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PROMOÇÃO ECONÓMICA DE CAMPONESES - SOFALA República de Moçambique Viena, Áustria DPA SOFALA GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO F inanciado pela

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GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO Esta obra foi financiada pela Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento e baseia-se principalmente nas experiências do IAPAR - Instituto Agronómico de Paraná, Londrina-Paraná-Brasil, e nos ensaios demonstrativos no quadro dos projectos PROMEC, APROS, PACDIB (da Cooperação Austríaca) e PRODER (MINAG - GTZ). realizados na Província de Sofala, Moçambique, nos anos 2002 até 2005,

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PROMOÇÃO ECONÓMICA DE CAMPONESES - SOFALA

República de Moçambique Viena, Áustria DPA SOFALA

GUIA PRÁTICO de

AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

F

inanciado pela

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PROMOÇÃO ECONÓMICA DE CAMPONESES - SOFALA

República de Moçambique Viena, Áustria DPA SOFALA

GUIA PRÁTICO

de

AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

Autores

Eng. Agr. Ademir Calegari José Paulo Cristiano Taimo

Esta obra foi financiada pela Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento e baseia-se principalmente nas experiências do IAPAR - Instituto Agronómico de Paraná, Londrina-Paraná-Brasil, e nos ensaios demonstrativos

realizados na Província de Sofala, Moçambique, nos anos 2002 até 2005, no quadro dos projectos PROMEC, APROS, PACDIB (da Cooperação Austríaca) e PRODER (MINAG - GTZ).

Financiado pela

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AGRADECIMENTOS DOS AUTORES Os autores agradecem a oportunidade de trabalhar na Província de Sofala, Moçambique e, estar juntamente com os técnicos da Cooperação Austríaca e DPA, com os camponeses dos diferentes Distritos, desenvolvendo o sistema de Agricultura de Conservação, num processo de sensibilização e teste/validação dos componentes tecnológicos a nível de machamba. O trabalho se iniciou em 2001 e resultados muito promissores têm sido alcançado pelos camponeses, quer no tocante à diminuição de mão-de-obra, maior aproveitamento da água, maior estabilidade na produção, aumento na produtividade de diferentes culturas, etc. Agradecemos ao Dr. Gerald Tschinkel da H3000 Development Consult em Áustria, pela confiança, amizade e persistência na possibilidade de implementar o sistema de Agricultura de Conservação em Moçambique. À Cooperação Austríaca, que sempre apoiou no desenvolvimento dos trabalhos de Agricultura de Conservação. Também a equipe do PROMEC, pela amizade, frutíferas discussões e perseverança nos trabalhos. Ao Bento Freitas e Cecília pelo apoio durante todas as consultorias. À GTZ, na pessoa do Sr. Nicolas Lamade, pela oportunidade e viabilização de atividades de Agricultura de Conservação; ao Mário Norman da PRODER –GTZ pela amizade e contribuições durante todo este tempo de trabalho; ao Manfred Schug, que sempre acreditou ser possível implementar o sistema de Agricultura de Conservação junto aos camponeses nas mais diferentes situações; à Direcção Provincial da Agricultura na pessoa do Dr. Ribeiro que sempre acreditou e apoiou as atividades de Agricultura de Conservação e também ao atual Diretor Provincial, Sr. António Raúl Limbau, que tem incentivado as atividades de Agricultura de Conservação; ao Eng. Madane pelo contínuo apoio do SPER em todas as atividades da Agricultura de Conservação. Ao Erasmo Saraiva e Rui Valadares pelo constante apoio e amizade; a todos os técnicos da DDA dos diferentes Distritos e colegas das ONGs: Cáritas e FHI que sempre colaboraram nas discussões e nos trabalhos de consolidação da Agricultura de Conservação. Aos camponeses de toda a Província, pela paciência e perseverança no acompanhamento e avaliação das atividades das UTVs, onde sempre colaboraram e também acreditaram ser possível desenvolver uma agricultura sustentável que irá trazer maior segurança alimentar e eliminar definitivamente a pobreza da Província e do país.

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ÍNDICE INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3 1. O SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO...................................... 4

1.1 A importância da Agricultura de Conservação .........................................................4

1.2 Os fundamentos do sistema de Agricultura de Conservação...................................5

1.3 Os benefícios do sistema de Agricultura de Conservação.......................................7 2 A REALIDADE DA PROVÍNCIA DE SOFALA ..................................................... 8

2.1 Características regionais (generalidades) ................................................................8

2.2 O uso dos solos agrícolas (generalidades) ..............................................................9

2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas........................................9

2.4 Práticas tradicionais de manejo de solos ...............................................................12

2.5 Agricultura de Conservação: uma alternativa viável...............................................15 3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO ... 16

3.1 O início: a adequação das áreas............................................................................16

3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura de Conservação .............................17

3.3 Práticas que poderão fazer parte do sistema.........................................................19 4 A COBERTURA DO SOLO ............................................................................... 23

4.1 As vantagens de manter o solo coberto .................................................................23

4.2 Plantas de cobertura ..............................................................................................24 4.2.1 Comportamento das diferentes espécies de plantas de cobertura e contribuição na melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo .................................................................................................................24 4.2.2 Formas de manejo de plantas de cobertura ...................................................26

4.3 Efeitos das plantas de cobertura ............................................................................28 4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo ...............................................................30 4.3.2 Efeitos no armazenamento de água e diminuição das perdas no sistema.....35 4.3.3 Efeitos nos gradientes de temperatura do perfil do solo ................................36 4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e físicos) na diminuição das populações de invasoras (plantas daninhas) .........................37 4.3.5 Efeitos na melhora de áreas de pousio ..........................................................39

4.4 A produção de sementes de sementes de cobertura.............................................41

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5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO............................................................................................... 42

5.1 A rotação e consorciação de culturas ....................................................................44 5.1.1 Opções de rotação para arroz ........................................................................44 5.1.2 Opções de rotação para gergelim ..................................................................45 5.1.3 Opções de rotação para algodão ...................................................................47 5.1.4 Opções de alguns sistemas incluindo o uso de plantas de cobertura............48 5.1.5 Sugestões de algumas opções de diagrama sequencial de culturas.............52 5.1.6 Sistemas de consorciação e rotação em diferentes sistemas de produção....53 5.1.7 Indicação de protocolo para produção de batata reno ....................................55 5.1.8 Rotação com espécies hortícolas....................................................................57

5.2 Efeitos da rotação na ocorrência de pragas e doenças ..............................................60 6 CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO............................................................................................... 62 7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O USO DE COBERTURA DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO DIRECTO.................................................. 69

7.1 Resultados obtidos na Província de Sofala ............................................................69

7.2 Resultados obtidos em diferentes países...............................................................78 8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO .............................................................. 81 BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 83 ANEXOS................................................................................................................... 86

Anexo 1: Manejo ambiental adequado evitando as queimadas.........................................87

Anexo 2: Plantas de cobertura comuns na Província de Sofala ........................................89

Anexo 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura e % de nutrientes na matéria seca......................................................................92

Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso de plantas de cobertura de primavera/verão .............................................................................93

Anexo 5: O sistema de Agricultura de Conservação no Brasil.........................................103

Anexo 6: Características de diferentes espécies de plantas melhoradas de solos..........105

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INTRODUÇÃO Nas mais diversas regiões do mundo onde se pratica a agricultura, um aspecto marcante e comum à maioria dessas áreas é o uso intensivo e a má gestão dos recursos naturais, o que tem ao longo dos anos contribuído para o agravamento dos processos de degradação dos recursos, principalmente solo e água, comprometendo severamente a produção agrícola em âmbitos compatíveis com as demandas populacionais. Os processos de erosão do solo provocam alteração de algumas propriedades físicas, químicas e biológicas que, somados ao processo de degradação da matéria orgânica, com consequente diminuição da fertilidade, tem conduzido a uma diminuição crescente do potencial produtivo de diferentes culturas nas mais diversas regiões agroecológicas. Essa situação aliada a outros aspectos ligados ao clima (temperaturas extremas, ocorrência de secas prolongadas, inundações, ataque severo e inesperado de pragas e/ou doenças), tem provocado em maior ou menor grau, nas mais distintas regiões, sérios riscos de insegurança alimentar às populações. A Província de Sofala, com seus diferentes tipos de solos, composta basicamente pela agricultura familiar de subsistência, apresenta uma situação semelhante, onde o sistema tradicional de manejo de solos baseia-se na retirada dos restolhos e capins da área ou mesmo queima de todos esses resíduos no fim da estação seca, antes do preparo do solo para a próxima campanha. O solo geralmente é preparado intensivamente com enxadas e, em pequena escala por tracção animal e/ou tractorizada. A demanda de mão-de-obra é muito alta e em geral na média uma família possui uma área cultivada em torno de 0.5 a 1.0 hectare. A monocultura predominante consiste na sequência de cereais: milho-milho ou milho-mapira. Após o plantio das culturas, normalmente são necessários 3 sachas até que se complete o ciclo das culturas anuais (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), na maioria dos casos árdua tarefa incumbida às mulheres. Assim, a constante degradação dos solos na Província de Sofala, consequência da má gestão dos recursos naturais, quer pelo cultivo contínuo sem reposição dos nutrientes, quer pelas práticas anuais de preparo intensivo e queima dos resíduos orgânicos, monoculturas, aliado às condições climáticas irregulares e, ataque imprevisto e severo de algumas pragas e doenças, tem como consequência baixas na produtividade, resultando em constante insegurança alimentar. Resultados alcançados nos últimos 4 anos a nível de campo com o sistema de Agricultura de Conservação em diferentes Distritos da Província, mostram que os rendimentos de diferentes culturas, tais como milho, mapira, feijões, assim como algumas hortícolas (cebola, tomate, repolho, couves, pimento, cenoura, alface, etc.), podem ser aumentados de 20 até 150%, além de outros benefícios, tais como, diminuição de mão-de-obra (não preparação do solo, menor número de regas e sachas, entre outros), possibilidades reais de aumentar a área da machamba e, ter assegurado rendimentos suficientes para garantir o sustento das necessidades nutricionais da família e o excedente ser direccionado ao mercado local e regional. Considerando a situação para os diferentes sistemas regionais de produção na Província de Sofala, é fundamental o desenvolvimento de um sistema de agricultura sustentável e, certamente a Agricultura de Conservação oferece esta real possibilidade, onde são contemplados a diminuição da pobreza no meio rural, e uma maior garantia de segurança alimentar para todas as comunidades.

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1. O SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

1.1 A importância da Agricultura de Conservação As inúmeras experiências de agricultores e resultados obtidos por pesquisas mostram que o sistema de Agricultura de Conservação, que inclui o emprego de plantas de cobertura adequadamente integradas em rotação de culturas, após devidamente testadas e validadas nos sistemas regionais de produção, ou seja após serem adaptadas regionalmente, e distúrbio mínimo do solo, é importante porque:

♦ Promove uma conservação e recuperação dos solos,

♦ Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em economia de mão-de-obra e menor consumo de energia,

♦ Consegue uma diversificação com menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas,

♦ Aproveita melhor a humidade com diminuição da frequência de regas,

♦ Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, melhoria da capacidade produtiva do solo,

♦ Diminui os custos de produção,

♦ Contribui para uma maior estabilidade de produção,

♦ Existe um tendência de aumento dos rendimentos das diferentes culturas e, consequente tendência de aumento da renda líquida da propriedade e melhores perspectivas de diminuição da pobreza no meio rural.

COMO SE CONSEGUE ISSO? Em áreas com cultivos anuais, a diminuição da taxa de decomposição dos resíduos orgânicos frescos que são adicionados ao solo, assim como o próprio húmus é obtida através da redução do revolvimento do solo, eliminação da queima dos resíduos vegetais, adição de carbono orgânico ao solo, condições estas favorecidas por um manejo principalmente através da Agricultura de Conservação (sistema de plantio directo), incluindo-se sempre o uso de plantas de cobertura e adequadas rotações entre as culturas. Normalmente, as áreas que são mantidas sem cobertura são as mais predispostas aos efeitos desfavoráveis das excessivas precipitações, e com isso, certamente as perdas de nutrientes por arraste das partículas (enxurradas) e lixiviação serão bem maiores em relação a uma área coberta. Além deste agravante, também a prática de monocultivos tende a agravar os problemas de degradação do solo e, normalmente predispor os cultivos mais ao possível ataque de pragas e doenças. A rotação de culturas, incluindo diferentes espécies de plantas de cobertura adaptadas regionalmente, adequadamente distribuídas temporal e espacialmente, contribuirão sobremaneira para uma maior biodiversidade no meio ambiente e consequente maior equilíbrio do sistema como um todo. A melhoria dos processos de uso e maneio do solo, e manutenção da capacidade produtiva do mesmo, é um meio de viabilizar a manutenção da família de forma sustentável e compatível tanto com os recursos naturais sob o ponto de vista de qualidade ambiental, quanto aos socio-económicos nos aspectos de segurança alimentar e qualidade de vida dos camponeses.

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As vantagens do sistema de Agricultura de Conservação podem ser resumidas a seguir: • Promove a conservação e recuperação dos solos, • Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em economia de

mão-de-obra e menor consumo de energia, • Consegue uma diversificação com menores riscos de ataques de doenças e/ou pragas, • Aproveita melhor a humidade com diminuição da frequência de regas, • Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, • Melhora a capacidade produtiva do solo, • Diminui os custos de produção, • Contribui para uma maior estabilidade de produção, • Contribui para um aumento dos rendimentos das diferentes culturas.

Sr. Joaquim Mapinda: Pioneiro do sistema de Agricultura de Conservação no Distrito de Dondo, mostrando a cobertura do solo, elevada produção de biomassa da mucuna protegendo e melhorando a fertilidade do solo

1.2 Os fundamentos do sistema de Agricultura de Conservação O sistema de Agricultura de Conservação vem sendo desenvolvido em diferentes continentes, nas mais diversas regiões agroecológicas e sistemas de produção. Este sistema, apesar de suas especificidades locais e regionais, é governado por alguns princípios fundamentais. Os princípios da Agricultura de Conservação são os mesmos em praticamente todas as regiões do mundo onde se desenvolve a agricultura, e a sua aplicação tende a promover benefícios tanto imediatos quanto ao longo dos anos, conduzindo ao desenvolvimento de uma agricultura sustentável e compõe-se basicamente de:

1) Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, devendo efectuar o plantio das culturas directamente sobre o solo,

2) Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano,

3) Efectuar uma adequada rotação de culturas, incluindo cultivos de subsistência e/ou mercado e também plantas de cobertura para se ter sistemas mais complexos, com maior diversificação e consequentemente mais equilibrados.

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O QUE PRECISA MUDAR NAS ACTUAIS PRÁTICAS TRADICIONAIS DA AGRICULTURA COMUNS EM MOÇAMBIQUE ?

♦ Queima, aração do solo, monoculturas contínuas, solo mantido descoberto, deverão ser evitadas nas machambas. Dessa forma, é recomendável não queimar os restolhos e resíduos vegetais nas machambas, mas sim manter os restolhos das culturas e de plantas invasoras sobre o solo;

♦ Evitar revolver o solo, quer com enxadas, tracção animal ou tractores;

♦ Buscar executar rotação/sequência de culturas adaptadas às diferentes condições agro-ecológicas predominantes nas diferentes regiões e que promovam melhoria do solo e aumento de rendimento das culturas subsequentes;

♦ O plantio das culturas deverá ser efectuado directamente no solo (coberto com capim ou outros resíduos), quer seja com catana, matraca, pequenos covachos ou através de máquinas de plantio directo (tracção animal e/ou tractorizada).

Feijão em plantio directo sobre capim que será rotacionado com milho (Distrito do Dondo).

Os três princípios da Agricultura de Conservação são os seguintes: • Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, • Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano, e • Efectuar uma adequada rotação de culturas.

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1.3 Os benefícios do sistema de Agricultura de Conservação

A prática da Agricultura de Conservação, traz benefícios a vários níveis: Ao nível dos Agricultores: Redução do trabalho (principalmente no tempo para realizar as actividades), Redução nos custos de produção: menor necessidade de insumos externos (fertilizantes,

pesticidas), menor uso de tractores/máquinas/equipamentos e combustível, Maior controle das invasoras diminuindo ou até eliminando a necessidade de

sachas/mondas nas culturas, Maior armazenamento de água no solo e menores perdas de água por evaporação:

menor número de regas, Maior estabilidade e aumento no rendimento das diferentes culturas (cereais (milho,

mapira), hortícolas (cebola, alho, alface, tomate, etc.), leguminosas (feijões: nhemba, vulgar, bóer, etc.),

Aumento na lucratividade do sistema agrícola. Ao nível de Comunidades / Ambiente / Bacias Hidrográficas: Maior constância da água nos leitos dos rios, reaparecimento de mananciais que se

secaram, Menor ocorrência de erosão e, consequente mais água limpa nos diferentes ambientes Menores riscos de enchentes, Diminuição de riscos do impacto de situações climáticas extremas, Menores gastos na manutenção de estradas e canais de escoamento de água, Maior segurança alimentar para as populações da região abrangida pelo sistema de

Agricultura de Conservação. Ao nível Global: Maior captura (sequestro) de carbono orgânico no solo, Menores riscos de poluição quer seja por poeira, fumo proveniente de queimadas, e

diminuição dos riscos do efeito estufa (causado principalmente pela emissão de CO2 para a atmosfera),

Menor uso de combustíveis (economia de 40-60%), no caso de tratores, Menores perdas de nutrientes por lixiviação e consequente menos riscos de

contaminação das águas subterrâneas, Praticamente um controle quase total do processo erosivo (água, ventos), Menores perdas de água e, consequente maiores recargas dos aquíferos.

A aplicação adequada dos conceitos de Agricultura de Conservação quanto à Tração Tractorizada tem as seguintes implicações: Menos trabalho e menor necessidade de potência nos tractores, Economia de até 60% no combustível, Diminuição de até 50% da necessidade de tractores, Diminuição de até 40% no tamanho dos tractores, Aumento da vida útil do tractor, pode ser triplicada, Redução significativa no capital a ser investido nos tractores.

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2 A REALIDADE DA PROVÍNCIA DE SOFALA

2.1 Características regionais (generalidades)

BUZI

MUANZA

CAIA

CHERINGOMA

CHIBABAVA

MACHANGA

MARROMEU

GORONGOSA

DONDO

MARINGUE

CHEMBA

NHAMATANDA

A Província de Sofala apresenta diferentes condições agro-ecológicas: Solos: arenosos, francos e argilosos (e suas combinações); com profundidade efectiva variável, desde solos rasos (litólicos) bastante jovens, normalmente nas áreas montanhosas com presença de rochas, até solos mais profundos nas áreas baixas, com maior acúmulo de húmus (matéria orgânica). Solos arenosos (areia quartzosa), solos francos (areno-argilosos), até argilosos (teores de argila superior a 35%). Relevo: Variável, desde a planície costeira (planos), até áreas montanhosas como a região de Gorongosa e outras, variando portanto os relevos desde as áreas planas, suave ondulado, ondulado, declivoso e montanhoso. Matéria orgânica: desempenha um papel extremamente importante na manutenção e/ou recuperação da fertilidade e capacidade produtiva dessas áreas, sendo dessa forma fundamental o desenvolvimento de um manejo de solos e culturas que privilegiem a manutenção e/ou aumento dos níveis dessa matéria orgânica nos solos explorados com agricultura.

Fertilidade: a fertilidade química natural dos solos também é variável, sendo extremamente pobre nas áreas onde predominam areias quartzosas, aumentando conforme se aumenta os teores de argila; também áreas que tem sido cultivada por maior tempo, além das perdas de solos pela erosão e degradação da matéria orgânica pela queima dos restolhos e pelo preparo contínuo do solo, aliados a não reposição de nutrientes, os solos se apresentam mais pobres e com menor capacidade de produção.

Solo extremamente degradado (Distrito de Gorongosa): mapira com fraco desenvolvimento e, tentativa de recuperação da área com mucuna. Esta leguminosa não foi eficiente. Neste caso, é recomendado iniciar com feijão bóer.

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2.2 O uso dos solos agrícolas (generalidades)

Áreas de baixadas de relevo plano, inundáveis na estação chuvosa (solos hidromórficos), normalmente exploradas com o cultivo de arroz inundado e, geralmente apresentam teores de matéria orgânica mais elevados.

Parte das áreas de baixadas são ocupadas na entre-safra do arroz (outono/inverno) com cultivos hortícolas (cebola, alho, tomate, repolho, couves, cenoura, alface, etc.; geralmente empregando regas periódicas (bombas pedestais, manual com regadores, inundação). As áreas mais altas, onde os solos apresentam menor acúmulo de água, são ocupadas por milho, mapira, feijões (nhemba, bóer, vulgar), gergelim, mandioca, algodão, etc. As culturas de subsistência normalmente são o milho, arroz, mapira, mandioca, cujo excedente é colocado no mercado. Por outro lado, o gergelim, algodão, hortaliças (subsistência e mercado) são produzidos com finalidade de mercado.

Áreas de meia encosta, predominam outras culturas de subsistência e mercado: milho, mapira, gergelim, feijões (nhemba, bóer, vulgar), algodão, mandioca, etc.; hortaliças: cebola, alho, repolho, couves, etc. (baixadas e meia encosta), enquanto algumas frutíferas, tais como: ananás, banana, caju, papaia, manga, etc., ocupam normalmente as áreas mais altas.

As pastagens cultivadas são raras, ficando os animais em geral confinados a pequenas áreas e após as colheitas grande parte é liberado para se alimentar dos restolhos e, algumas gramíneas que crescem nos campos. Assim, a existência de áreas controladas para abrigo dos animais é importante no sentido de evitar que os animais tenham acesso aos campos cultivados e, consequentemente eliminem os restolhos, que é um componente básico e fundamental para o sistema de Agricultura de Conservação.

Muitas áreas são ocupadas por vegetação arbustiva e florestas, que além de ser importante para gerar fontes de água, manutenção da flora e fauna, também contribui para o abrigo e procriação de diferentes insectos e outros organismos, muito dos quais são inimigos naturais de pragas promovendo assim um maior equilíbrio ambiental.

2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas Geralmente na maioria das áreas é praticado uma agricultura puramente de extrativismo, sem a reposição de nutrientes (a maioria não utiliza fertilizantes químicos e o uso de adubos orgânicos nos diferentes sistemas de produção é mínimo. Grande parte das machambas se caracterizam por uma agricultura migratória (nomadismo), onde geralmente após alguns anos de cultivo intenso, quando os rendimentos baixam, o campo é abandonado e deixado em pousio por 2-3 anos, para então posteriormente se retornar a cultivar nessas áreas. Praticamente não existe trabalhos de melhoramento de pousio e tampouco uma reposição dos nutrientes extraídos pelos cultivos. Além disso, a cada campanha onde serão implantadas novas culturas no terreno, a tradicional e predominante queima dos restolhos das culturas e/ou muitas vezes a sua retirada das machambas, somado ao preparo intensivo dos solos através de arações (enxadas ou tractores, ou ainda por tracção animal), tem acelerado a mineralização/decomposição da matéria orgânica dos solos. Isso, tem provocado um aumento nas perdas de solos, água e nutrientes pelo processo da erosão; e, também, o comumente emprego de monoculturas, ou seja a repetição das mesmas culturas nos anos subsequentes, tem contribuído para o aumento das populações de invasoras (plantas daninhas), aumento da ocorrência de pragas e doenças, promovendo queda dos níveis de matéria orgânica dos solos e empobrecimento dos sistemas e, por consequência

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provocando uma drástica diminuição da capacidade produtiva das terras, manifestada através das quedas anuais de produtividade das diferentes culturas e, consequentemente uma menor segurança alimentar. Além dos aspectos negativos, também o uso de mão-de-obra para a execução destas práticas tradicionais é muito elevada, exaustiva e, por consumir um grande tempo para sua execução, impede a possibilidade e/ou chances de aumento da área da machamba, inviabilizando dessa forma, maiores possibilidades/oportunidades do aumento da entrada de ingressos e, consequente aumento da renda liquida das famílias.

Paisagens típicas de região montanhosa (Distrito de Gorongosa): preparo intensivo, plantio morro abaixo e erosão do solo com o resultado dum empobrecimento constante com o sistema tradicional

Expansão de áreas ou abertura de novas machambas utilizando a prática tradicional destrutiva da queima

(Distrito de Cheringoma)

Numa avaliação generalizada da situação dos solos agricultáveis das diferentes regiões de Sofala, é muito preocupante o nível de degradação das terras, comprovado pela observação em diversas machambas, nos diferentes Distritos, a visível deficiência de nutrientes por diferentes culturas (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), assim como os baixos níveis de nutrientes no solo, além da diminuição quase constante da matéria orgânica dos solos. Numa área de solo areia quartzosa, com mais de 80% de areia, sem cultivo atual., os resultados da análise de solos (Tabela 1) mostram o grau de degradação e baixo nível de nutrientes.

Tabela 1: Composição química de solo (areia quartzosa, 0-20cm) no Distrito do Dondo

mg / dm3

(ppm)

g / kg

solo cmolc / dm3 de solo (meq./100g de solo) (%)

Solo

P C

(%) Mat. Org.

pH

Al H+Al Ca Mg K S T V Al Areia quar-tzosa

4.20 0.44 0.76 6.10 0.00 2.18 2.02 0.37 0.05 2.44 4.62 52.81 0.00

P= fósforo; C= carbono; pH= pH do solo; Al= alumínio; H+Al= hidrogénio + alumínio; Ca= cálcio; Mg= magnésio; K= potássio; S= soma de bases; T= CTC; V= Saturação das bases; Al (%) = saturação de alumínio.

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Pelos dados da análise química do solo, os níveis de matéria orgânica, cálcio, magnésio, potássio, assim como a soma de bases e CTC (Capacidade de Troca de Cátions) , são bastante baixos, sendo apenas o fósforo com um teor levemente maior (possivelmente resíduos de queima de restolhos). Assim, solos semelhantes a este, que são grande parte das áreas cultivadas na Província de Sofala, necessitam urgente interferência no manejo no sentido de aumentar os níveis de matéria orgânica, aumentando assim a CTC, para então promover uma adequada reposição dos nutrientes (aliado à adubarão química e/ou orgânica) e recuperação da capacidade produtiva dessas terras. Caso contrário, com a continuidade de degradação dos solos, não será possível caminhar em direcção à sustentabilidade e garantia de segurança alimentar.

Prova disso, é a baixa produtividade das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, gergelim, nhemba, etc.) relatadas pela maioria dos produtores consultados dos distintos Distritos.

Por exemplo no Distrito do Búzi em reunião com técnicos e camponeses foi relatado a produtividade média dos diferentes cultivos: Arroz: 2,0 toneladas/hectare Milho: 0,8 - 1,0 toneladas/hectare Estas produtividade relatadas são muito baixas e, indubitavelmente pela alta demanda de mão-de-obra envolvida, caso fossem efectuados estudos de balanço energético nos distintos sistemas de produção, possivelmente na maioria dos casos o balanço energético seria negativo, ou seja o montante total de energia consumida em todas as etapas da produção é muito maior do que aquela obtida através dos valores energéticos de produção das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, etc.). Os rendimentos médios de diversas culturas em Moçambique são muito baixos (Tabela 2), certamente representam os rendimentos da grande maioria dos camponeses da Província de Sofala.

Tabela 2: Rendimento estimado e potencial (t/ha)

Média de rendimento em Moçambique

Cultura Rendimento

actual Rendimento

potencial

Rendimentos no Zimbabwe

Rendimentos em África (geral)

Milho 0.1 - 2.3 1.0 - 3.0 1.4 1.2 Mapira 0.3 - 0.6 0.5 - 1.5 0.6 0.8 Arroz 0.5 - 1.8 1.0 - 2.5 2.8 1.6 Feijão 0.3 - 0.6 0.4 - 0.6 0.7 0.7 Mandioca 4.0 - 5.0 5.0 - 10.0 4.0 7.5 Castanha de caju 0.1 - 0.2 0.4 -- --

Fonte: Taimo et al., 2005.

Os dados relatados mostram que há um grande potencial em aumentar os rendimentos, necessitando a adaptação de tecnologias viáveis, utilização racional de insumos para atingir níveis sustentáveis de produção.

Alguns resultados já alcançados pelos camponeses assistidos pelo Projecto PROMEC mostram que é possível em curto prazo, em algumas situações, com a implantação adequada do sistema de Agricultura de Conservação, aumentar imediatamente os rendimentos de diversas culturas.

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2.4 Práticas tradicionais de manejo de solos 1. A mais comum e tradicional prática empregada pela maioria dos camponeses na

Província de Sofala consiste na queima dos restolhos das culturas e/ou retirada dos mesmos da machamba; a cada implantação de nova cultura, preparo intensivo do solo com enxadas ou tracção animal; a prática repetida de monoculturas (milho-milho, mapira-mapira, etc.), tem proporcionado um excessivo uso de mão-de-obra, além de limitar a área a ser explorada na machamba, ou seja a actual área cultivada por cada família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare de plantio, em razão da alta demanda de trabalho, principalmente nas operações de preparo do solo e limpeza das ervas invasoras (sachas e monda), trabalho este na maioria dos casos efectuado por mulheres. Dessa forma, sempre estão à tona os riscos de segurança alimentar, ou seja com apenas uma pequena área de cultivo, a possibilidade de perdas quer por secas ocasionais, excesso de chuvas ou mesmo ataques imprevistos e severos de pragas e/ou doenças é bastante grande e, poderão em diversas situações colocar as famílias em situação de emergência e riscos de não conseguirem alcançar os rendimentos suficientes para auto sustento. Assim, é preciso encontrar meios de aumentar a área da machamba a ser cultivada, pois a maioria dos camponeses raramente consegue suprir as necessidades básicas de alimentação de uma família.

2. A lavra manual, consiste num trabalho extremamente árduo e grande consumidor de tempo e energia junto aos camponeses. É necessário mudar os meios de produção (“é preciso sair da lavra com enxada todos os anos, pois é muito árduo”). Um trabalhador no campo, com uma carga de trabalho de 8 horas diárias, consome em torno de 30-45 dias em média para lavrar uma área de 1 hectare, em áreas secas. Em áreas húmidas ou com bastante água (típica das áreas de baixada para cultivo de arroz em Búzi, Dondo e outros Distritos), o tempo demandado poderá ainda ser maior.

3. Além da lavra, também a sacha (milho) e a monda (arroz), são práticas comuns nestes

sistemas de produção e, também consomem bastante tempo e trabalho árduo aos camponeses; a prática da monocultura é a mais comum, ou seja normalmente os camponeses plantam arroz sobre arroz ou ainda milho sobre milho nos anos sequenciais.

4. A grande maioria dos camponeses não utilizam herbicidas e/ou fertilizantes químicos. 5. Há uma necessidade muito elevada de apoio e assistência técnica à maioria dos

camponeses, ou seja, é marcante a carência de informações técnicas e meios de implementação no que diz respeito a um adequado manejo de solo e das diferentes culturas exploradas.

6. A actual área cultivada por cada família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare de

plantio, não suficiente para atender as necessidades da família. É necessário encontrar uma forma URGENTE de poder aumentar a área de machamba, aumentar a produção/ produtividade e conseguir assim diminuir os riscos de intempéries às vezes imprevistas (seca, excesso de chuvas), ou mesmo um forte e inesperado ataque de pragas/doenças que possam comprometer o rendimento final das culturas e a garantia do suprimento de alimentos durante todo o ano às famílias.

7. A possibilidade de uso de herbicidas, poderá indirectamente proporcionar menos

trabalho e consequentemente chances de aumentar a área de cultivo da machamba; entretanto poderá trazer riscos de contaminação aos usuários e ao ambiente, caso não

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sejam seguidas as normas adequadas de manuseio e aplicação, assim como produtos/dosagens menos tóxicos possíveis.

8. A prática do consórcio ou associação de cultivos é praticado por muito poucos

camponeses: milho + mandioca + hortaliças (quiabo, abóbora, melancia, etc.). 9. Apesar da assistência técnica estar há vários anos tentando convencer os camponeses

sobre a importância de observar atentamente alguns componentes técnicos (como por exemplo o uso adequado dos compassos (espaçamento e densidade de plantas) de diferentes cultivos, principalmente o milho, as recomendações por parte da maioria dos camponeses não vem sendo seguido. Isto, como foi observado em várias machambas, de diferentes Distritos visitados, em alguns casos com 5-7 plantas de milho num mesmo covacho e, espaçamentos de 1.20m ou mais entre os covachos. Isto, além de provocar uma elevada competição entre as plantas, por água, luz e nutrientes, interfere negativamente e provoca diminuição acentuada na produtividade das culturas (milho, mapira, principalmente, haja visto que estas plantas respondem em rendimento quando em população ideal).

10. Um grande número de camponeses da região do Búzi e outros distritos de Sofala,

utilizam a prática de retirar os resíduos para fora da machamba e, a grande maioria utilizam também a queima de todos os restolhos da machamba (restos culturais de milho, arroz, mapira, etc., e também todos os capins e outras invasoras (plantas daninhas) que crescem nos campos). Estas práticas eliminam quase toda a adição anual de carbono orgânico (material orgânico) ao solo e, consequentemente após as colheitas, um montante de nutrientes também é retirado anualmente, dessa forma o solo vai ficando mais empobrecido a cada ano, ou seja o balanço anual do carbono orgânico passa a ser negativo (sai mais carbono do que entra no sistema), além da diminuição contínua dos nutrientes, sendo portanto estas práticas indesejáveis ao bom manejo do solo agrícola e, portanto não compatíveis com a “Sustentabilidade dos Sistemas de Produção”.

11. Um elevado número de camponeses em determinadas áreas utilizam uma agricultura

itinerante, ou seja após vários anos de cultivo (queima, preparo do solo, e monocultura quase que constante), quando o solo encontra-se degradado e com baixa produção nos cultivos, abandonam estas áreas indo cultivar em outros campos e, assim após 3-4 anos de pousio, retornam a cultivar nestas áreas. Poderiam nestas áreas promover o ”melhoramento do pousio” com a inclusão principalmente de leguminosas nativas da região que irão aumentar os teores de matéria orgânica, nitrogénio através da fixação biológica no solo, além de contribuírem na reciclagem de outros nutrientes. Podem ainda utilizar algumas leguminosas arbóreas, tais como: Glericidia sepium, Sesbania sp., Tephrosia sp., etc., ou arbustivas: feijão bóer (Cajanus cajan), ou mesmo com algumas leguminosas anuais: Mucuna sp., Clitoria ternatea, e perenes: Stylosanthes sp., Calopogonium mucunoides, etc.

12. Alguns grupos de camponeses trabalham com tracção animal e, com uma possível

implementação/adaptação no uso adequado de equipamentos e máquinas (rolo-faca para manejo de plantas de cobertura e resíduos, máquina de plantio directo), poderão além de aumentar a área da machamba, também proporcionar aumento na produtividade e produção final, com uma maior renda líquida na propriedade.

13. O armazenamento de grãos apresenta problemas quanto a manutenção da qualidade

dos grãos, principalmente milho, mapira, mexoeira, que podem sofrer ataques severos de gorgulhos, que ao destruírem os grãos inviabilizam o seu consumo. Faz-se necessário utilizar de técnicas que permitam uma melhor conservação desses grãos e a sua manutenção por um maior tempo em condições aptas de consumo. Neste caso, a

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construção de celeiros melhorados seria uma óptima alternativa e, caso não seja possível pode-se empregar alguns tratamentos (agro-ecológicas) e sem riscos aos camponeses: Em um silo de armazenagem colocar uma camada de folhas de Eucalyptus sp. (30-40 cm) em cada camada em torno de 1 metro de altura (formada por grãos de milho, mapira, ou mesmo em espigas, ou feijão. É importante também manter o fundo do local, e também a parte superior (sobre os grãos) cobertos por esta camada de folhas de eucalyptus. Em caso da não disponibilidade de eucalyptus, pode também ser utilizado folhas e ramos de mucuna (verde). É também possível a utilização de cinzas obtida através da queima de madeira ou queima de cascas de arroz, ou ainda o uso de areia que deverão ser misturadas com os grãos dos cereais ou ainda de feijão: nhemba, bóer ou vulgar, a qual evitará o ataque de gorgulhos, podendo assim permanecer armazenados por um longo tempo sem perda da qualidade dos grãos.

14. Existem os CDR (Campos de Demonstração de Resultados) que servem para os

camponeses observarem os resultados disponíveis e optarem por alguma nova tecnologia a ser implementada na machamba: novos híbridos disponíveis, compassos, controle de pragas e doenças, etc., também poderão ser utilizados na difusão da Agricultura de Conservação. Ou seja, a Agricultura de Conservação não é um fim, mas sim um meio, no qual se pode conduzir diferentes culturas anuais e, no mesmo enfoque também culturas perenes (solo coberto, não queimar e não revolver o solo).

15. O actual processo de difusão, normalmente levado a cabo pelos extensionistas, e a

adopção de tecnologias por parte dos camponeses necessita melhor implementação, inclusive com o emprego de “promotores” que irão difundir tecnologias já validadas em seus campos, fazendo com que novas e promissoras tecnologias possam ser melhor testadas/validadas por outros camponeses e, efectivamente possam ser expandidas e adoptadas por um maior número de famílias de camponeses.

16. Existem algumas pequenas experiências com o uso de controle biológico de pragas por

parte de alguns camponeses, utilizando-se de: cebola, alho, coentro plantados junto aos canteiros das hortaliças em direcção ao vento para que o odor destas plantas possam afugentar insectos e outras pragas; e também cinzas são aplicados sobre algumas pragas; no controle de lesmas e caracóis também são aplicados cinzas ao redor dos canteiros ou das plantas que irão impedir a passagem e ataque destes moluscos às plantas.1

17. Sistema de Camalhões

Em algumas regiões de Sofala é comum a prática da construção de camalhões no solo, visando um melhor manejo do solo explorado com agricultura. Esta prática é uma medida de conservação do solo e armazenamento de água que vem sendo empregada na região de Gorongosa e outras regiões, e se caracteriza:

Normalmente, o solo é revolvido a cada estação, provocando uma aceleração no processo de decomposição da matéria orgânica ;

A disposição desses camalhões promove um maior controle da erosão em áreas de encosta, em virtude dos mesmos serem aloucados perpendicularmente ao sentido do declive e, portanto cortam o sentido das águas, diminuindo a velocidade e armazenando mais água nos camalhões; apesar disso o solo é revolvido periodicamente após cada colheita e manejado para implantação de uma nova cultura;

1 Vide informações/recomendações no capitulo sobre Controle de pragas e doenças.

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Todos os anos os novos restolhos dos cultivos são incorporados ao solo, mudando a localização do novo camalhão e, assim novamente o solo é revolvido com perdas nas suas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo;

Além da penosidade do trabalho, ocorre um elevado emprego de mão-de-obra na execução das operações de reconstrução total e manutenção dos camalhões a cada ano;

Apesar dos resíduos serem amontoados nos camalhões e uma maior quantidade de água armazenada, a constância anual no revolvimento do solo, provocará uma degradação ao longo do tempo, principalmente da matéria orgânica e fatalmente mostrando ser um sistema que poderá comprometer a sustentabilidade ao longo dos anos.

Diante desses inconvenientes, é sugerido que em áreas muito declivosas sejam construídos pequenos terraços/ cordões vegetados, onde poderão ser protegidos por barreiras vivas com Vetiver, cana-de-açucar, ou também com a inclusão de leguminosas: feijão bóer (arbustiva), ou mutica - arbustiva) ou outras espécies (*citadas em práticas complementares de conservação), para que estas espécies ao serem podadas os resíduos possam ser deixados sobre a superfície do terreno. Além disso, o solo não deverá ser revolvido e tampouco queimado os resíduos. Após as colheitas, os restolhos deverão ser distribuidos sobre o solo e, posteriormente a implantação das novas culturas deverá ser através do plantio directo (tracção humana – matracas, tracção animal ou tracção tractorizada), conforme a infra-estrutura local.

2.5 Agricultura de Conservação: uma alternativa viável Entretanto, existem alternativas ao alcance do agricultor familiar, capazes de provocar aumento significativo dos rendimentos, diminuir a carga de trabalho, promovendo maiores entradas/ingressos e, consequentemente se conseguir uma produção capaz de gerar excedentes. Para isso, serão necessários mudar radicalmente os sistemas de manejo de solos e culturas, tradicionalmente empregados e, por consequência, os camponeses com maior disponibilidade de tempo e energia (maior disponibilidade de mão-de-obra) e, assim poder aumentar a área da machamba a ser explorada e, consequentemente com maiores chances de aumento da produção, com uma maior oferta de produtos de subsistência e de mercado. Este sistema de produção sustentável poderá contribuir efectivamente para o aumento da renda familiar e assim promover a melhoria da qualidade de vida dos camponeses da Província de Sofala.

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3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

3.1 O início: a adequação das áreas Tendo em conta que os produtores vão apresentar solos com situações diferentes, a entrada para o sistema de Agricultura de Conservação, deve ter em conta a situação real da cada machamba. Existe um período inicial, ou seja uma fase de transição do sistema tradicional/convencional para o novo sistema de Agricultura de Conservação que ora está sendo implementado. Tendo em conta as práticas comuns em Sofala, é fundamental o abandono completo das práticas tradicionais (queima, aração, monoculturas, solo descoberto), e a iniciação de uma re-adequação de todo o sistema de produção sob o novo enfoque da Agricultura de Conservação seguindo as seguintes etapas: a) Diagnóstico e definição de área

Neste momento, os camponeses auxiliados pelos técnicos da extensão rural realizam uma avaliação das suas machambas, passando por um diagnóstico e definição específica da área onde será implementado o sistema de Agricultura de Conservação. Preferentemente deve-se escolher a melhor área da propriedade, ou seja machambas com potencial de se obter resultados imediatos e, posteriormente quando o camponês dominar a tecnologia, poderá ir ocupando outras áreas, menos férteis e mais difíceis. Após a escolha/definição da área, verifica-se “in loco” quais os possíveis componentes que deverão ser incluídos naquela determinada área da machamba. No tocante à questão tradicional/cultural de manter os animais em liberdade é necessário buscar meios para manter os animais em áreas protegidas, evitando que os mesmos consumam todos os restolhos e resíduos vegetais da superfície do solo. Uma alternativa viável nesse sentido, quando não se dispõe de capital para construção de cerca de arame, é a multiplicação de mudas de árvores que possam ser usadas como “cerca viva”: Dovyalis abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, Acacia melífera, Acacia tortuosis, etc., e, posteriormente serem distribuídas aos camponeses para protegerem as áreas de produção agrícola. b) Definição de Componentes iniciais de acordo com as condições da machamba

Assim, caminha-se para a operacionalização dos componentes do sistema, ou seja, nas etapas em que são adequadamente ajustados e implementados os diferentes elementos tais como: plantas de cobertura, locação e execução de terraços/cordões vegetados/cordões de pedras (quando necessários em áreas mais declivosas), ou amontoa de pedras (quando em número reduzido), distribuição uniforme dos restolhos sobre o solo, escolha da melhor sequência de culturas, consorcio de culturas (p. ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer, etc.), enfim um conjunto de componentes que estão sendo implantados e em fase de ajustamento e/ou equilíbrio dentro de determinada região e sistema de produção. Portanto, os diferentes sistemas de produção regional, nas mais variadas zonas agro-ecológicas da Província de Sofala, quando da implementação do novo sistema deverão ser

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acompanhados de determinadas sequências de culturas, preferentemente que tenham sido já testados e validados pelos camponeses da região e sofrido os ajustes necessários para a consolidação dos diferentes componentes a fazerem parte do Sistema de Agricultura de Conservação.

3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura de Conservação Os passos apresentados com as devidas etapas, constituem um guia geral para uma adequada implantação do sistema principalmente nas pequenas propriedades. Os passos enumerados não necessariamente deverão seguir sempre uma sequência conforme descrita, em muitos casos o sistema é desenvolvido já partindo de uma situação ou passo previamente realizado, ou mesmo em alguns casos, onde nem todos os passos ou componentes se aplicam ou serão necessários àquela determinada situação. 1. Treinamento e capacitação de técnicos e agricultores 2. Sistematização, limpeza e descompactação do terreno (caso houver necessidade) Áreas que apresentam solos com superfície desuniforme ou com excessivos buracos, torrões, tocos, etc., deverão ser, no caso de tração tractorizada, preferentemente uniformizadas através de gradagens, etc. Tração humana (uso de enxadas, catana, matraca) poderá ser efetuada mesmo em áreas desuniformes ou com presença de troncos, tocos, não havendo necessidade de uniformizar a superfície do terreno. 3. Diminuição do comprimento das pendentes em áreas declivosas Inclui construção de terraços, muralha/cordões de pedras, barreiras vivas – capim vetiver, capim limão, feijão bóer, Glericidia sepium, Tephrosia vogelli - mutica, etc. Neste caso, poderá se utilizar simultaneamente de camalhão de solo ou muralha de pedras, complementada por plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, etc.) e/ou ainda algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas para fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo. 4. Iniciar em pequenas áreas da machamba e também nas melhores áreas da propriedade Iniciar nas áreas mais conservadas e com melhor fertilidade, ou seja, onde o camponês vê as plantas melhor desenvolvidas e, conforme vai conhecendo e através dos resultados alcançados ir aprimorando o sistema. Posteriormente, ir para outras áreas da machamba, as mais problemáticas e com solos degradados até que o sistema esteja implantado em toda a propriedade. 5. Não queimar restolhos das culturas, capins, e outros resíduos de invasoras, mas sim deixá-los sobre a superfície do solo 6. As plantas de cobertura/resíduos de invasoras ou mesmo os restolhos das culturas, deverão ser manejadas com rolo-faca, catana, foice, herbicidas, etc. e, deixadas cobrindo o solo 7. Eliminar totalmente a lavoura, isto é, não efetuar mais o preparo do solo, quer seja com enxadas ou com charrua

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8. Escolher corretamente equipamentos e máquinas (enxada, catana, matraca, rolo faca, máquina plantio directo; tracção animal, etc.), conforme as condições da propriedade e da infra-estrutura do produtor 9. Objetivando uma maior proteção e recuperação do solo, deve ser utilizado espécies nativas e exóticas melhoradoras de solo (preferentemente leguminosas), visando a cobertura da superfície do solo e melhoria das propriedades do solo 10. Procurar executar a rotação de culturas Procurar mudar a sequência de culturas ou mesmo efectuando consórcio de culturas com plantas de cobertura (ex. mucuna intercalado ao milho; feijão bóer intercalado entre as fileiras de milho/mapira), isto irá contribuir para uma maior reciclagem de nutrientes, um aumento da biodiversidade e diminuição da população de plantas invasoras e probabilidade de ocorrência de pragas e doenças. 11. Manejo adequado da fertilidade do solo: Solos com baixa fertilidade ou extremamente degradados deverão ser melhorados com

a inclusão de leguminosas por 2-3 anos: leguminosas rasteiras ou prostradas: ex. mucuna pruriens, stylosanthes sp., calopogonio mucunoides, clitoria ternatea, etc.;

Culturas intercaladas com leguminosas arbustivas: feijão bóer, Sesbania sesban, etc.; e ainda também com leguminosas arbóreas: Glericidia sepium, Tephrosia vogelli, Sesbania sp., Calliandra calythersus, Acacia albida, etc.; estas leguminosas deverão preferentemente ser inoculadas (rhizobium específicos) e, quando disponível utilizar também fungos micorrízicos. Além disso, visando a reposição dos nutrientes a níveis aceitáveis de produção, aplicar fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) e na correção de solos calcário e/ou gesso, ou mesmo cinzas (se houver disponibilidade).

12. Iniciar preferentemente em áreas com menor infestação de invasoras (ervas daninhas) de difícil controle, principalmente aquelas perenes, como é o caso de vários capins, principalmente em áreas brutas, ou aquelas onde haja alta infestação de espécies que se propagam através de rizomas, bulbos - Cynodon dactilon, Cyperus sp. etc.) Procurar diminuir estas infestações, eliminando os rizomas e/ou bulbos através de preparo e catação, ou mesmo (em alguns casos através de herbicidas), para então com presença de mulch (produzido no local ou trazido externamente) desenvolver o sistema.

Solos em recuperação com Glericidia sepium na Província de Sofala

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13. Evitar o excessivo pastoreio e pisoteio de animais, que irá eliminar a presença de mulch e consequentemente prejudicar o solo e os cultivos A presença de animais nos campos deve ser evitada, devendo-se construir cercas metálicas, ou cercas vivas, ou seja, arbustos e árvores locais preferentemente com presença de espinhos, tais como: (Dovyalis abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, Jatopha curcas (pinhão manso), Agave sisalane (sisal), Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, Acacia melífera, Acacia tortuosis, etc.; usar de plantas de cobertura não comestíveis pelos animais, tais como: Ricinus communis (ricinus), Tephrosia vogelli (mutica), Tephrosia tunicata, Tephrosia candida, Senna spectabilis, etc.; Selecionar pequenas áreas onde através de uso de fertilizantes orgânicos e/ou compostagem poderá produzir elevadas quantidades de forragens, capins (capim elefante, sudangrass, etc.) e leguminosas (feijão bóer, leucaena, etc.) que serão ministradas aos animais, evitando a invasão dos mesmos às machambas.

O que Você deve levar em conta na implantação do sistema de Agricultura de Conservação:

Informações regionais disponíveis sobre espécies a comporem uma adequada sequência de culturas, época de plantio, forma, isolado ou consorciado com milho ou mapira (p. ex.), época e forma de manejo (cortado com catana ou manejado com rolo-faca ou herbicidas) e, ainda a época adequada para implantação ou transplante da cultura posterior (subsistência ou de mercado). Assim, o produtor correrá menores riscos de insucesso no início da implantação do sistema.

Buscar uma adequação da sequência das culturas (subsistência, mercado) e levando em consideração a distribuição das chuvas e temperatura durante todo o ano.

3.3 Práticas que poderão fazer parte do sistema Para desenvolver um adequado sistema de Agricultura de Conservação, é necessário uma harmoniosa integração de alguns componentes do sistema:

a) Plantas de cobertura, corte e distribuição do capim (ou dessecação através de herbicidas),

b) Manejo de invasoras,

c) Rotação de culturas,

d) Construção de terraços, etc. que podem variar de acordo com a localização de uma determinada área, e alguns atributos:

- zona agro-ecológica - altitude - local que ocupa na toposequência da paisagem - as propriedades do solo (químicas, físicas e biológicas) - quantidade e distribuição de chuvas durante o ano - sistema de produção

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Área em declive mostrando processo de erosão, deve ser construído terraços (cordão vegetado), plantas de cobertura e rotação de diferentes culturas (Distrito de Gorongosa).

Durante o planejamento de implantação do sistema de Agricultura de Conservação, é importante a possibilidade de se considerar a machamba dentro de uma área maior que é a Microbacia Hidrográfica, considerando assim a unidade física para se efectuar todas as operações técnicas, possibilitando a integração entre uma propriedade e outra, facilitando assim todas as possíveis intervenções e procedimentos técnicos favoráveis ao manejo sustentável do solo. Conforme a localização das machambas em diferentes zonas agro-ecológicas e altitudes, o comportamento de determinadas culturas será diferenciado e, portanto épocas de plantio e espécies a serem implementadas na sequência (rotação) poderão ser diferentes. Geralmente os solos que ocorrem em áreas de maior altitude (áreas mais montanhosas) podem apresentar profundidade efectiva menor, presença de rochas e solos rasos (litólicos) e, com condições de clima de altitude, normalmente outras culturas (subsistência e mercado), além de outras espécies de plantas de cobertura, que poderão ser testadas e validadas para posteriormente fazerem parte dos sistemas de rotação regional. Para alguns procedimentos básicos necessários quanto à definição da área, passos a serem seguidos, bem como etapas sequenciais adequadas visando uma concreta e efectiva implantação do sistema de Agricultura de Conservação, é recomendado a realização de um diagnóstico local das condições físicas, químicas e biológicas do solo:

a) SOLO COMPACTADO: Caso haja limitação física do solo (por ex. compactação na superfície ou subsuperficie), deverá ser supervisionado pelo técnico e avaliado o real estado de compactação do solo. Caso seja um adensamento superficial (normal em solos argilosos) ou comumente chamado de compactação leve, poderá ser eliminado facilmente através do uso de plantas com sistema radicular bastante vigoroso (feijão bóer, crotalarias (grahaminana, juncea, mucronata e nativas), nabo pivotante, tephrosias, sesbanias, gergelim, tremoço, etc. Caso, a compactação verificada seja bastante severa, identificando-se camadas muito compactas onde as raízes de plantas como o feijão bóer não conseguem ultrapassar, assim como seja observado o impedimento da infiltração de água no perfil, antes de iniciar a implantação do sistema de Agricultura de Conservação, o solo deverá ser descompactado através do uso de escarificadores (tracção animal ou tractorizada).

b) SOLO COM DECLIVE ACENTUADO: Caso a machamba esteja localizada em áreas com declive acentuado, deve-se efectuar a diminuição do comprimento das pendentes em áreas declivosas com marcação e confecção de terraços (cordões vegetados: capim vetiver, capim limão, feijão bóer, gliricidia sepium, mutica, etc.), muralha de pedras, etc., barreiras vivas – neste caso, poderá se utilizar simultaneamente de terraços - camalhão de terra, ou de pedras; mais

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plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, etc.) e ainda algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas para fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo (glericidia sepium, tephrosia vogelli, feijão bóer, etc.).

Normalmente nas encostas íngremes predominam solos jovens e rasos, bastante frágeis do ponto de vista de manejo (40-80 cm. de profundidade efectiva), podendo em poucos anos a erosão arrastar todo o solo arável dos horizontes superficiais, com um elevado afloramento de rochas na superfície, podendo tornar estas áreas totalmente improdutivas mesmo para pastagens e/ou outras culturas perenes. Dessa forma, a exploração destas áreas deve acompanhada de diferentes componentes da Agricultura de Conservação, harmoniosamente distribuídos conforme as condições específicas de cada região: nível declive, profundidade efectiva do solo, presença ou não de rochas, etc.

Como proceder no caso de solos com declive acentuado:

Demarcar pequenos terraços em nível contra a pendente para cortar as águas. Podendo ser feito com enxadas ou com charruas tracção animal (2 a 3 passadas). Posteriormente abre-se um pequeno sulco continuo sobre o “topo”, parte mais elevada do terraço e pode ser plantado capim elefante (Pennisetum purpureum), cana-de-açucar, capim vetiver ou “vetiver grass” (Vetiveria zizanioides). Caso haja disponibilidade de pedras no local, pode ser complementado com terraço (muro) de pedras. Este terraço de pedras pode ser ajustado com Capim vetiver ou “Vetiver grass”, (Vetiveria zizanioides), capim cidreira ou limão (lemon grass), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), etc. (o cordão vegetado com capim deverá ficar acima do terraço/muro de pedras).

Após o plantio das espécies é necessário acompanhar o desenvolvimento das plantas e verificar a possível ocorrência de falhas na população de plantas da faixa contínua da barreira viva e, também a má disposição das pedras na construção dos terraços, poderá durante a ocorrência de fortes chuvas, facilitar o escorrimento superficial elevado (enxurradas), carreando água e sedimentos juntamente com nutrientes e a matéria orgânica das camadas superficiais do solo. Assim, deverá se prover de um adequado número de pedras e adequada distribuição/acomodação na construção das barreiras, de forma que as pedras e o capim estejam bem dispostos e compactos protegendo bem o solo.

A área entre os cordões deverão preferentemente permanecer todo o ano coberto com restolhos ou plantas de cobertura durante os intervalos das diversas culturas).

Cordões vegetados ou faixas de leguminosas: estratégia recomendada na melhoria da estrutura do solo e produção de biomassa, constando da implantação de espécies arbustivas ou arbóreas preferentemente leguminosas que deverão ser podadas esporadicamente e os resíduos distribuídos sobre o solo para protecção e melhoria da fertilidade: mutica (Tephrosia vogelli), Sesbania sesban, Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Acácia albida, feijão bóer (Cajanus cajan), Leucaena leucocephalla, Tephrosia tunicata e outras sps.); também poderão ser intercaladas algumas plantas com efeitos insecticidas: mutica, Azadirachta indica (Nim) , Melia azedarach (siringa), etc.

Algumas situações de declives acentuados poderão ser construído canais escoadouros vegetados, por onde o excesso de água que não conseguir infiltrar no perfil do solo e não ser absorvido também nos terraços/cordões poderão seguir por um canal vegetado com grama local rasteira, ou mesmo com amendoim forrageiro perene (Arakis pintoi ou Indigofera sp.) sem causar problemas de erosão e mínimas perdas de solos e nutrientes.

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Muralha de pedras combinada com cordão vegetado (Vetiver grass ou Capim Vetiver) no Distrito de Gorongosa

c) SOLO POBRE EM NUTRIENTES: Caso seja identificado que o nível de nutrientes presentes no solo é muito baixo, é recomendável a aplicação de fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) para a reposição e criação de condições mínimas para uma suficiente produção de biomassa.

d) SOLO INFESTADO DE INVASORAS: Havendo elevada infestação de invasoras perenes, preferentemente deverão ser controladas antes de iniciar o sistema, embora possa ser iniciado, entretanto com riscos e elevado custo posterior no controle dessas espécies (p. ex. Cynodon dactilon, Cyperus sp., etc.). O controle integrado pode ser realizado através de herbicidas (Glyphosate) + plantas de cobertura eficientes tais como:. Mucuna + lablab – * óptimos resultados foram alcançados na Suazilândia no controle de Cynodon com o uso de Roundup, seguidos de cobertura por plantas de mucuna + lablab (FAO, Projecto Swazilandia, 2005).

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4 A COBERTURA DO SOLO

4.1 As vantagens de manter o solo coberto As vantagens de manter o solo coberto são as seguintes: 1) Promover a formação de cobertura vegetal, além de evitar deixar o solo desprotegido irá

quebrar a energia cinética da chuva impedindo o impacto directo das gotas de chuva no solo, impedindo com isso, o desencadeamento do processo de erosão.

2) A presença da cobertura morta (“mulch”) mantém mais humidade no solo, diminuindo

das perdas de água por evaporação, além de diminuir a oscilação (variação) térmica nas 1a.s camadas.

3) Os resíduos vegetais, parte aérea e raízes, irão afofar o solo, abrindo também canais no

perfil que irá aumentar a infiltração de água no solo, diminuindo o escorrimento superficial e as perdas de água, solo e nutrientes.

4) Buscar uma melhor estruturação do solo: melhor agregação das partículas, maior

aeração, maior porosidade, favorecendo o crescimento das raízes dos cultivos posteriores.

5) Implementar a reciclagem de nutrientes no solo, diminuindo a lixiviação dos mesmos,

bem como adicionar o nitrogénio ao sistema, principalmente com o uso de leguminosas minimizando a demanda externa de fertilizantes.

6) Possibilitar, com o crescimento rápido e agressivo, competição com as invasoras,

diminuindo os custos com o seu controle. 7) Com a utilização das espécies, há uma tendência, ao longo dos anos, do aumento dos

teores de matéria orgânica no solo, que irá proporcionar significativas melhorias nas propriedades químicas, físicas e biológicas do solo.

8) Aumento da biologia do solo e, consequente aumento da biodiversidade, o que irá

contribuir para um maior equilíbrio natural e menores riscos de ataque de pragas (insectos, nematoides, etc.) e doenças.

Leguminosa nativa, potencial de uso como cobertura em rotação com diferentes culturas (Província de Sofala)

Clitoria ternatea: leguminosa adaptada em algumas regiões da Província como nos Distritos de Búzi e Gorongosa

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4.2 Plantas de cobertura

4.2.1 Comportamento das diferentes espécies de plantas de cobertura e contribuição na melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo

As experiências práticas dos camponeses da Província de Sofala tem mostrado que o solo devidamente coberto com restolhos e resíduos de plantas de cobertura (p. ex. mucuna, feijão bóer, etc.), proporciona um aumento da infiltração de água no perfil, diminuindo o escorrimento superficial e as perdas de água, solo e nutrientes. A continuidade desse sistema, tende a aumentar gradualmente os teores de matéria orgânica e nutrientes no solo ao longo dos anos e, além de promover um maior armazenamento de água no perfil, irá trazer inúmeros benefícios às diferentes sequências de culturas. Registros históricos mostram que a milenar prática do uso de plantas de cobertura, foi desenvolvida com sucesso por antigas civilizações: romanos, gregos, chineses, e outros povos na antiguidade e, graças ao intenso uso de insumos “modernos” esta prática foi quase esquecida neste século. Felizmente nas últimas 3 décadas, estudos e experiências de agricultores em várias partes do mundo fizeram com que esta eficiente prática começasse a retomar o seu importante lugar nas diferentes condições agro-ecológicas e sistemas de produção dos diferentes países, contribuindo para a manutenção e melhoria das propriedades do solo (físicas, químicas e biológicas).

O estudo das plantas melhoradoras do solo tem demonstrado grande potencial na protecção e recuperação da produtividade do solo. Apesar disso, um constante desafio é estabelecer esquemas de uso compatível, das diferentes espécies com os sistemas de produção específicos de cada região, e se possível nos limites de cada propriedade, levando em consideração os aspectos ligados ao clima, solo, infra-estrutura da propriedade e condições sócio-económicas do agricultor. As possibilidades do emprego dessas plantas, podem visar, além da conservação e/ou melhoria da fertilidade, incremento na produtividade das culturas comerciais, aproveitamento algumas espécies como fonte de alimentos, forragem aos animais, ou ainda na produção de grãos para comercialização. A temperatura exerce grandes efeitos sobre a fisiologia das plantas, além de influenciar directamente na absorção de íons (nutrientes). A amplitude térmica muitas vezes é mais importante que a temperatura média de uma determinada zona, ou seja as variações nas temperaturas influem directamente no comportamento das plantas. Também a distribuição anual das precipitações tem efeitos directos no estabelecimento e desenvolvimento das diferentes espécies. Portanto, quando da escolha da(s) espécie(s) a fazer parte de sequências de culturas, estes e outros aspectos deverão sempre ser levados em consideração.

Leguminosa rústica (Feijão bóer) que apresenta múltiplos usos, na fase de florescimento/enchimento de vagens – Província de Sofala

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As plantas de cobertura poderão ser implantadas em cultivo singular ou em associações. Pode-se fazer uso do consórcio de gramíneas + leguminosas, ou ainda misturar 2-3 ou mais espécies, que além de apresentarem um importante efeito melhorador das características físicas do solo (agregação, estruturação), produzem resíduos com relação C/N intermediária, favorecendo a mineralização paulatina do nitrogénio, além de promoverem ao longo dos anos um maior equilíbrio e acúmulo de carbono no perfil do solo. No caso de cultivos singulares, a decomposição individual das leguminosas resultará em maiores riscos de perdas de N (lixiviação, volatilização), quando comparado às gramíneas. Quando os resíduos de gramíneas são mesclados com resíduos de leguminosas, normalmente não há problemas com imobilização do nitrogénio e a mineralização paulatina favorecerá a disponibilidade e absorção dos nutrientes pelas plantas.

Consórcio de milho e feijão nhemba no sistema de Agricultura de Conservação (Distrito do Dondo)

Os nutrientes deixados pelas plantas de cobertura às culturas posteriores podem ser aproveitados em quantidades variáveis conforme os seguintes factores: Espécie de planta de cobertura: Plantas mais fibrosas (com maior quantidade de carbono) demoram mais a se decompor no solo, plantas com maior % de nitrogénio se decompõe mais rápido e liberam os nutrientes no solo, podendo então ser absorvidos pelas culturas subsequentes; Tempo de decomposição: A relação carbono/nitrogénio (C/N), bem como a quantidade de lignina presente no tecido vegetal, irá governar grande parte do processo de decomposição dos resíduos no solo; Temperatura: Temperaturas elevadas facilitam o aumento de população dos microrganismos do solo e, consequentemente poderá acelerar o processo de decomposição dos resíduos vegetais no solo; Humidade do solo: A disponibilidade de água juntamente com temperatura e presença de ar (oxigénio) são fundamentais no aumento dos microrganismos e decomposição dos resíduos no solo; Manejo do solo: O solo ao ser revolvido por enxadas, charrua ou tractor irá misturar os resíduos na camada superficial do solo acelerando o processo de decomposição dos resíduos presentes; Fertilidade do solo : (aspectos químicos, físicos e biológicos) Maior teor de matéria orgânica (geralmente está associado a um incremento biológico no solo, principalmente os microorganismos), elevado teor de nutrientes, melhor aeração do solo (não problemas de compactação), maior acumulo de humidade; temperaturas elevadas, tendem a acelerar a decomposição dos resíduos no solo, assim esses factores tem influencia directa na disponibilidade dos nutrientes as culturas subsequentes.

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O que Você deve levar em conta:

O monitoramento contínuo das áreas com rotação de culturas é fundamental para o próprio sucesso do sistema. Assim, as espécies a serem incluídas na rotação deverão ser criteriosamente seleccionadas, de acordo com as condições agro-ecológicas, infra-estrutura do produtor, e cobertura do solo prevalecentes.

4.2.2 Formas de manejo de plantas de cobertura As plantas de cobertura quando atingem o pleno florescimento os nutrientes se encontram distribuidos em todas as partes da planta, sendo o momento recomendado para se fazer o manejo. Obviamente, que em algumas situações onde se deseja que os resíduos permaneçam por mais tempo sobre o solo, este manejo poderá ser retardado um pouco. Dessa forma, quando as plantas atravessam a fase de crescimento vegetativos e entram na fase reprodutiva (flores e enchimento de grãos), ocorre uma migração dos nutrientes das folhas e de outras partes da planta para as inflorescências e, com isso principalmente pelo aumento das cadeias carbônicas, os tecidos das plantas irão se tornando com uma maior relação C/N e, assim com maior presença de lignina torna-se mais difícil e demorada a decomposição desses resíduos no solo. Por outro lado, caso o manejo das plantas seja efetuado antes do florescimento, a relação carbono nitrogênio (N) nos tecidos será menor (cadeias carbônicas menores) e, consequentemente decomposição no solo será bem rápida. Isto, principalmente em função da oferta elevada de N aos microorganismos, que assim multiplicam-se muito rapidamente e decompõe os resíduos orgânicos em menor tempo. Neste caso, se tem uma pronta disponibilidade principalmente de N no solo, que poderá ser absorvido pelas plantas, ou mesmo correndo riscos de perdas (principalmente lixiviação quando na forma de nitrato, NO-

3). As plantas de cobertura poderão ser manejadas através de catana, foice, enxadas, rolo-faca, herbicidas, conforme as condições locais e infra-estrutura do produtor. O rolo-faca consta basicamente de um equipamento que pode ser feito de um tronco de madeira ou um cilindro metálico, ou mesmo um tambor de vazio de 200 litros. São colocadas longitudinais ao cilindro, sendo este cilindro traccionado por trator ou por animais (bois, cavalos, burros, etc.) sobre os vegetais que se pretende acamar e manejar. Caso haja elevada quantidade de massa vegetal a ser cortada poderá ser colocada alguns pesos sobre a estrutura metálica do próprio rolo para que possa ter mais peso, e no caso do tambor poderá ser cheio com água, para então proceder satisfatoriamente as operações de manejo/corte do material vegetal (plantas de cobertura, capins e outras invasoras, restolhos da cultura anterior). Normalmente o rolo-faca não irá cortar todos os resíduos, mas com a forca do impacto sobre o tecido vegetal ira romper os vasos que carregam a seiva bruta e elaborada e, assim proporcionando após alguns dias a seca e morte das plantas. É prático, de fácil confecção e um instrumento muito importante no manejo da vegetação para implantação das culturas em plantio direto sobre o mulch (Agricultura de Conservação). Já foram confeccionados alguns exemplares aqui em Sofala e já vem sendo utilizado com sucesso pelos camponeses.

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Rolo-faca e tração animal: usado no maneio de plantas de cobertura, invasoras (plantas daninhas) e restolhos de plantas cultivadas (milho, mapira, girassol, etc.)

No Distrito do Búzi, foi feito uma demonstração com o uso de rolo-faca tractorizado sobre capim e feijão macaco (vegetação de uma altura média de 1,50m.), com um excelente trabalho, demonstrando ser uma ferramenta muito eficiente no manejo de vegetação ou de coberturas. As áreas onde se efetuaram os trabalho foram em Chicumbua, Guara Guara (através de tractores) e, em Bandua com tracção animal (bois), com trabalho bastante eficiente sobre capins, feijão macaco e outras plantas e arbustos.

Rolo-faca tracção tractorizada – Búzi Nas áreas onde foram testados o rolo-faca construído pelo PROMEC, observou-se que passado já 30-40 dias após o manejo do capim, já começa a surgir algumas invasoras, sendo portanto recomendável que o intervalo entre o manejo com rolo-faca e o plantio direto da cultura posterior seja em torno de 8-21 dias, obviamente variando conforme o tipo de cobertura (leguminosas e outras com bastante nitrogênio e rápida decomposição 8-10 dias e, caso seja gramíneas e outras bem lignificadas e fibrosas 2-3 semanas após o manejo), podendo introduzir a nova cultura em plantio direto. • Em campos onde há predominância de capins, o manejo com rolo-faca deverá ser

preferencialmente quando o capim esteja verde e, ainda não tenha completado o ciclo, dessa forma o rolo-faca tem melhor efeito, além de impedir que as invasoras continuem se multiplicando no campo.

• Caso ocorra pequena rebrota, o manejo poderá ser complementado com foices, catanas, etc.

• Em muitas situações e áreas maiores, o rolo-faca poderá ser complementado com uso de herbicidas específicos para dessecação das invasoras e/ou plantas de cobertura.

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4.3 Efeitos das plantas de cobertura As plantas de cobertura e seus resíduos, através da formação de cobertura morta, e pelos seus efeitos físicos e químicos (alelopáticos) afectam qualitativa e quantitativamente distintas infestações de espécies invasoras. Assim são conhecidos os efeitos das mucunas, feijão bóer, mexoeira, crotalaria juncea, calopogônio, feijão de porco, da aveia preta, centeio, azevém, ervilhacas, nabo forrageiro, etc. no controle de diferente espécies de plantas invasoras. Sendo importante o uso e manejo dessas espécies em rotação quando se pretende diminuir populações de algumas invasoras. Com a utilização das diferentes plantas de cobertura é possível quantificar o montante de um determinado nutriente reciclado e/ou fixado biologicamente pelas leguminosas, considerando a biomassa produzida e os nutrientes contidos no tecido foliar. Tabela 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura e % de nutrientes na matéria seca .

Nitrogénio Fósforo Potássio Planta de cobertura

Ciclo

Massa verde (t/ha)

Matéria seca (t/ha) (% na matéria seca)

Mexoeira Anual 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12 Feijão nhemba Anual 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77 Mucuna preta Anual 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55 Mucuna cinza Anual 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55 Mucuna anã Anual 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84 Feijão bóer Bi ou Tri-anual 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84 Feijão bóer anão Anual 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47 Crotalaria spectabilis Anual 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78 Feijão de porco Anual 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94 Feijão bravo do Ceara Anual 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78 Feijão mungo Anual 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24 Dolichos lab-lab Anual 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53 Leucaena leucocephala perene 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94 Indigofera sp. perene 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64 Calopogonio mucunoides perene 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68 Kudzu tropical perene 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23 Soja perene perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45 Centrosema pubescens perene 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34 Mexoeira + nhemba Anual 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12 Crotalaria juncea Anual 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38 Girassol Anual 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78

Fonte: Adaptado de Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001. Os valores apresentados demonstram o grande potencial que as distintas plantas de cobertura possuem em deixar no horizonte superficial dos solo variáveis quantidades de nutrientes que poderiam ser absorvidos pelas raízes dos cultivos posteriores. Além desses nutrientes, um dos mais importantes aportes das plantas são os compostos de carbono

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orgânico, ou seja a matéria orgânica, que será responsável, directa ou indirectamente pelas interacções e reacções químicas, físicas e biológicas no sistema solo-água-planta. As plantas mencionadas, tem potencial de serem utilizadas na Província de Sofala, conforme os diferentes sistemas de produção e condições agro-ecológicas especificas. Para os cultivos de Siratro, Stylosanthes, Brachiaria, Setaria e Melinis minutiflora, caso saturação com bases esteja acima de 30% não será necessário elevar até 40%, com excepção no caso dos materiais que são destinados a corte ou produção de feno Dentre as leguminosas algumas se destacam pela tolerância ao alumínio, como é o caso: Stylosanthes, Calopogonium mucunoides, Macroptilium atropurpureum, Galactia striata, Crotalaria pubescens e outras. Por outro lado, as espécies como Glycine wightii (soja perene), Medicago sativa (alfafa), são altamente susceptíveis a alumínio, e também pouco eficientes na absorção de fósforo (P) na presença de alumínio. Em geral, as exigências em P das leguminosas adaptadas a solos ácidos não são altas. Geralmente as leguminosas apresentam grande potencial em fixar nitrogênio através da acção das bactérias que estão em simbiose com as raízes das plantas assim como também tem boa capacidade de reciclar o nitrogênio e outros nutrientes que foram perdidos por lixiviação. Tabela 4: Fixação biológica pelas leguminosas

Leguminosas N(kg/ha-1/ano)

Feijão bóer (Cajanus cajan) 41 - 280 Feijão nhemba (Vigna unguiculata sin. Vigna sinensis) 73 - 240 Mucuna preta (Mucuna pruriens) 157 Canavalia / Feijão de porco (Canavalia ensiformis) 49 - 190 Estilosantes (Stylosanthes sp.) 30 - 196 Amendoim (Arachis hypogaea) 33 - 297 Calopogônio (Calopogonium mucunoides) 64 - 450 Crotalaria (Crotalaria juncea L.) 150 - 165 Galáctia (Galactia striata) 181 Centrosema (Centrosema pubescens) 93 - 398 Leucaena (Leucena leucocephala) 400 - 600 Kudzu tropical (Pueraria phaseoloides) 30 - 100 Feijão mungo (Vigna radiata L.) 63 - 342 Desmódio (Desmodium sp.) 70 Siratro (Macroptilium atropurpureum) 70 - 181 Soja (Glycine max) 17 - 369 Soja perene (Glycine wightii Verdc.) 40 - 450 Guar (Cyamopsis psoraloides) 37 - 196 Lentilha (Lens culinaris) 35 - 77 Lespedeza (Lespedeza stipulacea) 193 Grão-de-bico (Cicer arietinum) 41 - 270 Ervilha (Pisum sativum) 81 - 148 Ervilhaca comum (Vicia sativa) 80 - 120 Ervilhaca peluda (Vicia villosa) 110 - 184 Trevo egípcio (Trifolium alexandrinum) 62 - 235 Trevo vermelho (Trifolium pratense) 17 - 191 Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) 21 - 207 Feno grego (Trigonella fænum-græcum) 44 Feijão fava (Vicia faba) 88 - 157

Adaptado de: Nutman (1969); Buckman & Brady (1979); Malavolta et al. (1986); Boin (1986); Vernetti (1971), citado por Scotti et al. (1986); Larve, T.A. & Patterson, T.G. (1981); Kluthcousky (1982); Burris & Hardy (1975); Mello (1978); Rottar, P.P. & Joy, citado por Calegari et al., 1993.

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4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo A matéria orgânica é uma mistura complexa das mais essenciais à manutenção e/ou recuperação da capacidade produtiva dos solos agrícolas. Diante de tal importância, serão tratados os principais aspectos a serem considerados num manejo adequado de solos visando a recuperação e/ou manutenção da matéria orgânica dos solos agrícolas. A matéria orgânica total de um solo inclui todos os organismos vivos do solo, assim como os resíduos vegetais e animais em decomposição constante; apesar de que quando nos referimos à matéria orgânica do solo, uma quantificação mais realística é quando nos referirmos à porção já num estágio final de decomposição, com a predominância de lignina, celuloses e hemiceluloses, portanto já num complexo de maior estabilidade e de coloração escura, ou seja, portanto numa fase de húmus. Os diferentes tipos de plantas, bem como as diferentes partes da planta, podem apresentar diferenças quanto aos seus componentes e estruturas e, conforme a organização estrutural de seus tecidos, influenciado pela época e forma de manejo dado a estas plantas ou resíduos, poderão apresentar diferenças quanto ao tempo de decomposição. Os primeiros componentes (listados abaixo), que são formado por cadeias de carbono mais simples, são quebrados e decompostos muito rapidamente, quando alguns resíduos e/ou restolhos são depositados no solo, enquanto os últimos (cadeias complexas) poderão demorar meses ou até muitos anos:

Açucares, amidos e proteínas simples; Complexos protéicos; Hemicelulose Celulose Gorduras e graxas Lignina

Assim, o montante de matéria orgânica de um solo é um complexo formado por inúmeras fracções em diferentes estágios de decomposição e, sendo alguns com efeitos marcantes, duradouros ou não, sobre as propriedades do solo. Dessa forma, a adição quase que constante de resíduos orgânicos ao solo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, são fundamentais para que se possa se beneficiar de todos os efeitos favoráveis da matéria orgânica nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Geralmente o balanço entre estas fracções é a resultante da adição dos compostos de carbono e dos efeitos do manejo do solo utilizado. Normalmente nas áreas tropicais e subtropicais onde a mineralização/degradação dos compostos orgânicos é intensa, a forma com que efectuamos o manejo do solo e das culturas podem influenciar directamente a dinâmica dessa matéria orgânica do solo:

As adições de carbono orgânico em áreas agricultáveis normalmente podem ser menores que nas condições naturais (natureza), isto em razão de que as culturas ocupam um tempo parcial de desenvolvimento durante o ano, além da colheita de grãos, fibras, forragem, etc. estarem sempre exportando carbono do sistema; apesar disso, experiências de produtores no Brasil e outros países mostram que é possível com um bom sistema de rotação, suplantar a adição de carbono anual quando comparado com uma área de vegetação natural;

O revolvimento do solo, queima dos restolhos e/ou invasoras e as praticas de condução (praticas fitotécnicas: limpeza do terreno, etc.), contribuem para a mistura dos restolhos das culturas e outros resíduos orgânicos com o solo e consequentemente aumentam a decomposição do carbono e as perdas em forma de CO2 para a atmosfera.

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Para que o processo seja revertido é fundamental tomar alguns procedimentos urgentes:

Imediatamente cessar com o preparo do solo, quer seja por enxadas, tracção animal, tractor, etc.;

Não queimar mais os restolhos das culturas, restos de invasoras cortadas ou capinadas, resíduos de plantas de cobertura, deixando todos os compostos de carbono sobre a superfície do solo;

Manejar adequadamente todos os resíduos de forma que a adição anual de carbono ao sistema, quer pela adição dos resíduos da parte aérea ou das raízes, seja superior às perdas que ocorre principalmente pela ação dos microorganismos do solo (balanço anual positivo);

Obviamente que em áreas de vegetação nativa os níveis de matéria orgânica do solo dependerão diretamente das condições de clima (temperatura, precipitação), tipo de vegetação, tipo de solo, drenagem, etc.

O papel da matéria orgânica nos solos agrícolas A predominância de temperaturas elevadas, ocorrência de precipitações com alta intensidade, tem contribuído para que o processo de intemperização seja mais intenso nas regiões tropicais e subtropicais, quando comparados às condições de clima temperado. Nessas condições, as argilas predominantes geralmente são 1:1 ou seja, geralmente de baixa actividade, significando com baixa capacidade de efectuar a troca catiônica no complexo solo. Dessa forma, a maioria dos solos apresentam originalmente baixa CTC (capacidade de troca de cátions), o que indubitavelmente repercutem em baixa fertilidade natural. Assim, nessas condições os colóides da matéria orgânica, por ter uma CTC de alta actividade, desempenha um papel fundamental no sentido de contribuir para o aumento da CTC do solo e, consequentemente promover uma maior capacidade de aumento do nível de fertilidade química do solo. Além disso, grande percentual dos nutrientes são protegidos no solo ao formarem complexos com a matéria orgânica, podendo ser paulatinamente disponibilizados (com menores riscos de serem fixados por alumínio ou manganês, como é o caso do fósforo, ou ainda serem perdidos por lixiviação como é o caso do potássio e outros) e, aproveitados mais facilmente pelas raízes das culturas em desenvolvimento. O aumento da matéria orgânica do solo está directamente ligado ao aumento na adição de carbono e/ou redução da taxa de decomposição dos materiais orgânicos frescos (MOF) e húmus. Uma forma de adicionar carbono ao longo dos anos é pela vegetação espontânea (invasoras), pelo cultivo de espécies perenes de pastagens ou através da prática ordenada de sucessões, rotações e/ou consorciação de culturas (sistemas), com elevada capacidade de produção de fitomassa que incluam conjuntamente cultivos comerciais e recuperadores de solos (plantas de cobertura).

Material orgânico fresco cobrindo o solo (capim) e matéria orgânica estabilizada – coloração escura (húmus )

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A redução na taxa de decomposição dos MOF e húmus em cultivos anuais é obtida através de redução do revolvimento do solo, quer pela decisão de um manejo através do sistema de cultivo mínimo ou principalmente através do sistema de plantio directo. Os principais aspectos auferidos pela manutenção e/ou adição da matéria orgânica do solo são:

elevada capacidade de armazenamento de água;

contribui para uma melhoria do estado de agregação das partículas de solo através da formação dos complexos organo-minerais;

proporciona um considerável incremento na vida biológica do solo;

promove uma acentuada redução das perdas de nutrientes, favorecendo sensivelmente o seu suprimento às plantas;

tem a capacidade de formar complexos com o alumínio e manganês que encontram-se em níveis tóxicos no solo;

contribui significativamente para o aumento da CTC (capacidade de troca de cátions) efetiva do solo;

melhoria do desenvolvimento e rendimento final das culturas.

Além dos componentes dos tecidos das plantas, algumas enzimas necessárias à decomposição das moléculas orgânicas estão presentes em um maior número de espécies microbianas, outras são sintetizadas apenas por alguns microorganismos específicos. O amido, proteínas, e celulose, por ex., fazem parte dos vegetais e são moléculas que facilmente são degradas no solo pelos microorganismos, a maioria deles tem enzimas necessárias para a degradação e posterior utilização como fonte de carbono e energia. No caso da lignina e alguns compostos fenólicos (cadeias carbônicas maiores e mais complexas), componentes comuns nos tecidos vegetais, são mais difíceis de sofrerem o ataque microbiano, em função de sua estrutura e caminhos de decomposição permanecendo assim por muito mais tempo no solo até a mineralização ou sofrerem reacções químicas no solo (Fries & Aita, 1999). Visando facilitar a decomposição e liberação de nutrientes, em algumas regiões da Europa, se recomenda adicionar, por cada 100 kg de resíduos vegetais (palha de gramíneas e/ou restolhos), de 0,7 – 1,3 kg de nitrogênio, além da fertilização normal utilizada no cultivo. Ao selecionarmos plantas para cobertura do solo e acúmulo de palha, devemos buscar aquelas que apresentem maiores concentrações de lignina e derivados de fenólicos, pois seus resíduos são mais resistentes à decomposição e assim permanecem por mais tempo protegendo o solo. Balanço de húmus no solo: O humus, composto final da decomposição dos resíduos orgânicos do solo apresentam inúmeros efeitos favoráveis ao solo, assim como as interações solo-água-planta-nutrientes. No dinâmico processo de manejo do solo é importante considerar se o solo alcançou ou não ainda seu equilíbrio. Equilíbrio este que é definido como:

Equilíbrio = quando ocorre maior acúmulo em relação às perdas de matéria orgânica (M.O.) no solo

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Assim, Fries & Aita, 1999 apresentam um exercício de como avaliar este importante balanço no solo.

Balanço Anual de Humus = Perdas Anuais de M.O. ▬ Ganhos de M.O.

• Considerando (p. ex.) um solo com 2.5% M.O.; • Quilogramas de humus em 1 hectare = 2.159.000 kg de solo/ha X 2.5/100 = 53.975 kg

/M.O.

• Caso o solo seja manejado ou não, parte do humus do solo é decomposto pelos micro-organismos para sua manutenção durante o ano;

• Nos USA estudos tem mostrado que a taxa de decomposição do humus é:

1. solo com 2% de M.O. = 2% taxa de decomposição anual; 2. solo com 4% de M.O. decomposição de 2.5%, assim utilizando-se estes valores;

portanto, 2.5% M.O. apresenta uma taxa de decomposição = 2.125%. 3. Em 1 hectare temos 53.975 kg. de M.O. X 2.125% = 1147 kg. de humus

anualmente perdido pelo processo de decomposição natural;

Estudos regionalizados (possivelmente com “modelagem”) deveriam ser conduzidos para desenvolver uma: Constante de decomposição da Matéria Orgânica no solo Estimativas de perdas de solos: Resultados obtidos por Sidiras ,1984, citado por Derpsch et al., 1991 em um latossolo roxo no Norte do Paraná, o preparo convencional do solo (1 aração com discos + 2 gradagens) mostrou perdas de solos de 68,2 ton./ha/ano. Ainda no Brasil, Ponta Grossa, Paraná, Araújo et all.1991, em 4 anos de estudos em Cambissolos álicos encontrou perdas médias de mais de 113 toneladas de perdas de solos por hectare/ano. Por outro lado, resultados obtidos por Venialgo, 1997 em Paraguai, mostraram perdas de 46,5 ton./ha/ano de solos (área de convencional em pousio no inverno). Seguramente nas condições da Província de Sofala os valores não devem ser muito diferentes, ou até em áreas mais declivosas e cultivados tradicionalmente com perdas ainda maiores que as consideradas anteriormente. • Assim, para fins de cálculos vamos considerar perdas anuais de solos no sistema

convencional de 40 toneladas por hectare/ano. • Perdas de Solos = 40.000 kg/ha/ano X 2,5% = 1000 kg/ha/ano de humus perdido por

erosão. • O solo perdido geralmente é mais rico em M.O., visto que a fração orgânica é mais leve

que outras partículas do solo e com mais facilidade será levado pela enxurrada; • Análises realizadas mostram um valor aproximado de 1,5% vezes superior para a M.O.; • Assim, os valores serão estimados em: 1000 kg de humus X 1,5 = 1500 kg/ha/ano de

humus perdidos por erosão (valor corrigido); • Portanto, a Perda de Humus anual é de: • 1147 + 1500 = 2647kgs. de Humus são perdidos por ha/ano.

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Cálculo dos ganhos anuais de Matéria Orgânica:

• Um cultivo de milho com um rendimento por ex. de 6000 kg/ha de grãos, normalmente irá produzir uma quantidade semelhante de palha (restolhos). Além disso, estima-se que a quantidade de biomassa radicular é em torno de 17% da parte aérea, e a quantidade de exudatos produzidos pelas plantas durante seu ciclo é quase semelhante à biomassa radicular.

• Estima-se que quanto aos restolhos de milho, 33% ficam como humus no solo depois de 1 ano, e em torno de 20% permanecem depois de 5 anos no solo.

• A conversão em humus para raízes e exudatos é em torno de 18%. O restante é liberado como CO2 (dióxido de carbono), principal componente da de composição microbiana, que irá utilizar a energia da palha para seu crescimento e manutenção de suas populações no solo.

• Assim, temos: 6000kg x 33% = 1.980 kg de humus provenientes da palha; • Quantos quilogramas de raízes: ⇐ A soma de 6000 kg de palha + 6000 kg de grãos

de milho = 12000 kg x 17% = 2040 kg. de resíduos de raízes. A mesma quantidade para exudatos = 2040 kg. de exudatos radiculares.

• Total de Raízes + Exudados = 4080 kg somente em torno de 18% fica como humus depois de 1 ano; portanto: 4080 kg. x 18% = 734 kg. de humus deverão ser adicionados ao solo pelas raízes e exudatos radiculares.

• Assim, o ganho anual de HUMUS, com o cultivo de milho será: 1980 kg. (restolhos) + 734 kg. (raízes + exudatos) = 2714 kg. de HUMUS.

Balanço do Humus = Ganhos Anuais de M.O. – Perdas Anuais de M.O.

Balanço do Humus = 2714 – 2647 = + 67 Kg

Obviamente que estes dados não estão considerando que as perdas de solos por erosão ocorrem principalmente na superfície do solo, região em que existem maiores concentrações de M.O. na superfície, portanto maiores serão as perdas, além do sistema convencional (solo revolvido) acelerar a decomposição do húmus, conforme as condições de solos, clima, tipo de solo, altitude, etc. e, seguramente nessas condições o BALANÇO ANUAL REAL é negativo.

Quanto mais efetiva for a rotação de culturas maior quantidade de carbono orgânico será adicionado ao solo.

Numa análise dos resultados apresentados se conclui que aumentar os níveis de matéria orgânica do solo é um grande desafio, pela dificuldade de adicionar elevadas quantidades de biomassa ao solo (como é o caso dos 2 cultivos apresentados). Visando maior adição de carbono orgânico ao solo, é aconselhável seleccionar plantas, com qualidade de compostos bioquímicos e, que sejam capazes de produzir elevadas quantidades de restolhos, e que o carbono possa assim não ser perdido na atmosfera como CO2, mas sim ser acumulado na forma de humus no solo. Assim, capins e outras gramíneas, além do uso de misturas de leguminosas são recomendadas para acumular e aumentar o carbono orgânico do solo.

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4.3.2 Efeitos no armazenamento de água e diminuição das perdas no sistema

Em visitas a áreas de produtores da região de Tambarare, Gorongosa, foi efetuado medições com termômetros de solos (geotermômetro) às 9:30´ (Tabela 5 em baixo).

Tabela 5: Efeito da cobertura do solo nos gradientes de temperatura do perfil do solo

Área onde se instalou os geotermômetros

Profundidade do perfil do solo (2cm)

Profundidade do perfil do solo (10-12cm)

Solo descoberto 43°C 30°C Solo coberto com palha 30°C 30°C

Pela análise dos dados, observa-se que o solo descoberto (2 cm. de profundidade) apresentou uma temperatura de 13°C superior a área coberta com palha; por outro lado na profundidade 10-12 cm. a temperaturas observadas foram as mesmas (30°C) tanto para o solo descoberto quanto para o solo com palhada e, também esta mesma temperatura foi observada na área com palha a 2 cm. de profundidade. Numa avaliação dos dados obtidos nesta região pode-se concluir que:

Sabendo-se que quando as temperaturas do solo atingem 32-35°C, as raízes das plantas nessa condição praticamente cessam quase todo o seu metabolismo (não absorvendo água e nem nutrientes do solo), portanto as raízes que ocupam a parte superficial do perfil do solo (primeiros centímetros) da área descoberta está comprometido o seu trabalho, prejudicando severamente o desenvolvimento e rendimento final das plantas.

Na área onde o solo está protegido com palha, independente da profundidade (2cm. e 12cm.) a temperatura observada foi a mesma: 30°C e, portanto as plantas possuem ótimas condições de terem seu metabolismo normal durante todo o dia, podendo as raízes absorverem água e nutrientes.

Na área descoberta, além de riscos e perdas de solos, nutrientes e água, por enxurradas e maior lavagem do perfil do solo, também os níveis de evaporação e perdas de água para a atmosfera são muito elevados; por outro lado na área com mulch as perdas por evaporação são quase inexistentes. Portanto, a proteção do solo com palhada e manutenção constante dos resíduos na superfície, são procedimentos básicos e fundamentais no manejo adequado dos solos agrícolas.

Erosão acelerada, compasso inadequado e excessivo numero de plantas de milho por covacho: situações comuns em muitas zonas de Sofala

Consórcio de milho e feijão nhemba no sistema de Agricultura de Conservação: eficiente cobertura do solo, melhoria da fertilidade, controle efetivo de invasoras

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Ainda em visita à região de Gorongosa (área do camponês Sr. Zegria) um grupo de camponeses cultiva hortaliças (repolho, tomate, couve flor, etc.), no restante da machamba o camponês cultiva milho, feijão manteiga, batata doce, etc. Foi efectuado, através de geotermômetro, a avaliação da temperatura do solo nos 3 cm. superficiais as 15:00´ horas, tanto em área descoberta quanto onde havia resíduos sobre o solo.

4.3.3 Efeitos nos gradientes de temperatura do perfil do solo

Área onde se instalou os geotermômetros

Profundidade do perfil do solo (3 cm)

Solo descoberto 52° C Solo coberto com palha 22° C

A temperatura no solo sem resíduos ou totalmente sem cobertura do solo, o que representa a grande maioria da situação dos solos cultivados em todo o distrito de Gorongosa, atingiu 52°C; enquanto a área que estava com o solo coberto com resíduos apresentou uma temperatura de apenas 22°C, ou seja uma diferença de 30°C. Isto é muito importante e tem repercussão no metabolismo das plantas e no processo de crescimento. Dessa forma, mais uma vez, comprova-se que a cobertura do solo é fundamental para manter o solo sombreado, impedindo a evaporação da água do solo e também diminuindo o potencial de evapotranspiração das plantas, o que contribui para que a planta sofra menor “stress” e assim tenha um maior tempo e possibilidades de absorver água e nutrientes e realizar adequadamente a fotosíntese, e assim conseguir um melhor crescimento e conseqüente maior produção.

Área com ananas e milho em solo com cobertura no sistema de Agricultura de Conservação em Panja (Distrito de Chibabava)

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4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e físicos) na diminuição das populações de invasoras (plantas daninhas)

Popularmente se considera uma planta daninha ou invasora, qualquer planta que cresce em local indesejável no momento indesejável. Assim, é considerado que as invasoras ao provocarem alta competição por nutrientes, água, luz com as culturas em crescimento, podem provocar perdas de 5-40% no rendimento final das culturas. Na verdade, o controle das invasoras não promove aumento na produtividade das culturas, mas sim impede que os factores disponibilizados sejam insuficientes (nutrientes, água, luz), comprometendo um melhor desempenho das espécies e por consequência levando a menores produtividades. Diversas áreas de Sofala estão infestadas pela Imperata cylindrica que é uma invasora de difícil controle. É uma gramínea perene muito agressiva, que cresce rapidamente se proliferando por sementes e/ou rizomas. Geralmente muitos camponeses abandonam algumas áreas de suas machambas quando estão tomadas por essa terrível invasora. A Mucuna pruriens é uma leguminosa rústica, largamente utilizada nos países latino-americanos e Oeste da África, quer como melhoradora dos atributos do solo, assim como pelos seus efeitos alelopáticos e de sombreamento, muitas vezes empregada com sucesso no controle do capim Imperata cylindrica. Foi ainda relatado por vários camponeses e técnicos da região do Distrito do Dondo e Búzi e, seguramente também em outros Distritos da Província de Sofala, que um dos grande problemas no manejo das machambas é a alta infestação de invasoras (plantas daninhas), principalmente Cyperus rotundus, Cynodon dactilum, etc., o que dificulta bastante os cultivos, além de alta competição com as culturas. Resultados observados com o emprego de Mucuna pruriens (preta, cinza), Calopogonium mucunoides, Crotalaria juncea, feijão de porco (Canavalia ensiformis) e feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis), mostraram que estas espécies foram eficientes no controle de Cynodon dactilon e Cyperus sp. na região do Distrito do Búzi (Sofala- Moçambique), assim como em diversos outros trabalhos de pesquisa e experiência de produtores no Brasil e outros países.

Uma das excelentes opções no controle, ou diminuição das populações dessas invasoras é o uso de plantas de cobertura com características especiais (como é o caso de Canavalia ensiformis – feijão de porco e Mucuna pruriens – mucuna que não causa reação alérgica às pessoas.

O feijão macaco (Mucuna coriacea), planta embora melhoradora dos solos agrícolas, é indesejável pelos camponeses em função dos efeitos desconfortantes causando irritação na pele através dos efeitos dos pêlos expelidos pelas vagens quando em maturação ou já secas. Normalmente esta espécie cresce naturalmente com outras invasoras e diferentes capins, sendo recomendável o manejo com rolo-faca quando esta leguminosa se encontrar na fase final de florescimento/enchimento de vagens, momento em que irá ocorrer a maior mortalidade das plantas. Sendo recomendável substituir esta espécie por Mucuna cultivada (Mucuna pruriens), que além de proteger e melhorar os solos, não causam os efeitos desconfortáveis às pessoas.

Mucuna em pleno desenvolvimento (Província de Sofala)

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Das diferentes espécies de invasoras, também uma que tem causado problemas em Sofala, é a striga (Striga asiatica), que é uma espécie semi-parasita que ao crescer as suas raízes parasitam as raízes da cultura sugando a seiva de espécies gramíneas (mapira, milho, mexoeira, arroz, etc.) provocando severas perdas nos rendimentos destas culturas. Geralmente a proliferação dessa invasora está directamente relacionada com a degradação dos solos: baixos níveis de matéria orgânica e nutrientes no solo e, também aliado à monocultura: mapira - mapira, ou milho – milho. Os herbicidas geralmente são pouco eficientes no seu controle, sendo a rotação com culturas que apresentam efeitos alelopáticos o melhor caminho de diminuir e até eliminar essa espécie. Algumas espécies são muito eficientes no controle dessa invasora, destacando-se: kudzu tropical, mucunas, gergelim, feijões: bóer, nhemba, vulgar, girassol, Calopogonium mucunoides, etc. Na verdade a grande maioria das leguminosas e outras espécies não gramíneas causam efeitos favoráveis na diminuição da “Striga” Efeito de diferentes plantas de cobertura no controle de “STRIGA” – Exemplo da Costa do Marfim, África

Espécies leguminosas Plantas de milho

infestada com Striga

Rendimento de milho (kg/ha)

Kudzu tropical Pueraria phseoloides 2.8 2.540 Calopogonio Calopogonium mucunoides 3.6 2.260 Cássia Cassia rotundifolia 18.4 2.310 Siratro Macroptilium atropurpureum 98.0 1.250 Centrosema Centrosema pubescens 100 1.120 Tephrosia Tephrosia pedicellata 100 910

TESTEMUNHA 100 730

Fonte: Charpentier et al., 1999. Pelos resultados obtidos percebe-se que o kudzu, o calopogonio e a cássia foram as leguminosas mais eficientes em diminuir a infestação de Striga, além de aumentarem em mais de 200% o rendimento de milho em relação à área testemunha. Na região Norte da Costa do Marfim, o kudzu é a principal espécie empregada no controle de Striga. Além da competição exercida sobre as culturas, uma outra grande desvantagem da proliferação das invasoras ou plantas daninhas é o potencial que a grande maioria das espécies possuem em multiplicar as populações de nematóides no solo. Dessa forma, uma das medidas essenciais no controle das invasoras é manejar estas plantas indesejáveis antes que elas produzam sementes ou seja, não permitindo que as mesmas completem o seu ciclo e assim não continuem infestando as machambas. No sul do Brasil, Skora (1994) estudou por vários anos o comportamento de diferentes invasoras e mostrou como é possível diminuir as populações num manejo adequado durante vários anos.

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Diminuição da infestação de invasoras em plantio directo não permitindo o ciclo completo das espécies

Fonte: Skora Neto, 1994

Dessa forma, os trabalhos em áreas de plantio directo mostraram que as invasoras sendo manejadas (cortadas ou dessecadas) antes que completem seu ciclo e, ao mesmo tempo anualmente adicionados “mulch” sobre o solo, as populações decrescem ao longo dos anos; enquanto outros trabalhos de pesquisa em áreas com o sistema convencional (solo revolvido anualmente) mostraram que as invasoras tendem a aumentar as populações e os custos de seu controle. Algumas espécies que foram consideradas plantas daninhas durante muitos anos em alguns países, são agora eficientemente utilizadas e manejadas adequadamente como plantas de cobertura no sistema de plantio direto. Algumas dessas plantas são: Brachiaria plantaginea no Brasil, Chromoloena odorata na Costa do Marfim, Desmodium intortum na Ilha de Bourbon, e Tithonia diversifolia em Honduras, Uganda, Kenya (e outros países). A Brachiaria plantaginea no sul do Brasil, embora sendo uma espécie invasora nas áreas de lavoura (soja, milho, feijão, etc), antes de completar seu ciclo normalmente é dessecada com herbicidas e/ou cortada produzindo boa cobertura protetora do solo no sistema de plantio direto e, em algumas situações é cortada e utilizada como feno aos animais. No caso específico da Tithonia, que pertence à família das compostas, caracteriza-se por apresentar um forte e rápido crescimento, com efeitos alelopáticos e fisicos (sombreamento) no controle de diferentes invasoras. Em diversas regiões montanhosas Ondurenhas o feijão é semeado à lanço entre as plantas de Thitonia que se encontra no pleno desenvolvimento e, imediatamente é utilizado a catana para cortar essas plantas que irão cobrir o solo e permitir boa germinação e bom desenvolvimento do feijoeiro. Essa planta nativa possui uma elevada quantidade de ácidos orgânicos em seus tecidos (parte aérea e raízes) os quais contribuem paras uma maior soluibilização e disponibilidade de fósforo no sistema. Em regiões de Uganda onde são aplicados fosfatos naturais é semeado Thitonia diversifolia com a finalidade de acelerar a solubilização do fósforo no solo e, consequente aproveitamento pelas culturas posteriores.

4.3.5 Efeitos na melhora de áreas de pousio Normalmente, os camponeses utilizam intensamente uma determinada área por vários anos consecutivos levando na maioria dos casos a um processo de degradação do solo e diminuição da capacidade produtiva do mesmo. Geralmente mudam de área (nomadismo) deixando por 2 ou mais anos em pousio para posteriormente retornarem a cultivar nestas áreas. Este período deixado para crescimento expontâneo de invasoras rasteiras, e arbustivas, na maioria das vezes não é suficiente para recompor a fertilidade (física, química e biológica) do solo e, consequentemente a produtividade das culturas continuam assim num processo continuo e decrescente.

Número de invasoras/m2

0 100 200 300 400 500 600

88/89 89/90 90/91 91/92 92/93 93/94

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Diante desta comum pratica agrícola entre os diversos Distritos da Província de Sofala, é sugerido um melhoramento do pousio. Obviamente deve ser iniciado com um estudo local da área degradada e verificar quais espécies poderiam ser empregadas para promover um melhoramento do pousio. Pode-se utilizar espécies de diferentes famílias, entretanto normalmente as leguminosas são as mais empregadas pois estas condições degradadas geralmente a predominância é de gramíneas expontâneas e, muitas delas com capacidade lenta de promover uma recuperação das propriedades do solo. Espécies anuais ou perenes podem ser empregadas, com preferência as que possuem capacidade de crescer e desenvolver bem em solos degradados, que apresentem resementeira natural, facilitando assim a persistência das plantas de cobertura, que além de controlar algumas invasoras, irão agregando material orgânico e melhorando as propriedades do solo. Este melhoramento pode ser alcançado aos 2 ou mais anos, conforme o nível de degradação, podendo então retornar com culturas (subsistência/mercado). Para as condições gerais da Província, nos solos arenosos (mais pobres) e também os demais, podem ser empregados algumas espécies, tais como: Stylosanthes sp., Feijão bóer, Mucuna pruriens (mucuna preta, cinza) Canavalia ensiformis (feijão de porco) Canavalia brasiliensis (feijão bravo do Ceará) , Clitoria ternatea, Calopogonio mucunoides, Macroptilium atropurpureum (siratro); além dessas espécies pode e deve-se utilizar as próprias leguminosas nativas (Crotalarias, Vignas, Estilosantes, Calopogonio, Sesbanias, Tephrosias, etc.). Pode ser utilizado também algumas espécies leguminosas arbóreas no melhoramento do pousio, tais como: Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Cassia Albida, etc., que irão produzir grande biomassa e, após podadas as folhas e galhos serão distribuídos sobre o solo protegendo e recuperando a capacidade produtiva ao longo dos anos.

Clitoria ternatea: leguminosa rústica tolerante à seca e boa opção na rotação com milho, mapira, etc. (Sr. Fernando Chadiwa – Bandua, Distrito do Búzi)

Feijão nhemba: opção alimentar, mercado e leguminosa protetora e melhoradora do solo (Grupo de Senhoras, Distrito do Búzi).

Dessa forma, a área em pousio ficará enriquecido pela presença das plantas de cobertura e/ou espécies arbóreas, principalmente pela quantidade de fitomassa vegetal produzida, como também pelo adição de nitrogênio ao sistema, além de outros efeitos das raízes no perfil do solo, melhorando-o fisicamente, maior aporte de outros nutrientes (reciclagem e maior solubilização), e também um incremento na biologia do solo pela constante adição de material orgânico ao solo. Após determinado tempo, conforme vai ocorrendo a melhoria gradativa de todas as propriedades do solo, esta área já estará apta a ser novamente cultivada e, então conduzida num sistema sustentável de produção (sistema de Agricultura de Conservação).

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4.4 A produção de sementes de sementes de cobertura Após a devida selecção das espécies de plantas de cobertura, quer sejam nativas ou exóticas, a fazerem parte dos sistemas de produção local/regional, um outro importante aspecto é o que diz respeito à tecnologia de produção de sementes dos referidos materiais. Esta produção, deverá preferentemente ser efectuada pelo camponês na sua própria machamba. A produção de sementes de cobertura é uma importante actividade a ser realizada por parte dos camponeses no sentido de ter a disponibilidade deste tão importante insumo a ser utilizado nas suas próprias machambas. Normalmente, os diferentes materiais apresentam alguns detalhes específicos sobre o processo de multiplicação e produção de sementes. Geralmente as plantas ramadoras, como é o caso das mucunas preta e cinza, normalmente produzem mais sementes quando possuem um tutoramento natural, que podem ser as próprias plantas de milho, mapira, mandioca, ricinus, ou mesmo pequenos arbustos dentro da machamba, etc. Neste caso, os ramos irão subir nos tutores e, consequentemente obtendo maior luminosidade, aeração, irão produzir mais sementes. As sementes depois de colhidas deverão ser trilhadas e com teores de umidade do grão em torno de 12-14%, armazenadas em lugar seco, à sombra e ventilados, para que possam manter o poder germinativo para futura utilização.

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5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

A rotação de culturas é a alternância de espécies vegetais na mesma estação numa determinada área, observando-se um período mínimo sem o cultivo desta mesma espécie na mesma área. O adequado planejamento de um sistema de rotação de culturas deverá visar não apenas objetivos imediatos mas que, ao longo dos anos, a integração de culturas e muitas vezes a própria integração com animais, produza efeitos favoráveis ao sistema, proporcionando uma maior estabilidade de produção, menores riscos de infestação de pragas e doenças, melhoria da capacidade produtiva do solo e consequente maior rentabilidade líquida na propriedade agrícola como um todo. Os esquemas de rotação dependerão da região em questão, do tipo de solo, clima, manejo empregado, das características das machambas específicas e da infra-estrutura da propriedade. O uso da rotação de culturas em propriedades diversificadas dependerá de um planejamento ordenado e de uma criteriosa adequação temporal e espacial das atividades. O conhecimento detalhado do histórico da área em questão, geralmente pode constar de vários aspectos: quanto tempo que vem sendo cultivado nesta área quais as principais culturas desenvolvidas caso não haja análise química de solos, verificar o crescimento das plantas, produção

alcançada em anos anteriores o acompanhamento criterioso das atividades realizadas quer seja quanto aos aspectos

físicos, químicos e biológicos do solo, uso de calagem e adubações (química e orgânica), são fundamentos indispensáveis no estabelecimento de um esquema racional e compatível de rotação de culturas.

A manutenção e/ou adição da matéria orgânica ao solo através da rotação de culturas, incluindo o adequado emprego das coberturas vegetais e o manejo dos resíduos pós-colheita, tende a promover melhorias significativas no sistema produtivo ao longo dos anos, por: Melhorar o estado de agregação das partículas, através da formação de complexos

organo-minerais. Aumentar a capacidade de armazenamento de água. Contribui para um aumento da biodiversidade do solo, e ao incrementar a biologia do

solo (micro, meso e macro [fauna e flora]), aumenta a quantidade de espécies de organismos e também os inimigos naturais que irão atuar positivamente no controle e equilíbrio de pragas (insetos, nematoides e outros) e doenças.

Reduzir as perdas de nutrientes e melhorar a solubilização de nutrientes, facilitando o seu aproveitamento pelas plantas.

Promover a complexação orgânica do alumínio e manganês que encontram-se em níveis tóxicos no solo.

Aumentar a CTC efetiva do solo (dependente de pH). Melhorar o desenvolvimento das culturas, aumentando a estabilidade da produção ao

longo dos anos.

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A rotação de culturas apresenta várias vantagens quando comparada à monoculturas tradicionais (Cook and Ellis,1987; Unger, 1994; Burton & Burd, 1994; Calegari, 2000, 2003):

1) Melhor distribuição de trabalho e economia de mão-de-obra;

2) Contribuição para um aumento no número e nas espécies de organismos do solo, aumentando a biodiversidade e, promovendo um maior equilíbrio entre as espécies benéficas e as prejudiciais, levando assim a um maior controle biológico de pragas e doenças;

3) Mais eficiente controle de invasoras;

4) Promoção de uma melhoria geral e uniforme do solo através de seus efeitos favoráveis (físicos, químicos e biológicos);

5) Melhora da estrutura e qualidade do solo, facilitando o desenvolvimento das diferentes culturas;

6) Diferentes espécies de plantas usadas na rotação apresentam diferentes habilidades e exploram diferentes profundidades do perfil, proporcionando assim uma distribuição mais uniforme, um melhor equilíbrio e uma maior estabilidade nos nutrientes do solo;

7) Os diferentes tipos e comprimento de raízes alcançam diferentes zonas do perfil, melhorando o solo em profundidade;

8) Uma adequada estratégia de rotação irá permitir uma quase permanente cobertura do solo;

9) A adição anual de restolhos e compostos de carbono irá aumentar os teores de matéria orgânica do solo;

10) Há uma tendência, ao longo dos anos, de diminuição dos custos de produção (menores gastos com fertilizantes, herbicidas e pesticidas em geral), conseqüente maior renda liquida na propriedade;

11) As diferentes espécies empregadas na seqüência ordenada irão causar efeitos diferenciados no solo e nos cultivos posteriores;

12) Diminuição de riscos de toxicidade de várias substancias no solo, pela sua alta capacidade de degradação de diferentes componentes;

13) Como efeito de médio/longo prazo contribui para uma maior estabilidade de produção e aumento de produtividade de diferentes culturas.

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5.1 A rotação e consorciação de culturas

5.1.1 Opções de rotação para arroz Normalmente nas áreas destinadas ao cultivo de arroz, nas diferentes regiões da Província de Sofala, o sistema de manejo consiste em revolver o solo em profundidade todos os anos para posterior transplante do arroz. O arroz geralmente é colhido em abril/maio, e a palha é retirada ou queimada, permanecendo o solo descoberto e, em seguida totalmente revolvido manualmente com enxadas ou através de tratores. Dessa forma, o solo permanece desde Maio até Setembro sem nenhuma cobertura ou proteção, apenas as invasoras crescendo e infestando cada vez mais o terreno. Este tipo de manejo, onde o solo permanece longo tempo sem cobertura, o impacto direto das gotas de chuva tende a contribuir para que ocorra um selamento superficial diminuindo a infiltração de água no perfil. Muitas vezes as invasoras são controladas através de pulverização com herbicidas. O transplante de arroz é efectuado normalmente em Novembro.

Nesta situação comum à uma grande maioria de produtores é sugerido que seja localmente e regionalmente testado e validado pelos produtores, algumas das seguintes inovações tecnológicas:

1. Após a colheita dos grãos de arroz, a palha deverá ser distribuída uniformemente sobre a superfície do solo, contribuindo para uma maior rugosidade superficial; o não revolvimento do solo e os efeitos das raízes em decomposição irão auxiliar no aumento de infiltração de água no solo, maior controle da população de invasoras, menor evaporação de água do perfil e consequente maior armazenamento de água no perfil do solo.

2. Algumas plantas de cobertura poderão ser implantadas em Maio, sobre os resíduos da colheita do arroz, sempre permanece alguma humidade no solo facilitando a germinação e crescimento dessas plantas. Além de protegerem o solo por longo tempo e efectuarem uma melhoria nas propriedades do solo, poderão ser manejadas com rolo-faca e, caso haja necessidade complementar com dessecação, para novamente sobre os resíduos vegetais (palhada de arroz e resíduos das coberturas verdes) na superfície do solo, se implantar o arroz em plantio direto, ou o próprio transplante diretamente no solo sem revolvimento.

3. Algumas plantas de cobertura são sugeridas, tais como: mucunas, crotalarias, feijão nhemba (já existem resultados favoráveis tanto na colheita dos grãos de nhemba quanto nos restolhos que aumentaram o rendimento posterior de arroz), feijão bóer, e, também algumas espécies de inverno devem ser testadas: ervilhaca peluda (Vicia villosa), nabo forrageiro (Raphanus sativus), tremoço branco (Lupinus albus), ou mesmo algumas gramíneas como moha (Setaria italica), sorgo forrageiro, Murumbi (Eleusine coracana), mexoeira, ou mesmo algumas mesclas de gramíneas + leguminosas (crotalaria juncea + mapira ou crotalaria juncea + mexoeira; feijão bóer + mapira ou feijão bóer + mexoeira, etc.). Estas espécies poderão ser semeadas para protegerem e melhorarem as propriedades do solo e posteriormente manejadas e/ou

Arroz de sequeiro consorciado com Calopogonio mucunoides (leguminosa

perene). Após a colheita do arroz, a leguminosa continua crescendo, cobrindo

e produzindo elevada quantidade de biomassa vegetal e melhoria das

propriedades do solo

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colhidos os grãos para posterior implantação do arroz e assim viabilizar a Agricultura de Conservação nos campos de arroz. Sesbania + Arroz As sementes da leguminosa nativa Sesbania spp devem ser coletadas no campo, juntamente com os camponeses e, será semeada em outubro (logo no inicio das 1as. chuvas), aí então no inicio de Dezembro esta leguminosa será cortada com catana/rolo-faca e deixado os resíduos sobre a superfície do solo e, posteriormente será transplantado diretamente o arroz sem nenhum preparo do solo. Os passos necessários são os seguintes:

Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4 Passo 5 Sesbania (coleta de sementes em Julho)

Sesbania (semeadura no inicio de Outubro)

Sesbania (corte com catana rente ao solo, ou com rolo-faca e deixar os resíduos sobre o solo no inicio de Dezembro)

Arroz (semeadura direta sobre os resíduos da Sesbania em Dezembro).

Arroz (colheita em Maio/Junho do próximo ano).

5.1.2 Opções de rotação para gergelim Por ser o gergelim uma cultura de renda importante aos camponeses, é necessário ainda testar e validar sequências adequadas que possam viabilizar o sistema de Agricultura de Conservação onde esteja incluído esta espécie. O gergelim é uma cultura que nas condições de Moçambique, geralmente tem sido cultivado consorciado com milho ou mapira ou isoladamente, entretanto algumas opções de plantas de cobertura poderão ser associados ou rotacionadas com este cultivo. Uma rotação interessante é aquela de entrar com mucuna em Junho/Julho e depois em fins de Outubro manejar com rolo-faca, podendo plantar milho em novembro e entrar com gergelim entre as fileiras de milho (em fevereiro), o milho será colhido em março e os restolhos do milho podem ser cortados e deixados sobre o solo (entre as fileiras de gergelim). Em seguida pode se entrar com feijão nhemba ou feijão manteiga, ou crotalaria spectabilis/crotalaria breviflora, crotalaria nativa ou mesmo feijão bóer anão em plantio directo sobre os restolhos do milho. A seguir são apresentados esta e outras sugestões de opções de sequência de cultivos:

Sistema 1: Cultura

a ser implantada

Manejo Nova cultura

a ser implantada

Cultura a ser

consorciada Colheita

Mucuna preta plantada em Junho/Julho

Rolo-faca em fins de Outubro

Plantio directo de Milho em Novembro

Gergelim consorciado plantado em fevereiro entre as fileiras de milho

Milho em Marco; em seguida entrar com feijão manteiga, ou feijão de porco, ou crotalaria spectabilis, crotalaria breviflora, crotalaria nativa e/ou feijão bóer anão

Gergelim em Junho; Também em Junho / Julho pode ser colhido o feijão manteiga, ou ainda ser manejada as crotalarias, feijão de porco, feijão bóer anão para posterior continuidade do sistema

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Guía prático de Agricultura de Conservação

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Sistema 2:

Cultura a ser

implantada Cultura de cobertura Colheita

Nova cultura a ser

implantada

Manejo ou colheita

Nova cultura

Gergelim em Fevereiro

Após 30-45 dias da semeadura do gergelim, entrar com planta de cobertura entre as linhas de gergelim: feijão de porco, feijão bóer anão, feijão manteiga, Crotalarias (spectabilis / breviflora ou nativa), feijão mungo (mung beans)

Gergelim será colhido em Junho; enquanto o feijão manteiga, nhemba, mung beans em julho; enquanto as plantas de cobertura poderão ser manejadas com rolo-faca também em Julho

Em fins de Julho se pode entrar com Mucuna preta ou ainda com uma gramínea: Murumbi, Eragrostis teff, etc.

Em fins de Outubro-Novembro: A mucuna poderá ser manejada com rolo-faca; as gramíneas poderão ser colhidas também nesta época

Em Novembro pode-se entrar com milho em plantio directo e depois dar a continuidade no sistema (Como segue no Sistema 01)

Os sistemas 01 e 02 são sugestões baseadas em sequência de cultivos da região, assim como resultados que obviamente necessitam ser testados e validados pelos camponeses e técnicos, para então serem ajustados e difundidos massivamente aos demais camponeses. • Deve ser evitado o uso excessivo de leguminosas na rotação, principalmente o consórcio

com nhemba (pragas comuns), assim como o uso de cucurbitáceas (melancia, abóbora, pepinos, melão, etc.) na rotação com gergelim, haja visto que foram encontrados algumas doenças comuns e também virosis que poderão prejudicar o gergelim.

• O gergelim (Sesamum indicum) apresenta um sistema radicular bem desenvolvido e com

capacidade de afofar solos adensados ou com camadas compactadas. Em áreas onde ocorre alta infestação de striga sp., normalmente consequência de monoculturas e degradação de solos, o gergelim é uma boa alternativa na rotação, pois o mesmo não favorece o desenvolvimento da striga. O feijão nhemba adapta-se bem à consorciação com gergelim, principalmente variedades não ramadoras, bem como o feijão bóer anão, feijão manteiga, caupi, mucuna anã, feijão arroz, feijão mungo, etc.

Cultivo de gergelim no sistema de Agricultura de Conservação em Chibuabuabua (Distrito de Dondo)

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5.1.3 Opções de rotação para algodão

Cultura a ser

implantada Cobertura

consorciada Manejo

ou colheita Nova cultura Colheita

Algodão (Out./Nov.) plantado diretamente sobre restolhos de culturas anteriores (milho, nhemba, mapira, etc.), sem efetuar preparo do solo

Caso houver necessidade executar sacha (40-50 dias de desenvolvimento) e plantar 1 fileira de mucuna entre as fileiras de algodão

Após a colheita do algodão, a mucuna que terá crescido consorciado ao algodão irá promover uma proteção do solo e evitar o crescimento de invasoras. Poderá ser manejada no florescimento / enchimento de vagens com rolo-faca ou catana. Ou ser deixada para colheita de sementes. Poderá ser semeado/transplantado diferentes espécies horticolas (repolho, couve, tomate, pimento, etc.)

Novamente nos meses de Outubro-Dezembro poderá ser semado na sequênia milho ou mapira que deverá ser consorciado com nnhemba ou feijão bóer ou mesmo mucuna para depois no ano seguinte voltar com algodão

Após a colheita do milho ou mapira a cobertura verde poder continuar crescendo até o florescimento/enchimento de vagens para ser manejada (rolo-faca ou catana) ou ainda ser deixada para produção de sementes. Posteriormente pod-se novamente voltar com o algodão sendo semeado directamente sobre os residuos, sem preparo do solo

No caso do algodão poderá ainda ser semeado feijão nhemba ou lablab entre as fileiras de algodão (40-50 dias após a semeadura do algodão).

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Guía prático de Agricultura de Conservação

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5.1.4 Opções de alguns sistemas incluindo o uso de plantas de cobertura

1. Feijão bóer + Ananaseira O ananás (A) poderá ter um compasso de 1.5m. entre fileiras, e 1m. entre plantas na linha. O feijão bóer (FB) será semeado 1 fileira a cada 3 fileiras de ananaseiras e, terá um compasso de 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho).

A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB

Também se conseguem bons efeitos de cobertura plantando feijão nhemba entre as fileiras dos ananaseiros. 2. Mandioca + Feijão nhemba + Feijão bóer O compasso da mandioca (M) será de 2m. entre fileiras e 1m. entre plantas; O compasso do feijão nhemba (NH) será 2 fileiras intercalada entre cada fileira de mandioca (0.5m. um covacho de nhemba do outro); O feijão bóer (FB) será plantado a cada 3 fileiras de mandioca ou seja a cada 4m. será plantado 1 fileira da outra, espaçados em 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho). M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB

M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB

3. Mandioca + Mucuna

A mandioca (M) poderá ter o compasso de 2m. entre fileiras e 1m. entre plantas; A mucuna (MUC) será intercalada 2 fileiras entre cada fileira de mandioca, espaçadas a 0.5m. entre fileiras e também entre covachos (2-3 sementes/covacho).

M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M

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4. Feijão bóer para recuperação de solo extremamente degradado O compasso do feijão bóer será de 1m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho). 5. Milho + Feijão bóer

O milho (MI) terá o compasso de 1m. entre fileiras e 0.20m. entre covachos (2-3 sementes/covacho → efetuar desbaste e deixar com uma população final em torno de 50.000 plantas/hectare). O feijão bóer (FB) será intercalado 1 fileira ente cada fileira de milho, espaçados em 0.5 – 0.6m. entre cada covacho (2-3 sementes/covacho). O milho deverá ser semeado primeiro e 30-40 dias após plantar o feijão bóer.

MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB

6. Ricinus + Mucuna (para áreas altamente infestadas com nematóides) O Ricinus (Ricinus communis) terá um compasso de 2m. entre fileiras e 1m. entre covachos (2 sementes/covacho). A mucuna (MUC) será semeada 2 fileiras intercaladas entre cada fileira de Ricinus, e espaçadas em 0.5m. entre cada covacho (2-3 sementes/covacho). R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R

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Guía prático de Agricultura de Conservação

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7. Milho + Feijão nhemba + feijão bóer O feijão bóer (FB) terá um compasso de 2.4m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho); O milho (MI) terá um compasso de 0.8m. entre fileiras e, 0.30m. entre covachos (2-3 sementes/covacho); e será semeado no meio das fileiras de feijão bóer (* vide diagrama em anexo); O feijão nhemba (NH) será semeado 3 fileiras entre as fileiras de feijão bôer e milho, espaçados em 0.8m. entre as fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho). O milho deverá ser semeado primeiro, 30-40 dias após deverá se plantar o feijão bóer e feijão nhemba.

FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB

8. Feijão bóer + Mucuna (ou Stylosanthes sp.) (para áreas com solos degradados) O feijão bóer (FB) terá o compasso de 1.5m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho). A mucuna (ou stylosanthes) será semeado 2 fileiras intercalada entre cada fileira de bóer; sendo espaçado em 0.5m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho para a mucuna e 5-8 sementes para o stylosanthes).

FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC O diagrama poderá ser também para o stylosanthes consorciado com o feijão bóer (FB). 9. Milho + Feijão bóer + Mapira No consórcio de plantas abaixo distribuídas, o milho é recomendado o plantio em fins de outubro, a mapira em novembro/dezembro e o feijão bóer aos 30-40 dias após a semeadura do milho (* diagrama de distribuição das plantas).

M: milho; FB: feijão bóer; MAP: mapira

0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB M M FB MAP FB

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Conforme vai se efetuando a colheita das diferentes espécies irá se procedendo a seqüência abaixo indicada:

Julho – Ano 1 Outubro – Ano 2 Fevereiro – Ano 3 Julho/Agosto – Ano4

FB (colheita de grãos) FB (poda a 0.40m.de altura) FB em crescimento Colheita de FB

Girassol (plantio) Pós-colheita de mapira

Amendoim (plantio) Colheita e plantio de

lablab (2 fileiras) Colheita lablab

Feijão bóer (FB) (colheita de grãos)

FB (poda a 0.40m.de altura) FB em crescimento Colheita de FB

NH (plantio) Feijão manteiga (plantio)

NH (plantio) Feijão manteiga (plantio)

Milho (colheita)

Milho (colheita) NH (plantio)

Colheita do feijão nhemba (NH)

Feijão manteiga (plantio)

FB (colheita de grãos) FB (poda a 0.40m.de altura) FB em crescimento Colheita de FB

Com esta integração e seqüência de culturas, se utiliza plantas usadas na alimentação humana e ao mesmo tempo melhoradoras de solos: nhemba, lablab, girassol, amendoim, feijão bóer, etc. O lablab, girassol e amendoim contribuem para melhorar os atributos químicos do solo (adição de nitrogênio e outros nutrientes reciclados), além de contribuírem juntamente com feijão bóer e nhemba na diminuição da striga e no aumento da matéria orgânica do solo. O girassol é uma alternativa na produção de óleo vegetal (alimentação humana e biodiesel). O lablab é uma leguminosa rústica e com alta capacidade de tolerar secas prolongadas e, portanto com potencial de continuar produzindo biomassa e grãos mesmo na época seca (outono/inverno).

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Guía prático de Agricultura de Conservação

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5.1.5 Sugestões de algumas opções de diagrama sequencial de culturas A seguir são feitas algumas sugestões de diferentes possíveis seqüências de culturas incluindo cultura (subsistência/mercado) e plantas de cobertura (recuperadora de solos). Obviamente são apenas sugestões, não há receitas prontas e acabadas para se aplicar diretamente a uma determinada região da Província de Sofala, mas a rotação adequada deve ser planejada e executada conforme as condições locais, solo, clima, interesses do produtor e acima de tudo após um bom diagnostico de toda a área da machamba. Visando um uso e manejo adequado e produção sustentável ao longo dos anos. CAMPANHAS (por exemplo: ano 1, 2, 3, 4 e 5)

1/2 2/2 2/3 3/4 4/5

Plantio Outubro Plantio ou transplante Abril / Maio

Plantio Out. / Nov.

Plantio Abril / Julho /

Out. Plantio

Out. / Nov.

Milho + Batata doce ou Feijão manteiga Mapira +

Mandioca (Julho/Out.)

Milho +

Mucuna Feijão bóer Mucuna

Milho + Cebola Milho + Alho

(Abril) Mapira

Feijão bóer Mucuna

Milho +

Ervilha – (regiões de

altitude, clima mais fresco)

Mapira + Sugar beans

(Maio) Mexoeira

Nhemba Feijão bóer

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5.1.6 Sistemas de consorciação e rotação em diferentes sistemas de produção

O manejo de diferentes agro-ecosistemas, quer seja em sistemas de cultivos anuais ou mesmo em sistemas com cultivos perenes, devem ser observados as condições específicas do local (clima, solo, etc.), para que se possa fazer uso de algumas opções de plantas protetoras e melhoradoras das propriedades do solo, entre as quais são sugeridas:

Banana em cultivo isolado: Poderá ser intercalada com mucunas, guandu, feijão de porco, feijão bravo do Ceará, Indigofera sp., amendoim forrageiro perene (Arachis pintoi).

Banana consorciada com milho e feijão (vulgar, nhemba): após a colheita do feijão, diversas opções podem ocupar este espaço entre as fileiras de milho: mucuna preta ou cinza, mucura anã, feijão bóer anão, crotalaria juncea, crotalaria grahamiana, crotalaria spectabilis, clitoria ternatea, etc.

Feijão (vulgar ou nhemba) pode ser rotacionado com mexoeira, mapira, capim moha (Setaria italica), marumbi (Eleusine corocana), e também com leguminosas (Crotalaria juncea ou guandu em mistura com gramíneas: mexoeira, setaria, mapira, murumbi, etc.).

Mandioca (individual ou intercalada com milho, mapira, girassol, amendoim, mexoeira, feijão (vulgar ou nhemba), feijão mungo, feijão bóer, etc.): após a colheita das culturas de ciclo curto, a mandioca poderá ainda, caso haja disponibilidade de umidade, ser consorciada com guandu anão, Crotalaria spectabilis, feijão de porco, etc. Portanto, no plantio de mandioca sobre restolhos e/ou plantas de cobertura, não há necessidade de confecção de camalhões. Resultados obtidos no Paraguai com mandioca sobre restolhos de milho + mucuna alcançaram até 53 ton./ha de raízes de mandioca.

Milho ou mapira consorciado com feijão (vulgar, nhemba, mungo): após a colheita do feijão, estes cereais poderão ainda ser intercalados com mucunas, feijão bóer, feijão de porco, crotalaria juncea intercalada com gramíneas (mexoeira, Setaria italica, ou murumbi). Camponeses que possuem áreas de milho, mexoeira ou mapira consorciado com feijão bóer, é recomendado que após a colheita do cereal, espere-se o momento adequado de colheita do feijão bóer, onde os grãos poderão ser usados na alimentação humana e mercado e, após isso com catana se proceda a poda das plantas de bóer (aos 40-60 cm. da superfície do solo). A poda nessa altura irá proporcionar melhores índices de rebrote; e também oferecendo outras opções de cultivos intercalados ao feijão bóer (feijão manteiga, mapira, nhemba, murumbi, etc.,) dessa forma promovendo a rotação de culturas, ao invés da monocultura do milho.

Batata doce: poderá ser implantada sobre mulch de amendoim forrageiro perene (Arachis pintoi), Centrosema pubescens, mucunas + restolhos de milho e/ou mapira, Calopogonio mucunoides, soja perene ( Glycine wightii), Indigofera sp.. Portanto, não ha necessidade de se efetuar camalhões para transplante de batata doce, principalmente em solos arenosos e/ou francos, sendo a partir do 2o. ano os resultados bastante favoráveis no aumento da produção da batata doce e, principalmente na facilidade e diminuição do uso de mão-de-obra.

Algodão isolado ou consorciado com nhemba (variedades não ramadoras), poderá ser rotacionado com: 1) Milho/mapira (intercalado com diferentes combinações de plantas de cobertura

listadas); 2) Leguminosas: feijão (nhemba, vulgar, mungo), mucunas; 3) Mandioca (solteira ou consorciada).

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Guía prático de Agricultura de Conservação

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BATATA RENO

Poderá ser plantada em Março/Abril sobre Milho (mapira) + Mucuna; ou ainda sobre Milho (mapira) + Nhemba. O milho/mapira após ser colhido, a mucuna deverá ser manejada com catana e/ou rolo-faca e posteriormente plantado a batata. No caso do consórcio com Nhemba, também tanto o milho/mapira quanto o Nhemba deverão ser colhidos e posteriormente manejados os resíduos e implantado a cultura de batata. A amontoa da batata (35-50 dias após plantio) deve ser com enxadas e, posteriormente o solo coberto novamente com restolhos. A colheita da Batata Reno deverá ser em Agosto/Setembro.

FEIJÃO MANTEIGA

O plantio poderá ser efectuado em Maio sobre os resíduos de Milho + Mucuna. O milho que foi previamente plantado em Outubro/Novembro, posteriormente a Mucuna deverá ser plantada intercaladamente em torno 45 dias após; após a colheita do milho a mucuna deverá ser manejada com catana e/ou rolo-faca. A colheita do feijão manteiga deverá ser feita em Julho/Agosto.

SUGAR BEANS

Poderá ser plantado sobre os resíduos de “MURUMBI” ou “ruquesa” ou “milho miúdo” (Eleusine coracana) que foi previamente semeado em Novembro/Dezembro e colhido em Abril, sendo manejado os resíduos para posteriormente em Maio ser plantado Sugar Beans (para consumo e principalmente para o mercado). Ou mesmo sobre milho/mapira + mucuna. Neste caso, o milho que foi previamente plantado em Outubro/Novembro, posteriormente a Mucuna deverá ser plantada intercaladamente em torno 45 dias após; após a colheita do milho a mucuna deverá ser manejada com catana e/ou rolo-faca e plantado o sugar beans. A colheita do Sugar beans deve ser em Julho/Agosto.

MANDIOCA

O plantio da mandioca poderá ser em Agosto/outubro (dependendo das chuvas), sobre os resíduos de Milho + Mucuna ou ainda sobre os resíduos de Mapira + Mucuna. Neste caso, após a colheita dos grãos de Milho e de Mapira, os resíduos dessas gramíneas juntamente com a mucuna deverão ser manejados com catana e/ou rolo-faca e posteriormente implantado a Mandioca. Após 45 dias do plantio da mandioca, diferentes leguminosas poderão ser consorciadas entre as fileiras de mandioca: nhemba, feijão bóer anão, crotalarias, mucuna anã, feijão de porco, feijão Mungo (Vigna radiata), etc. Caso houver umidade disponível, após a colheita/manejo da leguminosa, existe a possibilidade de se implantar sobre estes resíduos, ainda uma outra espécie de cobertura protetora e melhoradora de solos. No cultivo de mandioca não é recomendável rotacionar com nabo forrageiro por aumentar os problemas de podridões radiculares (Fusarium sp., Rhizoctonia sp., etc.), mas preferentemente após milho + mucuna, ou mapira + mucuna, ou ainda milho + nhemba ou mapira }+ nhemba, ou em áreas de altitude rotacionar com espécies de outono/inverno (ervilhacas, ervilha forrageira, aveia preta etc.). A colheita da mandioca deverá ser em Maio/Julho do ano seguinte.

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5.1.7 Indicação de protocolo para produção de batata reno Propostas para 2 situações: 1) Batata sobre plantas de cobertura: mucuna, feijão bóer, feijão nhemba,

leguminosas nativas, etc.

Na seleção das áreas, procurar escolher as áreas que possuam maior fertilidade natural e maiores teores de matéria orgânica do solo.

Manejo das plantas de cobertura: catana, foice, rolo-faca, herbicidas.

Efetuar sacha e/ou capina das invasoras (se necessário).

Abertura do sulco (enxada, tração animal, tração tractorizada).

Aplicar fertilizante orgânico (estrumes, compostagem) e/ou mineral dentro do sulco, misturar com solo no fundo do sulco.

Seleção/Escolha de batatas uniformes de tamanho médio (preferentemente), ou caso haja pouca disponibilidade de sementes, fraccionar/colocar cinzas de madeira/deixar em camadas intercaladas por capim (0.10m.), para provocar/acelerar o brotamento:

Capim Batatas Capim batatas

Quando em torno de 70% das batatas estiverem brotando, efetuar o plantio da batata reno dentro do sulco.

Aos 35-50 dias (início das tuberização) proceder a sacha e amontoa com enxadas (chegada de terra aos pés da batata, sem revolver excessivamente o solo).

Cortar capim e cobrir o solo próximo às plantas (sobre o solo adicionado aos pés da batata).

Colheita manual através de enxadas ou tração animal (normalmente em setembro/outubro).

Pós-colheita: proceder um nivelamento do terreno (enxadas).

Implantar milho ou mapira (Novembro/dezembro).

Em torno de 45 dias após consorciar com mucuna e/ou feijão nhemba.

Caso houver incidência de doenças proceder controle conforme recomendação local/regional. Em caso de ataque de pragas → utilizar preferentemente medidas de controle através de produtos biológicos com plantas insecticidas e outros (mutica, siringa, tabaco, Nim, folhas e sementes de papaia, etc.).

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Guía prático de Agricultura de Conservação

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2) Batata sobre restolhos de milho, mapira e mexoeira

Na seleção das áreas, procurar escolher as áreas que possuam maior fertilidade natural e maiores teores de matéria orgânica do solo.

Manejo dos restolhos: após a colheita de milho, mapira ou mexoeira, procurar distribuir uniformemente os restolhos sobre o solo (sachar as invasoras e necessário).

Efetuar sacha e/ou capina das invasoras (se necessário).

Abertura do sulco (enxada, tração animal, tração tractorizada).

Aplicar fertilizante orgânico (estrumes, compostagem) e/ou mineral dentro do sulco, misturar com solo no fundo do sulco.

Seleção/Escolha de batatas uniformes de tamanho médio (preferentemente), ou caso haja pouca disponibilidade de sementes, fraccionar/colocar cinzas de madeira/deixar em camadas intercaladas por capim (0.10m.), para provocar/acelerar o brotamento:

Capim

Batatas

Capim

Batatas

Quando em torno de 70% das batatas estiverem brotando, efetuar o plantio da batata reno dentro do sulco.

Aos 35-50 dias (início das tuberização) proceder a sacha e amontoa com enxadas (chegada de terra aos pés da batata, sem revolver excessivamente o solo).

Cortar capim e cobrir o solo próximo às plantas (sobre o solo adicionado aos pés da batata).

Colheita manual através de enxadas ou tração animal (normalmente em setembro/outubro).

Pós-colheita: proceder um nivelamento do terreno (enxadas).

Efetuar plantio de mucuna ou feijão nhemba ou faixas de 3 metros com mucuna (5-6 fileiras de mucuna espaçadas em 0.50m.) intercaladas com nhemba (5 fileiras de nhemba espaçadas em 0.50m.) . Isto irá promover a possibilidade da colheita dos grãos e, também auxiliar no aumento da cobertura, proteção e melhoria das propriedades do solo, além de diminuir os riscos de proliferação de pragas e/ou doenças.

Caso seja optado por este cultivo em faixas (mucuna e feijão nhemba): 1º. Passo – colheita dos grãos de nhemba 2º. Passo – Mucuna deverá ser manejada com catana, foice, rolo-faca no florescimento/enchimento de vagens.

Após este manejo, a área já estará apta para receber novas culturas (cereais, hortícolas ou mesmo batata).

Caso houver incidência de doenças proceder controle conforme recomendação local/regional. Em caso de ataque de pragas → utilizar preferentemente medidas de controle através de produtos biológicos com plantas insecticidas e outros (mutica, siringa, tabaco, Nim, folhas e sementes de papaia, etc.).

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5.1.8 Rotação com espécies hortícolas As diferentes espécies hortícolas normalmente apresentam melhor desenvolvimento quando devidamente sequenciadas por outras espécies. Resultados promissores tem sido alcançados quando em um mesmo solo sejam cultivados hortícolas de formas de desenvolvimento e necessidades nutricionais diferentes. As hortícolas que produzem folhas consomem mais nitrogênio, as hortícolas que produzem bulbos, raízes, tubérculos, rizomas, geralmente necessitam maiores quantidades de potássio, enquanto as leguminosas geralmente extraem maiores quantidades de fósforo do solo. Dessa forma, para que ocorra um maior equilíbrio no solo, não se deve repetir na mesma área hortícolas da mesma família e com características semelhantes, mas sim buscar seqüências alternadas (espécies e hábitos). Quando empregamos espécies como couve flor e outras hortícolas verdes (alface, espinafre, acelga, couves, etc.) exigentes em nitrogênio, o solo deverá ter um suplemento com fertilização orgânica e, no próximo ano fazer cultivos de leguminosas como ervilhas, feijões, etc. que irão reconstituir e melhorar o solo, podendo também estas hortícolas verdes serem seguidas do cultivo de hortícolas de raízes, bulbos, etc. (beterraba, cenoura, cebola, alho, batata, etc.) (Calegari & Peñalva, 1999). As leguminosas normalmente são mais exigentes em fósforo e, as hortícolas de raízes, bulbos, tubérculos, são espécies que extraem elevadas quantidade de potássio e fósforo. Dessa forma, a rotação é fundamental para um melhor aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes do solo, não correndo riscos, com a repetição de espécies do mesmo tipo, de ocorrer esgotamento de determinado nutriente, além dos maiores riscos de ocorrência de doenças e/ou pragas comuns. Num adequado cultivo de hortícolas, deve-se desde o inicio, ter como regra geral, quando se efetuar o cultivo de uma espécie exigente em nutrientes, em seguida, seguir com uma espécie menos exigente em nutrientes e que aproveite os resíduos da cultura anterior. A rotação de culturas é fundamental para um cultivo sustentável de hortícolas, ou seja, estabelecer seqüências de diferentes famílias intercaladas por plantas de cobertura (mucunas, crotalarias, feijão nhemba, murumbi, mapira, etc.), que terão efeitos favoráveis, tais como: Melhoria das propriedades do solo e reciclagem de nutrientes; Quebra de ciclo de pragas e/ou doenças (nematóides), contribuindo para a diminuição

do potencial de ocorrência desses organismos; Aumento no rendimento das diferentes espécies hortícolas.

Cebola transplantada sobre capim no sistema de Agricultura de Conservação

(Grupo Batista – Guara Guara- Búzi)

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Não é aconselhável o plantio sucessivo durante vários anos de plantas da mesma família, como p. ex. as solanáceas (tomate, batata, berinjela, pimentão), o das cucurbitáceas (pepino, melancia, abóbora, melão, etc.), isto, em razão de pertencer a mesma família e, consequentemente poderem apresentar pragas e doenças comuns.

Produção de alface e pimento no sistema de Agricultura de Conservação

Na produção de hortícolas, um dos fatores decisivos no desenvolvimento e produção final das diferentes espécies é o viveiro de mudas. Portanto, é recomendável que o solo do viveiro deva ter uma cobertura com resíduos vegetais, emprego de estrumes, compostagem, cinzas, restolhos de leguminosas nativas e utilização de rotação de culturas. As hortícolas na área de cultivo, além de se utilizar de plantas de cobertura e/ou espécies gramíneas (ruquesa, mexoeira, capim moha – Setaria italica) normalmente, tendem a eliminar a fonte de inóculos e diminuir a ocorrência de podridões radiculares e outras doenças. Também o uso de alguns produtos biológicos no manejo de pragas e/ou doenças (podridões radiculares e outras), tem mostrado resultados muito satisfatórios quando as pequenas mudas de plantas ainda se encontram na fase inicial de crescimento. Dentre as diferentes alternativas, uma delas é a possibilidade de se utilizar 300gramas de sementes de siringa (mfuta, mquina) – Ricinus communis, misturada com 3 folhas verdes de papaia, esmagada e misturada com 5 litros de água (deixar em repouso por 72 horas). Após a filtragem, a solução pode ser usada para pulverizar sobre o viveiro de mudas, controlando algumas pragas e também o “Dumping off” (Fusarium spp.) que é um fungo que ataca novas plantas no viveiro.

A cebola é uma cultura bastante comum na Província de Sofala, sendo bastante comum o aparecimento de doenças, principalmente Alternaria spp. Grande parte da ocorrência de doenças em hortícolas e outras culturas são devido à monocultura contínua por vários anos, o que provoca a perpetuação dos inóculos no solo e nos resíduos culturais deixados na área. O tratamento de sementes é uma medida de prevenção, que pode ser efetuada com fungicidas (Captan, Thiran, Benomil, etc.) ou mesmo com o uso de água quente no tratamento das sementes (*vide em anexo). E um outro importante aspecto, é a mudança do viveiro de área, ou seja, quando o viveiro utiliza repetidamente o mesmo local para produção das mudas, os inóculos também tendem a permanecer na área e contaminar as plantas.

Um dos pioneiros da Agricultura de Conservação no Distrito de Dondo: Sr. Sithole - mostrando campo de cebola iniciado em 2002

Experiências positivas comprovadas por camponeses no cultivo de tomate aplicando o sistema de Agricultura de Conservação – Província Sofala

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BATATA DOCE Pode ser implantada em Abril/Maio sobre Milho + Mucuna ou mesmo após mapira + mucuna, ou sobre resíduos de Indigofera sp., de Arachis pintoi (amendoim forrageiro perene). Após a colheita do cereal, o uso de catana e/ou rolo-faca serão importantes no manejo e, 8-10 dias após o manejo pode-se efetuar o transplante da batata doce. Não há necessidade da construção de camalhões para transplante da batata doce. Decorridos 2-3 anos com uso adequado de rotação o solo ficará cada vez mais macio e apto para um bom desenvolvimento e produção da batata. A colheita da batata doce deverá ser em Setembro/Outubro.

CEBOLA Pode ser transplantada em Março/Junho sobre Milho + Mucuna, milho + mapira, etc. A colheita da cebola deverá ser em Agosto/Setembro.

ALHO Poderá ser plantado em Março/Abril sobre Milho + Mucuna, mapira + mucuna. Atentar para o momento da diferenciação, época em que se inicia a formação de “dentes” do alho (diferenciação), deve-se cessar a rega por 15-20 dias, para que ocorra um stress na planta e, então possa destinar mais nutrientes aos dentes e aumentar o crescimento e produtividade. O alho deverá ser colhido em Agosto/Setembro.

REPOLHO Poderá ser transplantado em Março/Abril sobre resíduos de Mexoeira + Mucuna (que deve ser plantado em Outubro/Novembro; material de ciclo curto): 3-4 meses; ou mesmo após milho + mucuna. A mucuna nessa condição deve ser plantada intercaladamente em torno de 45 dias após a semeadura do cereal; sendo que após a colheita do milho/mapira, juntamente com os resíduos da gramínea ser manejado com catana e/ou rolo-faca e, posteriormente transplantado o repolho. A colheita do repolho deverá ser efectuado em Julho/Agosto.

TOMATE / PIMENTO

Poderá ser transplantado em Marco/Junho sobre resíduos de mexoeira + mucuna, ou mesmo milho + mucuna (que deveriam ter sido plantados em Outubro/Dezembro do ano anterior). A mucuna deve ser plantada aos 35-45 dias após o plantio do cereal e, após a colheita do milho/mapira, manejar com rolo-faca 5-10 dias antes do transplante do tomate/pimento. Caso não houver bom acúmulo de mulch, aconselha-se adicionar mais capim cortado externamente sobre a superfície do solo, para que as culturas possam aproveitar de todos os benefícios deste sistema. A colheita do tomate geralmente ocorre em torno de 3 meses após o transplante.

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5.2 Efeitos da rotação na ocorrência de pragas e doenças A rotação de culturas incluindo plantas de diferentes famílias é uma importante forma de diminuir os efeitos das pragas e doenças, principalmente pela destruição do habitat e interrupção do ciclo destes organismos no solo. Geralmente o ataque de pragas e doenças ocorre mais sobre plantas mal nutridas e/ou com níveis de nutrientes desequilibrados. Assim, o bom suprimento de nutrientes propiciando um bom vigor às plantas é fundamental para conferir maior resistência às plantas. Diversas espécies de plantas de cobertura podem ser cultivadas, além de melhorar as propriedades do solo, também minimizar a incidência dos efeitos prejudiciais das pragas e doenças no solo e nas culturas. Outras espécies, através dos exudados radiculares ou ácidos orgânicos de seus tecidos tem efeito nematicida no solo. No caso da mandioca, quando processada para a preparação de farinha, o resíduo liquido que possui alta concentração de HCN (ácido cianídrico), quando aplicado sobre o solo terá efeitos favoráveis no controle de várias espécies de nematóides. Conforme Sharma et al., 1982; Santos & Ruano, 1987 a utilização adequada de diversas espécies de plantas de cobertura, podem representar um dos meios mais valiosos e econômicos no controle de nematóides, além de inúmeros outros benefícios ao sistema solo-água-planta. Trabalhos realizados em Londrina, Paraná, Brasil por Kryzanowski & Calegari,1997 (dados não publicados) tem mostrado que a moha (Setaria italica L.) é uma espécie que tem demonstrado bons resultados no campo, não multiplicando nematóides (Meloydogine incognita), constituindo uma opção importante a fazer parte de seqüência de culturas, principalmente hortícolas, haja visto o seu ciclo precoce (aos 35-50 dias após a semeadura já se pode manejar). Além disso, existe um grande número de nematóides (ovos e larvas) nos tecidos de algumas espécies de plantas, sendo possível que estas, quando em decomposição no solo liberem diferentes ácidos e substancias aleloquimicas, dos tecidos e raízes que irão influenciar nas populações de nematóides. Assim, espécies como feijão bóer (Cajanus cajan), amendoim cavalo (Arachis hypogaea), Leucaena leucocephala, mexoeira, (Pennisetum americanum), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), Ricinus communis, amendoim forrageiro (Arachis pintoi), e também outras gramíneas usadas como pastagens (diversas espécies de Brachiaria sp.) são bastante eficientes, quer pela alteração do pH da rizosfera (área circundante das raízes) das plantas, contribuindo para a diminuição das populações de nematóides no solo, além de outros fungos (Fusarium sp., Rhizoctonia sp., Sclerotinia sp.), que podem causar danos às culturas. No caso de Sclerotinia sp., os resíduos de brachiaria e outras gramíneas agem como barreira física à fecundação e multiplicação do fungo no solo. O aumento da matéria orgânica do solo, principalmente pelo acúmulo de restolhos e outros resíduos adicionados na superfície do solo, incrementam a atividade biológica, aumentando o numero e espécies de organismos, o que conduz a um maior equilíbrio natural, evitando que ocorra a predominância de determinada (s) espécie (s) de organismo (s) sobre outra (s), e assim em algum momento resultar em prejuízo para determinado cultivo. Resultados obtidos por Santos & Ruano, 1987 comprovam a eficiência de: crotalárias, mucunas , feijão bóer, alfafa, e gramíneas como aveia preta (Avena strigosa), centeio (Secale cereale), azevem (Lollium multiflorum) e cevada (Hordeum vulgare) no controle de populações de nematóides ( Meloydogine incognita raça 3 e Meloydogine javanica). A diversificação no emprego alternado de diferentes espécies de plantas de cobertura em seqüências ordenadas com culturas de subsistência e comercial irá favorecer o crescimento de uma maior diversidade possível de organismos (conforme as condições ambientais: solo, clima, tipo de solo, fertilidade natura, etc.), entre os quais os inimigos naturais, ou seja, os

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insectos e organismos benéficos. Dessa forma, as plantas oferecem habitat natural para os insectos benéficos e, também o uso de faixas de vegetação natural próximo às áreas de cultivo irá favorecer a reprodução dessas espécies e, aumentar as populações de organismos antagônicos às pragas, contribuindo para uma maior biodiversidade e maior controle biológico natural. Observações de campo e comprovação por parte de agricultores do Brasil mostram que restolhos de milho, girassol, mexoeira, quando cultivados em rotação, são muito eficientes na redução do potencial de inóculos de diversas doenças (fungos) no solo. Diversas espécies hortícolas, como por exemplo: tomate, pimento, batata, pepino, abóbora, repolho, couves, feijão, alface, melão, melancia, etc. podem sofrer ataque de nematóides, principalmente do gênero Meloydogine. Além dessa espécie de nematóide, também outras como Ditylenchus dipsaci, pode causar danos ao alho; Helycotylenchus sp. é normalmente controlado pelo uso de Mucunas, crotalaria juncea, Ricinus communis; enquanto Pratylenchus sp., pode ser suprimido pelo uso na rotação de leguminosas, tais como: Stylosanthes guianensis, Kudzu (Pueraria phaseoloides), Centrosema pubescens, Psophocarpus palustris e, algumas gramíneas, tais como: mexoeira, Eragrostis teff, Setaria italica, sudangrás, aveia preta, etc. Quando se cultiva por vários anos espécies que são susceptíveis a nematóides, há uma tendência de aumento populacional dos mesmos, podendo causar danos econômicos às culturas comerciais. Geralmente quando isto ocorre está associado à degradação do solo (principalmente com a diminuição dos níveis de matéria orgânica do solo), sendo necessário tomar medidas que procurem baixar as populações de nematóides fitoparasitas do solo e, assim tornar viável o plantio de culturas comerciais/subsistência. Dessa forma, as plantas de cobertura têm uma grande importância, dentro de estratégias que se associam a outras medidas de controle (rotação com outras culturas de baixa susceptibilidade, variedades resistentes, etc.). As condições de seca e alta temperatura podem influir negativamente no aumento populacional de nematóides, enquanto a maioria das plantas invasoras são multiplicadoras de diferentes espécies de nematóides. Conforme relatos de Peñalva & Calegari, 1999; trabalhos de avaliação de diferentes espécies de plantas de cobertura na rotação em relação à população de nematóides no Uruguai, mostraram o seguinte:

Tratamentos com mucuna cinza, mexoeira, feijão bóer e mexoeira + feijão nhemba foram as que apresentaram a maior diminuição do numero de Xiphinema rivesi. As espécies: mucuna cinza, crotalaria juncea, mexoeira, feijão bóer, mexoeira + feijão nhemba não permitiram o desenvolvimento de Tylenchus. O consórcio entre mexoeira + feijão nhemba foi o que mais diminuiu a população de nematóides fitoparasitas.

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6 CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

À continuação são apresentadas medidas e aplicação de alguns produtos biológicos para o controle de pragas e doenças, principalmente recomendados para pequenos produtores agrícolas: 1. Controle de doenças através imersão em água quente: Uma grande variabilidade de doenças pode acometer as mais diversas espécies de hortícolas a nível de campo. Dentre alguns procedimentos a serem tomados por parte dos produtores, visando diminuir este potencial risco de infeção por patógenos, de baixo custo e acessível a todos os produtores, é o tratamento das sementes

Tabela 6: Doenças em hortícolas controladas pelo tratamento térmico das sementes

Cultura Tempo de tratamento(minutos)

Temperatura da água

(oC) Doença

controlada

Aipo 30 48 Septoria ssp C. apii

Berinjela 25 50 P. vexans

Couve brócolis 20 50 Xanthomonas campestris

Cenoura 15/20 50 X carotae

Cenoura 15/20 50 A dauci

Couve de Bruxelas 25 50 X. campestris

Couve flor 20/25 50 X. campestris

Espinafre 25 50 C. dernatium

Mostarda 15 50 C. campestris

Rabanete 20 50 C. gloesporioides

Pimenta doce 25 50 C. gloesporióides

Pimenta doce 30 52 X. vesicatoris

Pimenta doce 15 50 X campestris

Nabo 25/30 50 X campestris

Repolho 25 50 C. gloesporioides

Tomate 25 50 X vesicatoria

Tomate 25 50 A. solani

Com este tempo de imersão das sementes em água (poderão estar acondicionadas em pequenos sacos de aniagem) os patógenos indicados são controlados, devendo as sementes serem secas à sombra e, preferentemente semeadas o mais rápido possível.

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2. Nim (Azadirachta indica): Árvore em que podem ser utilizados os extratos das folhas ou de sementes que poderão ser utilizados como inseticidas para controle de diversas pragas. Sementes secas: 340 g/litro de água; Folhas secas: 40 g/litro; Óleo emulsionável (produto comercial): 5ml/litro; Torta de Nim: 5g/litro.

A Azadirachta indica é largamente usada nas regiões costeiras dos Países do Leste Africano e nas terras áridas do Leste da Etiópia. Foi trazido da Ásia onde é comumente utilizado pelas suas propriedades medicinais e repelentes de pragas. As folhas podem ser confundida com as folhas de “Siringa”, que é uma espécie muito próxima e de grande semelhança. Pode ser facilmente diferenciada através dos frutos: os frutos de Nim caem ao solo quando maduros, enquanto os frutos de siringa ficam na árvore mesmo depois de maduros ou até secos. A casca da árvore de Nim é grosseira, enquanto a da siringa é bem lisa e de coloração escura. Algumas pragas que o Nim pode controlar: lagarta do repolho e outras hortícolas gafanhotos adultos diferentes espécies de pulgões pequenos insetos que atacam feijões, nhemba, e outros cultivos trips que atacam diferentes cultivos diferentes insetos ou lagartas que atacam plantas no inicio de desenvolvimento pode ainda ser repelente de térmitas e muitas espécies de formigas por mais de 1 mês.

Resíduos das sementes de Nim

Após a retirada do óleo das sementes de Nim (Azadirachta indica), esses resíduos podem ser utilizados como fertilizantes orgânicos no solo, embora pela alta relação C:N, poderá ocorrer imobilização do nitrogênio do solo e, também poderá interferir diretamente na população de alguns fungos fitopatogênicos. Os resíduos de Nim podem ser aplicados em viveiros para eliminar problemas de fungos de solo em cebola, e outras hortícolas.

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Tabela 7: Efeitos dos resíduos das sementes (após extração do óleo) de Nim em fungos patogênicos do solo

Cultura Fungo Efeitos

Tomate Rhizoctonia solani, Fusarium oxysporum

Supressão em 30 dias após a aplicação

Berinjela R. solani, Fusarium spp., Colletotrichum atramentarium

Supressão rápida

Arroz R. solani Redução da infestação na sementeira

Algodão Doenças da sementeira

Melhoria na germinação, menores danos nas plantas emergidas

Soja

Podridão de raízes devido ao ataque de Macrophomina phaseolina

Redução da infecção

Fonte: Adaptado de Steinhauer, 1999

3. Sementes de “Siringa” (Melia azedarach) Sementes verdes ......1 kg. Sementes secas ........0,5 kg. Modo de preparar Adicionar folhas de siringa, folhas de tomateiro, folhas de pessegueiro, folhas de tabaco-

fumo (Nicotiana tabacum), folhas de Cassia tora, e ainda se disponível folhas de assa-peixe (Vernonia sp.) numa proporção de 300-400 gramas de cada.

Tomar esta massa vegetal e esmagar ou quebrar em pedaços menores e colocar dentro de um recipiente com álcool etílico, e deixar por 2 dias em imersão.

Caso não se tenha álcool pode-se também cozinhar em água estes ingredientes durante 3-4 horas. Este sumo concentrado poderá ser guardado por até 1 ano.

Modo de aplicação: Usar 5 litros da solução acima misturado com 100 litros de água e pulverizar contra pulgões, ácaros, pequenas lagartas e brocas de solo.

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4. Tephrosia (Tephrosia vogelli): Esta leguminosa arbustiva é também recomendável no controle de diversas pragas, com o uso de macerado de folhas, ramos, raízes e sementes. Tephrosia vogelli e Piretro (Pyrethrum sp). (vários componentes da planta). O uso de Tephrosia vogelli “mutica” (folhas esmagadas, ramos, raízes, e sementes) pode ser misturado com água e cozido ou misturado com álcool (esperar por 2 dias) e, depois misturar este concentrado (5%) com água (95%) e pulverizar sobre as plantas pra controlar diferentes pragas (insetos e outras). Também o extrato de Pyrethrum pode ser utilizado com similar emprego da Tephrosia vogelli (lagartas, pulgões, trips, Diabrotica sp., gafanhotos, etc.). Mutica (Tephrosia vogelli) – alternativa no controle biológico de pragas. 5. Pyrethrum Em 10 litros de água fervendo colocar 2 xícaras de flores de Piretro. Esperar esfriar, filtrar o líquido e diluir em 2-5 partes de água. Adicionar 60 g de sabão macio em cada 10 litros, posteriormente pulverizar as plantas. 6. Papaia É possível o uso de sementes e folhas secas de papaia, as quais são moídas para tratar sementes de hortaliças e outros grãos, e também pode controlar muitos insetos, pulgões, trips, de diferentes culturas. Produto biológico que consta da coleta e repouso por 30 dias num recipiente totalmente fechado (fermentação anaeróbica). 7. Controle de Fusarium sp. (dumping off)

Pode se utilizar 300gramas de sementes de siringa (mfuta) – Ricinus communis, misturada com 3 folhas verdes de papaia, que após esmagadas são misturadas com 5 litros de água (deixar em repouso por 72 horas). Após a filtragem, a solução pode ser usada para pulverizar as mudas do viveiro (usar este concentrado diluído em água: 1/10), a qual irá controlar algumas pragas e também o “Dumping off” (Fusarium sp.) que é um fungo que ataca novas plantas no viveiro. 8. Urina de vaca Pode-se misturar 3 litros do sumo de plantas + 5 litros da urina fermentada + 100 litros de água e pulverizar em 1 hectare. Esta mistura irá controlar pragas (lagartas, ácaros, gafanhotos, trips, brocas, cigarrinhas, vaquinhas e mesmo a lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda) e outras pragas, e também irá funcionar como fungicida e

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biofertilizante (presença e nutrientes e substancias que ativam enzimas ativando o metabolismo das plantas e, promovem um rápido crescimento das plantas. A urina após coletada dos animais é deixada em meio aeróbico, recipiente fechado sem a presença de oxigênio, em torno de 20-30 dias. Após isso é retirada e utilizada na mistura acima. É recomendável a aplicação sobre milho, feijão e outras culturas logo após a germinação destas plantas, e uma nova aplicação aos 20 dias da semeadura, o que irá favorecer o controle das pragas e o rápido crescimento das plantas. 9. Repelentes Em um pequeno container 2/3 é cheio com folhas e flores picadas (esmagadas) de cravo de defunto (Tagetes taget ou Tagetes patula) - Mexican marigolds, Ocimum suave, ou pimentas verdes ou vermelhas. O restante do container será cheio por água limpa e deixado em descanso por 5-7 dias. Após isso, tomar o sumo (após ser filtrado) e adicionar 30 g de sabão macio para cada 5 litros de água. Para plantas jovens, pode diluir 1 parte da solução para cada 5 partes de água. Para plantas adultas e/ou velhas, diluir 1 parte da solução para 1 parte de água. O cravo de defunto em geral age como repelente de pequenos insetos e nematóides. Pimentas (chilly) é bastante efetivo na proteção de pequenos e grandes insetos. Ocimum suave pode ser usado para diferentes tipos de insetos.

Plantas com efeitos repelentes a insetos e doenças: Inúmeras plantas possuem esta característica, tais como: malmequer (Tagetes minuta) ou também cravo de defunto (Tagetes patula), pimentas (Capsicum annuum), alho (Allium cepa), Ocimun suave, Tephrosia vogelli, Tithonia diversifolia, podem ser utilizadas como repelentes ou também extraído soluções que poderão ser diluídas em água e pulverizadas sobre as plantas, prevenindo ou reduzindo o ataque de vários insetos e doenças. 10. Tabaco (Fumo) Ferver uma xícara de restos de cigarros (após serem fumados) ou 250 g de tabaco em 4 litros de água. Esfriar, filtrar, e diluir em mesma quantidade de água limpa. Misturar com 30 g de sabão macio em cada 5 litros de líquido antes de pulverizar. Esta solução de tabaco é muito tóxica e deve ser usada apenas em emergência. É efetiva contra lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda), lagartas, térmitas, e outros insetos e pragas do solo. 11. Controle de nematóides de Galhas O pó de Nim pode ser usado para controlar nematóides nos viveiros de mudas. Misturar 2 kg de pó (8 mãos cheias) com 10 litros de água e deixe por 1 noite (não necessita adicionar sabão na água). No próximo dia, tome a mistura e aplique diretamente no solo usando um pequeno pulverizador. Esta quantidade é suficiente para uma área de 8m quadrados (2m X 4m). É recomendável aplicar 10-15 dias antes da semeadura ou transplante. Contra alguns parasitas de animais, é possível controlar através das folhas de Nim que são comidas pelos animais.

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12. Controle de Ratos Um agricultor de Ghana usa um interessante meio de controlar ratos usando folhas de plantas com espinhos (Obetia radula), conhecida em algumas áreas como hila hila ou thabai. Também outras plantas que tenham espinhos em suas folhas ou ramos pode ser utilizada. Ratos geralmente não gostam de fazer seus ninhos em locais com espinhos que os incomodam e, assim mudam para outros locais. Moer 100 gramas de sementes de Gliricidia sepium, misture com 100 gramas de milho moído. É aconselhável adicionar um pouco de água, manteiga ou açúcar para melhorar o cheiro e o sabor. Podem ser preparadas algumas pequenas bolas e deixados em locais visitados pelos ratos, principalmente à tarde ou noite, e principalmente em épocas de menor oferta de alimentos no campo. As sementes de G. sepium têm um forte efeito na mortalidade de ratos. 13. Controle de Formigas2 Algumas formigas grandes (Atta capiguara e outras espécies) que podem causar danos às culturas podem ser tomadas algumas medidas de controle: Algumas culturas e árvores podem ser mais bem nutridas com molibdênio, que irá contribuir para as plantas sintetizarem mais proteínas e diminuir a atratividade pelas formigas. Pode ser aplicado 0,5% de molibdênio (uma única vez). Utilizar um extrato de sisal (5 folhas em 5 litros de água). Moer as folhas e deixar por 2 dias com água. Retirar o sumo e aplicar 2 litros no principal buraco das formigas e feche os outros buracos. O plantio de gergelim ao redor de outras culturas sensíveis ao ataque de formigas, ou mesmo consorciar o gergelim com culturas susceptíveis, ele age como repelente. As sementes de gergelim podem ser esmagadas e usadas como iscas. Também as sementes de mamona/Ricinus (castor beans) podem ser esmagadas e o fermentado pode ser aplicado nos formigueiros. Pedaços de pães velhos misturados com vinagre podem ser aplicados nos buracos das formigas. As formigas irão manter isto dentro do buraco e depois de fermentado irá ser tóxico às formigas. Adicionar cal virgem dentro do buraco das formigas, depois adicione alguma água e feche o buraco o que irá criar alguns gases que irão afetar as formigas. Pode ser adicionado 2 kilogramas de cal para 100 litros de água. Próximo às plantas atacadas pode ser aplicado cinzas de madeira, ou cascas de ovos moída, farinha de ossos ou carvão vegetal moído, todos vão impedir a ação das formigas. Para baixas populações de formigas pode ser usado plantas repelentes: menta, batata doce, salsa, cenoura, mamona e gergelim. Algumas plantas podem ser usadas como iscas: Leucaena leucocephalla, cana-de-açúcar, e gergelim preto. Água quente também pode ser usada no controle de formigas. Pode ser aplicado Boro (500g) misturado com 500g de açúcar e água, coloque no caminho onde as formigas costumam passar (pode também controlar baratas). Inseticida natural: Misturar 50 litros de água + 10 quilogramas de esterco fresco bovino + 1 quilograma de extrato de cana-de-açúcar ou açúcar mascavo. Misture todos os ingredientes, deixe para fermentar durante 1 semana. Passe por um tecido ou por uma peneira de malhas

2 Experiência de agricultores brasileiros

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muito fina e, aplique dentro do buraco das formigas (1 litro da mistura com 10 litros de água) até que o buraco se encha totalmente. Caso os produtos a serem aplicados sejam tóxicos aos pássaros, inimigos naturais e outros animais deverá ser evitado, pois pode contribuir para o desequilíbrio no ambiente. 14. Utilizar cordões vegetados ou quebra ventos A presença de árvores ou quebra ventos, não apenas impede a formação de ventos, assim como auxiliam na moderação de temperaturas, redução da evaporação, e cria um habitat favorável para a proliferação de insetos benéficos; Alguns exemplos de árvores como: Grevillea robusta, e espécies arbóreas de médio porte tais como, sesbania (Sesbania sesban), Tephrosia tunicata, or Leucaena leucocephalla fornece um habitat favorável e também ajuda na proteção contra ventos excessivos. Também espécies como Tephrosia vogelli e Tithonia diversifolia além de agir como repelente de insetos, suas raízes e seus resíduos quando cortados melhora as propriedades do solo. Algumas faixas de plantas com espécies tais como: girassol, Crotalaria grantiana, Crotalaria ochroleuca, Crotalaria spectabilis, finger millet, e também algumas espécies nativas, as quais produzem inúmeras inflorescências, são muito atrativas a pássaros e insetos. Esta diversificação de espécies ajudam a evitar o ataque das pragas nas culturas específicas.

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7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O USO DE COBERTURA DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO DIRECTO

7.1 Resultados obtidos na Província de Sofala

Experiência 1: Cebola no sistema de Agricultura de Conservação (Guara Guara e Bandua)

Um grupo de camponeses de Guara Guara vem desenvolvendo desde 2001 o cultivo de cebola em Agricultura de Conservação. Também em Bandua o Sr. Fernando Chadiwa, iniciou nesta mesma época e, tem alcançado resultados muito favoráveis com o solo coberto com restolhos no rendimento de cebola e outras hortícolas. Os resultados promissores alcançados têm incentivado estes e outros camponeses a seguirem este sistema de agricultura (Tabela 8 em baixo). Tabela 8: Sistema de comparação: Consumo de água, mão-de-obra e rendimento de cebola em Guara Guara e Bandua, Distrito do Búzi

Rendimento de cebola/bulbos

(kg/ha) Sistema

de cultivo

Mão-de-obra

consumida até a

semeadura da cebola (homens dia/ha)

No. de irrigação

por semana

No. de sachas (todo o ciclo da cebola)

Ano (2002)

Ano (2003)

Solo coberto com capim 7 1 0 35,000 39,000

Sistema tradicional

(solo preparado com

enxadas)

45 3 14 15,000 23,000

Irrigação em sulcos – 2 8 ─ 25,000

Fonte: Calegari, 2003, 2004. PACDIB / PROMEC, Distrito do Búzi A mão-de-obra requerida pelo Sr. Chadiwa em Bandua para cortar o capim, carregar e distribuir sobre o solo para posterior transplante da cebola foi de apenas sete dias/hectare; enquanto na área tradicional foram necessários 45 dias de trabalho. Dessa forma, o tempo gasto no sistema tradicional foi seis vezes superior ao da Agricultura de Conservação. Avaliando o rendimento de cebola no 1o. Ano (2002) pelo grupo de camponeses de Guara Guara, no sistema tradicional, sobre solo preparado com enxadas e sem capim, apresentou rendimentos de 1,5 kg/m2 (15ton./ha) e, 3,5 kg/m2 (35ton./ha) no solo sem preparo e coberto com capim. Portanto, o sistema de Agricultura de Conservação apresentou um rendimento superior ao tradicional de 20ton./ha de bulbos. Isto encorajou e incentivou os camponeses a continuarem no desenvolvimento do sistema. Já no segundo ano consecutivo (2003), a cebola no sistema tradicional rendeu 2,3 kg/m2 (23 ton./ha de bulbos);um outro sistema com sulcos irrigado rendeu 2,5kg/m2 (23 ton./ha) por outro lado o sistema de Agricultura de Conservação rendeu em torno de 2,3 kg/m2 (23 ton./ha de bulbos); no sistema com sulcos irrigado produziu 2,5kg/m2 (25ton./ha de bulbos),

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enquanto no sistema de Agricultura de Conservação, onde a cebola é transplantada no solo sem preparo e coberto com capim, o rendimento obtido foi de 3,9kg/m2 (39ton./ha de bulbos). Neste caso, o solo foi anteriormente coberto com mucuna + capim, o que certamente contribuiu para uma maior disponibilidade de nitrogênio e outros nutrientes absorvidos pela cebola. Os resultados alcançados demonstram pela segunda vez consecutiva nesta área o desempenho superior da cebola no sistema com solo coberto com capim e sem nenhum revolvimento em relação aos demais. Em comparação ao sistema tradicional, onde o solo é revolvido com enxadas e não efetuado a cobertura do solo com capim, a cebola apresentou uma menor necessidade de mão-de-obra e água, além de um rendimento superior de 16 ton./ha (quase 70% a mais). Os resultados positivos alcançados por este grupo de camponeses, aliados ao entusiasmo em assessorar alguns vizinhos, tem influenciado na formação de outros grupos que estão implementando a Agricultura de Conservação, quer seja em hortícolas (cebola, tomate, pimento, repolho, couves) e também em cereais (milho, mapira), feijões, e produção de sementes de plantas de cobertura. Experiência 2: Sr. Fernando Chadiwa em Agricultura de Conservação (Bandua) O Sr. Fernando Chadiwa é um camponês que iniciou a Agricultura de Conservação em 2001, aonde vem testando e validando o sistema em produção de hortícolas. Ele também tem apoiado vários vizinhos e atualmente vem colaborando com oito grupos de camponeses na localidade de Bandua, onde estão alcançando resultados promissores com o cultivo de diferentes hortícolas (Tabela 9).

Tabela 9: Hortícolas no sistema tradicional e no sistema de Agricultura de Conservação

Hortícola Sistema tradicional (kg/ha)

Agric. conservação (kg/ha)

Alho 7.500 13.000 Repolho 22.500 29.000

23.000

32.500

38 irrigações durante todo o ciclo

15 irrigações durante todo o ciclo

Cebola

15 sachas durante todo o ciclo

3 sachas durante todo o ciclo

Os dados mostram as vantagens da Agricultura de Conservação em menor necessidade de irrigações (maior armazenamento e conservação de água), menos mão-de-obra para sachas e, principalmente maior rendimento na Agricultura de Conservação (conseqüências de uma maior disponibilidade de nutrientes, água e maior equilíbrio biológico no solo) quando comparado ao sistema tradicional, possibilitando o aumento da área das machambas.

Exemplo claro dessa realidade, é o Sr. Chadiwa que normalmente cultivava 0.5ha e, atualmente está cultivando mais que 3 hectares, vem utilizando rolo-faca tração animal com sucesso no manejo do capim e outras invasoras e, tem empregado temporariamente 3 outros camponeses.

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Experiência 3: Cobertura com leguminosa nativa Na machamba do produtor Sr. Fernando Meque, Estaquinha – Zona de Begaja, uma determinada área onde estava com uma alta infestação de capim, foi manejado através do corte com catana e deixado sobre a superfície sendo posteriormente semeado à lanço a Sesbania sp. nativa, que havia sido colhida em outras machambas da região. A sesbania teve boa germinação, rápido crescimento e, encontrava-se com uma altura em torno de 1,50-2,00m., em virtude de altas precipitações e o solo muito encharcado, ao invés de rolo-faca foi manejada com catana. Mostrou um ótimo controle sobre o capim e, o arroz foi implantado diretamente sobre esses resíduos deixados na superfície do solo. As plantas apresentavam muito boa nodulação tanto nas raízes quanto no caule (nódulos róseos/avermelhados – sinais de que as bactérias fixadoras do nitrogênio atmosférico estão em plena atividade). Seguramente espera-se que o aproveitamento de espécies leguminosas nativas, como é a experiência do Sr. Meque, seja cada vez mais intensificado nos diferentes Distritos de Sofala e, consequentemente todos os benefícios do uso desse componente do sistema de Agricultura de Conservação seja alcançado por um maior número de camponeses. Assim, estas parcelas validadas pelos camponeses servirão como base real, ou como “Unidades demonstrativas” para outros grupos de produtores locais ou de outras regiões que ao visitarem, discutirem com o camponês ou seu grupo envolvido, serão mais sensibilizados e aptos a iniciarem o processo de adoção de inovações tecnológicas. O camponês, apesar de problemas com excesso de chuvas dificultando o manejo da Sesbania, consegui transplantar uma parte do arroz e alcançou ótimos rendimentos. O sistema está em continuidade e, mais Sesbania sp. nativa já foi semeada e será oportunamente (setembro/outubro) manejada com rolo-faca para imediato transplante ou plantio direto de arroz sobre estes restolhos.

Leguminosa nativa (Sesbania spp.) que tem grande potencial em rotacionar com arroz e outras culturas (Zona de Begaja – Distrito do Búzi)

Experiência 4: Produção de hortícolas no Distrito do Dondo No vale do Mandruzi, as experiências do camponês Sr. Joaquim Mapinda, que vem praticando Agricultura de Conservação desde 2001, são bastante relevantes. Ele tem utilizado mucuna e cortado o capim para cobrir o solo e, tem realizado várias experiências com diferentes culturas: milho, mapira, feijão nhemba, feijão vulgar, repolho transplantado e mais recentemente tomate. Os resultados obtidos são muito encorajadores e, conforme relata o camponês, tem aumentado a produção, diminuído o uso de mão-de-obra e, aumentado a área da machamba. Conta-nos ainda que obteve alta produção de repolho sobre resíduos de mucuna (pós-colheita), o que lhe proporcionou elevados lucros. Este camponês está aumentando as áreas com cobertura de solo e implementando o sistema de Agricultura de Conservação.

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O Sr. Sithole, também um camponês do vale do Mandruzi iniciou no sistema de Agricultura de Conservação em 2001 e, vem obtendo resultados muito satisfatórios. O camponês nos relatou que no inicio não acreditava muito neste sistema de plantar sobre o solo coberto com mulch (capim ou outra cobertura vegetal), mas os resultados obtidos com rendimentos de cebola, feijão verde, milho convenceram plenamente o camponês que vem aumentando a área de sua machamba com este sistema. • Um camponês de Chibuabuabua após cortar o capim e depositar sobre o solo,

transplantou cebola (red creola) sobre esses resíduos; enquanto numa parcela ao lado efetuou o sistema convencional (queima dos restolhos, aração com enxadas) e, posteriormente também efetuou o transplante da cebola (red creola). Os rendimentos de bulbos de cebola obtidos foram de 3,5Kg/m2 (35 ton./ha) na área de Agricultura de Conservação, rendimentos estes superiores em 20% ao obtidos na área convencional (solo preparado e sem cobertura).

• Uma outra experiência de um camponês com cebola branca (Texas Grano), alcançou rendimentos de 3 kg/m2 e bulbos e folhas. Com os efeitos favoráveis da cobertura do solo, o camponês reduziu drasticamente a irrigação e quase não houve problema com invasoras. Na área sem mulch, ele irrigou 2-3 vezes/semana e sachas a cada 2 semanas.

• O camponês Sr. João Alberto Torcida efetuou o plantio de cebola em diferentes situações de manejo para possível implantação/Teste/Validação do sistema com a cultura da cebola em canteiros:

• Cebola com uréia solo descoberto / sem mulch,

• Cebola com uréia com cobertura/capim;

• Cebola sem uréia solo descoberto / sem mulch,

• Cebola sem uréia com cobertura/capim

Foram avaliados os efeitos do capim e também da adubação nitrogenada, bem como a necessidade do número de regas e monda nas diferentes situações e, através da avaliação dos rendimentos da cebola comprovar a eficiência do uso da cobertura de solo no cultivo da cebola.

Conforme o relato do camponês, os resultados obtidos no solo coberto com capim foi bem superior àqueles onde o solo estava descoberto; e os rendimentos de cebola no tratamento com uréia foi quase semelhante àquele obtido com o solo coberto com capim. Foi ainda marcante a diminuição de regas e monda, nos tratamentos com capim em relação à área descoberta, mostrando assim as inúmeras vantagens do solo coberto, onde praticamente se obteve alto rendimento de cebola mesmo sem a aplicação de nitrogênio (uréia).

O produtor demonstrou um grande convencimento quanto ao solo coberto com mulch (capim), mencionando que parte de sua machamba já se encontra coberta com capim onde será oportunamente transplantado tomate.

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Experiência 5: Produção de ananás no Distrito do Búzi

Caso 1: Área do Sr. Pedro Chicaruge Numa área visitada do Sr. Pedro Chicaruge (Estaquinha), o campo apresentava-se com um plantio de ananás, em fase de maturação, em excelente qualidade, 1.5 a 3.0kg. cada fruto. A área possui um solo bastante arenoso que foi anteriormente preparado pelo sistema tradicional, preparo de solo com enxadas, estando o mesmo bastante descoberto com riscos de erosão e perda de matéria orgânica e nutrientes. Foi avaliado, discutido com o grupo de camponeses e técnicos presentes e, recomendado o uso de cobertura do solo com algumas das seguintes espécies: Arachis pintoi, Mucuna sp., Indigofera sp., Calopogonium mucunoides, para proteger e melhorar a qualidade do solo durante o cultivo do ananás. Foi verificado que os frutos de ananás recebem insolação direta quase constante, provocando queima parcial do fruto, sendo nestas condições recomendado, num cultivo posterior que a cada 2 linhas de ananás, sejam semeadas 1 fileira de feijão bóer, ou uma outra espécie que possa fornecer um sombreamento parcial ao ananás (Crotalaria juncea, Crotalaria paulina, Crotalaria grahamiana, ou ainda Crotalarias nativas da região e/ou Sesbania sp. Nativa. Além dessas espécies, é possível optar pelo cultivo de milho ou mapira (1 fileira), plantados numa época em que coincida o seu pleno desenvolvimento com o desenvolvimento e maturação dos frutos de ananás. Quanto ao manejo do ananás, foi ainda informado da possibilidade de se melhorar a fertilidade da sementeira através do emprego da compostagem, restos de leguminosas nativas encontradas na área e outros resíduos orgânicos disponíveis na machamba, sendo então distribuídos na área da sementeira que deverá também ser finalmente protegida com capim. Caso os brotos sejam vigorosos e com bastante substancias de reserva poderá ser subdividido em 2 ou 4 partes. Posteriormente poderá se implantar os rebentos e os brotos do ananás no solo, cobrir parcialmente com capim e utilizar rega para facilitar o enraízamento do material vegetativo de propagação. Após enraízamento, na época oportuna, efetuar transplante definitivo ao campo.

Área Sr. Paulo Chicaruge mostrando ananás em solo coberto com capim – zona de Begaja Distrito do Búzi

Ananás consorciado com feijão nhemba: excelente cobertura do solo, controle de invasoras, e maior humidade disponível (Província de Sofala).

O ananás cultivado tinha uma densidade de 1 x 1m., sendo possível caso o solo tenha boa fertilidade, utilizar uma maior densidade (0,6 x 0,6m.) e, assim aumentar o rendimento de frutos por área. O camponês efetuou plantio de feijão nhemba consorciado com ananás e obteve excelentes resultados com a produção de nhemba e, também com ananás, ainda em fase final de colheita. Foi recomendado ao camponês que além de adicionar capim e o feijão nhemba entre as fileiras do ananaseiro, seja ainda intercalado covachos com murumbi (ruquesa)

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entre as plantas de feijão nhemba, de forma que tenhamos um consórcio leguminosa/gramínea e, consequentemente após a colheita do feijão nhemba e murumbi, mais resíduos permaneceram sobre o solo cobrindo, protegendo e melhorando as propriedades do solo. Este produtor é um exemplo de como é possível e viável a diversificação na propriedade. No ano de 2005 o produtor relatou que, com ajuda de trabalhadores, cultiva atualmente um total de 7 hectares, incluindo arroz, milho, mapira, ananás, hortícolas, criação de gado bovino (14 cabeças), galinhas, patos, cabritos e porcos. Está implementando a Agricultura de Conservação com muito sucesso. Caso 2: Área do Sr. Albino João (Chicumbua) Observou-se um campo de ananás em fase de crescimento/ maturação de frutos consorciado com feijão nhemba em fase de enchimento de grãos/colheita em excelentes condições. A área se apresentava com baixa infestação de invasoras pois o nhemba cobria quase que totalmente o solo, num consorcio bem apropriado. Foram sugeridos algumas outras opções de consorcio com ananás: Crotalaria spectabilis, feijão bóer anão, amendoim forrageiro perene (Arachis pintoi), Njugo beans (feijão jugo), Indigofera sp., etc. No caso do feijão bóer comum (porte alto), para que o sombreamento excessivo não prejudique o desenvolvimento do ananás, é recomendado que seja plantado 1 linha (10-15 plantas por metro linear) a cada 3 linhas de ananás.

Além dessas espécies, se faz necessário a introdução de alguma gramínea como por ex. a ruquesa ou (Eleusine coracana) que pode produzir elevada quantidade de biomassa, apenas o sistema radicular pode produzir ao redor de 6 ton./ha, que auxilia na diminuição de algumas doenças do solo (Fusarium sp.) e também alguns nematóides. Uma outra espécie, a Eragrostis teff (sin. Eragrostis abyssinica), que é uma gramínea muito resistente à seca prolongada, além de cobrir bem o solo é uma alternativa de alimentação humana muito comum na Eritrea e Etiópia (mais de 2,5 milhões de hectares). Outra espécie que poderia ser testada é a Setaria itálica, gramínea anual de crescimento rápido, que contribui também para melhoria das propriedades do solo. Experiência 6: Distrito de Gorongosa Neste Distrito, com apoio da GTZ (Cooperação Alemã) e DDA, há quase uma década se iniciou o uso de alguns componentes do sistema de Agricultura de Conservação. Entretanto, o novo enfoque de se colocar juntos os diferentes componentes na Agricultura de Conservação se iniciou há 4 anos pelo PRODER – GTZ e DDA de Gorongosa. Algumas UTVs (Unidades de teste e validação) no sistema de Agricultura de Conservação foram implantadas em representativas machambas das diferentes Zonas do Distrito. Foram discutidos com técnicos e camponeses e implementados o uso de diferentes plantas de cobertura, rotação de culturas, e plantio direto das culturas (covachos, matraca, máquina plantio direto tração animal), conforme as condições de solo, e interesses dos camponeses (Tabela 10).

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Tabela 10: Rendimento de grãos (t/ha) em Agricultura de Conservação em diferentes áreas de Gorongosa

1o. ano 2o. ano Culturas (2002-03) (2003-04) Milho + mucuna 2.6 ton. 3.1 ton. Milho + nhemba 1.9 ton. 3.0 ton. Milho + feijão bóer 1.8 ton. 2.9 ton. Milho + feijão vulgar 1.7 ton. 3.1 ton. Mapira + mucuna 0.9 ton. 2.3 ton. Mapira + nhemba – 1.5 ton. * Milho + feijão soroco – 4.5 ton. Mapira + amendoim – 2.3 ton.

Fonte: DDA, Gorongosa Estes dados foram coletados durante 2 anos nas machambas dos camponeses em diferentes localidades de Gorongosa (em solos arenosos, argilosos e franco), em UTVs com uma área de no mínimo 1000m2. Na quase totalidade das áreas não foi aplicado nenhum fertilizante, e foi também rotacionado os cultivos havendo uma tendência de aumento de rendimentos a cada ano no sistema de Agricultura de Conservação. Em geral o milho apresentou um aumento de rendimento de 55%, enquanto a mapira com apenas uma área do mesmo cultivo no ano anterior, teve um aumento de rendimento de 1.4 ton./ha. Na parcela onde se utilizou fertilizante químico foi aplicado: 100 kg/ha (N-P-K) (12-24-12) + uréia (100 kg/ha), e o milho + feijão soroco alcançou 4.5ton./ha. Os dados mostram que com o uso de fertilizantes, nesta situação, foi possível rapidamente atingir altos rendimentos, embora neste caso, o aumento alcançado foi praticamente para cobrir os custos com fertilizantes. Certamente deve ter ficado algum resíduo de fertilizante para a próxima campanha, embora seja fundamental a avaliação econômica e sustentável para todas as tecnologias implementadas no processo. Área do grupo de camponeses – Localidade Madibe

A Coordenadora do grupo é a Sra. Fariana Gemusse, que juntamente com os outros membros do grupo, assessorados pelos técnicos montaram uma UTV de 1000m2 no ano de 2001, numa machamba abandonada, pois o solo se encontrava totalmente degradado pelo contínuo preparo do solo, queima dos restolhos, e onde praticamente não havia mais nenhuma produção.

• Após a avaliação (diagnóstico breve das condições do terreno), foram recomendadas as

seqüências de culturas a seguir: • (1o. ano) iniciou-se com milho + nhemba; • (2º. Ano) milho + feijão bóer + mucuna; • (3º. Ano) mapira + feijão bóer + mucuna.

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Área com solo recuperado e produtivo novamente, mostrando rebrote do feijão bóer (Madibe – Gorongosa)

Para se iniciar o ideal seria com feijão bóer pela sua rusticidade, entretanto por interesse da camponesa no feijão nhemba, foi iniciado com esta leguminosa + milho. Esta área é um solo franco arenoso, que durante quase 4 anos, o solo não foi mais arado e nem efetuado queima, e sempre recebendo culturas consorciadas (renda, subsistência e recuperadora de solos), adicionando resíduos na superfície, reciclando nutrientes e, embora não se tenha aplicado nenhum fertilizante, agora o solo já se encontra totalmente recuperado e, com alta capacidade de produção. Atualmente o campo se encontra com os resíduos da colheita de mapira, e restolhos de mucuna e feijão bóer. Em poucos dias ocorrerá nova semeadura com a seguinte distribuição das plantas:

80 cm 80 cm 80 cm FB NH M NH M NH FB FB NH M NH M NH FB FB NH M NH M NH FB FB NH M NH M NH FB

FB= feijão bóer, NH= feijão nhemba, M= milho

O feijão bóer será semeado simultâneo ao milho, enquanto o feijão nhemba, deverá ser semeado quando o milho estiver com 6-8 pares de folhas (aos 30-40 dias depois). O feijão bóer (FB) terá um compasso de 2.4m. entre as fileiras, com 0.40m entre covachos (2-3 sementes cada); enquanto as demais fileiras internas de milho (M) serão distanciadas em 0.80m. uma da outra, com 5 plantas por metro; enquanto feijão nhemba terá um compasso de 0.40m distanciado da linha de feijão bóer e 0.40m da linha de milho, com 0.40m entre covachos (2-3 sementes cada).

Quando o feijão nhemba estiver amarelecendo ao lado destas se entra com mucuna intercalar, ou seja as fileiras de mucuna irão substituir as de nhemba e após a colheita de nhemba e milho, a mucuna continuará cobrindo e protegendo o solo, diminuindo as invasoras e melhorando as propriedades do solo. No próximo ano em outubro/novembro, as sementes da mucuna poderão ser colhidas e novamente mapira ou milho em combinações poderá ser semeado.

Foi relatado que a mucuna no ano de 2004, produziu em torno de 200kg. e 50kgs. de feijão bóer numa área de 1000 m2.

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Dessa forma se recuperou esta área, podendo a mesma já estar sendo cultivada com bons rendimentos, devendo-se sempre proceder a rotação com culturas melhoradora de solos e a adição constante de material orgânico ao solo. Obviamente, com boas colheitas, poderá ser disponibilizado alguns recursos para aquisição de fertilizantes e, consequentemente a reposição dos nutrientes ao solo irá ainda aumentar mais os rendimentos das culturas, promovendo a SUSTENTABILIDADE: técnica, social, ecológica e econômica.

Esta parcela já saiu da fase de UTV e agora está na fase de Unidade de Demonstração: devendo entrar numa fase de difusão massal, ou massificação do sistema de Agricultura de Conservação para essas condições. Assim, as informações aqui geradas deverão ser repassadas aos demais camponeses do Distrito. Assim, para estas condições de clima e solo degradado, este sistema deve entrar no processo de difusão e adoção por parte dos camponeses de outras localidades. Experiência 7: Distrito de Caia As experiências com Agricultura de Conservação no Distrito estão com menos de 2 anos, entretanto já foi alcançado resultados bastante promissores. Numa área em Caia Sede, próximo a um braço do Rio Zambezi, num solo areno-argiloso altamente infestado com tiririca o milho foi semeado diretamente no solo sem preparo e, consorciado com mucuna. O rendimento de milho atingiu 3,77t/ha de grãos, além da mucuna proporcionar um controle quase que total da tiririca. Foi recomendado na rotação, a possibilidade de se entrar com feijão lablab imediatamente, haja visto a grande capacidade que esta espécie possui em tolerar a seca prolongada. Assim, após a colheita dos grãos, poderia se entrar em outubro/novembro com milho + feijão nhemba. Diversas parcelas e experiências de camponeses com hortícolas: tomate, repolho, couves, pepino, etc. em Agricultura de Conservação vem sendo conduzidas em diferentes partes do Distrito e, certamente a curto prazo são esperados resultados favoráveis com o sistema e uma adoção rápida por parte dos camponeses. Na Zona de Chipende, o produtor Sr. Zacarias, foi beneficiado por crédito através do Consórcio Italiano (Cooperação Italiana da Província de Trento) para compra de uma junta de bois. Na campanha de 2004-05 ele semeou 3 hectares de milho utilizando a semeadora de plantio direto Fitarelli tração animal e, conseguiu uma produção média de 1,7 ton/ha de grãos de milho. O produtor demonstrou estar muito contente com a Agricultura de Conservação e pretende semear 6 hectares nesta nova campanha. Os vizinhos também estão acompanhando atentamente os resultados e prometem também testar este sistema em suas machambas. Experiência 8: Distrito de Cheringoma As experiências com Agricultura de Conservação no Distrito começaram em 2003, alcançando resultados muito favoráveis com hortícolas: cebola, tomate, couves, repolho, etc. Também experiências com mapira, milho, consorciados com feijão bóer, nhemba e mucuna vem sendo testadas e validadas por vários camponeses em diferentes localidades.

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Um camponês da localidade de Mazamba na campanha 2004-2005 semeou em Agricultura de Conservação (plantio direto sem preparo do solo, nem queima dos restolhos) um total de 4,5 hectares de milho consorciado com feijão vulgar. Os resultados, apesar da seca foram muito favoráveis e o agricultor deverá continuar ainda mais com o sistema, buscando desenvolver rotações adequadas de cultura. Neste distrito já existem resultados promissores alcançados com mapira, milho consorciados com feijão bóer, mucuna, nhemba e, portanto pelos resultados favoráveis qe vem sendo alcançados é de se esperar que cada vez mais o sistema de Agricultura de Conservação tende a se expandir a outros camponeses. Experiência 9: Outros Distritos Os demais Distritos da Província de Sofala, tais como: Maringue, Chemba, Marromeu, Muanza, Nhamatanda, Chibababava e Machanga iniciaram há 2 anos, com algumas UTVs em Agricultura de Conservação. Já foram alcançados resultados encorajadores junto aos diferentes campos, o que certamente irá influenciar positivamente os camponeses a continuarem com a Agricultura de Conservação, num constante processo de testar/validar diferentes consórcios incluindo plantas de cobertura (leguminosas e outras) e rotação com culturas de subsistência e mercado (milho, mapira, feijões, amendoim, gergelim, algodão, etc.). Em pouco tempo, é esperado, nestes Distritos, uma maior implementação e avanço desta nova tecnologia e, consequentemente um maior número de camponeses a adotarem este sistema de desenvolvimento agrícola sustentável que é a Agricultura de Conservação.

7.2 Resultados obtidos em diferentes países Inúmeros resultados favoráveis com o emprego da rotação de culturas têm sido relatados em diferentes regiões do mundo. No Zimbabwe, os rendimentos de milho após amendoim foram de 6.2 e 7.6t/ha de grãos, conforme as variedades de amendoim, por outro lado sobre pousio os rendimentos foram de apenas 4.3t/ha de milho (Mukurumbira, 1985). No Norte da Nigéria, os rendimentos de milho foram superiores quando semeados posteriormente a amendoim, em relação a milho semeado após feijão nhemba, algodão e mapira. O aumento de rendimento está diretamente relacionado com a maior disponibilidade de nitrogênio no solo após amendoim (Jones, 1974). As áreas ocupadas por amendoim e soja estão aumentando rapidamente no Norte da Tailândia. Estas espécies são cultivadas em rotação com arroz, milho e mandioca. A possibilidade de incluir outras leguminosas no sistema de rotação, principalmente plantas de cobertura é viável para oferecer outras opções de seqüência de culturas. Resultados nas terras altas (elevada altitude) desta região, em experimentos com amendoim seguido de milho alcançaram um aumento de 65% no rendimento de milho. Apesar disso, conforme os autores caso o plantio do milho fosse um pouco mais atrasado, seria suficiente para uma maior decomposição dos restolhos do amendoim, seguramente os rendimentos de milho seriam ainda maiores (Toomsan et al. 1993). Ainda na Tailândia, trabalhos incluindo leguminosas na seqüência apresentaram aumentos substanciais de rendimentos do arroz. Os efeitos de feijão nhemba (Vigna unguiculata L.) antes de arroz contribuíram para um aumento de 100% no rendimento do arroz (2.2t/ha), quando comparado com pousio. Eles concluíram que na região Norte (terras altas) de Tailândia a limpeza e queima de novas áreas levaram a uma diminuição da matéria orgânica do solo, que poderá ser restaurada com um adequado manejo que inclua a rotação de

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culturas com leguminosas, retorno dos restolhos pós-colheita, e manutenção do solo coberto com mulch na superfície. Segundo dados do Banco Mundial, o avanço das áreas com plantio direto no Brasil (Agricultura de Conservação), não são por acaso, mas sim frutos da dedicação e persistência por parte dos agricultores e auxilio dos técnicos da pesquisa, extensão rural, cooperativas e Universidades que juntos se aplicaram nos últimos 33 anos e o Brasil chega atualmente (Setembro 2005) a ocupar uma área aproximada de 22-23 milhões de hectares com este sistema. As diferenças favoráveis ao sistema de Agricultura de Conservação quando comparado ao sistema convencional (preparo do solo) podem ser observados por estes dados compilados no Sul do Brasil (Tabela 11). Tabela 11: Benefícios directos na comparação entre Agricultura de Conservação

(plantio directo) e sistema convencional (solo preparado)

Rendimentos (kg/ha)

Diminuição em horas/ha/ano (%) Sistema de

manejo do solo e cultura Agricultura

convencional Agricultura de Conservação

Aumento do rendimento

(%) Trabalho Uso de equipa-mentos

Consumo de combustível

Mecanizado Soja 2440 3100 27 - 10 - 27 - 27

Milho 4500 5850 30 - 51 - 19 - 19

Tracção animal Milho 4000 4800 20 - 55 - 66 -

Soja 1460 2000 37 - 59 - 46 -

Fonte: World Bank, 1998a, 1998b Percebe-se claramente pelos dados que a Agricultura de Conservação além de proteger o solo, aumentar os rendimentos das culturas, ainda diminui a mão-de-obra, necessidade de uso de equipamentos e menor consumo de energia (combustível), demonstrando o potencial de ser uma agricultura sustentável. Numa amostragem efetuada com 477 agricultores do estado do Paraná, Brasil, Bragagnolo et al. (1997) verificou que a renda liquida média de todos estes agricultores que estão adotando o sistema de Agricultura de Conservação há alguns anos, aumentou em 59%. Este aumento da rentabilidade é refletido por vários indicadores, tais como: compras de bens de uso para a casa, um aumento de 8% com gastos em produtos elétricos/eletrônicos, 10% mais em investimentos em equipamentos para uso na agricultura e, também no aumento do número de bovinos e aves. Portanto, além de melhorar as condições ambientais com a adoção deste sistema, também a qualidade de vida destes agricultores teve uma melhoria substancial. No Distrito de Obligado- Departamento de Itapúa, Paraguai, numa área de solos argilosos, Harter (1998) selecionou várias parcelas de agricultores com distintos anos de plantio direto e, obteve resultados diferenciados conforme os níveis de matéria orgânica, e de acordo aos sistemas de produção e anos de cultivo. Foram selecionadas as seguintes áreas: propriedades com sistema convencional (solo preparado anualmente com aração e

gradagens – tratorizado); propriedades com 4 anos de plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre mulch);

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2 propriedades com 7 anos de plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre mulch); 2 propriedades com 10 anos de plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre

mulch); Os aumentos dos níveis de matéria orgânica do solo estão diretamente relacionados com os anos de plantio direto e rotação, comparado com a área convencional (solo preparado a cada ano). Assim, a adição anual de resíduos sobre a superfície do solo e o não preparo do solo promoveu uma melhoria no sistema repercutindo num acumulo de crescente de matéria orgânica e condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento das culturas (Tabela xx). Tabela 12: Rendimento médio de soja (kg/ha) e % de matéria orgânica

em plantio directo e convencional Distrito de Obligado, Itapúa, Paraguai (1998)

SISTEMA Produção de soja (kg/ha)

Rendimento (%)

Matéria orgânica(%) (0-20 cm)

Preparo convencional (média de 10 anos) 2.050 100,00 2,52

Plantio directo (4 anos) 2.956 144,19 2,71 Plantio directo (7 anos) 3.199 156,05 2,92 Plantio directo (10 anos) 3.188 155,51 3,12

Os resultados alcançados pelos produtores de Obligado mostram bem que com o decorrer dos anos, o sistema de plantio direto além de promover uma melhoria no sistema com aumento dos teores de matéria orgânica do solo, ocorreu também um aumento na média dos rendimentos de soja, levando a uma maior rentabilidade econômica quando comparada ao convencional.

O convencional, provoca maiores perdas de solos por erosão, diminuição dos níveis de matéria orgânica e nutrientes levando a uma necessidade de aplicação de fertilizantes químicos e/ou orgânicos ao longo dos anos. Além de uma maior infestação com invasoras e maior uso de herbicidas, e assim um aumento substancial nos custos de produção. Quando comparado aos sistemas de plantio direto (4, 7 e 10 anos), os resultados obtidos pelos produtores mostram que o plantio direto, em termo de rendimentos médios de soja, foi superior em 44, 56 e 55% em relação ao sistema convencional (aração e gradagens).

Também nas savanas brasileiras (Região dos Cerrados), onde predominam solos de textura franca ou arenosa em algumas regiões e, também com estação de chuvas definidas e menor precipitação que no Sul do Brasil, o sistema de Agricultura de Conservação tem demonstrado que a renda liquida da propriedade pode duplicar em poucos anos (Séguy et al., 2001). Estimativas mostram que o Brasil possui uma área superior a 22 milhões de hectares ocupado pelo sistema de plantio directo (Agricultura de Conservação), enquanto que a nível Mundial a área ocupada por este sistema é superior a 80 milhões de hectares ( III CA World Congress, 2005). Isto demonstra claramente a importância e vantagens deste sistema, bem como o crescente interesse dos mais diferentes países de diversas regiões do mundo, que tem encontrado na Agricultura de Conservação um meio viável de desenvolver uma agricultura sustentável.

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8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO DO SISTEMA DE AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

As vantagens do sistema de Agricultura de Conservação nos mais diversos países, mostram a viabilidade técnica, econômica e social deste sistema quando adequadamente inserido nos diferentes sistemas de produção regionais.

Para que haja uma constante sensibilização principalmente por parte dos camponeses e técnicos, é necessário desenvolver estratégias técnicas e operacionais no sentido de atingir e sensibilizar um maior numero de camponeses possível, e buscar meios efetivos de se reproduzir as experiências já validadas em algumas regiões para outras regiões vizinhas. Para tal, são sugeridas algumas alternativas: Promover troca de experiências entre camponeses locais ou de diferentes regiões/Distritos (ex. camponês/camponês, dias de campo, viagens de estudo treino/visita, machamba escola, grupo de camponeses, cursos de treinamento práctico (manejo de coberturas, ajuste de máquinas, equipamentos, etc.)

Através do envolvimento dos grupos de camponeses na condução dos trabalhos à campo: Instalação; acompanhamento, avaliação e validação das UTVs (Unidades de Teste e Validação) de algumas tecnologias preconizadas para aquela determinada região e sistema de produção. Assim, após um período de estudos e comprovação das tecnologias ou do sistema testado e, após alguns resultados já validados em machambas representativas; esforços deverão ser empregados no sentido de buscar estratégias de disseminação dessas inovações tecnológicas, de forma que outros grupos de camponeses possam ter acesso e conhecê-las, assim como levar às suas machambas e implementá-las em pequenas áreas para uma comprovação local, e posteriormente já num processo de adoção incrementar em áreas maiores das machambas. Deverão ser buscadas estratégias para desenvolver uma melhor difusão do sistema de Agricultura de Conservação, planificando dias-de-campo, visitas camponês/camponês, documentários, jornais, folhetos, manuais, rádio, procurando envolver os diferentes atores na divulgação das vantagens e benefícios deste Sistema.

Na seleção de novas espécies de plantas de cobertura, o potencial de uso na alimentação humana, também deverá ser considerado, haja visto que plantas com múltiplos usos oferecem melhores chances de serem validados e preferidas pelos camponeses. Assim, espécies potenciais deverão ser testadas no sistema de Agricultura de Conservação: lablab, feijão arroz, ruquesa, feijão bóer anão (verão), e lentilha, ervilhas, chicharo, tremoço, canola (inverno/regiões de elevada altitude), etc. os quais irão facilitar a adoção por parte dos camponeses; além de se buscar a inclusão de espécies oleaginosas nas rotações, tais como: girassol, nabo forrageiro, ricinus (mfuta), etc.(potencial de uso na produção de biodiesel). Para que seja dado um salto em termos de aumento de áreas com o cultivo de grãos em Agricultura de Conservação: milho, mapira, feijões, mexoeira, amendoim, etc., faz-se necessário a viabilização dalgumas máquinas de plantio direto: plantio direto tração animal de 2 linhas e, também tractorizadas sejam disponibilizadas aos camponeses; Maior disponibilidade de matracas e rolo-faca para que mais camponeses possam ter acesso à estas ferramentas da Agricultura de Conservação;

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Viabilização de animais de tração, como no caso de Gorongosa, para que possam ser treinados e disponibilizados aos pequenos camponeses; A possibilidade de acesso por parte dos camponeses irá certamente contribuir para que um maior numero de camponeses possam conhecer o sistema de Agricultura de Conservação, podendo abranger uma maior área no processo de teste/validação e, consequentemente maior difusão e adoção do sistema de Agricultura de Conservação. Pela dinâmidade que apresenta o sistema de Agricultura de Conservação, cursos e treinamento/capacitação contínua deverão sempre ser contemplados, tanto para técnicos como para camponeses, versados principalmente em atividades e experiências de campo. Os resultados obtidos ao longo dos anos com o sistema de plantio direto pelos produtores brasileiros e outros países tropicais, tem mostrado: aumento nos teores de carbono orgânico do solo maior armazenamento e diminuição de perdas de água no solo manutenção e melhoria da fertilidade do solo (propriedades químicas, físicas e

biológicas) redução dos custos de produção: menos trabalho, menor infestação de invasoras,

diminuição da ocorrência de pragas e doenças maior estabilidade de produção das culturas aumento no rendimento das culturas aumento na renda líquida da família através da redução da mão-de-obra, e diminuição

da necessidade de energia.

Por outro lado, os principais sistemas de produção de Moçambique dependem sobremaneira da tração humana, principalmente o uso de enxadas, no qual o preparo do solo e a sacha/monda consistem nos maiores desafios e penosidade do trabalho, principalmente para as mulheres que normalmente contribuem com a maior mão-de-obra nas atividades de campo. Dessa forma, qualquer tecnologia ou sistema que permita uma redução na mão-de-obra ou diminuição da penosidade de trabalho tem grande chance de ter sucesso no meio rural. A Agricultura de Conservação já esta validada em vários Distritos por vários camponeses que estão obtendo resultados muito favoráveis e encorajadores a continuar aumentar e difundir este Sustentável Sistema de Produção Agropecuária para outros camponeses de toda a Província de Sofala. É necessário que o processo de validação continue avançando a outros camponeses em diferentes regiões, onde ainda não foram validados os componentes do sistema e, ao mesmo tempo se fazem necessário desenvolver estratégias eficientes de sensibilização e difusão deste processo a todos os demais camponeses da Província de Sofala.

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ANEXOS Anexo 1: Manejo ambiental adequado evitando as queimadas.............................................87

Anexo 2: Plantas de cobertura comuns na Província de Sofala ............................................89

Anexo 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura e % de nutrientes na matéria seca..........................................................................92

Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso de plantas de cobertura de primavera/verão .................................................................................93

Anexo 5: O sistema de Agricultura de Conservação no Brasil.............................................103

Anexo 6: Características de diferentes espécies de plantas melhoradas de solos .............105

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Anexo 1: Manejo ambiental adequado evitando as queimadas Inúmeros são os fatores que podem provocar as queimadas: restos de cigarros,

agricultura itinerante, caça, apicultura, descuido de muitas pessoas, pratica cultural de queimar resíduos pós-colheita, inexistência de aceiros ou barreiras de controle do fogo, etc. Além disso, outros aspectos devem ser considerados quanto ao processo contínuo de sensibilização das comunidades: medidas de sensibilização acompanhadas de medidas administrativas, divulgação de pacote legal (Lei da terra, Lei das Florestas), promoção de tecnologias simples e de baixo custo de implantação, incrementar meios de desenvolver uma agricultura não extrativista e esgotante dos recursos naturais mas sim de preservação e aumento da capacidade produtiva dos recursos, viabilizando a exploração racional dos recursos naturais.

Diversos aspectos relevantes quanto ao combate/controle das queimadas e,

simultaneamente métodos e/ou práticas agrícolas podem contribuir para uma maior diversificação e proteção da água, da floresta e do solo agrícola, ou seja, métodos e procedimentos que permitam uma exploração racional e sustentável do meio com um mínimo de interferência no equilíbrio ambiental, são procedimentos a serem buscados no sentido de desenvolver um manejo sustentável do ambiente.

Muitas situações são relatadas por técnicos e mesmo camponeses: “a maioria utiliza o

fogo porque não possuem outro meio de limpar as machambas”; demonstrando assim que os campos cultivados estão na maioria dos casos completamente tomados por plantas invasoras, ou seja, a maior parte do tempo consumido pelos camponeses nas machambas é para a limpeza e controle da alta infestação de plantas indesejáveis. Nesse sentido é também fundamental desenvolver o sistema de Agricultura de Conservação (SAC) onde o mulch (capins, restolhos dos cultivos, etc.) deve permanecer cobrindo o solo quase que todo o ano, promovendo um controle bastante eficiente das invasoras e, consequentemente o camponês terá um maior tempo disponível para outras atividades e, inclusive para aumentar a área de cultivo de suas machambas. Portanto, indirectamente o SAC também irá contribuir para diminuir os riscos de queimadas, e maior protecção de todo o meio ambiente.

A experiência brasileira e, também a de outros países sobre Agricultura de Conservação

tem reforçado a importância de se desenvolver sistemas racionais e sustentáveis de manejo do solo e de cultivos. Assim, a identificação de espécies nativas locais (leguminosas e outras), com potencial de serem introduzidas nos sistemas de produção regional, e posteriormente validadas pelos camponeses em suas machambas, também a avaliação de espécies exóticas potenciais (algumas inclusive já vem sendo empregadas em algumas regiões (mucunas, lablab, feijão bóer, nhemba, etc.), o uso integrado de outras práticas complementares conservacionistas do solo e da água (barreiras vivas, muralha de pedras, cordões vegetados, canal escoadouro vegetado, cultivos associados/intercalados por ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer, etc.,) devem ser intensificadas e de uma forma racional e harmônica integradas tanto a nível de propriedade agrícola como a nível de microbacia hidrográfica.

A constante busca de manutenção e aumento da melhoria da capacidade produtiva dos solos, aliado a uma menor necessidade de mão-de-obra, com diminuição nos custos de produção e aumento da produção e da produtividade, desenvolvidos de uma forma equilibrada e com protecção ambiental, são etapas a serem atingidas quando o SAC for devidamente implementado nas diferentes regiões agrícolas de todo o País.

O desenvolvimento de Projetos, alguns com actividades em andamento, onde são

desenvolvidos estratégias no sentido de promover mudanças junto aos camponeses,

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levando-os a pensar e agirem com um espírito empreendedor e com capacidade de tornarem-se empresários agrícolas, não apenas com a produção familiar (subsistência), mas com a implementação do SAC, os ganhos e melhoria da qualidade do solo irá seguramente incorrer num aumento da produção e da produtividade e consequentemente um maior excedente de produtos que poderão serão direccionados ao mercado (local e externo). Dessa forma, certamente ocorrerá um acréscimo da renda líquida das famílias, repercutindo numa melhor qualidade de vida e, principalmente com preservação ambiental e exploração sustentável (econômica, agro-ecológica e social).

Seguramente os princípios e conceitos da Agricultura de Conservação, necessitam ser internalizados por todos os técnicos e produtores “chaves” nos Distritos trabalhados. Buscando meios práticos e factíveis de aplicação prática nos diferentes sistemas de produção regionais com vistas a economizar mão-de-obra, com a não necessidade de lavrar o solo e não queimar os resíduos, libera maior tempo para aumentar a área da machamba (aumentando a área de produção) e, com o SAC certamente com o tempo ocorrerá um aumento da produção e da produtividade dos diferentes cultivos, incrementando a renda familiar, e a qualidade de vida dos camponeses.

Devem ser oferecidos e divulgados aos camponeses, sistemas alternativos à queimadas no sentido de se evitar a queima de florestas, restolhos dos cultivos, decomposição e perdas da matéria orgânica e degradação das propriedades do solo (químicas, físicas e biológicas), evitando-se danos ambientais e diminuição do potencial produtivo das terras agricultáveis. A continuidade de trabalhos junto a grupos de camponeses previamente seleccionados deverão ser priorizados, fazendo-se oportunamente os ajustes necessários, e a coleta das informações e dados gerados no processo de teste/validação efectuados pelos camponeses nas diferentes regiões, em direcção a uma Agricultura mais racional e Sustentável. Explorando o ambiente de forma racional e equilibrada, mantendo/aumentando a capacidade produtiva dos solos, com um mínimo de riscos ambientais e de degradação dos recursos naturais, diminuindo a penosidade dos trabalhos de campo e, oferecendo meios de domínio de tecnologias simples e de fácil adaptação aos meios produtivos, consequentemente abrindo oportunidades de aumento da área cultivada, com a elevação dos níveis de renda familiar dos camponeses.

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Anexo 2: Plantas de cobertura comuns na Província de Sofala Comportamento e características gerais – Exemplos da região do Distrito do Búzi Foi implantado um “screening” (colecção) de diferentes espécies de plantas de cobertura actividade esta conduzida e sob a responsabilidade da DADR local. Este campo de avaliação de diferentes espécies de plantas de cobertura foi implantado no Distrito do Búzi no ano de 2002, sendo o solo bastante arenoso e de fertilidade muito baixa. Algumas plantas que se destacaram nestas condições:

Feijão bóer anão: completou o ciclo aos 120-130 dias da semeadura; Mucunas (verde, preta): já completaram o ciclo; sendo que as folhas já estão em fase

de decomposição sobre solo Clitoria ternatea: excelente vigor, boa produção de biomassa, em fase de

florescimento, com algumas vagens já secas (podendo ser colhidas) Crotalaria juncea: já completou o ciclo Crotalaria spectabilis: parte das plantas já completaram o ciclo, e parte estão com

vagens Calopogonio mucunoides: apresenta um excelente desenvolvimento e vagens em fase

final de maturação O feijão de porco (Canavalia ensiformis) apresentou um bom desenvolvimento e

praticamente já havia completado o ciclo Percebe-se que há vários materiais com grande potencial de desenvolvimento e, inclusive vários deles já com experiências regionais comprovadas e validadas pelos camponeses. Como é o caso de: Mucunas, feijão bóer, o feijão bóer anão, crotalarias (principalmente juncea e spectabilis), Clitoria ternatea, Calopogonio mucunoides, lablab, feijão mungo (Vigna radiata) que além de melhorar o solo é uma grande opção na alimentação humana. Ainda alguns materiais como: Setaria italica (ciclo curto: 50-75 dias), finger millet – Eleusine coracana (marumbi ou ruquesa ou milho miúdo), Feijão arroz (Vigna umbelata), se faz necessário continuar com as avaliações em razão do grande potencial que possuem estas espécies (protecção do solo, alimentação humana e animal – excepto setaria). Deve-se continuar com as colecções com outras espécies de plantas de cobertura, inclusive algumas espécies nativas com potencial, no sentido de melhor avaliar e se ter mais opções para incluir nas rotações dos diferentes sistemas de produção regional. Um dos grande problemas comum à maioria dos camponeses dos diferentes Distritos é a alta infestação de invasoras (plantas daninhas), principalmente Cyperus spp., Cynodon dactilum (sp.), etc., o que dificulta bastante os cultivos, alta competição com as culturas, alta utilização de mão-de-obra em razão da necessidade de várias operações de sacha e monda. Portanto, perante estas condições, a definição do uso adequado de determinadas espécies de plantas de cobertura devidamente adaptados aos sistemas de produção regional (o que deverá ser realizado previamente através dos processos de Teste / Validação efectuado pelos camponeses), consiste em uma das ferramentas essenciais (componente essencial), que a ser integrado com outros componentes, tais como não queimar os resíduos; não arar o solo; efectuar a rotação de culturas – fundamentos básicos do sistema da Agricultura de Conservação e outros como procurar desenvolver preferentemente processos biológicos no manejo de pragas / doenças e invasoras , assim como procurar usar biofertilizantes; realizar o plantio direto de culturas de grãos ou hortaliças (sementes ou transplante de mudas) sobre palhada; pode promover uma agricultura sustentável para o produtor familiar.

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Numa nova visita, foi verificado que algumas coberturas ainda estavam na área: • Mucuna cinza e preta • Calopogonium mucunoides • Feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis) • Clitoria ternatea

Todas estas plantas de cobertura haviam produzido sementes e, embora tenham sido colhidas, muitas sementes caíram no solo e ressemearam naturalmente. A quantidade de biomassa de todos os materiais era muito boa, sendo que a mucuna cinza e Calopogonium mucunoides controlaram totalmente o capim que vegetava na área (Cynodon dactilon). Portanto, estas plantas mostraram-se muito eficientes no uso de melhoramento de pousio (áreas degradadas). Seguramente através dos trabalhos realizados em áreas de camponeses, onde seja possível a integração destes componentes e os ajustes necessários efectuado oportunamente, os rumos de uma Agricultura Sustentável estarão sendo trilhados em condições reais e factíveis de realização a nível de pequenos camponeses na Província de Sofala. Dessa forma, o ambiente estará cada vez mais preservado; a capacidade produtiva dos solos elevada; os riscos de contaminação ambiental diminuídos; seguramente haverá menor penosidade dos trabalhos e maior disponibilidade de mão-de-obra com consequente maior área de cultivo, maior produção e maior renda aos camponeses; isto indirectamente irá proporcionar uma maior qualidade de vida àqueles que estão cultivando a terra. Portanto, se tem experiências e bons resultados nos diferentes Distritos com algumas espécies de cobertura, como é o caso das Mucunas, lablab, Crotalaria juncea e, também algumas com múltiplos fins: alimentação humana e animal, proteção e recuperação de solos: feijão bóer, feijão nhemba, mexoeira, murumbi, e outras; além das espécies leguminosas nativas encontradas naturalmente vegetando as diferentes regiões da Província de Sofala: Crotalarias, Sesbanias, Vignas, Indigoferas, Canavalias, Calopogonium sp., Pueraria sp., Stylosanthes sp., Arachis sp., Centrosema sp., Macroptilium sp. e diversas outras espécies com grande potencial de fazerem parte de sistemas de rotação de culturas com outras culturas (subsistência e de renda). Necessitando regionalmente testar e validar nas machambas estas espécies potenciais e importante componente do Sistema de Agricultura de Conservação. Alternativas de plantas para áreas com elevada altitude e temperaturas baixas no inverno: Em regiões de elevada altitude (800-1000m., ou mais), como por exemplo na região de Gorongosa (Canda-Nhabirira), muitos camponeses nessas condições estão cultivando hortícolas em geral: alho, batata, repolho, milho, etc. No inverno geralmente pode ocorrer baixas temperaturas, podendo apresentar mínimas de 11-12°C nos meses de abril, maio, junho e julho; portanto oferecendo potencial de desenvolvimento de culturas tais como: ervilha (Pisum sativum), lentilha (Lens culinaris), grão de bico (Cicer arietinum), tremoços doces (Lupinus sp.), canola (Brassica napus), trigo (Triticum aestivum), cevada (Hordeum vulgare), centeio (Secale cereale), aveias (Avena sp.), triticale (X triticosecale), trigo sarraceno (trigo mourisco) (Fagopirum esculentum), etc., com elevado potencial de desenvolvimento. Também algumas forrageiras e melhoradoras de solos podem desenvolver: trevos (Trifolium sp.), cornichão (Lotus corniculatus), serradela (Ornithopus sativus), azevém (Lollium

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multiflorum), etc. Além da possibilidade de crescer algumas frutíferas perenes: videira, pessegueiro, figueiras, nectarinas, etc. Assim, existe um potencial em aumentar a diversificação de culturas nessas áreas, devendo os sistemas de produção serem testados e validados pelos camponeses e, com a geração de novas alternativas para o mercado e melhoria da dieta alimentar, com incremento da rentabilidade e qualidade de vida dos camponeses locais.

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Anexo 3: Produção de massa vegetal de diferentes espécies de plantas de cobertura e % de nutrientes na matéria seca

Nitrogénio Fósforo Potássio ESPÉCIES

Massa verde (t/ha)

Matéria seca (t/ha) (% na matéria seca)

Mexoeira 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12 Feijão nhemba 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77 Mucuna cinza 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55 Feijão bóer 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84 Feijão bóer anão 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47 Mucuna preta 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55 Mucuna ana 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84 Crotalaria spectabilis 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78 Feijão de porco 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94 Feijão bravo do Ceara 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78 Feijão mungo 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24 Dolichos lab-lab 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53 Leucaena leucocephala 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94 Indigofera sp. 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64Calopogonio mucunoides 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68 Kudzu 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23 Soja perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45 Centrosema pubescens 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34Mexoeira + nhemba 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12 Crotalaria juncea 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38 Girassol 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78 Aveia preta 15 - 40 2 - 11 0.70 - 1.68 0.14 - 0.42 1.08 - 3.08 Centeio 30 - 35 4 - 8 0.58 - 0.66 0.16 - 0.29 0.75 - 1.45 Ervilhaca peluda 20 - 37 3 - 5 2.51 - 4.36 0.25 - 0.41 2.41 - 4.26 ervilhaca comum 20 - 30 3 - 5 2.74 - 3.47 0.27 - 0.38 2.33 - 2.56 Ervilha forrageira 15 - 40 2.5 - 7 1.77 - 3.36 0.14 - 0.41 0.67 - 3.31 nabo forrageiro 20 - 65 3 - 9 0.92 - 1.37 0.18 - 0.33 2.02 - 2.65 Tremoço branco 30 - 40 3.5 - 5 1.22 - 1.97 0.25 - 0.29 1.00 - 1.77 Tremoço azul 25 - 40 3 - 6 0.85 - 2.15 0.12 - 0.29 1.36 - 1.49 Aveia preta + ervilhaca comum 15 – 50 2 - 10 0.93 - 1.39 0.15 - 0.16 1.23 - 1.47

Ervilhaca comum + aveia preta + tremoço branco 18– 26 3,5 - 6 1,99 - 2,99 0,16 - 0,26 2,86 - 3,86

Ervilha forrageira + aveia preta 27– 34 4 - 10 1,62 - 2,22 0,13 - 0,18 2,55 - 3,35

Fonte: Adaptado de Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001

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Anexo 5: O sistema de Agricultura de Conservação no Brasil O sucesso do sistema de Agricultura de Conservação (plantio direto) no Brasil, não pode ser atribuído à exclusiva adoção de parâmetros técnicos. Aliado aos aspectos técnicos, um enfoque participativo em adaptar resultados da pesquisa e transferência de tecnologia foi adotado buscando responder aos anseios dos produtores em seus diferentes sistemas de produção. Um forte suporte das políticas governamentais foi concentrado em treinamentos e educação das diferentes comunidades rurais com suas representações (grupos, associações, cooperativas, etc.) no sentido de melhor capacitá-las e assim, levando em consideração os diferentes componente do sistema (plantas de cobertura, rotação de culturas, construção de terraços, etc.), as pessoas poderem adotar adequadamente a Agricultura de Conservação. Na década de 70 praticamente os produtores brasileiros não utilizavam o plantio direto, com exceção de alguns pioneiros no sistema, como é caso dos Srs. Herbert Bartz (Rolândia-PR), Manoel Henrique Pereira (Ponta Grossa-PR) e Frank Dijkstra (Castro-PR), que foram exemplos de perseverança e forte influencia a muitos produtores brasileiros no processo de adoção. No ano 2000, em torno de 14 milhões de hectares já era ocupado por este sistema. Essa mudança foi lenta no inicio, e foi muito mais que uma simples mudança de um pacote tecnológico: convencional ou tradicional para um onde não se prepara mais o solo. Durante um período de 25 anos, a adoção foi dentro de um enfoque integrado, incluindo esforços e mobilização social, educação e treinamento constante, marketing e diversificação, e preocupação com questões ambientais; com repercussão direta na qualidade de vida dos agricultores e na gestão ambiental. Uma completa estratégia de desenvolvimento da Agricultura de Conservação criou as condições de expansão da experiência conseguida com os primeiros agentes de mudança: agricultores, especialistas técnicos, input do setor privado e extensionistas, através de uma rede de organização de produtores a nível local (comunidade), estadual, federal e, atualmente a nível Internacional. As estratégias de apoio ao desenvolvimento da Agricultura de Conservação no Brasil foi alicerçada basicamente em: Estreita colaboração entre pesquisadores, extensionistas, sector privado e agricultores

para o desenvolvimento, adoção e melhoria do sistema de plantio direto (Agricultura de Conservação);

UTVs nos campos dos agricultores e desenvolvimento tecnológico participativo;

Fortalecimento da organizações dos agricultores. Criação dos clubes locais: “Clube amigos da Terra”, onde os agricultores podiam trocar informações e experiências, facilitando o acesso à informações e outros serviços tais como, aquisição de insumos e opções de mercado para seus produtos;

Estreitamento de parcerias com cooperativas existentes e novas opções de mercado, na transformação e processamento de produtos primários, visando adicionar valores aos seus produtos básicos, assim como na própria integração agricultura/pecuária;

Estratégia agressiva de disseminação técnica, econômica e informações ambientais através da mídia, rádio, jornais, TV, documentos, reuniões, conferências, controlada e manejada principalmente por organizações de produtores com ênfase nas experiências produtor x produtor;

A FEBRAPDP (Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha) desempenhou um papel fundamental defendendo e apoiando a promoção do plantio direto (Agricultura de Conservação) tanto aos grandes produtores como aos de pequena escala, nas mais

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diferentes regiões brasileiras. Por ser um sistema complexo a Agricultura de Conservação requer um eficiente manejo e integração de todos os componentes a nível de propriedade rural, de forma a ter uma visão holística e dinâmica de todo o sistema, e a adequada interação entre esses componentes de forma a atender aos princípios da Agricultura de Conservação: manter o solo coberto, se possível todo o ano, não preparar o solo, utilizar plantas de cobertura e efetuar rotação de culturas;

Parceria entre o setor público e setor privado: algumas empresas de agrotóxicos contribuíram com Projetos de validação/demonstração em pequenas e grandes propriedades disponibilizando insumos e serviços de extensão;

Na adoção por parte dos pequenos agricultores os subsídios a curto prazo facilitaram a adoção do sistema. Muitos dos equipamentos tração animal utilizados pelos pequenos produtores do estado do Paraná foi adquirido com suporte financeiro do estado através de Programa de Desenvolvimento, principalmente do Banco Mundial;

Integração agricultura/pecuária: muitos sistemas desenvolvidos em diversas regiões contemplam a exploração com cultura de grãos: milho, soja, trigo, com a integração na criação de bovinos, aves (galinhas), suínos, e peixes. Sempre considerando a necessidade de, além de ter disponibilidade de forragem no campo aos animais, deixar resíduos sobre o solo suficientes para se ter uma boa cobertura e proteção do solo e, condições da Agricultura de Conservação ter sua continuidade em condições adequadas;

Gestão ambiental: algumas degradações observadas a nível de microbacia hidrográfica, por ex. erosão do solo, poluição de lagos e rios, danificação em estradas, etc., foram completamente corrigidas com as práticas da Agricultura de Conservação e, isto contribuiu fortemente na adoção de todo o sistema de Agricultura de Conservação. Preocupação crescente com o ambiente, foi também facilitado com a criação de setores coletivos de coleta e armazenamento de “containers” perigosos às pessoas e ao ambiente, locais adequados para abastecimento de pulverizadores (evitando-se assim o contacto direto com riachos e riscos de contaminação) e, melhoria de galerias nas florestas (facilitando o escoamento de águas).

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Anexo 6: Características de diferentes espécies de plantas melhoradas de solos A seguir são apresentados diferentes espécies leguminosas, que apresentam comportamento diferenciado conforme os distintos ambientes ( Alcântara & Bufarah ,1980; Calegari et al. 1993; Calegari & Peñalva, 1999):

Características Tipo de leguminosa Nome Vulgar Dolichos lablab Canavalia ensiformis Canavalia brasiliensis Stizolobium sp. Cajanus cajan Vigna unguiculata Desmanthus virgatus Desmodium uncinatum Galactia striata Glycine wightii Verdc. Cooper (sin. Neonotonia wightii Lackey)

Indigofera endecaphylla Leucaena endecaphylla Macrotyloma axillare Stylosanthes hamata cv. Verano Stylosanthes guyanensis Stylosanthes humilis

Lupinus albus L.

Tolerância à seca

Pisum sativum subesp. Arvense

Cajanus cajan Canavalia ensiformis Canavalia brasiliensis L.

Vigna unguiculata Stizolobium aterrimum Piper & Tracy Stizolobium cinereum O gênero Stylosanthes (em geral)

Calopogonium mucunoides Desmodium spp. Indigofera spp. Leucaena leucocephala Teramus uncinatus Centrosema sp. Galactia striata Macroptilium atropurpureum Zornia diphylla

Vicia villosa Lupinus luteus L. Lotus corniculatus L.

Tolerância a solos de baixa fertilidade:

Ornithopus sativus L.

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Características Tipo de leguminosa Nome Vulgar

Arachis pintoi Canavalia ensiformis Leucaena leucocephala Pueraria phaseoloides Trifolium repens Calopogonium caereleum Calopogonium mucunoides ( somb. Parcial)

Centrosema macrocarpum Desmodium heterophylum Desmodium ovalifolium

Leguminosas adaptadas a condições de sombreamento:

Indigofera endecaphyla (somb. Parcial)

Centrosema pubescens Galactia striata Macroptilium atropurpureum Raphanus sativus L. (crucif.) Lupinus albus L. Lupinus angustifolius L. Lathyrus sativus L.

Leguminosas adaptadas a solos de média fertilidade química:

Crotalaria juncea L. Glycine wightii Verdc. (sin. Neonotonia wightii Lackey)

Medicago sativa Trifolium spp. Vicia sativa L.

Leguminosas adaptadas a solos férteis:

Stizolobium deeringianum Steph & Bart

Vigna umbelata L Centrosema pubescens Phaseolus mungo Pueraria phaseoloides Sesbania sp.

Leguminosas mais adaptadas a áreas baixas e húmidas:

Clitoria ternatea Desmodium intortum cv. Greenleaf

Desmodium incinatum cv. Silverleaf

Glycine wightii Verdc. cv. Tinaroo (sin. Neonotonia wigthii Lackey)

Lotononis bainesii Phaseolus lathyroides Medicago sativa Trifolium spp. Lupinus angustifolius L. Vicia villosa

Leguminosas adaptadas às condições de frio:

Vicia sativa

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Características Tipo de leguminosa Nome Vulgar Sesbania sp. Lotononis bainesii Phaseolus lathyroides Vigna luteola Vigna umbelata L.

Leguminosas mais adaptadas a áreas com períodos de inundação

Pueraria phaseoloides Glycine wightii Verdc. (sin. Neonotonia wightii Lackey)

Centrosema pubescens

Leguminosas adaptadas às condições de fogo (podem rebrotar):

- Desmodium adscendens Macroptilium atropurpureum

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