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História da Igreja I: Aula 6 - Império, bárbaros e hereges

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Curso desenvolvido para a ministração de aulas de História Eclesiástica I no Seminário Teológico Shalom. O curso envolve a exposição da história da igreja cristã, dos tempos de Jesus aos tempos atuais, passando pelo seu surgimento e desenvolvimento, domínio com a conversão de Constantino, ascensão papal, movimentos reformadores e avivalistas da era moderna, até os movimentos ecumenista e pentecostal do séc. XX. Esta aula apresenta o período de institucionalização da igreja cristã, desde a conversão de Constantino até os primeiros projetos missionários e a estabilização da doutrina através dos sete concílios ecumênicos.

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  • 1. A igreja contra-ataca A Igreja, o Imprio, os brbaros e os hereges Histria Eclesistica I Pr. Andr dos Santos Falco Nascimento Blog: http://prfalcao.blogspot.com Email: [email protected] Seminrio Teolgico Shalom
  • 2. A Igreja e o Imprio O Imprio Romano passava por momentos atribulados no incio do sc. IV. Aps um perodo de estabilidade entre 31 a.C. e 192, o Imprio viveu um sculo de revoluo, entre 192 e 284. Um ano depois, com a ascenso de Diocleciano, buscou-se reorganizar o Imprio em bases mais autocrticas, tomadas de emprstimo dos despotismos orientais, de forma a garantir a cultura greco- romana. Como o cristianismo ameaava esta cultura, Diocleciano tentou destru-lo, sem sucesso, entre 303 e 305. Mais astuto, seu sucessor, Constantino, resolveu que o melhor seria usar a Igreja como um aliado para salvar a cultura clssica. O processo em que Igreja e Estado chegaram a um acordo comeou quando Constantino conseguiu o controle completo do Estado. Embora dividisse oficialmente o poder com Licnio entre
  • 3. Constantino Constantino (c. 274-337), filho ilegtimo do lder militar Constncio com uma bela mulher livre e crist do Oriente, de nome Helena, foi eleito imperador do oeste pelo seu exrcito em 306, aps a morte de seu pai, antigo lder da parte ocidental do Imprio Romano. Nesta poca, o Imprio tinha seu poder dividido em uma tetrarquia, com dois imperadores (Augustos) e dois sub-imperadores (Csares) dividindo o Imprio em Ocidental e Oriental. Com as lutas internas, o Imprio chegou a ter seis governantes (5 Augustos e 1 Csar) em 307, mas Constantino, atravs de manobras polticas (casamento com a filha de um dos Augustos, Maximiano, e irm do nico Csar, Maxncio) e vitrias em batalhas (contra seu cunhado Licnio), levaram-no a se tornar o nico imperador romano, com poder inconteste at sua morte, em 337.
  • 4. Constantino A histria de sua associao com o cristianismo vem de uma batalha, em 312, onde parecia que seria derrotado. Ento, viu uma cruz no cu, com a frase Com este sinal, vencers em latim. Tomando como bom pressgio, perseverou e venceu a batalha da ponte Mlvia, sobre o rio Tibre. Independente da viso, fato que ele teve iniciativa de associar o cristianismo ao Imprio, e o fato de ter protelado seu batismo at pouco antes da morte e ter mantido sua posio de Pontifex Maximus, sacerdote principal da religio pag do Estado, parece apoiar a ideia. Alm disso, sua postura de ordenar a execuo de um jovem que poderia reivindicar seu trono no condiz com a conduta de um cristo sincero. Por isso, a associao Igreja-Estado pode ter sido oriunda de uma mistura de superstio e sagacidade em sua estratgia de governo.
  • 5. Constantino Outra contribuio para a histria foi a construo da cidade de Constantinopla, em 330, de onde passou a reinar. Este ato ajudou a dividir Oriente e Ocidente e abriu o caminho para o Cisma de 1054. Contudo, isso providenciou um paraso para a cultura greco- romana quando Roma caiu no sc. V. Constantinopla eventualmente tornou-se o centro do poder poltico do Oriente, e quando Roma caiu em 476, o bispo de Roma acabou sendo deixado com o poder poltico sobre a cidade, alm do espiritual. Os filhos diretos de Constantino continuaram sua poltica de favorecimento da Igreja, colocando o paganismo na defensiva quando os sacrifcios pagos e a frequncia aos templos foi proibida. Um pequeno retrocesso aconteceu com a ascenso de Juliano, em 361, ao trono imperial.
  • 6. O retrocesso sob Juliano Juliano (332-363), novo imperador de Roma, havia sido forado a aceitar o Cristianismo formalmente, porm a morte de parentes nas mos do governo cristo e o estudo da filosofia ateniense o levaram a se tornar um seguidor do neoplatonismo. Por conta de suas novas descobertas, retirou da Igreja Crist os privilgios e restaurou a liberdade plena de culto, com facilidades sendo dadas para ajudar no avano da filosofia e da religio pag. O perodo de provao da igreja durou apenas 2 anos, porm, e Juliano, conhecido como o Apstata, apenas interrompeu momentaneamente o processo de institucionalizao da Igreja Crist.
  • 7. A Igreja Institucional Graciano: Renuncia ao ttulo de Pontifex Maximus. Teodsio I: Promulga em 380 e 381 um edito tornando o cristianismo a religio exclusiva do Estado. Qualquer pessoa que seguisse outra forma de culto receberia a punio do Estado. 392: O Edito de Constantinopla estabelece a proibio do paganismo. 529: Justiniano determina o fechamento da escola de filosofia de Atenas, dando mais um golpe no paganismo.
  • 8. A Igreja e os brbaros A partir do final do sc. IV, iniciou-se um processo de migrao de povos brbaros (no-romanos) em direo ao territrio imperial. Este processo gerou enormes problemas para o Imprio, terminando com vrias invases e saques a Roma e outras cidades importantes. Com o aparecimento destes povos, surgiu um novo problema: Como levar o evangelho para eles e lev-los a conhecer a Cristo. Ao longo dos sculos seguintes, muitos homens se colocaram disposio para a obra, levando o evangelho a cada um destes novos povos. Em alguns casos, novas igrejas foram formadas, com liturgias prprias da regio. Em outros casos, povos inteiros se converteram ao cristianismo assim que seu lder tomou a deciso de seguir o Caminho. Contudo, muitas destas converses em massa eram polticas e no demonstraram grandes transformaes de vida.
  • 9. A Igreja e os brbaros Os godos foram os primeiros a aparecer na fronteira do Danbio, acossados pelas tribos mongis. Receberam permisso das autoridades romanas para entrar no Imprio. O avano rpido gerou atritos e levou a uma batalha em Adrianpolis, em 378, que resultou na morte do imperador Valente e na entrada dos visigodos (godos do Ocidente) na regio oriental do Imprio. Muitos atravessaram o Danbio e comearam a pilhar as cidades imperiais, eventualmente saqueando Roma em 410 e fundando um reino na Espanha em 426. Os vndalos, seguidores do arianismo (controvrsia que trabalharemos mais tarde), do leste do Reno, se fixaram no norte da frica, enquanto os ostrogodos, tambm arianos, assumiram a liderana do decadente Imprio Romano.
  • 10. A Igreja e os brbaros Os lombardos, os borgonhenses arianos e os francos pagos cruzaram o Reno e fixaram-se no que hoje a Frana. J os anglo-saxes fixaram-se na Inglaterra. Os hunos de tila propiciaram uma enorme ameaa igreja, porm acabaram derrotados em Chalons, em 451. Mesmo com avanos na evangelizao dos pagos, outras dificuldades surgiram no sc. VI, com novas ameaas vindas dos lombardos arianos, e no sc. VII, com o surgimento do Islamismo.
  • 11. A evangelizao dos brbaros Armnia: Gregrio, o Iluminador, levou o evangelho ao rei Tiridates, que se converteu e se batizou por volta de 300. A Bblia foi traduzida para o armnio em 433 e tornou-se o primeiro Estado a tornar-se oficialmente cristo. Etipia: Frumncio (c.300-c.380) e seu irmo, por conta de um naufrgio, chegaram ao local, pregando ali. Atansio de Alexandria o consagrou chefe da Igreja Etope, sob a proteo de Alexandria, subordinao que durou sculos at sua independncia, em 1957. Godos: Comeou antes da travessia do Danbio. lfilas (c. 311-383), cristo ariano, pregou a este povo, vivendo toda sua vida como bispo deste povo. Sua obra foi to boa que muitos godos viveram como cristos. Codificou a lngua dos godos em escrita, criando um alfabeto e dando-lhes a Bblia em seu idioma, exceto o livro de Reis, pois o povo era muito guerreiro.
  • 12. A evangelizao dos brbaros Ilhas Britnicas: Evangelho possivelmente levado por soldados e mercadores romanos, possveis trs bispos celtas representaram a Igreja britnica no Conclio de Arles, em 314. Pelgio, adversrio de Agostinho, era da Igreja Celta e comeou a ensinar sua heresia por volta de 410 naquela regio. No reconhecendo a jurisdio romana, adotou as prticas de datao pascal da Igreja Oriental, alm de ter outras diferenas menores. Quando os soldados imperiais deixaram a regio, no incio do sc. V, ficaram indefesos e foram exterminados junto com o povo celta ou expulsos para as colinas do norte pelos povos pagos anglos, saxes e jutos.
  • 13. A evangelizao dos brbaros Glia: Martinho de Tours (c.316-c.396) sentiu o chamado para pregar aos borgonheses que se estabeleceram no sul da regio. Adotando tticas mais duras e pioneiras na comunicao do Evangelho, organizou monges guerreiros em grupos e os liderou na destruio dos bosques, onde aconteciam os cultos pagos. Fracassou quando os borgonheses foram dominados pelos primos franceses que se estabeleceram na Glia. Gregrio de Tours (c.538-c.594) descreve como os francos se converteram. No final do sc. V, o rei Clvis casou-se com Clotilde, princesa crist da Borgonha. A sua influncia, junto com o que Clvis entendeu ser uma ajuda divina numa luta, levou-o converso em 496. Com sua converso, seu povo aceitou em massa o cristianismo. A Glia se tornaria, a partir da, base para o envio de missionrios para a Espanha rabe e ariana e envio de auxlio militar para salvar o bispo
  • 14. A evangelizao dos brbaros Irlanda: Patrcio (c. 389-461) foi levado aos 16 anos por piratas da Bretanha para a Irlanda. Ali, viveu 6 anos cuidando de gado. Ao retornar, sentiu o desejo de ser missionrio na Irlanda, trabalhando de 432 a 461 na regio, pregando entre os celtas e derrotando os sacerdotes druidas. Organizou os cristos em mosteiros nas reas tribais. Esccia: Columba (c. 521-597) foi o seu apstolo, fundando em Iona, em 563, um mosteiro que se tornou centro na evangelizao da Esccia. Dali, Aidano levou o evangelho aos invasores anglo-saxes da Nortmbria, um sculo mais tarde. O cristianismo celta, em ambos os pases, tornou-se rival de Roma por conta da aliana dos anglo-saxes, a quem ambos haviam ajudado a trazer ao cristianismo.
  • 15. A formao da doutrina nos Conclios A Igreja, a partir do sc. IV, sofreu muito com os problemas doutrinrios. Questes como a natureza de Cristo e sua relao com o Pai trouxeram inmeras controvrsias que ameaaram a estabilidade e a ortodoxia da nova Igreja Universal. Para resolver as questes, diversos Conclios, reunies de bispos para deciso de assuntos, foram convocados, reunindo bispos do Ocidente e do Oriente. Os primeiros sete conclios da igreja so chamados de Conclios Ecumnicos, por serem aceitos pela maioria das igrejas crists. A partir deste, muitos outros pretensos conclios ecumnicos foram realizados pela Igreja Catlica, porm com representatividade apenas ocidental, tenderam a formular doutrinas de interesse papal ou eclesistico catlico. Desta forma, tais conclios posteriores aos sete no so considerados como vlidos pelas demais igrejas crists (ortodoxas e protestantes).
  • 16. Os Sete Conclios Ecumnicos Niceia (325): Tratou a controvrsia ariana. Constantinopla (381): Formulao do credo niceno e condenao do apolinarianismo. feso (431): Condenao do nestorianismo. Calcednia (451): Condenao do monofisismo II Constantinpla (553): Controvrsia dos Trs Captulos e tentativa de unio com os monofisitas. III Constantinopla (681): Condenao do monotelismo. II Niceia (787): Tratou a questo das imagens na igreja.
  • 17. Niceia A controvrsia ariana Controvrsia surgida na parte oriental da Igreja, surgiu de uma discusso provocada por Alexandre, bispo de Alexandria. Por volta de 318 ou 319, ele discutiu sobre O Grande Mistrio da Unidade na Trindade, tentando explicar como trs pessoas poderiam se unir em um Deus eterno. Um de seus presbteros, rio (c. 250-336), erudito asceta e pregador popular, discordou da mensagem, afirmando que era impossvel haver uma distino entre pessoas da Divindade, e como queria evitar o politesmo, decidiu condenar a doutrina da divindade de Cristo. Para rio, Jesus no era coeterno com Deus, mas era uma criatura de Deus, muito superior aos homens e criado antes da fundao do mundo, porm inferior ao Pai. Era o mais alto dos seres criados, no podendo ser comparado a eles, de substncia diferente da divina.
  • 18. Niceia A controvrsia ariana A questo abria uma brecha soteriolgica: Como Cristo poderia salvar o homem se no fosse plenamente Deus, mas sim menor que Deus e de essncia semelhante ou diferente do Pai? Condenado por Alexandre aps um snodo local, rio foge para o palcio de Eusbio, bispo de Nicomdia. A controvrsia, centralizada na sia Menor, ameaava a unidade do Imprio e da Igreja. Constantino, ento, buscou resolver o problema. Inicialmente, enviou cartas ao bispo de Alexandria e a rio, mas no obteve sucesso. Para por fim questo, Constantino resolveu convocar os bispos da igreja para um conclio, de forma a solucionar de uma vez por todas a questo.
  • 19. Niceia A controvrsia ariana O conclio se reuniu no vero de 325. Entre 250 e 300 bispos estavam presentes, apesar de nem 10 serem da parte ocidental. O conclio foi presidido e pago pelo imperador. Trs partidos se formaram: rio, apoiado por Eusbio de Nicomdia e uma minoria; Atansio, defensor da interpretao ortodoxa; e Eusbio de Cesareia, lder do maior partido e que props uma interpretao conciliar entre os dois grupos.
  • 20. Niceia A controvrsia ariana Questo tratada rio e Eusbio de Nicomdia Atansio Eusbio de Cesareia Gerao de Jesus Gerado antes da fundao do mundo do nada Co-eterno Gerado antes da fundao do mundo, no do nada. Substncia de Jesus Essncia diferente Essncia igual Essncia semelhante Relao Pai e Filho Filho abaixo do pai Co-iguais Co-iguais
  • 21. Niceia A controvrsia ariana Apesar de Eusbio de Cesareia ter mais de 200 bispos seguindo suas ideias de incio, a ortodoxia venceu temporariamente, com a afirmao da eternidade de Cristo e a identidade de sua substncia com o Pai. O Credo criado neste conclio foi o Credo Apostlico, interrompido aps a parte E no Esprito Santo. O restante foi adicionado no segundo conclio. A questo no se encerrou em Niceia. Entre 325 e 361, a ortodoxia teve que enfrentar uma reao que provocou sua derrota temporria e a vitria do Arianismo. A questo s seria resolvida no ano 381, quando Teodsio definiu como a f dos verdadeiros cristos as doutrinas ortodoxas apresentadas em Niceia, aps a realizao do Conclio de Constantinopla.
  • 22. I Constantinopla (381) O primeiro Conclio de Constantinopla, em 381, foi convocado para resolver algumas questes: Decidir, definitivamente, sobre a questo ariana. Gregrio de Nissa (c. 330-c.394) e Gregrio de Nazincio (c. 330-390) foram os grandes expoentes da ortodoxia, pregando contra a posio ariana. Macednio, bispo de Constantinopla entre 341 e 360, ensinava que o Esprito Santo era ministro e servo no mesmo nvel dos anjos, sendo uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho. Foi condenado, com o Credo de Constantinopla declarando que o Esprito era co-eterno e procedia do Pai. Apolinrio (c. 310-c.390), bispo de Laodiceia, amigo de Atansio e defensor da ortodoxia, pregou que Cristo tinha um corpo e alma reais, mas o esprito no homem foi substitudo pelo logos, que passou a ser o elemento ativo em Cristo, dominando-o plenamente e minimizando sua humanidade. Foi condenado, com o conclio entendendo que as duas naturezas, humana e divina, estavam plenamente representadas na figura de Jesus Cristo.
  • 23. feso (431) O Conclio de feso foi convocado pelo imperador Teodsio II para resolver a questo nestoriana que assolava a igreja. Nestrio (c. 381-c. 452), patriarca de Constantinopla a partir de 428, rejeitava o uso do termo theotokos (me de Deus) aplicado a Maria, por entender que isso a exaltaria indevidamente. Sugeriu o termo Christotokos (me do Cristo) como alternativa, para lembrar que ela foi apenas a me do lado humano de Cristo. Para explicar a questo, Nestrio entendeu que as naturezas humana e divina estavam unidas de forma mecnica em Cristo, sendo apenas um homem perfeito moralmente associado divindade, sendo mais portador de Deus do que homem-Deus. A doutrina foi condenada, de forma a enfatizar que Jesus era Deus desde a eternidade, porm o movimento nestoriano permaneceu como igreja, sendo
  • 24. Calcednia (451) utico (c. 378-c. 455), monge em Constantinopla, ensinava que, aps a Encarnao, as naturezas de Cristo, humana e divina, se fundiram em uma, a divina. Tal doutrina negava a verdadeira humanidade de Cristo. Inicialmente condenado em feso e posteriormente em um snodo regional em 448 pelo patriarca de Constantinopla, utico reagiu, acusando-o de nestorianismo, sendo reabilitado em um novo conclio em feso, em 449. Este conclio, convocado por Discoro, patriarca de Alexandria e monofisita, foi condenado pelo papa Leo I, que escreveu um Tomo onde condenava as ideias de utico. O Patriarca de Constantinopla, Flaviano, foi condenado, surrado, pisado e morto dias depois, gerando o comentrio de Leo de que aquele tinha sido um Snodo de Ladres. Finalmente convocado pelo imperador bizantino Marciano, o conclio condenou utico e Discoro e promulgou a teologia difisista, em que Cristo verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Este conclio encerrou a questo das duas naturezas de Jesus Cristo, porm vrios cristos
  • 25. II Constantinopla (553) Convocado pelo imperador bizantino Justiniano I e com participao majoritria oriental, visava analisar algumas obras muito populares na igreja, mas que possuam cunho supostamente nestoriano. As obras, escritas por Teodoro de Mopsustia, Teodoreto e Ibas de Edessa, ficaram conhecidas como Trs Captulos. O papa Viglio demorou em condenar as obras e acabou aprisionado por Justiniano, aps tentar levar o conclio para a Itlia para ter a presena dos bispos ocidentais, e garantir nmeros iguais de bispos ocidentais e orientais, algo negado pelo imperador. O conclio, mesmo convocando o papa sem sucesso para se explicar, condenou as trs obras. O prprio papa enviou um documento assinado por si e outros 16 bispos ocidentais, condenando as ideias de Teodoro, mas poupando a sua pessoa e as pessoas e obras dos outros dois rus.
  • 26. III Constantinopla (680-681) Buscando resolver a questo monofisita, que havia segregado as igrejas egpcia e a sria, o imperador Herclio buscou uma frmula intermediria que aproximasse ambas. O resultado foram as doutrinas do monoergismo (Jesus tinha duas naturezas, mas uma energia, divina) e, a seguir, o monotelismo (duas naturezas, mas uma vontade, divina). Contestada pelo Patriarca de Jerusalm e pelo Papa, a doutrina foi combatida, gerando uma controvrsia na igreja. Quando Herclio morreu, Constante II, seu neto, assumiu o trono e tentou acabar com a controvrsia impedindo suas discusses. Por conta disso, o Papa Martinho I e o monge Mximo, opositores do monotelismo, foram torturados, exilados e mortos. Com a morte de Constante, em 668, e a queda do Egito e da Sria para os muulmanos, o debate ficou para ser resolvido por Constantino IV, que convidou todos os cinco patriarcas para debaterem sobre a questo. Aps 10 meses de discusses, com a presena pessoal dos patriarcas de Constantinopla e Antioquia e de legados dos outros trs, o monotelismo e seu defensor, Macrio de Antioquia, foram condenados. O Conclio declarou que, em
  • 27. II Niceia (787) O uso de imagens/cones nas igrejas crists havia se difundido ao longo dos sculos. Originalmente com cunho educativo, visando apresentar as histrias bblicas aos iletrados, passou a gerar a venerao dos personagens que representavam, incluindo mrtires da igreja. Buscando acabar com o que entendia como idolatria, o imperador Leo III e, posteriormente, seu filho Constantino V, resolveram tratar a questo. O primeiro baixou dois editos, em 726 e em 730, proibindo o uso de imagens nas igrejas, enquanto o segundo convocou um conclio em Hieria, que no contou com as igrejas ocidentais, e que chancelou a condenao. Este conclio foi anulado em 784, quando Tarsio, novo patriarca de Constantinopla, buscou uma reaproximao com Roma. Originalmente convocado para Constantinopla em 786, foi dissolvido e transferido para Niceia um ano depois, aps protestos dos bispos ocidentais. Citando textos que falavam das imagens de querubins na Arca e no Templo, e com o apoio do imperador
  • 28. Controvrsia Antropolgica Enquanto a igreja oriental dividia-se em crises especulativas, a igreja ocidental enfrentou um debate mais prtico, sobre a possvel ao humana na salvao. A controvrsia foi iniciada por Pelgio (c. 360 c. 420), monge e telogo britnico que chegou a Roma em 400 e comeou a pregar sua teologia sobre a salvao. Como no passara pela luta interior pela qual Agostinho passou (como veremos adiante), Pelgio tendia a dar vontade humana um papel no processo da salvao. Agostinho, que conheceu e discordou de Pelgio em 410, entendeu que a vontade humana era insuficiente para livr- lo do pntano do pecado. Expulso de Roma em 418, Pelgio insistia que o homem criado livre como Ado, com a capacidade de escolher entre o bem e o mal, pois cada alma criao individual de Deus e, portanto, no herdeira da contaminao do pecado de Ado. A universalidade do pecado se explicaria pela fraqueza da
  • 29. Controvrsia Antropolgica Agostinho de Hipona (354-430), por outro lado, entendia que isso era uma negao da graa de Deus, compreendendo que a regenerao era obra exclusiva de Deus e que o pecado de Ado atingiu a todos os homens, pois Ado era o pai da raa humana. Como sua razo estava totalmente corrompida pelo pecado, no era capaz de usar a sua vontade quanto questo da salvao. Logo, a salvao viria somente para os eleitos atravs da graa de Deus em Cristo. As ideias de Pelgio foram condenadas no Conclio de feso, mas as ideias de Agostinho tambm no foram bem aceitas. Joo Cassiano (c. 360 c. 435) tentou uma soluo conciliatria, onde vontade humana e divina cooperavam na salvao, pois a vontade humana era enfraquecida, mas no corrompida, pelo pecado. Essa ideia era para evitar que as doutrinas da eleio e da graa irresistvel de Agostinho gerassem uma irresponsabilidade tica. A proposta de Cassiano foi condenada em 529 no
  • 30. Fontes Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo atravs dos sculos: uma histria da igreja crist. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker. So Paulo: Vida Nova, 2008. Textos auxiliares: DREHER, Martin N. Coleo Histria da Igreja, 4 vols. 4 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1996. GONZALEZ, Justo L. Histria ilustrada do cristianismo. 10 vols. So Paulo: Vida Nova, 1983