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Seminário Memórias de Um Suicida - Segunda Parte - Capítulo IV - Outra Vez Jerônimo e Família - 02052016

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CAPÍTULO IVSegunda Parte

DATA: 02/05/2016

Outra Vez Jerônimo e Família

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“Ai do mundo por causa dos

escândalos; pois, é necessário que

venham os escândalos, mas, ai do homem por

quem o escândalo venha.”

Jesus Cristo (Mateus, 18:7.)

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A programação daquele dia seria

iniciada no Isolamento. Visitariam Jerônimo.

Ele se sentiria confortável e

Camilo cumpriria suave dever de solidariedade e

fraternidade.

No caminho haviam

açucenas e rosas brancas, que eram as flores mais

adaptáveis ao melancólico

retiro.

O Isolamento era envolvido em um triste sudário de

neblinas.

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Os departamentos do Hospital formavam cidadelas de uma grande metrópole. A direção

era idêntica aos demais departamentos com justiça, caridade amorosa e fraterna.

Ali se encontravam pobres colegas de Camilo a quem as dores impostas pelo desânimo ou a

revolta sobrepujavam às do arrependimento pelo mau ato cometido.

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Pode-se mesmo afirmar que o

Isolamento era especializado nos

casos sentimentais...

Pois é sabido que o sentimentalismo

levado ao excesso constitui

gravíssimo complexo,

enfermidade moral capaz dos mais

deploráveis resultados.

O arrependimento limitava-se ao

insuportável pesar de concluírem que o

suicídio para nada mais aproveitara senão para

se lhes dilatar e prolongar os

sofrimentos antes julgados insuportáveis, além de lhes apresentar desalentadora decepção

de se reconhecerem com vida, mas

separados dos objetos de suas predileções.

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Ali se encontravam desde o amante

ofegante de paixão e ciúmes pela felicidade do rival até o chefe de família desorientado

por impasses dificultosos ou o pai

subjugado pelo desalento ante o

esquife do adorado entezinho que era a

razão da sua felicidade!

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Este ambiente era dominado por consternação geral.

Os hóspedes apresentavam o característico das criaturas irresignadas e impacientadas por tudo, além de se

entregarem à dor sem se animarem a esforços para vencê-la, exagerando um sentimento doentio e piegas, engendrando motivos para sofrer através de autossugestões pesadas que

os envenenava a todos os instantes.

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A direção interna do Isolamento achava-se confiada a um

sacerdote católico. Todo o corpo de auxiliares era católico, exceto

o corpo clínico.

Seu Diretor era iniciado nas altas doutrinas secretas, espírito de

escol, possuidor de méritos perante a lei e benquisto na Legião dos Servos de Maria, além de graduado no seio da

falange de cientistas que governava o Instituto correcional

Maria de Nazaré.

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Todos eles eram católicos.

Sentimentalistas fanatizados e caprichosos, alongavam os preconceitos que lhes eram

próprios que foram fornecidos pelos catecismos.

Muitos nem mesmo crença definitiva possuíam, mas habituados à Igreja por

comodismo e à tradição, só a ela conferiam o direito de

guiar consciências.

Por isso seria caridoso se fizesse a reeducação de tais

mentes à sombra de ambiente idêntico

àquele que inspirava confiança e respeito.

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Então, o próprio Padre lhes falava do Evangelho da Verdade.

Padre Miguel de Santarém mostrou-se satisfeito com a visita que o grupo de Camilo iria fazer a Jerônimo, e disse:

“Visitar um enfermo, reanimar com a presença consoladora o próprio

detento entristecido pela angústia de remorsos implacáveis, é obra

meritória sancionada pelo modelo divino.”

O Padre era o mesmo que assistira Jerônimo desde a visita a sua família.

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Informou-lhe da recuperação de Jerônimo, dizendo que ele estava em fase de transição, precursora do

restabelecimento.

Após vencer a apatia a que a revolta improfícua o conduziu, resultante de desilusões cruciantes, estará preparado para a repetição das experiências em que

fracassou.

Ele encontra-se sob assistência rigorosa, pois seu perispírito e mente carecem de profundos cuidados.

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O tratamento dele se resume em

aplicações magnéticas especiais , a

reeducação, a tratamento

inteiramente moral, porque o

mal que infelicita Jerônimo somente

será removido com a renovação

individual, operada interiormente pelo próprio paciente...

A paixão mórbida que Jerônimo nutriu pela família foi instrumento para as

grandes expiações que eles tinham em débito na Lei de Justiça.

Jerônimo amava egoisticamente,

desorientadamente, endurecendo o

coração contra o amparo e a razão que

o lúcido raciocínio poderiam conferir.

Tinha méritos pelo devotamento à família, mas deveria ter-lhes conferido educação moral e não

luxos e gozos. Não cumpriu o dever de pai previdente e honrado.

Nem mesmo aos próprios filhos, deverá

o homem amar com os impulsos cegos da

paixão.

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Jerônimo chegou e abraçou os amigos comovidamente.

Agradeceu a visita e falou das suas aflições. Ele estava modificado.

Parecia sereno e senhor de maneiras distintas.

Estávamos curiosos para saber dos seus

desgraçados filhos, mas receosos de uma

indiscrição, ficamos em silêncio.

Santarém quebrou o gelo dizendo que os amigos desejavam saber se se sentia melhor e mais

reconfortado no amor de Deus, pois partiriam para outro plano da Colônia e estavam se despedindo.

Jerônimo disse que com o amparo recebido dos amigos que o assistiam, sentia-se até feliz, não fosse os pesares que o

perseguiam.

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Que estava conquistando resignação, fé e até

conformidade... Feliz, porém, não poderia ser tão cedo,

porque não será pelo suicídio que a individualidade

encontrará essa “deusa felicidade”, que mais se afasta pela revolta e a insubmissão

no coração.

Revelou-se modificado e grato à solicitude do irmão Santarém e seus abnegados

auxiliares.“Hoje me sinto outro

indivíduo, a quem a confiança no amor do Ser Supremo

ressuscitou...”

Ao perceber que o suicídio não exterminara seu ser, encontrava-se agora

enfrentando com fortaleza de ânimo a amargosa situação

criada por ele.

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Não se permitia ser feliz, pois que tinha ciência dos seus graves erros, principalmente do suicídio e das suas consequências para ele e os seus.

O arrependimento vivo e ardente flagelava suas horas exigindo resgate imediato a fim de que a serenidade lhe retorne ao coração.

Lembrou dos seus débitos de

comerciante às firmas honestas, aos bancos

e à Prefeitura.

Quer pagar tudo voltando a ser comerciante. O peso

dessas desonras o torturava diariamente e pelas desventuras que atingiram seu filhos.

O irmão Santarém acudiu dizendo que a Lei da Sábia Providência confere oportunidade através da reencarnação que a todos é

facultada como meio de progresso e reabilitação.

Sentia vergonha, pois praticou até o

contrabando, e mais uma vez falou da ilusão de

acabar com tudo através do suicídio.

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Jerônimo falou que aprendeu a praticar a PRECE,

guiado por Santarém.

Fez súplicas veementes a Maria, e isso o ajudou a reunir os pensamentos

atropelados pelo desespero e fixá-los no bom raciocínio, o que foi a chave áurea para

a solução dos muitos problemas considerados por

eles insolúveis.

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A lembrança dos infelizes filhos, a conduta da esposa Zulmira e a dele, incapaz de consagrar-se ao dever, o dementavam até a

loucura e à blasfêmia e convertia sua alma na de um réu selvagem.

A PRECE, porém, continuada , humilde, tal como o bom conselheiro recomendava, CORRIGIU A ANOMALIA e, pouco a pouco recobrou a

lucidez do senso, parecendo-lhe que estivera durante séculos mergulhado nas trevas inferiores da irresponsabilidade!

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O grupo de Camilo emitia vibrações positivas e parecia que podiam “ver” as cenas dos episódios narrados por

Jerônimo.

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Contou o momento que foi envolvido por Maria, Mãe Boníssima dos pecadores e aflitos, no doce e emocionante

momento do Ângelus, que era fielmente respeitado pelos seus legionários.

“Orei, dessa vez como nunca, jamais havia

orado!”“Supliquei à

amorosa Mãe do nosso Redentor, assistência para os meus filhos!”

“Pedi proteção para Margaridinha e Albino. Roguei por sua maternal

intervenção em torno da angustiosa situação de ambos.”

“Prometi até afastar-me para sempre deles se minha filha fosse afastada do cais e meu filho fosse fortalecido para

não se entregar ao suicídio..”

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“Ambrósio que era incumbido de nos reunir ao anoitecer encontrou-me banhado em lágrimas! Confidenciei-lhe as minhas súplicas e fui

confortado por ele.

Incentivou-me a perseverar nessas rogativas, fazê-las com bom ânimo e coragem, elevando energicamente o grau de minhas

vibrações, a fim de que repercutissem nas esferas atrais superiores, pois eram justos meus pedidos.

Aconselhou ainda, a orar em conjunto reunindo a outros o meu pensamento a fim de que minhas forças, ainda inexperientes, se revigorassem ao calor dos demais. Minhas súplicas, neste momento, seriam muito importantes,

representando verdadeira mensagem dirigida a Maria...”

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“Na manhã seguinte, Miguel de Santarém visitou-me, convidando-me a participar de uma de suas

reuniões particulares, com mais alguns afins, para que, fraternalmente unidos, solicitássemos os

favores por mim desejados referentes aos fatos que mais me afligiam.

Era justo ajudar, não apenas por ser eu um discípulo do Internato, mas porque era caridoso assistir a quem sofria, dever que alegremente

cumpriam.”

“Assim foi feito. Na hora do Ângelus, Irmão de Santarém alçava o pensamento fiel e,

humildemente, transmitia em preces sentidas, meu pedido à Celestial Senhora.”

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“Repetiram-se estas simples e doces reuniões, muito em segredo (...entra para o vosso quarto...), durante algumas vezes

seguidas e sempre generosas e ardentes.

Os nomes dos meus saudosos filhos eram ali pronunciados diariamente.”

“E tudo que pedires em oração, CRENDO, receberás.” (Mateus, 21:22)

“E terna esperança, humilde paciência e respeitosa resignação, visitaram os meandros do meu ser, qual raio de sol, depois de uma

noite de tormentas”, disse Jerônimo.

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“Poucos dias depois, fui chamado pelo Diretor e recebi a noticia que

nossas mensagens a Maria alcançaram êxito perante as leis

eternas e incorruptíveis. Estava em um pergaminho, espécie

de papiro, em raios de luz compensada, as instruções de

Maria para ajudar Margarida e Albino.

Eram quatro páginas que cintilavam com reflexos de

estrelas, com caracteres azulados.”

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“Margaridinha e Albino seriam atraídos, sem mais tardanças, a um posto de emergência mantido por este

Instituto na Terra ou em suas imediações, a fim de se submeterem a um tratamento magnético especial, com vistas ao reajustamento psíquico dos sistemas nervoso e

mental, ambos muito enleados nas farpas do meio ambiente viciado em que se expandiam...”

“Marieta e Arinda eram honestas e trabalhadoras. O esposo de Marieta (por quem nem havia pedido), era presa de

arrastamentos inferiores, que dele faziam o tirano do lar. Seus obsessores deveriam ser aprisionados e encaminhados

às respectivas comunidades astrais.”

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“O Irmão Santarém assumiu a direção do empreendimento de socorro.

Foram requeridos auxiliares voluntários para o áspero certame. Os obreiros para serviços externos se ofereceram espontaneamente.

Foi decidido que visitariam as personagens em questão, para estudo das faces do assunto. Partiram todos juntos, em demanda da Terra.

O Conde Ramiro de Guzman, que sempre chefia as expedições missionárias no exterior da Colônia, foi o primeiro a atender o convite

e levou o grupo a um giro na cidade do Porto, onde ele e o Irmão Santarém haviam vivido.”

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Margarida...“Procuraram e encontraram Margaridinha no Cais

do Porto, num daqueles antros de vício e libertinagem.

Foi preciso muita vigilância da comunhão mental com os diretores do templo e de Mais Alto, a fim que as vontades da equipe não enfraquecessem,

prejudicando a missão.”

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Torturada por infâmias inclementes, vilipendiada pela degradação, Margaridinha apareceu-nos como a grande vítima de um novo Calvário,

onde também faltavam o conforto e o socorro de corações generosos dispostos a aliviar e consolar!

Apesar da repugnância íntima que sentia, era submetida aos torpes

caprichos de verdugos desalmados, que a forçavam a sorver copázios de vinho, intoxicando-a, embebedando-a, impiedosamente!

Seminua, trazia as vestes rasgadas pelas brutalidades dos algozes, e empapadas de vinho; cabelos desgrenhados, olhos alucinados pelos

desvairamentos do álcool; boca espumante, desfigurada por trejeitos ridículos, forçada a dançar ao som de guitarras enfadonhas, cantando as

músicas mais em voga, para diverti-los. Dado o lamentável estado de embriaguez não cantava direito e era duramente esbofeteada.

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“As instruções recebidas de Mais Alto recomendavam fosse a pobre menina retirada com urgência do ambiente. Providências extremas,

imediatas foram tomadas.

Adormecida com uma descarga magnética forte, aproveitados os elementos fluídicos dos circunstantes, ficou com aparência de

doente grave, afastando rapidamente os infelizes que a maltratavam.

Médico foi chamado e Margarida foi levada a modesto hospital,

caridoso bastante para resguardá-la enquanto a equipe espiritual tomava providências quanto aos seus dias futuros, guiados pelas

inspirações generosas de Maria..."

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Margarida, permaneceu em estado comatoso no hospital, enquanto seu espírito, parcial e temporariamente desligado do fardo carnal, era

removido para o Posto de Emergência do Instituto nas adjacências do globo terrestre.

Muitos enfermos encarnados são ali curados pela medicina do plano espiritual, recebem forças e vigores novos para a emenda e regeneração,

outros são consolados, aconselhados, norteados para Deus, salvos do suicídio, reintegrados no plano das ações para que nasceram e do qual se

haviam afastados.

A jovem não se achava verdadeiramente doente, apenas intoxicada pelo álcool. Seus sofrimentos graves eram morais.

Ela não era má, não se amoldava de boa mente ao vício. Repugnava-a até, ansiando libertar-se dele. Tratava-se de tenebrosa expiação de

antecedentes encarnações e que ficaram a clamar justiça e reparação.

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O espírito que conheceis sob o nome de Margarida Silveira, andou

reencarnando em corpos masculinos. Abusou da liberdade e conspurcou

deveres sagrados. Levou a desonra a lares respeitáveis, aviltou donzelas

confiantes, espalhou o fel da prostituição, desgraçou e destruiu

destinos...

Mas... veio um dia em que a Suprema Lei, que não quer a destruição do

pecador, mas que ele viva e se arrependa, impediu-o de continuar o

execrável atentado à sua soberania! E ele renasce sob vestes carnais

femininas, a fim de provar o mesmo fel que fez a outrem sorver.

Atraiçoada na sua castidade, desacreditada, vilipendiada,

abandonada, reencarnou como mulher a fim de aprender a

empolgante lição de que não é em vão que se infringe um só dos

mandamentos do Alto.

Veio a pergunta que não calava!

“Se assim foi, como Jerônimo se tornou responsável pelos desastres

da filha?...”

Santarém suspira e diz:

“O escândalo há de vir, mas ai do homem por quem o escândalo

venha!”.

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Como Margarida não se comprazia no vício, foi fácil

ajudá-la a reerguer-se, convencê-la à regeneração.

Santarém estabeleceu longas conversações com ela, em torno da solução para esse

drama imenso.

Ondas magnéticas, de excelência capital, favoreciam a retenção dos conselhos do Padre em sua consciência.

Exortou Margarida à prece, dando-lhe a conhecer o

recurso salvador da oração como luz redentora, capaz de arrancá-la das trevas em que se confundia, para guiá-la a

paragens reabilitadoras.

Ministrou-lhe também rudimentos de educação

moral religiosa. Infundiu-lhe esperança, novo ânimo, coragem, confiança no

Amigo Celeste.

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Concitou-a a afastar-se do Cais do Porto, até mesmo da cidade, do país! Esquecesse do passado. Refizesse a vida longe dali. Esperasse a

ação do tempo, as dádivas do futuro!

Ela acordou emocionada e contou com a ajuda das companheiras da enfermaria para conseguir dinheiro para mudar-se para Lisboa em

casa de sua irmã Arinda.

Foi convidada a partir para o Brasil, em companhia de família portuguesa residente em São Paulo, como criada de servir...

Arinda interveio, compreendendo as vantagens daí consequentes.

Margaridinha concordou prazenteira... e dentro de alguns dias será encerrada a página negra de sua existência para recomeçar

experiências novas, com novos ensejos de progresso e realizações..."

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Albino...

Recebeu lições do Evangelho através de Fernando de quem se tornou amigo e confidente e também da Equipe

Espiritual orientações que acatava com boa vontade.Escreveu o que lhes sussurravam ao pensamento através

da intuição, banhado em lágrimas.

Ele estava bem, melhor muitas vezes do que a irmã!...

O insulamento do cárcere foi-lhe propício à meditação, fazendo-o refletir maduramente e levando-o a procurar Deus

através das asas remissoras do sofrimento!

Fernando intercedeu por ele junto à Rainha Dona Amélia, informando tratar-se o rapaz de um órfão desamparado, a quem a inexperiência e seduções maléficas haviam infelicitado mas a quem se poderia auxiliar

ainda, tornando-o útil à sociedade.

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Inspirado pelo irmão Santarém e com a intercessão da rainha D. Amélia,

Fernando conseguiu a remoção de Albino para a África onde ficaria em liberdade

relativa, pois ainda necessitava de custódia, quer policial terrena, quer

espiritual.

Por isso foi escolhida a inóspita África ao invés do Brasil, onde ele encontraria

demasiadas facilidades que arrastá-lo-iam a desvios prejudiciais à sua

regeneração.

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Camilo abraçou Jerônimo e perguntou se ele estava mais sereno sabendo do auxílio aos seus filhos?

Respondeu que sim, tendo em vista o alcance tão vasto e profundo dos benefícios recebidos por ele através da assistência dispensada aos seus entes queridos. Será grato eternamente à “Mãe Santa do Seu Salvador” e, por misericórdia ainda mais

extensa, deseja se transformar em protetor de órfãos e abandonados.

Aprendeu que o espírito vive sobre a Terra, sucessivas vidas, deseja reencarnar e criar orfanatos, internatos amorosos e acolhedores, lares cristãos para órfãos.

Encontra-se reconfortado, agradecido e esperançado, mas jubiloso ainda não, pois sabe da avalanche de dívidas a sorver e sofre remorsos.

Não se ressentia de Zulmira, uma vez que reconhecia sua fragilidade moral, em vistas que foi criada às brutas pelo pai e, por ele, fora habituada a conforto

excessivo e à ociosidade.A oração era seu conforto, assim como os estudos que vinha fazendo sobre a

encarnação.

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“Quando, na sociedade terrena, praticamos delitos

irremediáveis. Ao voltarmos à Pátria

Espiritual havemos de nos preparar para mais tarde

tornar ao teatro das nossas infrações em experiências

posteriores, a fim de recapitular o passado,

operando de modo contrário ao que

fracassamos.”

Camilo pergunta ao padre

Santarém se é possível saber como será a

nova encarnação de

Jerônimo...

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“Partindo dessa regra, nosso pupilo novamente se defrontará com a ruína financeira, a desonra comercial, a pobreza e o descrédito, a

fim de que prove o arrependimento e os valores morais que adquiriu com a triste experiência.”

“A ruína deverá positivar-se a despeito dos seus esforços por evitá-la e apesar da sua probidade e nunca pela incúria.

Sua consciência lhe mostrará as particularidades do desempenho de tão melindrosa reparação de acordo com seus sentimentos,

pois ele possui livre arbítrio.”“Essas pelejas ainda serão agravadas por um precário estado de

saúde orgânica e moral, males indefiníveis, que a ciência dos homens não removerá, porque serão repercussões danosas das

vibrações do perispírito prejudicado pelo traumatismo, resultante do suicídio, sobre o sistema nervoso do envoltório físico-material,

que então possuirá...”

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Despediram-se de Jerônimo, penalizando-se ao concluir que o

pobre companheiro não passava de um solitário carregado de vibrações

pesadas e chocantes que não poderia sequer visitar os parentes, pois

causaria angústias e possibilidades desastrosas.

Camilo percebeu que quando o nobre Irmão Santarém ilustrava os

problemas de Jerônimo, caridosamente, ele desejava advertir aos aprendizes quanto aos momentos difíceis que a eles também esperam...