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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL CABO FRIO 2013 A RELAÇÃO ENTRE BRASILEIROS E CHAVES NO FACEBOOK: UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL DE CAXIAS, MALANDROS E RENUNCIADORES

Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

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Monografia "A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook: uma construção social de caxias, malandros e renunciadores", por Kary Hellen Marins Subieta.

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Page 1: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

CABO FRIO

2013

A RELAÇÃO ENTRE BRASILEIROS E CHAVES NO FACEBOOK:

UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL DE CAXIAS, MALANDROS E RENUNCIADORES

Page 2: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

KARY HELLEN MARINS SUBIETA

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social

da Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio,

Rio de Janeiro, como requisito para a obtenção do título de

bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Profª Me. Heloiza Beatriz Cruz dos Reis

CABO FRIO

2013

A RELAÇÃO ENTRE BRASILEIROS E CHAVES NO FACEBOOK:

UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL DE CAXIAS, MALANDROS E RENUNCIADORES

Page 3: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

KARY HELLEN MARINS SUBIETA

A RELAÇÃO ENTRE BRASILEIROS E CHAVES NO FACEBOOK:

UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL DE CAXIAS, MALANDROS E RENUNCIADORES

Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social da Universidade Veiga de Almeida

- campus Cabo Frio, Rio de Janeiro, como requisito para obtenção do título de bacharel em

Jornalismo.

Aprovada em 04 de dezembro de 2013.

Banca Examinadora:

_______________________________________________________

Profª. Me. Heloiza Reis (orientadora)

Universidade Veiga de Almeida

_______________________________________________________

Profª. Me. Vanessa Ribeiro

Universidade Veiga de Almeida

_______________________________________________________

Profª. Me. Vania Fortuna

Universidade Veiga de Almeida

Page 4: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

A todos os fãs brasileiros de Chaves que sempre notaram

na série um toque especial, extraordinário; e àqueles que,

como eu, não só vivem os momentos ilustrados, mas

buscam, por meio de pesquisas e trabalhos, mostrar a

todos o porquê de sermos "chavesmaníacos".

Page 5: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

AGRADECIMENTOS

Ao Roberto Bolaños, meu ídolo e inspiração como escritor, pelas suas criações, que me

possibilitaram este estudo de caso.

Ao Fórum Chaves, maior comunidade de fãs de Chaves da América do Sul e da internet, pela

disposição em auxiliar e pelo apoio a este trabalho, contribuindo com dados que vieram a

complementá-lo.

À minha mãe e técnica de enfermagem, Helenice Marins, por confiar a mim os "seus" sonhos,

que eu realizei em parte na conclusão deste curso de graduação.

Ao meu companheiro e historiador, Cássio Campos, pelo apoio à realização do "meu" sonho:

cursar jornalismo; e por me ajudar no decorrer desta pesquisa, me norteando com relação à

história brasileira e trocando comigo aprendizados sobre antropologia.

Ao meu pai e médico, Cesar Subieta, um exemplo de profissional por estudar até hoje, com

seus 70 anos, me mostrando que o estudo é o melhor meio para exercer com profissionalismo

a carreira que se escolhe para a vida.

A toda minha família, por acreditar em mim.

À minha orientadora e mestre em comunicação social, Heloiza Reis, pela dedicação ao projeto

desta pesquisa e a esta monografia; pela paciência e tempo a mim dispensados nos horários de

orientação; e por dar asas à minha imaginação, tornando-a realidade através deste trabalho.

Aos meus colegas do curso de graduação, pelas horas de descontração e pelos trabalhos

acadêmicos compartilhados; em especial, ao Luis Gurgel, futuro jornalista, à Cíntia Rocha,

futura publicitária, e à Pâmela Boato, publicitária já graduada.

Aos colegas de estágios e emprego, que tive no decorrer do curso, alguns também estagiários

e outros profissionais, pelas experiências trocadas; principalmente ao Victor Delamar,

publicitário, pelo presente que foi a minha principal inspiração para esta pesquisa: o livro

"Chaves: a história oficial ilustrada"; e também à Viviane Machado, jornalista, pela ideia de

eu ter como tema o assunto que eu mais me mostrava empolgada em discursar sobre ele no

trabalho, Chaves.

Page 6: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

A todos os professores, mestres e doutores do curso de Comunicação Social da Universidade

Veiga de Almeida - campus Cabo Frio, pelo respeito que sempre tiveram comigo, pelos

ensinamentos com dedicação e por me fazerem jornalista.

Ao ano de 2013, por ter me oferecido lindos dias e momentos, que propiciaram toda esta

pesquisa, do projeto à finalização.

Page 7: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

"A arte é um produto das vivências e do trabalho de um

ser humano, e, como tal, sejam quais forem as

circunstâncias em que se realizou e a época em que se

criou, o importante é o pensamento que ela transmite,

inigualável pela personalidade do ser humano que retrata."

(Eduardo Rincón, compositor e musicólogo)

Page 8: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

RESUMO

SUBIETA, Kary. A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook:

uma construção social de caxias, malandros e renunciadores. 119 f. Monografia. Apresentada

ao Curso de Comunicação Social, Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio, para a

obtenção do título de bacharel em Jornalismo. Cabo Frio, 2013.

A série Chaves é considerada um fenômeno curioso da comunicação devido ao sucesso e ao tempo que

perduram. Esta pesquisa estuda o que promove a aproximação do brasileiro com os personagens e eventos

roteirizados na série. O meio de análise é o ciberespaço. São utilizados os perfis de heróis nacionais descritos

pelo antropólogo Roberto DaMatta. É verificado que a formação destes heróis tem base na história social

brasileira. Estes perfis são observados nos comportamentos dos personagens em Chaves através das publicações.

São observadas também as interações do brasileiro com publicações referentes a Chaves na comunidade virtual

"Fórum Chaves", no site de relacionamentos Facebook. O comportamento dos atores sociais é extraído através

da mensuração das interações. Nesta análise, é verificado o herói mais apoiado socialmente, o mais

espetacularizado e o que possui mais ideias replicadas. Também é notado como o eu interior é apresentado no

ciberespaço e o que representa socialmente a comunicação por ferramentas no Facebook.

Palavras-chave: Chaves; Comunidade Virtual; Facebook; Heróis Brasileiros; Fórum Chaves.

Page 9: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

ABSTRACT

SUBIETA, Kary. The relationship between Brazilians and El Chavo in Facebook: a social

construction of caxias, malandros and renunciadores. 119 p. Monograph. Presented to Social

Communication Course, Veiga de Almeida University - campus Cabo Frio, for obtain the title

bachelor's degree in Journalism. Cabo Frio, 2013.

The TV series El Chavo is considered a curious communication phenomenon because of its success and duration

on air. This research studies which promotes closer relations between the Brazilians and the scripted events and

characters in the series. The means of analysis is internet online research of cyberspace. The profiles of Brazilian

heroes described by anthropologist Roberto DaMatta are used. These heroes have their base in Brazilian social

history. The profiles of heroes are observed in the behavior of El Chavo's characters through observation of

publications. Are also observed interactions between Brazilians and publications related to El Chavo on the

virtual community "Fórum Chaves", on Facebook. The social actors behavior is extracted through measurements

of interactions. On this analysis, is checked the hero most socially supported, the hero most spectacularized and

the hero with more ideas are replicated. Also noted how social communication is done in cyberspace through

Facebook's mechanisms and how people developing their inner self on this site.

Keywords: El Chavo; Virtual Community; Facebook; Brazilian Heroes; Fórum Chaves.

Page 10: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

RESUMEN

SUBIETA, Kary. La relación entre brasileños y El Chavo del Ocho en Facebook: una

construcción social de caxias, malandros y renunciadores. 119 p. Monografía. Presentada al

Curso de Comunicación Social, Universidad Veiga de Almeida - campus Cabo Frio, para

obtener titulación de grado en periodismo. Cabo Frio, 2013.

La serie El Chavo del Ocho es vista como un curioso fenómeno de la comunicación por la perduración del

suceso y del tiempo. Esta búsqueda estudia el que hace los brasileños acercaren-se de los personajes de la serie y

de los eventos que ocurren en esa. El medio para análisis es el ciberespacio. Usan-se los perfiles de héroes

brasileños que han sido descritos por el antropólogo Roberto DaMatta. Nota-se que la formación de eses héroes

ha venido de la historia social brasileña. Los perfiles son observados por las publicaciones cuando se ve los

comportamientos de los personajes de El Chavo del Ocho. También notan-se los medios que el brasileño entejare

con las publicaciones que se mencionan El Chavo en la comunidad virtual "Fórum Chaves", en el sitio de redes

Facebook. La forma con que los actores sociales comportan-se es notado mediante la medición de las

interacciones. En esta análisis se nota el héroe que los actores sociales más dan apoyo social, el héroe que más

sensacionalismo le dan y el héroe que tiene la cantidad mayor de sus ideas replicados. También se observa como

ocurre el desarrollo del íntimo en el ciberespacio y lo que representa la comunicación social por las herramientas

en Facebook.

Palabras clave: El Chavo Del Ocho; Comunidad Virtual; Facebook; Héroes Brasileños;

Fórum Chaves.

Page 11: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

SUMÁRIO

Página

INTRODUÇÃO...........................................................................................................14

1 COMO SE CONSTRÓI UMA SOCIEDADE À BRASILEIRA............................18

1.1 A identidade pelas relações sociais............................................................................19

1.2 Alicerces da cultura nacional.....................................................................................19

1.2.1 A "fábula das três raças"...............................................................................................20

1.2.2 Contribuições dos grupos étnico-culturais....................................................................21

1.3 Um triângulo de etnias, um triângulo de heróis.......................................................26

1.3.1 Brasileiro: um povo relacional......................................................................................26

1.3.2 "Caxias", "malandros" e "renunciadores".....................................................................27

2 REPRESENTAÇÕES NAS REDES SOCIAIS DO CIBERESPAÇO...................32

2.1 A sociabilidade mediada pelo computador...............................................................33

2.2 Uma forma contemporânea de se representar.........................................................35

2.2.1 A confissão de si nos diários "éxtimos"........................................................................35

2.2.2 Autoconstrução: um espetáculo alterdirigido...............................................................38

2.3 No Facebook, em busca do sucesso social.................................................................41

2.3.1 Os mecanismos de interação como extensões do ator social........................................42

2.3.2 Capital social, o saldo das relações...............................................................................44

2.4 A sociedade brasileira no "Fórum Chaves".............................................................46

2.4.1 Chaves: do México para o Brasil, e da televisão para a internet..................................46

Page 12: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

2.4.2 A maior comunidade de fãs de Chaves do ciberespaço................................................47

3 OS HERÓIS DE DAMATTA NOS PERSONAGENS DE BOLAÑOS.................48

3.1 A mãe "caxias" e o filho "otário"..............................................................................48

3.2 "Malandragem" de pai para filha.............................................................................51

3.3 Os "outros mundos": da magia e da fantasia...........................................................55

3.4 A construção social do brasileiro que interage com Chaves...................................60

CONSIDERAÇÕES....................................................................................................63

REFERÊNCIAS..........................................................................................................66

ANEXOS......................................................................................................................70

APÊNDICES..............................................................................................................109

Page 13: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Página

ANEXOS..................................................................................................................................70

Curtir fan page........................................................................................................................70

Entrevista 1..............................................................................................................................70

Entrevista 2..............................................................................................................................70

Publicações da fan page Fórum Chaves (referentes aos personagens analisados)................71

Dona Florinda (anexo "1" ao anexo "7").............................................................................71-74

Quico (anexo "8" ao anexo "18").........................................................................................74-79

Seu Madruga (anexo "19" ao anexo "41")...........................................................................80-93

Chiquinha (anexo "42" ao anexo "44")................................................................................94-95

Dona Clotilde (anexo "45" ao anexo "51")..........................................................................95-98

Chaves (anexo "52" ao anexo "70")...................................................................................99-108

APÊNDICES..........................................................................................................................109

Gráficos..................................................................................................................................109

Personagens (apêndice "1").....................................................................................................109

Personagens x atores - curtir; comentar; compartilhar (apêndices "2" a "4")..................109-110

Marketing - curtir, comentar e compartilhar (apêndice "5")...................................................110

Personagens: Dona Florinda; Quico; Seu Madruga; Chiquinha; Dona Clotilde; Chaves - curtir,

comentar e compartilhar (apêndices "6" a "11")..............................................................111-112

Personagens: frases x releituras - curtir; comentar; compartilhar (apêndices "12" a

"14")........................................................................................................................................113

Page 14: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

Atores: vida/carreira x notícias/atualidades x shows - curtir; comentar; compartilhar

(apêndices "15" a "17")....................................................................................................114-115

Personagens - quantidade de publicações (apêndice "18").....................................................115

Atores - quantidade de publicações (apêndice "19")..............................................................115

Marketing - quantidade de publicações (apêndice "20")........................................................116

Publicações - personagens, atores e marketing (apêndice "21").............................................116

Interações entre perfis no programa - malandro e caxias; renunciador e malandro; caxias e

renunciador (apêndices "22" a "24")................................................................................116-117

Interação entre cada perfil e entre os três no programa - renunciadores, malandros, caxias e

interação entre os três (apêndice "25")....................................................................................117

Categorias de interações entre perfis no programa - quantidade de publicações (apêndice

"26")........................................................................................................................................118

Interações entre perfis em releituras - caxias e renunciador, renunciador e malandro, e

malandro e caxias (apêndice "27")..........................................................................................118

Interações entre cada perfil ou entre o perfil e outro em releituras - renunciadores, malandros

e caxias (apêndice "28")..........................................................................................................118

Categorias de interações em releituras - quantidade de publicações (apêndice

"29")........................................................................................................................................119

Page 15: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

14

INTRODUÇÃO

Chaves é uma série transmitida há cerca de quarenta anos na televisão, dentre os quais é

exibida há vinte e nove no Brasil - desde 1984. O programa já foi líder absoluto de audiência

em todos os países nos quais foi transmitido. No Brasil, é exibido no SBT (Sistema Brasileiro

de Televisão) e se constitui, devido ao tempo e ao sucesso que perdura, em um fenômeno

curioso da comunicação. São muitas as pesquisas acadêmicas que abordam o tema sugerindo

os motivos para este sucesso. Mas, quanto ao meio estudado, não foi encontrado um estudo

associado aos sites de redes sociais. Embora a internet seja uma mídia relativamente recente,

traz alta relevância para o estudo da série: no Brasil se encontra o maior número de sites sobre

o programa.

Este trabalho estuda o que promove esta aproximação do brasileiro, que se expressa nos sites

de redes sociais, com os personagens e eventos roteirizados na série. Temas similares foram

abordados por Pablo Kaschner, e Luís Joly, Fernando Thuler e Paulo Franco, comunicadores

sociais que realizaram estudos acadêmicos sobre Chaves. Em suas obras, apontam as

possíveis causas do sucesso da série. Nesta pesquisa, a contribuição de ambos está nas

características que apontam sobre os personagens. Kaschner (2006) também acrescenta por

focar o seu trabalho no Brasil, já reconhecendo o sucesso da série na internet quando descreve

a respeito da relação ídolo-fã.

Para mostrar como ocorre a identificação do fã brasileiro com Chaves, é realizado no primeiro

capítulo um estudo da história brasileira. São tomados teóricos que no decorrer de suas obras

mostram indícios da formação social deste povo. O antropólogo Darcy Ribeiro e o historiador

Sérgio Buarque de Holanda abordam como os diferentes aspectos sociais brasileiros surgiram

no decorrer da construção da história nacional. Enquanto o antropólogo Roberto DaMatta

apresenta os perfis sociais de heróis brasileiros existentes hoje.

No estudo, se verifica que a base para a formação de heróis brasileiros está na história

nacional descrita por Ribeiro (1995) e Holanda (1978). As características advindas das obras

destes autores permitem traçar uma associação de herança cultural da sociedade brasileira

relacionada aos grupos étnico-culturais que povoavam o Brasil.1 O resultado é apresentado

por DaMatta (1997a). O autor traz o "renunciador", o "malandro" e o "caxias" como tipos

1 Não é intenção deste trabalho discutir a validade das teorias destes autores aqui apresentadas.

Page 16: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

15

brasileiros estereotipados socialmente e considerados heróis nacionais. Cada um desses com

seu lugar, tempo e ritual de comportamento mais adequados à sua atuação.

Para investigar a sociabilidade destes perfis, é analisado no segundo capítulo o

comportamento do brasileiro nos sites de redes sociais. Esses se mostram propícios por

permitir uma melhor delimitação de segmentos sociais e observação de eventos relacionais.

Nestes sites é possível extrair o comportamento dos atores sociais com maior facilidade de

mensuração dos dados e visibilidade das interações do que se a análise fosse em meio off-line.

O Facebook foi o site de relacionamentos escolhido para esta pesquisa por ser o mais

acessado no Brasil.2 A fan page selecionada para estudo dentro deste site foi o "Fórum

Chaves". Considerando o número de curtir na página, a mesma se encontra em quinto lugar

com relação às outras fan pages que abordam o tema dentro do site Facebook. E no Google, o

buscador mais usado no país3, a página do "Fórum Chaves" no Facebook é a mais otimizada

4

em busca orgânica pelo site5. Outro critério para a escolha da página se deve ao fato de que,

quando comparada às outras páginas sobre a série, "Fórum Chaves" apresenta maiores

vantagens para análise de eventos sociais. Dentre os quais, ela realiza majoritariamente

publicações voltadas ao tema que se destina e possui redes de conversação vivas - as

interações realizadas são em grande número e constantes.

Nesta pesquisa é observada especialmente a apresentação de alguns personagens - "Dona

Florinda", "Quico", "Dona Clotilde", "Seu Madruga", "Chiquinha" e "Chaves" -, mas também

as publicações que se referem aos atores intérpretes destes personagens e as que tem intenção

mercadológica.6 Esta pesquisa está limitada a publicações, interações e outros eventos

ocorridos na fan page "Fórum Chaves" entre julho de 2012 e junho de 2013.7

Na comunidade virtual "Fórum Chaves", é possível observar interações, conversações e

outros dados mensuráveis através de ferramentas do próprio site: "curtir", "comentar" e

"compartilhar". A análise destas formas de comunicação pode indicar a afinidade dos

2 O maior acesso ao Facebook por usuários brasileiros foi demonstrado na pesquisa "Facebook Continues it's

Global Dominance Claiming the lead in Brazil" (COMSCORE). 3 Resultado da pesquisa "Google Brasil cresce na preferência de usuários de internet por buscadores em maio, de

acordo com Hitwise" (SERASA EXPERIAN). 4 Classificação feita segundo critérios para "Otimização de sites para Mecanismos de Pesquisa (SEO) - Guia do

Google para Iniciantes" (GOOGLE). 5 Quando pesquisadas as palavras-chaves "Chaves Facebook", nesta ordem, após a primeira indicação do

buscador à sua página de pesquisas referente às imagens da busca, aparece a fan page "Fórum Chaves" com

hiperlink para o seu endereço no site Facebook. 6 Neste trabalho, estas publicações são tratadas na categoria "marketing".

7 Excetuam-se as postagens referentes a outras séries e programas, contidas na página, que não sejam Chaves.

Page 17: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

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membros em realizar determinadas interações, e fazê-la com alguns personagens - e seus

comportamentos - mais do que com outros. Todos estes dados são indicativos de "modos de

ser" sociais que podem ser analisados abertamente na rede exposta do site.

Para abordar a temática do ciberespaço, são utilizados trabalhos de duas pesquisadoras sociais

contemporâneas às transformações cibernéticas. Paula Sibilia trata de como são exibidos os

"modos de ser" nos espaços online; e Raquel Recuero contribui no que concerne às relações

entre estes modos, de forma a criar redes sociais e a ocorrer trocas de capitais sociais.

Doutora em Comunicação e Cultura, Paula Sibilia (2008) atribui atualmente aos sites de redes

sociais a função de "diário íntimo", em que se delineia um "eu" de uma forma pessoal e

possibilita a criação de um "você". Este processo acontece através de trocas que permitem a

criação de "fortes laços afetivos". Partindo da teoria de que o laço representa a conexão

realizada entre os atores sociais nas interações, a doutora em Comunicação e Informação

Raquel Recuero (2011) apresenta dois tipos de laço, com os quais se trabalha: o laço

relacional, formado pelas interações; e o laço associativo, no qual a conexão se dá por um

sentimento de pertencimento. As contribuições de Recuero também perpassam pela percepção

de capital social através das informações difundidas na rede. Para a autora, nas redes sociais

há uma relação direta entre a informação que se publica e o impacto que se pretende causar na

sua audiência.

São dois os métodos utilizados para analisar as publicações. O primeiro toma como base a

análise qualitativa das publicações na fan page. A escolha dos objetos para esta análise levou

em consideração as características dos heróis apresentados por DaMatta (1997a). Foram

elegidas as publicações que melhor ilustram as definições dos perfis de forma a contribuir

para este estudo.8 Esse se realizou por associações das características dos perfis de heróis

brasileiros aos personagens em Chaves. Foram observados comportamentos, frases e

interações ilustrados nas publicações - e também alguns implícitos nelas e com a necessidade

de serem explicados pelos contextos dos episódios da série aos quais se referem. Também são

observadas as associações - realizadas pelo "Fórum Chaves" - dos personagens com alguns

eventos sociais contemporâneos, e as releituras de situações dramatizadas no programa.

No segundo domínio de análise, são tomados como base os dados quantitativos das interações

por mensuração da utilização das ferramentas do Facebook. Para chegar aos objetivos

8 É de fundamental importância acrescentar que as características dos perfis expostos pelas publicações

escolhidas são recorrentes nas demais publicações, as não expostas.

Page 18: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

17

propostos nesta análise, se tem como referência a metodologia aplicada pelo comunicador

social Orlando Neto em "Visão Mundial e seu capital social no Facebook: a comunicação

influenciando internautas pelo bem do próximo" (2012). O método abrange a catalogação das

inserções e a observação por tabulação dos impactos conquistados. Neste estudo, a tabulação

foi realizada, mas, ao invés de tabelas, são mostrados gráficos para melhor ilustrar a

comparação entre os personagens e os respectivos perfis a eles associados.

A análise quantitativa foi feita separando as publicações - referentes a Chaves na fan page

Fórum Chaves - segundo as categorias principais: "personagens", "atores", "marketing",

"interações entre perfis no programa" e "interações entre perfis em releituras". Em

"personagens", estão os seis já apresentados; e seus respectivos intérpretes se encontram na

categoria "atores". Quanto ao "marketing", estão as publicações sobre a "marca própria

(Fórum Chaves)", os "patrocinadores e/ou apoio", os "produtos Chaves" e "assistir Chaves"9,

todos divididos nestas subclassificações. Publicações que trazem a interação entre os

personagens foram categorizadas em "interações entre perfis no programa"10

e "interações

entre perfis em releituras"11

.

Dentro de "personagens", houve uma subclassificação: "frases" e "releituras". Em "atores",

foram separadas as publicações que se referiam à sua "vida/carreira", as relacionadas a

"notícias/atualidades" sobre os mesmos e as que dizem respeito a "shows", que ainda são

realizados por alguns. Sobre as interações, há subdivisões idênticas para cada categoria:

"malandro e caxias", "renunciador e malandro" e "caxias e renunciador". Quanto às ocorridas

no programa, há ainda "interação entre mesmo perfil e entre os três no programa"; e uma

subclassificação equivalente nas "releituras" foi nomeada "interação entre mesmo perfil ou

entre o perfil e outro12

em releituras".

9 A subclassificação "assistir Chaves" se refere às publicações em que se traz alguma menção ao ato de assistir

ao programa. Há publicações que se voltam a informar aos fãs que a série está passando na televisão; outras, qual

episódio está sendo veiculado; há também as que perguntam se os fãs estão assistindo ou assistiram a um

episódio veiculado na televisão; ocorrem ainda publicações destinadas a fornecer o link de algum episódio com a

sugestão de que os fãs o assistam online em determinado momento. 10

Referente à interação entre os personagens nos episódios da série. Os personagens são apresentados pelos

perfis de heróis brasileiros que apresentam. 11

Nas "releituras" sobre determinadas situações do programa, há as que provêm de interações entre os

personagens. É verificado que a leitura destas situações são contemporâneas ou são feitas através de uma ótica

diferente da proposta pelos episódios à época em que foram gravados. Por este motivo, as interações destas

situações reinterpretadas fazem ser necessária uma análise à parte. 12

O "outro" diz respeito a um personagem que interage com o analisado no programa mas que não seja um dos

analisados.

Page 19: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

18

Quando um ator social se depara com as publicações destas diversas categorias, ele escolhe

interagir com algumas, mas com outras, não. Também elege uma ferramenta para utilizar com

determinada publicação e uma diferente para se expressar perante outra. Assim, ele se

representa socialmente na rede gerando valor de capital social. Analisando as escolhas do ator

social é possível observar o perfil de herói representado pelos personagens de Chaves que é

mais apoiado, o que é mais espetacularizado e o que possui mais ideias replicadas.

Estas observações são de relevância para o campo da Comunicação Social. São notadas as

formas de se comunicar online e no que representa socialmente a comunicação por

ferramentas no site de redes sociais mais utilizado pelos brasileiros atualmente. Também

busca contribuir com a investigação do que leva a estes comportamentos: por que há

identificação com Chaves? A resposta mostra o que é singular na série para que esta perdure

por quase trinta anos no Brasil - até agora - ainda que tenha origem em outra nacionalidade.

Para o jornalismo, que hoje é multimídia, a verificação dos perfis e das interações sociais que

mais interessam aos brasileiros contribui para um conhecimento sobre o público na internet.

Entender as suas motivações é um caminho para realizar o jornalismo participativo nesta

mídia.13

Também neste estudo está mostrada a forma com que a construção social é feita no

ciberespaço. Conhecendo-a, o jornalista fica mais próximo de exercer no meio uma das

responsabilidades inerentes à profissão: formar cidadãos.

1 COMO SE CONSTRÓI UMA SOCIEDADE À BRASILEIRA

A compreensão das formas de sociabilidade de um povo ou nação necessita de um

entendimento primário sobre a relação entre identidade, sociedade e cultura. O primeiro fato a

se considerar é que comportamentos impostos pela condição humana estão presentes em todos

os indivíduos. A forma com que se realizam é que se diferencia entre as sociedades. Essas são

influenciadas pelas histórias - social, política e econômica - de cada uma (DAMATTA, 1986).

Na sociedade brasileira, há que avaliar as diversas culturas e povos que influenciaram o Brasil

13

O jornalismo participativo é chamado também de jornalismo cidadão. O seu objetivo "é prover informações

independentes, confiáveis, precisas, abrangentes e relevantes, necessárias à trajetória e ao equilíbrio da

democracia". (CORRÊA e MADRUREIRA, 2010, p. 167).

Page 20: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

19

desde a sua descoberta. Um estudo baseado na formação social do Brasil se insere para

determinar as bases da sociabilidade, cultura e comportamento do brasileiro atual.

1.1 A identidade pelas relações sociais

É através das relações humanas que se aprende e transmite os costumes e as tradições entre as

gerações. Quando estas formas de manifestar os aspectos humanos são conhecidas

amplamente em uma sociedade e nela repetidos recebem a denominação de cultura. O

antropólogo brasileiro Roberto DaMatta (2010) a considera responsável por fazer os

comportamentos se diferenciarem entre as sociedades - como a forma com que se come e

dorme; e ainda a maneira de se criar e manter relações sociais.

A vida em uma sociedade, portanto, é determinada pela cultura. O antropólogo britânico

Edward Burnett Tylor (1871 apud DAMATTA, 2010) observa que é possível uma sociedade

não ter cultura, mas essa não existe sem uma sociedade para se manifestar. Assim, os

comportamentos culturais são formas de ser sociais.

São estas formas, sociais e culturais, que caracterizam a identidade. Ou seja, essa é

determinada pelas manifestações culturais nas relações sociais. E por serem um dado básico

da vida em sociedade no Brasil, é que DaMatta (1997) aponta a necessidade em se realizar um

estudo aprofundado nestas relações sociais a fim de traçar um perfil da identidade brasileira.

1.2 Alicerces da cultura nacional

A vida social brasileira é associada à "fábula das três raças", em que branco, negro e indígena

formam as três pontas de um triângulo equilátero.14

A antropóloga Ilana Seltzer Goldstein

(200-) descreve que o sociólogo Gilberto Freyre tentou combater o estudo antropológico do

ponto de vista biológico. O paradigma racial como chave da compreensão da sociedade

brasileira teria vigorado até os anos 20 do século XX. Com a publicação de "Casa grande e

Senzala" em 1933, Freyre teria apresentado a distinção dos traços de raça e de cultura, como

resultados de efeitos genéticos e de influências sociais, respectivamente. Para Renato Ortiz

(2005) , o estudo baseado na cultura traz maior abrangência dos aspectos sociais.

A passagem do conceito de raça para o de cultura elimina uma série de

dificuldades colocadas anteriormente a respeito da herança távica do

mestiço. Ela permite ainda um maior distanciamento entre o biológico

14

Triângulo que contém a mesma medida nos seus três lados. A metáfora auxilia na compreensão de que as três

raças em questão deram contribuições culturais ao Brasil na mesma intensidade.

Page 21: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

20

e o social, o que possibilita uma análise mais rica da sociedade

(ORTIZ, 2005, p. 41).

Ainda que considerada por muitos historiadores em desuso, tal como foi para Freyre, DaMatta

(2010) analisa a "fábula das três raças" como fundamental porque ajuda a compreender as

questões sociais envolvidas no processo histórico.

Essa fábula é importante porque, entre outras coisas, ela permite juntar

as pontas do popular e do elaborado (ou erudito), essas duas pontas de

nossa cultura. Ela também permite especular, por outro lado, sobre as

relações entre o vivido (que é frequentemente o que chamamos de

popular e o que nele está contido) e o concebido (o erudito ou

científico - aquilo que impõe a distância e as intermediações)

(DAMATTA, 2010, p. 69).

Ao buscar nesta teoria a explicação para a conformação social do Brasil, são consideradas as

suas bases antropológicas. E, segundo o antropólogo norte-americano Clifford Gertz (1989), a

análise das relações humanas deve ser baseada nos seus significados, não nos seus

comportamentos. Através de uma análise interpretativa da cultura se pode compreender além

do comportamento: o que leva uma sociedade a se comportar de determinada maneira.

1.2.1 A "fábula das três raças"

Segundo a teoria da "fábula das três raças", a cultura que a sociedade brasileira tem hoje seria

resultado de influências dos grupos étnicos dos quais decorreu a sua formação primária.

Quanto à etnia, o estudo destes grupos é importante porque traz a consciência histórica da

mestiçagem. A influência cultural destes grupos no sentido em que o fez Gilberto Freyre,

descrito por Goldstein (200-), também necessita que se recorra à história. O antropólogo,

escritor e político brasileiro Darcy Ribeiro (1995) mostra no capítulo "O enfrentamento de

dois mundos" como se deu a princípio o choque étnico e cultural entre portugueses e

indígenas.

Dentre as matrizes étnicas formadoras do Brasil, descritas por Ribeiro (1995), estão os grupos

indígenas que habitavam a costa atlântica brasileira, formados principalmente por tribos que

falavam idiomas do tronco tupi. Sérgio Buarque de Holanda (1978) - crítico literário,

jornalista e historiador explica a entrada dos portugueses e a facilidade com que se pôde

realizar a colonização nas terras brasileiras. Os povos indígenas teriam facilitado a penetração

portuguesa por serem um só povo e possuírem facilidade tanto no aprendizado de culturas

diferentes quanto para transmitir a sua cultura aos povos estranhos (HOLANDA, 1978).

Page 22: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

21

A fluidez da miscigenação ocorrida entre estes dois povos também se deve à falta do orgulho

de raça nos portugueses. Esses já seriam constituídos por mestiçagem com os nativos da

África Oriental e por isso não hesitariam em se relacionar com os índios que habitavam terras

brasileiras (HOLANDA, 1978).

Na dominação portuguesa, a tentativa de escravizar índios para que deles provesse lucro para

a Coroa foi, em parte, malograda. Os povos encontrados na costa brasileira não se deixavam

influir com facilidade quando o assunto era trabalho. A eles são atribuídas características

versáteis de trabalho físico. Quando os portugueses os quiseram submeter ao latifúndio, não

teriam se adaptado. Eles resistiam aos afazeres latifundiários porque tinham caça e pesca

como noções de ordem (HOLANDA, 1978). A importação de mão de obra africana se insere

neste contexto.

Pode-se dizer que a presença do negro representou sempre fator

obrigatório no desenvolvimento dos latifúndios coloniais. Os antigos

moradores da terra foram, eventualmente, prestimosos colaboradores

na indústria extrativa (...). Sua tendência espontânea era para

atividades menos sedentárias e que pudessem exercer-se sem

regularidade forçada e sem vigilância e fiscalização de estranhos.

Versáteis ao extremo, eram-lhes inacessíveis certas noções de ordem,

constância e exatidão, que no europeu formam uma segunda natureza

e parecem requisitos fundamentais da existência social e civil

(HOLANDA, 1978, p. 17).

Trazidos da costa ocidental africana, os negros eram separados de seus grupos de mesma

origem étnica. A separação do seu povo se dava pela tentativa de impedi-los de manter seus

traços culturais. Ribeiro (1995, p. 115) acredita que "os negros foram compelidos a

incorporar-se passivamente no universo cultural da nossa sociedade". Mais do que mera mão

de obra latifundiária, também teriam passado a ser em terras brasileiras "agentes da

europeização". Eram eles que difundiam a língua do seu colonizador e ensinavam, junto com

as técnicas de trabalho, os valores culturais aos escravos que chegavam (RIBEIRO, 1995,

p.116).

1.2.2 Contribuições dos grupos étnico-culturais

Associando portugueses e índios a estereótipos, os comportamentos e valores de cada grupo

são levados em consideração. Para classificá-los, Holanda (1978) faz uma distinção entre o

"aventureiro" e o "trabalhador". O modo aventureiro de se portar dos portugueses seria

fundamental para a expansão colonizadora que promoveram. Não teria sido com

racionalidade eles se lançaram ao mar, mas com uma manifestação de seu perfil desbravador.

Page 23: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

22

A pouca disposição para o trabalho que têm os brasileiros hoje seria advinda culturalmente

deste perfil dos portugueses, de "aventureiro". Também associados a ele estão os

comportamentos que envolvem "audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade,

vagabundagem" (Holanda, 1978, p.13). A preguiça em se realizar o trabalho braçal explica o

prestígio que conferiam às questões relacionadas ao intelecto: o que importava para os

portugueses era lucrar mais com menos esforço físico.

Até a palavra "desleixo" é típica do idioma destes ibéricos e é colocada como obrigação no

fazer português: "A ordem que aceita não é a que compõem os homens com trabalho, mas a

que fazem com desleixo e certa liberdade (...). É também a ordem em que estão postas as

coisas divinas e naturais (...)" (HOLANDA, 1978, p. 82). E a ordem divina era oprimir. A

Igreja Católica declarou em 1493, através da bula Inter Coetera, que as terras do Novo

Mundo estavam à disposição para serem possuídas e seus povos, escravizáveis. Desta forma,

o povo era considerado "uma mera força de trabalho" (RIBEIRO, 1995, p.41).

Com respaldo na Igreja Católica, os ibéricos se viam promovendo uma expansão com

motivações mais nobres do que as mercantis durante o processo civilizatório. Eles se definiam

"os expansores da cristandade católica sobre os povos existentes e por existir no além-mar"

(RIBEIRO, 1995, p. 39). Mas não foi só na atitude dos colonizadores que a Igreja Católica

influiu. Através da catequização dos índios, os dogmas da igreja foram transmitidos junto a

comportamentos desejáveis para aqueles povos. A obediência era vista pelos povos ibéricos

como virtude suprema, e foi passada como princípio de disciplina pelos jesuítas (HOLANDA,

1978). Era desta forma que se tentava transformar os índios.

É essencial notar que as características que Ribeiro (1995) relacionava aos povos nativos no

Brasil eram as de bondade, esperança e solidariedade; considerando-as mais fortes do que os

seus temores. Também avaliados como inocentes por Holanda (1978), os indígenas achavam

que os portugueses eram pessoas generosas e se enchiam de esperanças que eles os pudessem

levar à morada de Maíra. Assim chamavam seu deus, no qual acreditavam estar em algum

lugar - físico - do além-mar.15

Os índios realizavam suas tarefas como meio de receber dádivas de seu deus. Eles

acreditavam que encontrariam em vida um lugar - geográfico - equivalente ao paraíso cristão

europeu. Até mesmo a possibilidade de realizar as suas atividades, como seus instintos e

sentidos aguçados, já eram considerados por eles como bênçãos. Por isso viam no trabalho

15

O mesmo autor atribui ideias precárias de solidariedade aos portugueses.

Page 24: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

23

apenas uma atividade necessária para sobreviver e não compreendiam a ambição do acúmulo

de riquezas que tinham os portugueses (RIBEIRO, 1995).

Para entender a mentalidade ibérica da ambição, Holanda (1978) descreve que foram as

crenças religiosas que determinaram esta visão, com decorrente atitude contrária ao trabalho.

A ação sobre as coisas, sobre o universo material, implica submissão a

um objeto exterior, aceitação de uma lei estranha ao indivíduo. Ela

não é exigida por Deus, nada acrescenta à sua glória e não aumenta

nossa própria dignidade. Pode-se dizer, ao contrário, que a prejudica e

a avilta. O trabalho manual e mecânico visa a um fim exterior ao

homem e pretende conseguir a perfeição de uma obra distinta dele

(HOLANDA, 1978, p. 10).

Os portugueses se consideravam condenados ao trabalho, uma tarefa sofrida para eles, mas

que os subordinava ao lucro (RIBEIRO, 1995). Como ideal, tinham a projeção na ociosidade,

em "uma vida de grande senhor, exclusiva de qualquer esforço, de qualquer preocupação"

(HOLANDA, 1978, p. 10). DaMatta (1986) encontra este ideal ainda hoje existente nos

brasileiros e considera a origem católica a principal explicação para o conceito de trabalho.

Ao realizar a comparação da cultura brasileira com a norte-americana, ele aponta as

diferenças culturais quanto ao trabalho decorrentes das crenças religiosas.16

... o trabalho duro é visto no Brasil como algo bíblico. Muito diferente

da concepção anglo-saxã que equaciona o trabalho (work) com agir e

fazer, de acordo com sua concepção original. Entre nós, porém,

perdura a tradição católica romana e não a tradição reformadora de

Calvino, que transformou o trabalho como castigo numa ação

destinada à salvação. (...) O fato é que não temos a glorificação do

trabalhador, nem a ideia de que a rua e o trabalho são locais onde se

pode honestamente enriquecer e ganhar dignidade (DAMATTA, 1986,

p.31, 32).

Desta religiosidade católica decorrem a ânsia em prosperar sem muito esforço físico e a

ambição por títulos de honra. Essas integram as características do espírito de aventura que

possuíam os colonizadores. Contrariamente a eles, o perfil de trabalhador teve importante

função ao desempenhar a mão de obra braçal necessária aos aventureiros na sua dominação de

terras. "O indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente

ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do

aventureiro..." (HOLANDA, 1978, p. 13).

16

Para o antropólogo, a própria origem da palavra "trabalho" já é carregada de um significado e explica porque

hoje é considerada sinônimo de "pegar no batente". O vocábulo tem procedência no latim tripaliare. Esse faz

menção à tortura com um instrumento da Roma Antiga: o tripaliu, usado para castigar escravos (DAMATTA,

1986).

Page 25: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

24

Por se verificar no indígena uma tendência para realizar trabalhos que envolviam esforço

físico, menos gratificantes de imediato, pode-se dizer que os índios tinham esta atitude

trabalhadora, mas com propósitos diferentes dos descritos pelo perfil de Holanda (1978). O

índio apresentava resistência ao trabalho latifundiário e se voltava apenas à subsistência.

Devido à "resistência obstinada" que os índios apresentaram ao trabalho latifundiário,

(HOLANDA, 1978, p. 18), os africanos desempenharam quanto à prática este papel de

trabalhador no Brasil. Foram impostos à condição de trabalhadores braçais e não possuíam

um lucro recompensador pelo seu trabalho.

O ócio aclamado pelos portugueses, representantes do grupo étnico de brancos, juntamente

com a imposição de trabalho escravo aos africanos trazidos ao Brasil, representantes do grupo

étnico de negros, podem ser caminhos para explicar o "exclusivismo racista" de hoje, que

nunca chegou a ser, aparentemente o fator determinante das medidas

que visavam reservar a brancos puros o exercício de determinados

empregos. Muito mais decisivo do que semelhante exclusivismo teria

sido o labéu tradicionalmente associado aos trabalhos vis a que obriga

a escravidão e que não infamava apenas quem os praticava, mas

igualmente seus descendentes (HOLANDA, 1978, p. 25).

Esta separação classista e racial se verifica em Ribeiro (1995, p. 131), na "superioridade

inegável" dos portugueses que, "por mais que se identificasse com a terra nova, gostava de se

ter como parte da gente metropolitana". Esta característica apresenta um contraste com a falta

do "orgulho de raça" que possuíam, descrito por Holanda.17

A submissão dos africanos ao trabalho e cultura impostos pelos portugueses, entretanto, não

os "desaculturou". Holanda (1978, p. 31) chama de "moral das senzalas" as contribuições dos

africanos em administração, economia e crenças religiosas que se formavam no Brasil. Assim

as denomina porque considera que a influência deste povo não foi somente da sua cultura

africana, mas teriam deixado como legado principalmente uma "cultura de escravos".

Decorrente da sua vida nas senzalas, exibiam "uma suavidade dengosa e açucarada" que se

exprime na arte e na literatura; juntamente com "o gosto pelo exótico, da sensualidade

brejeira, do chichisbeísmo, dos caprichos sentimentais" (HOLANDA, 1978, p. 31).

17

Tal embate enriquece o embasamento de ser a formação brasileira ao nível dos três grupo étnicos. Se esse

ocorre na tentativa de explicar os impasses dentro da cultura no Brasil, é inegável que dentro de cada grupo já se

notavam contradições culturais. O que leva a pensar na herança cultural também no fato de hoje o Brasil ser um

povo contraditório.

Page 26: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

25

A partir destas bases escravocratas, Ribeiro (1995) considera que teria advindo a beleza da

cultura brasileira. Quando o negro rural migrou para os centros urbanos, ele se instalou nas

periferias das cidades. Essas teriam sido um espaço fértil para que ele difundisse o que

praticava nas senzalas: sua música, comida e religiosidade.

Com base nela é que se estrutura o nosso Carnaval, o culto de

Iemanjá, a capoeira e inumeráveis manifestações culturais. Mas o

negro aproveita cada oportunidade que lhe é dada para expressar o seu

valor. Isso ocorre em todos os campos que não se exige escolaridade.

É o caso da música popular, do futebol e de numerosas formas menos

visíveis de competição e de expressão. O negro vem a ser, por isso,

apesar de todas as vicissitudes que enfrenta, o componente mais

criativo da cultura brasileira e aquele que, junto com os índios, mais

singulariza o nosso povo (RIBEIRO, 1995, p. 223).

Se, por um lado, os escravos transmitiram claramente uma cultura popular que perdura até os

dias atuais no Brasil, por outro, os indígenas teriam contribuído quanto à estrutura social e as

relações nela envolvida. A base no parentesco e a sociabilidade em geral denotam de um

modo de vida solidário a que as sociedades tribais estariam submetidas; enquanto a

hierarquização classista e a ganância como objetivo das relações se associam ao português

(RIBEIRO, 1995).

Holanda (1978) acrescenta que a mentalidade capitalista portuguesa era fundada sobre a

"pessoalização" e com repulsa a qualquer tipo de racionalização. Decorria desses, "certa

incapacidade, que se diria congênita, de fazer prevalecer qualquer forma de ordenação

impessoal e mecânica sobre as relações de caráter orgânico e comunal, como o são as que se

fundam no parentesco, na vizinhança e na amizade" (HOLANDA, 1978, p. 99). Como

resultado, nas relações de negócio, a preferência é sempre por tratar o outro como amigo.

DaMatta (1986) considera o trabalho escravo a explicação para a falta de diferenciação entre

os espaços que ele chama de “casa” e “rua”18

, que representam os níveis pessoal e

profissional, respectivamente. "O patrão, num sistema escravocrata, é mais que um explorador

de trabalho, sendo dono e até mesmo responsável moral pelo escravo... aqui a relação vai do

econômico ao moral..." (DAMATTA, 1986, p. 32). Desta forma, as relações econômicas

atuais estão embebidas de simpatia e amizade. Holanda (1978) aponta a dificuldade em

18

"Casa" e "rua", assim como "outro mundo", são descritos por DaMatta (1997b) como meios com ações sociais,

emoções, reações e leis próprios de cada espaço.

Page 27: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

26

aplicar a justiça e suas normas legais aos países de origem hispânica, incluindo Portugal e

Brasil devido a apresentarem estas características de cunho pessoal em diferentes relações.19

Estas e outras características, decorrentes dos três maiores grupos étnicos que povoaram o

Brasil no início de sua formação, ajudam a compor o brasileiro resultado destas

transformações. Essas podem ser chamadas de "transfiguração étnica", que é "o processo

através do qual os povos, enquanto entidades culturais, nascem, se transformam e morrem"

(RIBEIRO, 1995, p. 257).

1.3 Um triângulo de etnias, um triângulo de heróis20

A convivência entre grupos de diferentes costumes e tradições não fez com que as culturas

desaparecessem, mas contribuíssem para a transfiguração em uma sociedade na qual diversas

delas coexistiam. E, de acordo com cada impressão que sofreu, o brasileiro teria idealizado

um herói. Como sua formação étnica e cultural, uma triplicidade também heroica teria se

formado.

1.3.1 Brasileiro: um povo "relacional"

Ao longo do tempo histórico, a mentalidade do povo brasileiro foi se transformando e

aceitando a sua etnia diferenciada. Ele não é mais índio, também não se transformou em

branco nem virou um africano. Como uma sociedade de diversas origens étnicas, sobreviveu a

uma luta pela existência, a que Ribeiro (1995, p. 259) explica por já não haver mais índios

que ameacem o seu destino; teriam os negros se "desafricanizado" e se integrado; e o branco

seria orgulhoso por estar "mais moreno".

Neste aprendizado mútuo de culturas, a hierarquização típica do português teria esbarrado nos

sistemas igualitários indígenas. A disposição para o trabalho indígena, a atitude de trabalho

dos negros africanos - pela escravização - e o prestígio ao intelecto mais do que ao esforço

físico do português também teriam se chocado. Bondade e solidariedade indígena com alegria

escrava. A espontaneidade do carnaval, de Iemanjá e da capoeira, formados com base na

cultura africana, foi trazida para o Brasil e se mesclou com a obediência como princípio

19

Um ditado no Brasil que descreve "Aos inimigos, a lei. Aos amigos, tudo" é utilizado por Roberto DaMatta

(1997a, p. 217) para ilustrar a duplicidade do código de relações pessoais no Brasil. O autor descreve que é

comum a permissividade para burlar a lei quando se trata de alguém com quem se tem íntima relação: amigo,

parente, colega de atividade, enfim, qualquer um que se conheça e se tenha estima. 20

Assim como o triângulos de etnias é considerado equilátero, o de heróis também pode sê-lo. DaMatta (1997a)

diz que o três heróis brasileiros são decorrentes dos três principais grupos étnicos que formaram o Brasil. Ou

seja, os heróis também se apresentam de forma complementar e com mesmo peso nas suas contribuições; cada

um representa um tipo social indispensável no Brasil.

Page 28: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

27

católico venerado pelos portugueses. Há também a esperança indígena de encontrar Maíra

mais o seu desencantamento com este mundo.

Todos nós, brasileiros, somos carne daqueles pretos e índios

supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa

que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se

conjugaram para fazer de nós a gente sofrida e sentida que somos e a

gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de

escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da

marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da

dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício

da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças

convertidas em pasto de nossa fúria (RIBEIRO, 1995, p. 120).

Para explicar a compilação destes dramas em um só povo, há que se atribuir à sociedade

brasileira a característica "relacional". Não só em seus dramas, mas em seus comportamentos,

filosofias, atitudes e tradições - tudo que se relacione à sua identidade. DaMatta (1997b, p. 71)

diz que é através da relação que são possíveis de conviver "dimensões e esferas da vida cujos

valores são diferentes, embora complementares entre si". Além de ser "relacional", o Brasil

também é descrito pelo antropólogo como heterogêneo, desigual, inclusivo, complementar e

hierarquizado.

A heterogeneidade dos grupos étnicos, por exemplo, teria gerado uma associação entre eles de

forma complementar. Desta forma, o "mulato"21

e o "mestiço" são glorificados pelo brasileiro.

Ele tem orgulho desta mistura e acaba a considerando "uma síntese perfeita do melhor que

pode existir no negro, no branco e no índio" (DAMATTA, 1986, p. 40). Esta associação

demonstra que o brasileiro é um povo que associa os diversos modos de apresentação do seu

ambíguo.

Por relacionar triplos comportamentos sobre o mesmo aspecto, também teriam ficado

impressões quanto ao modo de ser e viver. A personalidade brasileira é delineada por

Holanda (1978). Socialmente, é definida como não individual; sua religião é humana e

terrena; sua cultura, apegada aos valores ligados à família; possui natureza emotiva e tem

aversão à monotonia. Na justiça, prevalece a indiferença à lei geral; e, politicamente, tem

intolerância a sistemas exigentes e disciplinadores; enquanto no trabalho, busca a sua própria

satisfação.

1.3.2 "Caxias", "malandros" e "renunciadores"

21

A palavra mulato deriva do animal mula, como uma associação racista à miscigenação. A mula é híbrida

porque é resultado do "cruzamento entre tipos genéticos altamente diferenciados" (DAMATTA, 1986, p. 39).

Page 29: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

28

Roberto DaMatta (1997a) traz um triângulo de heróis brasileiros, formados no sofrimento

ligado a cada um dos grupos étnicos para ilustrar uma idealização, espelhando também uma

vida cotidiana. Não são heróis distantes, com superpoderes ou "endeusificados". Os heróis

brasileiros são como as pessoas que os imaginam.

Eles não vêm para salvar o mundo, nem são modelos a serem seguidos em nossa sociedade,

como os são os heróis norte-americanos.22

Os heróis brasileiros espelham a realidade social e

mostram formas de lidar com o cotidiano. São tão possíveis de se alcançar e de até mesmo se

transformar em um deles como os santos projetados pela mesma sociedade.23

DaMatta (1997a, p. 257) entende que no Brasil "o herói deve sempre ser um pouco trágico

para ser interessante". Desta forma, o herói brasileiro como personagem sempre começa pobre

e termina ascendido socialmente. Embebido de esperança na sua trajetória, o herói reflete o

povo brasileiro com seus anseios sociais. É principalmente o caráter moral de merecimento do

herói que determina este fim. O autor considera que nas sociedades hierarquizantes em geral

...a trajetória do herói segue sempre a mesma curvatura da sociedade

que engendra a dramatização, já que, em ambos os casos, deve-se ser

o que ainda não se é, o aceno do futuro aberto, rico e grandioso se

constituindo no ponto crucial de todas as reviravoltas e tragédias que

produzimos em nossas vidas, com sua vida sendo definida por meio de

uma trajetória tortuosa, cheia de peripécias e com desmascaramentos

(...) (DAMATTA, 1997a, p. 258).

Ao apresentar cada herói brasileiro que compõe o triângulo, DaMatta (1997a) associa um

comportamento típico: atitude "caxias",24

jeito "malandro" ou "renúncia". Estes estereótipos

foram construídos pelo antropólogo agregando atitudes e comportamentos típicos dos

brasileiros e extremados em duas pontas distintas: "caxias" e "malandro". Situados como

perfis que possuem espaço típico de atuação - o "caxias" na "rua" e o "malandro" em "casa" -,

surgiu a necessidade de pensar naquele que não se sente à vontade em nenhum destes dois

22

Adriano Beiras et al. (2006, p. 65) apresentam os heróis de quadrinhos norte americanos como modelos de

homem na sociedade: com ideal de justiça, "corpos que salvam o mundo" e atitudes de coragem. Em um

destaque feito através da musculosidade de seus corpos e atitudes protetoras apresentadas como benéficas à

sociedade, também estão presentes metáforas de relações sociais hierárquicas. 23

Eliane Tânia Martins Freitas (2000, p.198) aborda em artigo a existência no Brasil de "santos precários,

incompletos". Ao apresentar dois bandidos sociais santificados no estado de Rio Grande do Norte, a autora diz

que a vantagem que o brasileiro vê nesta santificação é que os santos são mais humanos, próximos e vulneráveis

às negociações (entre preces e promessas). 24

A denominação "caxias" é dada em homenagem ao duque de Caxias e "demonstra o poder do domínio

uniformizado e regular do qual saiu para ganhar popularidade numa sociedade também fascinada pela ordem e

hierarquia" (DAMATTA, 1997a, p. 264).

Page 30: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

29

lugares. A figura do "renunciador" tem seu meio para se exercer em "outro mundo", distinto

da "casa" e da "rua", e frequentemente ligado a questões espirituais (DAMATTA, 1997b).25

O "malandro" é marcado pelo seu comportamento frente às adversidades da vida. É um

personagem que tem barreiras sociais a serem vencidas e o faz com atitudes que burlam a lei.

Ele usa de simpatia e apela ao parentesco, amizade ou qualquer outro laço social que produza

afeição e identificação com aquele com o qual se relaciona. Para este fim, o instrumento

utilizado é o "jeitinho" (DAMATTA, 1986).

Este comportamento do "malandro" advém da relação que o personagem faz entre o

tradicionalismo e a modernidade social. À tradição, estão ligadas as relações sociais como

formas de lidar com situações impostas pela lei ou pela moralidade. A justiça e a moral dizem

respeito à moderna forma de imposição de papéis sociais. Para DaMatta (1986), o brasileiro

opta por ligar estas duas pontas, do moderno e do tradicional, criando um comportamento

intermediário: a "malandragem". O resultado é uma mediação entre o que deveria ser

aplicável pelas leis e a influência das relações pessoais.

O jeito é um modo e um estilo de realizar. (...) É, sobretudo, um modo

simpático, desesperado ou humano de relacionar o impessoal com o

pessoal. (...). A verdade é que a invocação da relação pessoal, da

regionalidade, do gosto, da religião e de outros fatores externos àquela

situação poderá provocar uma resolução satisfatória ou menos injusta.

Essa é a forma típica do 'jeitinho' e há pessoas especialistas nela

(DAMATTA, 1986, p. 99-100).

É justamente esta mediação descrita que se constitui no dilema dos brasileiros. Ao lidar com o

tradicional e o moderno, a ordem e a desordem, as leis e as relações pessoais, a "pessoa" e o

"indivíduo",26

ou ainda com o branco e o negro, a escolha é sempre relacionar ambas as partes

(DAMATTA, 1997a). Ao fazer uma equação com estes dois extremos do dilema, o

intermediário surge e é amplamente utilizado pelo "malandro". Devido à mediação, este

personagem pode ser considerado um representante legítimo da sociedade brasileira.

25

Seria, portanto, na "casa" que o "malandro" tem o seu ambiente propício aos seus comportamentos típicos; o

"caxias", na "rua". O "outro mundo" é um espaço de significações criado pelo autor para designar uma nova

realidade proposta pelo personagem do "renunciador"; pode também fazer menção à vida espiritual,

frequentemente associada a este perfil (1997b). 26

Roberto DaMatta (1997a) faz a distinção entre estas duas unidades. Para o autor, o "indivíduo" é uma noção

moderna, no qual se aplica a lei geral; enquanto define "pessoa" como posição social. Essa necessita de uma

relação pessoal e uma conscientização do eu para passar a existir.

Page 31: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

30

Na PESB (Pesquisa Social Brasileira) realizada em 2002 pelo cientista político Alberto Carlos

Almeida (2007), foi demonstrado que o "jeitinho" é praticado pelos "inferiores estruturais".27

No entanto, a explicação que o cientista considera mais prudente é a baixa escolaridade desta

camada social.

Apesar desta consideração, na PESB de 2002 também foi demonstrado que pessoas com

escolaridade alta já utilizaram esta forma de navegação social ao menos uma vez na vida. A

aceitação social desta fórmula - do "jeitinho" - é de meio a meio na sociedade brasileira: 50%

consideraram o seu uso errado e 50% o consideraram certo.

Existe, entretanto, outra ferramenta utilizada pelos "malandros" e que tem seu uso associado

aos "inferiores estruturais". O rito "Você sabe com quem está falando?" é invocado nas

mesmas situações que o "jeitinho". Mas o cunho autoritário deste rito se opõe à simpática

forma persuasiva da "malandragem".28

Almeida (2007) encontrou achados em pesquisas de opinião pública que comprovam a teoria

de DaMatta (1997a). A PESB de 2002 trouxe o resultado: "quanto mais hierárquica, mais

autoritária uma pessoa é" (ALMEIDA, 2007, p. 93). As pessoas com mais autoritarismo

segundo a pesquisa são os considerados "inferiores estruturais" por DaMatta (1986): não

moram em capitais, habitam nordeste e centro-oeste, são as mulheres, os mais velhos, quem

não faz parte da PEA (População Economicamente Ativa) e os que possuem escolaridade

baixa.

No extremo oposto do "malandro", está o "caxias". A leitura que faz do mundo é a de que leis,

normas e decretos devem vigorar; preza a hierarquia para a manutenção da ordem e dos

papéis sociais. Este perfil se relaciona às vestimentas que uniformizam, ao comportamento

exterior ordenado e a formas fixas de conduta calcadas na moral. Nomeações prestigiosas,

medalhas e reverências também são de importância para o "caxias" (DAMATTA, 1997a).

A principal diferença entre estes dois perfis de heróis apresentados é como se colocam com

relação à ordem moral. O "caxias" tenta mantê-la, enquanto o "malandro", se utiliza de

"jeitinhos" para burlá-la. O terceiro herói surge na negação desta ordem: ele não quer mantê-

27

Termo cunhado por DaMatta (1997a) para situar as pessoas que sofrem de preconceito social ao reivindicar

seus direitos. Elas consideram que não possuem poder para impor uma gradação vertical de posições sociais e

acabam sofrendo essa imposição. Geralmente, são elas que sofrem perante as decisões políticas. Essa pessoas

formam a grande massa, o "povo". 28

Para DaMatta (1997a), o rito demonstra claramente os preconceitos brasileiros que surgiram ainda na época da

escravidão. Nestes tempos, era necessário o estabelecimento de uma ordem que marcasse as diferenças.

Page 32: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

31

la, nem se utilizar do "jeitinho" para burlá-la. DaMatta (1997a) apresenta o "renunciador"

como um personagem com desejo de criar outra realidade, assumindo um papel de

revolucionário na sociedade.29

Desse modo, o renunciador tem de se haver com suas vaidades e seu

orgulho; deve abandonar o mundo material, com suas riquezas e

explorações; deve ser altamente consistente, não podendo mais gozar

do privilégio da inconsistência entre o ser, o falar e o viver. Tem,

ainda, de viver para o seu grupo, deixando de lado seus interesses

egoísticos, criando - ao contrário - um imenso espaço externo, onde

deverá implementar as regras que inventa (DAMATTA, 1997a, p.

266-267).

Além da relação com os espaços sociais - "casa", "rua" e "outro mundo" -, DaMatta (1997a)

associa cada perfil de herói a uma festa típica brasileira. Os "malandros" são os foliões do

Carnaval, com atitudes pitorescas e com a visão do mundo como uma grande festa. As

paradas militares são o evento preferido dos "caxias"; esta festa da ordem possui uniformes,

armas, hierarquização militar com clara determinação dos papéis sociais, reverências e

honrarias. Aos "renunciadores" estão ligadas as procissões; festas de igreja veneram santos

que, como os "renunciadores", fogem da sociedade para concentrar suas energias em um

"outro mundo".

Mas, se cada um destes heróis exagerar na firmação de uma identidade ligada a estes perfis,

pode haver uma transfiguração nestas representações. Se o "caxias" for um seguidor das leis

muito fiel, pode demonstrar ingenuidade, se transformando em "otário", vítima preferida dos

"malandros". Esses podem utilizar o "jeitinho" como forma de ganhar a vida, passando da

"malandragem" à desonestidade, virando "bandidos sociais". Os "renunciadores", ao evitar

terminantemente o sistema, podem se afastar demais dele e se marginalizarem, também se

transformando em "bandidos". Em níveis de gradação, DaMatta (1997a) apresenta as

transfigurações destes perfis:

Pode-se então dizer que o risco do caxias é entrar totalmente na ordem

e, reificando-a, perder a consciência de que leis, atos e decretos foram

realizados num certo ponto de um calendário histórico (...). Mas, à

medida que deixamos essa posição dentro da ordem, ou melhor, a

posição na qual somos definidos pelo exterior, por meio de regras

gerais e plenamente visíveis, começamos a virar malandros. Se

29

É importante observar que esta é a função na qual se encontra o "renunciador" na sociedade brasileira como

um todo: a esperança de mudança, de revolução. Mas quando este perfil é observado em meios sociais que

formam uma sociedade local, como em empresas - públicas ou privadas - o "renunciador" assume um

comportamento oposto ao do "conciliador". O doutor em Ciências da Comunicação João José Azevedo Curvello

(1998) define o "renunciador" destes locais como um funcionário que se aposenta, se "encosta", desiste e trai a

confiança dos colegas.

Page 33: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

32

caminhamos um pouco mais, dependendo dos motivos que nos

conduzem para fora, viramos bandidos ou renunciadores

(DAMATTA, 1997a, p. 270).

Os aspectos destes três perfis na sociedade brasileira se observam quando uma pessoa que

possui características de identificação com o "malandro" - que tem seu espaço de atuação em

"casa" - se comporta desta maneira na "rua". Ao se apresentar com atitudes "caxias" - as quais

têm seu lugar na "rua" - em "casa", a pessoa é vista com este estereótipo. O "renunciador"

também pode ser visto como uma figura caricata: um revolucionário ao extremo ou um

"beato". Isso ocorre quando ele apresenta suas ideias de renúncia às questões pessoais ou às

de ordem em "casa" ou na "rua", longe da igreja ou de um "outro mundo" que ele próprio

tenha criado para estas expressões (DAMATTA, 1997b).

Tais representações são encontradas na mídia. Nela, se notam figuras heroicas brasileiras,

como na literatura. A necessidade de se enxergar em personagens explica serem os heróis

desta sociedade, não uma idealização, mas o seu reflexo. Talvez seja uma herança relacionada

ainda àqueles primeiros brasileiros que eram fruto do envolvimento entre portugueses e

índios. O brasileiro ainda hoje pode carregar a necessidade de se identificar como povo.30

E como "não há domínio da vida contemporânea que não esteja, de certo modo, embebido na

experiência tecnológica", o pesquisador em Comunicação Erick Felinto (2006, p. 2) considera

o ambiente online "uma outra expressão para designar nossa complexa e intrigante pós-

modernidade". Portanto, a forma com que o brasileiro se mostra na internet dá pistas sobre

qual estereótipo de herói o representa melhor. Esta representação de si ocorre em um espaço

de atuação, chamado ciberespaço.

2 REPRESENTAÇÕES NAS REDES SOCIAIS DO CIBERESPAÇO

No Brasil, a aceitação do ciberespaço como campo de atuação é alta. O acesso à internet está

crescendo, e o computador, com todas suas possibilidades, já faz parte da vida cotidiana

brasileira. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram em

30

Chamados de "brasilíndios" ou "mamelucos" por Darcy Ribeiro (1995), os filhos de pai português e mãe índia

sofriam a rejeição dos pais portugueses, que os viam como "impuros filhos da terra". Já as mães índias os

rejeitavam porque na concepção indígena "a mulher é um simples saco em que o macho deposita sua semente.

Quem nasce é filho do pai e não da mãe..." (RIBEIRO, 1995, p. 108). Desta forma, o autor explica que a estes

primeiros brasileiros restou se enxergarem como um povo novo, devido à sua carência de identificação.

Page 34: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

33

pesquisa realizada em 2005 que menos de um quarto da população brasileira, com dez anos

ou mais, tinha acesso à internet - apenas 20,9% de brasileiros. Em 2011, nova pesquisa foi

feita31

e constatou-se que o acesso à internet no país chegou a 46,5% da população - um

aumento de 143% entre 2005 e 2011.32

Ou seja, eram 31,9 milhões de internautas brasileiros

em 2005 e este número cresceu para 77,7 milhões no ano de 2011 (IBGE, 2013).

A expansão do acesso à internet começou no período entre 2001 e 200533

. Quando comparada

à aquisição dos outros bens domésticos duráveis, o computador demonstrou os maiores

crescimentos no período. Igual resultado se repetiu na análise feita entre 2005 e 2011. Entre

estes anos, a posse de um computador com internet cresceu 9,2 pontos percentuais, o maior

crescimento de consumo dentre os bens duráveis avaliados no Brasil (IBGE, 2013).

Dentre as novidades trazidas pela internet ao Brasil, estão os sites de redes sociais34

. Uma

pesquisa internacional sobre hábitos de leitura mostrou que estes sites chegaram a 89% de

popularidade no Brasil no ano de 2011 (PEW RESERACH CENTER, 2012) no estudo, o

Facebook se apresentou como o site de redes mais popular.35

2.1 A sociabilidade mediada pelo computador

A principal distinção entre os sites de redes sociais e os que são focados na informação é

interação que permitem. Raquel Recuero (2011) - jornalista e doutora em Comunicação e

Informação - observa que outras plataformas de informação na internet conectam apenas

computadores, enquanto os sites de redes sociais também ligam pessoas. Mas, como diferença

com relação às outras mídias, as redes sociais na internet inauguram uma nova configuração

de sociabilidade. Três formas são elencadas pelo antropólogo Jonatas Dornelles (2008). A

primeira seria a da comunicação presencial, marcada pelo compartilhamento dos mesmos

tempo e espaço pelos interagentes. A segunda, dos chats, traz a coincidência, ainda existente,

entre tempo e espaço de interação para as duas pessoas, sendo a mediação tecnológica o

diferencial na comunicação.

31

Esta é foi a última pesquisa feita sobre o tema, publicada pelo IBGE em 2013. Os dados para a pesquisa foram

coletados por visita a 146 mil domicílios e entrevista com 359 mil pessoas no Brasil em 2011 (IBGE, 2013). 32

Este resultado é expressivo em comparação ao crescimento populacional no mesmo período, que foi de 9,7%. 33

O resultado desta expansão foi refletido na pesquisa mundial do Pew Institute, realizado em 2007: o Brasil

ficou em terceiro lugar no ranking dos países que mais usam computador no mundo (DORNELLES, 2008). 34

São chamados apenas de "redes sociais" pelo senso comum, mas Raquel Recuero (2011) esclarece que os sites

apenas oferecem a oportunidade da formação de redes de sociabilidade neles: são plataformas em que se formam

as redes de relacionamentos entre as pessoas enquanto atores sociais no ciberespaço. 35

O México também demonstrou conferir um dos mais altos índices de popularidade aos sites de redes sociais -

88% - com relação aos outros países da América Latina, elegendo o Facebook como o site de redes mais

popular.

Page 35: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

34

Os sites de redes sociais, além da comunicação mediada pelo computador, possibilitam

variantes em tempo e espaço, inaugurando a terceira forma de sociabilidade. Nos sites que

formam redes, a reciprocidade na comunicação não precisa existir ao mesmo tempo - pode-se

deixar um recado e o receptor responder em um outro momento, pois já existe uma rede de

relacionamento formada. Além disso, o espaço não é privativo da conversa entre estes dois.

Ao ser mostrado na página do receptor, outras pessoas podem ter acesso à conversa e até

interagir. Esta terceira forma de sociabilidade foi inaugurada no Brasil pelo site Orkut,

voltado para os relacionamentos através da formação de redes (DORNELLES, 2008).

A vida social teria se tornado mais ativa e estimulante com esta rede social. Há uma

explicação do grande sucesso de inserção dos brasileiros no Orkut que associa a prática à

imitação dos países desenvolvidos (DORNELLES, 2008).36

Mas em "comunidades do Orkut"

foi observado que os próprios brasileiros associam o fato de terem aderido ao site às

características de si como povo, que consideram ser "alegre" e "amigável" (FRAGOSO,

2006).

Sendo motivados pela imitação ou pela identificação, a sociabilidade mediada pelo

computador - dotada de possibilidades de interação pelas ferramentas do Orkut - foi

apropriada pelos brasileiros. E não só a quantidade desses, mas também a rápida aderência à

rede social online pelo povo brasileiro tem expressões consideráveis: em janeiro de 2004

começaram a ingressar no Orkut, e já eram 4,4 milhões de internautas brasileiros a possuir um

perfil - uma conta - no site em maio de 2005. Este número, também decorrente da rápida

expansão da tecnologia digital no Brasil (como já expresso anteriormente), chegou a

representar 71,08% de toda a "comunidade" do Orkut (MORAIS e ROCHA, 2005). A

"invasão" nacional levou este site de rede social - criado nos Estados Unidos - a ser chamado

de brasileiro (RECUERO, 2011, p. 178).

Ainda em 2008, Dornelles (2008) previa que o Orkut poderia "acabar" e dar lugar a novas

plataformas de interação. Hoje, outro site de rede social se encontra adotado pelos brasileiros.

O Facebook já é o site mais acessado do Brasil (COMSCORE, 2012). Este e outros sites

chamados de "redes sociais" são focados no conteúdo e nas funcionalidades propiciadas por

diversas ferramentas. Estas plataformas são orientadas a um contexto lúdico, promovendo

uma interação informal e recreativa (SANTANA et. al, 2009).

36

A realização das práticas propostas pelo sistema do Orkut teria como objetivo se tornar membro de uma

sociedade global e moderna, como o são os países desenvolvidos nos quais se espelham tecnologicamente os

brasileiros (DORNELLES, 2008).

Page 36: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

35

Por este motivo, ao ser requerida a inclusão digital, é levado em consideração o acesso às

redes sociais online. A importância que têm se deve a estes sites serem canais de comunicação

orientados à troca de experiências com outras comunidades e para a divulgação de eventos;

também por permitirem um maior alcance na divulgação de produtos e serviços37

, e ainda o

resgate da identidade cultural de grupos minoritários (SANTANA et. al, 2009).

Esta recuperação da cultura é possível porque a identidade, pessoal e de grupos, é expressa no

ciberespaço de forma similar à dos espaços presenciais. Ao avaliar o comportamento do

brasileiro na internet,38

Rogerio Schlegel (2009, p. 15) observou que não há "uma

diferenciação de sentido claro em relação aos não usuários". Embora na sociabilidade o

brasileiro possua um "perfil diferenciado" quanto aos países analisados no artigo - Argentina e

Chile -, suas opiniões no ciberespaço são "indiferenciadas" às apresentadas fora dele. Isso

permite considerar a transposição de comportamentos do meio presencial para o virtual. Faz-

se necessário assim o estudo dos aspectos socializantes no ciberespaço.

2.2 Uma forma contemporânea de se representar

A internet hoje é utilizada para pensar, escrever e comunicar (SIBILIA, 2008). Nas redes

sociais, o que se escreve e comunica decorre do que se passa na subjetividade interior. Por

este motivo, Paula Sibilia (2008), diz que o ciberespaço se transformou em um "palco de

confissões". Ao convidar para a interação através de ferramentas, as redes sociais também

fazem seus usuários se despirem de uma moral da intimidade. Se, antes, a prática da escrita

sobre si se concentrava nos diários, hoje, a confissão de subjetividades é feita no ambiente

online. A autora compara o autorrelato nas redes sociais aos que ocorriam nos antigos diários

íntimos. O ciberespaço teria reconfigurado a exibição de si: o que antes era privado passou à

exibição pública. E ao dar visibilidade ao "eu", é feita uma autoconstrução. O resultado é uma

nova configuração de si orientada ao espetáculo público de sua vida privada.

2.2.1 A confissão de si nos diários "éxtimos"

Nos antigos diários íntimos, a escrita de si era feita para firmar um "eu", pessoal, íntimo.

Hoje, este "eu" precisa ser visto por olhares alheios para existir. A explicação para a transição

está no fato de que antigamente a vida era coletiva. Portanto, era necessário se esquivar de

37

O mercado hoje também se utiliza das ferramentas das redes sociais online, como Facebook, Hi5, My Space,

Orkut, entre outras (SANTANA et. al, 2009). 38

O estudo em questão foi direcionado à compreensão do impacto da internet na política brasileira.

Page 37: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

36

olhares alheios e praticar a introspecção. Com a revolução industrial, e o consequente avanço

do capitalismo, as sociedades passaram a cultivar práticas individualistas. O mercado dos

meios de comunicação propiciou que sua própria presença fosse mais constante nas vidas das

pessoas. Os meios de massa passaram então a serem cada vez mais individuais. Essa

transformação do consumo coletivo para o individual se refletiu na vida social. Devido às

práticas, que antes eram coletivas, serem cada vez mais individuais, a autorreflexão, que antes

era individual, passou a ter necessidade de se exibir para a coletividade (SIBILIA, 2008).

A autobiografia deixou então de se restringir a um gênero literário para fazer parte do

cotidiano das pessoas. Sibilia (2008) conta que a ficção deixou de ser interessante; e o que

realmente passou a despertar a atenção foram os relatos verdadeiros: uma "sede de

veracidade" invadiu as sociedades contemporâneas e fez aumentar o consumo por vidas

alheias. Este mercado é alimentado por um "eu" que - antes era firmado com a escrita nos

diários, decorrente de uma autorreflexão - hoje requer visibilidade para existir. Aline Soares

Lima (2009) observa o lado positivo dessa transformação de local do autorrelato.

O contexto da cibercultura torna as condições para produção e

circulação de uma maior variedade de discursos mais acessíveis e traz

à tona novos ambientes de sociabilidade e uma modalidade de

construção de "narrativas do eu", que torna possível não somente

novas formas de representação, mas, sobretudo, torna visíveis

representações que nos permitem entrar em contato com experiências

de vida, histórias e pessoalidades, proporcionando também a

possibilidade de questionar e relatar posições e identidades

hegemônicas desde outros lugares. (LIMA, 2009, p. 6)

A sociabilidade praticada no ciberespaço também marca uma identidade nos espaços. Uma

sociedade que ali se encontra passa a tecer relações entre os seus membros de modo a formar

uma identidade coletiva. Dornelles (2008) acredita que é na coletividade que se manifesta a

identidade de um povo. E ainda que o ciberespaço seja um ambiente destinado às

representações individuais, a coletividade se manifesta na agregação de interesses comuns.

Estes interesses se apresentam durante a construção da individualidade. Quando se faz um

esforço para formar um "eu" único, são mostrados traços de identificação com a coletividade.

Essa manifestação representativa dos sujeitos e da coletividade no ciberespaço é considerada

por Dornelles (2008) idêntica à forma contemporânea de se representar presencialmente. Na

tese "Vida na rede: uma análise antropológica da virtualidade" (2008), o autor analisa o site

de relacionamentos Orkut e observa que não existe mais diferenciação entre o que é praticado

no site e no cotidiano das pessoas. Tanto Dornelles quanto Sibilia atribuem esta remoção da

Page 38: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

37

"máscara da civilidade" ao "declínio do homem público", teorizado pelo sociólogo americano

Richard Sennet (1988, apud DORNELLES, 2008, e 1999, SIBILIA, 2008). O autor fez essa

observação nos anos setenta do século passado, antes da massificação pelo computador.

Segundo ele, ainda que estivessem em ambientes públicos, as pessoas já manifestavam suas

individualidades como "seres privados", igual ao que ocorre no ciberespaço hoje em dia.

Mas essa expressão do cotidiano realizada no ambiente virtual necessita de uma

transformação do "eu" para ser veiculada. Se, antes, a ficção recorria à realidade para se

tornar mais interessante, agora ocorre o caminho inverso. Sibilia (2008) diz que tem que haver

uma ficcionalização da realidade para que ela se torne aceitável na virtualidade. A veracidade

do que é publicado precisa de aspectos ficcionais para ser atraente. Ou seja, o "eu" real vira

um personagem para se apresentar39

no ciberespaço.

Pela apresentação de si sofrer mudanças quando se mostra em diferentes espaços, "uma

consideração habitual, quando se examinam esses estranhos costumes novos, é que os sujeitos

nele envolvidos 'mentem' ao narrar suas vidas na web" (SIBILIA, 2008, p. 29). Mas o

intercâmbio de representações do real e do virtual acontece nas duas vias. Também ocorre que

"a sociedade eleva o status do virtual (ciberespaço) a algo real" (DORNELLES, 2008, p. 286).

Por serem novos modelos de diários íntimos na construção de "modos de ser" e também

serem publicados, Sibilia (2008) chama os sites de redes sociais de "diários éxtimos". A

apresentação de si realizada neles é por meio de um personagem. Esse não precisa "ser" e nem

"ter", mas apenas "parecer".40

A lógica das aparências para a expressão das subjetividades se

consuma na visibilidade. Desta forma, o personagem visível contrasta com o "eu" real pela

ausência de solidão daquele. Como "eu" real, o sujeito pode ter momentos de solidão e de

introspecção com suas subjetividades. Enquanto o personagem precisa estar à mostra para

existir; para isso, é necessária a aprovação de "outros".

Mas, para além de uma mera aprovação social, há uma significação nesta exibição. Quando

surgiram os diários íntimos tradicionais, o objetivo era conservar "o que se é" e "o que se foi".

Na conformação atual, os diários cibernéticos se proliferam pela "ânsia de se conservar algo

próprio que se considera valioso, mas que inevitavelmente irá escapar no frenesi da

aceleração contemporânea" (SIBILIA, 2008, p. 135).

39

Para a autora, esta representação também é uma forma de apresentação do "eu" interiorizado. 40

Quando a interioridade psicológica era o campo das subjetividades, era preciso apenas "ser". Com a

proliferação da sociedade de consumo, o que era mais importante era "ter". Hoje, com "as morais da

visibilidade" em voga, é necessário "aparecer" para realmente existir. (SIBILIA, 2008).

Page 39: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

38

Ao narrar em primeira pessoa, é permitido também que o "eu" fale do que lhe incomoda,

como um desabafo. Ocorre um distanciamento de tudo o que atormenta aquele "eu" real e o

permite reclamar do que o insatisfaz e demonstrar opiniões que antes guardava para seu

interior pelas morais sociais, enfim, permite "mostrar-se como for". Sibilia (2008) diz que é

como se o "eu" assumisse uma "identidade de férias".

Por mostrar a intimidade e as subjetividades, há uma espetacularização do "eu". Ao tornar

visível o cotidiano e a banalidade, são criados espetáculos da vida privada. E o "eu" é um

personagem no qual o "outro" se espelha para ser alguém. Paradoxalmente, a cotidianidade

que é mostrada para o outro de uma forma espetacular tem o objetivo de dizer-lhe que se é

igual a ele, que não tem nada de extraordinário naquele "show do eu" (SIBILIA, 2008).

2.2.2 Autoconstrução: um espetáculo alterdirigido

As ferramentas das redes sociais estão cada vez mais voltadas a promover um espetáculo do

"eu" interior. Ao ser personalizado pelas ferramentas do ciberespaço, este "eu" se transforma

em personagem, passando a necessitar de uma aceitação social para existir . Esta aprovação se

dá pela interação. E ao fazê-la com as ferramentas disponibilizadas pelo site de redes sociais é

demonstrado mais a respeito de quem se "é" do que quando é realizado o preenchimento de

dados que se pretendem apresentar como perfil pessoal. Dornelles (2008) considera a escolha

das características para se representar uma forma passiva de construção. A forma ativa se dá

na interação, ao permitir que as escolhas individuais sejam voltadas aos interesses do "eu".

O sujeito virtual também se apresenta quando publica textos, imagens, sons e vídeos. Através

desta representação multimídia, narra as suas visões de mundo e de si mesmo. Mas também a

partir de referencialidades esta autorrepresentação é feita. O "outro" que se busca reproduzir é

o que está na mídia - chamado por essa de celebridade -, nas ruas ou nas instituições sociais.

Também pode ser um referencial quem está no próprio ciberespaço (DORNELLES, 2008).

A representação pela multimidiatização é considerada para Sibilia (2008) o polo objetivo das

marcas da oralidade. Nesta caracterização, o texto online se insere com todos os "fortes"

atributos que lhe conferem o ciberespaço. O tom coloquial e a transcrição da expressão como

se estivesse em uma conversa presencial são algumas marcas do texto. Em uma nova

linguagem, parâmetros particulares do ciberespaço são criados.

Sua feitura não se apoia em parâmetros tipicamente literários ou

letrados, nem de maneira explícita, nem tampouco implícita nas

entrelinhas ou no sentido do gesto escritural. Além disso, impera certo

Page 40: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

39

descuido com relação às formalidades da linguagem e às regras da

escrita. Mais propulsados pela perpétua pressa do que pela perfeição,

estes textos costumam ser breves. Abusam das abreviaturas, siglas,

acrônimos e emoticons. Às vezes juntam várias palavras eliminando

os espaços, enquanto ignoram os acentos ortográficos e os sinais de

pontuação, bem como todas as convenções referidas ao uso de

maiúsculas e minúsculas. O vocabulário também é limitado. Se

considerarmos ainda o fato de costumarem praticar uma ortografia

lastimosa e uma sintaxe relaxada, em casos extremos, os textos deste

tipo podem beirar os limites do incompreensível - pelo menos para

aqueles que não foram treinados na peculiar alfabetização do

ciberespaço. (SIBILIA, 2008, p. 38)

Esta variedade estilística demonstra que o sujeito virtual não só se confessa, mas também se

constrói pelas palavras. Sibilia (2008, p. 33) entende que "é preciso escrever para ser, além de

ser para escrever" e que não só palavras, mas também imagens têm a capacidade de realizar a

existência. Elas compõem um universo próprio de subjetividades utilizando a linguagem para

lhes conferir consistência.

Atualmente, a narrativa é consumida de forma interativa. Em uma relação com os outros e

com o mundo, o ser é construído. Ele se faz pela narrativa que, além de apresentá-lo, o

realiza. E como os sujeitos estão cada vez mais visuais do que verbais, o consumo de imagens

é alto no ciberespaço. Também os vídeos - imagens em sincronia com o som - têm se tornado

mais atraentes do que longos textos escritos (SIBILIA, 2008).

O "eu" mostra preferência pela representação multimídia porque se realiza na compreensão

imediata - na velocidade do instantâneo -, o que é permitido com fotos e vídeos (SIBILIA,

2008). Personalizados, estes arquivos trazem uma configuração alterdirigida de si, o "eu"

exteriorizado como personagem. Desta forma, tanto pelo consumo quanto pela exposição

multimídia, a construção do personagem é resultado do polo objetivo das marcas da oralidade.

Sibilia (2008) também expõe a existência de um polo subjetivo no ciberespaço, constituído

pela junção do autor com o narrador e o personagem do relato, ou seja, o "eu" com esta

tríplice função.41

A presença dos três papéis permite que a "realidade inventada" na

autodescrição se pareça com a ficção. E se assemelhar a este gênero é espetacularizar, no

caso, o "eu".

41

A autora considera fundamental para uma biografia - tanto literária quanto qualquer escrita de si, como nos

sites de redes sociais - que exista um pacto de leitura entre quem a escreveu e quem a lê. O leitor deve acreditar

que o autor, o narrador e o personagem da história sejam a mesma pessoa. E só assim é que uma obra deve ser

considerada uma biografia.

Page 41: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

40

Por este motivo, a vida hoje é alterdirigida quando esse se apresenta na mídia e equacionada a

um filme por Sibilia (2008). Tudo no cotidiano tem que ser realizado como se o fizesse em

uma produção de ficção - tem que ser espetacular. E por ser a interioridade psicológica uma

construção histórica, ela acompanha os movimentos sociais, políticos e econômicos da

sociedade na qual está inserida. Como a representação de si é feita nos canais midiáticos, são

eles que retratam a vida - globalizada e espetacularizada - nas sociedades ocidentais.

Para Douglas Kellner (MORAIS, 2006, p. 134), o espetáculo está sempre presente na vida

político-social e hoje ele invade "todos os campos da experiência, desde a economia e a

cultura até a vida cotidiana, a política e a guerra". Esta expansão generalizada é marcada pela

transição de exibição, das outras mídias para o ciberespaço. Pelas características deste campo

comunicacional, ocorre uma nova configuração de formas culturais, relações sociais e tipos de

experiência.

Devido a estas novas formas, a personalidade também busca se espetacularizar, recorrendo ao

"glamour da mídia". A ficcionalização é feita ao se construir com os padrões dos personagens

midiáticos. Esta construção é de tal importância para a sociedade contemporânea que "se

alguém não vê alguma coisa é bem provável que essa coisa não exista" (SIBILIA, 2008, p.

112).

Também a lógica da velocidade e do instantâneo presente no ciberespaço se reflete nos

campos social, afetivo e cotidiano contemporâneos. Mas é interessante observar que mesmo

"sem tempo" é realizada a confissão nos "diários éxtimos". Trata-se de constância e

perseverança para passar a existir, ou só continuar existindo. Assim, a expressão de si é cada

vez mais praticada no Brasil, não só no ciberespaço. Notou-se que ela fez aumentar a

quantidade de biografias literárias publicadas. Hoje, qualquer pessoa, não só pode, "deve"

falar,42

mesmo que não tenha nada, "no sentido moderno", para dizer (SIBILIA, 2008).

Como "fazer falar" é uma das funções dos sites de redes sociais no ciberespaço, o tema destes

sites é sempre voltado à vida íntima. Ao comparar os blogs43

com os microblogs, Sibilia

(2008, p. 137) observa que a tendência é que os relatos de si em geral se tornem "cada vez

mais instantâneos, presentes, breves e explícitos": eles geralmente se voltam à resposta da

42

Esta obrigação à expressão, o "fazer falar", é considerada para Sibilia (2008) um tipo de censura, como a do

"fazer calar". Pois ninguém tem mais direito a se silenciar - se o fizer não é dotado de "existência". 43

Os blogs não são considerados sites de redes sociais por não explicitarem a formação de redes, embora elas se

constituam naqueles também (RECUERO, 2011).

Page 42: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

41

questão "O que você está fazendo neste momento?".44

Mas o Facebook atualmente vai além

do interesse nas práticas de seus usuários. A pergunta que faz atualmente é "No que você está

pensando?", o que mostra claro interesse nas subjetividades e em promover a relação delas

entre os usuários. Como conclui Dornelles (2008, p. 286), "o resultado é a interação

constante, ilimitada e ininterrupta de uma diversidade extremamente ampla de subjetividades

em contato constante".45

2.3 No Facebook, em busca do sucesso social

Em 2004, o sistema do Facebook foi lançado nos Estados Unidos, por Mark Zuckerberg46

,

com o nome the facebook. Sua função primordial era promover o entrosamento dos alunos

que saiam do Ensino Médio e ingressavam na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos

(SIBILIA, 2008). A versão corporativa do Facebook, similar a como se apresenta hoje, foi

lançada em 2006 (SANTANA, 2009). A plataforma se expandiu e chegou a todo o mundo.

Com ampla aceitação na América Latina, o acesso ao Facebook no Brasil levou a "quase 44

milhões de visitantes únicos em dezembro de 2012, 22% a mais que no ano anterior"

(COMSCORE, 2013).

O Facebook funciona como um site de redes sociais. Ele apresenta seus usuários em perfis e

comunidades. Mas apesar de ser voltado à "publicização" da vida privada, o site é percebido

como uma rede social mais privada do que as outras. Isso se deve à exposição do perfil de um

usuário, com dados relacionados à construção passiva do seu personagem, ser disponível

apenas para outros usuários que façam parte da sua rede (SIBILIA, 2008).

A escolha sobre com quem se relacionar é uma das formas de demonstrar que o ciberespaço

engloba aspectos sociais da vida do usuário. Desta forma, é que Dornelles (2008, p. 164-165)

faz a colocação de que "viver" conectado na internet passou "de um comportamento exclusivo

de maníacos por computadores para se tornar uma prática comum", cotidiana. O resultado

para a parcela da sociedade brasileira que incorpora o ciberespaço é um comportamento no

ambiente online como se estivesse na "rua", onde impera um código aberto "ao mercado, à

44

Pergunta antes feita pelo microblog Twitter aos seus usuários no espaço para publicação (SIBILIA, 2008);

atualmente, está o imperativo: "Publique um novo tweet..." (TWITTER). 45

Embora o objeto de análise de Dornelles (2008) seja o Orkut, a pesquisa se volta à vida social nas redes do

ciberespaço, o que permite relacionar seus achados a outros sites de redes sociais. 46

Quando ocorreu a ideia, a programação e o lançamento do sistema, Mark Zuckerberg era estudante da

Universidade de Harvard, para a qual desenvolveu a plataforma.

Page 43: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

42

história linear e ao progresso individualista" - comportamentos que são o oposto dos

apresentados em "casa"47

(DAMATTA, 1997b, p. 45).

Este cenário - individualista, negociante e que preza a linearidade das histórias contadas - é

palco da busca pelo sucesso social (DORNELLES, 2008). Em uma rede formada pelo

Facebook, é possível obter o sucesso social através dos mecanismos interativos. São esses

também que permitem a construção de relacionamentos com os outros usuários.

2.3.1 Os mecanismos de interação como extensões do ator social48

As relações sociais forjadas no ciberespaço são tais como as que se desenvolvem fora dele. As

exposições de comportamento são como ocorrem em um espaço público qualquer, com o

diferencial das possibilidades dadas pelas ferramentas. Essas permitem ampliar os limites de

ação dos atores sociais, contribuindo na busca de aspectos que levem à construção de uma

vida melhor, tanto real quanto virtual (DORNELLES, 2008).

O nível de sucesso da construção do "eu" e de sua vida nos sites de redes sociais pode ser

medido de forma quantitativa. Felinto (2006) considera que a informação apresentada

numericamente representa o valor supremo no ciberespaço. "Em outras palavras, a

cibercultura promoveu uma radical 'informatização' do mundo – uma visão na qual toda a

natureza, incluindo a subjetividade humana, pode ser compreendida como padrões

informacionais passíveis de digitalização em sistemas computadorizados" (FELINTO, 2006,

p.4).

Os medidores do sucesso e das relações no Facebook são as ferramentas "curtir", "comentar"

e "compartilhar". De maneira explícita, elas indicam um tipo de interação com o(s) outro(s)

usuário(s). Em estudo sobre as redes sociais do ciberespaço, Recuero (2011) apresenta dois

tipos de redes formadas por estes sites: as "redes de filiação" e as "redes emergenciais". Elas

representam diferentes formas de interação.

As redes de filiação demonstram um "sentimento de pertencimento". Estas redes são formadas

através de ações reativas, resultando em um efeito social (RECUERO, 2011). No Facebook,

ela está representada pelo "curtir". Esse pode ser acionado pelo ator social para se relacionar

47

Ao contrário da "rua", a "casa" é definida por DaMatta (1997b, p. 45) como "avessa à mudança e à história, à

economia, ao individualismo e ao progresso"; ela é detentora de uma ética familiar e hierarquizante, com "laços

de simpatia , lealdades pessoais, complementaridades, compensações e bondades (ou maldades!)". 48

Paráfrase do título dado por Marshall McLuhan à sua obra de 1974 - "Os meios de comunicação: como

extensões do homem" - que "mostra como os meios de comunicação de massa afetam profundamente a vida

física e mental do Homem" (GOOGLE BOOKS).

Page 44: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

43

com uma fan page49

que traz uma ideia, com uma empresa ou celebridade (representada por

uma fan page) ou ainda com os posts.50

Em todos os casos, o objetivo é dar "apoio social" à

ideia exposta. Para Orlando Neto (2012, p. 22), o "curtir" se trata de um "recurso que

evidencia a apreciação e aprovação do usuário que teve acesso a uma determinada informação

exposta por outro usuário ou uma comunidade". A ação de "adicionar um amigo" no

Facebook também pode ser considerada um meio de se "filiar", no caso, àquele ator social

expresso no site.51

Mas para não correr o risco de apenas "matematizar" as relações sociais, é que Alex Primo

(2007, p.2) aconselha "mergulhar" nestas redes, observando "qualitativamente os

microcenários". Esses são possíveis de analisar através das redes emergenciais. Elas são

construídas e reconstruídas para as trocas sociais. São formadas e representadas pelas

conversações em chats, comentários e recados (RECUERO, 2011). Ou seja, são os

"comentários" em posts, o "escreva algo...",52

- que pode formar uma rede se houver uma

resposta -, as "mensagens" e o "bate papo" do Facebook. Desses, apenas os "comentários" em

posts e os recados no "escreva algo..." têm a sua rede exposta.53

Ao "comentar" um post, o ator demonstra querer se comunicar com aquela ideia exposta, seja

para acrescentá-la ou refutá-la. Também pode demonstrar afinidade com o tema ali colocado.

Neto (2012, p. 22) considera o “comentar” uma "ação que dá espaço ao usuário para que este

expresse sua opinião, responda ou contribua com mais informações relevantes e relacionadas

à que foi publicada. Este ainda é o mecanismo que permite que o usuário interaja com outros

elementos de sua rede, fornecendo comentários e respostas às menções diretas aos indivíduos

envolvidos".

Sibilia (2008) acrescenta que é o "comentar" a ação que garante a espetacularização em si. Os

comentários demonstram que o olhar dos "outros" está voltado àquela publicação. Mas

embora forneça uma expressão a respeito daquela "obra", o que importa é o sujeito virtual que

a compôs.54

Apesar disso, o número de comentários conquistados ainda é relevante quanto ao

49

Forma com que são chamadas as comunidades no Facebook. 50

Denominação conferida às publicações realizadas no Facebook. 51

As redes de amizades também são consideradas redes de filiação por Recuero (2011). 52

No Facebook, quando o ator social visita um outro ator que faz parte da sua "rede de amizade" - representada

em rede de filiação -, aparece um campo para a comunicação explícita com ele - para deixar-lhe um recado. Este

campo tem o imperativo "escreva algo..." (FACEBOOK). 53

As "mensagens" e o "bate papo” não mostram as redes emergenciais publicamente, embora também as forme. 54

Esta consideração da autora parte da sua visão de que há atualmente um cenário de declínio de apreciação

quanto ao leitor e à obra. Ou seja, não importa o que esteja escrito ou quem leia. Só por criar, e publicar, o autor

Page 45: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

44

estudo estrutural da conversação. Recuero (2009) diz que a persistência nas interações

demonstra a reciprocidade dos sentimentos envolvidos na interação.

Mas a ferramenta que mostra de forma mais explícita o sentimento do ator interagente é o

"compartilhar". Ele representa a replicação de uma ideia no seu sentido literal, o que

realmente o ator social pensa - é como se repetisse aquela publicação com seu próprio perfil,

ou a dissesse com suas “próprias palavras”. Ao utilizar este recurso, o ator social tem ainda a

possibilidade de fazer um acréscimo à ideia replicada. Por este motivo, além de o

compartilhamento de um post decorrer de uma ação reativa, demonstrando pertencimento à

ideia e formando uma rede de filiação, ele também permite a expressão opinativa do ator

replicador, abrindo espaço à formação de uma rede emergencial e de uma epidemia social.

São as pequenas redes que favorecem a comunicação para o início de uma epidemia social,

que surge a partir de ideias e comportamentos aceitos e replicados (DORNELLES, 2008). E é

o "compartilhar" o recurso que "propaga a informação às conexões que, normalmente, não

teriam acesso à mesma" (NETO, 2012, p. 22). Esta replicação permite observar que através do

"compartilhar" são formados grupos por traços de identificação. Para Sibilia (2008), é através

dos sites de relacionamentos e do compartilhamento de vídeos que é mostrado o personagem

no ciberespaço.

De uma forma geral, as ferramentas que permitem "curtir", "comentar" e "compartilhar" no

Facebook são indicativos de “modos de ser” sociais. Elas mostram o impacto daquela

estrutura - visual, textual, sonora ou multimídia - na vida social de outro ator. Além disso,

estes recursos auxiliam a "entender a qualidade do laço que conecta os atores" (RECUERO,

2009).

2.3.2 Capital social, o saldo das relações

Ao quantificar as interações realizadas por estas ferramentas, tem-se os valores sociais e a

força das relações geradas no uso das ferramentas. Pode-se dizer que o apoio social é

demonstrado através do "curtir", a intimidade é gerada ao "comentar" e a informação é

dividida ao "compartilhar". Esses valores, relacionados às ferramentas descritas, são típicos

- que também é narrador e personagem do seu autorrelato - é que realmente importa, com sua essência e

aparência (SIBILIA, 2008).

Page 46: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

45

do capital social55

(PUTNAM, 2000, apud RECUERO, 2009). E "independente da forma de

análise utilizada, o conceito auxilia na compreensão daquilo que é construído entre os atores

da conversação" (RECUERO, 2009).

No Facebook, a quantificação dos processos envolvidos em alcançar os valores indica o

sucesso social do usuário. Quantificar se torna neste sistema um meio de agregar valores. É

importante salientar que a formação da quantidade se dá por processos de relacionamento

social no ciberespaço. Como há troca simbólica durante a sociabilidade, são gerados valores

de capital social.

Nas redes sociais, o capital social pode advir de uma relação - capital social relacional - ou de

uma relação acrescida de uma percepção - capital social relacional e cognitivo. O capital

social relacional é adquirido por uma soma de conexões; e o cognitivo, por uma soma de

conhecimento partilhado sobre os atores ou grupos sociais (BERTOLINI E BRAVO, 2004).

Recuero (2011) elenca os valores gerados por capital social nos sites de relacionamentos:

"popularidade", "reputação", "visibilidade" e "autoridade". Analisando o uso das ferramentas,

tem-se que muitos "curtir" geram "popularidade" e uma número elevado de

compartilhamentos dá mais "visibilidade" ao ator social.

A "reputação" é um valor de percepção gerado pelos outros atores - o que pensam a respeito

de um ator social; mas ela também pode ser construída intencionalmente pelo ator na forma

passiva - ao descrever suas próprias características, no perfil. Tanto a "reputação" quanto a

"autoridade" são observadas nas redes emergenciais. Nas conversações, pode ser mostrado o

que os outros pensam a respeito de um ator, ou seja, qual é a sua "reputação". Mas quando um

ator social é considerado um perito em um assunto específico, ele é uma "autoridade", pois

possui uma "reputação" direcionada.

Estes valores podem ser utilizados em duas dimensões: individual e coletiva. Os recursos do

capital social sempre são adquiridos em grupo, mas podem ser utilizados com fins

individuais. Quando usados por vários atores em um grupo, para benefício desse, o capital

social é coletivo. A relação social entre os detentores dos capitais individual e coletivo traz os

elementos como "recursos" a serem utilizados pelos atores sociais, ou seja, torna possível o

55

Capital Social é conceituado por Recuero (2011, p. 50) "como um conjunto de recursos de um determinado

grupo (...) que pode ser usufruído por todos os membros do grupo, ainda que apropriado individualmente, e que

está baseado na reciprocidade".

Page 47: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

46

usufruto dos valores. E é na dimensão coletiva que a reciprocidade das ações se torna

relevante - demonstra interesse mútuo, relação, interação (BERTOLINI e BRAVO, 2004).

Ao analisar uma dimensão coletiva e como os atores sociais se comportam nas relações do

meio, é possível observar o uso dos capitais sociais na construção do "eu" e da identidade

deste grupo. Assim é que as sociedades são analisadas nas redes sociais do ciberespaço.

Quando se verifica que os temas de uma comunidade virtual são debatidos e aceitos na

coletividade dentro e fora desta mídia, se tem um campo para estudos sociais.

2.4 A sociedade brasileira no "Fórum Chaves"

As análises pertinentes à sociedade brasileira partem das interações dos atores sociais com as

publicações da fan page do Facebook "Fórum Chaves". São mostrados os perfis sociais de

brasileiro, descritos por DaMatta (1997a), nos personagens da série Chaves apresentados pela

fan page, refletindo na atuação social dos atores que interagem com a página. Pois na cultura

contemporânea da autoconstrução por "ficcionalização", os personagens se mostram como "os

modelos mais admiráveis de 'modos de ser' e 'estilos de vida'" (SIBILIA, 2008, p. 249).

2.4.1 Chaves: do México para o Brasil, e da televisão para a internet

Os personagens do escritor mexicano Roberto Goméz Bolaños - conhecido como Chespirito56

- têm a função de divertir o público com o humor. A formação de um elenco que vestiria os

diversos personagens do escritor, ao longo de sua carreira, teve início em 1969. Neste ano, ele

foi convidado a inaugurar as transmissões do Canal 8 da televisão mexicana - atual Televisa.

Das várias esquetes que começou a escrever na época, Chaves57

foi uma das que se

destacou.58

O início de suas transmissões foi em 1971 (EDITORIAL TELEVISA, 2012) e

suas gravações foram até 1992 (KASCHNER, 2006). Mas foi em 1984 que Chaves teve sua

primeira exibição no Brasil, na antiga TVS - atual Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Em

1988, a série passou a ser transmitida em horário nobre. "No início dos anos 90, Chaves virou

mania entre crianças e adolescentes de todo o Brasil" (JOLY, THULER e FRANCO, 2005, p.

29).

56

O apelido "Chespirito" foi dado a Roberto Bolaños em 1958 quando escreveu seu primeiro roteiro para

cinema, do filme "Los Legionarios". Este título é uma comparação das habilidades de escrita de Bolaños com as

do escritor de teatro inglês William Shakespeare. 57

O nome original é "El Chavo del Ocho", mas chavo não é equivalente à tradução brasileira; em espanhol,

chavo é moleque, um menino que vive na rua (KASCHNER, 2006). 58

Outra série de repercussão do Chespirito no Brasil é "Chapolin Colorado" - originalmente, intitulado "El

Chapulín Colorado"

Page 48: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

47

A popularidade de Chaves se observa ainda hoje, na televisão e na internet. O Brasil possui o

maior número de sites sobre o programa, refletindo a quantidade dos fãs no país

(KASCHNER, 2006, p. 20). Esses no ciberespaço se autointitulam "chavesmaníacos". O

comunicador social Pablo Kaschner (2006, p. 134) descreve que os fãs estabelecem "um

vínculo afetivo e intelectual, são pessoas capazes de se instruir pelas atitudes dos personagens

presentes em tais programas e que acabam criando uma certa intimidade com os

personagens".

2.4.2 A maior comunidade de fãs de Chaves do ciberespaço

Dentre os sites referentes a Chaves no Brasil, está o blog Fórum Chaves. Este site foi criado

em fevereiro de 2009. Seu objetivo consiste em agrupar os fãs das séries criadas por

Chespirito para debatê-las. O blog reúne um conteúdo multimídia com episódios das séries,

histórico dos programas e dos episódios, entrevistas com os atores, atualidades e curiosidades

sobre os mesmos. Devido à multiplicidade de assuntos sobre programas e personagens, o blog

tem atualmente 18.884 cadastros, o maior número dentre os blogs dedicados ao mesmo tema.

Esta colocação dá ao "Fórum Chaves" o título de maior comunidade sobre o tema na América

do Sul e na internet, o que gera reconhecimento pelos atores das séries, da Televisa e do

SBT.59

A fan page do "Fórum Chaves" foi criada para representar o blog no Facebook e está em

quinto lugar - na quantidade de afiliações à página - com relação a outras sobre o tema. A

expressão de fãs nesta página permite observar uma rede exposta e visível das interações.

Quanto à rede de afiliação da fan page, tem-se que, de um total de 196.655 perfis pessoais que

aderiram à página, 192.702 possuem o Brasil como nacionalidade. Outros números de

expressão se observam. A quantidade de atores alcançada por meio das publicações60

é de

1.743.529; e o de atores envolvidos nas publicações61

, de 88.795. Estes números demonstram

a vivacidade da rede formada pela página e a expressividade da quantidade de nós que

possui.62

59

A titulação é uma autorreferência observada na descrição "sobre" a fan page. O reconhecimento perante os

atores e as emissoras de televisão foi descrito pela administração da página - consta no anexo "Entrevista 1". 60

O alcance das publicações se refere ao "número de pessoas que visualizaram suas publicações" em um período

próximo ao observado (FACEBOOK). 61

Indica o número de "pessoas que curtiram, comentaram ou compartilharam suas publicações" em um período

próximo ao observado (FACEBOOK). 62

Os dados expostos foram extraídos da fan page no dia 16 de outubro de 2013, entre os horários 15h30min e

16h30min - constam ilustrados nos anexos "Entrevista 2" e “Curtir fan page”.

Page 49: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

48

3 OS HERÓIS DE DAMATTA NOS PERSONAGENS DE BOLAÑOS

Em estudo sobre o comportamento dos fãs na fan page Fórum Chaves, se observa a afinidade

de uns ser maior com determinados personagens - e seus estereótipos - do que com outros.

Atendo-se às publicações referentes exclusivamente à série Chaves, foi feita uma filtragem

que privilegia as que são relativas aos personagens moradores fixos da vila63

: "Dona

Florinda", "Quico"64

, "Dona Clotilde", "Chaves", "Seu Madruga"65

e "Chiquinha".

3.1 A mãe "caxias" e o filho "otário"

O personagem "Dona Florinda" é interpretado pela atriz Florinda Meza. "Dona Florinda" é

uma mulher que pode ser classificada no estereótipo de "caxias". O personagem pertenceu no

passado a uma classe alta da sociedade, levando em consideração a aquisição financeira e o

tipo de vida que lembra ter tido com seu falecido marido, o capitão da marinha "Frederico

Matalascallando". E assim como o "caxias" vive em razão do seu passado, "Dona Florinda"

também faz questão de não se desvencilhar dos momentos áureos que viveu, acreditando que

"é superior a seus vizinhos - social, moral e economicamente". Preza a hierarquia, como o

estereótipo de "caxias": chama os outros personagens do cortiço onde mora de "gentalha"; e

através da agressão física tenta estabelecer uma gradação de superioridade dela com relação

ao personagem "Seu Madruga". "Dona Florinda" também "gosta de ordem, limpeza e

disciplina, não tem paciência e é mal humorada"66

(EDITORIAL TELEVISA, 2012, p. 109).

O anexo "1" faz menção à frase que direciona a seu filho "Kiko", para que este também trate

como "gentalha" os seus vizinhos. Como usa bobes nos seus cabelos em quase todos os

episódios, estes utensílios fazem referência a ela na imagem. Também remetem à classe social

que pertenceu, em que era indispensável estar sempre com os cabelos prontos para uma

interação social prestigiosa. Os anexos "2" e "3" se referem ao seu mal humor: o primeiro

63

"Vila" é o nome dado, na dublagem brasileira, ao cortiço - na concepção nacional - em que moram estes seis

personagens. Neste cenário, ocorre o maior número de interações do programa (KASCHNER, 2006). 64

O nome deste personagem aparece de duas formas nas publicações analisadas, começando com a letra "q" ou

com "k". Por ocorrer o uso do personagem fora do programa e independente desse pelo ator Carlos Villagrán –

após esse deixar as gravações da série -, houve uma briga judicial entre o autor do personagem, Bolaños, e o seu

ator intérprete. Na decisão, os direitos sobre o nome escrito da forma "Quico" ficaram para Bolaños e sua equipe

de marketing de Chaves; enquanto “Kiko” passou a ser usado por Villagrán (KASCHNER, 2006). 65

Nos primeiros episódios da série, "Seu Madruga" carrega o primeiro nome do seu intérprete: "Don Ramón". 66

O mal humor do personagem é explicado por esse não gostar de aceitar o que é feito fora dos moldes legais, o

uso do “jeitinho” e da “malandragem” nas questões sociais (DAMATTA, 1997a). Como convive com

personagens do perfil de “malandro” à sua volta, o mal humor de “Dona Florinda” é observado em diversas

situações do programa.

Page 50: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

49

sugere uma postura que teria nos dias de hoje se tivesse uma conta no site de redes sociais

Facebook e recebesse um convite para um aplicativo o qual não lhe interessasse ou não

existisse; já o segundo demonstra o que deveria mudar em seu comportamento para se tornar

uma pessoa melhor - no caso, se irritar menos com os outros - como se faz popularmente nas

promessas de Ano Novo.

A intelectualidade de "Dona Florinda" é demonstrada no anexo "4"; e sua atitude zelosa por

manter a ordem em assuntos da esfera pública está na situação do programa expressa pelo

anexo "5". Uma releitura da personagem a relacionando com o campo da política é mostrada

no anexo "6". A frase "Chega de gentalha na política!" realça as características hierárquica e

de menosprezo com os menos favorecidos social e economicamente. O vice "Pires

Cavalcanti" a que o anexo se refere faz alusão ao episódio “Querem sujar a roupa do Quico”

(YOUTUBE) em que a "caxias" adverte seu filho a todo momento de que não pode sujar sua

roupa, pois tem uma festa da "alta sociedade" para ir, uma festa dos "Pires Cavalcanti". Ficam

evidentes as relações de pessoalidade e intimidade com quem este perfil preza.

No anexo "7", o personagem é colocado na posição de opressor das causas populares e sofre

reivindicações. Em “O protesto (um salário para o Chaves)” (YOUTUBE), "Dona Florinda" é

dona de um restaurante e o personagem "Chaves" é um funcionário que não possui direitos

trabalhistas. O protesto mostrado no anexo é para que "Chaves" adquira o que a lei lhe garante

durante o seu exercício como empregado. Como conhecedora das leis, no episódio, "Dona

Florinda" acaba por admitir que este é o direito do "Chaves" e lhe concede o que pedem a seu

favor. Na releitura, ela é associada ao alvo dos protestos que aconteceram no Brasil em 2013.

Outro personagem com perfil de "caxias" no programa é "Quico", interpretado pelo ator

Carlos Villagrán. Mimado pela sua mãe, "Dona Florinda", a criança aprende a se posicionar

como ela: com superioridade frente aos outros moradores da vila. Quanto às outras crianças,

se coloca ao estilo "eu tenho, você não tem"; com o "Seu Madruga", vocifera "gentalha,

gentalha, gentalha", empurrando-o em seguida para estabelecer a gradação hierárquica. "O

garoto mimado quer estar sempre por cima e, por isso, nunca admite ser derrotado em nenhum

tipo de competição". Na sua roupa, traz o símbolo do "caxias", a uniformização: "veste-se de

marinheiro em homenagem a seu pai" (KASCHNER, 2006, p. 63-64).

Entretanto, o "caxias" representado por "Quico" sofre uma transfiguração do perfil. Por querer

se parecer com a mãe, mas exagerar na dose das condutas que considera legais e corretas,

"Quico" se transformou no que DaMatta (1997a) chama de "otário". Este tipo é referenciado

Page 51: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

50

pelo antropólogo como "ingênuo" e "quadrado", constituindo-se na vítima preferida dos

"malandros". Este dado é observado em situações do programa: "Quico" geralmente é alvo

das peripécias do personagem "Chiquinha" e das malandragens do "Seu Madruga".

Observa-se no anexo "8" como "Dona Florinda" mima o seu filho "Quico". E os anexos "9" e

"10" apresentam a reputação do personagem. O "9" faz menção a uma frase do "Seu

Madruga" dirigida ao "Quico" no programa. Enquanto o "10" é uma releitura do personagem,

associando-o aos cidadãos que não avaliam os reais propósitos de um candidato político -

quem é seguidor fiel das leis se torna "ingênuo" e pode se deixar levar por falsas promessas.

O anexo "11" apresenta o prestígio que o "caxias" dá a títulos de honra. A "estrelinha de bom

menino" que o "Quico" usa na imagem deixa "Dona Florinda" orgulhosa. Mas no episódio

“Isto merece um prêmio” (YOUTUBE), referente a esta cena, o menino engana a mãe.

"Quico" não teve a capacidade exigida para ganhar o título - é um "caxias" do tipo "otário",

ou seja, simplório, não extraordinário (RIOS) - e pagou a "Chaves" para que o roubasse.67

A importância que "Quico" dá ao dinheiro - incentivado pela sua mãe como meio para se

fazer superior aos outros - é mostrada no anexo "12". Ele é indagado na escola sobre como

proceder "se um menino engolir uma moeda". O "otário" não compreende que a pergunta se

refere a procedimentos médicos e propõe castigos de cunho capitalista para o suposto menino.

O anexo "13" traz o "Quico" experimentando uma fórmula, enganado que era para se tornar

invisível. No episódio “O Homem invisível (invisibilidade)” (YOUTUBE), ele foi ludibriado

pela "Chiquinha", uma "malandra". Como em episódios e publicações similares, o "otário"

acaba convencido pelo "renunciador" de que certos aspectos do "outro mundo" desse são

reais, como nos anexos "14" e "15". O "malandro" se aproveita para enganar os dois, mas este

tipo de "caxias" é que acaba caindo na "malandragem" antes do "renunciador".

O "caxiismo" para guardar segredos se exerce na situação do anexo "16". No "17", uma

dedicação exagerada em "não tirar os olhos" de algo, cumprindo fielmente o que lhe foi

pedido. Quanto à superioridade, o anexo "18" ilustra uma ocasião do episódio “Jogando

futebol (chutando pênaltis)” (YOUTUBE). Na publicação, é feita uma releitura do meio de

conversação: do pessoal, no pátio da vila, para o mediado pelo computador, no site de redes

sociais Facebook.

67

Embora este tenha sido o acordo entre o "caxias" e o "renunciador", esse último não o fez. Ao invés de roubar,

"Chaves" comprou a estrelinha da menina que a tinha recebido por metade do valor que "Quico" o pagou.

Page 52: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

51

3.2 "Malandragem" de pai para filha

O perfil do "malandro" é representado em Chaves pelos personagens "Seu Madruga" e

"Chiquinha", pai e filha. Interpretado pelo falecido ator Ramón Valdés, "Seu Madruga" é

geralmente associado aos brasileiros nas obras que lhe fazem referência. O uso do "jeitinho" e

da "malandragem" são suas marcas, como o carisma. Ele "não se furta a levar a vida 'no

jeitinho', contando mais com a boa vontade alheia do que com força de vontade própria. Não à

toa, muitas pessoas acreditam que ele tem um jeito todo brasileiro de ser" (KASCHNER,

2006, p. 68). O personagem também é otimista com relação ao mundo. Tem em mente "que a

vida nunca é feita só de tristezas ou pancadas" (JOLY, THULER e FRANCO, 2005, p. 124).

Na série, o personagem sempre deve a mesma quantia ao proprietário da casa onde mora:

quatorze meses de aluguel. Por sempre fugir da cobrança, Kaschner (2006, p 67) considera

este ato condescendente com o ditado brasileiro: "Devo, não nego. Pago quando puder". Mas,

como típico "malandro", "Seu Madruga" não trabalha. Durante os episódios, já teve mais de

vinte ocupações, mas nenhuma se configurou em emprego, simplesmente "bicos"

(KASCHNER, 2006, p. 69). Joly, Thuler e Franco (2005, p. 123) atribuem esta dificuldade

do "Seu Madruga" em conseguir um emprego fixo à sua baixa escolaridade: desde jovem,

"nunca teve a oportunidade de estudar, já que precisava trabalhar para ajudar sua família".

"Seu Madruga" pode ser considerado um "inferior estrutural" (DAMATTA, 1997a). O mesmo

tipo que mais se utiliza de "jeitinhos" para burlar a lei, segundo a PESB de 2002 (ALMEIDA,

2007). E por estar na baixa camada social, sofre as decisões políticas, desenvolvendo uma

aversão a elas. O anexo "19" ilustra esta posição do "malandro", enquanto o "20" vem a

complementar. Quando é dito "vote em um cidadão consciente, não fanático", é feita uma

alusão à frase similar que é dita pelo "Seu Madruga" no episódio “O show de Ioiôs”

(YOUTUBE): "Eu sou um cidadão consciente, não fanático". Ou seja, o "malandro" sabe de

seus deveres e direitos, mas prefere não cumpri-los por completo. Ele tem medo de se tornar o

tipo de "caxias" que tanto menospreza por ser seguidor fiel das leis, o "otário".

Tal depreciação é ilustrada no anexo "21" - uma releitura do convite de aniversário do

"Quico" no episódio “O aniversário do Quico” (YOUTUBE). A expressão de "Seu Madruga"

traduz o que pensa a respeito do "otário": considera as questões relacionadas a ele

descartáveis da sua vida pessoal. Já no que diz respeito à sua relação com "Dona Florinda", o

"malandro" reclama da ordem imposta pela "caxias" em situação ilustrada no anexo "22". Na

ocasião - expressa pelo episódio "A sociedade - parte 3" (YOUTUBE) -, "Seu Madruga" é

Page 53: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

52

sócio de "Dona Florinda": ela faz churros para que ele os venda. Mas a "caxias" o impôs

uniformização e ordem de higiene como requisitos para que trabalhassem juntos.

As características de preguiçoso e desocupado associadas ao perfil perito na "malandragem" é

expressa nos anexos "23" e 24". O primeiro demonstra que o horário que "Seu Madruga"

acorda é superior às 10h da manhã, o que vulgarmente é considerado tarde e não condizente

com um brasileiro trabalhador. No segundo, é mostrado ele mesmo se autointitulando

"desocupado", por não entender o real significado da pergunta feita pela sua interlocutora.

Os anexos "25" e "26" mostram o tempo importante para o "malandro": o presente. Nas

releituras, ele possui dinheiro ou prestígio no início do seu mês - época em que comumente se

recebe o salário mensal no Brasil -; mas no final do mês já não possui nenhum dos dois, pois

já os gastou em um momento que era o seu presente, sem pensar no futuro. O malandro não se

prende ao esforço do trabalho que possa ter tido porque não o tem como atividade rotineira

em sua vida. Este perfil tenta a todo momento ganhar, sem esforço, por golpes ou "sorte" do

seu tempo presente. O anexo "27" ilustra o fascínio do "Seu Madruga" pelo dinheiro que, no

episódio "O álbum de figurinhas" (YOUTUBE), lhe foi mostrado pela sua filha "Chiquinha".

Dentre os golpes que pratica, há os que buscam evitar situações constrangedoras. No anexo

"28", ele tenta evitar um encontro com "Dona Clotilde" - personagem que é apaixonada por

ele. Essa o chama na porta de sua casa mas, sem que ele perceba, ela já estava na parte de

dentro. Fora da casa, em um espaço em que exerce um de seus "bicos" - no caso, como

sapateiro -, ele coloca a placa "fechado por motivo de férias"68

- anexo "29". A intenção é que

o personagem "Dona Florinda" não o encontre no local, já que a"caxias" o procura para lhe

esbofetear. A situação aconteceu no episódio “Seu madruga sapateiro - parte 1” (YOUTUBE)

Pequenos golpes voltados ao seu cobrador de aluguel ficam evidentes nos anexos "30" e "31".

No primeiro, "Seu Madruga" tenta pagar uma parte da dívida de aluguel com um tecido. Ele

tenta enganar o cobrador sobre a qualidade da peça. Quando o cobrador o desmascara, o

"malandro" se defende: tira a culpa de si de uma "malandragem", colocando o dolo de

falsificação no fabricante do tecido. Outra situação está no anexo "31". Por estar em um chat

da rede social Facebook, "Seu Madruga" se aproveita do contato não presencial para enganar

o cobrador do seu aluguel: alega que não é ele quem interage pela ferramenta, mas sua filha,

"Chiquinha".

68

Tradução de "cerrado por vacaciones".

Page 54: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

53

Por estes golpes e a maneira de encarar a vida, "Seu Madruga" é considerado no anexo "32"

um tipo diferente de ser, pertencente a uma espécie mais evoluída que a dos homens, o

"malandro". O perfil expressa um peculiar "modo de ser", nas palavras de Sibilia (2008), ou

ainda "um modo e um estilo de se realizar", para DaMatta (1986). Estilo que é mostrado no

anexo "33" através das frases que discursa na série. Mas as relativas especialmente ao

trabalho - ditas pelo "Seu Madruga" - são as mais utilizadas em suas releituras aplicadas a

situações atuais, como no anexo"34". Nesse, é feita uma associação do personagem à luta

popular pela redução do preço das passagens de ônibus - referida aos protestos de 2013 no

Brasil.

A identificação das pessoas com este tipo de brasileiro pode ser observada principalmente na

sua postura e no que passa com relação ao trabalho. No anexo "35", o professor e diretor de

teatro Fábio Rocha Pina relaciona o tratamento que recebe na profissão com o insucesso de

"Seu Madruga". Também o considera um exemplo pela garra com que realiza seu trabalho em

"A festa da boa vizinhança" (YOUTUBE), no qual atua como profissional de teatro. O anexo

"36" mostra algumas ocupações de trabalho que o personagem tem na série. Observa-se uma

representação do Dia do Trabalho no Brasil69

, associado às ocupações do "malandro".

A baixa escolaridade do personagem, a que se referiram Joly, Thuler e Franco (2005) para

justificar o seu insucesso em não conseguir um bom emprego, ou se manter em um, é

demonstrada nos anexos "37" e "38". E a admiração dos brasileiros pelo personagem no que

diz respeito no "jeitinho" que o "malandro" tem com as mulheres aparece no anexo "39", em

que Seu Madruga tenta seduzir uma vizinha sua. Brasileiro, DaMatta (1986, p. 53) diz que

com relação a mulheres, futebol e comida "afirmamos entre sorrisos, somos os melhores do

mundo...".

"Seu Madruga" representa um perfil que faz os brasileiros se orgulharem e quererem premiar

quem seja assim. O anexo "40" mostra uma publicação em que é sugerida uma premiação do

Oscar70

ao personagem. No anexo "41", uma admiração pela astúcia do personagem. Apesar

de não possuir emprego e ter uma longa dívida, pôde desfrutar de momentos de um lazer

idealizado, que se realizou no episódio "Vamos todos a Acapulco!" (YOUTUBE). O apoio

social dado pelo "curtir" e a replicação da ideia dada pelo "compartilhar" mostram que os

interagentes com esta publicação estão na mesma situação que o personagem e gostariam de

69

Data comemorativa, feriado, festejada no dia 01 do mês de maio de todo ano. 70

Maior cerimônia de premiação do cinema (TERRA).

Page 55: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

54

ter a mesma sorte dele", ou ainda, reconhecem que se estivessem na mesma situação expressa

iriam desejar ter a mesma sorte do "Seu Madruga" que, no caso, foi garantida pela sua filha,

"Chiquinha".71

A filha do "Seu Madruga", interpretada pela atriz Maria Antonieta de las Nieves, se utiliza de

pequenos golpes na interação com seus amigos. "Sua 'malandragem' já tirou muitos pirulitos

do Quico". E "apesar de sempre estar mal na escola" (KASCHNER, 2006, p. 65-66), a criança

é "mais esperta que todos os meninos da vizinhança" (JOLY, THULER E FRANCO, 2005, p.

107). Por isso, sabe quando o "jeitinho" é necessário. "Feminista, convicta, precoce,

arruaceira e sem limites, Chiquinha geralmente diz o que lhe vem à cabeça, sem esconder sua

opinião. A não ser quando lhe é conveniente" (KASCHNER, 2006, p. 66).

O projeto de iniciação científica "Representações Simbólicas da Sociedade: estudo do

programa Chaves" (PRADO e GOMES, 2011), narra o episódio "Aula de Aritmética". Nesse,

a menina "convence pela sua esperteza" e as autoras justificam: "não é à toa que é filha do

Seu Madruga, que sempre dá um 'jeitinho brasileiro'" (PRADO e GOMES, 2011, p. 49).

O anexo "42" mostra que "Chiquinha" sabe da sua esperteza perante os outros. E não aplica a

"malandragem" apenas às crianças. Em situação ilustrada pelo anexo "43" - do episódio “Eu

sou a mosca que caiu na sua sopa (Chaves garçom)" (YOUTUBE) -, ao se dirigir à

personagem "Dona Clotilde" e indagá-la sobre qual o correto a se falar - "Eu a convidei" ou

"Eu a convidoei" -, a "malandra" inicia mais um de seus golpes. Para fazer a pergunta, ela

antes mentiu à "Dona Clotilde" que se tratava de uma dúvida de linguagem dela e do

"Chaves". O que ela queria, como ocorreu, é que ao falar com "Chaves" separadamente,

mentindo para ele que a "Dona Clotilde" a havia convidado "para comer", o garoto

perguntasse de longe à senhora e essa o respondesse alto, como o fez: "O correto é 'eu a

convidei'".

Fica demonstrado também que, embora o perfil de "malandro" tenha preferência por fazer o

"caxias" de vítima, não são descartadas as "malandragens" frente a qualquer perfil. No anexo

"43", a "Chiquinha" aplicou um golpe em "Dona Clotilde"; no "44", uma situação similar: a

"malandra" age com astúcia sobre a mesma senhora, através de uma brincadeira. Nesta

imagem, "Chiquinha" usa uma máscara - como a usada no Carnaval brasileiro, festa associada

ao perfil de "malandro" por DaMatta (1997a) - para assustar a "Dona Clotilde".

71

A sorte foi ganhar a viagem a Acapulco em um sorteio dentre os compradores de um spray para limpar prata.

"Chiquinha" comprou o produto apenas com a intenção de ganhar o prêmio.

Page 56: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

55

3.3 Os "outros mundos": da magia e da fantasia

Quem renuncia à realidade da vila no Chaves são os personagens "Dona Clotilde" e "Chaves",

uma senhora de meia idade e um menino de oito anos. Mas motivações diferentes os fazem

fugir do mundo real para viver em uma dimensão criada por eles. "Chaves" se liga ao "outro

mundo" pela fantasia e por ter uma vida projetada em um futuro melhor, para si e para os

outros personagens; "Dona Clotilde" é guiada pela magia e pela espiritualidade.

Interpretada pela falecida atriz Angelines Fernandéz, "Dona Clotilde" é apelidada pelas

crianças da vila de "Bruxa do 71", devido a ser "tanto quanto excêntrica e desprovida de

beleza, e por morar no apartamento 71"(KASCHNER, 2006, p. 72). A excentricidade se

verifica no "seu temperamento e o mistério envolta de sua casa", que assustam as crianças da

vila e "pensam que ela tem poderes de bruxa" (JOLY, THULER e FRANCO, 2005, p. 110).

As crianças a associam a uma bruxa ilustrada pelos contos infantis. Mas a religiosidade da

"Dona Clotilde", expressa nos episódios, faz com que este apelido tenha também um sentido

pejorativo e preconceituoso com a sua espiritualidade, já que ela "é especialista em conversar

com espíritos" (JOLY, THULER e FRANCO, 2005, p. 110).

O seu maior sonho vem do fato de nunca ter tido a oportunidade de se casar. Ela "vê no Seu

Madruga a chance de finalmente realizá-lo. Cozinheira de mão cheia, procura conquistá-lo

com seus dotes culinários" (KASCHNER, 2006, p. 73). Pelos esforços na cozinha se voltarem

à conquista de um homem, "Dona Clotilde" pode ser encarada como típica mulher brasileira.

Não é, pois, por acaso, que muitas figuras de nosso panteão

mitológico são mulheres cozinheiras ou que sabiam cozinheiras ou

que sabiam usar as artes da culinária para conseguir uma posição

social importante. (...) São segredos que permitem uma inversão do

mundo, fazendo com que a cabeça seja trocada pelo estômago e pelo

sexo (onde todos os homens se igualam e se deleitam). (DAMATTA,

1986, p. 61)

O personagem "Dona Florinda" também pratica frequentemente a conquista "pelo estômago"

quando recebe uma visita do personagem com o qual vive um romance. Até a "Chiquinha", no

episódio “O Aniversário do Seu Madruga” (YOUTUBE), se orgulha ao dizer que sabe

cozinhar. Estes modos demonstram que as mulheres em Chaves têm atitudes brasileiras.

Os anexos "45" e "46" mostram a associação da "Dona Clotilde" à bruxaria dos contos de

fada. No primeiro, há uma lembrança do personagem na data de comemoração do Dia das

Page 57: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

56

Bruxas no Brasil72

. E no segundo são ilustradas algumas cenas do episódio “A Casa da

Bruxa” (YOUTUBE) em que as crianças imaginam que entraram na casa da "Dona Clotilde",

apesar de nenhuma delas já ter entrado, de fato. No episódio, a imaginação infantil as faz ver

a "Dona Clotilde" vestida com um traje de bruxa - como nos desenhos animados -, mexendo

um caldeirão e fazendo bruxaria para conquistar o "Seu Madruga", por quem é apaixonada.

Os devaneios de "Dona Clotilde" estão demonstrados nos anexos "47", "48" e "49". Nos dois

primeiros, a paixão pelo Seu Madruga. Ela imagina que ele a corresponde - seu maior desejo.

Tanto que, na releitura do personagem fazendo uma promessa de Ano Novo, fica evidente a

motivação da "Dona Clotilde" em projetar seu "outro mundo". No anexo "49", o personagem

sonha em ser uma mulher jovem e bonita, forma pela qual acredita que conseguiria conquistar

"Seu Madruga", que gosta de assistir aos concursos de miss universo73

pela televisão.

No anexo "50", se verifica o apelido de "Dona Clotilde", mais uma vez vítima da "malandra",

"Chiquinha". O caso expresso pela imagem do anexo "51" traz uma associação do estereótipo

de bruxa com "Dona Clotilde" feito pela "Dona Florinda" - neste caso, uma adulta. O anexo

"4"74

explica um dos motivos que leva "Dona Florinda" a julgar a "renunciadora" desta forma.

Na situação, "Dona Clotilde" diz que se ficasse presa em uma ilha deserta se interessaria por

ler "as mãos de um marinheiro tatuado". Vulgarmente, é observado que a leitura de mãos é

associada ao desvendamento de mistérios. O "outro mundo" de "Dona Clotilde" também se

mostra nesta na crença mista, como a dos brasileiros, em geral.

"A variedade de experiências religiosas brasileiras é, assim, ao

mesmo tempo, ampla e limitada. (...) Ou seja: em todas as

formas de religiosidade brasileiras, há uma enorme e densa

ênfase na relação entre este mundo e o outro... (...) O que pode

parecer singular no caso brasileiro, então, é que cada uma dessas

formas de religiosidade seja suplementar às outras, mantendo

com elas uma relação de plena complementaridade"

(DAMATTA, 1986, p. 114- 115).

Interpretado pelo ator, e escritor da série, Roberto Bolaños, o personagem "Chaves" é um tipo

de "renunciador" diferente de "Dona Clotilde". A inocência exacerbada do menino com

questões da vida indica que o personagem não tem preocupação em manter uma forte relação

com este mundo. Os mistérios que o envolvem também dão pistas do seu "outro mundo". Por

72

Comemorado no dia 31 de outubro de todo ano. 73

"O famoso concurso Miss Universo, consagrado como a competição de beleza mais importante e influente do

mundo, é realizado anualmente pela Miss Universe Organization, de propriedade do empresário Donald Trump.

A competição da beleza feminina é transmitida para mais de 180 países" (SITE DE CURIOSIDADES, 2011). 74

Anexo já apresentado em análise anterior, com leitura diferente desta proposta.

Page 58: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

57

ser pobre e ainda órfão de pai e mãe, não se conhece muito a respeito da vida que tem quando

não está nos pátios da vila ou na escola. Sua moradia e seu nome também são desconhecidos.

Apesar de ninguém jamais ter visto sua casa, Chaves diz que mora na

casa 8, no outro pátio da Vila. Sempre que alguém resolve perguntar

com quem ele mora ou qual seu verdadeiro nome, alguma coisa

interrompe a conversa, fazendo com que esse assunto permaneça um

mistério. Sobre os seus pais, Chaves diz que os tem, sim, mas nunca

foi apresentado a eles. (KASCHNER, 2006, p. 61)

Outra fonte de mistério que circunda o personagem é o barril, seu "esconderijo secreto"

(KASCHNER, 2006). Neste lugar, "Chaves" frequentemente se refugia "em busca de calma e

tranquilidade" (EDITORA TELEVISA, 2012, p. 93). Sonhador, ele "faz da imaginação e da

fantasia seus melhores amigos" (KASCHNER, 2006, p. 61-62). Mas o futuro com que sonha é

o oposto do que possui: poder comer todos os dias e ajudar o próximo para que nada lhe falte.

Sua comida favorita é o sanduíche de presunto. E quando é chamado para brincar pelas outras

crianças, sua reação é sempre imaginar a brincadeira antes de sua realização: "ele se afoba e

começa a dar chutes no ar e a falar 'Zás, zás, aí a gente...'" (KASCHNER, 2006, p. 61).

O mistério ao redor da vida de "Chaves" é ilustrado nos anexos "52", "53" e "54". O "52" se

refere ao verdadeiro nome de Chaves, nunca desvendado. Nos seguintes, a ideia que os fãs

possam fazer de como seja o interior do barril. Nas imagens, é como se tivesse um caminho

secreto para sua casa, já que - como o interior do barril - nunca foi mostrada no programa.

Quanto à inocência do "Chaves", essa o faz relacionar tudo ao seu redor com explicações

óbvias - uma visão inocente deste mundo, para o qual não se dedica a compreender. Os

anexos "55" a "58" mostram situações vividas pelo personagem e encaradas por ele com um

enfoque ingênuo e simplório. Além de se mostrar alheio à vida real, também ocorre que "sua

ingenuidade o faz dizer coisas erradas em momentos impróprios" (KASCHNER, 2006, p. 61).

O mundo da fantasia no qual "Chaves" se realiza enquanto personagem está ilustrado nas

publicações referentes aos anexos que vão do "59" ao "61". O primeiro faz alusão ao episódio

"Tem uma mosca no meu café" (YOUTUBE), em que "Chaves" caça com seu estilingue

pequenos animais invisíveis, os quais denomina "churruminos". No segundo, o episódio "Os

Loucos e a Cruz Vermelha" (YOUTUBE) é o que "Chaves" diz conhecer um menino

chamado "Cente" - seu amigo imaginário. No anexo "61", o "renunciador" almejou no

episódio "O sonho que deu bolo" (YOUTUBE) ter um sanduíche de presunto e logo apareceu

à sua frente o seu objeto de desejo, nas proporções da sua imaginação.

Page 59: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

58

E não só dizer, mas também fazer coisas em momentos impróprios é característica do

"Chaves". Quando ele brincava com a "Chiquinha" de cabeleireiro e de cliente - no episódio

"Barba, Cabelo... e Graxa! (Seu Madruga Cabeleireiro)" -, o "renunciador" não diferenciou a

fantasia contida na brincadeira da realidade na qual se brincava. Assim, durante a brincadeira

"Chaves" cortou de verdade o cabelo da "Chiquinha". Isso se configurou em choque para a

"malandra", que só queria entrar no mundo da fantasia por instantes para brincar, e não viver

nele, como o faz "Chaves". No anexo "62" está o momento em que começam a brincar.

"Chaves" também tem frequentemente o desejo de estar em outro lugar, diferente do qual se

encontra. No episódio “Vamos ao Cinema?” (YOUTUBE), "Chaves" vai ao cinema com a

turma assistir um determinado filme mas gostaria de estar vendo outro; e toda hora diz: "Teria

sido melhor ir ver o filme do Pelé!". A insatisfação ilustrada nesta frase do episódio é

associada atualmente a qualquer situação em que se esteja, mas gostaria de mudá-la - de

renunciar à situação atual. A imagem do anexo "63" utiliza a frase para impactar os fãs do

personagem que ficaram insatisfeitos com o último capítulo da novela "Avenida Brasil".75

O anexo "64" traz a frase de "Chaves": "Eu prefiro morrer do que perder a vida!". O

personagem demonstra nesta construção: se lhe for ameaçada a expressão da vida como ele

deseja - no seu "outro mundo" - ele prefere "renunciar" à sua existência. Mas essa, se lhe

faltasse, iria deixar os outros personagens da vila com falta de motivação para exercerem

compaixão entre si. Com as atitudes que moldam o perfil de "renunciador", "Chaves"

representa o elo entre os "caxias" e os "malandros". "Dona Clotilde" também os liga, com sua

bondade e generosidade. Mas "Chaves" comove a todos e os mostra o que têm em comum.

A música "Boa Noite Vizinhança" é associada a “Chaves” no anexo "65". O episódio em que

canta é o “Chaves em Acapulco - Os Farofeiros - Parte 2“ (YOUTUBE). A letra fala de

reunião, amizade, amor e semelhança entre os vizinhos, para mostrar-lhes que possuem coisas

em comum e motivos para se unir. No anexo "66", "Chaves" faz a relação de si com outras

crianças que, como ele, não desjejuam diariamente e vivem, ou já viveram - como foi seu caso

- na rua. A publicação traz o que almeja "Chaves" para o futuro, de si e dos outros: poder

desjejuar todos os dias e não viver na rua. No anexo "67", uma situação similar. A caridade se

verifica quando é mostrado o seu desejo de contribuir para que todos tenham o que vestir.

75

Telenovela produzida e apresentada pela Rede Globo de Televisão de março a outubro de 2012 (R7

NOTÍCIAS).

Page 60: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

59

Mas é na imagem do anexo "68" que contém uma ocasião em que "Chaves" faz cessar os

atritos e a violência que são pregados pelos seus vizinhos na relação entre si. Fica evidente a

unificação do sentimento que "Chaves" promove ao comover os vizinhos. Na situação,

enquanto famílias e perfis, são divididos em: o lado dos "caxias" - "Dona Florinda" e "Quico"

- e o dos "malandros" - "Seu Madruga" e "Chiquinha".

No anexo "69", é feita uma demonstração de que "Chaves" também comove o mais

embrutecido "ser", mostrando o seu impacto carismático. Nos quadrinhos mostrados, é dito

que o personagem "Jair Bigorna aguenta tudo". Mas quando assiste Chaves se emociona com

a opressão que o "renunciador" sofre no episódio “O Ladrão da Vila” (YOUTUBE).76

Já quando "Chaves" se junta à "Chiquinha" nas brincadeiras, é comum ver o "renunciador"

agindo com "malandragem". O alvo, "Chaves" também aprende com a "malandra": o "otário"

do programa, "Quico". A imagem do anexo "70" ilustra este comportamento. No episódio

"Um Festival de Vizinhos (Festival da Boa Vizinhança) - parte 2” (YOUTUBE), "Quico"

tenta declamar um poema em homenagem às mães, mas "Chiquinha" e "Chaves" sempre o

interrompem. Na travessura, os dois completam a frase de "Quico" de forma a ridicularizá-lo.

Mas não é só "Chiquinha" o seu modelo. "Chaves" é órfão, mas por ver "na figura do Seu

Madruga o pai que nunca teve" (KASCHNER, 2006, p. 61), aprende alguns golpes com o

"malandro"77

.

Complementaridades também são observadas. Os personagens que moram na vila se

complementam em gênero (três masculinos e três femininos), em idade (três crianças e três

adultos) e em perfil (dois renunciadores, dois malandros e dois caxias). Além desses,

Kaschner (2006) também considera o complemento enquanto membros de uma família.

Interessante é que na vizinhança do Chaves, nenhum dos personagens

está incluído em um núcleo familiar bem consolidado. (...) Mas,

refletindo melhor, uma pergunta é inevitável: existe família perfeita na

vida real? Além disso, o próprio fato de não haver uma família nos

moldes tradicionais obriga a própria vizinhança a ser um tipo de grupo

familiar (vale lembrar também que as crianças não possuem irmãos, o

que as torna irmãs umas das outras). (KASCHNER, 2006, p. 52)

Nota-se também que neste grupo familiar a caridade é pregada como um valor o qual se dá

importância. Apesar dos atritos, os personagens frequentemente acabar por agir com

76

Neste episódio, "Chaves" é chamado de ladrão e vai embora da vila por isso. Mas quando retorna, conta que só

o fez porque antes passou na igreja e conversou com o padre, que o aconselhou. 77

A cultura que é transmitida do "Seu Madruga" para "Chaves" também é passada para "Chiquinha", que tem as

mesmas características que seu pai; enquanto "Quico" mostra ter o mesmo perfil de sua mãe, "Dona Florinda".

Page 61: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

60

compaixão. DaMatta (1997a, p. 232) se refere aqui à sociedade brasileira, mas poderia ser à

vila do Chaves: "E aqui estamos no reino da caridade e da bondade como valores básicos,

cujo foco é um sistema de pessoas que sempre se concebem como complementares, todas

sendo necessárias para compor o quadro social da vida brasileira".

3.4 A construção social do brasileiro que interage com Chaves

O gráfico "1" mostra o "Seu Madruga" como o personagem com maior média em "curtir" e

"compartilhar" nas publicações referentes unicamente a ele. Os personagens com maior média

de "curtir" em segundo e terceiro lugar são, respectivamente, "Chaves" e "Chiquinha". Quanto

ao "compartilhar", o segundo é "Dona Florinda" e o terceiro, "Chaves". Nos comentários,

lidera "Dona Clotilde", seguida de "Chiquinha" e "Dona Florinda", nesta ordem.78

Observa-se uma proximidade estreita entre as médias de "curtir" dos personagens "Seu

Madruga" (786,65), "Chaves" (785,93) e "Chiquinha" (743,94) mais do que esses com relação

aos outros. Esta proximidade e alternância quanto ao apoio social e à replicação de ideia dos

perfis demonstra que o brasileiro que "curte" e "compartilha" as publicações referentes a estes

personagens se constroem socialmente pelas características dos perfis de "malandro" e de

"renunciador" mais do que com as relativas às dos "caxias".79

No gráfico "2", Angelines Fernandéz, intérprete de "Dona Clotilde", ficou com a maior média

de "curtir" (840,75) com relação aos outros atores. Enquanto Ramón Valdés, intérprete do

"Seu Madruga", ficou com a segunda maior média (830,53).80

O "renunciador" está à frente

do "malandro" nesta análise e ambos se encontram muito próximos um do outro.81

Quanto ao "comentar", Angelines Fernandéz também possui a maior média (66,5), seguida de

Florinda Meza (58,33) e de Roberto Bolaños (44,86) - gráfico "3". Mas a replicação de

publicações sobre os atores, mostrada no gráfico "4", tem sua maior média em Ramón Valdés,

seguido de Angelines Fernandéz.82

78

A maior média de "curtir" e de "compartilhar" serem referentes ao "Seu Madruga" em uma fan page com

maioria do público brasileiro não é surpresa para Kaschner (2006, p. 69), que em seu livro já reconhecia a

reputação de "Seu Madruga": "No Brasil, é o personagem mais querido pelos fãs do seriado, que acham que

episódios sem o Seu Madruga perdem muito em brilho artístico e humor". 79

Uma pesquisa de opinião pública de 1997 teve resultado similar, com ordem invertida: em primeiro lugar

ficou o "renunciador", seguido do " malandro" -, mas com pequena diferença entre eles (CAVALCANTE, 2005). 80

O que demonstra haver um olhar voltado a estes atores como aos respectivos personagens que interpretam. 81

Estes resultados são condizentes com as implicações da pesquisa contida em Cavalcante (2005). 82

O intérprete do "malandro" está em situação idêntica a do seu personagem: com maior média de

"compartilhar". A intérprete da "renunciadora", Angelines Fernandéz, está próxima deste ator, como está

também um perfil de "renunciador", representado por "Chaves" na relação entre os personagens no gráfico "1".

Page 62: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

61

O gráfico "5" mostra como as subcategorias relativas a "marketing" na página são percebidas

pelos fãs. "Assistir Chaves" tem a maior média das análises em todas as suas ferramentas,

seguida dos "produtos Chaves" - também nas três ferramentas. Publicações referentes à

"marca própria (Fórum Chaves)" ficaram em terceiro lugar na média de "curtir";

"patrocinadores e/ou apoio" em quarto. O resultado quanto a estes dois se inverte no que diz

respeito ao "compartilhar". A média do "comentar" não traz diferença significativa entre

"marca própria (Fórum Chaves)" e "patrocinadores e/ou apoio".83

Os gráficos de "6" a "11" ilustram a oscilação das médias de aderência às ferramentas quanto

a cada personagem nos doze meses analisados. Enquanto as análises relativas a "frases" e a

"releituras" dos personagens nas publicações estão demonstradas nos gráficos "12" a "14".

Nesses é deomnstrado um maior apoio social às "frases" de "Dona Florinda" e às "releituras"

de "Chaves". "Comentários" sobre "frases" de "Dona Florinda" também repercutiram em

primeiro lugar, tal como o "compartilhar" de frases da mesma personagem. Em "releituras" do

"Seu Madruga", se verifica a maior média de "comentar". E o "Chaves" apresenta o maior

número, em média, de "compartilhar" das suas "releituras".84

Desconsiderando a categoria "juntos", os gráficos "15" a "17" trazem resultados que

demonstram maior interesse dos fãs em "vida/carreira" de Ramón Valdés quanto às três

ferramentas - empatando apenas, em primeiro lugar, quanto ao "comentar" com Angelines

Fernandéz. Já as "notícias/atualidades" sobre Roberto Bolaños tiveram o maior apoio social,

demonstrando também maior reciprocidade dos sentimentos nas publicações relativas ao ator.

Mas o maior "compartilhar" quanto a "notícias/atualidades" se refere a "Seu Madruga",

demonstrando um maior interesse nos fãs em replicar as ideias que foram expostas atualmente

sobre o falecido ator ou sobre acontecimentos atuais que o envolvem de alguma forma.

Os "shows" de Carlos Villagrán e Maria Antonieta de las Nieves são os únicos dentre os

atores estudados a ocorrerem relacionados aos personagens da série. Um maior apoio,

replicação e olhar voltado aos "shows" de Villagrán foram demonstrados.

83

O interesse dos fãs ao "curtir" a fan page Fórum Chaves é aqui demonstrada: publicações que apresentam a

temática Chaves de forma direta é mais aceita e mais replicada do que outros assuntos publicados pela página. 84

É notada maior aprovação dos fãs quanto a "frases" de "Dona Florinda" - maior espetacularização dos temas

por ela propostos nesta categoria. Também a esta personagem se relaciona o mesmo pensamento dos fãs sobre as

suas "frases". Em releituras, "Chaves" tem suas publicações como as mais aprovadas socialmente e ideias

replicadas. As releituras do "Seu Madruga" demonstraram exercer maior reciprocidade dos sentimentos dos fãs.

Page 63: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

62

Nos gráficos "18","19" e "20" estão referenciadas as quantidades de publicações utilizadas

para as análises referentes a cada subcategoria de "personagens", "atores" e "marketing". O

gráfico "21" mostra o total de cada categoria principal. Em quantidade de publicações,

"Chaves" está em primeiro lugar (112), próximo ao número referente ao "Seu Madruga"

(104). Nota-se um número alto de publicações sobre Carlos Villagrán na categoria "atores".85

Nas publicações de "marketing", os números variam e não se equivalem aos de aceitação e

replicação sociais.

As interações entre os personagens são observadas nos gráficos de "22" a "24". A primeira

colocação em "curtir" também foi a primeira do "comentar" e do "compartilhar". Igual

resultado quanto às três ferramentas se observou em segunda e terceira colocações. Dentre o

"malandro" e o "caxias", a escolha do brasileiro é pelas situações nas quais o "malandro"

tenha vantagem em cima do outro. Mas quando o "malandro" se relaciona com o

"renunciador", a vantagem desse é a que mais agrada. Igual predileção é mostrada na relação

entre o "caxias" e o "renunciador".86

No anexo "25", maior apoio social é dado aos "caxias" quando interagem entre si. A maior

reciprocidade de sentimentos está na interação entre os três perfis; e a maior replicação de

ideias, na interação entre "renunciadores".

É interessante notar no anexo "27" que as interações entre "renunciador" e "malandro" nas

releituras são as que têm mais "curtir", "comentar" e "compartilhar". O "renunciador" se

destaca nas "interações entre mesmo perfil ou entre o perfil e outro", liderando na média

referente a cada uma das três ferramentas - anexo "28".

Nos anexos "26" e "29" são mostradas as quantidades de publicações analisadas referentes a

interações ocorridas, respectivamente, no programa e em releituras. Ao comparar todas as

médias das interações entre perfis, e também entre mesmo perfil, se observa a relevância do

perfil de "renunciador". Esse lidera em todas as subcategorias referentes a interações do tipo

"compartilhar". Este resultado casa com o expresso na pesquisa de opinião pública em

Cavalcante (1997): demonstra que o "renunciador" em ocasiões de interação é o perfil mais

replicado de brasileiro - o qual se espelha nos personagens àqueles relacionados.

85

Explica-se pela turnê do ator no Brasil em 2013, com shows de grande repercussão (FÓRUM CHAVES). 86

Estes gráficos mostram as interações do "malandro" com o "caxias"; quando o "malandro" obtém vantagem,

há maior apoio e reciprocidade de sentimentos: o brasileiro é condizente com as situações expressas e reproduz

as ideias.

Page 64: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

63

CONSIDERAÇÕES

O estudo antropológico, com bases bibliográficas, realizado no capítulo 1, elucidou a

veneração que hoje os brasileiros têm quanto aos perfis representados pelo "caxias", pelo

"malandro" e pelo "renunciador". São heróis nacionais formados a partir da vida em sociedade

no Brasil durante a colonização; somam os vestígios das relações sociais existentes naquela

época.

A vida nas redes sociais do ciberespaço foi apresentada pelo capítulo 2. O resultado das

relações e das percepções do ator social é dado pelo capital social, que nestes sites se

configura de diferentes formas: "popularidade", "visibilidade", "reputação" e "autoridade". A

quantificação de cada ferramenta interativa do Facebook permitiu constatações acerca do

capital social gerado pela sociedade brasileira na fan page "Fórum Chaves".

Ao "curtir" esta página, é criado um laço associativo do ator social com o conteúdo publicado

pelo "Fórum Chaves". A associação aos temas propostos pela fan page é assim realizada.

Desta forma, tem-se uma rede social ligada à série Chaves - um dos temas mais publicados

pela página. Quando o ator interage com uma determinada publicação, é criado um laço

relacional. Esse se dá pela interação através do uso de uma das ferramentas do site: "curtir",

"comentar" ou "compartilhar". Como cada ferramenta possui uma função social, os capitais

sociais obtidos pelo uso delas se diferem entre as mesmas.

A "popularidade" é conferida a uma publicação quando se utiliza a ferramenta "curtir".

Assim, é dado apoio social ao que é exposto. Quando se usa o botão "compartilhar", é

permitido um maior alcance da publicação, gerando mais "visibilidade" a ela. Mas quando a

função "comentar" é utilizada, capitais sociais cognitivos podem ser obtidos - diferentemente

dos outros apresentados, em que os capitais são relacionais. Os valores de "reputação" e de

"autoridade" são demonstrados por esta ferramenta.

Quando empregados os mecanismos de interação, é publicada a interioridade psicológica de

quem interage. Como a expressão dos relatos pessoais no ciberespaço não é só subjetiva, mas

também objetiva, a sociabilidade realizada no meio tem intenções idênticas à manifestadas no

contato pessoal. Na comunidade virtual "Fórum Chaves", é possível observar tanto como

ocorre o contato social dos atores com os personagens de Chaves quanto as interações entre

Page 65: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

64

estes personagens ilustradas nas publicações. Também a cognição quanto aos seus "modos de

ser" sociais é percebida por quem publica e por quem interage com as "releituras" da série.

A análise qualitativa das publicações constatou que cada personagem em Chaves - "Dona

Florinda", "Quico", "Seu Madruga", "Chiquinha", "Dona Clotilde" e Chaves" - manifesta

características sociais equivalentes a um dos perfis de heróis brasileiros descritos por

DaMatta. A vida em sociedade no Brasil é demonstrada na interação entre os personagens do

programa. As releituras das atuações dos personagens em situações contemporâneas

presentifica a série que, mesmo não sendo mais gravada, se molda à atualidade.

Nas análises dos personagens quanto a seus perfis, apenas um - dentre os seis personagens -

sofre transfiguração, o herói representado por "Quico": de "caxias" vira "otário". No estudo

do anexo "69", em que se analisa situação expressa pelo episódio “O Ladrão da Vila”

(YOUTUBE), se observa uma injustiça cometida contra o personagem "Chaves", que poderia

tê-lo afastado do sistema social vigente - o marginalizado -, mas a religiosidade do

"renunciador" o fez retornar à vila e assim continuar no sistema social em que se encontra.

Com base nos gráficos, a sociedade brasileira dá mais apoio social ao perfil de "malandro"

expresso por "Seu Madruga" na série. Por isso, os atores sociais dão mais popularidade a este

personagem e ao seu respectivo ator intérprete. Seguidamente, o personagem "Chaves" e a

atriz Angelines Fernandéz são mais populares - representando o mesmo perfil, do

"renunciador".

A maior espetacularização que o brasileiro confere é à personagem "Dona Clotilde" e também

à atriz Angelines Fernandéz, sua intérprete - que representa o "renunciador". Assim, nota-se

que é fortemente percebida pelos fãs a reputação da personagem. Também há uma grande

motivação em falar sobre as qualidades percebidas ou agregar aspectos a elas.

É notada uma maior replicação de ideias do personagem "Seu Madruga" e do seu ator

intérprete, o que garante mais visibilidade a eles. À replicação das ideias do "malandro", se

segue a visibilidade do "renunciador". Esse é demonstrado pelo personagem "Chaves" e pela

atriz Angelines Fernandéz.

A predileção pelo perfil de "malandro" quanto ao apoio e replicação de ideias também se

verifica nas interações em que ele obtém vantagem sobre o "caxias". Mas apenas nessa.

Quando o perfil de "renunciador" é exposto em qualquer tipo de interação - com o "malandro"

ou com o "caxias" -, são preferidas as socializações em que este perfil tenha vantagem, tanto

Page 66: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

65

em apoio social quanto em espetacularização dos temas e replicação de ideias. Quando o

"renunciador" interage com outro personagem de mesmo perfil, também gera mais "curtir",

"comentar" e compartilhar" do que as interações dos outros perfis entre si.

Ao analisar se existe relação entre o que é publicado e o impacto na audiência, proposto por

Recuero (2011), tem-se que a quantidade de publicações sobre os personagens se equipara aos

que possuem mais valores difundidos, de popularidade e visibilidade. "Seu Madruga" e

"Chaves" possuem quantidades próximas de publicações realizadas no período trabalhado na

fan page.

Observa-se que a análise de uma comunidade virtual no Facebook é encarada de forma glocal,

visto que busca representar localmente toda a comunidade de fãs de Chaves do Brasil e os

seus comportamentos frente aos personagens da série. O motivo para tais comportamentos,

expressos pelas interações, é a identificação do povo brasileiro. Seus heróis não são

idealizados, apenas espelham a realidade social nacional. Por isso, estão comumente mais

presentes no cotidiano das pessoas. Em Chaves, não são mostradas guerras e os heróis

resultantes delas, mas o herói do cotidiano brasileiro, com a luta diária pela sobrevivência de

diferentes formas.

É importante salientar aqui que, não a opinião, mas a intimidade aos moldes de uma atuação

social foi desnuda no ciberespaço. Através dos mecanismos de interação do Facebook, os

atores sociais se espelham e transformam em personagens do Chaves; ou apenas "se

mostram", desvendando sua interioridade psicológica.

Page 67: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

66

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Anexos

Curtir fan pagea

Entrevista 1b

Entrevista 2

a Documentação realizada por acesso, em 16 de outubro de 2013, à página online:

www.facebook.com/chavesechapolin/likes. b As entrevistas referentes aos anexos "Entrevista 1" e "Entrevista 2" foram feitas por meio do site de

relacionamentos Facebook - no espaço destinado a "mensagens" - através da conversação entre e o ator social

"Kary Subieta" e os administradores da fan page "Fórum Chaves". A data e o horário das respostas estão

expressos nas ilustrações.

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Publicações da fan page Fórum Chavesc

1

2

c Os anexos referentes a esta categoria foram extraídos por visualização das publicações contidas na página

online www.facebook.com/chavesechapolin. O acesso ocorreu entre 07 e 16 de outubro de 2013.

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Apêndices

Gráficos

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Dona

Florinda

Kiko Chaves Dona

Clotilde

Seu

Madrug

a

Chiquin

ha

Turma

Curtir 673,12 615,84 785,93 679,48 786,65 743,94 688,9

Comentar 62,6 50,11 53,94 91,39 57,84 71,58 54,65

Compartilhar 1.451 1040,25 1406,87 1.107 1552,45 860,8 892,32

Méd

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Personagens

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Ramón

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Nieves

Juntos

Personagens 673,12 615,84 785,93 679,48 786,65 743,94 688,9

Atores 669,88 483,34 660,78 840,75 830,53 302,02 781,66

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Personagens x atores

(curtir)

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Florinda

Meza

Carlos

Villagra

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Roberto

Bolaños

Angelin

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Fernand

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Ramón

Valdez

Maria

Antonie

ta de las

Nieves

Juntos

Personagens 62,6 50,11 53,94 91,39 57,84 71,58 54,65

Atores 58,33 30,13 44,86 66,5 36,7 18,44 33,98

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Personagens x atores

(comentar)

0 500

1.000 1.500 2.000

Florinda

Meza

Carlos

Villagra

n

Roberto

Bolaños

Angelin

e

Fernand

éz

Ramón

Valdez

Maria

Antonie

ta de las

Nieves

Juntos

Personagens 1.451 1040,25 1406,87 1.107 1552,45 860,8 892,32

Atores 225 140,33 281,75 339,25 518,73 77,38 496,34

Méd

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Personagens x atores

(compartilhar)

0 100 200 300 400 500 600

Marca Própria

(Fórum

Chaves)

Patrocinadores

e/ou Apoio

Produtos

Chaves

Assistir

Chaves

Curtir 179,93 132,86 270,46 552

Comentar 19,11 19,16 30,84 31,11

Compartilhar 62,45 76,58 127,25 264,15

Méd

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Marketing

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jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13

Curtir 976 336 1112 400 288 341 337 50 822,33 880 1862

Comentar 71 14 198 30 23 25 38 113 56,66 37 83

Compartilhar 3.837 617 1737 871 290 696 205 0 476,33 2098,5 5138

Personagem: Dona Florinda

0

1000

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jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13

Curtir 479 358 1041 506,5 805 587,33 446 331,5 900 524,5 633,25 778

Comentar 14 15,5 93,66 44,5 51 41,33 113 10,5 78 35,5 46 58,4

Compartilhar 701 313,5 2910 535 1948 969,66 554 201,5 2241,33 517,5 777,5 814,6

Personagem: Kiko

0

2000

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jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13

Curtir 388,5 731,28 565,5 360 470 464 1437 1653 786 992,62 746 846

Comentar 29,33 53,28 45 35,36 36,28 27,87 166,33 99,33 54,41 67,37 30,41 49,68

Compartilhar 692,33 2006,14 960,3 947,18 669,71 593,87 3613,66 4234,33 1241 1819,87 986,64 864,37

Personagem: Seu Madruga

2

1

Page 113: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

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jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13

Curtir 772 1.437 362 276 711 912 534 707,5 984

Comentar 78 108 82 19,75 96 97 24 63,5 76

Compartilhar 1402 2.416 355 166,25 503 1215 117 577 996

Personagem: Chiquinha

0 1000 2000 3000 4000

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jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13

Curtir 809 1184 588,75 464,66 593 279 838

Comentar 74 122 40,75 19 52 285 47

Compartilhar 3.135 1331 1148 550,33 673 27 886

Personagem: Dona Clotilde

0

1000

2000

3000

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jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13

Curtir 427,75 686,75 759,81 814,43 683 1053,92 801,18 745 914,8 708,75 1020,44 815,42

Comentar 20 42,75 56,18 55,25 40,81 49,35 73,72 49,66 101,4 45,41 65,77 47

Compartilhar 1343,75 2472,75 1021,36 1844,5 1398,54 1174,85 2370,27 897,33 1065,4 734 1575,88 983,85

Personagem: Chaves

Page 114: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

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1000 1200 1400 1600

Dona

Florinda

Kiko Chaves Dona

Clotilde

Seu

Madruga

Chiquinh

a

Turma

Frases 1419 414,6 857,02 263 727,57 585 600,31

Releitura 813,85 723,22 953,26 618,5 846,73 841,5 601,51

Curt

ir

Personagens: frases x releitura

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Dona

Florinda

Kiko Chaves Dona

Clotilde

Seu

Madruga

Chiquinh

a

Turma

Frases 77 39,4 60,49 15 30 55,66 33,56

Releitura 67,28 50,45 62,58 45,5 72,72 66 41,44

Co

men

tar

Personagens: frases x releitura

0 500

1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500

Dona

Florinda

Kiko Chaves Dona

Clotilde

Seu

Madruga

Chiquinh

a

Turma

Frases 4.488 569,4 1598,97 125 1389,6 274,5 813,81

Releitura 1.971 1538,18 2.530 1.816 1.913 737 923

Co

mp

arti

lhar

Personagens: frases x releitura

Page 115: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

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Roberto

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Ramón

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Antonie

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Nieves

Juntos

Vida/Carreira 674 437,85 571,44 588 864,98 135 1148,46

Notícias/Atualidades 510,39 700,47 516,5 566 345,52 1087,42

Shows 345,1 129 536

Curt

ir

Atores:

vida/carreira x notícias/atualidades x shows

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

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Florind

a Meza

Carlos

Villagra

n

Roberto

Bolaños

Angelin

e

Fernand

éz

Ramón

Valdez

Maria

Antonie

ta de las

Nieves

Juntos

Vida/Carreira 48,75 29,42 20,38 96,5 96,5 39,67 16

Notícias/Atualidades 30,51 50,24 25,5 25,66 22,63 50,54

Shows 25,94 5 39

Co

men

tar

Atores:

vida/carreira x notícias/atualidades x shows

Page 116: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

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0 100 200 300 400 500 600 700 800

Florinda

Meza

Carlos

Villagra

n

Roberto

Bolaños

Angelin

e

Fernand

éz

Ramón

Valdez

Maria

Antonie

ta de las

Nieves

Juntos

Vida/Carreira 164 104,71 263,87 329 604,54 62,75 766,35

Notícias/Atualidades 148,17 324 185 359 112 426

Shows 85,79 19 145

Co

mp

arti

lhar

Atores:

vida/carreira x notícias/atualidades x shows

0 20 40 60 80 100 120 140 160

Dona Florinda

Kiko

Chaves

Dona Clotilde

Seu Madruga

Chiquinha

Turma

15

33

112

12

104

14

153

Quantidade de publicações

Personagens

0 20 40 60 80 100 120 140

Florinda Meza

Carlos Villagran

Roberto Bolaños

Angeline Fernandéz

Ramón Valdez

Maria Antonieta de las Nieves

Juntos

5

129

88

4

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19

58

Quantidade de publicações

Atores

Page 117: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

116

20

21

22

0 10 20 30 40 50

Marca Própria (Fórum Chaves)

Patrocinadores e/ou Apoio

Produtos Chaves

Assistir Chaves

34

18

24

49

Quantidade de publicações

Marketing

0 100 200 300 400 500

Quantidade

125

321

443

Personagens Atores Marketing

Publicações

0 200 400 600 800

1000

Curtir Comentar Compartilhar

Malandro 641,01 60,96 962,78

Caxias 372,36 30,3 498,16

Sem Vantagem 461,5 16,5 703,5

Méd

ia n

a u

tiliz

ação

das

fer

ram

enta

s

Interações entre perfis

no programa:

malandro e caxias

Page 118: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

117

23

24

25

0 200 400 600 800

1000

Curtir Comentar Compartilhar

Renunciador 619,71 72,4 836,47

Malandro 469,78 48,64 476,92

Sem Vantagem 346,25 28,25 296,5

Méd

ia n

a uti

liza

ção

das

fer

ram

enta

s

Interações entre perfis

no programa:

renunciador e malandro

0

200

400

600

800

Curtir Comentar Compartilhar

Caxias 485,93 42,56 545

Renunciador 551,38 43,766 726

Sem Vantagem 312,5 22,5 239

Méd

ia n

a uti

liza

ção

das

fer

ram

enta

s

Interações entre perfis

no programa:

caxias e renunciador

0 200 400 600 800

Curtir Comentar Compartilhar

Renunciadores 437,33 35,33 701,5

Malandros 466,67 33,1 473,03

Caxias 503,26 35,53 476,66

Interação entre os três 491,33 39,66 564,16

Méd

ia n

a uti

liza

ção

das

fer

ram

enta

s

Interações entre cada perfil

e entre os três no programa:

Renunciadores, Malandros e Caxias

Page 119: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

118

26

27

28

0 20 40 60

Quantidade de Publicações

Quantidade de Publicações

Malandro e Caxias 30

Renunciador e Malandro 51

Caxias e Renunciador 32

Renunciadores 6

Malandros 13

Caxias 9

Os três perfis 4

Categorias de interações entre perfis

no programa

0 500

1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000

Curtir Comentar Compartilhar

Caxias e Renunciador 762 55 346

Renunciador e Malandro 1029 135,5 3769,5

Malandros e Caxias 787,4 58,8 1340

Méd

ia n

a uti

liza

ção

das

fer

ram

enta

s

Interações entre perfis em releituras

0 5.000

10.000 15.000

Curtir Comentar Compartilhar

Renunciadores 1.613 135 10.064

Malandros 0 1 698

Caxias 788 38 854

Méd

ia n

a uti

liza

ção

das

fer

ram

enta

s

Interações entre cada perfil

ou entre o perfil e outro em releituras:

Renunciadores, Malandros e Caxias

Page 120: Monografia - A relação entre brasileiros e Chaves no Facebook

119

29

0 2 4 6

Quantidade de Publicações

Quantidade de Publicações

Malandro e Caxias 5

Renunciador e Malandro 4

Caxias e Renunciador 1

Renunciadores 1

Malandros 1

Caxias 1

Categorias de interações em releituras