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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 7 Importância do milho em Minas Gerais João Carlos Garcia 1 Marcos Joaquim Mattoso" Jason de Oliveira Duarteê Resumo - O milho é um dos grãos que dominam o mercado agrícola no mundo, juntamente com o arroz, o trigo e a soja. Representa a maior quantidade produzida, é também o cereal que tem registrado maiores incrementos de produção nos últimos anos e um dos produtos mais tradicionais da agricultura mineira. Em Minas Gerais, observa-se que o crescimento da produção de milho decorre principalmente do aumento do rendimento das lavouras e que esse crescimento não vem ocorrendo de maneira uniforme nas diferentes regiões de planejamento do Estado. Uma avaliação do desenvolvimento da cultura do milho nas regiões de planejamento é apresentada, assim como a visão das perspectivas futuras para esse cereal, em Minas Gerais. Palavras-chave: Zea mays. Economia. Produção. INTRODUÇÃO A domesticação do milho ocorreu no que é hoje território do México, a partir de um ancestral selvagem, o teosinte. A par- tir daí, esse cereal passou a ser cultivado em todas as Américas, pelos nativos e, após, foi levado para a Europa, África e Ásia. Hoje é cultivado em uma ampla varie- dade de ambientes e com o uso da mais diversificada tecnologia de produção, o que tem possibilitado essa adaptação. O milho é um dos grãos que dominam o mercado agrícola no mundo, juntamente com o arroz, o trigo e a soja. Esse cereal re- presenta a maior quantidade produzida e também o que tem registrado maiores incre- mentos de produção nos últimos anos. Isto se deve, principalmente, ao crescimento da produtividade nos países em desenvol- vimento. O crescimento da produção é re- sultado do desenvolvimento do mercado, proporcionado pelas possibilidades do uso do milho, tanto como alimento humano, co- mo alimento animal. Esta característica o toma um produto estratégico para países de alta e de baixa renda. Embora em países mais desenvolvidos o milho seja destinado principalmente à alimentação animal, ainda é um importante componente da alimenta- ção da população de muitos países, princi- palmente da África e da América Central. Deve-se considerar que, à medida que a renda e a urbanização da população cres- cem, o consumo de produtos de origem ani- mal aumenta em proporção maior do que a de produtos como o arroz e o trigo. Assim, deve-se esperar a transição gradual de uso do milho na alimentação humana para outras formas de utilização, mesmo em países mais pobres. O milho é um dos produtos mais tradi- cionais da agricultura mineira. Seu cultivo, desde os tempos da colonização, estabe- leceu fortes laços culturais, que envolve- ram desde formas de utilização, até a cris- talização de técnicas envolvidas em seu processo de produção. Existia, e até hoje existe em grande número de propriedades mineiras, todo o complexo sistema de pro- dução e consumo de milho, cuja caracte- rística principal é ser direcionado para o interior das fazendas. Esse sistema de pro- dução/consumo envolve tanto a alimen- tação dos moradores da propriedade, como dos animais (seja para trabalho, seja para produção de carne). A crescente urbanização deslocou o consumo para as cidades e criou a neces- sidade do estabelecimento de novas for- mas de produção, voltadas para o abas- tecimento urbano. As cidades foram, no início, abastecidas por eventuais exceden- tes de produção das fazendas que, grada- tivamente, foram substituídos pelo pro- duto oriundo de formas especializadas de produção. Isto aconteceu tanto no que diz 1Eng" Agr', D.Sc., Pesq. EmbrapaMilho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] 2Eng Q Agr', D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: mattoso@cnpms. embrapa.br 3Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jason@cnpms. embrapa.br Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7·12, jul./ago. 2006

Importancia do milho

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Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 7

Importância do milho em Minas GeraisJoão Carlos Garcia 1

Marcos Joaquim Mattoso"Jason de Oliveira Duarteê

Resumo - O milho é um dos grãos que dominam omercado agrícola no mundo, juntamentecom o arroz, o trigo e a soja. Representa a maior quantidade produzida, é também ocereal que tem registrado maiores incrementos de produção nos últimos anos e um dosprodutos mais tradicionais da agricultura mineira. Em Minas Gerais, observa-se que ocrescimento da produção de milho decorre principalmente do aumento do rendimentodas lavouras e que esse crescimento não vem ocorrendo de maneira uniforme nasdiferentes regiões de planejamento do Estado. Uma avaliação do desenvolvimento dacultura do milho nas regiões de planejamento é apresentada, assim como a visão dasperspectivas futuras para esse cereal, em Minas Gerais.

Palavras-chave: Zea mays. Economia. Produção.

INTRODUÇÃO

A domesticação do milho ocorreu noque é hoje território do México, a partir deum ancestral selvagem, o teosinte. A par-tir daí, esse cereal passou a ser cultivadoem todas as Américas, pelos nativos e,após, foi levado para a Europa, África eÁsia. Hoje é cultivado em uma ampla varie-dade de ambientes e com o uso da maisdiversificada tecnologia de produção, o quetem possibilitado essa adaptação.

O milho é um dos grãos que dominam omercado agrícola no mundo, juntamentecom o arroz, o trigo e a soja. Esse cereal re-presenta a maior quantidade produzida etambém o que tem registrado maiores incre-mentos de produção nos últimos anos. Istose deve, principalmente, ao crescimento daprodutividade nos países em desenvol-vimento. O crescimento da produção é re-sultado do desenvolvimento do mercado,proporcionado pelas possibilidades do uso

do milho, tanto como alimento humano, co-mo alimento animal. Esta característica otoma um produto estratégico para paísesde alta e de baixa renda. Embora em paísesmais desenvolvidos o milho seja destinadoprincipalmente à alimentação animal, aindaé um importante componente da alimenta-ção da população de muitos países, princi-palmente da África e da América Central.Deve-se considerar que, à medida que arenda e a urbanização da população cres-cem, o consumo de produtos de origem ani-mal aumenta em proporção maior do que ade produtos como o arroz e o trigo. Assim,deve-se esperar a transição gradual de usodo milho na alimentação humana para outrasformas de utilização, mesmo em países maispobres.

O milho é um dos produtos mais tradi-cionais da agricultura mineira. Seu cultivo,desde os tempos da colonização, estabe-leceu fortes laços culturais, que envolve-

ram desde formas de utilização, até a cris-talização de técnicas envolvidas em seuprocesso de produção. Existia, e até hojeexiste em grande número de propriedadesmineiras, todo o complexo sistema de pro-dução e consumo de milho, cuja caracte-rística principal é ser direcionado para ointerior das fazendas. Esse sistema de pro-dução/consumo envolve tanto a alimen-tação dos moradores da propriedade, comodos animais (seja para trabalho, seja paraprodução de carne).

A crescente urbanização deslocou oconsumo para as cidades e criou a neces-sidade do estabelecimento de novas for-mas de produção, voltadas para o abas-tecimento urbano. As cidades foram, noinício, abastecidas por eventuais exceden-tes de produção das fazendas que, grada-tivamente, foram substituídos pelo pro-duto oriundo de formas especializadas deprodução. Isto aconteceu tanto no que diz

1Eng"Agr', D.Sc., Pesq. EmbrapaMilho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]

2EngQ Agr', D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]

3Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]

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respeito à transformação industrial do mi-lho, quanto à criação de animais confina-dos (produção de carne de aves, de suínos,produção de ovos e, mais recentemente,confinamento de bovinos). O desenvolvi-mento acelerado das atividades de alimen-tação animal caracterizou definitivamenteessas atividades como o destino principaldo milho.

Essa visão do desenvolvimento do mer-cado do milho, em conjunto com a consta-tação de que ainda existe, na agriculturamineira, um misto de produtores que, porsuas características individuais, agroeco-lógicas das suas propriedades e mesmopela localização destas, em relação aos cen-tros de consumo, exerce diferentes grausde inserção no mercado, é necessária paraa análise dos sistemas de produção em uso,e de como as mudanças que ocorrem nosdiferentes elos da cadeia de produção demilho afetam tanto os produtores como osconsumidores.

PRODUÇÃO

No estado de Minas Gerais, observa-se que o crescimento da produção é de-corrente do aumento do rendimento e nãoda área plantada, que praticamente estag-nou ao redor de 1,3 milhão de hectaresnas últimas safras. O aumento da produ-ção, que passou de cerca de 3,6 milhõespara 6,3 milhões de toneladas, foi devidoao incremento no rendimento agrícola emcerca de 2.136 kg ha', atingindo cerca de4.600 kg ha', no fim do período 1994-2005(Gráfico 1).

Distribuição da culturano Estado

A produção de milho em Minas Geraisestá concentrada nas regiões situadas noSul e no Oeste do Estado, como o Sul deMinas, Triângulo, Alto Paranaíba e No-roeste (Quadro 1). As causas dessa con-centração estão tanto nas condições agro-ecológicas (clima, topografia, etc.) maisfavoráveis dessas regiões, como tambémpela proximidade de mercado e pela organi-zação comercial e gerencial das proprie-

7.000

7~'•6.000

5.000 -~

~ •4.000

I3.000

2.000

• .- • • , , , , • ••1.000

o1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 "'2006

I-+- Área 1.374 1.410 1.295 1.329 1.272 1.246 1.202 1.269 1.347 1.360 1.3731 __ Produção 3.916 4.498 3.861 4.062 4.139 4.228 4.788 5.327 6.000 6.172 6.229

Gráfico 1 - Produção (1.000 t) e área colhida (1.000 ha) de milho em Minas Gerais -1996-2006

FONTE: CONAB (2006).

(1) Dados preliminares.

QUADRO 1 -Quantidade produzida, área collúda e rendimento de milho - Brasil, Minas Gerais e

Regiões de Planejamento de Minas Gerais em 2005

Quantidade Área Rendimentoproduzida

Região 2005Cresci-

2005Cresci- Cresci-

2005mento mento

(kg ha']mento

(t)(%a.a.)

(ha)(%a.a.) (%a.a.)

Brasil 34.813.222 2,39 11.452.709 -0,74 3.040 3,09

Minas Gerais 6.243.873 4,88 1.353.544 -0,84 4.613 5,70

Noroeste 763.857 5,52 140.510 0,99 5.436 4,46

Norte de Minas 244.082 5,55 115.950 -0,87 2.105 6,29

Jequitinhonha/Mucuri 48.685 1,72 23.277 -5,14 2.092 6,77

Triângulo 997.307 4,43 178.416 -0,01 5.590 4,44

Alto Paranaíba 1.154.870 5,95 193.325 0,56 5.974 5,35

Central 479.521 1,18 131.841 -3,77 3.637 4,93

Rio Doce 193.736 1,46 67.506 -6,27 2.870 7,58

Centro-Oeste 539.431 7,15 114.204 1,13 4.723 6,01

Sul de Minas 1.517.122 7,04 296.406 1,77 5.118 5,25

Mata 305.262 -0,48 92.109 -4,53 3.314 4,08

FONTE: IBGE (2006) e LSPA (1994 a 2005).

NOTA: Taxas de crescimento no período 1994-2005.

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dades produtoras, o que induz e facilita aintrodução de tecnologias de produçãomais competitivas. Essas condições con-tribuíram para o crescimento inicial da áreaplantada e, mais recentemente, para o incre-mento dos rendimentos agrícolas, que semostram muito diferenciados entre os mu-nicípios do Estado (Fig. 1).

Por constituírem regiões com tradiçãoagrícola, ou regiões que se beneficiaramdos programas de desenvolvimento dosCerrados, uma ampla rede de distribuiçãode insumos foi estabeleci da (o que facili-ta inclusive a assistência técnica oferecidapelas indústrias fabricantes de insumos),de transporte e de estruturas de comercia-

lização. A competição entre as diferentespossibilidades de explorações agropecuá-rias define o padrão tecnológico daquelasque se desenvolverão com maior intensi-dade, restringindo a área daquelas explo-rações que não conseguem incorporar umpadrão tecnológico competitivo. Isto podeser verdade, mesmo no que diz respeito aopróprio desenvolvimento agrícola nas re-giões. Nesse caso, se o conjunto das pos-síveis explorações agrícolas revelar poucasdelas com grau de competitividade de mer-cado, o desenvolvimento regional do setoragrícola estará comprometido. Esta situa-ção verifica-se em algumas regiões do lestee norte/nordeste do estado de Minas Gerais.

Causas de expansãoO crescimento da produção de milho

em Minas Gerais não ocorreu de maneirauniforme nas diferentes regiões de pla-nejamento (Quadro 1). No Sul de Minas(a região mais importante no que diz res-peito à produção de milho no Estado) e noCentro-Oeste, a produção dobrou no pe-ríodo analisado. As regiões Noroeste, AltoParanaíba e Norte de Minas apresentaramcrescimento superior ao do Estado. A pro-dução colhida no Triângulo cresceu a umataxa semelhante à de Minas Gerais. Nasoutras regiões, a produção está praticamen-te estagnada. A quantidade de milho co-lhida na região do Jequitinhonha/Mucuri é

,..------ - ---------,Rendimentomilho2004/2005

kg/ha

.6.000 a 7.650

.4.000 a 6.000[] 2.000 a 4.000[] Oa 2.000

o 100 200

Quilômetros

Figura 1 - Distribuição do rendimento agrícola das lavouras de milho em municípios de Minas Gerais - média de 2004/2005FONTE: IBGE (2006).Elaboração: Laboratório de Geoprocessamento da Embrapa Milho e Sorgo.

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praticamente inexpressiva diante das outrasregiões.

As fontes de crescimento da produçãovariam entre as regiões do Estado. À exce-ção das regiões Centro-Oeste, Sul de Mi-nas, Noroeste e Alto Paranaíba, que apre-sentaram crescimento na área plantada, asoutras ou estabilizaram ou reduziram a áreacom milho. Em algumas, como a Central,Rio Doce, Mata e Jequitinhonha/Mucuri aredução da área plantada foi muito expres-siva, sendo que dentre estas regiões algu-mas são tradicionais produtoras de milho.No que diz respeito aos níveis de produ-tividade obtida e ao seu crescimento, adiscrepância entre as regiões é conside-rável (Fig. 1). As maiores produtividadessão verificadas no Triângulo, Alto Para-naíba, Noroeste e no Sul de Minas (acimade 5.000 kg ha' no ano de 2005) seguidaspelas obtidas nas regiões Centro-Oeste(ao redor de 4.700 kg ha' no ano de 2005),Central, Mata, Rio Doce, Norte de Mi-nas e Jequitinhonha/Mucuri (inferiores a3.700 kg ha' no ano de 2005). As regiõescom menor rendimento agrícola da produ-ção de milho foram também as que apre-sentaram maior redução de área plantada,o que pode indicar a perda de competitivi-dade dos agricultores locais e conseqüentedesinteresse pela cultura, em decorrênciada menor lucratividade. Outro indicativodessa possibilidade está em que as maisaltas taxas de crescimento da produtivida-de das lavouras de milho, ym Minas Gerais,verificaram-se nas regiões com maior re-dução de área plantada, o que pode indicareliminação das lavouras com rendimentosagrícolas muito baixos, isso contribuiriapara a elevação da média regional. Mesmocom esse crescimento expressivo, os rendi-mentos médios nessas regiões permanecemmuito baixos.

É apresentada a seguir uma visão dasituação nas regiões de planejamento deMinas Gerais:

Região I (Central)

Esta região, devido à maior concentra-ção populacional, constitui no maior mer-

cado consumidor de produtos que utili-zam o milho como insumo. Existem pólosimportantes de produção de aves e suínospara o abastecimento do mercado regionale exportação para outras regiões do Brasil.É o maior pólo regional de produção deaves e o terceiro em produção de suínos,que são abastecidos principalmente pormilho transportado de outras regiões doEstado (principalmente Triângulo, AltoParanaíba e Noroeste). A cultura do milhoé realizada, em sua maioria, visando aten-der ao consumo da propriedade, sendoos pequenos e médios produtores os res-ponsáveis pela maior parte da produção.No contexto estadual, essa região é a sextamaior produtora, sendo o crescimento daprodução derivado principalmente doaumento de produtividade das lavouras demilho (cerca de 5% ao ano). Apesar do cres-cimento, os rendimentos agrícolas obtidosainda são baixos, superando somente osobtidos em regiões com reduzido nível tec-nológico empregado na cultura, como a doJequitinhonha/Mucuri, Norte de Minas edo Rio Doce.

Região 11 (Mata)

Nos últimos anos, esta região vem so-frendo esvaziamento econômico, fruto daestagnação das atividades agrícolas tradi-cionais. A cultura do milho, hoje concen-trada entre pequenos produtores, não semodernizou e sofre a concorrência pelamão-de-obra das atividades urbanas e deoutras atividades agrícolas como o café.Nesta região também se localizam impor-tantes pólos de produção de suínos (é omaior pólo de produção em Minas Gerais)e aves (terceiro maior produtor em MinasGerais), com empresas de maior porte comfoco no mercado nacional e atuação nomercado internacional. A região vem sendoabastecida por milho produzido no Oestedo Estado, que chega a um preço inferiore apresenta melhor padrão de qualidade.A área plantada com milho decresceu nosúltimos dez anos, a uma taxa de cerca de4,5% ao ano, e a redução da produção nãofoi maior, devido ao crescimento dos ren-

dimentos agrícolas que, entretanto, aindasão baixos.

Região III (Sul de Minas)

Esta região, que apresenta fortes vín-culos com o estado de São Paulo, tem tidoseu perfil econômico alterado pelo proces-so de industrialização, causado pela des-centralização espacial da indústria paulista.A proximidade com os centros consumi-dores de São Paulo e Rio de Janeiro temfavorecido também o desenvolvimento dapecuária leiteira e da indústria de laticínios.Nessa região localiza-se o principal póloprodutor de ovos do estado de Minas Ge-rais. Também é a região que mais produzmilho no Estado e a que apresenta a maiorárea plantada, sendo uma das poucas re-giões onde a área com milho encontra-seem processo de crescimento. O milho é aprincipal cultura temporária, sendo a maiorparte dos grãos colhidos exportada paraos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.O consumo local é reduzido, diante da pro-dução disponível. Os rendimentos agrí-colas são altos e têm crescido nos últimosanos. Devido à importância da pecuárialeiteira, grande parte da área com milhodestina-se à produção de silagem.

Região IV (Triângulo)

A modernização da agricultura, com oaproveitamento do Cerrado, adoção de no-vas tecnologias, introdução de novas ativi-dades agrícolas, desenvolvimento da agro-indústria etc., transformou essa região nomais dinâmico pólo agrícola do Estado.Verifica-se a introdução de novas culturasna região, como a soja, laranja e cana-de-açúcar, o que vem contribuindo para a esta-bilização da área plantada com milho. O pro-gresso técnico induzido pela pesquisa e oapoio governamental, através dos progra-mas especiais, contribuíram decisivamentepara essa situação. No caso do milho, osrendimentos agrícolas, que já eram altos,elevaram-se ainda mais e hoje situam-seentre os maiores do Brasil. Atualmente, amaioria da produção é obtida em plantioscom características comerciais, com ele-

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vado índice de utilização de insumos comofertilizantes e corretivos, mecanização esementes melhoradas de lançamento maisrecente. Junto com a região do Alto Para-naíba constitui o primeiro pólo produtorde suínos e o segundo pólo produtor deaves no estado de Minas Gerais, o que re-presenta um destino interessante para aprodução local de milho, que não necessitaser transportada a longa distância até oconsumidor. Embora parte do milho sejautilizada na região, parcela consideráveldesse cereal ainda é exportada para outrasregiões do Estado.

Região V (Alto Paranaíba)

Esta região tem-se caracterizado peloavanço da agricultura comercial e pelo de-senvolvimento das atividades de criaçãoanimal com maior nível tecnológico. Essedesenvolvimento tem ocorrido principal-mente nos chapadões, onde o milho sofrea concorrência da soja, por espaço, nasáreas de lavouras anuais. Embora influen-ciada pelo desenvolvimento das regiõesvizinhas, a parte da atividade produtivaainda é representada pela agricultura tra-dicional. A área plantada com milho temcrescido levemente nos últimos anos e aprodução tem-se elevado devido ao aumen-to dos rendimentos agrícolas (que já sesituam em um nível alto). Isso reflete a subs-tituição da agricultura tradicional por umade caráter mais comercial, mais intensivano uso de insumos e de mecanização emáreas mais favoráveis. Esta região é expor-tadora de milho para outras regiões doEstado.

Região VI (Centro-Oeste)

É a região que apresenta maior taxa decrescimento da produção de milho no esta-do de Minas Gerais, resultante do aumentoda área plantada e também do rendimentodas lavouras. Apresenta característicassemelhantes às do Sul de Minas.

Região VII (Noroeste)

Esta região apresenta forte contras-te tecnológico entre as lavouras de milho

estabelecidas no Vão do Paracatu e as si-tuadas nos chapadões. Na porção deno-minada Vão do Paracatu, as lavouras sãode caráter familiar e voltadas para a sub-sistência, com menor produtividade e redu-zido uso de insumos. Nos chapadões, osprogramas de ocupação do Cerrado indu-ziram o desenvolvimento de agricultura decaráter comercial, com ênfase na cultura dasoja e na utilização de níveis mais elevadosde insumos agrícolas. As condições deprodução de milho na região alteraram-senessa nova situação, resultando na implan-tação de sistemas de produção com maioruso de insumos e melhor gerenciamento.Apesar da concorrência com a soja, a áreaplantada apresentou crescimento nos últi-mos anos, os rendimentos agricolas evo-luíram a uma taxa anual de crescimento decerca de 4,4%, os quais se situam entre osmais elevados de Minas Gerais. A produçãoé praticamente toda destinada à exportaçãopara outras regiões do Estado.

Região VIII (Norte)

É a região onde se localizam os muni-cípios da região mineira da Sudene. É mar-cada por fatores climáticos adversos e comeconomia agrícola centrada na pecuáriaextensiva e na agricultura de subsistência.A cultura do milho apresenta produtivida-de reduzida, influenciada por sistemas deprodução com baixa utilização de insumos,decorrentes da situação de risco de clima.A área plantada tem-se reduzido e emboraa produtividade tenha crescido a uma taxaelevada, os valores obtidos ainda são muitobaixos, evoluindo de cerca de 1.000 kg ha'para, aproximadamente, 2.000 kg ha", entre1994 e 2005. É um importante pólo de pro-dução de ovos e importador de milho deoutras regiões do Estado, principalmentedo Noroeste.

Região IX (Jequitinhonha/Mucuri)

Esta região é considerada a mais pobredo estado de Minas Gerais. A infra-estruturapara educação, saúde, comunicação, eletri-ficação, transporte, armazenamento, assis-tência técnica, pesquisa agrícola é extre-

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mamente deficiente. Como decorrência, pre-dominam na região atividades de subsis-tência nas quais o milho é um componen-te importante. A produtividade obtida ébaixa e instável, variando entre 900 kg ha'e 2.000 kg ha' no período analisado. A altataxa de crescimento dos rendimentos, queconsta no Quadro 1, reflete mais esse pa-drão de flutuação climática e os rendimen-tos obtidos em 2003 e 2004 do que o desen-volvimento tecnológico. Em decorrência, aárea plantada com esse cereal está em pro-cesso de redução. O milho produzido éconsumido na região e, diante da estagna-ção das atividades comerciais e produtivasdo setor agrícola, um esforço muito grandeserá necessário para provocar qualquerimpacto na condução das lavouras.

Região X (Rio Doce)

A agricultura nesta região tem-se carac-terizado por um processo de degradaçãoambiental que tem inviabilizado a conti-nuação do processo produtivo e condu-zido à estagnação do setor. A situaçãoda cultura do milho reflete esse ambiente.A área plantada tende a decrescer e o cres-cimento da produtividade, embora elevado,tem conduzido a rendimentos agrícolasainda baixos, com capacidade para resul-tar em aumento restrito da produção, queé insuficiente para abastecer o mercado lo-cal.

PERSPECTIVAS

O desenvolvimento futuro da produçãode milho no estado de Minas Gerais estáligado ao crescimento das atividades decriação de animais confinados no Estado.Esse crescimento servirá de suporte para aabsorção do acréscimo de produção e pa-ra remunerar os produtores pela utilizaçãode sistemas de produção com maior usode insumos e pelo melhor gerenciamentodas lavouras. Como o milho é um produtoque não possibilita, de forma econômica, otransporte para locais muito distantes da-queles da produção (com exceção das si-tuações em que existe logística de trans-porte favorável), é do maior interesse que

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os consumidores estejam próximos desseslocais. Por outro lado, a eliminação de gar-galos hoje existentes no setor de transporteferroviário poderá abrir a possibilidade deexportação de milho produzido nas regiõessituadas a oeste do Estado.

Devido aos sistemas de comercializaçãoainda pouco desenvolvidos, melhorias cer-tamente permitirão aos produtores melhorremuneração e, conseqüentemente, incen-tivo para utilização de sistemas de produ-ção mais competitivos. Mais uma vez, osbeneficiários serão os agricultores que jáse encontram inseridos em atividades co-merciais de produção de milho voltadaspara o mercado.

Nas regiões, onde se tem verificado me-nor desenvolvimento da cultura do milho,um esforço maior é necessário, com vistasao desenvolvimento de rede de comercia-lização da produção e também de disponi-bilização de insumos para os agricultores.Esquemas de garantia de compra regional,pelos consumidores de milho, poderãoinduzir ao desenvolvimento de um conjun-to de agricultores comerciais de maiorporte, localizados perto dos mercados con-sumidores, o que seria interessante paraos processadores.

PESQUISA

Existem regiões no Estado onde a ofertade serviços de assistência técnica (públicae privada) tem-se mostrado adequada parasuportar o processo de difusão de novossistemas de produção, assim como é pos-sível aos agricultores encontrar no mer-cado os insumos que necessita. Nas regiõesonde esse sistema não é tão desenvolvido,ações que possibilitem a sua implantaçãosão do maior interesse. Embora essas açõespermitam a difusão dos sistemas de pro-dução que já foram testados, ainda existempossibilidades do desenvolvimento e ajus-te de tecnologias mais voltadas para ascaracterísticas regionais.

O milho tem apresentado grande capa-cidade de implementar sistemas de pro-dução competitivos e ajustados para con-

dições variadas. Os desenvolvimentostecnológicos futuros vão desde ajustesnos sistemas de produção em uso, até odesenvolvimento de novos arranjos nossistemas produtivos, que sejam mais ade-quados às condições ambientais locais (taiscomo cultivares e mesmo novos tipos deinsumos). Sistemas de produção adequa-dos para as regiões mais altas (acima de700 m) não se têm mostrado tão competiti-vos nas regiões mais baixas. O mesmo po-de ser dito para condições em que déficitshídricos ocorrem com maior freqüência.

A elevação constante dos quantitati-vos obtidos nos rendimentos agrícolas temgerado a necessidade do desenvolvimentode tecnologias para sistemas de produçãode alto desempenho, com a utilização deinsumos ainda não comuns nas lavourasde milho e a criação de formas de utilizaçãodaqueles tradicionais.

Deve-se chamar a atenção para umasérie de tecnologias de baixo custo, ouseja, plantio em época adequada, análisede solo, população de plantas, adubaçãode cobertura, controle eficiente de plantasdaninhas e de insetos-praga, que certa-mente contribuiriam para adequar os aindabaixos rendimentos obtidos por um grandenúmero de agricultores com níveis maiselevados.

REFERÊNCIAS

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EPAMIG

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Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7·12, jul./ago. 2006