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1 O capuchinho do Jardim Glória - Frei Francisco Erasmo Sigrist (1932-1998). Todos nós quando vivemos com a intensidade marcamos as pessoas com as quais nos relacionamos pelo nosso testemunho de vida. As posturas que assumimos diante das pessoas, a nossa maneira de se relacionar ou as coisas boas que fazemos marcam. Os bons exemplos que nos marcaram podem nos dar pistas ou ajudando-nos a viver melhor a nossa própria vida, já dizia Confúcio que, « a palavra convence, mas o exemplo arrasta». Recordar esses testemunhos podem suscitar o desejo de sermos pessoas melhores seguindo os pegadas deixadas por pessoas que viveram bem possamos também nós sermos fiéis aos nossos ideais vivendo-os de maneira frutuosa e criativa. Foram seres humanos que como nós, mas souberam encontrar uma luz que os guiou na vida e continua a brilhar quando recordamos seus gestos e reforçamos o pensamento de sermos fiéis aos nossos propósitos. Meditando a frase da beata de Calcutá quando diz que: o amor deve ser um gesto concreto mesmo que seja pequeno, mas concreto, ou seja se ama com todo o coração, com o corpo, com a entrega de sí, não somente com a intenção, por boa que seja, e como não se ama somente com o intelecto ainda que esse nos ajudem a amar. Em modo, contemplativo e afetivo vemos os nossos irmãos maiores que fizeram a história, não porque mudaram o mundo, mas porque souberam viver com sabedoria e coerência praticando aquilo que pregavam e mostrando a razão e o motivo pelo qual viviam. Podemos citar : João Paulo II, Armida Barelli, Madre Teresa de Calcutá, Charles de Foucauld ou Dag Hammarskjöld pela coerência com que viveram aquilo que ensinavam, em modo que a boca falava o coração estava cheio e se traduzia em vida. Esses são grandes personalidades são indivíduos exemplares que admiramos, não somente no mundo religioso, porque são testemunhas válidas de que vale a pena fazer escolhas na vida e ser coerente com a opção feita e para todos nós são uma força que anima impulsionando o nosso desenvolvimento da consciência e da responsabilidade na busca de uma sabedoria existencial e relacional que contribua a caminhada de toda a humanidade. Desse modo é o nosso dever recordarmos irmãos que consideramos importantes para a história da nossa circunscrição capuchinha e patrimonio da nossa herança espiritual e sobretudo testemunha da ação do Senhor encarnado, vivo e ressuscitado que se entrega a Igreja sua esposa e envia os irmãos a ser testemunho do Reino de Deus que se constroe na paz baseada na justiça e na fraternidade de modo especial nos chama atenção porque esse irmão faz parte do nosso carisma e da

Frei francisco sigrist

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O capuchinho do Jardim Glória - Frei Francisco Erasmo Sigrist (1932-1998).

Todos nós quando vivemos com a intensidade marcamos as pessoas com as quais nos

relacionamos pelo nosso testemunho de vida. As posturas que assumimos diante das pessoas, a

nossa maneira de se relacionar ou as coisas boas que fazemos marcam. Os bons exemplos que nos

marcaram podem nos dar pistas ou ajudando-nos a viver melhor a nossa própria vida, já dizia

Confúcio que, « a palavra convence, mas o exemplo arrasta». Recordar esses testemunhos podem

suscitar o desejo de sermos pessoas melhores seguindo os pegadas deixadas por pessoas que

viveram bem possamos também nós sermos fiéis aos nossos ideais vivendo-os de maneira frutuosa

e criativa.

Foram seres humanos que como nós, mas souberam encontrar uma luz que os guiou na

vida e continua a brilhar quando recordamos seus gestos e reforçamos o pensamento de sermos

fiéis aos nossos propósitos. Meditando a frase da beata de Calcutá quando diz que: “ o amor deve

ser um gesto concreto mesmo que seja pequeno, mas concreto”, ou seja se ama com todo o coração,

com o corpo, com a entrega de sí, não somente com a intenção, por boa que seja, e como não se

ama somente com o intelecto ainda que esse nos ajudem a amar.

Em modo, contemplativo e afetivo vemos os nossos irmãos maiores que fizeram a história,

não porque mudaram o mundo, mas porque souberam viver com sabedoria e coerência praticando

aquilo que pregavam e mostrando a razão e o motivo pelo qual viviam. Podemos citar : João Paulo

II, Armida Barelli, Madre Teresa de Calcutá, Charles de Foucauld ou Dag Hammarskjöld pela

coerência com que viveram aquilo que ensinavam, em modo que a boca falava o coração estava

cheio e se traduzia em vida.

Esses são grandes personalidades são indivíduos exemplares que admiramos, não somente

no mundo religioso, porque são testemunhas válidas de que vale a pena fazer escolhas na vida e

ser coerente com a opção feita e para todos nós são uma força que anima impulsionando o nosso

desenvolvimento da consciência e da responsabilidade na busca de uma sabedoria existencial e

relacional que contribua a caminhada de toda a humanidade.

Desse modo é o nosso dever recordarmos irmãos que consideramos importantes para a

história da nossa circunscrição capuchinha e patrimonio da nossa herança espiritual e sobretudo

testemunha da ação do Senhor encarnado, vivo e ressuscitado que se entrega a Igreja sua esposa e

envia os irmãos a ser testemunho do Reino de Deus que se constroe na paz baseada na justiça e na

fraternidade de modo especial nos chama atenção porque esse irmão faz parte do nosso carisma e da

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nossa espiritualidade e era nitido na sua ação pessoal a comunhão com o projeto de Igreja na

America Latina que através do seu episcopado faz opção pelos pobres e pelos jovens.1

Entre tantos frades capuchinhos da Província de São Paulo um que sem dúvida merece ser

recordado, quase treze anos após a sua morte é Frei Francisco Erasmo Sigrist(1932-1998), o

franciscano do Jardim Glória.

O capuchinho nasceu no dia 30 de maio de 1932 em Helvetia, Indaiatuba, uma cidade que

começou com uma colonia de suiços católicos emigrados que será lembrada nos relatórios dos

missionários tretinos ao ministro Geral dos capuchinhos, o suiço Bernardo Christen de

Andermatt.2 Era filho de Francisco Xavier Sigrist e de Lina Ambiel Sigrist, iniciou sua vida cristã

ali mesmo quando foi batizado no dia 02 de junho de 1936, e onde também foi crismado no ano

sucessivo, e recebeu a primeira eucaristia na Igreja de Nossa Senhora de Lourdes.

Tem a sua formação na escola primaria na Escola de São Nicolau de Flüe entre os anos de

1939-1943, em seguida ingressa no Seminário Seráficos dos Capuchinhos em Piracicaba onde cursa

o segundo grau entre os anos de 1944-1949, quando pede um afastamento do Seminário.

Tomou alguns anos para reflexão e depois de 26 anos em 1975 retomou contatos com a

Provincia dos Capuchinhos e entrou no noviciado no ano de 1976 e fez a primeira profissão no ano

sucessivo nas mãos do Frei Francisco Belloto, e aquela perpetua em em Würzburg, Alemanha, nas

mãos de Frei Nicolau da Silva em 1982.

Quanto a sua formação filosofico-teologico realizada nos anos de 1975-1978 a Nova Veneza

e de 1980-1983 em Würzburg, na Alemanha. Onde também recebeu os ministérios de acolitato e

leitorato e foi ordenado diacono em 1983 e a ordenação presbiteral aconteceu na Igreja Nossa

Senhora de Lourdes de Helvetia no final de 1983.

Ordenado exerceu o seu ministério por quinze anos na cidade de Piracicaba, no ano de 1984

é transferido ao convento do Sagrado Coração de Jesus, e recebe o cargo de vice-mestre de noviços

e vigário paroquial no ano seguinte se transfere para a Fraternidade Nossa Senhora da Glória, no

Jardim Glória, que era uma favela de Piracicaba realmente transformada num jardim com a sua ação

em favor do povo daquela comunidade. Ali numa barraca que era o convento dos frades ele viveu e

trabalhou até a morte e com o claro projeto de realizar uma vida de intensa radicalidade evangélica.

A sua ação era desenvolvida não somente através do ministério sacerdotal, mas da ação o

Frei trabalhava como pedreiro junto com as outras pessoas ajudando construir casas para a

população daquela comunidade.

1 Cf. CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO , Puebla, 1979, n. 1186. 2 Cf. Anal OFMcap (1898) 211-212, uma carta de Frei Bernardino de Lavalle datada 16.06.1898, contado sobre a

Colonia de Helvetia ao Ministro Geral Bernardo de Andermatt e afirmando que eram gente boa e católica.

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Esse frade que assumiu o carisma da sua Ordem sabendo traduzir em gestos concretos

encarnando- o em sua vida, em modo que sua contribuição é significativa como um

testemunho franciscano-capuchinho. As pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-lo

puderam perceber na sua pessoa uma simplicidade e humildade franciscana, seja pela sua opção

de estar no meio dos pobres, trabalhando com eles, colocando-se com eles, como um deles.3

Como podemos notar no comentário de Maria Regina e Carlos Eduardo, que assim

relataram sobre a experiencia de inserção feita pelo Frei : “Enquanto capuchinho, deu a todos um

testemunho exemplar de inserção entre os pobres, fazendo-se pobre, vivendo entre os pobres e para

os pobres, conforme os ideais de São Francisco de Assis, sem deixar de estar permanentemente

aprofundando seus estudos teológicos; os quais repassava a seus inúmeros alunos dos cursos de

teologia da diocese de Piracicaba. Vai-se um homem de Deus, fica para sempre seu testemunho de

coerência entre fé e vida.”4 Podemos dizer que recordou com a vida o quando se lê no capítulo

sétimo da Regra Não Bulada de São Francisco, “ que os frades sejam menores ”.5

Maria Regina e Carlos Eduardo recordam ainda a obra realizada pelo Frei como teólogo em

favor das Equipes de Nossa Senhora para e elaboração do documento de reflexão em preparação

para o encontro de Santiago de Compostela no ano de 2000 que colaborou com o seu conhecimento

teológico.

Olhando para a história dos capuchinhos construida tendo como referência a humildade e

a simplicidade que tem expressão na minoridade percebemos que “estar pobre entre os pobres”6

sempre foi e continua sendo uma baliza essencial para o carisma da bela e santa reforma, que a

assumiu como um dos pilares fundamentais visto que os seus maiores santos, e as figuras que

adiquirem importancia, de certo modo se tornam referência para a Ordem Capuchinha, não foram

os intelectuais, ainda que esses também se encontram, mas foram os frades mais simples que

faziam trabalhos manuais como porteiro, esmoleiro, sacristão, que como verdadeiros menores, na

sua simplicidade faziam tanto bem a todo o povo de Deus, principalmente os mais pobres.

Somente para citar nossos santos mais populares de nossa Ordem são: Félix de Cantalicio

(1515-1587) irmão leigo esmoleiro, Serafim de Montegranaro (1540-1604), irmão leigo, Bernardo

de Corleone (1605-1667), irmão leigo Crispim di Viterbo (1668-1750) irmão leigo esmoleiro,

Inacio de Laconi (1701-1781), irmão leigo, Felix de Nicosia(1715-1787) irmão leigo esmoleiro,

Francisco de Camporosso (1804-1866) irmão leigo e esmoleiro, Conrado de Pazham (1818-1894)

irmão leigo e porteiro, beato Leopoldo Alpandeire (1864-1956).

3 Cf. JHÖRI M., Carta Circular n. 4, Reacendemos a chama do nosso carisma, Roma, 2008, p. 13-14 4 Cf. Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora, nº 342, p. 8. 5 Cf. RNB V, 11-12. 6 Cf. Constituições OFMcap, IV, 3-4.

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Os nossos grandes santos e os mais populares são todos irmãos leigos que exerceram

serviços simples mostrando que o nosso carisma se consolidade na humildade e na minoridade. Os

frades são conhecidos algumas vezes pela pregação e as missões populares, mas a Ordem

capuchinha e a mensagem franciscana entra na casa das pessoas através do rosto simples do irmão

esmoleiro, eles são os frades que o povo conhece e se lembra. Na biografia de Bernardo de

Andermatt escrita por Hilarin Felder o biografo coloca na boca do ministro geral uma frase que e

interessante que porque a prova que nossa Ordem deve se fundamentar na humildade é o fato que a

maioria dos nossos frades santos são irmãos leigos.7

Essa humildade testemunhada pelos irmãos leigos que deve caracterizar cada capuchinho

independente do fato que ele seja ministro ordenado ou não é testemunhada pelo Frei basta ler a

carta de agradecimento da comunidade do Jardim Glória aos capitulares do XVIIIº Capitulo

Provincial dos capuchinhos de São Paulo, descrevendo-o como mais que um pai, uma estrela que

iluminava a escuridão e vem sublinhada a amizade que nutria por cada morador da comunidade sem

fazer distinção de pessoas.

Frei Sigrist, seja pela opção de vida feita seja pela modo em que a Irmã morte veio visitálo

e levá-lo para os braços do amado de nossa alma o Cristo Esposo é profundamente franciscano , a

morte que o beija com um infarto fulminante e os animais da casa que são os seus companheiros

fiéis no momento do transito é paradigmático o Francisco do Glória que é velado pela gata e o

cachorro no momento em que encontram o seu corpo como descrito por frei Joaquim Dutra. 8

No nosso trabalho apresentado em 2002 seja em forma de palestra que com o workshop,

procuramos sobretudo evidenciar o testemunho do capuchinho comprometido com os pobres

compartilhando com eles a sua sorte por uma opção feita a partir uma vivencia radical do evangelho

e em comunhão com seja com a espiritualidade da sua Ordem seja com as linhas diretivas da Igreja

Latino-americana do periodo.

Apresentando com o retorno a uma das linhas mestras do franciscanismo autentico

atualizada para os nossos dias dentro do contexto do Brasil e da América Latina.9

Frei Francisco completa o seu ciclo completanto ao todo sessenta e seis anos de vida, vinte e

dois de vida franciscano capuchinha, e quinze de ministério presbiteral. Concluindo essa breve

exposição penso que é de fundamental importancia transcrever essas linhas abaixo num cartão em

homenagem ao Frei Sigrist feito pelo Frei José Orlando Longarez, na sua criatividade poética e na

sua liberdade inspirada pelo espiríto tantas vezes consegue na sua visão artistisca-mistica traduzir

7 Cf. H. FELDER, Ministro generale e arcivescovo Bernard Christen da Andermatt e il rinnovamento dell’Ordine dei

cappuccini, Roma, 2010, p. 382. 8 Cf. J. ALVES DUTRA, Frei Francisco Erasmo Sigrist, in http://www.procasp.org.br 9 Cf. CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO, Puebla, 1979, 1135; 1141.

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na simplicidade experiencias que discursos complicados não conseguem fazer compreender.

Longarez que era um fã incondicional do Francisco do Glória traduz a sua experiencia assim:

“ Bem aventurado aquele que chega diante de Deus feliz de mãos vazias, porque deu tudo”

No princípio era a idéia: Missão. No principio era o sonho: apenas viver entre os pobres,

como pobre e para os pobres.

Foi assim que a idéia se fez sonho e o sonho se fez idéia:

«Vida e Regra de Francisco ». Não do Francisco de Assis mas do Francisco do Glória,

que pela fé e doação, idéia e sonho se fizeram ação.”10

Frei Emerson Aparecido Rodrigues, frade menor capuchinho, bacharel em teologia pela

Pontificia Universidade Antonianum, Roma, estudante de mestrado em Teologia Espiritual com

especialização em Franciscanismo.

BIBLIOGRAFIA.

CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO, Documento de Puebla, 1979.

H. FELDER, Ministro generale e arcivescovo Bernard Christen da Andermatt e il rinnovamento

dell’Ordine dei cappuccini, Roma, 2010, p. 382.

Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora

JHÖRI M.,Carta Circular n. 4, Reacendemos a chama do nosso carisma,Roma, 2008.

RODRIGUES E., Exposição de fotos e esboço de uma biografia: Frei Sigrist, o franciscano do Jardim

Glória, in “Saúde, Dinheiro e Amor: Estudo da vivência religiosa a partir dos seus sujeitos,

Simposio CEHILA- Brasil, Piracicaba, 4-6 setembro de 2002.

Internet.

Alves Dutra J., Frei Francisco Erasmo Sigrist, in http://www.procasp.org.br

Rodrigues E., O franciscano do Jardim Gloria, in http://savprocasp.blogspot.com

10 N.B. A poesia não é de autoria do Frei Longarez embora tenha sido publicamente propagada por ele é

uma poesia composta por Sonia Bernardini Benato da ENS, e publicada em forma de cartão com ao fundo

uma foto do Frei Sigrist realizada pelo Frei J. ORLANDO LONGAREZ, in Francisco Erasmo Sigrist, in http://www.procasp.org.br