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A UTOPIA Thomas Morus Thomas Morus, grande Chanceler da Inglaterra, nasceu em Londres em 1478 e foi aí decapitado em 1535. Filho de um dos juizes do banco dos reis, foi aos quinze anos colocado como pagem do Cardeal Morton, Arcebispo de Cantuária. Em 1497 foi terminar seus estudos em Oxford. Fez durante três anos o curso de Legislação, ao mesmo tempo que se preparava para exercer a advocacia. Pouco depois da ascensão de Henrique VII, foi referendário e membro do Conselho Privado (1514). Quando Henrique VIII abjurou o catolicismo, Morus, então ligado à Igreja Romana, pediu demissão do cargo (1532), descontentando com esse gesto o Rei. No ano seguinte ofendeu mortalmente Ana Bolena, recusando-se a assistir à sua coroação e a prestar fidelidade a seus descendentes. Foi condenado à prisão perpétua e ao confisco de todos os seus bens. Pouco tempo depois foi condenado à morte por crime de alta traição e decapitado em Londres em 1535. Como todos os humanistas, Morus desprezava os feitos guerreiros e tinha a pior impressão possível dos militares. Condenava igualmente o ascetismo dos padres e comungava com o bem-viver. Seu livro é uma exaltação ao comunismo, nos moldes das antigas irmandades cristãs, manifestando sua hostilidade a qualquer tipo de aquisição de propriedade. O trabalho é obrigatório, limitado, porém, a nove horas diárias. Nessa sociedade imaginária, o roubo simplesmente não existia, tornando anacrônico todo e qualquer sistema penal ou práticas de castigo físico. Morus acreditava na bondade natural dos homens, o que possibilitava a constituição de organizações perenes e justas que banissem o despotismo e a opressão.

A utopia

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Aula Sobre Thomas Morus e sua obra - A Utopia.

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A UTOPIAThomas Morus

Thomas Morus, grande Chanceler da Inglaterra, nasceu em Londres em 1478 e foi aí decapitado em 1535. Filho de um dos juizes do banco dos reis, foi aos quinze anos colocado como pagem do Cardeal Morton, Arcebispo de Cantuária. Em 1497 foi terminar seus estudos em Oxford.

Fez durante três anos o curso de Legislação, ao mesmo tempo que se preparava para exercer a advocacia. Pouco depois da ascensão de Henrique VII, foi referendário e membro do Conselho Privado (1514).

Quando Henrique VIII abjurou o catolicismo, Morus, então ligado à Igreja Romana, pediu demissão do cargo (1532), descontentando com esse gesto o Rei. No ano seguinte ofendeu mortalmente Ana Bolena, recusando-se a assistir à sua coroação e a prestar fidelidade a seus descendentes. Foi condenado à prisão perpétua e ao confisco de todos os seus bens. Pouco tempo depois foi condenado à morte por crime de alta traição e decapitado em Londres em 1535.

Como todos os humanistas, Morus desprezava os feitos guerreiros e tinha a pior impressão possível dos militares. Condenava igualmente o ascetismo dos padres e comungava com o bem-viver.

Seu livro é uma exaltação ao comunismo, nos moldes das antigas irmandades cristãs, manifestando sua hostilidade a qualquer tipo de aquisição de propriedade.

O trabalho é obrigatório, limitado, porém, a nove horas diárias. Nessa sociedade imaginária, o roubo simplesmente não existia, tornando anacrônico todo e qualquer sistema penal ou práticas de castigo físico.

Morus acreditava na bondade natural dos homens, o que possibilitava a constituição de organizações perenes e justas que banissem o despotismo e a opressão.

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A UTOPIAThomas Morus

A "Utopia", sua obra mais divulgada, e que lhe deu renome universal. A obra representa a primeira crítica fundamentada do regime burguês e encerra uma análise profunda das particularidades inerentes ao feudalismo em decadência e ao regime Absolutista. É o espelho fiel das injustiças e misérias da sociedade feudal; é, em particular, o martirológio do povo inglês sob o reinado de Henrique VII.

Entretanto, o povo inglês não era vítima unicamente da avareza do rei; outras causas de opressão e sofrimento o atormentavam. A nobreza e o clero possuíam a maior parte do solo e das riquezas públicas; estes bens permaneciam estéreis para a grande massa de trabalhadores.

O termo utopia, tornou-se uma palavra comum do vocabulário universal para designar sociedades perfeitas ou ideais, embora impossíveis. Na obra de Morus, os estudiosos atuais vêem uma sociedade que se opunha à da Inglaterra de sua época ou uma sátira a esta mesma sociedade.

Thomas Morus, depois de ter na "Utopia" feito uma sátira a todas as instituições da época, edifica uma sociedade imaginária, ideal, sem propriedade privada, com absoluta comunidade de bens e do solo, sem antagonismos entre a cidade e o campo, sem trabalho assalariado, sem gastos supérfluos e luxos excessivos, com o Estado como órgão administrador da produção, etc.

Embora o caráter essencialmente imaginário e quimérico da "Utopia", a obra de Morus fica na história do socialismo como a primeira tentativa teórica da edificação de uma sociedade baseada na comunidade dos bens. E o seu nome ficou para sempre incorporado ao vocabulário universal como o significado do todo sonho generoso de renovação social.

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FRAGMENTOS DA OBRA

“Por isso, estou convencido de que não pode haver distribuição equitativa e justa das riquezas, nem felicidade perfeita entre os homens, a menos que a propriedade seja abolida. Enquando ela continuar, recairá sobre a grande maioria e a melhor parte dos homens o inevitável e pesado fardo da miséria e do desespero”.

“O objetivo das instituições sociais é unicamente que o tempo que se poupe, além das ocupações e misteres necessários à comunidade, seja aproveitado por todos os cidadãos para se libertarem da escravidão do corpo, cultivando livremente o cultivo. Nisto, consiste para os Utopianos, a felicidade da vida”.

“Vedes agora como se torna impraticável a ociosidade, e como não há disfarces para a preguiça ou para o vício. Não existem tabernas, nem cervejarias, nem bordéis que favoreçam o vício e a libertinagem, nem conluios secretos, nem assembléias ilegais e traidoras. Encontram-se constantemente expostos ao olhar de toda a gente”.

“Toda ilha é como uma única família. Depois de terem posto em reserva para si próprios uma provisão suficiente, o que equivale às necessidades de dois anos, na incerteza do ano seguinte, os excedentes são exportados para outros países: cereal, mel, lã, linho, madeira, material de tinturaria e animais vivos. Um sétimo dessa mercadoria é distribuído aos pobres desses países. O restante é vendido por um preço razoável”.

“A natureza não deu ao ouro e a prata virtude, cuja falta tenha inconvenientes para os homens, e foi a loucura humana que lhes deu grande valor, pela sua raridade. A natureza, pelo contrário, como mãe previdente e amante, oferece a descobertos as coisas melhores e mais necessárias: o ar, a água e o próprio solo. E escondeu no seu seio os produtos vãos e inúteis.