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Desmistificando a Wicca História, conceitos, princípios sobre a bruxaria moderna Por Laylah Índice: As bruxas estão soltas Pg 1 Wicca: Breve resumo Pg 3 O renascer da bruxaria Pg 5 Paganismo e wicca Pg 7 A wicca não nasceu no período neolítico!!! Pg 9 A consciência ecológica Pg 10 O individualismo religioso Pg 11 Valores matrifocais Pg 12 As deusas e os deuses da wicca Pg 13 Instrumentos da wicca Pg 14 A roda do ano Pg 14 “Peladin peladin”? Pg 15 A nudez das bruxas e bruxos Pg 16 Panorama atual do neo-paganismo Pg 16 Observações finais Pg 18 Bibliografia Pg 20 As Bruxas Estão Soltas - Juliana Couto de Oliveira - Nas histórias de terror contadas pelo folclore em todo o mundo as bruxas com suas bruxarias sempre foram vistas como coisas bizarras ou do mal. Aqui estou, na condição de bruxa, para mostrar a verdadeira realidade e proteger a dignidade dos bruxos e bruxas que ainda 1

WICCA PRATICA

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Aprenda um pouco sobre Magia Wicca!

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Page 1: WICCA PRATICA

Desmistificando a WiccaHistória, conceitos, princípios sobre a bruxaria

modernaPor Laylah

Índice:

As bruxas estão soltas Pg 1Wicca: Breve resumo Pg 3O renascer da bruxaria Pg 5Paganismo e wicca Pg 7A wicca não nasceu no período neolítico!!! Pg 9A consciência ecológica Pg 10O individualismo religioso Pg 11Valores matrifocais Pg 12As deusas e os deuses da wicca Pg 13Instrumentos da wicca Pg 14A roda do ano Pg 14“Peladin peladin”? Pg 15A nudez das bruxas e bruxos Pg 16Panorama atual do neo-paganismo Pg 16Observações finais Pg 18Bibliografia Pg 20

As Bruxas Estão Soltas

- Juliana Couto de Oliveira -

Nas histórias de terror contadas pelo folclore em todo o mundo as bruxas com suas bruxarias sempre foram vistas como coisas bizarras ou do mal. Aqui estou, na condição de bruxa, para mostrar a verdadeira realidade e proteger a dignidade dos bruxos e bruxas que ainda existem e que agora estão se multiplicando em todo o mundo. Começo explicando a origem do nome wicca ou wicce, palavra de raiz anglo-saxã, que significa moldar ou as pessoas que moldam suas vidas. A wicca (ou bruxaria) é uma religião de origem xamanística, com traços celtas. Muitos não consideram a wicca uma religião, porque acham que é uma seita ou um culto ao diabo. Isso teve início quando a Igreja Católica começou a ter força na Europa Ocidental. A partir daí, começou a perseguição e execução de muitas bruxas, o que deu origem à chamada Inquisição. Nesse evento, muitos inocentes foram executados por acreditarem em outras religiões.

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Ao contrário do que muitos imaginam, a nossa religião wicca é baseada na vida e no amor. Procuramos entrar em harmonia com a natureza e respeitar e cuidar do nosso planeta. Acreditamos que tudo é formado por dois pólos opostos: a Deusa Tríplice e o Deus Cornífero. A Deusa Tríplice apresenta as suas três faces: a donzela, a mãe e a anciã. É dela o útero germinador de tudo que tem vida neste mundo. É ela quem dá à luz ao mundo e tudo que nele existe; ela é a bela mulher que dança e rodopia feito uma espiral no meio do campo florido. Ela é a lua que brilha todas as noites.

O Deus Cornífero é aquele que semeia o útero da Grande Deusa, que a espreita no meio do mato enquanto se prepara para agarrá-la como um bicho prende sua caça. Ele é o sol que ilumina a cada dia. Juntos, eles nos dão vida. São duas forças opostas que se unem gerando apenas uma. Infelizmente, o Deus Cornífero é confundido com o satanás da Igreja Católica, em razão de sua coroa de chifres.

Nós, bruxas, não adoramos o diabo e nem cultuamos o demônio.Isso é pura especulação política do cristianismo medieval e atual.

Na wicca, ensinamos que é necessário ter duas forças opostas, porque acreditamos que uma religião baseada apenas em um único deus é tão desequilibrada quanto a baseada em apenas uma deusa. Nós reconhecemos os dois lados dos deuses, tanto o lado claro quanto o escuro. Quando se diz escuro, não quer dizer mau ou ruim, e sim justo. Por exemplo, se o homem destruir a natureza, a natureza também destruirá o homem. Isso é ser justo.

Cabe falar um pouco sobre as comemorações wiccans, que denominamos Roda do Ano, onde se festejam os sabás e os esbaths. Os sabás são festivais baseados no ciclo do Sol, que dão origem às estações do ano. No total, são oito sabás. São eles: Lammas ou Lughmasat; Mabon ou Equinócio de Outono; Samhain, que é o famoso Dia das Bruxas; Yule ou Solsticio de Inverno; Imbolc ou Caldemas; Ostara ou Equinócio de Primavera; Beltane; e Litha ou Solstício de Verão.

Existe uma grande confusão a respeito dos sabás, pois existem dois calendários: o do Norte e o do Sul. No Brasil, muitos bruxos utilizam o calendário do Norte, achando que não se tem “clima” para se comemorar os sabás em suas datas diferentes das do Norte. Na opinião formal, se não comemoram-se os sabás nas estações certas, a energia humana diminui muito, ficando sem sentido festejar o inverno enquanto é verão.

Os esbaths são comemorações à lua cheia, que para os wiccans é um dia de santidade e espiritualidade. No total, são 13 comemorações por ano, que marcam o final do ano lunar,que, para os wiccans, treze luas cheias significam ano novo.

A wicca é uma religião baseada na magia, mas a maioria pensa que magia é acender velas coloridas,  fazer algum feitiço ou ritual. Mas não é só isso, magia também é gerar um filho, dar à luz a uma criança,  cozinhar, viver. Este é o verdadeiro sentido da magia. Muitos também pensam que as bruxas fazem magia negra. Cabe explicar que nós, bruxas, não acreditamos no conceito do bem ou do mal.

Podemos usar da magia para ajudar uma pessoa ou para prejudicá-la. Isso significa, portanto, que a magia não é má, ela é o que se desejar que ela seja.

Um dos princípios que a wicca defende é "faça o que quiseres desde que não prejudiques ninguém". Sendo assim, antes de se fazer um feitiço ou ritual, deve-se pensar muito sobre as conseqüências desse ritual, pois acreditamos na chamada "lei do tríplice retorno". Essa lei prega que tudo que se faz retorna três vezes pior ou melhor, dependendo do tipo de sentimento que se coloca no feitiço.

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Quando praticamos nossos rituais ou feitiços fazemos sempre dentro de um círculo de energia, e invocamos a Deusa e o Deus para que compareçam. Invocamos também os quatro quadrantes, que são as 4  direções representadas pelos quatro elementos: ar, fogo, água e terra. Encerramos os nossos rituais agradecendo à Deusa, ao Deus, aos quatro elementos e fechamos o círculo. Infelizmente, muitas pessoas pensam que fazemos nossos rituais usando sangue ou fazendo sacrifícios, mas isso não é verdade,  pois a Deusa não admite que façamos mal à natureza. Para fazermos os feitiços e os rituais usamos alguns instrumentos, como o caldeirão, a varinha, a vassoura e o punhal. Com o passar do tempo, muitas pessoas distorceram a história desses instrumentos, que passaram a servir para coisas incríveis e absurdas, como ferver pernas de sapo, olho de cobra e asa de morcego para fazer alguma poção. Nossa varinha virou algo tão superpoderoso, que seja qual

for o desejo ele acaba surgindo como num passe de mágica. Nossa vassoura tanto conseguiu vencer a gravidade, que saiu voando pelo mundo afora. Isso é um verdadeiro absurdo!

Mas já que estamos falando em vassoura, outro mito é o de acreditar que nós voamos em vassouras. Este mito remonta aos tempos em que as bruxas faziam seus rituais nos campos nos períodos de plantação. Para fazer com que as plantas crescessem fortes, elas corriam pelo campo montadas em suas vassouras. O problema é que as pessoas que assistiam tal cena acabavam descrevendo-a para outras e sempre exageravam na história. E a tal ponto que a informação foi tão distorcida que as bruxas começaram a voar na boca do povo.

Por outro lado, muitos pensam que a wicca é uma religião feminista. Outra mentira. A wicca é uma  religião para ambos os sexos. É verdade que  muitas mulheres extremamente feministas fazem da wicca uma religião mais feminina que masculina. Por isso, não se encontra um único livro que faça referência aos bruxos. Eles sempre referem-se às bruxas. Por que não um livro para bruxos?

Isto expõe o preconceito que nós, bruxas, sofremos, na escola, no trabalho, enfim, no dia-a-dia. O preconceito é tanto, que algumas pessoas inventam calúnias, nos olham com medo, pensando que somos os monstros que o folclore conta. As bruxas são pessoas como quaisquer outras deste planeta. Eu sou uma bruxa ou wiccana, como preferirem chamar. E tenho muito orgulho de ser o que sou, pois, como qualquer devoto das demais religiões, gosto da minha.

O que se deve aprender, tanto da parte wiccana quanto da parte das outras religiões, é que existe a lei universal da liberdade religiosa. E a melhor maneira de seguir essa lei é respeitando para ser respeitado.

Wicca: Breve resumo

Wicca é uma religião baseada no respeito à Natureza e no culto aos Deuses Antigos. Os wiccans cultuam os ritos baseados no ciclo da terra e nas estações;

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buscam harmonizar-se com a Natureza e com os antigos Deuses (religião = religare , religar).      Em geral, na Wicca não existem sacerdotes que detém o poder de contato com o divino. Qualquer praticante pode entrar em contato direto com a divindade. Por isso o fato de que a Wicca é uma religião que pode ser praticada tanto solitariamente como em grupos, chamados covens.       A Wicca é definida pela Pagan Federation como um "caminho iniciático, uma religião de mistérios que guia os seus iniciados a uma profunda comunhão com os poderes da Natureza e da psique humana, conduzindo a uma transformação do indivíduo".       Publicamente, a Wicca começou a ser divulgada no início dos anos 50 na Inglaterra, por Gerald Gardner, que publicou as obras "High Magic's Aid" (1949), "Witchcraft Today" (1954) e "The Meaning of Witchcraft" (1959).      Gerald Brusseau Gardner é filho de escoceses e nasceu em 13 de junho de 1884, em Liverpool, na Inglaterra. Os  primeiros contatos de Gardner com a Arte acontecem durante a Segunda Guerra Mundial, quando ele descobre um coven localizado próximo à sua residência em New Forest. Gardner decide então, publicar "High Magic's Aid" (as leis contra a bruxaria perduraram na Inglaterra até 1951). Este livro é escrito por Gardner como um romance, mas revela durante sua história alguns rituais até então secretos.       Segundo Doreen Valiente (uma das divulgadoras da Tradição Gardneriana), Gerald Gardner acreditava que, de certa forma, a Arte "chamava" os mais jovens; pessoas que foram bruxos em outras vidas, ou que traziam a Antiga Religião guardada em seus inconscientes. Foi também precursor do naturismo, defendendo a prática dos oficiantes "vestidos de céu" (nus) e manteve o tradicionalismo em seus rituais, que são, via de regra, presididos por uma Sacerdotisa auxiliada por um Sacerdote.       A partir de Gardner, a divulgação da Wicca não parou mais. Muitas outras tradições foram criadas, como a Tradição Alexandrina, fundada em 1960 por Alex Sanders. Semelhante à tradição Gardneriana, é um pouco mais flexível quanto à algumas exigências de Gardner (o nudismo, por exemplo).       Nos Estados Unidos o impulso ao Paganismo surge durante a década de 70, por conta do movimento feminista, que buscava a igualdade entre os sexos. Algumas tradições são exclusivamente abertas apenas à participação de mulheres, como um dos "braços" da Tradição Diânica, fundada por  Morgan MacFarland, que se divide em "Old Dianic Tradition", onde se cultua a Deusa e o Deus como seu consorte e a divisão chamada de Feitiçaria Feminista Diânica, onde apenas a Deusa é cultuada e só as mulheres podem participar dos grupos.       A Wicca é às vezes comparada ao xamanismo, pelo fato do xamã estar em contato com os espíritos da natureza e com a magia. Outro fato interessante é que, assim como o xamanismo, a Wicca se utiliza do ritual (o ritual leva o indivíduo aos estados alterados de consciência) e de ervas mágicas para entrar em contato com a divindade.     Existem outras tradições dentro da Wicca, como a Hecatina, onde os bruxos se dirigem a cultuar a deusa Hécate e tentam buscar os antigos rituais à Hécate, a Seax Wicca, fundada por Raymond Buckland, que foi uma das primeiras que introduziu a figura do bruxo solitário e do auto-iniciado; a Tradição Strega, italiana; a Tradição Algard, reunião das tradições Gardneriana e Alexandrina; Tradição Galesa, que usa o panteão galês de divindades; a Tradição Teutônica ou Nórdica, que se inspira nos mitos islandeses, suecos e noruegueses; Tradição Asatrú, baseada principalmente na

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mitologia escandinava e a Tradição Georgina, que basicamente mistura todas as outras tradições, se configurando como a mais eclética.

O Renascer da Bruxaria

A partir da metade do século XIX, a Bruxaria tornou-se novamente objeto de discussão, graças ao renascer do interesse em mitologia, folclore e magia. Em 1862, Jules Michelet lançou sua obra “A Feiticeira” , na qual falou sobre a sobrevivência dos cultos pagãos nas Idades Média e Moderna e sobre o surgimento paralelo do satanismo. Apesar de importante, as principais intenções de seu livro eram políticas: pretendia provar que a Bruxaria era um culto surgido nas camadas inferiores da sociedade em protesto à repressão da classe dominante. Isso pode ser verdadeiro para o satanismo, mas não corresponde à realidade quando se trata de Bruxaria.

Mas isso não diminui a importância de seu livro: sua tese da sobrevivência dos cultos pagãos influenciou o trabalho de vários antropólogos e folcloristas do final do século XIX e do início do século XX. Um deles foi o norte-americano Charles Leland, um folclorista conhecido na época por suas pesquisas sobre cultura cigana. Em 1899, Leland lançou um livro intitulado “Aradia, ou o Evangelho das Bruxas”. Foi a primeira obra de grande importância para o renascimento da Bruxaria no século XX. Neste livro, Leland registrava as crenças reunidas por uma bruxa toscana chamada Maddalena, que ele conhecera em uma viagem pela Itália no ano de 1866. O livro fala da vecchia religione praticada naquela região: o culto à Deusa Aradia, filha de Diana com seu irmão Lúcifer. Aradia foi la prima strega (‘a primeira bruxa’), enviada à Terra por sua mãe para ensinar as artes da feitiçaria aos humanos. A idoneidade do livro é contestada atualmente por alguns historiadores da feitiçaria, que argumentam que Leland dirigiu sua pesquisa para enquadrar-se em suas concepções e nas idéias de Michelet. Outros dizem ainda que Maddalena traiu a boa fé do folclorista. O fato é que nada disto tira o mérito do livro, um clássico da Bruxaria moderna.

A década de 20 produziu dois importantes livros para a Bruxaria moderna: um deles foi “O Ramo de Ouro” (‘The Golden Bough’), gigantesca obra do antropólogo James Frazer, versando sobre rituais de fertilidade. As idéias que expôs em sua obra, juntamente com o conhecimento passado por Leland em ‘Aradia’ levaram a antropóloga Margaret Murray a lançar seu importante livro “O Culto de Bruxaria na Europa Ocidental” (‘The Witch-Cult in Western Europe’), em 1921. Nele Murray sustentava que a Bruxaria era uma antiquíssima religião organizada, presente em toda a Europa, baseada no culto a um deus chifrudo da fertilidade, que ela denominou de Dianus (ela falou mais sobre ele em seu livro ‘The God of the Witches’). De acordo com ela, essa religião havia sobrevivido à perseguição e continuava com suas práticas, de maneira oculta.

Muitas críticas já foram feitas à Murray, e a maioria se baseou na fraqueza de alguns de seus argumentos para defender a suposta ‘organização’ dessa religião. Hoje sabemos que ela não era tão organizada nem praticada em tantos lugares quanto Murray sustentava, mas indubitavelmente existia um culto pagão, praticado de formas diferentes em lugares diferentes, que sobreviveu à perseguição.

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Em 1948 Robert Graves escreveu sua excelente obra ‘A Deusa Branca’ (‘The White Goddess’), no qual concordava com Murray quanto à existência de um culto pagão disseminado pela Europa, mas apoiava a tese de que sua divindade mais importante era uma Deusa-Mãe, e não o Deus de Chifres. Três anos depois, em 1951, caíram as últimas leis anti-feitiçaria da Inglaterra. A porta estava aberta para os bruxos.

Surge então Gerald Gardner, o mais importante personagem do renascimento da Bruxaria como religião. Gardner era um folclorista inglês, amigo pessoal do grande mago Aleister Crowley. Admirador de Frazer e Murray, realizava profundas pesquisas sobre os cultos de fertilidade pré- cristãos e sua sobrevivência. No decorrer destas pesquisas, em 1939, conheceu um grupo de pessoas que mais tarde descobriu fazerem parte de um Coven secreto (como o eram todos, na época). Gardner ficou fascinado: a existência destes bruxos confirmava as teses de Margaret Murray. Estabeleceu uma relação de amizade profunda com os membros deste Coven (denominado Coven de New Forest), e acabou por receber Iniciação.

O Coven de New Forest, dirigido por uma bruxa conhecida por ‘Old Dorothy’, era representante de uma tradição que havia sobrevivido às perseguições. Há quem insinue que Gardner inventou o Coven para dar bases à seu trabalho posterior, e que Old Dorothy nem ao menos existiu. Essas declarações foram refutadas com alegadas evidências históricas por Doreen Valiente, no ensaio “Em Busca de Old Dorothy”, publicado no livro “The Witches’ Way” (‘O Caminho dos Bruxos’), do casal Janet e Stewart Farrar.

Com o passar do tempo, Gardner preocupou-se com o futuro da Tradição, pois todos os membros do Coven eram idosos, e não havia previsão de aceitar novos iniciados. Ele não aceitou esse destino, e pediu permissão para publicar algumas práticas da religião. Relutantes, os Sábios do Coven negaram. Mesmo assim, Gardner publicou, em 1948, “High Magic’s Aid”, um romance no qual descrevia, sutilmente, alguns rituais da Arte. A publicação do livro causou polêmica entre o Coven de New Forest, e Gardner quase foi banido. Mas, com a queda das leis anti-feitiçaria, os Sábios do Coven reviram sua posição e deram permissão a Gardner para afirmar que a Bruxaria estava viva, desde que não revelasse nenhum segredo. Então, em 1954, Gerald Gardner publicou o primeiro livro da Bruxaria Moderna: “Witchcraft Today”, seguido de “The Meaning of Witchcraft” (1959). Neles, Gardner afirmava estarem certas as teorias de Murray, pois ele mesmo era um bruxo iniciado. Os livros falavam apenas superficialmente sobre a Tradição que lhe havia sido confiada, concentrando-se mais no aspecto histórico da religião.

Paralelamente à publicação dos livros, Gardner saiu do Coven de New Forest e iniciou seu próprio Coven, iniciando pessoas que lhe pareciam sinceras e dedicadas. A essas pessoas, transmitia integralmente o conteúdo de um manuscrito, por ele denominado de “Livro das Sombras”. Este livro continha integralmente a Tradição do Coven de New Forest, mesclada a práticas mágicas retiradas da Clavícula de Salomão e dos escritos de Crowley. Seu conteúdo, copiado por todo iniciado, passou a ser denominado de Tradição Gardneriana, a primeira Tradição da Bruxaria Moderna.

O ‘Livro das Sombras’ Gardneriano teve três versões, conhecidas pelas letras A, B e C. O texto que é utilizado atualmente pelos Covens Gardnerianos é o C, escrito por Gardner em conjunto com uma de suas iniciadas, Doreen Valiente, responsável por grandes mudanças no texto original.

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Valiente ‘paganizou’ ao máximo os ritos e textos, retirando qualquer influência de magia judaico-cristã ou textos escritos por Crowley. Atualmente, a Gardneriana é a mais sigilosa de todas as Tradições modernas.

Gardner morreu em 1964, e o comando de seus Covens foi passado à Monique Wilson, conhecida como Lady Olwen. Na década de 60, surgiu outro personagem importante na história moderna da Arte: Alex Sanders, que recebeu o título de “Rei dos Bruxos”. Sanders era um grande interessado em bruxaria, que nunca havia conseguido ingressar em um dos Covens Gardnerianos. De algum modo que até hoje não está bem esclarecido, conseguiu tomar posse de um ‘Livro das Sombras’ Gardneriano. Uniu o conhecimento do livro (provavelmente cópia do texto A) ao que afirmava ter sido transmitido por sua avó, uma bruxa familiar. Sanders possuía um temperamento completamente antagônico ao de Gardner. Era um especialista em marketing pessoal, o que lhe deu extrema notoriedade. Milhares de pessoas foram iniciadas em seus Covens, e ele aparecia em entrevistas em TV, rádio e jornais. Era tão público que foi ameaçado de maldição por bruxos mais tradicionais, temendo que ele revelasse algum grande segredo da Arte. Mas isto nunca ocorreu: Sanders era um ‘show-man’, mas não era burro.

A Tradição Alexandriana, fundada por Alex Sanders, é muito semelhante à Gardneriana. Sua principal diferença é a maior ênfase mágico-cabalística, quase inexistente na Tradição de Gardner. Sanders morreu em 1988, mas sua Tradição é uma das mais difundidas no mundo. Existe também uma Tradição moderna denominada Alexandriana-Gardneriana (Al-Gard), que tenta conciliar os ensinamentos de ambas, com a inclusão de novos elementos, em sua maioria de origem céltica. Os maiores representantes públicos atuais da Al-Gard são Janet e Stewart Farrar, da Irlanda.

Nos EUA, o primeiro bruxo a se manifestar publicamente foi o anglo-gitano Raymond Buckland, iniciado por Gardner e Lady Olwen. Considerado pelo próprio Gardner um de seus herdeiros, Buckland migrou para os Estados Unidos logo após a morte do bruxo. Lá, ganhou notoriedade por seus livros sobre Ocultismo e por ser o fundador da Tradição Saxônica da Bruxaria, a Seax-Wica. Nos Estados Unidos, com raras exceções, a Arte ganhou um novo aspecto, inexistente na Bruxaria Européia: o aspecto político.

A Bruxaria uniu-se ao feminismo para gerar uma nova forma da Religião. Surgiram então Covens denominados “Diânicos” , formados só por bruxas. Algumas das representantes da Bruxaria feminista americana são Starwahk, Zsuzsana Budapest e Laurie Cabot. Com exceção da primeira, nenhuma delas é levada muito a sério pelos bruxos tradicionalistas europeus, que julgam-nas produtoras de distorções no verdadeiro espírito da Arte.

Paganismo e Wicca

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Surge no século XX uma religião que pretende celebrar com fervor a natureza, que vai buscar a sua inspiração aos antigos cultos pré-cristãos da "Grande Mãe" (ELIADE,1949 pag.306), às celebrações dos ciclos anuais das colheitas, ao culto do Deus da Terra que periodicamente morre e renasce e a toda uma série de formas de expressão religiosa em que se encontra uma forte ligação à natureza e aos ciclos da vida.

Os objectivos do Paganismo são os do auto-conhecimento, da harmonia com os ritmos e ciclos naturais do sol e das estações , da compreensão dos poderes da natureza e a busca de um novo equilíbrio do homem com o seu meio Não se baseia numa teologia única ou definida, não possui profetas ou mestres. Baseia-se na experiência e sensibilidade de cada um que queira e seja capaz de praticar essa harmonia. Pode assim dizer-se que o Paganismo não pretende ser uma religião de massas, mas pode ser considerada uma religião de "clero", ou seja, qualquer membro é "sacerdote" na medida em que entra em contacto directo com o divino e orienta práticas e rituais religiosos.

Embora algumas correntes Pagãs afirmem que as suas tradições remontam à era Neolítica, ou mesmo que o Paganismo é o sucessor linear daquela que terá sido a primeira religião da humanidade, essas origens são muito discutíveis. Muita da inspiração do Paganismo será proveniente de estudos efectuados sobre as religiões antigas, dos quais os mais citados são "O Ramo Dourado" de Frazer, "As Máscaras de Deus" de Joseph Campbell e "The Witch-Cult in Western Europe" de Margaret Murray.

Nalgumas tradições pagãs os seus membros consideram-se continuadores directos destas religiões antigas. Houve provavelmente uma busca de ideias, de processos, de rituais, outra visão do sagrado distinta da visão judaico-cristã que permeia as culturas ocidentais.

Foi com base nesta outra visão, bem como nalgumas tradições populares europeias, nos ensinamentos de diversas escolas ocultistas, em técnicas usadas pelos xamãs e num sem número de outras fontes que se foi construindo esta religião, chamada de Paganismo, Neo-Paganismo ou Religião Antiga. Para ilustrar este processo, podemos aqui citar Starhawk, sacerdotisa norte-americana da Wicca: "A Wicca é realmente a Velha Religião, mas neste momento está a passar por tantas mudanças e desenvolvimento que, na essência, está mais a ser recriada do que revivida" (The Spiral Dance, 1979).  Dentro do Paganismo existem diversos ramos, cada um dos quais baseado em tradições e mitos próprios. Aquele que mais se tem desenvolvido, sendo neste momento o mais representativo, é designado Wicca, «Bruxaria» ou «A Arte» Provém basicamente da tradição das Feiticeiras Anglo-Saxónicas e vai buscar muita da sua inspiração aos mitos e divindades celtas, galeses e irlandeses, recorrendo também, no entanto a fontes clássicas (greco-romanas) e diversas tradições populares.

Uma frequente utilização da magia, entendida como um conjunto de técnicas capazes de manipular positivamente certas energias naturais é a parte prática que mais distingue a Wicca de outros ramos do Paganismo, que se dedicam quase exclusivamente ao ritual celebratório.

A divulgação pública da Wicca começou no fim dos anos 40/ inicio dos anos 50 na Inglaterra , com a publicação por Gerald Gardner das obras "High Magic's Aid", "Witchcraft Today" e "The Meaning of Witchcraft", 1949, 1954 e 1959, respectivamente. O primeiro destes livros foi redigido em forma de ficção devido às leis anti-bruxaria vigentes no Reino Unido até 1951. Embora muito criticado na época

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por quebrar a longa tradição secretista da Bruxaria, com a publicação destes livros, Gardner deu início a um movimento de expansão que até hoje não parou. De Inglaterra a Wicca passou para o resto da Europa e para os E.U.A., não tanto como uma nova religião, mas mais como um incentivo à divulgação de conhecimentos até aísecretos e a uma estruturaçãg básica para uma forma de manifestação religiosa individual , já então existente. A forma como o Paganismo em geral e a Wicca em particular se têm desenvolvido é, com efeito, uma das suas características mais interessantes.

Existem hoje pessoas que se assumem como fazendo parte do movimento Neo-Pagão em toda a Europa, na América do Norte, Brasil, Austrália e Nova-Zelândia. Os ramos multiplicam-se, as - Igrejas Pagãs são legalizadas em alguns países (E.U.A., Austrália, França) e estima-se que o número de praticantes atinja as milhares, sem que nunca se tenha ouvido falar de pregadores, «missionários», líderes carismáticos ou em apelos à conversão, semelhantes aos usados por outras religiões emovimentos espirituais para a sua expansão. Podemos realmente dizer que estamos perante "uma religião sem convertidos"(Adler,M.,1979).

A wicca não nasceu no período neolítico!!!

Por vezes se lê ou ouve que a Wicca nasceu no período neolítico, ou milhões de anos atrás, foi criada pelos celtas, foi imposto aos celtas ou mesmo que era praticada pelos neanthetais. Este conglomerado de absurdos só serve para confundir, negar e enganar a origem desta religião.

Como já foi dito anteriormente a Wicca simplesmente nasceu no século XX.“A Wicca surgiu no período Neolítico, em várias regiões da Europa, onde hoje

se localiza a Irlanda, Inglaterra, País de Gales, Escócia, indo até o Sudoeste da Itália e a região da Britânia na França. Quando os Celtas invadiram a Europa, quase mil anos antes de Cristo, trouxeram suas próprias crenças, que, ao se misturarem às crenças da população local, originaram o sistema que deu nascimento à Wicca. Com a rápida expansão desse povo, ela foi levada para regiões onde se encontram Portugal, Espanha e Turquia”

Comentários como este vagueiam livremente na internet, onde inúmeras pessoas (cedentas de informação) acabam se esbarrando nestes absurdos e inserem tais informações à sua mente, acreditando e futuramente disseminando estes mesmos erros aos outros.

“Quando os celtas invadiram a Europa, quase mil anos antes de Cristo, trouxeram suas próprias crenças, que, ao se misturarem às crenças da população local, originaram o sistema que deu nascimento a Wicca.”

Novamente: A wicca é do seculo XXI. O povo celta antecede esta data e muito menos poderiam ser wiccans, com suas inúmeras características, específicas a cada região, diversificado em deuses, atitudes, celebrações...

“Embora a Wicca tenha se firmado entre os Celtas(...)” Não! Não! Não! Não se pode fazer um “samba do criolo doido” com a wicca.

Uma muralha bem grande, composta de tempo e características, separam os wiccans dos celtas.

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A Consciência Ecológica

Sendo a Wicca uma religião da natureza, não é de espantar o seu interesse pelas questões ambientais. Seja este interesse manifestado duma forma pública, através da colaboração com movimentos ecologistas e da participação em manifestações de defesa das espécies ou do meio ambiente, ou em privado tomando forma ritual ou mágico-simbólica, ele existe sempre como parte imprescindível da religião Pagã.

Os Wiccans sabem que "...quanto mais se sintonizarem com o ambiente em que vivem e trabalham (...) mais significativa se tornará a sua religião, mais efectivo será o seu trabalho psíquico, maior a sua contribuição para o bem-estar e saúde de Gaia e mais realizadas e integradas estarão elas como seres humanos."

Este envolvimento com a natureza ultrapassa muito as formas profanas em que se faz normalmente a abordagem dos problemas ecológicos, transpondo o assunto para um nível em que a preservação da natureza/Gaia não tem apenas um interesse enquanto base material da vida humana, mas adquire uma dimensão sagrada, uma importância de per si que pode justificar mesmo o sacrifício de alguns interesses e benefícios humanos.

No inquérito realizado em 1985 nos E.U.A. por Margot Adler, diversas pessoas referiram que chegaram à Wicca através do seu interesse por questões ecológicas ou através do seu envolvimento com a natureza no seu dia-a-dia. O Paganismo interpreta com maior profundidade estas questões ecológicas, uma vez que considera a natureza e qualquer dos seus elementos tão sagrados como o Deus ou a Deusa.

O respeito pela natureza é assim um valor intrínseco e fundamental no Paganismo. Esta visão distancia-se de uma visão bíblica, na qual, ordenando Deus ao Homem que domine toda a terra e todas as criaturas viventes, pode justificar assim indirectamente a depredação que esse mesmo Homem tem feito dos recursos naturais.Os Pagãos não têm, no entanto, um tipo de visão apaixonada e irreal dos problemas do ambiente. São cidadãos urbanos ou rurais, conscientes dos problemas que assolam o mundo de hoje, que têm pela vida e pela humanidade um apreço tão grande como pela restante natureza. Os indivíduos que vão parar à Wicca, através ou não do seu desejo de intervir na salvaguarda da Terra, são pessoas que considerem o Homem e todas as outras criaturas viventes bem como os espaços onde habitam como sagrados. O seu esforço é, portanto dirigido simultaneamente no sentido da salvaguarda da natureza e no melhoramento da condição humana.Na bibliografia consultada encontram-se diversas descrições e sugestões de rituais, práticas mágicas e acções ecológicas praticadas individualmente ou em grupo. Em "Dreaming the Dark" é feita uma descrição expressiva de como as diversas abordagens política, religiosa, mágica e pessoal se conjugam numa mesma acção específica, como no caso da contestação à construção duma central nuclear numa zona sísmica da Califórnia: diversos Pagãos protestaram publicamente em manifestações e, além disso, recorreram a rituais mágico-religiosos, para reforço do protesto.

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O Individualismo Religioso

A Wicca é uma religião em que não existem livros sagrados, nem profetas a justificá-los, hierarquia ou dogmas. Não faz apelo a uma fé única e exclusiva, não tem mandamentos e promove acima de tudo o respeito e a diversidade. Não é também um sincretismo religioso porque vários sincretismos são possíveis. É uma escolha pessoal para aqueles que sentem que a sua percepção do sagrado não só não se enquadra nos esquemas tradicionais como é algo demasiado individual para se sujeitar a conjuntos de regras e crenças que outros determinaram.

As poucas regras existentes na Wicca têm um carácter essencialmente funcional e são vistas não como mandamentos duma qualquer divindade ou profeta iluminado, mas como simples normas de relacionamento entre pessoas que partilham interesses comuns. São apenas alguns princípios genéricos ligados a valores ecológicos e individuais de largo consenso e à liberdade de expressão da religiosidade como é sentida e recriada por cada um.

O seu espírito está bem patente na regra básica "Faz o que quiseres desde que não faças mal", a única que todos os membros da Wicca procuram seguir. Esta diversidade exprime-se nas práticas de diferentes pessoas ou grupos.

Encontramos indivíduos que se assumem como monoteístas, politeístas, panteístas, e adeptos de tradições para quem apenas a Deusa é importante, ao lado de outras que dão maior ênfase à polaridade, aos rituais e nomes de divindades retirados de todas as religiões conhecidas (e por vezes mesmo de obras fantásticas), nas mais variadas combinações cujos membros se relacionam num clima de aceitação e harmonia.

Nas grandes reuniões, como o Pagan Spirit Gathering realizado anualmente no Winsconsin (E.U.A.) onde se juntam algumas centenas de pessoas, o relacionamento pauta-se por respeito e aceitação. Durante uma semana realizam-se dezenas de rituais e workshops das mais diversas tradições sem que haja o mais leve atrito «teológico». Pelo contrário, o que se nota é uma constante curiosidade pelas crenças e rituais alheios e o desejo de partilhar e conhecer diferentes vivências religiosas.

A Wicca tem a sua maior implantação nos países anglo-saxônicos, onde a longa tradição democrática e o Protestantismo permitem um maior individualismo. Para além de práticas individuais, os Pagãos agrupam-se em pequenos núcleos, tradicionalmente de 13 pessoas, cada qual com as suas regras e tradições; ainda se podem juntar em grandes encontros. Nestes encontros estendem-se ao campo religioso os princípios de liberdade de expressão e de associação já há muito aplicados noutros sectores da sociedade. Ao contrário de outras religiões e de outras organizações não existe aqui uma estrutura hierárquica nem uma autoridade central.

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Valores Matrifocais

As grandes religiões atuais são baseadas em figuras e princípios masculinos. Deus, sacerdotes, teólogos e a maioria dos santos, profetas e iluminados são homens ou são figurados como homens. Grandes religiões como a Cristã, Islâmica e Judaica confrontam-nos com uma longa sucessão de figuras paternas e de valores patriarcais.Esta ênfase do masculino estende-se a todos os domínios da sociedade ocidental: a inteligência analítica, o raciocínio linear, a frieza e o controle de sentimentos, a força física, a capacidade de domínio são valores mais considerados do que a intuição, a beleza, a compreensão e a capacidade de exprimir e partilhar sentimentos.

Durante séculos ou mesmo milênios, sobretudo na civilização judaico-cristã, os valores femininos foram relegados para um segundo plano, chegando mesmo a serem identificados com o mal, com o demônio. Esta situação deixou as pessoas, principalmente nos países protestantes, cujas Igrejas não incluem o culto de Maria ou dos santos, sem uma referência feminina, sem algo que defendesse, apoiasse e permitisse a expressão dum conjunto de sentimentos que dificilmente se encaixa numa religião patriarcal.

O Paganismo propõe-se recuperar a complementaridade entre homem e mulher, entre macho e fêmea, simbolizados na dupla Deus e Deusa, que não são superiores um ao outro, mas que se complementam. Dentro do Paganismo a Wicca dá à Deusa um papel preponderante, quer nas suas práticas quer nos seus mitos, criando assim o seu principal símbolo e mostrando a sua importância fundamental quer para as mulheres quer para os homens: "A importância do símbolo da Deusa para as mulheres não pode ser subestimada. A imagem da Deusa inspira-nos, mulheres, para que nos olhemos como divinas /.../Através da Deusa, /.../podemos passar para além das vidas estreitas e constrangidas e tornar-nos completas. A Deusa também é importante para os homens. A opressão dos homens no patriarcado governado por Deus-Pai é talvez menos óbvia, mas não menos trágica que a das mulheres. Os homens são encorajados a identificarem-se com um modelo que nenhum ser humano pode emular com sucesso: a serem mini-governantes de estreitos universos."

Nos países protestantes onde dificilmente há lugar para a expressão dos valores femininos e onde não existe qualquer figura feminina com carácter sagrado, esta perspectiva matrifocal da Wicca, contribui para a sua divulgação tanto junto dos homens como das mulheres.

Segundo a "Wiccan Rede" holandesa "Muita gente é atraída pelo papel da mulher na Arte. Claro que as mulheres saúdam a oportunidade de se envolverem activamente num movimento espiritual - e os homens vêem a Arte como uma oportunidade excelente para exprimirem a sua feminilidade."  Este envolvimento tem aspectos curiosos, pelo menos nos E.U.A., onde foi dado um grande impulso ao Paganismo quando, nos anos 70, grupos de feministas radicais começaram a participar activamente no movimento. As feministas, cuja actividade era essencialmente política e que até aí mantinham uma atitude de desconfiança em relação aos valores religiosos, começaram a aliar as acções com

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objectivos de transformação político-social com vista a uma maior igualdade entre os sexos a aspectos místico-simbólicos. Para isso, nada melhor que uma religião centrada numa Deusa e em que os valores e símbolos femininos são os mais importantes. Esta junção entre política, feminismo e Paganismo é exposta em "Dreaming the Dark", de Starhawk.  Existem igualmente diversos grupos e tradições de homossexuais, quer masculino quer femininos, que encontraram na Wicca um lugar onde podem exprimir livremente as suas sensibilidades, com total aceitação pelos membros da restante comunidade. Esta participação é considerada importante pelo seu grande contributo em termos de uma abertura a novas ideias e a sensibilidades sociais minoritárias. Embora a grande maioria dos Wiccans seja heterossexuais que exprimem o ênfase especial dado à polaridade entre a Deusa e o Deus, há entre os membros desta religião uma grande necessidade de encontrar novas respostas e novas perspectivas para o papel dos sexos nas nossas sociedades - relativamente a este último aspecto e num clima de aceitação e respeito pela diferença enquadram-se aqueles que têm uma atitude diferente da que foi estabelecida pela sociedade em geral.

As deusas e os deuses na wicca

Para a Wicca, existe um Princípio Criador, que não tem nome e está além de todas as definições. Desse princípio, surgiram as duas grandes polaridades, que deram origem ao Universo e a todas as formas de vida.

Princípio Feminino ou Grande Mãe

A Grande Mãe representa a Energia Universal Geradora, o Útero de Toda Criação. É associada aos mistérios da Lua, da Intuição, da Noite, da Escuridão e da Receptividade. É o inconsciente, o lado escuro da mente que deve ser desvendado. A Lua nos mostra sempre uma face nova a cada sete dias, mas nunca morre, representando os mistérios da Vida Eterna. Na Wicca, a Deusa se mostra com três faces: a Virgem, a Mãe e a Velha Sábia, sendo que esta última ficou mais relacionada à Bruxa na Imaginação popular. A Deusa Tríplice mostra os mistérios mais profundos da energia feminina, o poder da menstruação na mulher, e é também a contraparte Feminina presente em todos os homens, tão reprimida pela cultura patriarcal!

Princípio Masculino ou Deus Cornudo

Da mesma forma que toda luz nasce da escuridão, o Deus, símbolo solar da energia masculina, nasceu da Deusa, sendo seu complemento, e trazendo em si os atributos da coragem, pensamento lógico, fertilidade, saúde e alegria. Da mesma forma que o sol nasce e se põe, todos os dias, o Deus nos mostra os mistérios de Morte e do Renascimento. Na Wicca, o Deus nasce da Grande Mãe, cresce, se torna adulto, apaixona-se pela Deusa Virgem, eles fazem amor, a Deusa fica grávida, o Deus morre no inverno e renasce novamente, fechando o ciclo do renascimento, que

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coincide com os ciclos da Natureza, e mostra os ciclos da nossa própria vida. Para alguns, pode parecer meio incestuoso que o Deus seja filho e amante da Deusa, mas é preciso perceber o verdadeiro simbolismo do mito, pois do útero da Deusa todas as coisas vieram, e, para ele, tudo retornará. E, se pensarmos bem, as mulheres sempre foram mães de todos os homens, pelo seu poder de promover o renascimento espiritual do ser amado e de toda a Humanidade. Quando discutirmos a Roda do Ano, esses conceitos serão novamente explicados na parte dos rituais.

Mas o sentido profundo do simbolismo na Bruxaria só pode ser verdadeiramente entendido através da meditação e do contato intuitivo com a energia dos Deuses.

Instrumentos da wicca

Os instrumentos usados nos rituais da Wicca têm a sua origem perdida no tempo. Eles são importantes focos de concentração e ferramentas para provocar alterações de consciência, mas é preciso que se saiba exatamente o seu significado para que sejam usados corretamente. Embora eles possam dar um toque de beleza e alegria aos rituais, uma verdadeira Bruxa jamais deve ficar dependente deles, porque a verdadeira Bruxa se faz com a mente e com o coração!

O Caldeirão O Cálice O Punhal A Vassoura O Bastão ou a Varinha Mágica A Túnica O Pentagrama Outros Instrumentos - Também fazem parte da Wicca outros instrumentos

como o Sino para abrir e fechar rituais, Incensórios, Castiçais e outros objectos opcionais. Muitos Covens tocam instrumentos musicais. Enfim, o melhor é usar a imaginação para criar seus rituais.

A roda do ano

Existem oito datas principais na Wicca, conhecidas como Festivais ou Sabbats. Nos Festivais, as Bruxas fazem rituais de adoração e agradecimento aos Deuses.

Uma vez por mês, durante a Lua Cheia, nós também nos reunimos nos chamados Esbbats. Esses encontros são usados para se discutir assuntos referentes ao grupo, para a realização de feitiços e rituais extraordinários, bem como para estudos e

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realização de exercícios de relaxamento, visualização, etc. Um Coven deve ser como uma grande família, portanto, ele também pode se reunir para passear, viajara, ir ao cinema, ao futebol, simplesmente para jogar conversa fora, ou para obras de melhoria do nosso Planeta, como trabalho em favor da Ecologia, dos Animais, dos Direitos Humanos ou de pessoas carentes.

A Roda do Ano - Representada pelos oito Sabbats, tem por objectivo sincronizar a nossa energia com as Estações do Ano, ou seja, com os ciclos do Planeta terra e do Universo. Ela descreve o caminho do Sol durante o ano, representando as várias fases do Deus: seu nascimento, crescimento, união com a Deusa, e, finalmente, seu declínio e morte. Da mesma forma que o Sol nasce e se põe todos os dias, e da mesma forma que a primavera faz a Terra renascer após o Inverno, o Deus nos ensina que a Morte é apenas um ponto no ciclo infinito de nossa evolução para podermos renascer do Útero da Mãe.

Para algumas tradições da Wicca, o ano se inicia no Solstício de Inverno. Outras consideram a noite do dia 31 de Outubro como início do ano. Essa data é conhecida como Halloween ou Dia das Bruxas, mas seu nome tradicional é Samhain, que significa "Sem Sol", referindo-se ao tempo de Inverno. Essa época também é correspondente ao Ano Novo Judaico.

Yule - Solstício de Inverno (21 de Dezembro)Candlemmas ou Imbolc- Festa do Fogo ou Noite de Brigit (02 de fevereiro)Equinócio de Primavera - Ostara (21 de Março)Beltane - A Fogueira de Belenos, Festa da Primavera (01 de Maio)Litha - Solstício de Verão (21 de Junho)Lammas - Lughnnasad ou Festa da Colheita (01 de Agosto)Mabon - Equinócio de Outono (21 de Setembro)Samhain - Halloween ou Dia das Bruxas (31 de Outubro)

Obs.: Candlemas, Beltane, Lammas e Samhain são Grandes Sabbats, enquanto os Solstícios e Equinócios são Pequenos Sabbats. Obs2.: As datas entre parênteses correspondem ao calendário do hemisfério norte.

“Peladin peladin”?

Embora muitos Covens prefiram trabalhar "vestidos de céu" ( no original “Skyclad”), ou seja, completamente nus, existe a opção de se usar a Túnica, tradicionalmente negra. A cor negra isola as energias negativas, sendo ótima para ser usada quando se tem contato com grandes multidões ou pessoas negativas, pois impede que a sua energia seja "vampirizada". A cor negra não tem nenhuma ligação com o Mal, como se costuma pensar erroneamente. Ela representa o Útero Universal, do qual nasceu toda a Luz, a escuridão da Terra onde germinam as sementes. Porém, não se deve usar somente a cor negra, pois precisamos da vibração de todas as cores. Trabalhar nus ou com Túnicas deve ser uma escolha do grupo. Deve-se ter o cuidado para que a nudez não atraia pessoas mal-intencionadas. A nudez deve ser um sinal de pureza, de libertação de nossos medos e tabus. Para tanto, é preciso ter um coração puro diante dos Deuses e dos nossos semelhantes, trabalhando muito bem com nossos corpos. É impossível se trabalhar inibida pela nudez, o que tornará o ritual totalmente improdutivo. Se esta for a situação, é melhor usar uma Túnica, mas, com o

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tempo, é preciso superar esses bloqueios, pois eles são frutos de uma moral Judaico-Cristã repressiva, sendo que a nudez deve ser encarada como algo natural.

A nudez das bruxas e bruxos

Muita polêmica em torno deste assunto. Sabaths sendo celebrados por bruxos completamentes nus parece ser realmente recente. Embora, novamente, boatos e afirmações correm soltos que desde muito tempo os bruxos da Europa praticam este ato.

Por vezes se vê wiccan jurando de pé junto que é assim que os bruxos familiares e tradicionais assim faziam e por isso deve ser feito sim atualmente.

Bem... Fica fácil questionar isto, visto que é um pouco duro de se fazer um ritual em pleno solstício de inverno estando “peladin” lá no hemisfério norte. Aqui no Brasil é fácil. Mas vá encarar o frio lá de cima!

Obrigatoriedade da nudez pode-se dizer que é tão recente quanto a wicca, mais particularmente criado por Gardner, um homem que adorava o naturismo a muito tempo...

Mas nem por isso se deve criticar tal atitude. Bruxos bem resolvidos fazem o que querem com suas vidas.

 

Panorama atual do Neo-Paganismo

É difícil termos uma estimativa do número de praticantes da Wicca. Sendo uma religião baseada em pequenos grupos ou mesmo em praticantes solitários, com poucas, ou nenhumas, relações formais entre si, não existe nenhum organismo central que possua esse tipo de dados.

Além desta descentralização, ainda temos que contar com o facto de muitas pessoas não se sentirem à vontade para reconhecer publicamente a sua prática. Com efeito, a Wicca quando designada por Bruxaria ainda é confundida com as práticas das bruxas das aldeias, geralmente tidas como malévolas. Fala-se imediatamente de adoração do diabo, invocação dos mortos, estranhas rezas para efeitos suspeitos ou práticas pouco ortodoxas. Estas atitudes de rejeição tendem a mudar embora lentamente em países com uma razoável implantação da Wicca e poucas tradições de bruxaria, como é o caso dos E.U.A. Noutros países, como em Portugal, em que as condições são precisamente as opostas, estas atitudes negativas mantêm-se. Neste contexto pensamos que é mais simples uma pessoa apresentar-se como pertencente a uma das muitas religiões e «seitas» cristãs existentes, ou como agnóstico, do que como Bruxa(o).

As estatísticas existentes acerca da comunidade pagã são feitas internamente e baseiam-se principalmente em questionários difundidos em encontros e festivais, e através de organizações de intercâmbio ou de livrarias e lojas do ramo. Apenas conseguimos obter dados destas fontes respeitantes aos E.U.A. e Reino Unido.

Noutros casos recolhemos dados através de um inquérito elaborado por nós e enviado a várias organizações e indivíduos da comunidade pagã e cujos resultados

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utilizámos como estimativas ou indicadores gerais da implantação desses grupos. Em muitos países, apenas sabemos da existência do movimento devido ao aparecimento de livros e jornais pagãos, mas não nos foi possível a recolha de mais elementos. Passamos assim a um breve resumo dos dados de que dispomos sobre a implantação do Paganismo:

E.U.A. - Em 1985 estimava-se que existissem entre 50 e 100.000 pessoas que se assumiam como fazendo parte do movimento pagão. Este número correspondia a um crescimento explosivo em relação aos números calculados sete anos antes. Calcula-se que o livro "The Spiral Dance" tenha estado na origem da formação de centenas de novos grupos (Adler,M.,ed.1986).Reino Unido - O número de pessoas ligadas ao ocultismo em geral era de cerca de 250 mil em 1989, das quais 67% manifestavam um sério interesse ou um forte empenhamento no Paganismo e 68% um grau de interesse semelhante na Bruxaria.Irlanda - Não obtivemos nenhuma informação sobre o número de praticantes, embora nos pareça que esse número não deva ser desprezível. Na Irlanda é também a sede da "Fellowship of Isis", organização pagã de intercâmbio que conta com 12.000 membros em 76 países. Vive neste país um conhecido casal de Pagãos, os escritores Janet e Stewart Farrar, cujas obras servem de «manual» para um sem número de grupos em todo o mundo e que fazem frequentes declarações públicas. Estes escritores estão neste momento prestes a publicar um trabalho que inclui uma estimativa do número de Pagãos a nível mundial.Holanda - De acordo com informações recolhidas no jornal "Wiccan Rede" existem cerca de 800 Pagãos na Holanda. O movimento pagão começou de forma visível em 1979 com a publicação deste jornal, que refere um crescimento do número membros desde essa data e à medida que aumenta a quantidade de literatura disponível em holandês.França - Não nos foi fornecida qualquer informação pela "Wicca Française", a única organização pagã francesa de que tivemos conhecimento. e que afirmam ter dependências na Grã-Bretanha, U.S.A., Irlanda, Holanda, Bélgica, Suíça, Alemanha e Espanha.A Wicca Française tem algumas particularidades que pensamos ser excepção dentro da Wicca, como uma liturgia comum para todos os associados, em latim, bem como um centralismo e secretismo que parecem não se encontrar nos restantes grupos da Wicca.Outros países – Conseguimos algumas informações de Pagãos não inseridos em organizações, da Alemanha, Itália e Finlândia que são as seguintes: existência de algumas centenas de Wiccans e alguns milhares de Pagãos na Alemanha, cerca de 5000 na Itália e algumas dezenas na Finlândia. Note-se que estes números são calculados a partir de dados recolhidos particularmente. Ainda não foi possível contactar qualquer grupo em Portugal, embora saibamos já da existência de filiados portugueses em organizações internacionais de intercâmbio.

No inquérito que elaborámos pedimos informações ligadas às profissões e estratos sociais dos quais provêm estas pessoas. As informações de que dispomos apontam para uma predominância de quadros técnicos, universitários, profissionais ligados às diversas áreas de saúde, artistas, professores e indivíduos pertencentes a diversas profissões liberais entre as pessoas atraídas pelo Paganismo. Esta tendência é especialmente marcada em países com fraca implantação Pagã, tornando-se menos evidente quando o movimento se alarga. Numa carta proveniente dum casal holandês

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afirma-se que "...no princípio, o facto de se ter de saber inglês determinava o tipo de pessoas que se envolviam na Arte." Com efeito, esta pode ser uma das explicações possíveis para a nossa constatação anterior visto que a maioria da literatura disponível sobre a Wicca é escrita em inglês, e é nos países de língua não-inglesa que a tendência apontada é mais forte.

Parece que os Pagãos têm hábitos de leitura e interesse por várias manifestações artísticas independentemente do seu grau de escolaridade, já que sendo o Paganismo uma religião sem hierarquias nem mestres, é indispensável que cada indivíduo, cada grupo, faça as suas investigações, as suas recolhas de mitos e rituais que o ajudam a orientar o seu caminho. Também parecem ter interesse por manifestações artísticas, tentando exprimir através delas a sua religiosidade, construindo objectos rituais, compondo músicas, fazendo fotografia, etc. de modo a (re) criar o seu mundo religioso e a respectiva simbologia.  Do ponto de vista político-social, verificámos que os Pagãos tendem a adaptar posições pouco conservadoras. Por exemplo, nos E.U.A. nos anos 70 houve uma aproximação entre a Wicca e movimentos feministas e ambientalistas inicialmente mais virados para a acção política do que para a religião. Parece ter havido uma adesão de indivíduos pertencentes a este quadrante político-social ao Paganismo, provavelmente por considerarem ser esta outra via de oposição aos valores tradicionais e porque as procuras de novos valores sociais, de novas atitudes políticas não lhes bastavam tendo necessidade de enquadrar esses novos valores num campo mais vasto de uma nova cosmovisão. Pensamos que o carácter individualista desta nova proposta religiosa, por não obrigar a normas e sentimentos religiosos rígidos, dando liberdade de expressão a cada indivíduo, contribuiu para a sua divulgação.

"A antiga religião da Deusa oferece um poder de transformação que poderia quebrar as barreiras espirituais e políticas entre o indivíduo e a sociedade". 

Observações finais

O Neo-Paganismo surge numa época em que somos diariamente confrontados com o aparecimento duma série de novas igrejas, seitas ou movimentos religiosos. Como tal torna-se importante tentar situar o (re) surgimento público do Paganismo neste contexto e perceber quais as semelhanças e diferenças deste movimento religioso relativamente a outros.

Os movimentos pagãos estão a crescer e a aumentar o seu número de adeptos sem que, para isso abordem as pessoas, as aliciem a tornar-se membros ou façam campanhas de divulgação pública. Não há dúvida que algumas das características do Paganismo se encontram também em muitas das novas Igrejas: rituais participativos e que conduzem a estados de êxtase, uma relação com a divindade, mais próxima que nas Igrejas tradicionais, uma relação de proximidade, de irmandade, entre os seus membros, uma utilização da magia e ritual para conseguir diversos resultados práticos, como por exemplo, a cura de doenças.

Contudo existem diferenças. A primeira que se nota é uma quase completa ausência de prositelismo. Não só os Pagãos não pretendem divulgar a sua religião

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porta a porta, como de um modo geral, não dão evidências explícitas de pertencer a este movimento. Esta atitude não se deve a uma intenção de secretismo, já que a qualquer pessoa interessada pelo Paganismo são dadas uma série de informação sobre rituais, grupos, publicações e actividades diversas. Parece-nos que os pagãos optam por ter uma atitude discreta, pois pensam que a aproximação ao Paganismo deve resultar de uma escolha individual ditada por interesses e necessidades interiores de cada um. É filosofia adaptada nesta comunidade «se estás interessado, procura-nos, se te sentes bem fica onde estás». Esta discrição também se deve à falta de aceitação, ao medo e à desconfiança que a sociedade tem em relação aos Pagãos. Ainda há um estigma que evoca sentimentos ambíguos quando nos referimos a Paganismo e Bruxaria. Ainda temos reminescências dos tempos passados, em que as bruxas eram queimadas e perseguidas.

Verificamos, no entanto, que existe cada vez maior número de organizações Pagãs com o estatuto legal de Igrejas, lutando abertamente, e com bons resultados, pelo reconhecimento público de que a Wicca em particular e o Paganismo em geral são movimentos religiosos tão válidos com como qualquer outro.

Para compreender melhor esta aparente falta de empenhamento em granjear novos adeptos, devemos ter presente a natureza da Wicca, as suas estruturas internas eos interesses que movem os seus praticantes. Como temos visto, a Wicca é uma religião sem um credo único e sem textos sagrados, baseada mais na ligação à natureza e ao arquétipo da Deusa Mãe e nos sentimentos e inspirações pessoais dos seus praticantes, do que em quaisquer textos ou ensinamentos. É assim uma religião com um cunho marcadamente individualista. À excepção de algumas ocasiões festivas em que se reúne um grande número de adeptos (geralmente de diversas tradições) para confraternizar e celebrar conjuntamente determinados momentos significativos como, por exemplo, os Solstícios, os rituais são celebrados por pequenos grupos independentes ou isoladamente. A quase totalidade das organizações Pagãs existentes têm principalmente um papel de intercâmbio e apoio, não pretendendo dirigir ou controlar os seus membros, que provavelmente não aceitariam qualquer espécie de controle. As tentativas pontuais conhecidas, nesse sentido, não deram resultado.

Dentro deste panorama, qualquer ideia de «conversão» ou «missionarismo» é algo, entendido pelos Pagãos, como completamente alienígena. A Wicca é uma religião sem convertidos, uma expressão compartilhada dum sentimento do Sagrado que lhe é próprio, não se conformando com regras impostas do exterior, com regras que não sejam decorrentes da vontade individual. Em virtude desta forte componente individualista e da ausência de um conjunto de normas explícitas e vinculativas, não existe hierarquia religiosa. Cada membro deve, assim, decidir, praticar e dirigir as suas práticas e rituais.

Bibliografia

BETH, Rae. A bruxa solitária. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.HOLZER, Hans. Como se iniciar na bruxaria: Pequeno manual do bruxo e da feiticeira. Rio de Janeiro: Record, 1994.

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Agenda “Diário da bruxa”. Mystic Editora: 2001

Sites:http://welcome.to/magiahttp://www.terravista.pt/guincho/1915/wicca2http://www.knight.hpg.ig.com.br/wicca.htmhttp://www.madhava.jor.br/art_out_8.htmhttp://www.magicka.hpg.ig.com.br/wicca.htm

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