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1 VEÍCULO INDEPENDENTE – CIRCULAÇÃO VIA INTERNET - EDIÇÃO Nº 7 - 04-07-2011 Editor Responsável – João Wesley Dornellas - Membro da Igreja Metodista desde 14.11.1944 [email protected] - Tel. (21) 2284-9900 ________________________________________________________________________________________________________________________________ A Grande Esperança da Igreja Metodista no 19º Concílio Geral O texto abaixo é o da capa da revista “Homens em Mar- cha”, uma publicação da Comissão Geral de Publicações Periódicas da Igreja Metodista do Brasil, edição de abril- maio e junho de 1965 (Vol. IX – nº 8), escrito por seu re- dator chefe da época, João Wesley Dornellas, hoje o edi- tor de TRIBUNA METODISTA. Como os leitores estão vendo, apesar dos 46 anos decorridos de sua publicação, ele parece bem atual, da mesma forma que outras matérias que estão sendo transcritas daquela edição, toda ela dedi- cada aos temas de interesse do Concílio Geral. (Na capa, fotos dos três bispos e dos três secretários gerais). “A grande esperança da Igreja Metodista do Bra- sil (e por que não dizer também que é a sua grande preocupação) está depositada no Concílio a ser re- alizado no Rio de Janeiro, de 10 a 20 de julho pró- ximo. Para os bispos que o presidirão e para os de- legados que o compõem, leigos e clérigos em igual proporção, estão voltadas as atenções e orações da comunidade de 100.000 pessoas que constitui a I- greja Metodista do Brasil. No difícil Brasil de hoje, com problemas de toda ordem, religiosos, morais, soci- ais, políticos e econômicos, é mister que os representantes da Igreja sejam sensíveis às inquietações e desejos dos representados. A Igreja deseja, a Igreja confia, a Igreja ora, a Igreja exige que os seus delegados sejam instrumentos dóceis nas mãos de Deus para fazerem só e só a Sua vontade, sem outros interesses que não os da Causa , tomando as históricas decisões de que a Igreja precisa para ser realmente, como Cristo ordenou, Sal da Terra e Luz do Mundo”. TRIBUNA M M E E T T O O D D I I S S T T A A

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Tribuna Metodista - nº 7

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VEÍCULO INDEPENDENTE – CIRCULAÇÃO VIA INTERNET - EDIÇÃO Nº 7 - 04-07-2011 Editor Responsável – João Wesley Dornellas - Membro da Igreja Metodista desde 14.11.1944

[email protected] - Tel. (21) 2284-9900 ________________________________________________________________________________________________________________________________

A Grande Esperança da Igreja

Metodista no 19º Concílio Geral

O texto abaixo é o da capa da revista “Homens em Mar-cha”, uma publicação da Comissão Geral de Publicações Periódicas da Igreja Metodista do Brasil, edição de abril-maio e junho de 1965 (Vol. IX – nº 8), escrito por seu re-dator chefe da época, João Wesley Dornellas, hoje o edi-tor de TRIBUNA METODISTA. Como os leitores estão vendo, apesar dos 46 anos decorridos de sua publicação, ele parece bem atual, da mesma forma que outras matérias que estão sendo transcritas daquela edição, toda ela dedi-cada aos temas de interesse do Concílio Geral. (Na capa, fotos dos três bispos e dos três secretários gerais). “A grande esperança da Igreja Metodista do Bra-sil (e por que não dizer também que é a sua grande preocupação) está depositada no Concílio a ser re-alizado no Rio de Janeiro, de 10 a 20 de julho pró-ximo. Para os bispos que o presidirão e para os de-legados que o compõem, leigos e clérigos em igual proporção, estão voltadas as atenções e orações da comunidade de 100.000 pessoas que constitui a I-greja Metodista do Brasil.

No difícil Brasil de hoje, com problemas de toda ordem, religiosos, morais, soci-ais, políticos e econômicos, é mister que os representantes da Igreja sejam sensíveis às inquietações e desejos dos representados. A Igreja deseja, a Igreja confia, a Igreja ora, a Igreja exige que os seus delegados sejam instrumentos dóceis nas mãos de Deus para fazerem só e só a Sua vontade, sem outros interesses que não os da Causa , tomando as históricas decisões de que a Igreja precisa para ser realmente, como Cristo ordenou, Sal da Terra e Luz do Mundo”.

TRIBUNA

MMEETTOODDIISSTTAA

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OUTRAS MATÉRIAS DAQUELA EDIÇÃO DE 1965 DO EDITORIAL

“A Igreja tem sofrido todas as consequências dos fatos que abalaram o Brasil e o mundo nos últimos anos. A falta de crescimento adequado, as tentativas de secularização do ministério, a falta da palavra profética da Igreja nos momentos mais agudos das crises, tudo isto vem impedindo que a Igreja cumpra a sua verdadei-ra missão. E os membros da Igreja sentem a necessida-de e o desejo de que a Igreja deixe de ser apenas uma organização, uma máquina, para ser realmente sal da terra e luz do mundo. Mas, ao mesmo tempo, se percebe que, sem alteração em seus métodos de trabalho e em sua organização, muito pouco se poderá fazer”.

“Não nos preocuparam, ao preparar esta edição, somente os detalhes técnicos da elaboração legislativa, muito menos aquelas alterações que visam apenas me-lhorar o funcionamento de uma junta ou de um concílio. São coisas importantes, é verdade, mas a grande crítica que se pode fazer aos concílios gerais passados é justa-mente esta, de preocupar-se com detalhes de menor relevância e esquecer-se de fixar claramente a posição da Igreja, perante ela própria e perante o mundo, quanto aos problemas da época”.

ITINERÂNCIA PASTORAL

“Este é um assunto que se esperava fosse discu-tido no Concílio de 1965, já que estava havendo muita discussão a respeito. O assunto foi discutido naquela edição de Homens em Marcha. “Uma das características do Metodismo é a itinerância pastoral. Muitos atribuem a ela grande parte do êxito e da eficiência do nosso ministério. Outros debitam a ela tudo o que de errado tem existido no mesmo. Não há uniformidade de ideias, nem entre leigos nem entre clérigos”.

“Como quase todos os problemas de nossa Igre-ja, este também édiscutido mais no interesse pessoal de cada um do que pelo interesse em fixar normas admi-nistrativas que melhorem a eficiência do ministério, proporcionando melhor adequação entre pastores e igre-jas e, consequentemente, melhores resultados. Por outro lado, devido à fragilidade humana, tem havido injusti-ças em muitas dessas remoções, ao passo que alguns pastores, não se sabe também por que injunções, têm conseguido ficar quase imunes ao dispositivo canôni-co”. A opinião do Bispo César

“Numa Igreja como a nossa, dividida em algu-mas centenas de paróquias, em lugares muito diferentes uns dos outros, elas mesmas sobremodo diferentes uma das outras em sua composição, a itinerância tem sido a garantia da sua unidade e do seu desenvolvimento. Noto

que entre nós, só são contrários à itinerância poucos ministros que se situaram nas capitais e aí violam os Cânones, entregando a trabalhos seculares sem a devida autorização do Concílio Regional ou do bispo e espezi-nhando os seus votos de ordenação. Pergunte-se aos ministros nomeados para paróquias do interior, talvez mais capazes e produtivos do que eles, se são favoráveis à itinerância e responderão que sim. Porque estão revol-tados com os privilégios dos seus companheiros “capi-talistas”. Receio, até,que se alguns dos que dão jeito de lacrar-se nas capitais fossem nomeados para paróquias do interior, pequenas, pobres, espalhadas em áreas am-plas, onde não poderiam advogar, ensinar, ter agência comercial à sorrelfa, seriam capazes de pedir imediata-mente transferência para outra igreja, ou disponibilida-de. A falta de itinerância em nosso ministério cria, as-sim, privilégios, preferências, injustiças, etc., além do mais”. A opinião de dois pastores Alípio da Silva Lavoura, que em 1971 foi eleito bispo, mostrou opinião diferente: “A itinerância está criando pastores despersona-lizados. O pastor não é mais ele; não tem personalidade. Vai para cá e para lá, às vezes, até porque precisa “ga-nhar o pão de cada dia”. Não cria nada nas igrejas por onde passa. Não constrói, não organiza. Não administra nem as coisas mínimas. Há muitos que nem mesmo estudam seus sermões à luz das necessidades das igrejas que pastoreiam. Organizam um “sermonário” e vão repetindo sempre as mesmas coisas por onde passam, não se dando ao trabalho sequer de mudar pelo menos o papel do esboço, por vezes, amarelado pelo tempo”. Oswaldo de Souza, pastor em São José do Rio Preto, dizia: “Se permitirmos aos pastores escolher suas igrejas, quantas teriam mais de um pastor e quantas continuariam vagas!... Quantos estariam escolhendo a igreja não para servi-la, mas para satisfazer seus inte-resses particulares: melhores cidades, igrejas maiores, possibilidades melhores. A itinerância pastoral tem outras vantagens nobres, como a de proporcionar às paróquias do interior e dos Estados pioneiros melhores pastores e de dar igual oportunidade aos pastores de servir à Igreja, sem privilégios pessoais e familiares de paróquias ou cidades”.

O PAPEL DOS LEIGOS

O assunto foi discutido diversas vezes naquela edição. José Assan Alaby, num artigo sobre “O leigo na administração eclesiástica, fez afirmativas muito con-tundentes. Para ele, “a questão aqui não consiste em

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duas alternativas ou de escolhas de nossa parte, se DE-VE ou NÃO DEVE haver maior participação dos lei-gos. Não se trata de uma escolha mas de aceitação ir-restrita de uma realidade bíblica e teológica inegável: a participação dos leigos faz parte do sentido da Igreja; no “Corpo de Cristo” – Igreja – todos os membros par-ticipam da sua unidade, da sua missão, do seu sustento e também de sua administração”. “Convém desde já eliminar qualquer sombra de ideia a respeito dessa distinção na Igreja: clérigos e leigos, Distinção desconhecida e inexistente na Igreja neotestamentária , hoje, entretanto, tão nítida e acentua-da na Igreja”.

O “ESQUEMA” – PRÓS E CONTRAS Os Prós O líder desse Movimento que tencionava mudar quase tudo na Igreja, era o Rev. Nathanael Nascimento, na época Reitor da Faculdade de Teologia. O Movimen-to tinha várias reivindicações, inclusive a criação de um bispo “forte”, presidente da Igreja, que seria a maior autoridade depois do Concílio Geral. Muitos dos objeti-vos eram discutidos apenas no grupo que aderiu e, co-mo o movimento desejava chegar ao Concílio com a maioria dos votos, muitas coisas não eram abertas ao povo. Naquela edição de Homens em Marcha, foram transcritas suas declarações ao Expositor Cristão, dando uma idéia das pretensões do seu Movimento. Como se verá no trecho abaixo, nada há que se discordar. Veja-mos:

“A ocasião é oportuna para examinarmos o cor-po, as funções porventura supérfluas ou dispensáveis no presente, a corrigir-lhe disfunções e a insuflar-lhe mais altas expressões de vida. Em primeiro lugar, é indispen-sável reconhecermos que quem opera, corrige e vivifica a Igreja é Deus e que o agente dessas obras é o Espírito Santo. Essa não foi, não é e jamais será obra humana”.

“Em segundo lugar, é imperativo que se reco-nheça a tipicidade do organismo visado. É uma Igreja Episcopal, cuja autoridade administrativa é constituída de baixo para cima, mas depois opera de cima para baixo. As modificações não devem importar na trans-formação da Igreja Metodista do Brasil de episcopal em congregacional.

Não se trata de criar anomalias e aleijões, ten-tando reunir, num só corpo eclesiástico, índoles, peças administrativas e procedimentos diferentes e conflitan-tes. As modificações devem estar em harmonia com a natureza da Igreja que se quer aperfeiçoar”.

Na prática, no entanto, foi diferente. Por trás das ideias acima, havia uma tentativa de mudar muito. Os métodos usados, que implantaram de vez a politica-gem de campanha para eleição de delegados, já que se objetivava a maioria absoluta do plenário, com promes-sas de cargos, não só na estrutura religiosa como na das

instituições, nomeações dos líderes para certas igrejas e a escolha, entre os integrantes do Esquema, de candida-tos ao episcopado e outras coisas mais. A maioria foi obtida mas na Hora H o movimento se fragmentou e apenas um dos seus candidatos ao episcopado foi vito-rioso, justamente o seu líder. O combinado antes de que se elegeriam todos os seus candidatos ou os possíveis eleitos renunciariam, o que não aconteceu. Ou tudo ou nada. Felizmente, o Esquema perdeu mas, até hoje, tenta-se impor à nossa Igreja. as técnicas de persuasão que ele implantou. Os contras É claro que a opinião pública da Igreja não apoiou o Esquema, cujos participantes formavam um grupo fechado. A Igreja estava preocupada com o Es-quema mas a reação não foi contundente já que a “mai-oria silenciosa” não sabia usar as mesmas técnicas de aliciamento.Transcrevemos abaixo, ta como publicado em Homens em Marcha, o que foi publicado no Cate-tense, veículo dos jovens da igreja do Catete, no Rio de Janeiro, na época em que a campanha para a escolha de delegados estava acirrada em todo o Brasil Metodista..

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ACESSO À INFORMAÇÃO

Airton Campos, membro da Igreja Metodista de Vila Isabel

Está tramitando no Senado uma proposta de lei que libera o acesso a informação, que está sendo chamada de Lei do Acesso. Ela determina que a população tenha acesso a documentos públicos que circulam apenas entre alguns privilegiados.

A expectativa era que a lei fosse sancionada

no dia 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, mas, isto não foi possível. Esta é uma lei importante que complementa a transição democrá

tica do Brasil. A lei prevê que qualquer pessoa que se i-

dentifique pode solicitar o acesso a informações que não sejam consideradas secretas. Informações relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem serão conside-radas sigilosas por cem anos.

Independentemente de

solicitação, os órgãos ficam obrigados a promover a divul-gação na internet de informa-ções de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.

O direito a informação é um direito funda-

mental que já é desfrutado por mais de 50 bilhões de habitantes em 90 países.

Para monitorar o desempenho de dirigentes

os auditores são insuficientes e em virtudes dos mais diversos assuntos, sua contratação em grande número seria muito cara. Assim, uma maior trans-parência é pré-requisito para um monitoramento efetivo.

Também a nossa Igreja Metodista pode e

deve avançar em direção a uma maior transparên-cia. Há uma legitima demanda de uma maior aber-tura na divulgação de informações. Não desejamos uma forma de silencio que projeta um cone de sombra sobre a comunidade.

Estamos sempre ouvindo que a Igreja Me-

todista é conciliar, isto é, resolve seus assuntos de forma coletiva, mas quando um assunto é aprovado

por um grupo de representantes não se tem acesso a informação do que foi resolvido.

Já é velho o tempo de dizer que, no futuro,

terá poder quem detiver a informação. Este futuro já chegou e a luta pelo controle – ou sua corrente contrária – já está em curso numa escala crescente.

É preciso que haja mais transparência nas decisões e na divulgação de relatórios. Hoje todos os documentos são gerados em meios virtuais e, portanto se torna fácil disponibilizá-los na internet.

O Concílio Geral é uma excelente oportuni-

dade para se estabelecer os procedimentos para que os órgãos da Igreja promovam o acesso à informação.

Podem ser estabeleci-

dos graus de acesso para os diversos tipos de documentos. Até agora alguns são sigilosos só para a comunidade, é o caso dos balanços das instituições que obrigatoriamente são pu-

blicados na imprensa, mas em seções que não nos chamam a atenção normalmente. Há algum tempo, me chamou a atenção o símbolo do metodismo em uma página do jornal Valor Econômico, era o ba-lanço anual de uma de nossas instituições.

Hoje inúmeras instituições civis dão acesso

a informações a seus associados através da internet por meio de senhas. Eles se cadastram e recebem a senha que permite o acesso a informações que mui-tas vezes não se dá publicidade ampla por motivos de segurança como, por exemplo, os dados finan-ceiros.

As páginas da internet tanto das igrejas

locais como das Regiões Eclesiásticas e Institui-ções podem conter seções cujo acesso se faça mediante senhas que serão fornecidas a todos os membros da igreja que as solicitem. Assim, da-dos como atas e especialmente os financeiros, que possam trazer insegurança, ficariam resguar-dados para o conhecimento apenas dos direta-mente interessados.

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No caso de órgãos da área regional ou ge-ral, estas senhas poderiam ser obtidas através do pastor da igreja local, que poderia providenciá-las, não podendo ocorrer demora na sua concessão. Esse procedimento é tecnicamente possível, de fácil execução, dependendo apenas de vontade política, que não tenha sido demonstrada.

Hoje qualquer cidadão pode se comunicar

com seus representantes no legislativo pela internet e nós não temos acesso sequer aos nomes dos membros dos conselhos e coordenações de todos os níveis, muito menos a possibilidade de nos co-municarmos com eles.

Nossos órgãos de divulgação de todos os

níveis silenciam sobre todos os problemas que a-tingem a Igreja e a comunidade. Na maioria das vezes servem apenas para noticiar eventos que já ocorreram.

As reflexões episcopais publicadas são

sempre estudos bíblicos teóricos e nunca abordam assuntos que estejam em evidencia no nosso coti-diano. Assim, também não somos informados do que pensam nossos lideres sobre assuntos que di-zem respeito a nossa vida na comunidade. Existem temas que estão em debate e nós fazemos de conta que eles não existem ou não nos afetam, tais como: casamento de pessoas de mesmo sexo, o kit sobre homossexualidade que seria distribuído nas escolas, a erradicação da miséria pela educa-ção, cuidados com a dengue, melhoria da educação pública, endividamento das famílias, acessibilida-de, lei de cotas para pessoas com capacidades es-peciais, bullying, doação de sangue, etc, etc.

Hoje em dia, com a internet e a proliferação

de canais de distribuição de informações, há incon-táveis e crescentes opções à disposição dos leitores, menos nos meios de comunicação da igreja, com raras exceções.

São inconcebíveis as restrições à livre ma-

nifestação de opiniões e o cerceamento da veicula-ção de fatos. Para cercear a liberdade de informar e opinar se criam mecanismos que indicam mais do que simples controles editoriais, mas formas vela-das de reprimir esta liberdade – numa palavra, cen-sura.

Diversos textos meus em que opinava sobre

problemas da igreja, foram parar num processo judicial como prova de meu ódio (?) pela Igreja

Metodista. A expressão da opinião, na igreja, é para elogiar, se houver critica, o fato é distorcido por interesses pessoais.

Os delegados ao Concilio Geral recebem uma procuração para serem os legítimos represen-tantes dos metodistas de regiões eclesiásticas. Não se tem notícia da relação dos delegados e a exis-tência deste grupo não pode, de jeito nenhum, ocul-tar as propostas que serão levadas ao Concilio.

Hoje é muito difícil criar barreiras à livre circulação da informação e isto ocorrendo acaba criando versões diferentes para um mesmo fato. Com os novos meios de comunicação os dirigentes não mais poderão estar seguros de manter sem di-vulgação os seus atos.

A finalidade do jornalismo é a busca da verdade e a responsabilidade de fornecer informa-ções às pessoas para que elas sejam livres e capa-zes de formar suas opiniões.

Há uma nova era que está se formando que

faz surgir mobilizações espontâneas. Sem o impul-so de meios de comunicação voltados para a for-mação de opinião, capaz de fornecer informação confiável e comentário preciso, a própria Igreja pode ter seu poder avariado.

É um bom costume a nossa comunidade ter

o direito de ficar sabendo o que os nossos dirigen-tes fazem, dizem e pensam.

Parece que pessoas que vivenciaram o perí-

odo de restrições das liberdades no país continuam com aversão a opiniões contrárias. Parece que a-cham que bom mesmo é que os meios de comuni-cação só elogiem ou tratem de assuntos menos im-portantes e banais.

NOTA DO EDITOR

Airton Campos, destacado membro da Igreja Metodista de Vila Isabel, da qual é membro há mais de 50 anos, já ocupou importantes funções na Igreja Local e na 1ª Região. É membro do Conselho de Admi-nistração do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro.

No último parágrafo da coluna à es-

querda ele menciona afirmativa de um ad-vogado em processo que corre na Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

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A Remuneração e Outras Vantagens

Recebidas pelos Pastores Metodistas

João Wesley Dornellas

Sei muito bem que este texto vai irritar mui-tos pastores. Em primeiro lugar, devo dizer que sou filho de pastor, de um pastor que passava muitas difi-culdades financeiras, por ganhar muito pouco e não ter, a não ser a casa pastoral, quando havia, ou morar em casas alugadas de muito pouca qualidade, ne-nhuma outra vantagem. Na maioria das igrejas que pastoreou, nem uma gratificação de Natal,no máximo uma camisa ou pares de meias. Em nossa Região, pouco antes da aprovação da Lei do chamado 13º salário, fui eu que propus sua efetivação no Concílio Regional, enfrentando a fúria de pastores que achavam que essa decisão aumentaria muito os orçamentos, todos eles pastore-ando igrejas que davam, em dezembro, um mês de gratificação natalina. Claro que, perguntando a eles, no plenário, se eles a tinham recebido, o que não podiam negar, por medo de serem desmascarados, a proposta passou, especialmente depois da atitude hipócrita daqueles pastores. Minha propos-ta não era para beneficiar meu pai, porque ele tinha filhos que lhe davam muito mais, mas para fazer jus-tiça aos que não tinham filhos em condições de aju-dá-los.. Em segundo lugar , quero dizer, que não guardei, porque nunca as tive, mágoas da vida difícil de nossa família. Justamente porque, na realidade, meu pai, ao nos ensinar, colocou na mente e no cora-ção dos filhos que seu patrão não era a Igreja, nem bispos, mas Aquele que o chamou e o preparou para o ministério pastoral. Por isto, nunca reclamou da vida, nunca pediu nada a ninguém, nem permitiu que os filhos fossem à Justiça da Igreja quando foi tre-mendamente prejudicado em sua aposentadoria, re-cebendo, durante os anos de aposentado, menos da metade do que deveria ter recebido e pelo qual pagou muito caro, ao falecido DGP. Isto é, no entanto, outra história, que narro muito bem no livro que escrevi sobre ele. Vamos, pois, ao assunto. Nos anos 20 do século passado e nas duas décadas seguintes, havia uma carência muito grande de pastores. Por isto, eles tinham de desdobrar-se responsabilizando-se por muitas igrejas de uma vez. Foi assim com a maioria daqueles obreiros do passado. Meu pai, por exemplo, quase que durante toda a vida, sempre teve mais de uma paróquia, trabalho que ele aumentou a fundar

igrejas e mais igrejas. Não foi à toa que ele recebeu, ao aposentar-se, do seu Concílio Regional, o título de “Semeador de Igrejas. Naquele tempo, pastor ganhava muito pouco mesmo, especialmente porque os membros eram muito pobres. Quando passaram a unificar, depois da Autonomia, os subsídios, foi criada uma “base” de remuneração, muito pequena, ao qual, para se fazer um tipo de justiça social, se somavam outras “vanta-gens”, tais como, por exemplo, 25% da base para os pastores casados, outra porcentagem para cada filho,

que variava segundo a idade dos mesmos, mais 5% por qüinqüênio trabalhado, até o máximo de cinco. Qualquer porcentagem sobre uma “base” pequena gerava valores igualmente pequenos, nunca suficientes para prover boas escolas para os filhos e uma vida familiar razoável. Foi naquela época que se decidiu dar moradia aos pastores. Por isto, o Bis-

po César vivia fazendo campanhas para que as igrejas construíssem casas pastorais. A chamada Oferta Es-pecial do Dia da Autonomia era destinada a ajudar as igrejas a construírem casas para seus pastores, geral-mente no terreno da própria igreja local, para, a mé-dio ou longo prazo , reduzir as despesas correntes de cada uma. Quando não havia casa pastoral, alugava-se uma, sempre humilde, desconfortável e barata. O tempo passou. Já nos anos 60, a situação começou a melhorar. Muitas igrejas passaram a não depender mais da Tesouraria Regional para pagar os seus pastores, se bem que eles ainda continuassem a ganhar muito pouco. Se fôssemos fazer uma pesqui-sa, verificaríamos o porquê de a maioria dos filhos de pastor não continuarem na Igreja. Cansaram-se de uma infância cheia de necessidades e culparam a Igreja por isto. Foram poucas certamente as exce-ções entre os filhos daquela geração de ouro de ver-dadeiros príncipes da Igreja. Hoje em dia, mesmo ainda sendo fixada uma base para os subsídios pastorais, sobre a qual incidem as citadas porcentagens, quase todos os pastores ga-nham muito mais do que ela, o que torna desnecessá-rio o pagamento daqueles adicionais à renda dos pas-tores. Se bem que conheci um pastor que, depois de negociado o seu subsídio, algumas vezes superior à base, tentou receber aqueles adicionais já citados. exigido mais 25% por ser casado, mais a porcenta-

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gens para os filhos menores e o valor dos quinquê-nios trabalhados. Alegava que era a Lei. Claro que não levou. O Concílio Geral de 2006, no seu art. 205, oficializa uma série de vantagens adicionais. Além de moradia, os presbíteros têm direito ao pagamento pela igreja de água, luz, telefone, seguro de vida e plano de saúde. Gás residencial e até TV a cabo, ape-sar de não constarem dos Cânones, também são pa-gos por algumas igrejas. Além das vantagens, há ain-da o pecúlio, uma espécie de FGTS, usando a mesma regulamentação, ou seja, 8% do salário, com depósito especial feito pela igreja local na Caixa Econômica, com rendimentos um pouco maiores do que daquele Fundo. Essas práticas, já que não há mais nenhuma carência no número de presbíteros - eles estão aí so-brando e mais gente quer entrar – não têm razão de ser nesta altura do campeonato. No passado, como já foi dito, os pastores se responsabilizavam por muitas igrejas; hoje, mesmo em igrejas bem pequenas, há dois ou três pastores coadjutores, a maioria dos quais tentando uma nomeação de tempo integral, que dá acesso a todas as vantagens citadas. Os bispos se veem em “papos-de-aranha” para contornar ou negar esses pedidos. Mesmo sem formação adequada, tem muita gente querendo ser pastor, infelizmente, não são jo-vens despertados para o ministério pastoral mas adul-tos, que geralmente não obtiveram êxito nas ativida-des profissionais no mercado de trabalho a que se dedicam. A conta de tudo isto é muito cara. Hoje em dia os pastores ganham, com raras exceções, muito bem. Em grande parte das igrejas locais, somando salário, casa, luz, gás e telefone, além de ajuda de custo, eles ganham mais do que a maioria dos seus paroquianos. Apesar disto, suas performances “pro-fissionais” nem sempre são boas. O bispo Paulo Lockmann, da 1ª Região, dirigiu dura circular aos seus pastores e ele fala que alguns obreiros deixam a desejar em suas atividades e ganham bem. Vejamos parte do texto daquela circular, tal como estampada no quadro de avisos de minha igreja para qualquer um poder ler: “Queridos, não é possível que um pastor sau-dável, inteligente, passe um ano de trabalho e não batize alguém, ou ganhe somente 2 ou 3 pessoas. Isto significa contentar com muito pouco. Nosso Deus é grande e sua bênção excede tudo que pedimos. Você precisa e pode se superar. Cada um de nós, pastor de tempo integral, recebe um bom salário se comparar com o mercado de trabalho, inclusive casa e seguro saúde. Precisamos e podemos oferecer melhor resul-tado para o Reino de Deus. Assim, estou retomando estas metas, baseado nos números das estatísticas que você enviou. É você que está recebendo a meta de

crescimento para sua igreja.Sua avaliação vai passar também por sua capacidade de dar resposta a tais metas”. Corretíssima a posição do bispo. É bíblico. São palavras de Jesus aos seus discípulos (Lc 10.7): “digno é o trabalhador de seu salário”. E o Mestre vai um pouco além: “Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos (Mt 10.9)”. Como também é bíblica a cobrança de resultados, que decorrem certamente do “plantar” e “regar” a planta. Quando a semente é bem plantada e há o cui-dado de regar a planta, lembremo-nos de Paulo e Apolo, certamente Deus dá o crescimento.

Eu acho que devemos eliminar dos Cânones essa obrigatoriedade de prover residência para o presbítero. É claro que teríamos uma transição para não prejudicar ninguém. Uma das soluções seria au-mentar os subsídios de quem conta com casa pastoral ou mora em imóvel alugado por conta da Igreja. No primeiro caso, pagariam um aluguel à Igreja, com contrato de locação e tudo. No segundo caso, o pastor que fizesse com o locador o seu próprio contrato. Ou seja, os presbíteros não seriam penalizados, ficando com a mesma coisa. Normalmente, os pastores não gostam de morar junto aos templos, para não serem muito in-comodados em sua privacidade. Muitas das casas pastorais nessas condições, com pequenas obras, po-dem ser usadas para a Missão. Na realidade, todas as igrejas têm carência de novos espaços para o traba-lho. No caso de apartamentos ou casas pastorais lo-calizados longe dos templos, o melhor seria vendê-los e colocar o dinheiro em planos realistas de Mis-sões e Evangelização. Restaria o problema dos pastores que já con-seguiram a sua casa própria e recebem da igreja uma espécie de “aluguel” por ela, já que hoje têm direito canônico à residência por conta da igreja. Tenho dú-vidas de que seja ética essa prática. Se for, a solução seria a mesma dos imóveis alugados de terceiros, aumentar o salário pastoral também na justa propor-ção e cessar o aluguel. Com as soluções aqui esboçadas, que respei-tam direitos adquiridos, embora se tenha que ver al-gumas implicações em termos de Imposto de Renda, ficaríamos livres do problema para o futuro e haveria mais justiça nas relações das igrejas com seus pasto-res. É claro que o assunto tem que ser bem estu-dado e não aprovado de afogadilho. Alguma coisa, no entanto, precisa ser feita. Ministério pastoral não pode ser uma sinecura vitalícia. Seria bom até um teto máximo de remuneração pastoral, como se tenta fazer no Governo, embora o decidido nem sempre seja cumprido. Algumas igrejas já estão pagando aos pastores comissão sobre a arrecadação. Isto deve ser proibido e tais pastores removidos imediatamente.

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PENSÃO PARA BISPOS APOSEN-

TADOS É ANTICONSTITUCIONAL

João Wesley Dornellas Primeiramente, caros leitores, deixem-me

dizer que não se trata de nenhuma proposta a ser discutida no próximo Concílio Geral. Essa pensão especial, concedida aos bispos que se aposentam, já está em vigor há pelo menos 12 anos. Foi criada pelo Colégio Episcopal em decisão fechada, que nunca foi publicada pela Igreja. Uma verdadeira “caixa preta”. Por isto que muito pouca gente tem conhecimento dela. Nem se sabe quais os valores que a Igreja já despendeu com ela em tantos anos de vigência ilegal.

Podem perguntar-me como sei de tudo isto, eu que não ocupo cargos na administração eclesiás-tica há tanto tempo. Posso explicar. Quando essa decisão foi aprovada, um dos bispos, na dúvida sobre sua legalidade, enviou cópia da ata a um ad-vogado metodista, que a repassou por fax a meu irmão procurando saber a sua opinião. Infelizmen-te, depois de anos, o fax se apagou e não se viu mais o texto. Em 1998, quando da realização do Encontro do Perdão na Faculdade de Teologia, dei os parabéns ao falecido bispo Davi Ponciano Dias por ter sido contrário à pensão. A princípio ele se esquivou mas depois declarou claramente que tinha sido contrário à ideia.

Essa decisão, em primeiro lugar, contraria a Lei. Bispos não se aposentam. Na Igreja Metodista, de acordo com a nossa Constituição, existem duas Ordens, a presbiteral e a diaconal (Art. 13). Não existem ordem episcopal. “O episcopado na Igreja Metodista é encargo de serviço especial”, absolu-tamente transitório. Apesar do parágrafo 5º do art. 71 dos Cânones mencionar “presbítero que se apo-senta no exercício do episcopado”, para efeito de concessão do título de bispo benemérito, tal tipo de aposentadoria não existe isto, é contra a Constitui-ção, já que episcopado não é ordem.. Ao declina-rem de concorrer à re-eleição em virtude de desejo de aposentar-se, ou, após concorrer e perder nos votos, fazendo idêntica comunicação, essa infor-mação só é válida para a concessão do título de bispo emérito. Para mais nada. A aposentadoria é concedida ao presbítero e não ao bispo, de acordo com a lei, após aprovação do Concílio Regional.

Só mais um lembrete. Decisões anticonsti-tucionais não geram direitos nem expectativa deles.

São atos nulos de pleno direito. Isto se qui-

sermos respeitar os princípios gerais do Direito. Com a falência do DGP e a concessão, pelo

Governo Federal, para favorecer os padres católi-cos, que não tinham nenhum tipo de previdência, da possibilidade de contribuição ao INSS para pro-ver suas aposentadorias, nossa Igreja decidiu aca-bar de vez com a aposentadoria dos pastores por sua conta. Todos foram obrigados a contribuir para a entidade de Seguridade Social do Governo. Pou-cos pastores e suas viúvas ficaram livres dessa con-tribuição, justamente aquelas pessoas que não ti-nham condições legais para obter o benefício. Con-tinuaram a receber aposentadoria da Igreja somente aos que foram admitidos antes de 1º de janeiro de 1975, que continuaram vinculados exclusivamente à previdência interna (Art. 210 dos Cânones). Com 36 anos decorridos daquela decisão, deve existir ainda muito pouca gente, pastores aposentados e suas viúvas, recebendo aposentadoria da Igreja. Todos hoje recebem aposentadoria do INSS, sendo pouquíssimos os pensionados que ainda recebem da Igreja.

A Igreja deixou de pagar aposentadoria aos seus obreiros, que as conseguem do INSS fazendo sua contribuição regular, além da contribuição das igrejas locais de sua parte, como qualquer empre-gado de qualquer empresa, por menor que seja. E esse é o princípio da Previdência, paga-se durante dezenas de anos para conseguir uma pequena ren-da, cada vez menor porque o Governo pune os apo-sentados do INSS com correções abaixo da infla-ção. Essa regra de ouro da Previdência, seja do Governo ou privada, não foi respeitada pela deci-são do Colégio Episcopal. Recebe-se uma pensão especial que, além de ilegal, ninguém pagou nada para recebê-la.

Tudo o que foi dito aqui refere-se apenas à questão legal. Uma decisão desse tipo, desculpem-me a franqueza, não poderia ser tomada pelos pró-prios possíveis beneficiados por ela. Se nossa Igre-ja é conciliar, como muita gente assevera, por que não resolver o assunto num Concílio Geral? É o lugar adequado para isto. No aspecto legal, é isto. Não podemos nos esquecer, contudo de outros as-pectos. Somos uma Igreja e bispos e pastores não

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são empregados comuns dela, são vocacionados, presumindo-se chamados por Deus para o trabalho.

Quando Francis Asbury tornou-se o primei-ro bispo do Metodismo americano, ele não aceitou receber mais do que os seus pastores. Com o tem-po, os bispos acabassem recebendo um pouco mais de salários e algumas “mordomias”.

Quando se aposentavam, porém, mesmo sendo vitalícios, os bispos passavam a ganhar igual aos presbíteros (“elders”). Assim era na Disciplina de 1922, a mesma que vigorou em nossa Igreja Metodista do Brasil nos anos de 1930 e 1934. E essa era uma das muitas exigências da Igreja-Mãe ao conceder a nossa Autonomia. Seria bom ler as minutas (atas) daquela 21ª Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul (Methodist E-piscopal Church, South) realizada em Dallas, Te-xas, de 7 a 24 de maio de 1930. Eu recebi dos Ar-quivos Gerais da Igreja Metodista Unida uma cópia delas. E me mandaram, também, um relatório do Rev. James E. Ellis, missionário americano no Bra-sil, antigo Secretário Geral de Educação Cristã. Ele era também o responsável pelos missionários no Brasil. Em seu relatório, datado de novembro de 1958, ele faz uma relato minucioso de nossa Auto-nomia e da igreja autônoma durante os 28 anos.

Ele menciona como a Comissão Constituin-te (15 brasileiros e 5 americanos) fez o seu trabalho para implantar a nossa Autonomia. Fizeram uma Constituição e decidiram que, no que não fosse previsto nela, prevaleceria, até o 2º Concílio Geral, a Disciplina (Cânones) de 1922 da Igreja-Mãe.

Ellis chama a atenção para algumas provi-sões relativas ao episcopado. 1. o episcopado seria um encargo não uma ordem; 2. o bispo seria um presbítero com responsabilidade especial e não de uma ordem superior; seria consagrado e não orde-nado; se reeleito, não seria consagrado de novo; 3. não haveria bispos aposentados, se um presbíte-ro foi aposentado quando servindo como bispo, ele se aposentaria como presbítero; 4. o salário do bispo seria decidido pelo Concílio Geral, mas depois de sua aposentadoria receberia a a nesna pensão dos demais presbíteros de sua Região; 5.bispos são eleitos para servir até o encerramento do Concílio Geral que os elegeu ou reelegeu.

Na realidade, mesmo sem a clareza das exi-gências da Igreja-Mãe, com exceção do mandato dos bispos, os Cânones refletem a mesma coisa, ou seja, bispos não se aposentam. Quem se aposenta são os presbíteros, tenham sido bispos ou não.

Na questão do mandato dos bispos, que sempre começou com a consagração, o encerra-mento se dava na consagração dos novos bispos, ao

encerramento do Concílio Geral. Agora, numa de-cisão infeliz, os bispos são consagrados mais tarde, na realização dos concílios regionais que sucedem ao Concílio Geral. Em 1955, ao serem eleitos, Pi-nheiro e Amaral, eles foram consagrados imedia-tamente, isto é, antes do encerramento do Concílio que os elegeu e assumiram a posição. Idem em 1965, com Almir, Natanael, Oswaldo e Wilbur.

Voltemos às pensões de aposentadoria dos bispos. É claro que, sem conhecer o texto da deci-são, com todos os seus detalhes, não se pode discu-tir muito. Há diversas perguntas a serem feitas so-bre os critérios da concessão dessa pensão. O bom seria que a resolução do Colégio Episcopal fosse conhecida pela Igreja. Para que se possa discuti-la com conhecimento de causa.

Assim, sem esse conhecimento minucioso, as dúvidas ficam no ar, sem nenhuma resposta.

Meses atrás, foi grande a discussão, tanto no Congresso como na mídia, sobre a aposentado-ria de governadores. A condenação da opinião pú-blica foi quase unânime. Em decorrência dela e da pressão da imprensa, muitas delas foram revoga-das, não por serem ilegais mas por ferirem a ética e o bom senso. Um dos argumentos foi que não seria correto receber uma pensão sem haver contribuído para ela. O mesmo caso dos bispos que recebem a pensão. E ainda mais, a possibilidade de acumulá-las com outras pensões, como a do INSS, por e-xemplo.

Na Justiça de nossa Igreja, talvez não, por-que a figura dos bispos tem muita força. Mesmo no período que não tinham tanto força - período de 1971 a 1987 – por motivos psicológicos e até histó-ricos, eles mantiveram essa posição.

Na Justiça civil, no entanto, presbíteros a-posentados sem pensão da Igreja, poderiam perfei-tamente pedir isonomia e também receber uma pensão adicional, paga pela Igreja. Teriam todo o direito já que, na aposentadoria, os bispos têm, sem sombra de dúvida, a mesma função deles, todos são presbíteros aposentados. E certamente as viúvas e os filhos de presbíteros falecidos depois da resolu-ção do Colégio Episcopal poderiam receber o que seus pais não receberam. Indo à Justiça, a única sanção da Igreja seria proibi-los de terem cargos, certamente ganharian. E a Igreja não teria como manter esse sigilo que cerca aquela decisão.

Voltemos às decisões do passado, à ética na condução da Igreja, ao bom senso, que, quase sem-pre, houve em nossa Igreja. Ou consigam uma de-cisão que não viole a Lei, o que acho difícil neste caso, ou cancelem a decisão que não tinha nenhu-ma razão de ser. E peçam perdão a Deus e à Igreja.

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INGRATA SURPRESA? Kyrie eleison!

Paulo Ayres Mattos

Bispo Emérito da Igreja Metodista

Nashville, Julho de 2011

Deve estar sendo uma ingrata surpresa para muitos membros da Igreja Metodista, particularmente para membros da delegação clériga e leiga ao próximo Concílio Geral da denominação, receber os dados esta-tísticos nacionais da Igreja Metodista no Brasil referen-tes ao qüinqüênio 2006-2010. Será que serão motivo para acaloradas discussões durante a reunião máxima do metodismo brasileiro que dentro de poucos dias estará tendo seu início em Brasília? Sei não!

Por que ingrata? Porque após as decisões de A-racruz se esperava ver um “boom” no crescimento nu-mérico da Igreja Metodista em todo o território brasilei-ro já que um dos principais argumentos usados para a desfiliação da Igreja Metodista de órgãos ecumênicos nos quais a Igreja Católica Apostólica Romana partici-pava, e ainda participa, foi que nossa associação com aquela Igreja irmã dificultava o crescimento numérico do metodismo brasileiro. Fora de tais organizações, o metodismo brasileiro ia “arrebentar a boca do balão”. Nas entrelinhas de Aracruz esta era uma promessa (ou profetada?) que acabou não se cumprindo.

Dizia-se esperar por tal “boom” porque agora desvencilhados de laços tão constrangedores já não terí-amos mais que andar a explicar a todo o momento nos-sos relacionamentos com gente apóstata e assim evitar a perda de membros para denominações irmãs que nos antagonizavam por nossa associação esdrúxula com a representante do Anti-Cristo na terra e, mais ainda, con-seguir muitos novos adeptos para o metodismo brasilei-ro entre os próprios aderentes do catolicismo. O argu-mento principal que subjazia à estratégia dos adversá-rios do ecumenismo institucional que incluísse os cató-licos romanos era que o crescimento numérico experi-mentado por denominações irmãs, especialmente as pentecostais como as Assembléias de Deus, devia-se entre outras coisas ao seu explícito e declarado anticato-licismo.

Os defensores da proposta de rompimento de nossas relações eclesiásticas com o catolicismo romano tiveram como sua pedra angular a negação de qualquer eclesialidade da Igreja Católica Apostólica Romana, com delegados brandindo no plenário de Aracruz as páginas das Notas Explicativas do Novo Testamento de Wesley onde nos comentários de textos do Apocalipse nosso pai espiritual faz referências não muito elogiosas àquela Igreja irmã, em que pese outras referências mais fraternas em sua Carta a um Católico Romano em que o fundador do movimento metodista reconhece certas

marcas eclesiais daquela Igreja. A nossa associ-ação com a Igreja Católica em organismos como o Con-selho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) e a Coorde-nadoria Ecumênica de Serviço (CESE) se constituía para os antiecumênicos num antitestemunho evangélico que facilitava em nosso meio metodista, por um lado, o proselitismo de nossas co-irmãs evangélicas que pesca-vam novos membros em nossas próprias águas. Por outro, demonstrava uma nossa falta de identidade evan-gélica que redundava numa complacência teológica diante de práticas católicas tais como a salvação pelas obras, o culto às imagens, a veneração da Virgem Maria e a concepção petrina do papado romano, o que acaba-va, assim se dizia, por nos imobilizar em nossa prática evangelística já que praticamente nada mais nos dife-renciava dos católicos romanos. Afastados, pois, da associação réproba com os católicos romanos agora estaríamos, entre outras coisas, livres da concorrência predatória das denominações irmãs mais conservadoras, para então crescermos numericamente na mesma pro-porção delas, mais particularmente de nossas co-irmãs pentecostais.

Ledo engano! Não é isto que as estatísticas ago-ra publicadas estão a revelar. Quero, antes de tudo, dei-xar claro que não estou deslegitimando a experiência de conversão ao Evangelho dos novos convertidos em nos-sas comunidades metodistas espalhadas por esse nosso vasto Brasil. Louvo ao nosso Deus por tais conversões. Até porque algumas dessas pessoas recém-convertidas estão em minha classe de escola dominical em nossa Igreja em Rudge Ramos, onde atualmente me congrego na companhia de minha esposa. Reconheço que Deus continua usando muitas de nossas igrejas locais como lugar de acolhimento e bênção para muitas pessoas que jaziam no vale da sombra da morte, independentemente de nossa ortodoxia ou não, pois quem salva, transforma e liberta é Deus por sua maravilhosa graça e não a nossa “sã” doutrina. Gente cuja vida foi radicalmente trans-formada e liberta pelo poder do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos ser gratos a Deus pelo mover do seu Espírito no ministério de muitas de nossas igrejas locais onde podemos ver o testemunho vibrante de tais pessoas.

Mas não é sobre isto que estou falando. É sobre coisa muito diferente.

Estou falando, sim, sobre a falácia do argumen-to de que nossa associação com órgãos ecumênicos onde se acha também presente a Igreja Católica Romana

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se constituía num grande impedimento para o cresci-mento numérico do metodismo no Brasil. É esta falácia que, entre outras coisas, as estatísticas do último qüin-qüênio acabam de revelar, pois o crescimento do meto-dismo brasileiro no último qüinqüênio não foi muito diferente do crescimento dos tempos em que fazíamos parte do CONIC e da CESE. Em algumas de nossas regiões até pelo contrário.

Vejamos:

Tomemos por régua e compasso a 1ª. Região, o carro chefe do crescimento do metodismo brasileiro nos últimos vinte anos, que nos últimos anos vinha tendo como alvo o crescimento anual de 15% (quase metade dos atuais metodistas brasileiros hoje se encontra no Estado do Rio de Janeiro).

Durante todo o quinquênio a 1ª. Região teve o crescimento de 29,23%, isto é, quase que somente o previsto para dois anos; as 6ª, 7ª e 8ª Regiões tiveram crescimento um pouco acima do que seria previsto para dois anos, com especial destaque para a REMNE, o que vem ocorrendo desde os anos 1990; a 2ª Região um crescimento um pouco maior do que seria previsto para um ano; as 3ª, 4ª e 5ª crescimento muito abaixo do que seria previsto para um ano, com especial referência para as 3ª e 5ª Regiões que de fato decresceram no quinquê-nio, mais a 5ª com 2,9% (!!!!!!) do que a 3ª com 4,09%, se tomarmos por base o crescimento da população brasi-leira que no quinquênio foi de 4.6%.

No cômputo geral o crescimento oficial da Igre-ja Metodista no Brasil durante o quinquênio 2006-2010

foi de 20,84%, cinco vezes menos se o alvo da 1ª Regi-ão fosse adotado por todas as demais regiões; se tomás-semos por base o alvo estabelecido anos atrás pela 1ª. Região dever-se-ia ter alcançado, salvo melhor juízo, mais de 100% de crescimento numérico, que no final de 2011 seria por baixo mais de 370.000 membros para toda Igreja Metodista no Brasil. As atuais estatísticas indicam que segundo tais projeções haveria uma dife-rença de cerca de 150.000 pessoas que deixaram de ser incorporadas à Igreja Metodista no Brasil. Mas nem

mesmo a 1ª Região conseguiu manter o ritmo de alguns pou-cos anos atrás; o Bispo Paulo Lockmann em carta dirigida ao seu corpo pastoral reco-nheceu recentemente de for-ma honesta o retrocesso no crescimento numérico da re-gião sob sua superintendência episcopal. Diante de tais nú-meros fica mais fácil entender o por quê da manifesta insa-tisfação da Igreja com o de-senvolver da ação missionária dos metodistas brasileiros conforme a avaliação publi-cada em número recente do Expositor Cristão.

Ora, o surpreendente é que as estatísticas agora divulgadas deixam claro que o problema do baixo crescimen-to numérico da Igreja Meto-dista no Brasil neste último quinquênio se deu principal-mente em alguns dos bolsões

metodistas onde a mensagem antiecumênica prévia ao Concílio de Aracruz teve maior repercussão em suas delegações. Foi aí nesses bolsões que se encontravam os delegados em Aracruz mais aguerridos na luta pela des-filiação nossa de alguns dos organismos ecumênicos. E agora vemos número ínfimos e pífios nestas mesmas regiões. E não venham dizer agora que é a falta de cres-cimento em tais regiões é consequência do “efeito me-mória” dos nossos tempos de ecumenismo com os ir-mãos católicos1, pois a Igreja Metodista não é pilha de NiCd para ter “efeito memória”.

1 Ironicamente, “irmãos católicos” é uma expressão que está sendo usada “ad nauseam” pelos líderes evangélicos na campanha contra a PL 122 em sua santa união com católicos e até espíritas! Imaginem que o antigo axioma de que os extremos se encontram num giro de 360º, finalmente se torna realidade entre os setores do conservado-rismo evangélico e católico. Coincidência? Não, de jeito nenhum! Convergência? Claro, pois a matriz é a mesma que se chama “inte-grismo”, no catolicismo romano, e “fundamentalismo”, no protestan-tismo-evangélico – sem que com isso eu ande por aí pregando a fogueira para ambos, já que a liberdade de consciência é um valor que os protestantes sempre defenderam, tanto para um lado, como para o outro. De passagem, lembro-me que certa feita, numa conver-sa amigável com o Rev. Dino Fernandes (mola propulsora do antie-

QUADRO ESTATÍSTICO DO ROL DE MEMBROS DA IGREJA METODIS-TA

PERIODO 2006-2010* 1ª. 2ª. 3ª. 4ª. 5ª. 6ª. 7ª. 8ª. TOTAL

Número de Membros no ano de 2006 81741 10143 17559 24014 20859 17313 3647 2412 177688

Número de Membros no ano de 2010

105632 11922 18278 26521 21463 22850 4963 3086 214715

Crescimento no Período 23891 1779 719 2507 604 5537 1316 674 37027

Crescimento em Porcentagem %

29,23% 17,54% 4,09% 10,44$ 2,90% 31,98% 36,08% 27,94% 20,84%

Crescimento Populacional do Brasil 2005-2010** 2005: 183.300.000 2010: 193.250.000

Crescimento anual: 0,92% 5anos = 4,6%

* Dados apresentados nas estatísticas nacionais da Igreja Metodista – 2006-2010 ** Dados do IBGE – 2001-2010

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O baixo crescimento de algumas regiões e o de-créscimo de outras é resultado de outras questões que não têm a ver principalmente com a questão ecumênica, cuja discussão em profundidade não cabe neste artigo. Talvez o próximo Geral, se não empurrar o problema para debaixo do tapete, tome decisões para determiná-las de forma objetiva e clara. A verdade que as estatísti-cas referentes aos últimos cinco expõem é que o meto-dismo brasileiro sem ecumenismo institucional, sem participação ativa mesmo nos organismos ecumênicos onde ainda participa, não cresceu numericamente, repe-tindo o mesmo fenômeno que nunca desapareceu da vida denominacional desde 1930, a falta de crescimento numérico. Com ecumenismo ou sem ecumenismo o metodismo brasileiro teima em não crescer em número, não seguindo o padrão experimentado por outras igrejas evangélicas, até mesmo pelos presbiterianos e batistas.

Outra falácia da qual quero falar e que as esta-tísticas atuais ajudam a desmascarar é a propaganda insistente que alguns setores da Igreja Metodista no Brasil, os chamados carismáticos, fazem em favor da pentecostalização de nossa denominação (é verdade que não somente no Brasil, mas em outras partes do mundo também essa propaganda tem ganhado força nos anos recentes). Creio, contudo, que ao invés de falar de pen-tecostalismo, devia eu falar de propaganda do neopente-costalismo nos meios metodistas brasileiros. Sim, neo-pentecostalismo metodista! Basta ver o que pulula no número enorme de sites e blogs metodistas livremente postados e disponíveis na Internet. Porque por experiên-cia pessoal e profundo estudo nos últimos dez anos, estou convicto de que muito do que está acontecendo em certos arraiais metodistas nada tem a ver com o mo-vimento pentecostal! Nada, nada! Não quero e não pos-so negar a experiência pentecostal de muitos metodistas. Entretanto, em diversos lugares metodistas o que vemos não é a busca do poder do Espírito Santo para o serviço cristão no mundo, a grande aspiração dos primeiros pentecostais, mas simplesmente uma vulgarização da experiência liminar do pentecostalismo, o falar em lín-guas. Acontece que em muitos casos não há nos meios metodistas pentecostalizados nem a doutrina nem a dis-ciplina características das Assembléias de Deus e da Congregação Cristã, o que de certa maneira leva à sub-missão de muita gente nossa aos modismos novidadei-ros mais estapafúrdios que com grande rapidez surgem e cumenismo pré-Aracruz) disse a ele que eu tinha (e ainda tenho) muito mais razão do que ele nas divergências com o catolicismo romano (pois tenho convivido bem próximo de irmãos e irmãs da-quela Igreja que têm sido alvo da perseguição da Cúria Romana por suas opiniões em favor de uma profunda reforma em sua Igreja, como o teólogo Leonardo Boff, um amigo pessoal) e, por isso, mes-mo defendia (e defendo), ainda que com certas reservas, nossa parti-cipação em organismos ecumênicos onde estão também nossos irmãos e irmãs da Igreja Católica. Porque divirjo radicalmente de certas doutrinas e práticas da Igreja de Roma é que sou cada vez mais ecumênico, já que estou convicto que só o diálogo entre os diferentes, e até mesmo antagônicos, ramos do cristianismo podemos avançar no respeito mútuo e no conhecimento sincero uns dos ou-tros, mesmo divergindo e sem jamais abrir mão daquilo que para nos é a cláusula pétrea, o “princípio protestante”.

desaparecem no meio evangélico brasileiro. É um tal de correr atrás da bênção e da unção aqui, ali e acolá que não tem fim... Daí pular para a pretensa superioridade espiritual sobre quem não tem a unção é, parafraseando Wesley, um fio de cabelo. Isso se vê já em muitas igre-jas locais, onde quem não tem a experiência tem sido excluído da liderança leiga em diversos dos ministérios, exclusão essa que tende alastrar-se para níveis superio-res da burocracia eclesiástica.

Deixo claro que me considero uma das pessoas que no meio metodista brasileiro reconhecem e afirmam sem titubear a legitimidade do avivamento pentecostal começado em Azusa Street (invoco de maneira especial o testemunho de alunos e alunas, principalmente os/as pentecostais, de minhas aulas sobre história e teologia do movimento pentecostal na Fateo – do presencial e do CTP). Entretanto, afirmo que o que acontece entre nós é frequentemente nada mais nada menos do que puro mimetismo neopentecostal! Imitação, sim, e barata! Mas voltando à falácia da propaganda do [ne-o]pentecostalismo entre metodistas brasileiros... a falá-cia tem a ver acima de com a equivocada equação “crescimento numérico = avivamento pentecostal”... Ainda que seja verdade, como acima reconhecido, que igrejas locais que têm experimentado grande crescimen-to numérico são na maioria das vezes as que têm adota-do o figurino pentecostal em suas práticas e ensino, insisto que a equação é equivocada pelos motivos ex-postos a seguir. E, com [neo]pentecostalização, ou sem [neo]pentecostalização, o metodismo brasileiro teima em não crescer em número, repito, não seguindo o pa-drão experimentado por outras igrejas evangélicas, até mesmo pelos presbiterianos e batistas.

Ora qualquer estudioso sereno e rigoroso da his-tória dos avivamentos, inclusive os das últimas cinco ou seis décadas no Brasil, desde o aparecimento do pente-costalismo no Brasil em 1910, passando pelas visitas de Ridout, Orr e Jones nas décadas de 30 a 60, chegando-se aos dias atuais, sabe que tal equação não é um axioma, isto é, uma verdade que se afirma por si própria não necessitando de maiores comprovações. Antes de mais nada, nos últimos vinte anos, a propaganda para a pen-tecostalização da Igreja Metodista tem sido em alguns casos uma arma do arsenal político-ideológico para galgar-se prestígio e, depois, poder na estrutura eclesiás-tica do metodismo brasileiro. Tal coisa não acontece nem entre os batistas da CBB nem com os presbiteria-nos da IPB, onde os conservadores-fundamentalistas mantêm a máquina burocrática denominacional sob estrito controle (vide a cúpula de ambas igrejas onde carismáticos não têm vez de forma alguma... É bom lembrar que a figura mais popular do presbiterianismo brasileiro, o Rev. Hernandes Dias Lopes, em seus livros deixa bem claro sua oposição às línguas estranhas como evidência inicial do batismo do Espírito Santo).

Por que faço tal afirmação? Explico-me: porque temos claras evidências históricas de que há avivamento que não produz crescimento, e de crescimento numérico

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que não é fruto de avivamento. No primeiro caso cito o exemplo das denominações surgidas do movimento de renovação espiritual da década de 1960, sob a influência de Rosalee Appleby, e dos batistas José Rego do Nas-cimento (pastor da Lagoinha em BH) e de Enéas Togni-ni (do Colégio Batista de São Paulo), que se formaram a partir do pressuposto de que se as denominações tradi-cionais se pentecostalizassem, cresceriam na mesma proporção das Assembléias de Deus e da Congregação Cristã na década de 1950. Tal ingênuo pressuposto nun-ca se concretizou historicamente falando; tais denomi-nações até hoje não alcançaram o mesmo patamar de crescimento das igrejas pentecostais tradicionais, a As-sembléia de Deus e a Congregação Cristã, e nem das igrejas pentecostais de cura divina, como as do Evange-lho Quadrangular e da “Deus é Amor”, e nem muito menos das neopentecostais como a Universal, a da Gra-ça e a Mundial. Parecem-se muito mais com as igrejas de onde surgiram. Por outro lado, denominações que não adotaram o modelo pentecostal têm crescido a olhos vistos, mesmo sem fazer barulho, como é o caso da Adventista do Sétimo Dia, que já tem mais de um mi-lhão e meio de membros em todo território brasileiro (segundo um colega meu adventista no Conselho Dire-tor de Diaconia, somente no Nordeste há atualmente mais de 350.000 adventistas!). Isto sem entrar em maio-res detalhes sobre o vertiginoso crescimento dos batistas brasileiros. Isto me leva a recordar uma conversa que tive lá nos idos de 1970 com o meu amigo Rev. Antonio Elias, o velho e respeitado evangelista e avivalista pres-biteriano, numa série de conferências evangelísticas dele na Igreja Central de Niterói onde eu pastoreava, quando ele me disse: “Paulo, carroça vazia é que faz barulho!”.

Portanto, repito, a história contemporânea das igrejas evangélicas no Brasil demonstra que há movi-mentos de avivamento que não produzem grande cres-cimento e há grande crescimento sem a adoção de dou-trinas e práticas pentecostais. E digo isto sem qualquer preconceito contra o pentecostalismo e contra cresci-mento numérico. Digo isto mais para desconstruir o uso político-ideológico da propaganda pentecostal entre nós metodistas que é difundida sob diferentes aparências de santidade. Se fosse verdade tal equação, o avanço de práticas e ensinos [neo]pentecostais da parte de muitos pastores e pastoras metodistas, por diversas igrejas lo-cais espalhadas por todas nossas regiões, e até por al-gumas lideranças leigas de nossas organizações societá-rias, teria provocado um crescimento muito maior do que aquele acusado pelas estatísticas recém publicadas, pois o que não falta hoje em muitos lugares e encontros de metodistas é o apregoar-se do avivamento que final-mente chegou aos arraiais metodistas... .

Se é verdade que a [neo]pentecostalização de alguns bolsões do metodismo brasileiro, como a região de Cabo Frio e Macaé, na 1ª Região (e disso eu tenho sido testemunha ocular em mais de uma das visitas a Cabo Frio onde mantenho excelentes relacionamentos dentro e fora da Igreja ainda nos dias de hoje apesar de

ter servido como pastor naquela área somente até 1973), e do Norte do Paraná, na 6ª Região (onde somente tenho ouvido o testemunho de terceiros), tem trazido significa-tivo crescimento numérico para as igrejas aí localizadas, com inegáveis frutos de conversão, transformação e libertação na vida de pessoas novas-convertidas ao E-vangelho, é verdade também que a pentecostalização promovida até por autoridades maiores de nossa Igreja não tem produzido os números prometidos e apregoados pelos seus defensores em todas as regiões eclesiásticas – e isto é o que as estatísticas agora apresentadas eviden-ciam de forma clara e irrefutável. No fundo tem se cons-tituído em propaganda falsa: têm prometido um produto que não têm sido entregue ao seu maior interessado – a cúpula burocrática da Igreja Metodista (sim, um produto religioso resultante da comoditização dos bens religio-sos na sociedade neocapitalista brasileira de FHC e de Lula – e toma consumismo inveterado – e a indústria gospel vai muito bem, obrigado!).

As práticas neopentecostais entre nós metodis-tas brasileiros são de fato cópias mal-feitas de uma ma-triz que nada tem a ver com o metodismo da verdadeira santidade de coração e vida, da santidade pessoal e san-tidade social, da santidade bíblica conforme vivida e ensinada, entre outros, pelos irmãos Wesley, Fletcher, Phoebe Palmer, William e Catherine Booth, Fanny Crosby, Frances Willard, Phineas Breese, e Stanley Jones, todos comprometidos em expressar sua fé medi-ante do exercício das obras de piedade e de cotidiana e engajada prática das obras de misericórdia, na vivência concreta da santidade e do compromisso com os pobres.

A prática da verdadeira religião vivida e prega-da pelo metodismo wesleyano nada tem a ver com igre-ja em células da visão, com encontros esotéricos “com Deus” (sic) que não passam de arremedo de cursilhos da cristandade, ou pior, de sessões fechadas de sociedades secretas, de grupos de doze, de apóstolos enrustidos, de cursos de rápida duração de como falar em línguas sem qualquer relação com o ensino e disciplina bíblica sobre os dons espirituais, de encontros proféticos que nada profetizam e só servem para desperdiçar recursos que poderiam estar sendo investidos no fortalecimento da-quelas experiências missionárias que estão profetica-mente mudando as vidas das pessoas nas fronteiras ex-tremas da vida, a exemplo do que faz a Catedral Meto-dista de São Paulo com o projeto Comunidade Metodis-ta do Povo de Rua ou a JOCUM no complexo do Morro do Alemão. A prática da verdadeira religião vivida e pregada pelo metodismo wesleyano nada tem a ver com anacrônicas práticas judaizantes (de entronização em nossos altares de menorahs, shophars e bandeiras do Estado Sionista de Israel (que os judeus mais conserva-dores repudiam como ofensa à soberania de Iahweh na restauração de Israel), uso de kipahs e talits nas cerimô-nias litúrgicas metodistas, etc., etc., etc.,). A prática da verdadeira religião vivida e pregada pelo metodismo wesleyano nada tem a ver com o mimetismo grosseiro de práticas umbandistas como correntes de prosperida-de, cultos de libertação que são verdadeiras réplicas de

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sessões de descarrego do neopentecostalismo, e outras que tais (com todo respeito pela liberdade de escolha de quem faz conscientemente opção por tal religião afro-brasileira – direito esse que evangélicos brasileiros no passado defenderam até com o preço de suas vidas, direito esse como inalienável liberdade que nos foi dada pelo próprio Deus). A prática da verdadeira religião vivida e pregada pelo metodismo wesleyano nada tem a ver com o clericalismo exacerbado reinante em muitas igrejas metodistas brasileiras onde a liderança leiga foi abafada, reprimida e censurada sob o pretexto neopente-costal de que na Igreja a divergência com certas orienta-ções pastorais são rebeldia e, portanto, pecado mortal de feitiçaria contra os “homens de Deus” que tudo podem e de forma alguma podem sofrer qualquer contestação em sua “autoridade”. A prática da verdadeira religião vivida e pregada pelo metodismo wesleyano nada tem a ver com a morte da escola dominical substituída arbitraria-mente pelas escolas de líderes onde o que vale é a von-tade pastoral. E tudo isto, gente, está aí para quem qui-ser ver nas páginas dos blogs e das redes sociais da In-ternet...

Creio que esse tipo de religião vigente em mui-tos círculos do metodismo brasileiro nos tem produzido um grave problema, pois grande parte dos membros de nossas congregações é constituída mais por meros assis-tentes passivos e/ou por clientes em busca de produtos religiosos do que de irmãos e irmãs na fé com forte compromisso e prática missionárias, participantes ativos dos grupos de discipulados (cujos dados estatísticos agora divulgados são mais do que decepcionantes, mas sim vergonhosos!), especialmente em suas atividades cotidianas no mundo secular onde vivem e trabalham. Dentro do atual quadro religioso brasileiro, creio que o nosso exacerbado clericalismo é um enorme obstáculo para uma compreensão e prática da obra missionária em termos de missão integral. Sem leigos maduros, ativos, participantes e comprometidos não poderá haver missão integral.

É por isso que o crescimento numérico dos e-vangélicos brasileiros, apesar da extraordinária trans-formação na vida pessoal de milhares de pessoas, não tem causado maior impacto transformador em nossa sociedade (Rio de Janeiro, o estado brasileiro com a maior população evangélica, que o diga!) Neste sentido, no Brasil não temos visto o que o avivamento metodista na Inglaterra, sob a liderança de Wesley, e o avivamento liderado por Finney e Phoebe Palmer nos Estados Uni-dos, na primeira metade do século dezenove, foram capazes de provocar não somente levando multidões à conversão a Cristo, mas também a mudanças importan-tes e significativas na vida moral, social e política em ambas sociedades.

O que vemos é que mesmo o grande crescimen-to numérico de outras denominações irmãs, em minha opinião, não tem sido acompanhado de um maior com-promisso missionário em todos os campos da vida brasi-leira reclamando um eficaz testemunho evangélico (ex-

ceto pela recente articulação contra a PL122). Creio que precisamos com urgência de uma NOVA REFORMA no evangelismo brasileiro que deverá ter como seu cen-tro a compreensão e a prática da missão como obra de Deus na implantação e sinalização do seu Reino entre nós e não como obra humana forjada nas regras do mer-cado e da exacerbada competição institucional entre as igrejas para o crescimento numérico a qualquer custo e da mimetização de ensino e práticas que nada tem a ver com a religião do coração aquecido, da santidade de coração e vida, das obras de piedade e das obras de mi-sericórdia. Só com uma radical reforma no mundo e-vangélico brasileiro será possível a nossas igrejas con-tribuírem para a construção de uma sociedade com alto padrão espiritual e ético, segundo a maneira de ser ex-posta por Jesus no Sermão do Monte (Mateus 5 a 8).

Creio que o tipo de [neo]pentecostalização que o metodismo brasileiro tem sofrido nas últimas duas décadas vai na contramão dessa necessária reforma e-vangélica e é em muitos casos o responsável pela falên-cia do projeto de crescimento numérico vigente no me-todismo brasileiro de nossos dias conforme os números de nossas últimas estatísticas. Na imitação grosseira e barata dos grupos neopentecostais o povo das comuni-dades onde estão inseridas nossas igrejas locais em sua grande maioria prefere ir para as matrizes e não para as imitações das filiais não autorizadas, um tanto quanto envergonhadas, pastoreadas por nossos pastores e pasto-ras neopentecostalizados. Graças aos escrúpulos ainda presentes entre nós a maioria de nossos neopentecostais não chega a cruzar as fronteiras que nos separam das manifestações quase indecentes de grande parte do mer-cado religioso brasileiro. Mas aí ficam a meio caminho essas cópias envergonhadas que nada têm a ver com o metodismo wesleyano e a original igreja neopentecostal da cidade ou do bairros ou da esquina ainda é mais atra-ente que a cópia metodista...

Diante de tais disparates reinantes em muitas de nossas igrejas, sob a liderança de muitos de nossos pas-tores e pastoras, creio que o metodismo está realmente numa encruzilhada histórica: ou deixa de ser metodismo e assume o ser neopentecostal para valer, ou volta a ser uma alternativa não de massas, mas sim parte reserva escatológica do Resto de Israel que não se curva diante do deus do mercado dos bens religiosos do sucesso a qualquer custo, da prosperidade financeira do consu-mismo grosseiro que anima a propaganda televisiva do neopentecostalismo e do crescimento numérico que sustenta os privilégios financeiros e políticos do “sacer-dócio” e bajula o poderoso mamon de nossos dias e persegue e mata os profetas de Javé (Isaias 10 e 11). A escolha certamente não dependerá de decisões da má-quina administrativa da Igreja em qualquer nível de sua organização burocrático-eclesiástica, mas sim de uma profunda e nova espiritualidade evangélica que nos leve a uma nova forma de ser Igreja, tal como aconteceu com a reforma protestante no século dezesseis e o movimen-to metodista no século dezoito. As palavras de Jesus ao homem religioso de seu tempo mais uma vez ressoam

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entre nós: “É necessário nascer de novo... O Espírito sopra onde quer...” Uma reforma que antes de tudo mu-de o nosso coração e nos leve a viver radicalmente no cotidiano de nosso povo a singela mensagem do Jesus ressuscitado, em dedicados e comprometidos atos de piedade e misericórdia, conforme Wesley nos testemu-nhou por sua vida e ensino.

Como Lutero diante da Dieta de Worms, decla-ro:

“A menos que me provem pelas Escrituras e

claros argumentos da razão que eu estou enganado –

porque não acredito nem no papa nem nos concílios já

que está provado amiúde que estão errados, contradi-

zendo-se a si mesmos – não posso e não me retratarei.

Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir con-

tra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui

estou e permaneço eu. Não há nada mais que eu possa

fazer. Para tanto que Deus me ajude. Amém.”

Maranatha!

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O que eu espero do Concílio Geral

••• “Embora, talvez, tardiamente resolvi expressar o que espero do 19ª Concilio Geral. Lendo a

TRIBUNA METODISTA-6 e, deparando-me com mais este espaço de livre expressão de parte

do povo de Deus, aqueles/as que estão congregados na Igreja Metodista,resolvi expressar que almejo que o evento não seja um desfilar de vaidades, de busca do poder a qualquer preço, mas que seja um mover em direção ao Reino de Deus, que está em meio de nós e , cujo Senhor, almeja que frutifiquemos em frutos de justiça, de paz, de misericórdia, de uni-

dade e de amor.Que o 19ª seja um renovo para igreja Metodista e que ela possa aprofundar o

caminho iniciado em 1982, e delineado em 1987, com o Plano de Vida e Missão e os Dons e

Ministérios. Que a igreja toda seja de sacerdotes e ofereça continuamente sacrifício vivo e

santo”.

Keller Apolinário

••• “Espero o CG adote um programa missio nário que perca a característica regional para ver

que no Brasil todo existem cidades grandes sem a presença da Igreja Metodista. Espero tam-

bém que se estabeleça a forma democrática da representação igual de leigos e clérigos nos Concílios Regionais. Espero ainda que deixem Deus agir na eleição dos Bispos”.

Airton Campos

••• “Oro para que este 19º Concílio Geral seja um marco na caminhada da Igreja Metodista. Que

o Espírito Santo faça com que desapareçam os interesses pessoais, a vaidade, a ambição de

poder e tudo o mais que nos separa da vontade de nosso Pai. Que haja união entre os irmãos delegados e todos estejam bem atentos ao que Jesus ordenou” Luiz Fernandes

•••• . Estamos refazendo nossas listagens de recebedores regulares de TRIBUNA METODISTA. Alguns no-mes e endereços eletrônicos foram perdidos e, com as nossas desculpas, pedimos que aos que tomarem conhecimento desta edição e não a receberam, que nos envie nova informação sobre seus e.mails. Logo após o Concílio Geral faremos uma edição com os comentários sobre ele. E vamos fazer uma pesquisa entre os leitores sobre seus interesses de leitura e assuntos a serem publicados normalmente no futuro.