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C M Y K C M Y K Saber viver E d i t o r a : Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 22 CORREIO BRAZILIENSE Brasília, terça-feira, 20 de outubro de 2009 E scolher uma babá pode ser muitas vezes uma tarefa difícil para os pais. Encontrar uma pro- fissional de confiança, responsável e que se adapte à rotina da família é um desafio. Pais e mães devem ficar atentos a alguns detalhes para conseguir contratar alguém responsável e que cuide de maneira apropriada dos filhos. Os especialistas lembram ainda que a profis- sional deve ser bem orientada sobre seu papel e que os pais devem ter sempre em mente que, por mais capacitada e competente que seja, a ela jamais substituirá o papel que os pais devem exercer na educação dos pequenos. Para a especialista no treinamento e recrutamento de babás Ângela Clara, nunca é fácil encon- trar alguém que se adapte às exigências das mães. O que é compreensível, dada a importância da função que a pessoa vai desempenhar. “Todo cuidado é pouco. Estamos buscando alguém para cuidar de nossos filhos”, afirma. Ela recomenda que os pais busquem conhecer o máximo possível sobre a candidata antes de contratá-la (veja quadro). Desde aspectos mais diretos, como experiências anteriores e asseio cor- poral, até questões mais subjetivas, como o sentimento que a babá desperta na mãe e a maneira com que ela se relaciona com as crianças. “A empatia, os sentimentos que a candidata provoca em você também são importantes. Tente perceber ainda afetividade, segurança, como ela se compor- ta”, enumera Ângela. A produtora Fernanda Pimentel, mãe do pequeno Bernardo, 1 ano e 9 meses, sabe o quanto po- de ser difícil selecionar uma babá. Desde que a pessoa que cuidava do menino decidiu voltar para o Maranhão para viver com a família, há nove meses, iniciou-se um trabalho de busca incessante. “Estou na quarta tentativa. Pessoas de vários perfis passaram lá em casa, desde a profissional que achava que podia usar as minhas coisas à que ficava no telefone no período em que deveria estar com a criança”, reclama. Segundo a mãe, o pior aspecto da troca de babá é o desenvolvimento de confiança. “O conheci- mento das rotinas por parte da babá, o entrosamento, a adaptação da criança com a pessoa são muito complicados”, conta. Para Fernanda, uma babá perfeita deve saber dosar carinho e discipli- na. “É preciso que a pessoa seja afetuosa, aplique as orientações que deixo em relação a limites e que, acima de tudo, tenha muita paciência, afinal trabalhar com criança é algo que cansa, pois elas estão sempre testando os limites que impomos”, completa. Mesmo que a babá chegue com boas referências e experiência é im- portante ficar alerta. Não é tão raro assim a falsificação de registros, e informações erradas de endereço e experiências anteriores. Uma alter- nativa é procurar empresas que fazem a análise dos documentos e veri- ficam todas as informações das candidatas. “Somente antecedentes cri- minais não é suficiente, pois, se tiver ocorrido algum problema com a criança que ela cuidava, isso provavelmente não constará na certidão, já que os processos que envolvem menores de 18 anos costumam cor- rer em segredo na Justiça”, explica Ângela Clara. Divisão de papéis Para a terapeuta familiar Roberta Palermo, autora do livro Babá/mãe — Manual de instruções (Editora Mescla), a relação entre pais e babás deve ser equilibrada. Segundo ela, é importante definir exatamente qual é o papel de cada um na educação das crianças. “A babá deveria ser um apoio, mas nos dias de hoje passou a assumir todas as atividades de cui- dado da criança. É ela quem dá o banho, alimenta, brinca, troca a fralda, acorda à noite e corta a unha. Na folga dela, os pais contratam a folguista. Enfim, não assumem em momento algum o cuidado sozinhos.” Segundo ela, é importante que os pais exerçam sua responsabilidade e criem vínculos com os filhos. “O problema não é ter a babá, mas cair no comodismo que a presença dela tem trazido para dentro de casa. É muito importante que os pais descubram as atividades de cuidado que gostam de fazer e passem a ser mais presentes nesses momentos. A criança quer que os pais cuidem dela”, aconselha. “Não faz sentido, por exemplo, os pais estarem em casa e o filho ter de almoçar com a babá”, completa. Por outro lado, é preciso respeitar a profissional, principalmente em frente às crianças. “As mães não podem expô-la a situações ridí- culas, como passar a falar com o marido ou familiares em outra lín- gua, na frente dela, para ela não entender sobre o que estão falando”, comenta Roberta. Segundo a terapeuta, atitudes assim diminuem a autoridade da babá sobre a criança e fazem com que ela não seja respeitada. “Os pais têm de deixar claro que, em sua ausência, a babá manda, mesmo que ela não tenha a autonomia para tomar algumas decisões. Os pais devem dizer até onde a babá pode tomar decisões e, caso não gostem de alguma atitude, conversar depois, longe da criança”, sugere. Muitos pais sofrem até encontrar uma boa babá para os filhos. Especialistas recomendam cuidado na hora da escolha e dizem que o casal não deve deixar todas as tarefas de cuidado das crianças sob responsabilidade da profissional Cargo de confiança Para Fernanda, mãe de Bernardo, a babá deve ser afetuosa e ter paciência para lidar com a criança www.correiobraziliense.com.br Leia a íntegra da entrevista com a terapeuta familiar Roberta Palermo Cadu Gomes/CB/D.A Press

Cargo de Confiança

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C M Y K C M YK

Saber viver Editora: Ana Paula Macedo [email protected]

3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155

22 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 20 de outubro de 2009

Escolher uma babá pode ser muitas vezes uma tarefa difícil para os pais. Encontrar uma pro-fissional de confiança, responsável e que se adapte à rotina da família é um desafio. Pais emães devem ficar atentos a alguns detalhes para conseguir contratar alguém responsável eque cuide de maneira apropriada dos filhos. Os especialistas lembram ainda que a profis-

sional deve ser bem orientada sobre seu papel e que os pais devem ter sempre em mente que, pormais capacitada e competente que seja, a ela jamais substituirá o papel que os pais devem exercerna educação dos pequenos.

Para a especialista no treinamento e recrutamento de babás Ângela Clara, nunca é fácil encon-trar alguém que se adapte às exigências das mães. O que é compreensível, dada a importância dafunção que a pessoa vai desempenhar. “Todo cuidado é pouco. Estamos buscando alguém paracuidar de nossos filhos”, afirma.

Ela recomenda que os pais busquem conhecer o máximo possível sobre a candidata antes decontratá-la (veja quadro). Desde aspectos mais diretos, como experiências anteriores e asseio cor-poral, até questões mais subjetivas, como o sentimento que a babá desperta na mãe e a maneiracom que ela se relaciona com as crianças. “A empatia, os sentimentos que a candidata provoca emvocê também são importantes. Tente perceber ainda afetividade, segurança, como ela se compor-ta”, enumera Ângela.

A produtora Fernanda Pimentel, mãe do pequeno Bernardo, 1 ano e 9 meses, sabe o quanto po-de ser difícil selecionar uma babá. Desde que a pessoa que cuidava do menino decidiu voltar parao Maranhão para viver com a família, há nove meses, iniciou-se um trabalho de busca incessante.“Estou na quarta tentativa. Pessoas de vários perfis passaram lá em casa, desde a profissional queachava que podia usar as minhas coisas à que ficava no telefone no período em que deveria estarcom a criança”, reclama.

Segundo a mãe, o pior aspecto da troca de babá é o desenvolvimento de confiança. “O conheci-mento das rotinas por parte da babá, o entrosamento, a adaptação da criança com a pessoa sãomuito complicados”, conta. Para Fernanda, uma babá perfeita deve saber dosar carinho e discipli-na. “É preciso que a pessoa seja afetuosa, aplique as orientações que deixo em relação a limites eque, acima de tudo, tenha muita paciência, afinal trabalhar com criança é algo que cansa, pois elasestão sempre testando os limites que impomos”, completa.

Mesmo que a babá chegue com boas referências e experiência é im-portante ficar alerta. Não é tão raro assim a falsificação de registros, einformações erradas de endereço e experiências anteriores. Uma alter-nativa é procurar empresas que fazem a análise dos documentos e veri-ficam todas as informações das candidatas. “Somente antecedentes cri-minais não é suficiente, pois, se tiver ocorrido algum problema com acriança que ela cuidava, isso provavelmente não constará na certidão,já que os processos que envolvem menores de 18 anos costumam cor-rer em segredo na Justiça”, explica Ângela Clara.

Divisão de papéis

Para a terapeuta familiar Roberta Palermo, autora do livro Babá/mãe— Manual de instruções (Editora Mescla), a relação entre pais e babásdeve ser equilibrada. Segundo ela, é importante definir exatamente qualé o papel de cada um na educação das crianças. “A babá deveria ser umapoio, mas nos dias de hoje passou a assumir todas as atividades de cui-dado da criança. É ela quem dá o banho, alimenta, brinca, troca a fralda,acorda à noite e corta a unha. Na folga dela, os pais contratam a folguista.Enfim, não assumem em momento algum o cuidado sozinhos.”

Segundo ela, é importante que os pais exerçam sua responsabilidadee criem vínculos com os filhos. “O problema não é ter a babá, mas cairno comodismo que a presença dela tem trazido para dentro de casa. Émuito importante que os pais descubram as atividades de cuidado quegostam de fazer e passem a ser mais presentes nesses momentos. Acriança quer que os pais cuidem dela”, aconselha. “Não faz sentido, porexemplo, os pais estarem em casa e o filho ter de almoçar com a babá”,completa.

Por outro lado, é preciso respeitar a profissional, principalmenteem frente às crianças. “As mães não podem expô-la a situações ridí-culas, como passar a falar com o marido ou familiares em outra lín-gua, na frente dela, para ela não entender sobre o que estão falando”,comenta Roberta. Segundo a terapeuta, atitudes assim diminuem aautoridade da babá sobre a criança e fazemcom que ela não seja respeitada. “Os pais têmde deixar claro que, em sua ausência, a babámanda, mesmo que ela não tenha a autonomiapara tomar algumas decisões. Os pais devemdizer até onde a babá pode tomar decisões e,caso não gostem de alguma atitude, conversardepois, longe da criança”, sugere.

Muitos pais sofrem até encontrar uma boa babá para os filhos. Especialistas recomendam cuidado na hora da escolha edizem que o casal não deve deixar todas as tarefas de cuidado das crianças sob responsabilidade da profissional

Cargo deconfiança

Para Fernanda, mãe de Bernardo, a babá deve ser afetuosa e ter paciência para lidar com a criança

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Leia a íntegra da entrevista com a terapeuta familiar Roberta Palermo

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