOLO

O preparo do solo se realizado de manei-ra adequada, pode resultar em maior capa-cidade de armazenamento de água no soloe, assim, possibilitar economia da água deirrigação. Em sistemas agrícolas irrigados,entretanto, devido ao uso mais intensivoda área e a preparos realizados sempre namesma profundidade, pode ocorrer a pre-sença de camada subsuperficial compac-tada, causando menor desenvolvimento dosistema radicular e menor armazenamentode água. Apesar de essa situação ser maisgrave em condições de deficiência hídrica,o rompimento dessa camada pelo prepa-ro profundo também é importante para oarroz cultivado sob irrigação por aspersão.Silveira et al. (1994) obtiveram maiores pro-dutividades de arroz sob aspersão com ara-ção a 0,30 m em relação à profundidade de

0,15 m, possivelmente devido à redução nacompactação do solo. Arf et al. (2001) obser-varam, sob aspersão, que o preparo do solocom arado de aiveca ou escarificador pro-piciou a obtenção de maior produtividadede arroz em relação ao preparo com gradearadora, em ano com presença de estiagens.Na ausência de estiagens, as produtivida-des obtidas com os três preparos não di-feriram significativamente. Entretanto, naausência de camada compactada no perfildo solo, Stone e Silva (1998) verificaram quea aração feita a 0,10-0,15 m de profundida-de propiciou produtividades de arroz iguaisou maiores que as obtidas com aração maisprofunda, com menor gasto de energia.

Com relação ao plantio direto, os resul-tados obtidos na literatura são inconclu-sivos. Santos et al. (1997) observaram quea produtividade do arroz irrigado por asper-são, sob plantio direto, foi menor que a obti-da com preparo do solo a 0,30 m com aradode aiveca e com o preparo com grade arado-ra a 0,15 m. Já Arf et al. (2002a) verificaramque o plantio direto e o preparo com aradode aiveca propiciariam maiores produti-vidades que o preparo com grade aradora.

ESPAÇAMENTO EDENSIDADE DE SEMEADURA

De modo geral, as recomendações deespaçamento e densidade de semeadurapara a cultura do arroz de terras altas sãode 100 a 200 sementes viáveis por metroquadrado, distribuídas em espaçamentosque variam de 0,40 a 0,60 m entre as linhas(FORNASIERI FILHO, 1983, SANT’ANA,1989). Contudo, como as cultivares de se-queiro favorecido apresentam folhas meno-res e mais eretas, pode-se reduzir o espaça-mento entre as linhas, com o conseqüenteaumento do índice de área foliar e conco-mitante acréscimo na p rodutividade. Sobcondições de irrigação por aspersão, têm-se obtido maiores produtividades comespaçamentos menores que os normalmen-te utilizados no cultivo do arroz de sequei-ro tradicional. De fato, Souza e Azevedo(1994), com a cultivar Rio Paranaíba, de

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sequeiro tradicional, obtiveram maioresprodutividades com o espaçamento de0,20 m, independentemente das densida-des de semeadura, que variar am de 50 a125 sementes por metro, embora tenhamverificado elevada porcentagem de acama-mento, acima de 88%. Já Stone e Pereira(1994) também verificaram que, para linha-gens de sequeiro favorecido, o espaçamen-to de 0,20 m foi o que propiciou maioresprodutividades, não havendo problema deacamamento. Estes autores utilizaram adensidade de semeadura de 60 sementespor metro. Oliveira et al. (1977), no tocanteà cultivar IAC 1246, e Santos (1990) comrelação à cultivar Guarani, todas de sequei-ro tradicional, e Crusciol et al. (2000), com acultivar moderna IAC 201, obtiveram maio-res produtividades, sob aspersão, no espa-çamento de 0,30m entre as linhas. Para estesúltimos autores, a densidade de semeadura,variando de 100 a 200 sementes viáveis pormetro quadrado, não afetou a produtivida-de do arroz. Santos et al. (1988) tambémverificaram que a densidade de semeadura,nestes mesmos níveis, teve efeito bem me-nor na produtividade do arroz que o espa-çamento entre as linhas. Contudo, outrosautores constataram redução (OLIVEIRA,1994) ou aumento (OLIVEIRA et al., 1977),na produtividade com o aumento na den-sidade de semeadura.

ADUBAÇÃO

Com a eliminação do risco de estressehídrico e a perspectiva de obter maioresprodutividades, é possível utilizar dosesmais elevadas de adubação. No cultivo tra-dicional, geralmente é recomendada, parasolos de Cerrado, a adubação no sulco àbase de 10 kg/ha de N, 60 kg/ha de P 2O5

e 30 kg/ha de K 2O (SANT’ANA, 1989).Em condições de irrigação suplementar poraspersão, é recomendado incremento de50% na adubação fosfatada e 30% na po-tássica (COMISSÃO DE FER TILIDADEDO SOLO DE GOIÁS, 1988). Com relaçãoao nitrogênio em cobertura, a recomen-dação para as cultivares tradicionais varia

de 30 a 40 kg/ha de N (COMISSÃO DEFERTILIDADE DO SOLO DE GOIÁS, 1988,STONE; SILVA, 1998). Entretanto, o usode cultivares de sequeiro favorecido, noespaçamento mais reduzido entre as li-nhas, ocasiona maior absorção de nutri-entes (STONE; PEREIRA, 1994), dada amaior população de plan tas e produtivi-dade alcançada, o que requer maior dosede adubo nitrogenado do que a normal-mente recomendada para as cultivares tra-dicionais. Produtividades acima de 5.500kg/ha têm sido obtidas com doses de nitro-gênio a partir de 90 kg/ha. Bazanini et al.(2002), em Selvíria, MS, com as cultivaresIAC 201 e IAC 202, no espaçamento de 0,40 mentre as linhas, quando utilizaram 2 L/hade um redutor de crescimento, obtiveram pro-dutividade máxima estimada de 6.900 kg/ha,com 90 kg/ha de N, sendo 30 kg/ha aplica-dos na semeadura. Na ausên cia do redu-tor, a resposta foi linear até 150 kg/ha de N.Stone et al. (1999), em Santo Antônio deGoiás, GO, obtiveram a máxima produtivi-dade do arroz sob aspersão, 5.523 kg/ha,no espaçamento de 0,20 m entre as linhas,com a dose total de 112,9 kg/ha de N, sendo1/3 aplicado na semeadura. Michelon et al.(2002), em Santa Maria, RS, com a cultivarPrimavera, no espaçamento de 0,17m entreas linhas, obtiveram produtividade máximaestimada de 5.696 kg/ha, com 130 kg/ha deN, sendo 1/3 aplicado no início do perfilha-mento, 1/3 no perfilhamento máximo e 1/3na diferenciação do primórdio floral. Ape-sar de o arroz sob aspersão responder aaltas doses de nitrogênio, na decisão doquanto aplicar deve ser levado em conta asuscetibilidade da cultivar ao acamamentoe à brusone.

IRRIGAÇÃO

Um aspecto importante a ser conside-rado na irrigação por aspersão é o interva-lo entre a s i rrigações. Existem t rabalhosestabelecendo a freqüência de irrigaçãocom base no consumo de uma determinadafração da água disponível do solo (AD) .Giudice et al. (1974) verificaram que o arroz

deve ser irrigado, quando forem consumi-dos 40% da AD na camada de 0-0,20 m.Coelho et al. (1977) obtiveram maior produ-tividade, quando a irrigação foi feita pararepor 30% da AD. Os resultados expressosem porcentagem de água disponível sópodem ser c onsiderados para solos comcaracterísticas semelhantes. Se, por outrolado, forem expressos em potencial da águado solo, podem ser mais facilmente aplica-dos em outro tipo de solo. Isto ocorre por-que, em solos não-salinos, o potencial ma-tricial é o fator da água do solo que maisinfluencia o crescimento das plantas. Stoneet al. (1986), em trabalho conduzido emGoiânia (GO), concluíram que, aliando-seprodutividade e economicidade, a irrigaçãodo arroz por aspersão deve ser conduzidade maneira que o potencial de água do solo,medido a 0,15 m de profundidade, não atinjavalores menores que -0,025 MPa.

É difícil quantificar com exatidão o vo-lume total de água necessário para irrigação,quando se utiliza a suplementar , uma vezque este volume depende da quantidade eda distribuição das chuvas. A necessida-de total de água para o cultivo do arroz deterras altas varia de 600 a 700 mm (STONEet al., 1979, MANZAN, 1984, STEINMETZ,1986). Considerando apenas a irrigação su-plementar, as lâminas d’água aplicadas po-dem variar de 524 mm, segundo verificaramToescher e Köpp (2002), no RS, a valoresinferiores a 200 mm por ciclo, nas regiõesSudeste e Centro-Oeste, dependendo doregime de chuvas.

O requerimento de água do arroz irri-gado por aspersão pode ser estimado apartir de tanques evaporimétricos, combase na relação existente entre a evapo-ração da água medida no tanque USWBClasse A (ECA) e a evapotranspiração dacultura (ETc). A relação é obtida, utilizando-se coeficientes do tanque (Kp) e de cultura(Kc), de modo que: ETc = ECA x Kp x Kc.

Doorenbos e Kassam (1979) apresentamvalores de Kp considerando o clima e omeio circundante ao tanque. Steinmetz (1986)determinou os valores de Kc de 0,70; 0,90;

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1,24 e 0,90, para os estádios de plântula,vegetativo, final do vegetativo-reprodutivoe enchimento dos grãos. O manejo da cul-tura e do solo altera os valores do coefici-ente de cultura. Verifica-se no Quadro 1 queo valor máximo de Kc, para o arroz semeadoa 0,20 m entre as linhas (STONE; SILVA,1999), é maior que o obtido por Steinmetz(1986), para o arroz semeado a 0,50 m entreas linhas. Da mesma forma, os valores deKc para o arroz cultivado em solo prepara-do convencionalmente são maiores que osdo arroz sob plantio direto.

A simulação da semeadura do arroz deterras altas no início de novembro, utilizan-do os coeficientes de cultura (Quadro 1)para o arroz semeado a 0,20 m entre a linhas,sob preparo convencional do solo (STONE;SILVA, 1999) e sob plantio direto, mostrouque a evapotranspiração sob plantio diretoé cerca de 15% menor que no preparo con-vencional do solo (Quadro 2). Isto faz com

que ocorra substancial redução na necessi-dade de irrigação suplementar.

Outra maneira de calcular a quantidadede água a se r aplicada no solo p lantadocom arroz é utilizando-se o tensiômetro e acurva de retenção de água do solo. O ten-siômetro é um aparelho que mede o poten-cial matricial da água do solo. A curva deretenção relaciona o teor ou o conteúdo deágua do solo com a força com que ela estáretida por ele. É uma propriedade físico-hídrica do solo, determinada em laborató-rio.

Os tensiômetros devem ser instaladosno solo em duas profundidades, 0,15 m e0,30 m, em pelo menos três locais da áreaplantada, quando se trata de irrigação porpivô central. Estes pontos devem corres-ponder a 4/10, 7/10 e 9/10 do raio do pivô,em linha reta, a partir da base. O tensiôme-tro de 0,15 m é chamado de decisão, porqueindica o momento da irrigação, enquanto o

Guaíra – SP 629 530 106 70

Unaí – MG 565 482 194 167

Vicentinópolis – GO 578 495 71 46

Primavera do Leste – MT 487 417 73 45

QUADRO 2 - Estimativa da evapotranspiração e da necessidade de irrigação suplementar na cultu-ra do arroz de terras altas, no sistema convencional de preparo do solo e sob plantiodireto

NOTA: PC - Prep aro convencional do solo; PD - Pla ntio direto.

Lâmina deirrigação suplementar

(mm/ciclo)Município

Evapotranspiração(mm/ciclo)

PC PD PC PD

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de 0,30 m é chamado de controle, porqueindica se a irrigação está sendo bem-feita,sem excesso ou f alta d’água. A irrig açãodeve ser efetuada, quando a média das lei-turas dos tensiômetros de decisão estiverem torno de -0,025 MPa (capacidade decampo) (STONE et al., 1986).

O procedimento para determinar a quan-tidade de água a ser aplicada é o seguinte:de posse da curva de retenção de umida-de, verifica-se a quanto -0,025 MPa corres-ponde em conteúdo de água no solo, dadoem m 3 de água/m 3 de solo. Em seguida,calcula-se a diferença entre o conteúdo deumidade a -0,010 MPa e a -0,025 MPa. Estadiferença, multiplicada pela profundida-de de 0,30 m, indicará a lâmina líquida deirrigação. Isto se deve ao fato de a cama-da de solo de 0-0,30 m de profundidadeenglobar a quase totalidade das raízes doarroz irrigado por aspersão e de que a lei-tura do tensiômetro de decisão represen-ta a tensão média da água do solo nestacamada.

QUADRO 1 - Coeficientes de cultura referentes ao arroz de terras altas semeado no espaçamento de0,20 m entre as linhas

Emergência – início do perfilhamento 20 0,58 0,18

Início do perfilhamento – iniciação da panícula 45 0,72 0,67

Iniciação da panícula – grão pastoso 55 1,34 1,28

Grão pastoso – maturação 15 0,67 0,53

PD

NOTA: PC - Prepa ro convencional do solo; PD - Pla ntio direto.

Estádio Duração(dia)

Coeficiente de cultura

PC

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INTRODUÇÃO

A produção de arroz no Brasil é oriunda,basicamente, de dois ecossistemas, arrozde terras altas ou sequeiro e de terras bai-xas ou i rrigado por i nundação contínua.No ano de 2002, o arroz irrigado ocupou1,1 milhão de hectares que correspondea 34,5% da área, contribuindo, com maisde 5 8% d a p rodução b rasileira d e a rroz(INSTITUTO CEPA, 2003).

Os principais Estados brasileiros pro-dutores de arroz irrigado são o Rio Grandedo Sul, com 942 mil hectares (IRGA, 2003)e Santa Catarina, com 134,4 mil hectares(INSTITUTO CEPA, 2003).

A água utilizada em grande parte daslavouras de arroz irrigado do Rio Grande

Produção agroecológica de arroz irrigado

José Alberto Noldin1

Domingos Sávio Eberhardt2

Ronaldir Knoblauch3

Honório Francisco Prando4

Gosuke Sato5

do Sul é proveniente de açudes, rios, ria-chos e das lagoas costeiras, principalmentea dos Patos, Mirim e Mangueira. A águaque sai das lavouras tem como destino osriachos, rios, lagoas ou açudes a jusante,sendo também utilizada para consumoshumano e animal.

Em Santa Catarina, os rios e riachos sãoas principais fontes de abastecimento deágua para as lavouras. Em muitos casos, aágua passa de uma lavoura para outra antesde retornar ao seu curso natural. Da mes-ma forma, no Rio Grande do Sul, as águasque saem das lavouras são utilizadas pa-ra abastecimentos urbano, industrial e ser-vem também para consumo por animais naspropriedades. Dessa forma, o grau de con-

1Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí, Caixa Postal 277, CEP 88301-970 Itajaí-SC. Correio eletrônico: [email protected] Agro, M.Sc., Pesq. EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí, Caixa Postal 277, CEP 88301-970 Itajaí-SC. Correio eletrônico: [email protected] Agro, M.Sc., Pesq. EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí, Caixa Postal 277, CEP 88301-970 Itajaí-SC. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Pesq. EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí, Caixa Postal 277, CEP 88301-970 Itajaí-SC. Correio eletrônico: hjprando@

epagri.rct-sc.br5Biólogo, D.Sc., Pesq. EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí, Caixa Postal 277, CEP 88301-970 Itajaí-SC. Correio eletrônico: [email protected]

taminação das águas liberadas pelas lavou-ras de arroz é um assunto que diz respeitoa toda a sociedade.

SISTEMAS DE PRODUÇÃODE ARROZ IRRIGADO

A produção de arroz irrigado no Brasilconstitui-se de dois sistemas de cultivo: ode semeadura em solo inundado, conheci-do como pré-germinado, e o de semeaduraem solo seco.

O sistema pré-germinado, utilizado em100% dos mais de 134 mil hectares de arrozirrigado, em Santa Catarina, e em mais de100 mil hectares, no Rio Grande do Sul,caracteriza-se pela utilização de sementespré-germinadas, semeadas a lanço em solo

Resumo - A cultura do arroz irrigado no Brasil tem grande importância socioeconômica ecaracteriza-se pela utilização intensa de agroquímicos, especialmente herbicidas, inseticidase fertilizantes. É crescente a preocupação da sociedade com relação à preservação ambientale ao consumo de produtos orgânicos ou agroecológicos. Também no caso do arroz irrigado,têm sido preconizadas e utilizadas, pelos agricultores, práticas alternativas de manejo dalavoura. A utilização do sistema pré-germinado, associado ao manejo adequado da irrigação,e a implementação de outras práticas, como a rizipiscicultura e a criação de marrecos-de-pequim, antecedendo o cultivo do arroz, poderão contribuir significativamente para seproduzir de forma sustentável, minimizar o impacto ambiental e preservar o ambiente.

Palavras-chave: Oryza sativa. Arroz orgânico. Manejo integrado. Rizipiscicultura. Marreco.Irrigação.

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coberto por uma lâmina d’água (EPAGRI,1998). Este sistema, quando bem manejado,permite a supressão de plantas daninhasde espécies gramíneas e ciperáceas e me-lhora a disponibilidade de nutrientes pelaredução química do solo após a inunda-ção.

O sistema de semeadura em solo secocompreende, basicamente, dois subsiste-mas: semeadura após o preparo conven-cional do solo, também conhecido comosistema convencional, e sistema de cultivomínimo e plantio direto, cuja semeadura éfeita após a dessecação da vegetação comherbicidas. Nestes dois sistemas, a irriga-ção por inundação é iniciada 25 a 35 diasapós a semeadura.

No Rio Grande do Sul, em cerca de 10,2%da área, utiliza-se ainda o sistema denomi-nado mix, ou mixto, o que consiste na com-binação entre o sistema de cultivo mínimoe o sistema pré-germinado. Neste sistema,após a dessecação das plantas daninhas,similar ao sistema de cultivo mínimo, a se-meadura é realizada a lanço com sementespré-germinadas.

A cultura do arroz irrigado caracteriza-se pelo uso de alta tecnologia, o que temproporcionado condições para a obtençãode altas produtividades pelos agricultores,que em alguns casos chega a 14 t/ha. Entre-tanto, setores da sociedade questionam aatividade em função de impactos ambien-tais negativos que podem advir de altera-ções no ecossistema, principalmente pelouso de agroquímicos, potencialmente ge-radores de poluição ambiental.

RISCOS ASSOCIADOSAO USO DE AGROQUÍMICOSEM ARROZ IRRIGADO

Em todos os sistemas de produção dearroz i rrigado e m v árzeas, é r ealizada aaplicação de agroquímicos, tais como her-bicidas, inseticidas, adubos químicos e, even-tualmente, fungicidas. A aplicação d estesinsumos antecede à inundação da área oufaz-se diretamente na lâmina d’água. Estesistema, chamado benzedura, acarreta ris-cos, já que os produtos aplicados podem

ser transportados pela água, para fora daslavouras, resultando na contaminação daságuas. Embora ainda não se conheça de-talhadamente os níveis de contaminaçãoambiental ou os possíveis impactos ambi-entais ocasionados por agroquímicos, uti-lizados nas lavouras de arroz, segmentosda sociedade reivindicam a redução no usodestes insumos, ou mesmo a proibição docultivo de arroz em algumas regiões (PAVEI,2000). Trabalhos recentes desenvolvidosem Santa Catarina registraram a ocorrênciade resíduos de alguns agroquímicos, comoQuinclorac, Pyrazosulfuron, 2,4-D, Moli-nate, Oxyfluorfen, Oxadiazon e Carbofuran,nas águas dos rios e riachos nas áreas deprodução de arroz irrigado (DESCHAMPSet al., 2003). Apesar de as quantidades deresíduos observadas na grande maioria dasamostras serem consideradas baixas, per-siste a carência de informações, no Brasil,sobre os limites máximos de resíduos per-mitidos para os produtos detectados, exce-to para o herbicida 2,4-D.

A lém do r isco da contaminação daságuas por resíduos de agroquímicos, exis-te a possibilidade de os produtos causa-rem efeitos sobre organismos não alvocomo peixes, zooplâncton e fitoplâncton(MACHADO et al., 2001, RESGALLAJUNIOR et al., 2002ab).

Paralelamente à crescente preocupaçãocom os possíveis impactos ambientais ne-gativos, causados pela cultura do a rrozirrigado, nos últimos anos, tem ocorridouma demanda crescente de mercado porprodutos chamados naturais ou orgânicos(OLTRAMARI et al., 2002, TAGLIARI,2003). Esta demanda tem sido mais acentua-da para alimentos consumidos in natura,como frutas e hortaliças, que, nos sistemasconvencionais de produção, podem rece-ber q uantidades r elativamente e levadasde agroquímicos, com riscos para a saúde,especialmente quando os prazos de carên-cia não são respeitados. No caso de cul-turas como o arroz irrigado, o risco podeser considerado baixo, pois a maioria dosagroquímicos, especialmente os adubos eos herbicidas, é utilizada nas etapas iniciais

da cultura. Desta forma, o risco de acúmulodestes produtos no grão é menor. Todavia,ainda que limitada, existe demanda paraprodutos oriundos dos sistemas de pro-dução orgânica, agroecológicos ou ecoló-gicos.

Além da preocupação com a qualidadedos produtos para consumo, existe tambémuma crescente preocupação com a susten-tabilidade dos sistemas de produção agrí-cola, o que benef icia, em especial, os pe-quenos produtores, através da redução oueliminação do uso de agroquímicos, visan-do não só a preservação da saúde dos tra-balhadores rurais, mas também a do meioambiente.

ALTERNATIVAS PARA APRODUÇÃO AGROECOLÓGICADE ARROZ

A implementação de sistemas de pro-dução agroecológica ou orgânica de arrozirrigado depende, basicamente, dos seguin-tes fatores: histórico da área, disponibilida-de e qualidade da água utilizada na irrigaçãoe riscos de inundações.

Preferencialmente, devem ser utilizadasáreas novas ou em pousio pelo período mí-nimo de dois a três anos. Para produçãoorgânica em áreas normalmente utilizadascom sistemas convencionais de produção,com uso de agroquímicos, é exigido umperíodo de conversão. Este fator limita emmuito a adoção de s istemas de p roduçãoorgânica de arroz irrigado em algumas re-giões. Em Santa Catarina, por exemplo, pou-cos produtores possuem áreas novas paraincorporar ao sistema produtivo, exigindo,assim, que aquelas a serem utilizadas pas-sem pelo período de conversão exigido pe-la legislação.

A água utilizada na irrigação da lavouradeve ser livre de qualquer contaminante.Este, também, é outro fator limitante à ado-ção desta prática em muitas áreas. É neces-sário que o produtor disponha de fonte deágua de açudes ou nascentes. Áreas sujei-tas a inundações eventuais ou enxurradastambém apresentam restrições para uso nosistema orgânico.

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Na maioria das áreas cultivadas comarroz irrigado, os produtores adotam ocultivo intensivo, ou seja, o plantio de arrozna mesma área todos os anos. Esta condi-ção favorece a incidência de pr agas e deplantas daninhas, que são os principais fa-tores limitantes à produtividade do arrozirrigado e, para os quais há poucas alterna-tivas não-químicas de controle.

PRODUÇÃO DE ARROZ IRRIGADOCOM BAIXO IMPACTO AMBIENTAL

Atualmente, são poucas as áreas emcultivo com arroz irrigado que atenderiama todos os requisitos para a produção orgâ-nica. Neste caso, a prática da chamadaprodução agroecológica constitui-se numaalternativa disponível para uso pela maio-ria dos agricultores, haja vista que váriastecnologias estão disponíveis. Algumas,usadas por alguns agricultores, permitemreduzir o uso de agroquímicos, ou manejá-los de forma mais adequada, minimizando,assim, os riscos que a cultura possa ofere-cer ao ambiente.

Pelas características das áreas e maiorfacilidade no manejo da lavoura, o sistemapré-germinado constitui-se na melhor alter-nativa para eliminar ou minimizar o uso deagroquímicos em lavouras de arroz irriga-do.

A ocorrência de plantas daninhas, pra-gas e a carência de fontes alternativas deadubação constituem-se nas principais prá-ticas a ser consideradas na produção agro-ecológica de arroz irrigado.

Manejo de plantas daninhas

As plantas daninhas são as principaisresponsáveis pela redução da produtivida-de de grãos de arroz irrigado. Quando práti-cas adequadas de controle não são adota-das, estima-se que o prejuízo causado porelas à produtividade pode ser superior a80% (EPAGRI, 1998). O manejo da água nalavoura tem sido uma prática altamente efi-ciente na supressão das plan tas daninhasna cultura de arroz irrigado. Mantendo-se o s olo a lagado o u s aturado n os e stá-dios iniciais de desenvolvimento do arroz,

diminui-se a germinação e o desenvolvi-mento d e p lantas d aninhas, t ais c omo oarroz-vermelho, capim-arroz (Echinochloaspp.), cuminho ( Fimbrystilis miliacea ) etiriricas ( Cyperus sp.). No entanto, estacondição de solo inundado favorece o de-senvolvimento de plantas daninhas aquá-ticas, sendo as mais comuns a sagitária(Sagittaria montevidensis ) e o aguapé(Heteranthera reniformis).

Trabalhos mais recentes desenvolvi-dos na Empresa de Pesquisa Agropecuáriae Extensão Rural de Santa Catarina S.A.(Epagri) evidenciam que o estabelecimen-to de uma população adequada de plantasde arroz é uma condição importante paraminimizar, ou até mesmo eliminar o efeitoda competição de plantas daninhas aquá-ticas, como a sagitária, com o arroz irri-gado (EBERHARDT; NOLDIN, 2001,EBERHARDT et al., 2002). Pesquisasconduzidas no Rio Grande do Sul suge-rem que o efeito nocivo das plantas dani-nhas pode ser reduzido através do aumen-to da densidade de semeadura da cultura(MENEZES; SILVA, 1998).

A manutenção de lâmina d’água, apósa semeadura, pode interferir negativamenteno estabelecimento das plântulas de arroz.Entretanto, tem sido observada a existênciade diferenças entre cultivares com relaçãoà maior ou à menor tolerância à emergênciana água e ao acamamento. Assim, para ocultivo de arroz irrigado em áreas com inun-dação contínua, desde a semeadura atépróximo à colheita, há necessidade da uti-lização de cultivares de arroz que apresen-tem tolerância a esta condição de manejo(ISHIY et al., 1999). As cultivares Epagri 108,Epagri 109, SCS 112 e SCSBRS 113 - TioTaka, em que foram utilizadas sementes pré-germinadas, apresentam desenvolvimentosatisfatório em lâmina d’água.

Manejo de pragas

A ocorrência da bicheira-da-raiz ougorgulho-aquático (Oryzophagus oryzae )também constitui-se num fator que podelimitar a produtividade do arroz irrigado,especialmente no Sul do Brasil, requerendo

o uso freqüente de inseticidas. Trabalhosde pesquisa realizados em condições con-troladas relatam a possibilidade de utiliza-ção de controle biológico, com Beauveriabassiana ou Metarhizium anisopliae, paraesta praga (PRANDO; FERREIRA,1994). Noentanto, ainda não existem recomendaçõesdesta tecnologia para uso em escala comer-cial.

Outros insetos-praga importantes nacultura do arroz irrigado, são os perce-vejos. O percevejo-do-colmo ( Tibracalimbativentris), p ode c ausar p rejuízoselevados à cultura do arroz, causando odano conhecido como coração-morto, bemcomo panículas completamente estéreis,quando o ataque ocorre próximo ao flores-cimento. Produtores de arroz de algumasregiões de Santa Cat arina têm utilizadomarrecos-de-pequim (Anas spp.), para o con-trole biológico destes insetos. A eficiênciadestes marrecos no controle do percevejo-do-colmo foi confirmada recentemente porPrando et al., (2003). O percevejo-do-colmotem o hábito de alimentar-se, na base doscolmos, próximo ao solo. Com a elevaçãodo nível da lâmina d’água eles abandonameste local, e ficam expostos a predadores,como os marrecos-de-pequim, que contri-buem para a redução da população desteinseto na lavoura.

O percevejo-do-grão (Oebalus poecilus)tem o hábito de realizar a postura concen-trada em reboleiras, dentro da lavoura ouem áreas próximas, o que facilita a localiza-ção e a destruição física ou mecânica dosovos. Estudos sobre o comportamento des-tes insetos, na entressafra, estão sendodesenvolvidos pela Epagri e alguns avan-ços t ecnológicos p oderão s er r ecomen-dados a partir dos p róximos anos. Estesestudos possibilitarão a recomendação demedidas de controle, tanto na safra, dentroou fora da lavoura, como na entressafra,nos locais de hibernação.

Adubação

A diversificação de fontes de nitro-gênio para a cultura do arroz irrigado nosistema orgânico constitui-se em uma das

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principais limitações à sua produção. Es-tudos recentes realizados pela EmbrapaClima Temperado, em várzeas da regiãode Pelotas, RS, mostraram que os adubosverdes trevo-persa, trevo-branco e Lotussubbiflorus são adequados como fontesalternativas de nitrog ênio para a cu ltu-ra do arroz irrigado (SCIVITTARO et al.,2001).

A u tilização de adubação verde e /ourotação de culturas em áreas cultivadas comarroz irrigado, no sistema pré-germinado, épouco promissora, devido às quadras seremniveladas e à desestruturação física do so-lo dificultar a drenagem na entressafra, comconseqüente redução na concentração deoxigênio no solo. Morel (1983) testou vá-rias alternativas durante três anos no sulde Santa Catarina, sem resultados pro-missores.

A azola ( Azzola spp.) é uma pteridó-fita aquática, que, em simbiose com a algaverde-azulada, Anabaena azollae, é capazde fixar nitrogênio atmosférico. Sua utiliza-ção como fonte de adubo em arroz irrigadotem sido objeto de estudos. A azola é tradi-cionalmente utilizada na fertilização delavouras de arroz na Ásia. Noldin e Ramos(1983) avaliaram o efeito da azola cultiva-da antes da semeadura do arroz (julho asetembro) e obtiveram produtividades de39 t/ha de fitomassa verde e de 54,8 kg/hade nitrogênio. Sugeriram ser esta uma alter-nativa viável na substituição do nitrogê-nio mineral em lavouras de arroz irrigado,especialmente no sistema pré-germinado.No mesmo trabalho, esses autores avalia-ram a possibilidade de cultivo simultâneoou consorciado de arroz x azola, pois a lite-ratura relata que algumas espécies de azolatêm a capacidade de liberar nitrogênio dire-tamente na água. Observaram-se que nasemeadura a lanço, a competição do arrozlimita o crescimento e o desenvolvimen-to da azola. Em áreas onde o sistema deimplantação do arroz é através do trans-plante de mudas, como no caso de muitospaíses asiáticos, o crescimento da azolapode ser favorecido.

Vários Estados brasileiros destacam-se

como grandes produtores de aves e suínos,especialmente o Rio Grande do Sul e SantaCatarina, mas é insignificante a utilizaçãodos dejetos dessas espécies na fertilizaçãode lavouras de arroz. Em algumas regiões,a cama-de-aviário está disponível próximaou junto das áreas de produção de arrozirrigado. Os dejetos de aves devem ser apli-cados e incorporados ao solo com ante-cedência à semeadur a, pa ra evitar, prin-cipalmente, a perda de nitrogênio pelavolatilização da amônia e a contaminaçãoambiental. Não existem ainda estudos con-clusivos relativos às quantidades a seremutilizadas em arroz irrigado. Estudos preli-minares, realizados na Epagri – EstaçãoExperimental de Itajaí, sugerem doses entre3 e 4 t/ha (KNOBLAUCH; EBERHARDT,2003).

Rizipiscicultura

A rizipiscicultura é uma forma de pro-duzir o arroz em consórcio com o peixe nostabuleiros de arroz irrigado. Os peixes exer-cem o controle biológico de pragas e deplantas daninhas pr esentes nas l avouras,o que permite reduzir ou até mesmo dispen-sar a utilização de agroquímicos, comoherbicidas e inseticidas (SATO, 2002).

Existem vários sistemas de cultivosutilizados na rizipiscicultura, são eles:

a) rotação de cultura: aproveitamentodas á reas de a rroz para cultivo depeixes na entressafra do arroz;

b) consorciado: os peixes são criadosem sistema consorciado com o arroz;

c) complementar: consiste na combi-nação dos sistemas de rotação e deconsórcio.

A adoção de um ou outro sistema estána dependência de fatores como: condiçõeslocais de clima, relevo e tipo de solo; dispo-nibilidade de alevinos no momento adequa-do; cultivar utilizada e método de cultivode arroz irrigado (BOLL et al., 2002).

A prática da rizipiscicultura em a rro-zais apresenta vantagens e desvantagens(BOLL et al., 2002). Entre as principais van-tagens destacam-se:

a) redução dos custos de produção dearroz, principalmente no que se refereao preparo do solo;

b) aumento da renda p or u nidade deárea, obtida com a venda da pro-dução de peixes;

c) melhoria das condições de fertilida-de das áreas;

d) melhoria do ambiente pela reduçãodo uso de agroquímicos;

e) possível redu ção da infestação depragas e d e a lgumas e spécies d eplantas daninhas;

f) melhoria da eficiência de uso daterra.

A rizipiscicultura também pode apre-sentar desvantagens como:

a) necessidade de adaptação dos tabu-leiros de arroz, que implica em custosadicionais e redução na área útil pa-ra a cultura, em cerca de 5% a 10%;

b) aumento na quantidade de trabalhoem função dos cuidados no manejodos peixes;

c) restrição no uso de agroquímicospara controle de pragas e plantas da-ninhas em função da toxicidade dealguns produtos para os peixes;

d) o sistema favorece o acamamento doarroz;

e) exige disponibilidade de água emquantidade e qualidade durante to-do o ano;

f) a rizipiscicultura não deve ser utili-zada em áreas sujeitas a inundaçõesou enxurradas periódicas;

g) a prática da rizipiscicultura pode fa-vorecer o estabelecimento de plan-tas aquáticas, como o aguapé e sa-gitária, e d e i nsetos-praga c omoa lagarta-boiadeira ( Nynphullaindomitalis).

No caso das plantas daninhas aquáti-cas, a melhor estratégia é a adoção de prá-ticas que favoreçam o estabelecimento de

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uma boa população de plantas de arroz, quesuprimem o desenvolvimento das plant asdaninhas, especialmente as aquáticas. Emcasos de alta incidência de lagartas aquá-ticas, podem-se utilizar inseticidas biológi-cos, à base de Bacillus thuringiensis, ou adrenagem temporária da lavoura, períodoem que os peixes permanecem nos refú-gios.

Marrecos associados aocultivo do arroz

A utilização de marrecos-de-pequim emáreas de arroz, na entressafra, tem sido pra-ticada com sucesso por agricultores deSanta Catarina. Entre as vantagens do usodos m arrecos de staca-se o f ato d e e lesse alimentarem das sementes de arroz-vermelho e de outras plantas daninhas, bemcomo de plântulas de espécies aquáticas,de insetos e de moluscos. Outra vantagemproporcionada pelos marrecos é a acelera-ção da disponibilização de nutrientes nosolo, além da fertilização da área por seusexcrementos.

ALGUMAS EXPERIÊNCIASPIONEIRAS NAPRODUÇÃO ORGÂNICADE ARROZ IRRIGADO

Atualmente, são conhecidas no Sul doBrasil algumas experiências na produçãoorgânica ou agroecológica de arroz irrigado.

Produtores situadosna Área de PreservaçãoAmbiental (APA) deGuaraqueçaba, PR

Nesta área, não é permitida a utilizaçãode agroquímicos, sendo a produção orgâni-ca compulsória. Os produtores possuemcertificação do Instituto Biodinâmico (IBD)e comercializam a produção em Santa Ca-tarina e no Paraná, mas não recebem preçodiferenciado em relação ao produto con-vencional. A produtividade média tem sidode, aproximadamente, 6 t/ha, consideradaboa, principalmente porque a área possibi-lita a colheita de soca e o custo de produção

é baixo, devido a não-utilização de agroquí-micos. O principal fator limitante é a inci-dência do inseto-praga, bicheira-da-raiz.

Produtores doAlto Vale do Itajaí, SC

São integrados a uma agroindústria eproduzem arroz sem uso de agroquímicos.Os produtores recebem preço diferenciado,comparado ao do arroz produzido conven-cionalmente. Utilizam, basicamente, mane-jo de água para supressão de plantas da-ninhas e adubação orgânica com esterco,marrecos ou rizipiscicultura. Segundo relatodos produtores, as baixas produtividadesocasionalmente ocorridas são compensa-das pelos melhor es preços.

Produtores do municípiode Turvo, SC

Alguns pr odutores dest e municípiotêm u tilizado o s istema de p rodução queenvolve a rizipiscicultura como alternati-va, para eliminar a utilização de agroquími-cos (COOPERSULCA, 2003). Neste sistema,tem ocorrido redução nos custos de produ-ção, pois não há utilização de agroquímicos,e há redução significativa da necessida-de de preparo de solo para implantação dacultura. A rentabilidade da cultura nestasáreas é boa, especialmente porque as pro-dutividades também são boas, o custo deprodução é inferior ao sistema convencio-nal e os produtores têm obtido renda adi-cional com a comercialização do peixe.

Rio Grande do Sul

Uma das p rimeiras experiências comprodução orgânica de arroz no Brasil, foirealizada na Fazenda Cerro do Tigre, loca-lizada no município de Alegrete, RS, na sa-fra 1993/1994 (MELLO, 1997, 2002). A áreainicial de cultivo de apenas 1,5 ha passoupara mais de 36 ha, quatro safras mais tarde.Entre os problemas enfrentados, o produtorrelata o fato de a área usada na produçãoorgânica estar inserida dentro do conjun-to de várzeas da propriedade, onde se uti-lizavam agroquímicos e contavam com a

mesma estrutura de irrigação, o que acar-retava riscos de contaminação da área comprodução orgânica, pelas áreas com culti-vo convencional. Pela legislação vigente àépoca, a produção na propriedade não maispôde ser enquadrada como oriunda deprodução orgânica. Para se obter a certifi-cação, havia necessidade da transforma-ção de toda a área da propriedade. Isto foiinviabilizado pelo mercado, ou seja, baixademanda e o preço oferecido pelo mercado,que não era competitivo, comparado como produto convencional.

DEMANDAS DE PESQUISA

A viabilidade técnica e econômica dossistemas de produção orgâ nica ou agro-ecológica d e a rroz i rrigado es tá n a d e-pendência de que novas alternativas tec-nológicas viáveis sejam oferecidas aosprodutores. Diversas tecnologias, atual-mente utilizadas, não são compatíveis comos sistemas de produção orgânica. As cul-tivares, atualmente recomendadas, forammelhoradas, visando unicamente a obten-ção de elevadas produtividades e alta qua-lidade de grãos e foram selecionadas sobbaixo nível de estresse ambiental, ou seja,em condições altamente favoráveis do pon-to de vista de disponibilidade de nutrientesno solo.

Novas cultivares, adaptadas aos siste-mas de produção orgânica, deverão serselecionadas quanto à competitividade compragas e plantas daninhas e com bom de-sempenho sob condições de limitada dis-ponibilidade de nutr ientes. A seleç ão demateriais com elevada capacidade de esta-belecimento em lâmina d’água facilitará omanejo de plantas daninhas.

Nesse sentido, a Epagri - Estação Expe-rimental de Itajaí, a Embrapa Clima Tem-perado e a Universidade do Vale do Itajaí(Univali), numa parceria interinstitucional,desenvolvem um projeto cooperativo, como apoio da Embr apa/Projeto de Apoio aoDesenvolvimento de Tecnologia Agro-pecuária para o Brasil (Prodetab), que tempor objetivo gerar tecnologias, que visem

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82 Arroz: avanços tecnológicos

a eliminação ou a redução drástica do usode produtos químicos na produção de arrozirrigado. Isto contribuirá substancialmentepara a minimização de custos de p rodu-ção, recuperação e conservação de recur-sos naturais, com reflexos positivos quantoà sustentabilidade dos sistemas de produ-ção de arroz irrigado.

CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA

A certificação é o processo em que pro-dutos ou serviços recebem um selo de qua-lidade pela performance superior ou espe-cializada em relação a outros produtos ouserviços concorrentes.

As normas de certificação para em-presas rurais e agricultores que adotam aprodução orgânica ou agroecológica fo-ram pioneiramente elaboradas na décadade 80 por uma entidade européia, Interna-tional Federation of Organic AgricultureMovements (Ifoam). A partir das normasda Ifoam, vários países e Estados desen-volveram suas normas de produção orgâ-nica. Atualmente, o Codex Alimentarius ,órgão ligado a F AO, que dita normas dequalidade dos alimentos, também desen-volveu padrõ es de cultivo orgânico. N oBrasil, o IBD, em Botucatu, SP, foi a primei-ra entidade certificadora orgânica nacional,reconhecida internacionalmente.

A primeira norma de produção orgâni-ca oficial brasileira é a Instrução Normativano 007, de 17 de maio de 1999, do Ministérioda Agricultura e do Abastecimento6, que tam-bém instituiu o Órgão Colegiado Nacionale os Órgãos Colegiados Estaduais (BRASIL,2003). Estes órgãos, compostos de entida-des representativas do setor orgânico, sãoresponsáveis pela sistematização e implan-tação das normas da produção orgânica nosEstados e credenciamento de entidadescertificadoras. Atualmente, como o proces-so está recém-iniciando, não existem ain-da entidades oficialmente credenciadas no

Brasil. No entanto, algumas certificadorasnacionais e internacionais estão atuandono País extra-oficialmente.

No momento, pelo menos seis empre-sas ou entidades estão registradas comoprodutoras orgânicas de arroz no Brasil(PLANETA ORGÂNICO, 2003). Em San-ta Catarina, a Cooperativa AgropecuáriaSul Catarinense (Coopersulca), de Turvo(COOPERSULCA, 2003) e a AlimentosNardelli Ltda., de Rio do Oeste (PLANETAORGÂNICO, 2003), são empresas que estãoatuando no mercado de arroz orgânico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescimento da produção orgânicade arroz irrigado, atualmente, apresenta res-trições, devido a alguns fatores limitantes,tais como, disponibilidade de áreas novase de água em quantidade e qualidade, erestrição de mercado. No entanto, a socie-dade demanda produção de alimentos sobbaixo impacto ambiental. As tecnologiasdisponíveis e/ou em fase de desenvolvi-mento no sistema de cultivo pré-germinadopermitem redução drástica no uso de agro-químicos, mesmo que isso resulte em redu-ção na produtividade do arroz, mas com avantagem da redução nos custos de pro-dução, dando ao agricultor maior renta-bilidade.

Felizmente, tem sido observada umacrescente conscientização ambiental em to-dos os setores da sociedade, inclusive dossegmentos envolvidos na cadeia produti-va do arroz irrigado. Como a pesquisa aindanão dispõe de soluções não-químicas, paraum sistema completo de produção orgâni-ca d e a rroz i rrigado, é f undamental q uetécnicos e produtores conscientizem-se daimportância da adoção das alternativas jádisponíveis, que reduzem ao máximo o usode agroquímicos na cultura, minimizando,assim, os riscos de impacto ambiental. Aincorporação nos sistemas de produção de

práticas como o bom preparo e nivelamentodo solo, semeadura em lâmina d’água cominundação contínua, aplicação de agro-químicos somente quando necessária e naépoca recomendada e utilização de produ-tos de baixo impacto ambiental são algumaspráticas que poderão contribuir de maneirasignificativa para melhorar a sustentabili-dade da cultura do arroz irrigado.

O mercado para produtos orgânicostem experimentado um crescimento acen-tuado nos últimos anos não só no Brasil,mas também em todo o mundo. No entanto,a participação dos diversos produtos temsido diferente neste mercado. Informaçõesobtidas de empresas que têm atuado na pro-dução e comercialização de arroz produ-zido no sistema orgânico mostram que oprincipal fator limitante neste mercado é otamanho dele. Isto porque, diferentementedo que ocorre com produtos como frutas ehortaliças, o consumidor parece não ter amesma preocupação com relação à possívelpresença de resíduos de agroquímicos noarroz. Por esta razão, a produção de arrozsem agroquímicos deve ser viabilizada eco-nomicamente, mesmo que o mercado nãopague preços diferenciados em relação aoproduto convencional.

6A Instrução Normativa no 007, de 17 de maio de 1999, que dispõe sobre normas para a produção de produtos orgânicos vegetais e animais noBrasil, bem como as Normas de Cer tificação Orgânica Internacional, podem ser acessadas no por tal da Epagri: www.epagri.rct-sc.br

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84 Arroz: avanços tecnológicos

1Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG - CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG - CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agra, Ph.D., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:

[email protected]

INTRODUÇÃO

A importância do arroz é indiscutível,pois este cereal exerce papel fundamen-tal como alimento básico para a populaçãohumana em inúmeros países. É cultivadono Brasil principalmente em dois sistemasbastante distintos, que são o irrigado, pre-dominante no Rio Grande do Sul, SantaCatarina e Tocantins, e o de terras altas,utilizado no restante do País. No estado deMinas Gerais, o arroz é cultivado tambémem condições de várzea úmida.

A exemplo das demais espécies cul-tivadas, a cultura do arroz está sujeita aoataque de um grande número de doenças,sendo o maior contingente causado porfungos. As doenças que atacam a culturanos três sistemas de plantio (terras altas,várzea úmida e irrigado) são praticamenteas mesmas, porém com variações na inci-

Doenças do arroz

Vanda Maria de Oliveira Cornélio1

Vicente Luiz de Carvalho2

Anne Sitarama Prabhu3

dência e severidade delas para os diferen-tes locais e manejo.

As principais doenças do arroz em ordemde importância pelos danos causados são:brusone (Pyricularia grisea), mancha-parda (Bipolaris oryzae), escaldaduradas folhas (Monographella albescence)e mancha-de-grãos causada por diversosfungos e bactérias. Os fungos que causammancha-de-grãos em arroz em maior freqüên-cia são Bipolaris oryzae, Phoma sorghinae Monographella albescence. Outros fun-gos de ocorrência esporádica são Alternariapadwickii P. grisea, Curvularia spp.,Nigrospora sp., Fusarium spp. etc. As bac-térias que causam descoloração de grãosincluem Pseudomonas spp. e Erwinia spp.

Entre as doenças de menor importân-cia econômica destacam-se: mancha-estrei-ta (Cercospora oryzae), mal-do-colo

(Fusarium oxysporum), carvão-das-folhas(Entyloma oryzae), carvão-verde (Tilletiabarclayana) ou falso-carvão (Ustilaginoideavirens). As doenças causadas por nema-tóides incluem o nematóide formadorde galhas (Meloidogyne javanica) e pon-ta-branca (Aphelenchoides bessey). Dasdoenças causadas por bactérias, pode-secitar a podridão-da-bainha, causada porPseudomonas spp.

Minas Gerais e parte de Goiás e MatoGrosso do Sul (solos de cerrado) compõemas regiões de arroz de terras altas não fa-vorecido, em relação à incidência de doen-ças. A ocorrência de veranicos nestasregiões favorece o desenvolvimento dabrusone, que é uma das doenças limitan-tes da produtividade, seguida pela escalda-dura, queima das glumelas e mancha-parda(PRABHU, 1989).

Resumo - A cultura do arroz está sujeita à incidência de várias doenças. A ocorrência e oprejuízo que elas podem causar dependem da interação entre os fatores que afetam odesenvolvimento da doença, do grau de resistência do hospedeiro e das condições ambien-tais. Esses fatores são variáveis entre regiões e dentro de uma mesma região. O conhecimen-to do patógeno, dos sintomas e os danos provocados por ele às plantas, assim como asmedidas de controle, facilitam o diagnóstico e o manejo das doenças que afetam a cultura.Contudo, é necessário orientar técnicos e produtores, com o objetivo de diagnosticar,dimensionar e controlar as principais doenças que ocorrem na cultura do arroz, semprede forma integrada e com o mínimo de impacto sobre o ambiente e custo para o produtor,tendo sempre como meta a qualidade do produto final.

Palavras-chave: Oryza sativa. Fungos. Manejo. Controle químico.

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85Arroz: avanços tecnológicos

DESCRIÇÃO DASPRINCIPAIS DOENÇASE SEU CONTROLE

Brusone

Causada pelo fungo Pyricularia grisea

(Magnaporthe grisea), a brusone é consi-derada a doença mais importante do arroz.Os primeiros registros de ocorrência datamde 1600 e têm origem na China. A distribui-ção da doença é ampla, sendo encontradaem praticamente todas as regiões onde oarroz é cultivado em escala comercial. NoBrasil, segundo Silva (1993), as perdas oca-sionadas pela brusone podem chegar a100%, dependendo do grau de suscetibi-lidade da cultivar, do sistema de produçãoe das condições climáticas.

A severidade da brusone depende deuma série de condições relacionadas coma resistência do hospedeiro, a presença deraças do patógeno e a prevalência de fa-tores do ambiente favoráveis ou não àdoença.

As cultivares semeadas no sistema deterras altas são, de maneira geral, mais sus-cetíveis em relação às cultivadas no sistemairrigado. A variabilidade do patógeno, emque a resistência vertical das cultivares temsido constantemente quebrada, acarre-ta riscos de perdas maiores no cultivo deterras altas. No sistema irrigado, o arroz écultivado com lâmina d’água constante,propiciando um microclima relativamenteestável para as plantas. Além disso, a uti-lização de cultivares com bom nível de resis-tência contribui para diminuir os riscos dadoença.

Uma série de cultivares de arroz foi de-senvolvida para o cultivo em condições deterras altas e irrigado no Brasil, utilizandodoadores com amplo espectro de resistên-cia a P. grisea. As cultivares melhoradasde arroz de terras altas apresentam severi-dades variáveis no campo. Nas condiçõesde Goiânia, as cultivares Rio Paranaíba, Pri-mavera, Caiapó e Guarani apresentaram altograu de suscetibilidade comparado com‘Canastra’, ‘Maravilha’ e ‘Confiança’. Asseveridades da brusone foram relativa-

mente menores nas cultivares L141, Ara-guaia e Carajás (PRABHU; FILIPPI, 1998).Em trabalho realizado em Minas Gerais porCornélio (2001), utilizando-se as cultivaresCaiapó, Canastra, Confiança, Guarani, Pri-mavera, Carisma e a linhagem CNAs8983,verificou-se que a ‘Guarani’ e a ‘Primavera’foram mais suscetíveis, enquanto a ‘Caris-ma’ e a linhagem CNAs8983 foram as maisresistentes à brusone na folha.

Segundo Ribeiro e Sperandio (1998), noRio Grande do Sul, os danos causados pelabrusone ao arroz irrigado afetaram direta-mente a formação de grãos, diminuindo aprodutividade e o rendimento industrial dacultura. No estado de Tocantins, tambémtêm-se grandes prejuízos devido à mono-cultura de cultivar altamente suscetível àbrusone (PRABHU; FILIPPI, 1998). Segun-do Embrapa Arroz e Feijão (2002) esse Esta-do cultiva anualmente cerca de 70 mil hecta-res de arroz irrigado e, embora não existamestimativas quantificadas, os prejuízos sãosignificativos com a ocorrência de alta se-veridade da brusone nas folhas, devido àfalta de água na fase vegetativa. Relata ain-da que, na Região Nordeste e nos estadosdo Pará e Amazonas, a incidência da bruso-ne é baixa e de menor importância que asoutras doenças que ocorrem no arroz.

Etiologia

O gênero Pyricularia Saccardo é umgrupo amplo e diversificado de fungos,sendo na maioria fitopatogênicos. Este gê-nero foi descrito por Saccardo para aco-modar um fungo cinza-claro, que produzconídios da mesma cor em conidióforoslivres e eretos. Os conídios são, inicial-mente, aderidos ao conidióforo por meiode uma pequena célula e, quando maduros,a célula divide-se em duas, liberando o co-nídio (ELLIS, 1971).

Diversas espécies de Pyricularia, difí-ceis de diferenciar morfologicamente, ocor-rem na natureza como agentes patogênicosde ampla gama de hospedeiros em mais de80 gêneros de espécies vegetais (PURCHIO;MUCHOVEJ, 1991, PURCHIO, 1992).

A principal espécie neste gênero é o agen-te etiológico da brusone Magnaporthe

grisea (Herbert) Barr. O fungo correspon-de ao estádio anamórfico de Pyricularia

grisea Sacc, anteriormente referida comoPyricularia oryzae cav.

As colônias são muito variáveis quan-to à densidade, encontrando-se colôniasralas até cotonosas, e a cor do micélio podevariar de colônias esbranquiçadas até acin-zentadas escuras, em função do meio dacultura e do isolado do fungo (BEDENDO,1997).

Sintomas

A brusone ocorre desde o estádio deplântula até a fase de maturação da cultura.Os sintomas nas folhas iniciam-se com aformação de pequenas lesões necróticas,de coloração marrom, que evoluem, aumen-tando de tamanho, tornando-se elípticas,com a margem marrom e o centro cinza ouesbranquiçado (Fig. 1). Em condições fa-voráveis, as lesões coalescem, causandomorte das folhas e, muitas vezes, da plantainteira. Os sintomas nos nós e entrenósaparecem, geralmente, na planta madura(Fig. 2). A infecção no primeiro nó, abaixoda panícula, é referida como brusone dopescoço. Os sintomas observados nos en-

Figura 1 - Sintomas de brusone nas folhas

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86 Arroz: avanços tecnológicos

trenós são comuns somente nas cultiva-res suscetíveis de arroz de terras altas. Ainfecção na região dos nós é freqüente emcultivares suscetíveis de arroz irrigado(EMBRAPA ARROZ E FEIJÃO, 2002). Se-gundo Zapata (1985), o fungo pode estarassociado à mancha-de-grãos em arroz.

Fatores que favorecema brusone

O patógeno P. grisea pode sobreviverna forma de micélio ou conídio, em resto decultura, sementes e hospedeiros alterna-tivos. Quando o conídio é depositado nasuperfície da planta e na presença de águalivre, ele germina, produzindo tubo germi-nativo e apressório. A penetração é feitadiretamente por meio da cutícula, raramentepelos estômatos. A colonização dos teci-dos é facilitada por toxinas que provocama morte de células e por hifas, que se desen-volvem no tecido morto (BEDENDO, 1997).

Alguns fatores do ambiente podem in-fluenciar o desenvolvimento do fungo:

a) temperatura: a temperatura idealpara o desenvolvimento da doençavaria entre 20ºC e 25ºC;

b) umidade: as lesões desenvolvem-se mais rapidamente, quando a umi-dade relativa atinge, no mínimo, 93%;

c) luz: a alternância de luz tem papelimportante na produção de esporos.Em condições de luz ou escuro con-tínuo, a esporulação cai a níveis mui-to baixos, voltando a aumentar, quan-do os períodos de luz e escuro sealternam;

d) estresse hídrico: no sistema de cul-tivo de terras altas, a falta de chuvasfavorece o desenvolvimento da do-ença. Nessas condições, as plantasgeralmente apresentam um aumentonos teores de nitrogênio nas folhase panículas, aumento nos teores deaçúcar e redução do amido, favo-recendo a ocorrência de brusone.Assim, a incidência desta doençaé menor em anos chuvosos, pois aplanta cresce mais rápido que o de-senvolvimento do fungo. A ocor-rência de chuvas, durante a fase deenchimento dos grãos, também reduza severidade da brusone nas paní-culas;

e) outro fator importante que aumentaa severidade da brusone nas folhase panículas é o desequilíbrio nutri-cional, principalmente do nitrogênioem doses excessivas.

Medidas gerais de controle

a) varietal: o método mais fácil e eco-nômico de controle da brusone é ouso de cultivares resistentes ou mo-deradamente resistentes. A maioriados genótipos cultivados no paísapresenta resistência vertical quetem sido quebrada em curtos perío-dos, que variam de três a cinco anos;

b) cultural:

- bom preparo do solo, com araçãoprofunda, reduz a severidade dabrusone pela diminuição do efeitode estresse hídrico;

- plantio cedo, no início das chuvas,evita o inóculo primário;

- uso de cultivares precoces;

- maior espaçamento e menor den-sidade de semeadura;

- a adubação de cobertura deve serevitada entre 30 e 50 dias após a ger-minação, para não aumentar a seve-ridade da brusone na fase maissuscetível. A cobertura nitroge-nada, quando necessária, deve serfeita somente na fase de primórdiofloral;

- plantio de sementes sadias.

Para o cultivo do arroz irrigadorecomendam-se:

- sistematização do solo para facilitara irrigação adequada com uma lâ-mina d’água uniforme;

- bom preparo do solo, que permitao crescimento normal das plantas;

- adubação equilibrada;

- semeadura entre 15 de outubro e15 de novembro;

- uso de sementes de boa qualidadefisiológica e sanitária;

- plantio de cultivares resistentes;

c) químico: o controle químico deve serutilizado em ambientes de alta pres-são de brusone. Não se recomendaa pulverização com fungicidas na fa-se vegetativa. A planta é mais sus-

Figura 2 - Sintomas de brusone nas panículas

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cetível à brusone entre 30 e 60 diasapós a semeadura. O tratamento desementes com fungicidas sistêmi-cos deve ser utilizado com o objetivode eliminar os patógenos presentesnas sementes por ocasião do plan-tio, evitando-se, assim, a introduçãodesses patógenos em novas áreas,e também de proteger as plântulasnos primeiros estádios de desenvol-vimento.

Na parte aérea, no sistema irrigado,devem-se efetuar duas aplicações com fun-gicida, sendo a primeira no emborracha-mento tardio, até 5% de emissão de paní-culas e, 10 ou 15 dias após, dependendodo poder residual do fungicida usado oudas condições do clima.

No caso de utilizar produto granuladona água de irrigação, indica-se uma apli-cação, sete a dez dias antes da emissãodas panículas.

O uso do controle químico para o culti-vo do arroz de terras altas deve ser feitono início da emissão das panículas (5% a10% emitidas). Os produtos recomenda-dos encontram-se no Quadro 1.

Para um controle adequado da brusone,deve-se associar o uso de práticas culturaiscorretas e cultivares resistentes, visandodiminuir a aplicação de produtos químicos,contribuindo, assim, com a preservação domeio ambiente.

Mancha-de-grãos

A mancha-de-grãos (Fig. 3) pode serconsiderada um dos principais problemasda cultura do arroz nos três sistemas de cul-tivo. Essa doença é causada por um grandenúmero de gêneros de fungo, sendo rara apresença de um único gênero, que causa oproblema. Além dos fungos, as manchas-de-grãos podem ser causadas também porpercevejos (ATKINS, 1974), por desequilí-brios nutricionais (OU, 1987), ou por bacté-ria (PRABHU et al., 1999). Esses agentescausadores da mancha-de-grãos depreciama aparência do produto, reduzindo sua qua-lidade.

Segundo Prabhu et al. (1999), a queimadas glumelas causada pelo fungo Phoma

sorghina é um dos principais componentesda mancha-de-grãos. Em Minas Gerais, temsido observado um crescente aumento naincidência de Phoma spp. em sementes dearroz.

Etiologia

Os agentes causadores da mancha-de-grãos em arroz como relatado ante-riormente, são vários, sendo os principais:Drechslera oryzae (Breda de Haan) Subram& Jain (Fig. 4); Phoma sorghina (Sacc.)Boerema, Dorenbosch & Van Kesteren(Fig. 5); Alternaria padwickii (Ganguly)

Ellis; Pyricularia grisea

(Sacc) Cooke (Fig. 6);Ger lach ia o ry zae

(Hashioka & Yokogi)W. Gams (Fig. 7), alémde diferentes espécies deDrechslera, Curvularia

spp., Nigrospora sp.,Fusarium spp. etc.

Sintomas

As manchas aparecemdesde o início da emis-são das panículas até oseu amadurecimento. Ossintomas são muito va-riáveis, dependendo dopatógeno predominan-te, do estádio de infecção

Figura 3 - Sintomas de mancha-de-grãos em sementes de

arroz

Figura 5 - Estruturas do fungo

Phoma sorghina em sementes

de arroz

Figura 4 - Estruturas do fungo

Drechslera oryzae em sementes

de arroz

e das condições climáticas. A queima dasglumelas em arroz de terras altas manifesta-

se durante a emissão das panículas, com

manchas de coloração marrom-avermelhada

nas espiguetas, idênticas às manchas cau-

sadas por B. oryzae. As manchas em forma

de lente, com o centro esbranquiçado e a

borda marrom, aparecem quando a infec-

ção com P. sorghina ocorre na fase leito-

sa e pastosa, após a emissão das panículas.As glumelas dos grãos infectados comGerlachia oryzae apresentam grande nú-mero de pontuações avermelhadas do ta-manho da cabeça de alfinete (BEDENDO,

1983).

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88 Arroz: avanços tecnológicos

Tratamento de sementes

Fongorene Pyroquilon Brusone III 800 g/100 kg sementes

Mayran Thiran Brusone, mancha-parda, queima das

glumelas III 200-300g/100 kg sementes

Plantacol Quintozene Brusone, mancha-parda III 200 g/100 kg sementes

Terraclor 750 PM Quintozene Brusone, mancha-parda III 300 g/100 kg sementes

Tecto 100 Thiabendazole Brusone IV 200-300 g/100 kg sementes

Vitavax 750 PM Br Carboxin Brusone II 150-250 g/100 kg sementes

Vitavaz - Thiran 200 SC Carboxin + Thiran Brusone, mancha-parda, escaldadura, IV 250-300 mL/100 kg sementes

queima das glumelas

Vitavax-Thiran PM Carboxin + Thiran Brusone, mancha-parda, escaldadura, III 250-300 g/100 kg sementes

Uniroyal queima das glumelas

Aplicação foliar

Benlate 500 Benomyl Brusone III 500 g/ha

Bim 750 Br Benzotiazol Brusone II 200 - 300 g/ha

Bravonil 500 Chlorothalonil Mancha-parda I 2,5 - 3,0 L/ha

Brestanid Fentin hydroxide Brusone I O,5 L/ha

Brestan PM Fentin acetate Brusone, mancha-parda II 1,0 - 1,5 kg/ha

Constant Tebuconazole Brusone, mancha-parda III 0,75 L/ha

Daconil 500 Chlorothalonil Mancha-parda I 2,5 L/ha

Dithiobin 780 PM Mancozeb Brusone II 2,0 - 2,5 kg/ha

Dacostar 500 Chlorothalonil Mancha-parda I 2,5 - 3,0 kg/ha

Dithane PM Mancozeb Brusone III 2,0 kg/ha

Dithane PM Mancozeb Mancha-parda III 4,5 kg/ha

Flint 500 WG Trifloxystrobin Brusone III 200 - 250 g/ha

Elite Tebuconazole Brusone, mancha-parda III 0,75 L/ha

Folicur 200 CE Tebuconazole Brusone, mancha-parda III 0,75 Lha

Hinosan 500 CE Edifenphos Brusone I 1,0 - 1,5 L/ha

Hokko Kasumin Kaugamycin Brusone III 1,0 - 1,5 L/ha

Hokko Suzu Fentin acetate Brusone II 1,5 kg/ha

Manzate 800 Mancozeb Brusone, mancha-parda III 2,0 kg/ha

Manzate Gr Da Mancozeb Brusone, mancha-parda III 2,0 kg/ha

Mertin 400 Fentin hydroxide Brusone, mancha-parda I 750 mL/ha

Persit SC Mancozeb Brusone, mancha-parda III 8 L/ha

Priori Azoxistrobin Brusone, mancha-parda III 400 mL/ha

Rabicide Phthalide Brusone IV 1,0 - 1,5 L/ha

Score Difeconazole Mancha-parda I 300 mL/ha

Tecto 600 Thiabendazole Brusone IV 500 g/ha

Triade Tebuconazole Brusone, mancha-parda III 0,75 L/ha

Vanox 500 SC Chlorothalonil Mancha-parda I 2,5 - 3,0 L/ha

Vanox 750 PM Chlorothalonil Mancha-parda II 1,7 - 2,4 kg/ha

Sportak 450 SC Prochloraz Escaldadura I 1,0 L/ha

QUADRO 1 - Fungicidas registrados para o controle das principais doenças do arroz

DoençasNome comercial Ingrediente ativoClassificação

toxicológicaDoses recomendadas

FONTE: Agrofit (2002).

NOTA: Maiores detalhes sobre dosagens, número e intervalo de aplicações, observar o rótulo dos produtos. As indicações de defensivos contidas nesta pu-blicação não esgotam ou excluem outros produtos ou marcas, nem significa ser a preferência destes por parte dos autores do trabalho ou da EPAMIG.Classificação toxicológica: I – Extremamente tóxico; II – Altamente tóxico; III – Medianamente tóxico; IV – Pouco tóxico.

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89Arroz: avanços tecnológicos

Figura 7 - Estruturas do fungo Gerlachia oryzae em sementes de

arroz

Figura 6 - Estruturas do fungo Pyricularia em sementes de

arroz

Fatores que favorecemas manchas-de-grãos

a) chuva e alta umidade: a ocorrên-cia de chuvas durante a fase de for-mação de grãos favorece a doen-ça;

b) acamamento: quando ocorre o aca-mamento, as panículas entram emcontato com o solo úmido, contri-buindo para aumentar a descolora-ção dos grãos;

c) insetos: danos causados por insetosno campo, principalmente o perceve-jo, predispõem os grãos à infecçãopor microorganismos.

Medidas gerais de controle

a) varietal: as cultivares comerciaisapresentam diferentes graus de resis-tência à mancha-de-grãos. Segun-do Prabhu et al. (1999), as cultivaresGuarani e Rio Paranaíba podem serconsideradas resistentes à mancha-de-grãos, em condições de campo.Em análise sanitária de sementes dearroz das cultivares Caiapó, Carisma,Canastra e Guarani realizadas em Mi-nas Gerais, verificou-se que a inci-dência de Phoma spp. variou de 1%a 55% e que, em apenas sete dos 49lotes avaliados, a incidência foi me-nor que 5%;

b) cultural: as práticas culturais indi-

cadas para outros patógenos podemminimizar a mancha-de-grãos;

c) químico: em pesquisa realizada porSouza et al. (1993), os fungicidastestados não mostraram eficiênciaadequada no controle da doença.No Rio Grande do Sul, a aplicaçãode fungicidas protetores mostrouredução dos sintomas e melhoria daqualidade de grãos, mas sem dife-renças na produtividade (Prabhu etal., 1999).

Mancha-parda

Doença de ocorrência em todas as re-giões orizícolas do mundo, sendo maisimportante nas regiões tropicais. No Brasil,nas Regiões Norte e Nordeste, essa doençaassume grande importância em cultivos dearroz irrigado. Na Região Sul, ela ocorre nasáreas de lavouras semeadas continuamentecom arroz e que apresentam problema defertilidade.

A doença causa manchas-de-grãos.Dependendo da cultivar, essas manchaspodem causar perdas de peso de 12% a30% e reduzir de 18% a 22% o número degrãos cheios por panícula (PRABHU et al.,1980). O plantio de sementes infectadas re-duz a germinação e pode causar morte dasplântulas (BENDEDO, 1997).

Etiologia

O agente causal da mancha-parda antes

referido como Helminthosporium oryzaevar. Breda de Haan, hoje é considerado si-nônimo de Bipolares oryzae (Breda de Haan)Shoem. Outro nome aceitável é Drechsleraoryzae (Breda de Haan) Subramaniam &Jain. O patógeno pertence à classe dos Deu-teromicetos, subclasse Hyphomicetiaceae,ordem Moniliales e família Dematiaceae.Os conídios, em geral, são curvados, maislargos no meio e apresentam um leve afu-nilamento nas extremidades, de cor marrom,com seis septos, medindo 63 - 153 mm x14 - 22 mm e normalmente com hilo. Fre-qüentemente, são encontrados isolados nãoesporulativos em culturas. A exposição dasculturas à irradiação ultravioleta somenteproduz conidióforos, se for seguida por pe-ríodos escuros de quatro horas. A alter-nância de períodos de uma hora na luz eno escuro é mais indicada para a esporu-lação.

Sintomas

A doença afeta mais freqüentementeas folhas e os grãos, embora possa afetartambém o coleóptilo, as ramificações dapanícula e a bainha.

Nas folhas, as manchas jovens ou ain-da não totalmente desenvolvidas são arre-dondadas, pequenas, de coloração marrom.As manchas típicas são ovaladas, de co-loração marrom-avermelhada e normal-mente apresentam um centro cinza, ondepodem ser encontradas as estruturas re-

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90 Arroz: avanços tecnológicos

produtivas do patógeno (Fig. 8). As man-chas ocorrem geralmente de forma isolada.Podem coalescer e tomar considerável áreada folha.

Os coleóptilos originários de sementesinfectadas podem apresentar pequenasmanchas de coloração marrom-avermelha-da.

Nos grãos, as manchas são de cor marrom-escura ou marrom-avermelhada. Em ata-ques severos, as manchas podem cobrirparcial ou totalmente a superfície dos grãos.Em grãos severamente atacados, a remoçãodas glumas permite observar o escureci-mento do endosperma causado pelo fun-go.

As lesões nas bainhas são semelhantesàs lesões típicas nas folhas.

Fatores que favorecem amancha-parda

a) sementes infectadas constituemuma das fontes de inóculo primário.O fungo sobrevive nas sementesinfectadas de um a quatro anos, de-pendendo das condições de armaze-namento, segundo Agrawal et al.(1989 apud PRABHU et al., 1999);

b) os restos culturais constituem outrafonte importante de inóculo;

c) a temperatura ótima para infecção va-ria entre 20ºC e 30ºC;

d) a mancha-parda ocorre em condiçõesde umidade relativa superior a 89%,embora a infecção seja favorecidapelo molhamento da folha. O estres-se híbrido aumenta a suscetibilida-de da planta. Segundo Prabhu et al.(1999), no ecossistema de várzeas, aplanta torna-se mais suscetível à do-ença nos cultivos em várzea úmidaou sob condições de falta d’água,em arroz irrigado;

e) no cultivo de arroz irrigado, a inci-dência da mancha-parda é favore-cida pela baixa fertilidade do solo,com baixos níveis de adubação, espe-cialmente em potássio, manganês,sílica, ferro e cálcio. Os níveis muitoaltos ou muito baixos de nitrogêniofavorecem a incidência da doença.O conteúdo de sílica nas folhas énegativamente correlacionado coma incidência da mancha-parda nasfolhas;

f) o inóculo secundário é disseminadopelo vento e chuva a partir de plan-tas infectadas.

Medidas gerais de controle

a) varietal: de acordo com Prabhu etal. (1999), as cultivares comerciais dearroz de sequeiro, no Brasil, apresen-tam reações que variam de modera-

damente resistente nas folhas e nosgrãos;

b) cultural:

- escolher para o plantio variedadescom certo grau de resistência;

- tratar as sementes para redução doinóculo inicial;

- fazer os plantios em solos de boafertilidade natural;

- usar adubação equilibrada com ba-se na análise de solo;

- fazer o uso de práticas de rotaçãode cultura e de eliminação de gramí-neas das proximidades da área cul-tivada com arroz;

- evitar o excesso ou deficiência hí-drica durante o desenvolvimentoda cultura em terras altas;

c) químico: de acordo com Bedendo(1997), o uso de produtos químicosé uma opção de controle que deve seranalisada com cuidado, principal-mente para cultivos de sequeiro, emfunção do baixo rendimento da cul-tura. No entanto, se esta medida foradotada, deve-se lembrar que as fa-ses finais do ciclo da planta são asmais críticas e, portanto, a folha ban-deira e os grãos devem ser conveni-entemente protegidos. O Quadro 1relaciona os produtos recomenda-dos para o controle das principaisdoenças do arroz.

EscaldaduraA escaldadura é uma doença de ocor-

rência bastante generalizada, tendo sidoidentificada em diferentes partes do mun-do, onde o arroz é cultivado. É consideradauma das mais importantes doenças da cul-tura. Vem-se manifestando em níveis signi-ficativos em todas as regiões brasileiras,com destaque nas Regiões Norte e Centro-Oeste, tanto em plantios de várzeas comoem terras altas.

De acordo com Ribeiro (1984), na Re-gião Sul não são encontradas lavouras semincidência de escaldadura, embora essadoença não cause danos notáveis na áreafoliar.Figura 8 - Sintomas de mancha-parda em folhas de arroz

damente resistentesa suscetíveis. As cul-tivares Guarani, RioParanaíba e Caiapósão moderadamen-te resistentes, tantonas folhas como nosgrãos. Entre as cul-tivares de arroz irri-gado, a ‘Metica-1’apresenta-se alta-mente suscetível, noestado de Tocantins.Entre as cultivarescomerciais plantadasno Rio Grande do Sul,a ‘BR-IRGA 417’ tem-se mostrado modera-

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91Arroz: avanços tecnológicos

A doença paralisa o crescimento daplanta no início do emborrachamento, prin-cipalmente nos anos de alta precipitação.O principal dano que a enfermidade causaà cultura do arroz é o secamento da áreaatacada, com morte das folhas.

Etiologia

O agente causal da escaldadura, tantona sua fase imperfeita como perfeita, foireclassificado no início da década de 80.Atualmente, Gerlachia oryzae é o nomeque o fungo recebe como deuteromiceto.A fase perfeita corresponde ao ascomicetoMonographella albescens. Alguns relatosda literatura, anteriores a 1997, trazem adenominação Rhynchosporium oryzaepara o estádio conidial e Metasphaeriaalbescens para o estádio ascôgeno.

Os conídios são curvos, unicelularesquando jovens e bicelulados quando ma-duros, hialinos, não pedicelados e arredon-dados em ambas as extremidades e rara-mente apresentam dois ou três septos. Ascolônias jovens apresentam aspecto co-tonoso branco e, posteriormente, passama apresentar coloração creme e massasrosadas, onde os conídios são produzidos.Os ascosporos são originários de perité-cios esféricos de coloração marrom-escura;os ascos cilíndricos, levemente curvos, pro-duzem oito esporos. Estes apresentam for-mato elíptico, são hialinos, normalmentecom três septos (BEDENDO, 1997).

Sintomas

A doença ocorre predominantementenas folhas, podendo, no entanto, ser obser-vada também na bainha, partes da paní-cula e grãos. Os sintomas típicos nas folhasiniciam-se pelas extremidades apicais oupelas bordas das lâminas foliares. As man-chas não apresentam margens bem defini-das e são, inicialmente, de cor verde-oliva.Mais tarde, as áreas afetadas apresentamsucessões de faixas concêntricas, onde po-de ser observada uma alternância de faixasmarrom-claras e faixas marrom-escuras. Asbordas com aspecto de encharcamento pre-cedem as faixas de cor marrom, à medida

que a doença avança para áreas sadias dafolha. Nas bordas de uma mancha jovemcom tecidos encharcados é comum a pre-sença de massas esbranquiçadas, que con-têm conídios do patógeno (Fig. 9).

Em condições não favoráveis para odesenvolvimento da doença, os esporosproduzem inúmeras pequenas pontuações,marrom-claras, que, geralmente, são con-fundidas com outras doenças. Sintomassemelhantes são produzidos também nasbainhas.

Nos grãos, causa pequenas manchase, em casos severos, provocam descolo-ração das glumelas, tornando-as marrom-avermelhadas.

Fatores que favorecema escaldadura

a) o desenvolvimento do fungo é favo-recido por temperaturas compreen-didas entre 20ºC e 30ºC;

b) as sementes infectadas e os restosculturais são as principais fontes deinóculo;

c) o molhamento das folhas com águada chuva ou por períodos prolon-gados de orvalho durante as fasesde perfilhamento máximo e emborra-chamento;

d) a alta densidade de plantas por áreaaumenta a severidade da doença;

e) adubação nitrogenada alta favoreceo rápido desenvolvimento da escal-dadura;

f) os esporos podem ser disseminadosatravés da água e do vento.

Medidas gerais de controle

a) varietal: de acordo com Thomas eRaymundo, Bonman et al. (apudPRABHU et al., 1999), os genótiposque apresentam folhas mais largasgeralmente são mais suscetíveis à es-caldadura que os de folhas eretas eestreitas. Entre 200 cultivares/linha-gens de arroz avaliadas para resis-tência à escaldadura, observou-seque, entre as nativas, somente ‘Re-xoro’, ‘Três Portes’, ‘Baixada’ e ‘Pra-ta Preta’ foram resistentes e, entreas introduzidas, apenas ‘COL-14’e ‘Colômbia 1’. As cultivares desequeiro, classificadas em ordemdecrescente, quanto à severidade,foram: ‘Araguaia’, ‘Cuiabana’, ‘IAC165’, ‘Rio Paranaíba’, ‘Cabaçu’, ‘Gua-rani’ e ‘Centro América’ (PRABHU;BENDEDO, 1990).

Esses resultados demonstramser possível utilizar materiais comalgum grau de resistência em pro-gramas de melhoramento ou mesmousá-los diretamente;

b) cultural:

- usar sementes sadias;

- fazer tratamento de sementes;

- manejar adequadamente a irriga-ção;

Figura 9 - Sintomas de escaldadura nas folhas

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92 Arroz: avanços tecnológicos

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- observar espaçamentos e densidadede plantio adequados, evitando o nú-mero excessivo de plantas por área;

- evitar adubações excessivas de ni-trogênio;

c) químico: segundo Prabhu et al. (1999),no Brasil, ainda não há informaçõesquanto à viabilidade econômica do con-trole químico da escaldadura. Outrasinformações verificar Quadro 1.

TRATAMENTO DE SEMENTESNO CONTROLE DAS DOENÇASDO ARROZ

Muitas doenças podem ser adquiridasno campo, através de processos naturaisde contaminação, porém, se o plantio foirealizado com sementes contaminadas, aschances do aparecimento de doenças sãomaiores.

De acordo com a concepção modernade controle de doenças de plantas, dentreas inúmeras medidas que podem ser empre-gadas pelo agricultor, o uso de sementessadias ou sementes com qualidade sanitá-ria, dentro de padrões preestabelecidos, éde grande significado por várias razões. Emprimeiro lugar, é preciso saber que um expres-sivo número de doenças da maior relevân-cia, em quase todas as espécies cultivadas,é disseminado pela associação do inóculode seus agentes causais com as sementes,sob diversas formas (MACHADO, 2000).

A semente de arroz pode-se constituirem um importante veículo de disseminaçãode patógenos, uma vez que a maioria dasdoenças da cultura tem seus agentes causaiscomumente a ela associada (TANAKA, 1986).

É importante que a semente a ser utili-zada no plantio esteja isenta de patógenos,ou que estes estejam dentro de padrõesaceitáveis. Caso contrário, deve-se fazer otratamento dessas sementes.

O tratamento das sementes, quer sejaquímico, quer seja de outra natureza, desdeque efetuado de maneira adequada, é umamedida valiosa pela sua simplicidade deexecução, baixo custo relativo e eficácia sobvários aspectos. Assim, utilizando-se se-mentes sadias no plantio e um manejo

adequado da cultura, muitas doenças po-dem ser controladas em níveis satisfató-rios. Produtos utilizados no tratamentoquímico de sementes de arroz estão rela-cionados no Quadro 1.

Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999.v.2, p.151-169. (Embrapa Arroz e Feijão.Documentos, 96).

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1 Enga Agr a, Ph.D., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

INTRODUÇÃO

O termo “qualidade de grão”, em arroz,apresenta diferentes significados, sendoconcebido e visto também de forma diferen-ciada, dependendo da finalidade de consu-mo, do grupo étnico envolvido, do tipo deprocessamento utilizado, entre outros fato-res. Dessa forma, a definição de um arrozcomo de boa ou má qualidade é grandemen-te influenciada pelas preferências e/ou ne-cessidades do consumidor e, quando estasdiferem, o produto pode ser julgado comobom e adequado por um grupo e totalmen-te inadequado por outro. O presente artigoaborda as d iversas características l igadasà qualidade do arroz e é dirigido a todosprofissionais interessados no produto,tanto do ponto de vista da comercialização,como do ensino, da produção, da utiliza-ção (alimentar ou não) e da transformaçãoindustrial.

COMPONENTES DE QUALIDADENos Estados Unidos, cultivares de arroz

igualmente adaptadas ao consumo de mesa

Qualidade de grãose padrões de classificação de arroz

Noris Regina de Almeida Vieira1

Resumo - As características determinantes da qualidade de grão em arroz refletem-sediretamente no valor do produto no mercado. No entanto, o conceito de qualidade é con-cebido e visto de maneira diferenciada, dependendo da finalidade do consumo, do grupoétnico envolvido, do tipo de processamento pós-colheita, entre outros. De maneira geral,a qualidade de grão em arroz pode ser classificada em quatro grandes grupos: compor-tamento no beneficiamento; qualidade comestível, de cocção e de processamento; valornutritivo e adequação do produto aos padrões de comercialização.

Palavras-chave: Oryza sativa. Arroz parboilizado. Beneficiamento. Cocção; Processamento.Padrão de comercialização. Valor nutritivo.

e ao processamento industrial, bem comovariedades com características especiais,apesar de ainda terem uma produção limi-tada, vêm adquirindo cada vez mais impor-tância entre os diversos segmentos quecompõem a indústria de arroz naquele país(BOLLICH et al., 1980, 1990).

No Brasil, com a globalização da econo-mia e com as mudanças pelas quais o paísvem passando nos últimos anos, tem sidomarcante a demanda por qualidade nos pro-dutos de consumo em geral e nos alimentosde forma particular. No caso específico doarroz, não tem sido diferente e o consumidorestá cada vez mais exigente com o produtoque lhe é ofertado no mercado. Esta carac-terística qualitativa da demanda impõe fortepressão s obre o s p reços, d esvalorizandoo produto que não atende aos requerimen-tos do mercado (CASTRO et al., 1999).

Assim, uma série de parâmetros dequalidade, representados pelas caracte-rísticas físico-químicas do grão, deve serconsiderada na seleção de linhagens paraa obtenção de cultivares compatíveis com

as exigências do mercado, de maneira quecontemplem as expectativas de t odos o selementos da cadeia produtiva da cultura.De modo geral, a qualidade de grão em arrozpode ser enfocada sob quatro aspectos:comportamento no beneficiamento; quali-dade comestível, de cocção e de processa-mento; adequação aos padrões de comer-cialização do produto e valor nutritivo.

Comportamento nobeneficiamento

Embora as preferências de consumo dearroz, em termos de tipo de grão, aroma eaparência antes e após o cozimento sejambastante variadas, um p roduto uniforme,sem a presença de grãos quebrados e/oudanificados é usualmente preferido pelamaioria dos consumidores. Desse modo,uma performance adequada no beneficia-mento, com bons rendimentos de grãosinteiros, é também almejada por produtorese cerealistas, uma vez que o índice de que-bra durante o processamento dos grãospara consumo afeta o valor do produto no

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mercado e consiste em fator determinan-te da aceitabilidade de novas variedades(CUEVAS-PEREZ; PESKE, 1990).

Variações na ocorrência e intensidadede baixos rendimentos de grãos inteiros nobeneficiamento tornam-se mais alarmantesno caso do arroz de terras altas, devido oproduto, nesse ecossistema, estar maissujeito aos efeitos das variações climáticasque o cultivado nas várzeas irrigadas porinundação contínua.

Além do sistema de cultivo, váriosoutros fatores, como características pró-prias da cultivar em uso, condições cli-máticas durante o desenvolvimento, ma-turação e colheita d o grão , assim co mocondições de processamento e manejopós-colheita influenciam, sobremaneira, orendimento do arroz no beneficiamento(BHATTACHARYA, 1980).

A quebra de grãos no beneficiamentoé, portanto, de grande importância econô-mica para a indústria do arroz, especial-mente quando se a tenta para a d iferençana valoração do produto inteiro e do que-brado. Desta maneira, a pesquisa tem-sepreocupado com o desenvolvimento decultivares com elevado rendimento no be-neficiamento e boa estab ilidade para estacaracterística, ou seja, cultivares menossensíveis a quedas significativas no per-centual de inteiros, quando deixadas nocampo além do ponto ideal de colheita dalavoura.

As principais propriedades do grão dearroz que influenciam seu comportamen-to no beneficiamento são determinadas,basicamente, pelas características da casca(glumas: lema e pálea), sua coloração e pu-bescência, pelas dimensões e formato dogrão e pela dureza e aparência do endos-perma. Ademais, o teor de umidade dosgrãos, na época da colheita ou do benefi-ciamento, influencia grandemente na recu-peração de grãos inteiros durante o proces-so de descasque e polimento.

Características da casca

Embora sem importância aparente, noarroz beneficiado e empacotado, colocado

à disposição do consumidor no mercadovarejista, as características da casca podemter influência significativa na qualidade eaceitação do produto, em função do tipode processamento utilizado. Cultivares dearroz com casca de coloração mais escuraresultam, geralmente, num produto maisescurecido após o processo de parboili-zação, o que prejudica a aparência e inter-fere na aceitação para consumo, quandocomparado com um produto mais claro eatrativo.

Cultivares com casca pubescente quasesempre são rejeitadas pelo cerealista porserem mais abrasivas e, além de provocarmaior desgaste às máquinas de beneficia-mento, têm sido causa de desconforto e dealergia para os operadores, devido à poeiraque ocorre durante o processo de descas-que dos grãos.

Além desses dois aspectos, grãos mal-empalhados, ou seja, com aberturas na jun-ção da lema com a pálea na porção apicaldo grão, apresentam maiores problemas deconservação após a colheita, por estaremmais expostos ao ataque de pragas duran-te o armazenamento. Cultivares com essacaracterística geralmente apresentam maiordano causado por insetos, o que prejudicaa qualidade e interfere negativamente noaspecto visual do produto, seja no arrozbranco, integral ou parboilizado, seja norendimento de beneficiamento.

Dimensões e formato do grão

Durante o processo de desenvolvimen-to de cultivares melhoradas, deve ser leva-do em conta que o comprimento e a formado grão são características herdadas inde-pendentemente e podem ser combinadascomo desejado. Além disso, não existembarreiras para a recombinação de qualquerclasse de grão com outros parâmetros dequalidade, como aparência do endospermaou teor de amilose, ou com característicasagronômicas, como tipo de planta ou ciclode maturação (JENNINGS et al., 1979).

Os padrões utilizados para classificar oarroz em função do comprimento e forma dogrão variam de um país para outro e refle-

tem as preferências de consumo. No Brasil,além do comprimento, tomado como basepara enquadrar o grão como longo, médioou curto, é também considerada a relaçãocomprimento/largura para enquadrá-lo co-mo do tipo longo-fino (agulhinha), tipo degrão característico das variedades irrigadas(BRASIL, 1988). No mercado brasileiro, cul-tivares com grãos tipo longo-fino têm valorcerca de 30% superior ao de cultivares comgrãos longos.

Aparência do endosperma

A aparência do endosperma do arroz éuma característica importante tanto para oconsumidor, quanto para o produtor e paraa indústria de beneficiamento e de empa-cotamento do produto. Consumidores dearroz de diversos tipos de mercado dão pre-ferência para o produto com endospermatranslúcido, sem áreas opacas, livre de man-chas e imperfeições causadas por ataquede insetos ou por doenças. A aceitaçãodo produto é igualmente prejudicada pelaocorrência de grãos com centro branco (oubarriga branca), que são áreas opacas cau-sadas por um acondicionamento mais frou-xo das partículas de amido e proteína. Alémdo aspecto visual negativo, esses são maissujeitos a quebras no beneficiamento etêm valor de mercado bastante diminuído,embora tais manchas desapareçam natu-ralmente durante o cozimento e não alte-rem o valor nutritivo do produto (JENNINGSet al., 1979, CASTILLO, 1981). O centrobranco não deve ser confundido com a opa-cidade apresentada pelos grãos de varie-dades conhecidas como glutinosas oucerosas, cujo endosperma é naturalmenteopaco, e nem com o gessamento do endos-perma (grãos gessados), que ocorre quan-do o arroz é colhido ainda imaturo e comalto teor de umidade (acima de 26%) ou emgrãos danificados por insetos.

A presença e a intensidade de manchasbrancas nos grãos de arroz são parcialmen-te c ontroladas g eneticamente. C ontudo,alguns fatores ambientais, principalmentea temperatura imediatamente após o flores-cimento, favorecem ou inibem a expressão

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dessa característica (JENNINGS et al., 1979).A uniformidade de maturação da lavoura éimportante para prevenir a incidência degrãos gessados no produto. O estande inicialdeve ser uniforme e o produtor deve seguircorretamente as recomenda ções de espa-çamento e densidade de plantio (CASTROet al., 1999).

Dureza do endosperma

O grau de resistência do endospermado arroz a rachaduras reflete-se diretamenteno rendimento de grãos inteiros durante oprocesso de beneficiamento.

Sobre a dureza do endosperma incidemfatores relacionados com a estrutura celulare intercelular, uma vez que a proteína e osfenômenos de hidratação e desidratação doendosperma intervêm diretamente na ma-nutenção da integridade estrutural do grãode arroz (CASTILLO TORO et al., 1990).Estudando as propriedades físico-químicasde uma variedade resistente a fissuras nogrão e três linhas isogênicas, diferindo ape-nas para essa característica, Bhashyam etal. (1984) observaram que os principais fa-tores que contribuem para a resistência dosgrãos ao trincamento podem ser agrupadossob quatro aspectos:

a) hidratação;

b) amido;

c) parede celular;

d) orientação e estrutura celular.

Bhashyam et al. (1984) indicaram tam-bém que o elevado conteúdo de pentosan,grupo de carboidratos que por hidróliseoriginam pentoses, observado nas linhasresistentes, pode ser o agente responsávelpor alterações nas propriedades da pare-de c elular, c ausando m aior r esistência afissuras.

Teor de umidade

Aliado à melhor performance varietal,o teor de umidade dos grãos na colheita, ométodo de colheita, as condições de seca-gem, trilha e estocagem do produto, o teorde umidade por ocasião do beneficiamento,

e as várias interações entre esses compo-nentes são fundamentais para a maximi-zação do percentual de grãos inteiros nobeneficiamento do arroz.

O teor de umidade do arroz por ocasiãoda colheita, assim como as condições cli-máticas vigentes durante o período queantecede a colheita do produto e que contri-buem para flutuações na umidade dos grãosainda no campo, no período pré-colheita,como também o teor de umidade por oca-sião do beneficiamento, têm sido consi-derados fatores importantes na determi-nação do comportamento do produto nobeneficiamento. Esse comportamento podeser avaliado tanto diretamente, através damedição do percentual de grãos inteirosapós o beneficiamento (CALDERWOOD;WEBB, 1971, SIEBENMORGEN; JINDAL,1986, BERRIO; CUEVAS-PEREZ, 1989), oude forma indireta, observando o percentualde grãos trincados, ainda em casca, antesdo beneficiamento (KUNZE; HALL, 1965,SRINIVAS et al., 1978).

Um dos principais aspectos a ser consi-derado pelo produtor de arroz, refere-se àdeterminação do ponto de colheita, de mo-do que maximize o seu retorno econômi-co, que pode ser estimado, por ocasião dacolheita, com base na produtividade dalavoura, na qualidade do arroz colhido enos custos envolvidos com a secagem doproduto. Esses fatores são, por sua vez,função do teor de umidade do grão, sen-do também, os dois primeiros estreitamen-te dependentes das características varie-tais.

De maneira geral, para obtenção demaiores rendimentos, tem sido re comen-dado colher o arroz com teor de umidadeainda elevado, entre 18% e 22%, secá-lo àbaixa temperatura e em tantas etapas quan-tas forem necessárias, para evitar a ocor-rência de fissuras nos grãos e seus efeitosprejudiciais à qualidade, além de auferir me-lhores preços de mercado. No entanto, oplanejamento adequado da lavoura, a pon-deração dos custos envolvidos, o bom sen-so do produtor e a busca da qualidade são

aspectos que, combinados, tornam-se fun-damentais à obtenção de sucesso em qual-quer empreendimento agrícola.

Qualidadecomestível, de cocção ede processamento

O desenvolvimento varietal de arroz pa-ra consumo de mesa relaciona a qualida-de de cocção com o tempo de cozimento, aabsorção de água, a perda de sólidos so-lúveis e o ganho de volume durante o cozi-mento, enquanto a qualidade comestível,ou palatabilidade, está mais relacionadacom o aspecto, o aroma, a consistência e atextura do arroz cozido. Em programas demelhoramento genético que vi sam obtercultivares com adaptação diversificada, quepossam ser igualmente utilizadas para con-sumo de mesa ou processamento industrial,como parboilização, enlatamento ou arrozde cozimento rápido, torna-se necessária aobservação de parâmetros qualitativos adi-cionais, que assegurem um comportamentoadequado, qualquer que seja sua finalidadede consumo.

Os fatores que controlam o compor-tamento culinário e de processamento doarroz são, fundamentalmente, ligados àscaracterísticas físico-químicas do produto.Ocorre, contudo, uma série de alteraçõesno período de pós-maturação do grão paraconsumo, durante o armazenamento, quemodifica as propriedades organolépticas doarroz.

Propriedades do amido

Embora a reação do arroz ao calor du-rante o p rocesso de cozimento possa serinfluenciada por fatores como o estádio dematuração do grão na época da colheita, ograu de polimento dos grãos, ou as condi-ções e o tempo de armazenamento, seu com-portamento de cocção é extremamente de-pendente de sua composição química, emque o amido é o componente predominante,perfazendo, aproximadamente, 90% do grãode arroz beneficiado polido (SIMPSON etal., 1965).

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O amido é um polissacarídeo compostode duas estruturas moleculares complemen-tares: amilose e amilopectina. Aumentos oudecréscimos no teor de uma delas reflete-se de forma inversa no teor da outra e re-sultam em tendências de comportamentoigualmente inverso em relação às proprie-dades de cocção ou de processamento doarroz. Nas variedadesglutinosas (cerosas),cujos grãos apresentam endosperma opacoe, quando cozidos, apresentam-se úmidose pegajosos, o amido é quase totalmenteformado por amilopectina, com um conteú-do de amilose que varia entre 0% e 2%.Nas variedades não glutinosas, os valoresencontrados para o teor de amilose acham-se na faixa de 7% a, aproximadamente, 34%(JULIANO, 1984).

O teor de amilose do arroz exerce, reco-nhecidamente, uma influência marcante naperformance de cozimento. A escala paraclassificação do teor de amilose do arroz,utilizada no Programa de Seleção de Linha-gens da Embrapa Arroz e Feijão (MARTÍ-NEZ; CUEVAS PEREZ, 1989), considera osseguintes valores:

a) teor alto: atribuído ao arroz com con-teúdo de amilose entre 28% e 32%;

b) teor intermediário: entre 23% e 27%;

c) teor baixo: para o arroz com con-teúdo amilótico entre 8% e 22%.

Para atender as preferências de con-sumo no Brasil, buscam-se cultivares comconteúdo de amilose intermediário a alto,cujos grãos, quando cozidos, apresentam-se secos e soltos.

Temperatura de gelatinização

Um importante efeito do cozimento doarroz refere-se ao aumento e à solubilizaçãodos grânulos de amido, resultando em alte-rações, como aumento de volume, aberturaou fragmentação dos grãos e desenvolvi-mento de texturas diferenciadas no arrozcozido. A temperatura de gelatinização (TG)do amido refere-se à temperatura de cozi-mento, na qual a água é absorvida e os grâ-nulos d e a mido a umentam i rreversivel-

mente de tamanho com simultânea perdade cristalinidade. A determinaçã o da TGrepresenta uma ferramenta muito impor-tante na avaliação do comportamento culi-nário do arroz (JENNINGS et al., 1979).

A temperatura de gelatinização é comu-mente estimada de forma indireta, atravésdo g rau d e d ispersão e c larificação d osgrãos de arroz submetidos à ação de so-luções alcalinas (MARTÍNEZ; CUEVAS-PEREZ, 1989) e varia, aproximadamente,entre 63oC e 80oC. Pela sua determinação,os materiais são classificados como:

a) TG baixa: arroz cuja temperatura degelatinização do amido ocorre entre63oC e 68oC;

b) TG intermediária: entre 69oC e 73oC;

c) TG alta: temperatura entre 74 oC e80oC.

Grãos de arroz com TG baixa podem-setornar excessivamente macios e até mes-mo desintegrar-se durante o cozimento. Poroutro lado, cultivares com TG alta requeremmais água e maior tempo de cozimento, queaquelas com TG baixa ou intermediária, sen-do geralmente rejeitadas em quase todosos mercados consumidores. No Programade Seleção de Linhagens, da Embrapa Arroze Feijão, utilizam-se, preferencialmente, ma-teriais com TG intermediária. De acordocom Jennings et al. (1979), a maioria, ou atémesmo a totalidade, das variedades do gru-po japonica apresenta TG baixa, enquantogrande parte das do grupo indica, tropi-cais, apresenta gelatinização intermediáriaou baixa.

Consistência de gel

Essa c aracterística b aseia-se n a c on-sistência da pasta de arroz. Variedades comconteúdo amilótico alto, acima de 28%, po-dem apresentar variabilidade quanto à con-sistência de gel (CG), enquanto aquelas comteor de amilose abaixo de 27%, geralmenteapresentam CG macia. Assim, a determi-nação da CG foi concebida para comple-mentar o teste de amilose e auxiliar na dis-criminação de variedades com conteúdo de

amilose alto, fornecendo um bom índiceda textura do arroz cozido e de seu compor-tamento após o resfr iamento. De a cordocom a consistência da pasta fria apresen-tada pelo arroz, devido ao efeito combina-do da amilose e da amilopectina, as varie-dades são classificadas como: CG r ígida;CG intermediária e CG macia (MARTÍNEZ;CUEVAS-PEREZ, 1989).

Alterações pós-colheita

As alterações progressivas das proprie-dades físico-químicas do arroz após a co-lheita ocorrem, principalmente, nos três ouquatro primeiros meses de armazenagem e,independente das condições ambientais,são sempre mais intensas no arroz benefi-ciado que no arroz em casca. No cozimento,o arroz beneficiado envelhecido absorvemaior quantidade de água, expande mais,apresenta menor índice de sólidos solúveisna água de cocção e é mais resistente à de-sintegração dos grãos durante o cozimen-to, que o arroz recém-colhido. Esse com-portamento é atribuído, provavelmente, àelevação da insolubilidade da proteína edo amido durante o armazenamento, ele -vando também o tempo de cozimento doproduto (PUSHPAMMA; REDDY, 1979apud JULIANO, 1985b, BARBER, 1972).

Assim, um arroz recém-colhido que ten-de a empapar durante o cozimento pode,com o passar do tempo, modificar esse com-portamento, tornando-se mais adequado àspreferências de consumo e apresentar-seseco e solto. Isso evidencia a importânciado conhecimento sobre o comportamentovarietal nesse sentido. Cultivares como a‘Primavera’ e a ‘Javaé’, por exemplo, podemser consumidas pouco tempo após a co-lheita, enquanto a ‘Maravilha’ e a ‘Meti-ca 1’ necessitam de até seis meses para atin-gir um comportamento de cocção adequa-do (CASTRO et al., 1999).

Embora, na sua maioria, as alteraçõespós-colheita do arroz sejam positivas edesejáveis, especialmente em função daspreferências de consumo brasileiro, sobcondições inadequadas de armazenamento

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podem ocorrer alterações prejudiciais àqualidade do produto ao ponto de inviabi-lizar sua comercialização como alimento, emdecorrência do ataque de insetos, desen-volvimento de fungos e de processos defermentação ou rancidificação (PAGALI-LAUAN, 1976). O arroz integral, da mes-ma forma que o arroz mal polido, devido àconservação das camadas externas do grão,mais ricas em lipídios, apresenta poder deconservação inferior ao arroz beneficiadopolido.

Critérios de avaliação

Para descrever as características comes-tíveis d e c ocção e d e p rocessamento d euma determinada cultivar de arroz são uti-lizados critérios específicos. Estes baseiam-se nos resultados de uma série de testesfísicos e químicos que, em conjunto, ser-vem como indicadores da performanceda cultivar (WEBB et al., 1972). Durante oprocesso de seleção de linhagens, depen-dendo da infra-estrutura disponível e dosobjetivos do Programa de MelhoramentoGenético da Cultura, amostras de arroz sãogeralmente avaliadas, entre outras, pelasseguintes determinações:

a) teor de amilose (JULIANO, 1971,JENNINGS et al., 1979);

b) reação alcalina do grão beneficiadopolido como estimativa da tempera-tura de gelatinização (MARTÍNEZ;CUEVAS-PEREZ, 1989, LITTLE etal., 1958, JENNINGS et al., 1979);

c) capacidade d e a bsorção d e á gua(HALICK; KELLY, 1959);

d) perfil viscoamilográfico (JULIANO,1985a);

e) consistência de gel (JENNINGS etal., 1979);

f) estabilidade do produto parboilizadoe enlatado (WEBB; ADAIR, 1970).

Padrões de comercialização

As Normas de Identidade, Qualida-de, Embalagem e Apresentação do Arroz(BRASIL, 1988) proporcionam um sistema

de comercialização por classes e tipos, queleva em consideração os f atores de quali-dade associados a limpeza, uniformidade,condições sanitárias e pureza do produto.Os padrões de classificação constituem abase para a avaliação da qualidade parafins de comercialização do produto em cas-ca, integral, polido e parboilizado, bem co-mo dos fragmentos de grão (quebrados equirera). As designações oficiais no Brasil,utilizadas para enquadramento do produ-to e marcação da embalagem, são funda-mentadas nos parâmetros descritos a se-guir (BRASIL, 1988).

Grupos

De acordo com a forma de apresentaçãodo produto a ser comercializado, o arrozpode ser classificado em dois grandes gru-pos, arroz em casca e arroz beneficiado.

Subgrupos

O grupo do arroz em casca pode serenquadrado em dois subgrupos: arroz emcasca natural ou parboilizado. Para o arrozbeneficiado são previstos quatro subgru-pos, a saber: arroz beneficiado integral, po-lido, parboilizado ou parboilizado integral.

Classes

Para o enquadramento em classe de quais-quer dos subgrupos acima, são considera-das cinco categorias, com base nas dimen-sões dos grãos inteiros após o descasquee polimento. As quatro primeiras classesreferem-se ao produto longo-fino, longo,médio e curto e, para que o produto comer-cial possa ser enquadrado em qualquer umadelas, é necessário que, no mínimo, 80%do peso dos grãos inteiros da amostra sejarepresentado por grãos com as dimensõesprevistas oficialmente, como segue:

a) grãos longo-finos:

- comprimento ≥ 6 mm;

- espessura ≤ 1,90 mm;

- relação comprimento/largura ≥2,75 mm;

b) grãos longos: comprimento ≥ 6 mm;

c) grãos médios: comprimento entre 5 mme menos de 6 mm;

d) grãos curtos: comprimento inferior a5 mm.

Adicionalmente, é considerada uma quin-ta classe, designada como arroz misturadoe destinada à classificação do produto quenão se enquadre em nenhuma das classesanteriores e apresente-se constituído pelamistura de duas ou mais delas, sem predo-minância (80%) de nenhuma.

Tipos

Qualquer que seja o grupo, subgrupoou classe a que pertença, o arroz destinadoà comercialização como grão para consu-mo é classificado em cinco tipos, expressosnumericamente e definidos de acordo como percentual de ocorrência de defeitos ecom o percentual de grãos quebrados equirera. De acordo com a importância e asconseqüências no produto de consumo,são c onsiderados c omo d efeitos g raves(matérias estranhas, impurezas, grãos mo-fados, ardidos, pretos e não gelatinizados)e defeitos gerais (grãos danificados, man-chados, picados, amarelos, rajados, gessa-dos e não parboilizados). Alguns dessesdefeitos são comuns a todos os subgrupose outros específicos. Para enquadramentoem tipo comercial são observados os per-centuais de defeitos graves, de defeitos ge-rais, de grãos quebrados e de quirera. Ospercentuais máximos de defeitos permitidosem cada um dos cinco tipos encontram-seexpressos em tabelas de tolerância, p aracada subgrupo, a serem aplicadas na tipi-ficação do produto.

Produto sem enquadramento

O arroz em casca, o arroz beneficiado eos fragmentos de grão que não atendem àsexigências de enquadramento em tipo co-mercial do produto são classificados comoabaixo do padrão ou desclassificado.O pro-duto classificado abaixo do padrão podeser comercializado como tal, desde queperfeitamente identificado na embalagem,ou pode ser rebeneficiado, desdobrado e

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recomposto para efeito de enquadramen-to em tipo. Já aquele desclassificado tem asua comercialização proibida tanto paraconsumo humano, quanto animal, porencontrar-se em mau estado de conserva-ção, apresentando-se fermentado, mofado,com odor estranho ou contendo substân-cias nocivas à saúde e teores de micotoxi-nas acima dos limites estabelecidos por le-gislação específica do Ministério da Saúde,conforme Brasil (1988).

Renda no benefício e

rendimento do grão

Para a valoração comercial do produ-to, são considerados a renda no benefí-cio, expressa pelo percentual total de arrozbeneficiado ( grãos i nteiros, q uebrados equirera), e o rendimento do grão, expresso,separadamente, pelo percentual de inteirose de quebrados obtido. A legislação prevêuma renda base em nível nacional de 68%para a renda no benefício, constituída deum rendimento de grão de 40% de inteirose 28% de quebrados e quirera. Rendimen-tos inferiores ou superiores aos estabele-cidos pela renda base devem ser corrigidospela aplicação de coeficientes específi-cos.

Outros critérios considerados

Além dos critérios citados anteriormen-te, devem ser determinados também o teorde umidade e os percentuais de matériasestranhas e impurezas, cujos valores, seacima de determinados limites, devem serusados para efeito de descontos no pesolíquido do lote avaliado. Para tais determi-nações, existem procedimentos padrão aserem seguidos pelos classificadores.

Valor nutritivo

O arroz é um cereal versátil, de preparofácil e constitui a principal fonte de alimentopara grande p arte da população mundi al.O valor nutricional do arroz elaborado éfunção, p rincipalmente, de s eu conteúdoprotéico (JULIANO, 1985b). O conteúdocalórico de 100 gramas de arroz cozido cor-responde a 119 calorias para o arroz integral,

109 para o arroz branco polido e 106 parao arroz parboilizado (RICE COUNCIL FORMARKET DEVELOPMENT, 19--). O arrozé uma excelente fonte de carboidratos com-plexos, que, por serem de absorção lenta,são capazes de prover o organismo comenergia por períodos prolongados, alémde ser nutricionalmente superior à maioriade outros alimentos também ricos em car-boidratos, por apresentar uma prote ínaque é de boa qualidad e e qu e contém osoito aminoácidos essenciais ao homem. Oarroz integral é uma importante fonte deminerais e vit aminas, contendo quantida-des apreciáveis de tiamina, riboflavina eniacina, bem como de fósforo, ferro e po-tássio.

CONCLUSÃO

Um arroz de qualidade destaca-se porseu comportamento diferenciado no mer-cado, evidenciando maior elasticidade deaproveitamento tanto para consumo direto,quanto para transformação industrial. Des-sa forma, produzir com qualidade significaobter um produto competitivo, adequadoàs preferências dos consumidores, resul-tado da ação de todos os segmentos dacadeia produtiva da cultura. As preferên-cias de consumo no Brasil são voltadaspara cultivares de grãos agulhinha (longo-fino), com aspecto translúcido, baixo índi-ce de defeitos e de grãos quebrados e comcomportamento adequado de cocção. Ga-rantia de bons preços e maior facilidade devenda são atrativos que os orizicultoresprecisam levar em conta em seu empreen-dimento agrícola. Certamente, só consegui-rá permanecer no mercado quem, além daprodutividade, se preocupar também coma qualidade.

Com respeito à classificação comercialdo arroz, nos Estados Unidos, os critériosconsiderados têm sido submetidos a cons-tantes revisões e mudanças desde a suaelaboração, em 1916. Nos últimos anos, asdiferenças mais marcantes são decorrentesda introdução de princípios econôm icos,tanto na seleção de parâmetros de classifi-

cação como no e stabelecimento de t ole-râncias numéricas para esses fatores. Aincorporação de princípios econômicosnas normas oficiais de padronização e clas-sificação de grãos para consumo é a base,onde se fundamentam as quatro diretrizesconsideradas n o e stabelecimento d e p a-drões de qualidade naquele país:

a) facilitar o comércio e o mercado degrãos;

b) refletir o potencial de conservaçãodos grãos;

c) identificar f atores d e im portânciaeconômica para processadores econsumidores;

d) proporcionar as ferramentas parageração de incentivos visando à me-lhoria de qualidade e à manutençãodo mercado.

A partir dessas diretrizes, têm sido pos-sível aos órgãos legisladores e fiscali-zadores, avaliar não só a importância doscritérios considerados na atualidade, mastambém a necessidade de eventuais mu-danças futuras (HILL, 1988). Adicional-mente, as alterações nas normas deixam deser arbitrárias e, por requererem que a reti-rada ou incorporação de um parâmetro, bemcomo a estipulação de limites de tolerânciaestejam em conformidade com pelo menosuma das diretrizes do sistema, tornam-sefortemente justificadas sob o ponto de vis-ta econômico.

No Brasil, devido à evolução nas ca-racterísticas de mercado de p rodutos emgeral, em função da maior sofisticação doconsumidor, especialmente no que se referea produtos alimentícios, a busca de quali-dade e as necessidades de revisão e ade-quação dos padrões de comercialização sãotambém uma constante. Adicionalmente,com a abertura de mercado aos países doMercosul, a busca da uniformização de cri-térios e adequação de padrões torna-se ain-da mais premente em função da demandadiferenciada e requerimentos específicosdo mercado externo.

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101Arroz: avanços tecnológicos

1D.Sc. Ciência dos Alimentos, Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

2D.Sc. Melhoramento Genético, Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

3Palestra sobre o consumo de arroz no Brasil e no mundo, proferida no 1o Congresso Nacional da Cadeia Produtiva do Arroz, VII RENAPA, emFlorianópolis, SC, em 2002, pela Dr a Suely Longo, nutricionista e professora da Universidade Metodista do Estado de São Paulo.

INTRODUÇÃO

Presente desde os tempos remotos naalimentação humana, o arroz tem origemprovável no Sudeste da Ásia, que incluiChina, Índia e Indochina. Naquele conti-nente, localizam-se, atualmente, 58% dapopulação do planeta, que consome 90%da produção mundial de arroz.

Considerado alimentação básica de vá-rios países da Ásia, o arroz é cercado decrenças que o associam à prosperidade e àfelicidade. O costume de jogar arroz nosnoivos simboliza o desejo de felicidade efartura ao jovem casal, costume em parteassimilado pelos ocidentais.

No Brasil, o plantio do arroz foi intro-duzido no período de colonização, por voltade 1540, na Capitania de São Vicente. Suaprodução espalhou-se pelo litoral brasi-leiro, principalmente no Nordeste. Em 1820,já se plantava o cereal, no Rio Grande doSul, mas apenas em 1904 é que surgiram asprimeiras lavouras empresariais, que utili-zavam o método da irrigação.

Arroz como alimento

Priscila Zaczuk Bassinello1

Emílio da Maia de Castro2

Resumo - Comparam-se a composição nutricional dos diferentes subgrupos de arroz, suacontribuição na dieta humana e a versatilidade de aplicação e preparo do produto comoalimento. São descritas as diferenças dos usos de vários tipos de arroz encontrados hojeno mercado, o potencial de aplicação dos seus subprodutos, assim como as principaiscaracterísticas envolvidas na qualidade do produto. Destacam-se, ainda, os principaisestudos de melhoramento do arroz no âmbito nutricional e tecnológico, bem como algu-mas linhas de pesquisa de interesse socioeconômico.

Palavras-chave: Oryza sativa. Subprodutos. Valor nutritivo. Qualidade. Amido.

IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL

O arroz é um alimento de grande valornutricional, altamente energético, rico emproteínas, sais minerais (fosfato, ferro ecálcio) e vitaminas do complexo B. A pro-teína do arroz espalha-se por todo o grão,permeando o amido e dando-lhe um altovalor nutricional de fácil digestão.

Estudos da Fundação Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 3

mostram que, em algumas regiões do país,a população tem reduzido o consumo decereais, grãos, vegetais e frutas em prol deum aumento de produtos de origem animale alimentos industrializados. Este fato podeexplicar, em parte, o aumento de doençascrônicas degenerativas, como obesidade,doenças cardiovasculares, hipertensão,dislipidemias, entre outras, associadas aohábito alimentar. As análises das recomen-dações nutricionais mostram a necessidadede incentivar o consumo de carboidratos,respeitando-se a devida proporção em re-lação ao total de calorias da a limentação

diária e entre os diferentes tipos de car-boidratos. Dentro deste contexto, o arrozaparece como fonte de carboidrato, possuiuma produção em larga escala em nívelnacional e já se tornou um hábito alimentarda população. Possibilita uma diversidadede formas de preparo, quer em pratos sal-gados ou doces, podendo ser associado aoutros alimentos, enriquecendo ainda maisa qualidade nutricional da preparação. Emrelação a sua composição nutricional, for-nece também outros nutrientes importantespara a manutenção da saúde (Quadro 1).

CONSTITUIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

O grão de arroz é constituído de casca,película, germe e endosperma. A películarefere-se ao conjunto de camadas de célu-las situadas entre a casca e o endosperma(pericarpo e aleurona). Durante o benefi-ciamento do arroz, a película e o germe(embrião) são quase integralment e retira-dos pelo polimento dos grãos, dando ori-gem ao farelo. As vitaminas e sais minerais

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102 Arroz: avanços tecnológicos

estão concentrados na película e germe,portanto, no farelo do arroz. O endosper-ma, também considerado o órgão de reservanutricional d a s emente, c ontém b asica-mente amido e é o produto final consumidopela população.

O Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (Mapa) classifica o arrozem dois grupos conhecidos como em cas-

ca e beneficiado (BRASIL, 1988). Este, porsua vez, é dividido nos seguintes subgru-pos: polido (arroz branco comum); integral(macrobiótico ou esbramado); parboilizadointegral; parboilizado (Fig. 1).

No arroz branco comum, a casca, a pe-lícula e o germe são eliminados no descas-camento e polimento, restando apenas oendosperma, de coloração esbranquiçada.

Na culinária tradicional, este arroz é o maisutilizado pelos chefs de cozinha, especial-mente como guarnição dos alimentos.

Preferido pelos adeptos da alimentaçãonatural, o arroz integral apresenta vanta-gens nutritivas em relação ao polido, poisem sua composição encontram-se í ndicesmais elevados de proteínas, lipídeos, fibras,sais minerais e vitaminas. Suas caracterís-ticas fazem com que seja benéfico em dietase especialmente na prevenção de algumasdoenças, como diabetes, obesidade, câncerde cólon-retal e aterosclerose. Possui tam-bém propriedade hipolipidêmica que reduzníveis de colesterol e fosfolipídios no san-gue. É um potente antioxidante natural.A tecnologia empregada atualmente poralgumas empresas no processo de bene-ficiamento do arroz integral condicionaa superfície do grão de forma natural,tornando-o mais poroso e, como resulta-do, reduz o tempo de cozimento. Em apenas20 minutos é possível sua preparação.

O arroz parboilizado é muito consumi-do principalmente no Rio de Janeiro e Ba-hia. Em alguns Estados do sul do Brasil,é s ubmetido, a ntes d o d escascamento epolimento, a um tratamento hidrotérmico(pré-cozimento), denominado parboilização(Fig. 2), o qual mantém íntegras as proprie-dades nutritivas do grão (amido, vitaminashidrossolúveis e sais minerais). Os grãosparboilizados polidos podem, entretanto,ter melhor valor nutritivo que os brancospolidos tradicionais, pela migração, espe-cialmente de sais minerais, da película pa-ra o inte rior do endosper ma, que ocorredurante o processo de parboilização. Esteprocesso, entretanto, dá ao produto umacoloração amarelada.

O parboilizado integral é o produto querecebe o t ratamento h idrotérmico, porémsomente sofre descascamento, não sen-do retirada a película que dá origem ao fa-relo.

O processo de parboilização compreen-de três etapas (COOPERATIVA..., 2003):

a) encharcamento: o a rroz em cascaé colocado em tanques com águaquente por algumas horas. As vita-

FONTE: Vieira e Carvalho (1999).(1) O teor de sódio no produto cozido é variável em função do teor de sódio da água e da adição de saldurante o cozimento.

Água (%) 12 70,3 12 72,6 10,3 73,4

Proteína (%) 7,5 2,5 6,7 2 7,4 2,1

Gordura (%) 1,9 0,6 0,4 0,1 0,3 0,1

Carboidrato (g) 77,4 25,5 80,4 24,2 81,3 23,3

Fibra (g) 0,9 0,3 0,3 0,1 0,2 0,1

Cinza (g) 1,2 1,1 0,5 1,1 0,7 1,1

Cálcio (mg) 32 12 24 10 60 19

Fósforo (mg) 221 73 94 28 200 57

Sódio (mg)(1) 9 - 5 - 9 -

Potássio (mg) 214 70 92 28 150 43

Tiamina (mg) 0,34 0,09 0,07 0,02 0,44 0,11

Riboflavina (mg) 0,05 0,02 0,03 0,01 - -

Niacina (mg) 4,7 1,4 1,6 0,4 3,5 1,2

QUADRO 1 - Composição do grão de diferentes subgrupos de arroz (em 100g)

ComponenteIntegral Polido Parboilizado

Cru Cru CruCozido Cozido Cozido

Figura 1 - Esquema geral do processo de obtenção dos diferentes subgrupos de arroz e

seus subprodutos diretos

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103Arroz: avanços tecnológicos

minas e sais minerais migram para ointerior do grão, à medida que esteabsorve a água;

b) gelatinização do amido: o arroz úmi-do é submetido a uma temperaturamais elevada, em vapor sob pressão,e sofre uma alteração na estruturado amido, de cristalino a amorfo. Ogrão fica mais compacto e os nutri-entes são fixados em seu interior;

c) secagem: o arroz é secado para pas-sar, posteriormente, pelos processosde descascamento, polimento e se-leção.

O a rroz parboilizado possui d iversasvantagens: torna-se mais solto quando co-zido; rende mais na panela; requer menosóleo no cozimento; mantém suas proprie-dades nutritivas, podendo ser reaqueci-do diversas vezes; conserva-se por maistempo e com os grãos mais inteiros.

O arroz integral está, por outro lado,mais sujeito à rancificação pela presençade ácidos graxos insaturados e enzimaslipolíticas (na camada de farelo). A insta-bilidade do produto é, então, devida à pre-sença de seus lipídios, sujeitos à rancidezoxidativa e hidrolítica. Esta última p ro-vocada pela ação da lipase com formaçãode ácidos graxos livres. O rompimento dascélulas do farelo durante os processos dedescascamento e polimento parcial favo-rece o contato das enzimas com seu subs-trato. A deterioração é maior em condições

de temperatura e umidade elevadas, sendofavorecida a reação enzimática. Nessas con-dições, a lipase provoca rápida hidrólisedos lipídios presentes no farelo do arroz.A redução do teor de umidade e tempera-tura de armazenamento pode diminuir avelocidade da atividade enzimática, permi-tindo prolongar o armazenamento do arrozintegral.

Cada subgrupo do arroz (por exemplo,o parboilizado) é ainda classificado em cin-co tipos, de 1 a 5, com numeração crescen-te com a diminuição da qualidade. O arroztipo 1 é o melhor . Exemplos de defeitosencontrados: grãos quebrados e quirera,deficiência na gelatinização dos grãos (queé a fixação de vitaminas no centro do grão)etc.

Propriedades do amidodo arroz

Com base na composição química mé-dia do arroz branco ou polido, os carboi-dratos, mais concretamente o amido, cons-tituem o maior grupo componente do grão.São dois os polímeros de glicose que cons-tituem o amido: a amilose (cadeia linear, comligações α-1,4 glicosídicas) e a amilopecti-na (cadeia ramificada, com ligações α-1,4e α-1,6 glicosídicas). A porcentagem rela-tiva destes polímeros varia, constituindo aamilose entre 15% e 30% do total.

Quando se cozinham alimentos ami-láceos, ou seja, que contêm elevadas por-centagens de amido, um dos objetivos é

torná-los digeríveis, isto é, acessíveis àsnossas enzimas amilolíticas. A frio, a estru-tura do amido mantém-se inalterada. Masgrandes modificações ocorrem na sua estru-tura, quando o amido é aquecido na pre-sença de água (FIGUEIREDO; GUERREIRO,2003), a saber: a temperatura aplicada “re-laxa” a estrutura granular e permite a entra-da de água no interior dos grânulos deamido, os quais incham com o aquecimen-to, provocando sua gelatinização e aumen-tando a viscosidade. Isso ocorre a uma tem-peratura específica, dependendo da origemdo amido, denominada temperatura de ge-latinização, a partir da qual se instala umcolapso granular. É o que acontece, quan-do, por exemplo, se deixa o arroz cozerdemasiado tempo, ficando com uma con-sistência quase de “papa”. Quando o gelde amido é deixado arrefecer , ocorre umrealinhamento dos polímeros de glicose e,especialmente, da amilose, observando-seaumento de ri gidez do preparado. A estefenômeno dá-se o nome de retrogradaçãodo amido. Disto, resulta um aumento naconsistência final e, no caso do arroz, estevai ficando mais solto e seco. A retrogra-dação é maior, quanto maior for a porcen-tagem de amilose no amido. As variedadesde arroz que têm um teor inferior de amiloseresultam em grãos que, depois de cozidos,ficam pastosos e colantes, sendo, portanto,mais adequados na preparação de um arroz-doce cremoso. Quando o arroz é mais ricoem amilose (> 22% do amido), ele dá origem

Figura 2 - Processo de parboilização do arroz em casca

NOTA: Mundo Regional (2003).

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104 Arroz: avanços tecnológicos

a um produto solto, adequado para acom-panhamento de preparados com molho.

QUALIDADE DO ARROZ

O arroz branco comum adquiriu maiorqualidade, devido aos processos de me-lhoramento genético utilizados, em gr an-de parte, pelo processamento posterior ,com equipamentos de alta tecnologia, quedão maior agilidade e precisão na limpezae seleção dos gr ãos. Dessa forma, o arrozchega à etapa de empacotamento com maioruniformidade e polimento perfeito. O hábitodoméstico de catar o arroz, ou seja, eliminaras impurezas e os grãos mofados, ardidos,quebrados ou com casca, agora é tarefa dopassado. Essa é uma das maiores evidên-cias, notada até por pessoas pouco fami-liarizadas, das mu danças na qualidade doproduto comercializado hoje em dia.

Para a agricultura e a indústria, a qua-lidade do arroz é medida em termos dediversos parâmetros relacionados, princi-palmente, com rendimentos e dimensões(SECTOR..., 2003b). Em geral, interessa orendimento em t/ha de grãos de arroz emcasca nos campos, o rendimento industrialno descasque e branqueamento do arroz(renda do benefício e rendimento de intei-ros e de trinca após descasque e branquea-mento) e a dimensão dos inteiros (compri-mento, largura e espessura, que definem aclasse comercial de um produto).

Com o objetivo de facilitar e proteger osistema de comercialização do arroz, emespecial para o consumidor , o Mapa esta-beleceu normas de identidade, embalageme apresentação do produto, entre elas, umaque é importante para esta discussão, a de-finição dos padrões de classe e tipo de grão(BRASIL, 1988). A classe de grão é defini-da em função de suas dimensões. Com opassar do tempo, a pr eferência da grandemaioria da população brasileira tem mudadodrasticamente da classe longo, para longo-fino (agulhinha).

A definição do tipo de grão é feita emfunção dos defeitos considerados gravese os gerais, além da presença de quebradose quireras. Para se ter um produto de boa

qualidade, os defeitos devem ser reduzidosao mínimo possível, especialmente aquelesconsiderados graves, que são conseqüen-tes da presença de impurezas e matériasestranhas, bem como de grãos que sofreramalgum tipo de fermentação (mofados e ardi-dos). Os defeitos gerais, com as respectivasporcentagens toleradas, são em função dapresença de:

a) grãos manchados e picados, conse-qüentes de danos provocados prin-cipalmente pelos percevejos-dos-grãos;

b) amarelos, aqueles submetidos a altastemperaturas, normalmente decor-rentes de processos fermentativos;

c) rajados, conseqüentes da p resençade grãos do arroz-vermelho;

d) gessados, grãos opacos, esbranqui-çados, em função de um arranjo frou-xo das moléculas de amido.

Com relação ao produto preparado paraconsumo, outros aspectos de qualidade sãoconsiderados e depende de cada pessoa,de aspectos culturais e regionais. Entre-tanto, percebe-se, de maneira geral, que noBrasil, a preferência é pelo arroz que, apósseu preparo, se apresente com aspectoenxuto, solto e macio e que, ao ser reaque-cido, não en dureça.

VARIEDADES DE ARROZ

Do ponto de vista da qualidade doproduto, as variedades de arroz podemser classificadas em três grandes grupos(SECTOR..., 2003a): Índica; Japônica eAromática. A esta classificação, sugeridapor Sector... (2003a), deve ser acrescido ogrupo Japônica Tropical, constituído pe-las variedades de arroz de terras altas cul-tivadas no Brasil e na África. A principaldiferença entre eles tem a ver com o tipo deamido presente. O indica abriga o maior nú-mero de variedades em todo o mundo. Ogrão é predominantemente longo e fino e oamido é constituído, na maioria das varie-dades, com teores mais elevados de amilose(acima de 28%). Como tem pouca amilo-

pectina, não é muito suscetível a retrogra-dação, ou seja, os grãos ficam normalmentemuito soltos. É um arroz fácil de cozer, masque não absorve muito o sabor , pela suadificuldade em absorver água.

O grupo Japônica Temperado, varie-dades muito cultivadas no Japão, Califórnia(EUA) e outras regiões de clima tempera-do, é muito apreciado pelos japoneses, pre-cisamente pela sua capacidade de absor-ver sabores, que lhe advém da superiorabsorção de água, motivada por uma maiorporcentagem d e a milopectina. O g rão éarredondado e p ode ser mais longo (maisapreciado em Portugal) ou mesmo quaseredondo (médio e curto - mais apreciadona Espanha e Itália). Seu elevado teor emamilopectina implica que este arroz devaser cozido com mais água que o indica e,como é sensível ao excesso de água, porretrogradar facilmente, pode res ultar numempapado. Esta aglomeração não é má emsi. Aliás, para os japoneses é boa, porquese torna fácil comer o arroz com pauzinhos(hashis). Em geral, o grupo Japônica Tem-perada não é aprecia do na E uropa e nocontinente americano.

O grupo Japônica Tropical é represen-tado pelas variedades de arroz de terrasaltas do Brasil e da África. Seus grãos sãolongos e largos, entretanto, muitas dasvariedades, recentemente lançadas, têmgrãos longos e finos. Embora se observemuita variação entre as variedades, quantoaos teores de amilose, na maioria delas oconteúdo é considerado como interme-diário. Esta condição lhes confere a qua-lidade de um produto que, ao ser cozido,apresenta-se com grãos soltos e macios,características que atendem à preferênciado consumidor brasileiro e à maioria dasalternativas de uso do arroz.

As variedades de arroz do grupo Aro-mática já conquistaram uma fatia conside-rável do mercado do Reino Unido (cercade 20%) e Estados Unidos (cerca de 10%).Em parte, isto se deve a razões étnicas decomunidades emigrantes nesses países.As principais variedades cultivadas perten-cem a duas variantes: ‘Basmati’ e ‘Jasmim’.

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105Arroz: avanços tecnológicos

São muito semelhantes ao Índic a, porémcom grãos que se alongam mais no cozi-mento e que liberam um aroma agradável eintenso ao cozinhar. O amido possui tam-bém teores relativamente mais elevados deamilose, o que resulta em um arroz solto efácil de cozinhar.

A evolução no setor de produção eindustrialização do arroz traz novas formasde apresentação do produto e começa acativar os consumidores com a variedadede produtos oferecidos e maior praticida-de no preparo. Hoje, com as pesquisasdesenvolvidas na agricultura e mais tecno-logia no beneficiamento e empacotamento,o produto adquiriu grande versatilidade deutilização e começa a ocupar novos nichosde mercado. Sua preparação difere de acor-do com o tipo de grão que é mais consu-mido na região. Assim, pode-se dizer queeste alimento é unanimidade nos povos quehabitam o planeta, agradando a todas asetnias.

APLICAÇÕES DOSSUBPRODUTOS DO ARROZ

Os subprodutos do a rroz, geralmentedescartados por causa do menor interes-se econômico, resultam, em parte, do seubeneficiamento como casca, farelo gordo,quirera (arroz polido quebrado); dos resí-duos de cultivo como a palha, entre outros,normalmente obtidos por processos indus-triais mais refinados (amido, farinha, arrozpré-cozido, arroz expandido, cereais mati-nais, saquê, óleo de arroz).

Palha

Componente do tijolo-mutirão, com ci-mento e arenito, em proporção ideal pa-ra garantir durabilidade e resistência àação da chuva, ventos e do próprio tem-po (TIJOLO-MUTIRÃO..., 1993). Poderátornar-se uma alternativa viável para ba-ratear os custos da construção civil. A pa-lha de arroz também pode ser utilizada comocobertura morta nos solos cultivados.

Cascas

No beneficiamento do arroz, a cascacorresponde a cerca de 20% do peso do

produto. Tem lenta biodegradação, baixadensidade e peso específico. Carbonizada,a casca de arroz pode ser usada como subs-trato (pura ou em mistura com outros ma-teriais) na propagação de plantas flores-tais, frutíferas, olerícolas e ornamentais(SOUZA, 1995). Porém o desconhecimen-to de tal utilidade é um dos fatores do seubaixo aproveitamento. Como matéria-primaintegral, a casca tem aplicação potencialna fabricação de diversos produtos (CAR-VALHO; VIEIRA, 1999):

a) adesivos;

b) adsorvente de materiais tóxicos;

c) como componente da a limentaçãoanimal para prevenir formação degases e distúrbios estomacais;

d) como material de cama e ninhos paraanimais;

e) para polimento de metais, devido aoseu poder abrasivo;

f) como material de construção na con-fecção de tijolos etc.

Farelo de arroz

O farelo integral utilizado na extraçãodo óleo é proveniente da operação de bru-nimento do arroz durante o seu beneficia-mento. Da matéria-prima original (arroz emcasca), o farelo é gerado na proporção de8% a 10%. Aliados à s características dequalidade, outros fatores que colocam ofarelo como matéria-prima com amplo po-tencial de utilização são a sua abundânciae o baixo preço. Tem sido aproveitado, emquase sua totalidade, como aditivo em ra-ções animais, como adubo, ou simplesmen-te descartado como detrito não aproveitá-vel (CARVALHO; VIEIRA, 1999). Contémsubstâncias de valor nutricional, que in-cluem lipídeos com benefícios à saúde,além de propriedades que reduzem o coles-terol e a calciúria. O farelo de arroz apre-senta todos os aminoácidos essenciais aohomem e constitui boa fonte de fibras paraa dieta humana. O seu conteúdo vitamíni-co inclui as vitaminas do complexo B e aslipossolúveis A e tocoferóis com atividade

vitamínica E. Pode ser uma boa fonte denutrientes de baixo custo, na complemen-tação da dieta humana, sem alterar hábitosalimentares (ALENCAR; ALVARENGA,1991). As fibras do farelo, por possuir boacapacidade de retenção de água e óleo, po-dem ser utilizadas no desenvolvimento devários produtos industrializados, como nopreparo de laxativos pela indústria farma-cêutica, como despoluente na adsorção demetais pesados da água para fins industriaisou para consumo domiciliar (CARVALHO;VIEIRA, 1993).

Óleo de farelo de arroz

Não é um óleo popular no mundo, maspossui uma demanda padrão como óleosaudável, nos países asiáticos. Do pontode vista nutricional, o interesse no óleo defarelo de arroz tem crescido, principalmen-te devido aos benefícios à saúde, os quaisincluem a redução de ambos colesteróis dosoro e de baixa densidade lipoprotéica. Poroutro lado, sua produção está limitada porum fator: após o polimento, o óleo é de-composto rapidamente em ácidos graxoslivres pela lipase, tornando-se imprópriopara refinamento e uso comestível. Esseprocesso de rancificação pode ser evitadotanto pela rápida extração do óleo, comopela inativação da lipase através de trata-mento térmico, conhecido como processode estabilização. Ambas alternativas re-querem instalações e equipamentos espe-ciais que oneram a produção. Conseqüen-temente, a u tilização d o f arelo d e a rrozrestringe-se à alimentação animal.

Linhagens de arroz, com baixo teor deácido palmítico e alto teor de ácido oléico,como a IAC 1201, por exemplo, são interes-santes para elaboração de óleos de cozinhaou para salada, nos quais se deseja um bai-xo conteúdo de saturados e alto teor deácido oléico. Por outro lado, óleos vegetaiscom altas concentrações de ácidos graxossaturados são interessantes para a indús-tria de alimentos, especialmente para evi-tar a necessidade de processos de hidro-genação e transesterificação na produçãode margarina e manteiga ou gordura para

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massas. Márquez-Ruiz et al. (1999) revela-ram o alto potencial de óleos ricos em ácidopalmítico serem usados como gorduraspara fritura, dada sua estabilidade térmica.A concentração de ácido palmítico no fa-relo de arroz é tão alta, quanto o conteúdopresente nos mutantes de soja (15%-20%).Logo, o teor de ácido palmítico no farelode arroz parece ser um alvo promissor domelhoramento para a p rodução de marga-rina, manteiga e óleos para fritura. A va-riação observada no conteúdo lipídico eno perfil de ácidos g raxos, pelo departa-mento de agricultura dos EUA (GOFFMANet al., no prelo) sugeriu a existência de ma-terial de melhoramento disponível paramodificar o conteúdo de óleo e melhorar aqualidade l ipídica no farelo de arroz. Li-nhagens Índica podem ser fontes de altoteor de ácido palmítico, enquanto as Japô-nicas, de baixo teor.

O orizanol, substância encontrada noóleo de arroz, é con hecido cientificamen-te por sua extraordinária capacidade deaumentar o nível de colesterol bom, ou pro-teína de alta densidade (HDL), além de re-duzir o mau colesterol, ou proteína de baixadensidade (LDL), e os níveis de triglicerí-deos. Possui características antialergênicase antienvelhecimento e contribui no blo-queio da ação deletéria dos raios ultravio-leta na pele (CARVALHO; VIEIRA, 1999).Contém quantidades significativas de to-cotrienóis, que reduzem o colesterol sérico,decrescendo a b iosíntese d o c olesterolhepático, com efeitos hipocolesterolêmico,antioxidante e propriedades antitrombó-ticas e anti-carcinogênicas. Quando tratadoem alta temperatura, degrada menos queos demais óleos comestíveis. Alimentos fri-tos em ó leo de a rroz apresentam melhorodor e sabor, mesmo quando armazenadosem alta temperatura. Carregam 15% a 20%menos gordura. A mistura do óleo de arrozcom outros óleos de cozinha para melhoriada qualidade nutricional aparece como maisuma interessante alternativa de utilização.

Amido de arroz

Os grãos quebrados e a quirera são sub-produtos do beneficiamento, que apresen-

tam baixo valor ag regado no Brasil. Tra-dicionalmente, são utilizados em raçõesanimais o u c omo c oadjuvantes e m c er-vejarias, no processo de fermentação. Umadas diversas formas de aproveitamento doarroz quebrado é como fonte de amido, cer-tamente agregando valor comercial a essesubproduto. O amido de arroz é um produtonão a lergênico, uma vez que não se t emconhecimento de reações adversas causa-das pelo seu consumo ou manuseio. Porisso, tem sido recomendado para dieta depessoas portadoras da doença celíaca, quese caracteriza pela intolerância do organis-mo à ingestão de glúten. Ademais, o amidode arroz apresenta baixo índice glicêmico,ou seja, causa pequeno aumento do t eorde glicose no sangue após a ingestão, oque o torna um importante componente nobalanceamento das refeições (CARVALHO;VIEIRA, 1999). Possui estabilidade no con-gelamento e descongelamento, não haven-do necessidade de modificação prévia,como acontece com amidos de outras fon-tes, tornando-se de grande utilidade emprodutos alimentícios congelados. Podepassar pelo processo de cozimento, visan-do sua pré-gelatinização. O seu aproveita-mento em cereais matinais melhora a tex-tura e a expansão do produto final, sendotambém um substituto natural e de baixocusto, para o uso de gorduras em snacks(SHENG, 1995).

Farinha de arroz

Diferentes tipos de farinha de arroz pré-gelatinizadas podem ser obtidos atravésdo cozimento do arroz quebrado, seja porextrusão, vapor, ou pressão. O produto écozido e posteriormente secado e moído.Esta farinha é amplamente usada nos mer-cados americano e asiático, na fabricaçãode pães, massas, molhos, produtos mati-nais extrusados, além de outros que pre-cisam destacar-se no sabor, aspecto e qua-lidade. Facilita, por exemplo, a obtençãode snacks mais macios e que demoram aamolecer, quando embebidos em leite;reduz a quebra do produto durante o empa-cotamento e transporte. Na fabricação de

produtos com textura semelhante à de bo-los, a utilização da farinha de arroz, pré-gelatinizada ou não, melhora as condiçõesde formação de bolhas de a r necessáriasà expansão de volume e alcance da textu-ra desejada (SHENG, 1995). Além dessasvantagens, a isenção de glúten na farinhade arroz abre novas possibilidades de usode pães e bolos, com ela elaborados, paraportadores de doença celíaca. No Brasil, aempresa Bifum Produtos Alimentícios Ltda.desenvolveu um macarrão à base de farinhade arroz, considerado um alimento t ípicoda colônia oriental (CHIANG, 2002).

Proteína dafarinha de arroz

A proteína do endosperma do arroz po-de ser utilizada para enriquecer produtos àbase de arroz, como pães, bebidas e snacks,ou ser misturada à proteína de soja paraotimizar o perfil de aminoácidos de proteí-nas vegetais texturizadas. Sua principalvantagem na alimentação humana, em rela-ção à s outras fontes p rotéicas de mesmanatureza, como a da soja, consiste no fa-to de não causar flatulência (MITCHELL;SHIH, 1993), além de não ser alergênica.Para finalidades não alimentícias, pode serempregada na indústria de cosméticos, fil-mes, plásticos e adesivos (SKERRIT et al.,1990).

DIVERSIFICAÇÃO DO ARROZ

As indústrias investiram também empesquisas para explorar novas formas deaproveitamento do cereal e, dessa maneira,cativar consumidores com diferentes expec-tativas e necessidades. O chamado arrozpré-pronto surgiu através de estudos dedesenvolvimento do produto. Elaboradopara atender um consumidor que buscarapidez no preparo do alimento, os pré-prontos têm ocupado espaço cada vezmaior nas prateleiras dos supermercados.Atualmente, o consumidor pode prepararem poucos minutos um simples arroz bran-co para acompanhar uma refeição, ou pra-tos mais elaborados, como vários tiposde r isotos, paellas, arroz carreteiro, com

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galinha e com várias espécies de temperose ingredientes.

No arroz pré-pronto, a gelatinizaçãodo amido é provocada antes de embalar, demaneira que o consumidor necessite apenasrepor a água e, eventualmente, aquecerdurante um espaço pequeno de tempo pa-ra completar o processo de gelatinização.A técnica mais comum para produzir ospré-prontos é a liofilização, que submete oarroz a uma secagem a vácuo e a tempera-turas baixas, para posterior empacotamen-to (ARROZ..., 2003). Existe no mercadotambém a opção do arroz pré-pronto emba-lado em sachês, com porções individuais,bastante útil para pessoas que fazem dietapara redução de colesterol, uma vez quepode ser colocado na água dentro do pró-prio s achê e cozido s em necessidade deadicionar gordura.

Essencialmente, mecanismos queaumentam a viscosidade do alimento per-mitem a formação de barreiras de filmes deóleo, ou aumentam a capacidade da águaretida em reduzir a absorção de óleo. Por-tanto, gomas e amidos modificados, taiscomo metilcelulose, polivinilpirrolidona efarinha de arroz pré-gelatinizado, têm sidoempregados como aditivos na preparaçãode alimentos com reduzido teor de gordura,como os donuts. Estudos recentes utilizan-do misturas de farinhas de trigo e arroz naelaboração de donuts de baixo teor de gor-dura (SHIH; DAIGLE, 2002), especialmentea farinha de arroz pré-gelatinizado e amidode arroz acetilado, reduziram efetivamentea absorção de óleo pelos produtos. Formu-lações com forte capacidade de retençãode água são mais resistentes à penetraçãode óleo durante a fritura. A aplicação deespessantes, como a farinha de arroz pré-gelatinizado, aumenta essa capacidade ereduz a absorção de óleo. Os espessantestambém promovem a viscosidade e adesi-vidade necessárias ao produto contendoapenas ingredientes do arroz, a fim de de-senvolver as características de fritura con-feridas pelo glúten. A farinha de arroz pré-gelatinizado é barata, segura par a uso emalimento e ingrediente ideal para compor

formulações à base apenas de arroz. O arrozceroso, pela ausência de amilose, contribuipara a menor abso rção de óleo do que oarroz de grão longo que contém amilose,pois esta tende a complexar e é mais com-patível com o óleo (SHIH; DAIGLE, 2002).

BENEFÍCIO PARAPOPULAÇÕES MALNUTRIDAS

Cereais como o arroz armazenam a maiorparte de fósforo no grão na forma de áci-do fítico, que não pode ser diger ido pelohomem e nem por animais de um únicoestômago (peixes, galinhas, porcos). Ele seliga aos minerais como ferro, cálcio, magné-sio e zinco em condições levemente ácidasno intestino. Dessa maneira, como é pobre-mente digerido e utilizado, este ácido ligadoaos minerais dificulta sua disponibilidadeao nosso organismo. O ácido fítico desem-penha importante papel nas sementes, masas pessoas que possuem dieta à base degrãos devem evitar esse composto em suaalimentação. Cientistas americanos desen-volveram, através de melhoramento, umarroz com baixo teor de ácido fítico (commetade do conteúdo, quando comparadoao seu parental), o que significa ganho nu-tricional. Estudos com voluntários foraminiciados para verificar o efeito do consu-mo desse arroz sobre o aumento da absor-ção de minerais. Esse a rroz pode t er umvalor nutricional para nações em desen-volvimento, onde a deficiência mineral écomum.

MELHORIA DOCONTEÚDO NUTRICIONAL DEARROZ PELA BIOTECNOLOGIA

Recentes estudos de Datta e Bouis(2000), sobre melhoria do conteúdo nutri-cional de arroz pela biotecnologia, são apre-sentados a seguir .

Aumento do conteúdode ferro

A ferritina é uma proteína de reserva deferro encontrada em animais, plantas ebactérias. O gene da ferritina foi isolado eseqüenciado em plantas como soja, ervilha

e milho, por exemplo. Estudos relataramaumento no conteúdo de ferro do arroz pe-la transferência da seqüência inteira dogene da ferritina de soja para o arroz Japô-nica. O gene introduzido foi expresso sobo controle de um promotor da glutelina,proteína de r eserva de sementes d e arroz,para mediar o acúmulo de ferro especifica-mente no grão. As sementes transgênicasacumularam três vezes mais ferro que asnormais.

Introdução de um geneda fitase termoestável quedegrada ácido fítico

Normalmente, o nível de fitase em arrozé baixo. Vários estudos já demonstraram autilidade da adição da fitase em dietas àbase de arroz da população carente. A fita-se, presente nas sementes de arroz, hidro-lisa o ácido fítico, caso as sementes sejamdeixadas de molho na água. Entretan to, afervura destrói essa enzima. Alguns pes-quisadores tentaram introduzir um trans-gene para a fitase termoestável a partir doAspergillus f umigatus, o qual aumentouo nível de fitase em 130 vezes. Um amino-ácido foi alterado na seqüência para tornara enzima termoestável. Ela também foi ati-va em pHs encontrados no trato digestivo,degradando todo ácido fítico em curto pe-ríodo, durante modelo de digestão in vitro.Infelizmente, após sua expressão no grão,a enzima deixou de ser estável ao calor eperdeu sua atividade sob condições defervura.

Aumento de lisina

A lisina é um importante mas limitanteaminoácido essencial em arroz. Pode pro-mover a captação de minerais traços e po-de ser aumentado por engenharia genética.A introdução de dois genes de bactériasque codificam enzimas, aumentou a lisinaem cinco vezes, aproximadamente, em se-mentes de canola, milho e soja. A introdu-ção desses genes é uma abordagem realís-tica para a melhoria do conteúdo de lisinaem arroz. A DuP ont concordou em cola-borar com o International Rice Research

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Institut (IRRI) para providenciar genes paradesenvolver arroz com lisina. A genômicanutricional terá um impacto tremendo nomelhoramento de alimentos para a saúdehumana. A recente seqüência do genomado arroz, desenvolvida pela Monsanto, iráacelerar a descoberta do gene e o melho-ramento da cultura.

Adição de βββββ-caroteno

Precursor da vitamina A (retinol), nãoocorre naturalmente no endosperma dearroz. Pesquisadores relataram um arroztransgênico que produz grãos com endos-perma amarelo, cor que representa β-caro-teno (provitamina A) através de análisebioquímica. Apesar do valor nutr icionalagregado, um programa de educação nutri-cional é necessário, caso contrário, o arrozamarelo ou dourado não será prontamenteaceito pelos consumidores. Outro fatorfavorável é que a alta ingestão de β-caro-teno (convertido em retinol após ingestão)pode promover a absorção de ferro e vice-versa, ou seja, há um sinergismo entre altasingestões d esses dois nutrientes. Isso jáfoi observado entre ingestões de vitaminaA e zinco. Estima-se que de 100 milhões a140 milhões de crianças sofram de carênciade vitamina A e, todos os anos, mais de meiomilhão delas ficam cegas. Como a deficiên-cia de vitamina A também enfraquece osistema imunológico, muitas crianças mor-rem de doenças como pneumonia, sarampoe diarréia. No total, a Organização Mundialde Saúde (OMS) estima que a carência devitamina A contribua diretamente para amorte de 250 mil crianças por ano. O arrozdourado pode ser uma grande contribui-ção para a melhoria da saúde em paísesem desenvolvimento, tão importante quan-to qualquer vacina (OLA; D’AULAIRE,2003).

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