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O LIVRO DE 1 E 2 REIS

Os livros de 1 e 2 Reis

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O LIVRO DE 1 E 2 REIS

TÍTULOEsse nome foi dado a esses livros devido às

primeiras palavras com que o primeiro deles se inicia, “Wehammelek” em hebraico (“Sendo o rei...”), nome que se adapta perfeitamente ao assunto, pois os livros tratam do domínio dos reis dos dois reinos, o de Israel e o de Judá. No original hebraico 1 e 2 Reis formavam um só livro. Ao serem traduzidos para o grego, foram divididos pelos tradutores porque o grego requeria um terço mais de espaço do que o hebraico, e os rolos em que eram escritos eram de tamanho limitado.

AUTORApesar de os livros serem anônimos, são tradicionalmente

considerados como tendo sido escritos por Jeremias, auxiliado pelo seu secretário, Baruque (Jr 45). É evidente que o autor era pelo menos contemporâneo de Jeremias, e a ênfase dos livros sugere o ponto de vista dos profetas. Assim, Jeremias, o profeta que viveu na época do exílio (descrito nos capítulos finais) pode muito bem ter sido o autor. O autor fez uso de registros históricos da época, referindo-se às vezes a eles nos dois livros:

Livro dos Sucessos de Salomão (1Rs 11:41); Livro das Crônicas dos Reis de Israel (1Rs 14:19); Livro das Crônicas dos Reis de Judá (1Rs 14:29); Livro de Isaías (2Rs 18-20 refere-se a Isaías 36-39);

DATA (970-560 A.C.)Os acontecimentos de 1 e 2 Reis

estendem-se desde a morte do rei Davi, o primeiro rei da aliança, até o cativeiro de Zedequias, último rei de Judá. No último capítulo há ainda uma referência à libertação de Joaquim, no ano 560 a.C., quando Evil-Merodaque começou a reinar na Babilônia.

OBJETIVORelacionar a história à observância da

aliança. O autor procura enfatizar para a nação, que marchava para o cativeiro em 586, a conexão inseparável entre obediência e bênção, e entre desobediência e maldição. Os livros de Reis dão forte ênfase à necessidade de arrependimento e resposta ao Deus da aliança, de modo que a restauração pudesse ser efetuada e cumpridos os objetivos da aliança.

ESBOÇO DE 1 E 2 REIS1 Reis

1- Reino Unido sob Salomão ...................................................1-112- O Reino Dividido até Josafá .................................................12-22

2 Reis

1- O Senhor admoesta constantemente Israel até o colapso em 722 a.C. ...............................................1-17

2- O Senhor admoesta constantemente Judá até o colapso em 586 a.C. ...............................................18-25

CONTEÚDOOs livros de 1 e 2 Reis são a continuação dos livros de

Samuel. Como o nome sugere, registram os acontecimentos do reinado de Salomão e dos reis de Judá e Israel, que o sucederam. Abrangem um período de quatrocentos anos e contam a história do crescimento e depois do declínio do reino, que acabou dividido; Israel e Judá são levados para o cativeiro. Os livros dos Reis começam com o rei Davi e terminam com o rei da Babilônia. Começam com a construção do templo e terminam com a destruição do templo. Começam com o primeiro sucessor de Davi ao trono, Salomão, e terminam com o último sucessor, Joaquim, libertado do cativeiro pelo rei da Babilônia.

Nestes livros o historiador não é um defensor da corte cujo propósito seria celebrar as façanhas do rei. Antes, avalia e com frequência critica os governantes, comparando cada um com Davi, o grande protótipo real. É demonstrado que, se rejeitarmos a Deus, teremos consequências ruins; Se obedecermos a Ele... nos abençoará (2Rs 10:32). A índole religiosa do período pode ser vista no caráter dos diversos reis de cada reino. Assim, a fórmula típica para apresentar os governantes de Judá é:

1- Sincroniza a ascensão do rei ao trono com o governo do rei do norte;2- Declara a duração de seu governo; 3- Dá o nome de sua mãe; 4- Avalia seu reinado, geralmente em comparação com a devoção religiosa de Davi (1Rs 15: 9-11).

Depois de Salomão, Judá teve dezenove reis e uma rainha, dos quais somente oito foram justos de acordo com o padrão divino. O reino de Israel, do norte, teve dezenove reis, mas todos eles fizeram o que era “mau” perante o Senhor.

Apesar de Israel do norte ter tido somente reis maus, pelos padrões divinos, Judá teve alguns reis virtuosos. Cinco empenharam-se em reformas: Asa, Josafá, Joás, Ezequias e Josias. Dois dos reformadores, todavia, apostataram no fim dos seus dias (Asa e Joás), e os filhos, sucessores dos outros três reformadores (Josafá, Ezequias e Josias), foram maus e destruíram quase tudo o que havia sido feito. É de estranhar que quatro dos reformadores tiveram pais ímpios, e somente um (Asa, pai de Josafá) criou um filho piedoso.

ACONTECIMENTOS CRUCIAIS EM ISRAEL DE SALOMÃO A ZEDEQUIAS

Data Acontecimento Referência Bíblica

967-960 Construção do templo de Salomão com resplendor jamais visto, para simbolizar perante as nações a grandeza do Deus de Israel.

(1Rs 5-8)

931

Divisão do Reino depois da morte de Salomão em “Israel” (Norte) e “Judá” (Sul).

(1Rs 12:1-20)

722

Captura de Samaria pela Assíria após três anos de cerco; toda a população é deportada para a Assíria, devido à idolatria de Israel.

(2Rs 17)

606-586

Jerusalém e o templo são destruídos pela Babilônia em 586 após ter recusado sujeitar-se ao governo babilônico. O povo foi deportado para a Babilônia em três levas, em 606, 597 e 586, ficando apenas os pobres.

(2Rs 24-25)

O período áureo de Davi e Salomão nunca foi duplicado nos tempos do Antigo Testamento. Eles juntaram Judá e Israel, formando uma entidade militar capaz de dominar seus vizinhos e um empreendimento comercial que trouxeram riqueza e fama sem precedentes. As tribos pouco ligadas umas às outras foram agrupadas por uma monarquia poderosa que ditou as regras por quase quatro séculos.

A expansão territorial e os ideais religiosos, conforme são contemplados por Moisés, se concretizaram em grau maior do que jamais antes ou depois, na história de Israel. Não há que duvidar que Salomão representava a epítome da riqueza e da sabedoria de todos os reis que governaram em Jerusalém.

A grandeza do reino de Salomão retrata as bênçãos prometidas ao reino de Davi baseadas na obediência e nos princípios teocráticos da aliança, revelando a intenção do Senhor para com o seu povo se este seguisse a sua liderança. Nos séculos seguintes, as esperanças proféticas acerca da restauração da sorte de Israel são repetidamente alusivas ao reino dravídico como um ideal.

A narrativa sobre essa era é brevemente contada em (1Rs 1:1 - 11:43) e (1Cr 1:1 – 9:31). O ponto focal de ambos os livros é a construção e dedicação do templo, o que recebe muito maior consideração do que qualquer outro aspecto do reinado de Salomão.

Enquanto outros projetos de construção são meramente mencionados, aproximadamente cinquenta por cento da narrativa bíblica sobre o reinado de Salomão são dedicados à construção e consagração desse centro focal da religião de Israel. Outros projetos de construção, negócios e comércios, progresso industrial e sábia administração do reino, são mencionados apenas de passagem.

O reinado de Salomão se caracterizou por paz e prosperidade. Davi estabelecera o reino – agora Salomão haveria de colher os benefícios dos labores de seu pai. Contudo, a ascensão de Salomão ao trono de seu pai não ocorreu sem oposição. A fraqueza inerente de Davi quanto aos problemas domésticos se evidenciou na falta de disciplina entre seus familiares (1Rs 1:6). Enquanto Salomão não fora publicamente coroado, Adonias fomentou a ambição de ser o sucessor de Davi. É claro que Adonias não fora ensinado a respeitar o fato divinamente revelado de que Salomão seria o herdeiro do trono de Davi (2Sm 7:12; 1Rs 1:17).

Em certo sentido ele estava justificado disso. Amnom e Absalão haviam sido mortos. Quileabe, o terceiro filho maios velho de Davi, aparentemente falecera, pois não é mencionado; e Adonias era o próximo na linha de sucessão. Sendo assim, era natural que Adonias fosse o rei que subiria o trono, visto ser ele o filho mais velho (2Sm 3:4); contudo, Deus escolhera Salomão (1Cr 22:9, 10; 1Rs 2:13-15).

O capítulo final do reinado de Salomão é trágico (1Rs 11). Por qual razão o rei de Israel, que chegou ao zênite do sucesso nos campos da sabedoria, da riqueza, da fama e da aclamação internacional sob a bênção divina, teria terminado seu reinado de quarenta anos sob augúrios de fracasso, é algo que realmente nos deixa perplexos! Salomão, que desempenhou o liderante papel de consagrar o templo, afastou-se de uma total dedicação a Deus – experiência essa paralela à do povo de Israel, no deserto, depois da construção do tabernáculo.

Salomão desobedeceu justamente ao primeiro mandamento, com sua norma inclusivista que permitiu a adoração aos ídolos em Jerusalém. Não apenas tolerou a idolatria, mas ele mesmo prestou honrarias a outros deuses.

A idolatria, que era uma violação das palavras iniciais do decálogo (Ex 20), não podia ser tolerada. A repreensão divina (1Rs 11:9-13) provavelmente foi feita a Salomão por intermédio do profeta Aías, que figura mais adiante naquele capítulo. A dinastia davídica continuaria governando sobre uma parte do reino, por amor a Davi, com quem Deus estabelecera um pacto, e por causa de Jerusalém, que Deus escolhera.

Deus não quebrantaria Sua promessa do pacto, embora Salomão houvesse perdido suas bênçãos e Seu favor, ficando temporariamente suspenso o juízo. Além disso, por amor a Davi, o reino não seria dividido durante os dias de Salomão, embora viessem a levantar-se adversários que ameaçariam a paz e a segurança, antes do término do seu reinado.

Considere os acontecimentos que levaram à divisão do reino. Por muitos anos houve ciúme entre o Norte e o Sul. A causa do ciúme datava de trezentos anos e era devida principalmente ao ciúme entre as tribos de Efraim e Judá. Note as bênçãos que Jacó deu a Efraim (Gn 48:17-22; 49:22-26). E desde os dias de Josué, que era da tribo de Efraim, ela ocupava lugar de destaque.

A transferência de autoridade para Judá deu-se com Davi, que pertencia a essa tribo. Todo esse ciúme entre as tribos intensificou-se por causa das privações pelas quais o povo passava, como resultado das arbitrariedades de Salomão. Suas exigências criaram opressão e sua infidelidade a Deus reclamava justiça (1Rs 11:26-43; 12:4).

Os impostos durante o reinado de Salomão oneraram muito o povo. O luxo e a idolatria tinham rebaixado a moral. O reino estava a ponto de dividir-se. A prosperidade e o poder que Salomão alcançou tinham seus perigos. Isso custava dinheiro e significava aumento de impostos que se tornaram um fardo insuportável, gerando sementes de intranquilidade e revolta.

Os empreendimentos comerciais de Salomão trouxeram uma riqueza fabulosa a Jerusalém. Infelizmente, essa riqueza não beneficiou todas as classes em Israel. Nem aliviou a severa taxação necessária para sustentar os grandes projetos de construção. As pessoas comuns, na realidade, talvez tivessem menos conforto no reinado de Salomão que nos de Davi e de Saul.

Quando o filho de Salomão, Roboão, ameaçou colocar fardos mais pesados sobre o povo, sua imprudente teimosia só fez acrescentar combustível à fogueira, que se vinha formando e ardendo por quase trezentos anos, desde o tempo dos juízes. Em resumo, por que um reino tão maravilhoso dividiu-se com tal rapidez? Três foram os motivos: Espiritual, econômico e político.

Espiritualmente, aconteceu como o Senhor havia predito: devido à idolatria de Salomão causada por suas muitas esposas, o que em si já era violação (1Rs 11:11);

Economicamente, foi o resultado da tirania de Salomão e dos pesados impostos. Ele estabelecera um trono magnífico, mas o povo estava pobre e oprimido (1Rs 12);

Politicamente, havia antiga rivalidade entre Judá e Efraim, a qual foi explorada por Jeroboão, que era efraimita. Essa tribo relutou muitas vezes a inclinar-se à liderança de Judá. A Efraim pertenciam Josué e José, dois granes líderes do povo israelita.

Os dois reinos que surgiram após a morte de Salomão são comumente distinguidos com as designações “do Norte” e “do Sul”. O último designa o estado menor, governado pela dinastia davídica, com sua capital em Jerusalém, até 586 a.C. Consistia das tribos de Judá e Benjamim, que apoiaram a Roboão com um exército quando o resto das tribos se separou em rebeldia contra as medidas opressivas de Salomão e seu filho (1Rs 12:21).

O “reino do Norte” é o nome das tribos que se separaram, as quais fizeram de Jeroboão o seu rei. Esse reino perdurou até 722 a.C., tendo por capital, sucessivamente, as cidades de Siquém, Tirza e Samaria.

Era costume, segundo a lei, o povo ir a Jerusalém regularmente para adorar (Dt 12:11, 14; 16:6, 15, 16; 1Sm 1:3, 7). Diante disto, Jeroboão cria um sistema de culto aos bezerros em Israel (1Rs 12:25ss). Essa instituição foi obviamente um expediente político para evitar que o povo descesse até Jerusalém e o seu templo. O rei receava que as suas dez tribos viajassem a Jerusalém, a capital do reino de Roboão, a fim de lá adorarem a Deus. Por isso, fundiu dois bezerros de ouro e os colocou em lugares convenientes – Betel (Gn 28:11-19) no sul, e Dã (Jz 18:29, 30).

No extremo norte do reino, de modo que o povo não tivesse de ir a Jerusalém. Tomando essa atitude, Jeroboão começou um falso sistema substituto de adoração a Jeová (12:28). Como Arão o fizera antes, ele infringiu o segundo mandamento para maior conveniência do culto. Essa atitude exigia um novo sistema de sacerdócio, usando o laicato em vez de levitas, que tinham ido para Judá (2Cr 11:14).

Em 722 a.C., após 256 anos, o povo foi levado cativo pelo rei da Assíria (2Rs 17). O orgulhoso reino de Israel havia caído para não mais se levantar (2Rs 17:1-6; Am 5:2). Samaria foi destruída pela Assíria depois de um cerco de três anos, e o Israel do norte deportado para a Assíria. Judá escapou de receber também esse pesado julgamento naquela ocasião devido à apressada reforma e ao expurgo da idolatria por Ezequias, que até mesmo celebrou uma Páscoa de emergência. Muitos dos profetas de Israel tinham advertido o povo quanto ao cativeiro, mas eles não quiseram voltar-se da idolatria para Jeová. Os assírios eram guerreiros fortes e cruéis. Construíram seu reino com a pilhagem de outras nações. Esfolavam pessoas vivas, cortavam-lhes a língua, arrancavam-lhes os olhos, desmembravam-lhes os corpos, e depois, para infundir terror, levantavam montes de crânios humanos.

O autor faz uma pausa para examinar as ruínas desse reino antes grandioso e para interpretar sua derrocada (2Rs 17:7-23; 18:12). No verdadeiro estilo profético, eles consideram os assírios meros instrumentos de um Deus que teve de julgar a devassidão desenfreada e a completa depravação espiritual de Israel. Seu desprezo pela aliança, afirma o autor, provocaram a fúria de Deus, sem deixar outra alternativa senão o julgamento.

Tal julgamento foi piorado pela deportação de boa parte dos sobreviventes israelitas e da introdução de hordas pagãs que contribuíram para a delinquência da terra com suas religiões estranhas. Essa mistura de povos era uma prática assíria corrente, tendo por objetivo refrear revoltas, esfriando os ânimos do patriotismo.

O sincretismo étnico e religioso dos samaritanos (2Rs 17:41), bem como a oposição deles à restauração de Judá (registrada em Esdras e Neemias) ajudam a explicar as atitudes hostis para com eles na época do Novo Testamento (Jo 4).

Visto que certo número de famílias governaram no reino do Norte, em contraste com a dinastia única havida em Judá, um simples esboço, baseado sobre as dinastias liderantes em Israel, pode ser sugerido.

Dinastias em Israel Referências Bíblicas

Dinastia de Jeroboão 1Rs 12-15

Dinastia de Baasa 1Rs 15-16

Dinastia de Onri 1Rs 16-22; 2Rs 1-9

Dinastia de Jeú 2Rs 10-15

Últimos Reis 2Rs 15-17; 2Rs 18-25

A única fonte informativa que apresenta um relato histórico contínuo sobre o reino do Norte é (1Rs 12:1 – 2Rs 17:41). Integrados nesse registro figuram eventos contemporâneos do reino do Sul. Visto que o reino do Norte chegou ao fim em 722 a.C. (Israel foi reduzido a uma província assíria), o autor dos livros de Reis dá prosseguimento à narrativa contínua sobre o reino do Sul em (2Rs 18:1 – 25:30) até à queda de Jerusalém, em 586 a.C.

O Reino do Sul tentou conquistar o do Norte. Durante oitenta anos houve guerra contínua entre eles. Mas fracassaram no seu propósito. Veio então um período de oitenta anos de paz entre os dois reinos, depois do casamento do filho de Josafá (Reino do sul) com a filha de Acabe (Reino do Norte).

Finalmente houve um período de cinquenta anos durante o qual se guerrearam, de tempos em tempos, até o cativeiro. No Reino do Sul houve só uma dinastia (Davídica), de Roboão a Zedequias.

Apesar de Deus ter feito aliança com Davi e sua descendência, o povo não entendeu que deveria guardar as leis da aliança para obter bênçãos do Senhor. Assim, quando a Assíria ameaçou invadir Judá, eles interpretaram mau o agir de Deus pelo povo. O autor de Reis contrasta a apostasia de Israel com a fé firme de Ezequias. Contra as probabilidades, o rei confiou em Javé para o livramento de Judá – e Javé o livrou! Além disso, ele retrata a invasão assíria como um confronto entre Javé e a Assíria.

Javé, não a Assíria, emergiu vitorioso, chegando a abater Senaqueribe no templo em sua própria terra. Infelizmente, o livramento miraculoso causou problemas para os profetas subsequentes como Jeremias. As pessoas interpretaram o resgate como prova de que Sião, com o palácio de Davi e o templo de Salomão, jamais cairia. Usaram a vitória de Judá como pretexto para complacência e transgressão. Por fim, as referências à Babilônia preveem seu futuro papel na queda de Judá. Mais tarde, o autor de Reis, que contou a história da preservação milagrosa, terá o triste dever de contar a trágica história do colapso de Jerusalém (2Rs 25).

Em 586 a.C. (cerca de 136 anos depois de a Assíria ter levado cativo o Reino do Norte), o Reino do Sul foi levado em cativeiro por Nabucodonosor, rei da Babilônia. Jerusalém foi destruída, o templo queimado e os príncipes levados presos. Nabucodonosor exilou todo o povo para a Babilônia, com exceção dos pobres. O exílio foi em três etapas: em 606 (Daniel 1:1), 597 (2Rs 24:11-12) e 586 (2Rs 25:8-11). O povo esquecera-se de Deus e se recusara a ouvir as advertências dos profetas. Deus queria que seu povo aprendesse a lição de obediência e dependência dele. Sem dúvida, o caminho dos transgressores é áspero.

A queda de Jerusalém e a destruição do templo foram acontecimentos que marcaram época na história de Israel. Sua queda foi lembrada por Jeremias em suas Lamentações. Os motivos para a destruição e o cativeiro podem ser resumidos em três pontos:

Recusaram-se a guardar a Lei da aliança e recorreram a toda a idolatria e abominações dos gentios (Dt 28:58; 2Cr 36:14);

Recusaram-se a aceitar as correções dos profetas de Deus e os castigos do Senhor (Lv 26:14-3; 2Cr 25:4; 36:15-16);

Recusaram-se a guardar os sábados de Deus e os anos sabáticos (Lv 26:33-35; 2Cr 36:21).

O autor de Reis descreve o sofrimento de Jerusalém com muitos detalhes (como faz Lamentações em forma poética). Os saques e os incêndios, as pilhagens e as espoliações selvagens documentam o julgamento divino, há muito esperado, dos crimes de Manassés.

O julgamento necessário, anunciado na Torá (Lv 26; Dt 28), introduzido em Juízes, por tanto tempo prometido pelos profetas e executado de maneira tão cruel pelos babilônios surtira efeito.

Há uma grande diferença entre a queda de Israel e a de Judá. Israel ficou disperso entre as nações por um período indefinido, mas Deus limitou a extensão do cativeiro de Judá a 70 anos. Judá deveria voltar a Jerusalém, o que veio a acontecer mais tarde. O Messias viria de Judá e Deus estava preparando o caminho para que ele viesse à Palestina e não à Babilônia ou Assíria. Deus usava os próprios governantes das nações estrangeiras na realização de seu plano. Ciro, rei da Pérsia, por exemplo, expediria um decreto permitindo a volta dos judeus à sua pátria, a Palestina.

Deus permitiu que o autor sagrado descrevesse Joaquim livre das algemas, comendo à mesa do rei. A tempestade havia passado; dias melhores nasciam. O autor de 1-2 Reis encerra com uma observação mais esperançosa. Essa história, no entanto, não pertence a Reis, mas a Esdras e a Neemias.

TEMAS ESPECIAIS: O TEMPLOAspectos da construção

O Rei Salomão começou a construir o templo no quarto ano de seu reinado seguindo o plano arquitetônico transmitido por Davi, seu pai (1 Reis 6:1; 1 Crónicas 28:11-19). O trabalho prosseguiu por sete anos (1 Reis 6:37, 38). Ao organizar o trabalho, Salomão convocou 30.000 homens de Israel, enviando-os ao Líbano em equipes de 10.000 a cada mês. Convocou 70.000 dentre os habitantes do país que não eram israelitas, para trabalharem como carregadores, e 80.000 como cortadores (1 Reis 5:15; 9:20, 21; 2 Crónicas 2:2). Como responsáveis pelo serviço, Salomão nomeou 3.300 como encarregados da obra (1 Reis 5:16). O templo era pequeno para o número de funcionários utilizados, mas foi uma das obras públicas mais custosas da época.

O templo tinha uma planta muito similar à tenda ou tabernáculo que anteriormente servia de centro da adoração ao Deus de Israel. A diferença residia nas dimensões internas do Santo e do Santo dos Santos ou Santíssimo, sendo maiores do que as do tabernáculo. As medidas do templo eram: O templo que o rei Salomão construiu para o Senhor media vinte e sete metros de comprimento, nove metros de largura e treze metros e meio de altura. O templo possuía 3 divisões principais; o pórtico (saguão de entrada), o santuário (salão principal) e o santo dos santos (santuário interior em forma de cubo) (1 Reis 6:2).

Os materiais aplicados foram essencialmente a pedra e a madeira. O rei utilizou para a edificação do templo pedras grandes e lavradas. Salomão mandou entalhar grandes pedras (1Reis 5:15) que eram encaixadas umas nas outras, de forma que não se usavam ferramentas para entalhar na obra (não se ouviam martelos ou instrumentos de ferro na obra). As paredes e o teto eram inteiramente revestidos de ouro. (1 Reis 6:15, 18, 21, 22, 29). As paredes internas e o teto eram forrados de ouro. A parte central do templo era forrada com madeira de cipreste e coberta com placas de ouro. Haviam também jóias fixadas nas paredes que aumentavam a beleza interna do templo. O ouro era de melhor qualidade e todas as paredes, portas e batentes estavam revestidos com ouro.

Dentro do templo, numa das extremidades, ficava o lugar mais sagrado de todos, o Santo dos Santos. Era o lugar mais interno do templo, nele, somente uma vez por ano, no dia da Expiação, o sumo sacerdote entrava para oferecer sacrifício para perdoar seus pecados e depois fazia o sacrifício pelos pecados do povo. Era no Santo dos Santos que ficava a arca da aliança. O lugar era coberto de ouro e tinha um altar de madeira revestido de ouro também. Existiam dois querubins iguais feitos de madeira e revestidos com ouro. Eles simbolizavam a proteção das coisas sagradas, neste caso, a Arca da Aliança. (O povo não podia ver os querubins, pois só o sumo sacerdote tinha acesso ao Santo dos Santos).

O ouro e a prata vieram, na sua maioria, de uma arrecadação feita por Davi (1Cr 28:19; 29:1-9). Por que a casa de Deus seria tão suntuosa quando grande parte do povo era pobre? Porque o Templo devia refletir a glória e a grandeza do Deus de Israel e simbolizar essa glória para as nações (2Cr 2:5-12).

Os Templos da História de Israel

Há três templos terrenos mencionados nas Escrituras, os quais, apesar de serem considerados a morada de Deus, levam o nome de seus construtores: Tempo de Salomão, Templo de Zorobabel, Templo de Herodes.

O primeiro é o TEMPLO DE SALOMÃO, que foi destruído pelos babilônios cerca de 587 a.C. (2Rs 25:8, 9). O segundo é o TEMPLO DE ZOROBABEL (Ed 5:2; 6:15-18). Não se comparava na elegância de suas linhas com o de Salomão. O terceiro foi o TEMPLO DE HERODES erigido em escala mais grandiosa.

O primeiro templo é chamado Templo de Salomão, pois foi construído por ele, no século XI antes de Cristo, sobre um terreno comprado pelo rei Davi, no monte Moriá (2Samuel 7,1-16; 1Reis 5,3-5; 8,17; 1Crônicas 17,1-14; 22,6-10; 2Crônicas 3:1), tradicionalmente conhecido como o monte onde Abraão havia oferecido e quase sacrificado seu filho Isaque como oferta ao Senhor (Gênesis 22:2).

A construção do Templo tinha sido desejada pelo rei Davi. Contudo, ele não pode construí-la por que Deus não o permitiu (1Rs 5:3; 1Cr 22:6-9), ficando assim a cargo de seu filho Salomão. O objetivo era ter uma ‘casa’ para a Arca da Aliança. Salomão, então, posteriormente a construiu. Foi um trabalho que durou 7 anos (1Reis 6,37.38). Foi solenemente inaugurado por Salomão em aproximadamente 950 a. C. (1 Reis 7 e 8).

Esse templo foi destruído completamente até os alicerces em 586 a. C. por Nebuzaradã, chefe da guarda e servidor do rei Nabucodonozor da Babilônia (2 Reis 25:8-17, 2 Crônicas 36:15-19). A destruição do templo, depois de 2 anos de assédio de Jerusalém, culminou no exílio dos judeus em Babilônia. A razão da sua destruição, segundo os profetas, é motivada pela falta de fidelidade do povo. É essa a leitura, por exemplo, que encontramos em (Ezequiel 6).

O segundo templo, o TEMPLO DE ZOROBABEL, tem uma história mais complicada. Algumas décadas depois da destruição do templo de Salomão, os judeus voltaram do exílio da Babilônia e puderam reconstruir o seu templo (no mesmo local onde o templo de Salomão existira antes de ser destruído - Esdras 2:68). Foi construído nos dias do profeta Ageu, quando Zorobabel (descendente de Davi ) era o governador. As obras foram iniciadas por ordem de Ciro, rei da Pérsia (Esdras 1:2-4).

Os anciãos choraram face à desigualdade de condições. Essa primeira construção terminou em 515 a. C., quando foi consagrado ao Senhor (Esdras 6:15). No decorrer do tempo ele foi dilapidado pela ação dos inimigos e parcialmente arruinado por falta de manutenção.

A imponência e fama que teve o segundo templo veio graças à intervenção de Herodes o Grande, que ampliou de forma monumental aquilo que existia. No século I a.C. , para ganhar a simpatia dos judeus, Herodes, governador idumeu imposto pelos romanos, remodelou templo e edificou uma das sete maravilhas do Mundo Antigo.

Ele iniciou as obras de restauração em 18 a. C. desenvolvendo um projeto altamente pretensioso e dispendioso, em uma escala muito maior do que o templo original. Com o propósito de agradar a César, manda construir num dos vértices da muralha a Torre Antónia, uma guarnição romana que dava acesso direto ao interior do pátio do templo.

Não se podia mudar a arquitetura do templo, Deus havia dado o modelo a Davi, e ordenou que se seguisse o modelo pré-determinado por Ele. A mudança que Herodes fez simbolizava uma profanação para os judeus. O edifício principal foi terminado em dez anos, mas Herodes e seus sucessores ampliaram muito a área circundante com aterros, muros de pedra e edificações, e a restauração só foi considerada como concluída 83 anos mais tarde, no ano 65 d. C.

Certos autores designam o templo após esta intervenção por "Terceiro Templo"; ficou conhecido também como TEMPLO DE HERODES. Este foi o templo existente quando o Senhor Jesus esteve na terra, muito admirado pelos discípulos (Marcos 13:1, Lucas 21:5).

Passados apenas cinco anos depois de terminado, o templo e as outras construções no monte foram totalmente destruídos pelos romanos através de Tito, no ano 70 depois de Cristo. Quando as legiões do imperador Tito destruíram o templo, só uma parte do muro exterior ficou em pé. Tito deixou este muro para que os judeus tivessem a amarga lembrança de que Roma vencera a Judéia (daí o nome de Muro das Lamentações).

Trata-se do único vestígio do antigo templo de Herodes, erguido por Herodes o Grande no lugar do Templo de Jerusalém inicial. No “muro das lamentações” os judeus costumam fazer as suas preces já há muito tempo, sendo hoje também uma atração turística. No local onde ficava o antigo templo, existe uma mesquita, chamada de Mesquita de Omar.

Duração da construção dos três templos do Antigo Testamento

O Templo de Salomão, o mais rico em obras de arte, levou sete anos e meio para ser construído.

No segundo, o Templo de Zorobabel, maior, porém menos rico do que o primeiro, foram gastos vinte e um anos para construí-lo.

O terceiro, Templo de Herodes, o maior de todos, embora belo e importante, não tinha o esplendor do Templo de Salomão.

Esse templo teve sua construção iniciada no ano dezenove antes de Cristo, mas somente ficou totalmente terminado no ano de 65 da era cristã. Durou, portanto, 83 ou 84 anos a construção. Mas então Jesus não declarou que o tempo levara 46 anos a ser construído? Disse, sim, e está certo, certíssimo. A construção fora iniciada no ano 19 antes de Cristo. Ora, quando Jesus se referiu aos 46 anos, foi na véspera do ano 27 da era cristã. Portanto desde o início até a data da declaração são exatamente 46 anos.

Nos dias de Jesus o Templo já estava em pleno uso, isto é, a parte mais importante já estava pronta, mas não totalmente terminado. A estrutura principal ficou pronta no ano 9 antes de Cristo. Daí por diante registraram-se várias interrupções na construção.

Resumo as datas mais importantes:

Século XI a. C. (cerca de 990 anos antes de Cristo): Construção do Primeiro Templo (TEMPLO DE SALOMÃO).

586 a. C. O Templo de Salomão é destruído por Nabucodonosor, rei de Babilônia.

515 a. C. Os judeus constroem o Segundo Templo (TEMPLO DE ZOROBABEL).

18 a. C. Herodes o Grande amplia o Segundo Templo (TEMPLO DE HERODES).

70 d. C. : Tito destrói o Templo de Herodes.

TEMAS ESPECIAIS: O PROFETA ELIASElias, significa “meu Deus é Jeová”, reflete seu caráter,

um homem totalmente dedicado ao Senhor. Sua história é contada nomeio dos relatos dos reis de Israel e Judá, entre (1Rs 17 e 2Rs 2). Por trás dos milagres ocorridos em seu ministério está a maneira harmoniosa em que o Senhor as utiliza para ensinar sobre a fé.

Os milagres representam “sinais”, os quais desafiam os que os testemunham para um momento decisivo. Portanto, eles precisam decidir se ficarão a favor ou contra Deus. Isso é muito claro no evento do monte Carmelo (1Rs 18:16-46). Quando o fogo caiu do céu, todos responderam com fé (1Rs 18:39). Assim, o sinal miraculoso desafiou o povo a responder com fé.

Os milagres de Elias serviram para chamar muitas pessoas em Israel de volta a Deus. Sua mensagem, contudo, teve uma recepção diferente. Enquanto os prodígios inspiravam uma resposta dos israelitas desobedientes e mornos de todas as camadas sociais, a palavra do profeta era dirigida especificamente aos reis (e rainha também, como no caso de Jezabel) de Israel e Judá (1Rs 17; 2Rs 1:1-17).

Acabe e Jezabel (filha do rei de Tiro - 1Rs 16:41) se aproveitaram da posição real para promover o culto de Baal em Israel. Felizmente, Deus providenciou uma testemunha poderosa para Israel, Elias, o profeta, para se contrapor àquela política e promover a fé verdadeira.

À dinastia de Onri cabe cerca de um terço do espaço no relato sobre as casas dos Reis, embora ocupe apenas um décimo dos 400 anos abrangidos pela narrativa. Pelo tamanho, detalhes e centralidade de seu relato, o autor de Reis está evidenciando que a luta entre Javé e Baal era a peça principal de seu entendimento da história de Israel.

A unidade literária de (1Rs 17-19), estruturada com esmero, apresenta “uma Batalha dos Deuses” em que Javé assume os poderes de Baal. O profeta Elias começou o tiroteio disparando contra Acabe uma declaração a queima-roupa: “Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel, [...] nem orvalho nem chuva haverá nestes anos segundo a minha palavra” (1Rs 17:1).

Uma vez que a religião cananéia cultuava Baal como o deus da vida e da fertilidade, o decreto implicava que, se Baal não conseguisse impedir a seca imposta por Javé, Israel deveria chegar a duas conclusões: (1) que só Javé, não Baal, é Deus, e (2) que Elias, não os profetas de Baal, é o verdadeiro mensageiro de Deus. Episódios subsequentes nos capítulos 17 e 18 servem para confirmar essas verdades. Ainda que envolvam personagens humanos, implicam um embate entre Javé e Baal, em que se refutam, ponto por ponto, as crenças populares acerca de Baal.

As divindades concorrentes e seus profetas travaram a batalha decisiva no monte Carmelo (1Rs 18). Mais uma vez, como que zombando seu oponente divino, Javé dispara o primeiro tiro, anunciando por meio de Elias que logo enviaria chuva (v.1). Mais tarde no Carmelo, Elias, o único representante de Javé, teve um confronto dramático com 450 profetas de Baal (v.20-40). Com ousadia, Elias convocou Israel a cultuar ou a Javé ou a Baal, de acordo com o deus que enviasse fogo sobre o sacrifício preparado (v.21, 24).

Quando chegou a vez de Elias, ele agiu com simplicidade notável. Sua oração foi curta, direta e sem manifestações frenéticas: "...“responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo saiba que tu, Senhor, és Deus...” (v.37).

De imediato, desceu fogo do céu, consumindo seu sacrifício e o próprio altar (v.38). A visão alarmante atingiu Israel de tal maneira que todos reconheceram Javé como o único Deus (v.39). Elias mandou executar os profetas de Baal (v.40), e Javé confirmou que apenas ele era Deus, enviando a chuva já anunciada.

Se o capítulo anterior colocava em dúvida os atributos divinos reclamados por Baal, este episódio questiona sua própria existência. Para Israel, a escolha ficava entre Javé e uma simples ilusão.

O propósito das mensagens de Elias era mais do que um pronunciamento de condenação. O seu ministério profético levaria o povo ao arrependimento, numa época de apostasia nacional.

Contudo, a mensagem do profeta não causou nenhuma mudança no comportamento de Acabe. Influenciado por sua esposa Jezabel, que era da cidade de Tiro (1Rs 21:25), o rei continuou envolvido com a cultura canaanita ao seu redor.

Até à próxima aula sobre o livro de

1 e 2 CRÔNICAS!