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Março/2010 Revista Expansão | 41 E m tempos de globalização, ainda vemos discussões acirradas sobre padrões de comportamento. Modos de vida aceitos pelo ocidente são rejeitados pelo oriente e vice-versa, ao invés de serem entendidos co- mo variantes de um mundo culturalmente heterogêneo. No caso do tratamento da mulher não poderia ser diferente. Em países do oriente, influências religiosas ajudam a delinear traços de uma identidade feminina marca- da pela submissão ao masculino. À mulher é destinada uma posição hierarquica- mente inferior ao homem, que atua sempre como dominante na sociedade. Mas, de que forma os ocidentais enxergam estas diferenças em países com legislação e religião mais restritos? O que justifica estes padrões comportamentais e valores que regem estas mulheres e as fazem diferentes? Conversamos com jo- vens brasileiros que já viveram em países orientais conhecidos por sua forte influ- ência religiosa e com jovens nativos desses locais para conhecer um pouco das diferenças sobre a posição da mulher na sociedade. Direitos cobertos por um véu Jovens contam como as mulheres são tratadas e seu papel na sociedade em países do Oriente Divulgação

Mulheres no Oriente

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Page 1: Mulheres no Oriente

Março/2010 Revista Expansão | 41

Em tempos de globalização, ainda vemos discussões acirradas sobre padrões de comportamento. Modos de vida aceitos pelo ocidente são rejeitados pelo oriente e vice-versa, ao invés de serem entendidos co-mo variantes de um mundo culturalmente heterogêneo. No caso do tratamento da mulher não poderia ser diferente. Em países do oriente,

influências religiosas ajudam a delinear traços de uma identidade feminina marca-da pela submissão ao masculino. À mulher é destinada uma posição hierarquica-mente inferior ao homem, que atua sempre como dominante na sociedade.

Mas, de que forma os ocidentais enxergam estas diferenças em países com legislação e religião mais restritos? O que justifica estes padrões comportamentais e valores que regem estas mulheres e as fazem diferentes? Conversamos com jo-vens brasileiros que já viveram em países orientais conhecidos por sua forte influ-ência religiosa e com jovens nativos desses locais para conhecer um pouco das diferenças sobre a posição da mulher na sociedade.

Direitos cobertos por um véu

Jovens contam como as mulheres são tratadas e seu papel na sociedade em países do Oriente

Divulgação

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A primeira imagem que nos vem à cabeça quando pen-samos em países como Irã ou Afeganistão é provavelmente a de mulheres cobertas com lenços, em roupas conhecidas como burca (veste que cobre todo o corpo) ou hijab (lenço que escon-de apenas o cabelo das mulheres e deixa seu rosto à mostra). O uso dessas vestimentas causa polêmica ao redor do mundo, pois muitos ocidentais pensam que elas simbolizam a desigual-dade sexual e o aprisionamento das mulheres, enquanto os mu-çulmanos –religião dominante em muitos países orientais – afir-mam que os trajes preservam a dignidade da mulher e não as degradam de forma alguma.

A estudante de arquite-tura iraniana Mina Zarfsaz rela-ta que desde, a revolução que ocorreu no Irã, país localizado no Oriente Médio, em 1979, não existe mais separação entre go-verno e religão e que as leis fa-voráveis às mulheres que exis-tiam anteriormente foram alte-radas. Alguns meses depois da revolução foi anunciado que to-das as mulheres deveriam tra-jar o hijab em público, enquan-

to os homens estão livres para vestir o que quiserem. Mina re-side atualmente na Europa e não veste o véu por opção própria quando está longe do Irã.

[ EspEcial mulhEr ]

Mina Zarfsaz

A relações públicas Ju-liana Marques, do Paraná, há quatro meses no Egito, observa que o país é bastante religioso, mas acredita que muitos sigam os hábitos somente por obriga-ção. “Teoricamente as mulheres usam burca para seguir a reli-gião e demonstrar respeito, co-mo um modo diferente de en-tenderem que devem ser sub-missas.” Mas um amigo egípcio lhe falou que muitas mulheres usam os trajes, mas não os respeitam. “Eles são uma fachada para o que elas realmente fazem ou gostariam de fazer. Por isso aqui é quase como qualquer outro lugar do mundo, só que algu-mas coisas estão escondidas por baixo dos panos”, explica.

O paranaense Rafha-el Bueno Dalto morou por um ano na Malásia, país no sudes-te asiático. Ele conta que o lo-cal é um grande pólo turísti-co, mas que nas praias não se usa trajes de banho: todos en-tram no mar com roupas. Lá, ao contrário de outros países mu-çulmanos, as vestimentas usa-das pelas mulheres são colori-das. “Elas usam véu na cabeça e uma túnica que cobre o cor-

po todo, mas é bonito porque demonstra que para respeitar a religião você pode ser vestir de maneira alegre, ao invés de se cobrir totalmente de preto”, lembra.

Juliana Marques

Rafhael Bueno Dalto

Entre usar e respeitar

Cobrir os cabelos e esconder o corpo são atitudes vistascomo submissão e repressão à liberdade feminina

Fotos: Divulgação

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Renan Caixeiro Almeida, também jorna-lista de Minas Gerais, está há dois meses no Egi-to, trabalhando em uma empresa de consultoria. Ele já percebeu que os homens egípcios são tra-dicionalistas e respeitosos com as muçulmanas, mas não tanto quando se trata de estrangeiras. “Eles não têm vergonha de elogiar, dizer que são bonitas e flertar.” Mas, avisa que não é recomen-dado às mulheres usarem camisetas e roupas que exponham partes do corpo como ombros ou pernas, mesmo no verão. “O que ouvi aqui é que isso não é bem visto e as mulheres podem até ser insultadas”, explica.

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COMPLETA MENTE SAUDÁVEL

Pouco frágeisA jornalista Bárbara Teles, de Minas Gerais,

mora na Líbia, país no norte da África, desde ja-neiro de 2009. Ela não se sente à vontade para andar a pé sozinha pelas ruas. “Não que algo físi-co possa me acontecer, mas me sinto incomoda-da com a forma como as pessoas me olham por eu estar de calça jeans e cabelos soltos.” Bárbara poderia passar despercebida se cobrisse o cabe-lo, mas prefere não adotar essa opção. Ela expli-ca que as líbias têm uma imagem da mulher oci-dental similar àquela vendida em filmes e revis-tas, de certa forma vulgar. “Mas tenho visto que

as mulheres libanesas pouco têm de frágil e que de certo modo nascem saben-do que precisarão ser fortes, independentemente do horizonte para o qual têm permissão para olhar.”

Estrangeiras

Bárbara Teles

Renan Caixeiro Almeida

O uso da burca divide opiniões, enquanto alguns acreditam que ela simboliza a repres-são sexual, outros a vêem como ferramenta de preservação da dignidade da mulher

Fotos: Divulgação

No dia 8 de março, também Dia Internacional da Mulher,

completamos três anos de atendimento à comunidade e à essência feminina

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A iraniana Mina explica que a separação entre os sexos em seu país foi instituída de tal forma que em diversos locais, desde salas de aula até ônibus, são segregados por gêneros. Na Líbia, as mulheres não socializam com os homens, nem em ambiente particular. “Aqui, as casas são construídas de modo que há uma sala para eles e outra para elas”, revela Bárbara. Ela conta que quando estão na rua, olham para o chão para evitar contato visual com os homens e andam sempre como se esti-vessem com pressa.

A estudante de Design de Moda Gisele Pelisoli saiu de Porto Alegre no início de 2009 para ensinar inglês para crian-ças na Índia. Ela já passou por dificuldades por ser mulher, es-pecialmente devido ao precon-ceito. “As mulheres devem estar cedo em casa, entre oito e nove horas da noite. Não é bom que uma mulher seja vista à noite sem a família.” Gisele explica que existem casas noturnas e festas, mas que em geral somente mulheres casadas frequen-tam, sempre com seus maridos.

[ EspEcial mulhEr ]

A segregação

Gisele Pelisoli

TrabalhoNo Irã, de acordo com Mina, as mulheres podem ser elei-

tas para cargos do governo e quase 70% dos estudantes de ci-ência e engenharia são mulheres, mas elas, mesmo com alto grau de educação, não têm os mesmos direitos que os homens. O testemunho de uma mulher no tribunal tem a metade do va-lor do de um homem e muitas leis não permitem alguns direi-tos básicos às mulheres. Elas não podem lutar contra essas leis porque ações assim seriam consideradas contrárias à base de um governo religioso.

Na Líbia, Bárbara conta que existe inserção de mulheres no mercado de trabalho, mas que não é muito comum, visto que cabe a elas cuidar da casa e da família. Quando solteiras, fica a critério do pai se podem ter uma profissão, e quando casadas, é decisão do marido se vão ter alguma atividade além da domésti-ca. Bárbara trabalha em uma grande empresa de construção civil na Líbia e afirma que em seu ambiente de trabalho existe uma hierarquia: um homem dificilmente aceitaria ser gerenciado por uma mulher, principalmente se for uma mulher local.

Aqui, as casas são construídas de modo que

há uma sala para eles e outra para elas.

Em alguns países do Oriente, ainda que tenham alto grau de instrução, elas não têm os mesmos direitos que os homens

No Irã, as mulheres até podem trabalhar mas não é muito comum, visto que a prioridade deve ser cuidar da casa e da família

Fotos: Divulgação

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RelacionamentoNa Índia, a portoalegrense Gisele aprendeu que

as meninas são criadas para casar, e que a idade máxi-ma para o matrimônio é 25 anos – se a mulher não tem alguém em vista, a família encontra um homem e faz um casamento arranjado, ainda muito comum naquele pa-ís. Quando se casam, as mulheres se mudam para a ca-sa da família do noivo, e a nova família pode fazer o que quiser com a vida da menina, desde mudar o jeito de ela se vestir, o cabelo ou mandar parar de trabalhar. “Aqui as mulheres são submissas. Muitas vezes quando converso com um homem e discordo de alguma coisa, percebo o choque deles ao serem contrariados”, observa.

Para os curiosos sobre a poligamia, Bárbara conta que na Líbia o homem pode ter até quatro esposas, des-de que ele trate todas de modo igualitário e justo e que a primeira esposa concorde com o fato de ele ter outras. Mas poucos são os homens que têm duas mulheres, o país ainda está blindado contra a crise. “As gerações que praticavam poligamia quase estagnaram na década de 60 e 70 devido à mudança econômica, então ter mais de uma mulher ficou fora de moda.”

O iraniano Sina Farahmand conta que as mulheres, tradicional-mente, são símbolos de excelentes donas de ca-sa em seu país. Mas seu comportamento é dife-rente de acordo com a idade e grupo social, e existe um grande movi-mento do tradicionalis-mo para o modernismo. “Novas gerações bus-cam ser mais independentes, querem continuar seus es-tudos, trabalhar. As meninas têm a mente mais aberta, algumas delas até têm namorados, o que antes era con-siderado muito estranho”, conta.

Sina Farahmand

A maternidade é algo para o qual as mulheres são quase que exclusivamente preparadas desde muito cedo

Fotos: Divulgação

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[ EspEcial mulhEr ]

As mulheres lutaram durante o século passado para conquistar direitos e independência, e pe-lo caminho deixaram um mundo transformado. Hoje, com mais

poder do que nunca em suas mãos, abrem portas da sociedade para entrar também em empregos majoritariamente masculinos. Para provar que elas conseguem – e sem perder a graça e a elegância – a rainha de Feliz, Fernan-da Winter, 20 anos, assume parte dos negócios da família e a direção de um caminhão.

Fernanda vai a Porto Alegre diariamente na cabine de um caminhão, dirigindo o veículo que leva os hortifrutigranjeiros da família para a Ceasa. Simpática e muito falante, ela conta que dirigir é o que mais ama fazer na vida. “Com dez anos já dirigia um carro no terreno da mi-nha casa e com 15 já conduzia um caminhão”.

Há um ano, desde que tem a carteira de motorista, sua rotina envolve as idas para a capital pela manhã e retorno à noite. “Meu pai volta comigo até a Unisinos, onde eu fico para minhas aulas de Administração de Em-presas e ele segue dirigindo nosso caminhão para casa”. Mas quando estão todos juntos, quem tem a preferência para dirigir? “Ah, eu, é claro”, revela, com humor.

A soberana de Feliz demonstra feminilidade e determinação no comando do caminhão da família

A rainha na direçãoPoliana Lopes/Divulgação

SoberanaEm maio de 2009, um

dos sonhos de Fernanda tornou-se realidade e sua rotina mudou completamente: foi eleita rainha de Feliz. Ela é soberana até 2011, e durante esse período tem mui-to trabalho para fazer, receben-do convidados e divulgando fes-tas do município – neste ano, se-rão o Festival Nacional do Cho-pp, em abril, e a Fenamor, em novembro.

A jovem mantém a hu-mildade e simplicidade, mesmo com a importante posição que assumiu. “Sendo rainha ou não, o que vale é a pessoa que tu és”, reflete. E desse modo ela segue com suas ambições, com os sonhos de quem quer ter seu pró-prio negócio e com o trabalho e estudos – e ainda sobra tempo para divulgar a cidade e cuidar da vaidade, com a delicadeza de uma rainha e a força e firmeza na direção de um caminhão.

Digo Glaeser/Divulgação

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[ EspEcial mulhEr ]

Com canções que falam so-bre relacionamentos, uni-verso feminino, sonhos e conquistas, a portoale-grense Vivi Fields, 35 anos,

apresenta sua voz doce e marcante e mostra por que as mulheres entraram no mundo da música para ficar. Fã da cantora canadense Alanis Morissete, Vi-vi conta que ela é sua maior inspiração para cantar. “Todas as músicas da Alanis são composições próprias e suas obras são como uma autobiografia. Ela mesma faz a produção dos seus CDs e do palco de seus shows.”

Vivi lembra que quando começou a tocar em bares, restaurantes e casas noturnas, há mais de dez anos, não ha-via muitas mulheres na música, mas afir-ma que hoje essa realidade mudou, em-bora a maioria dos músicos ativos ainda sejam homens. “Atualmente as mulheres interpretam suas próprias canções, não são mais somente intérpretes de outros compositores.”

Após muitos anos fazendo covers de outros músicos – especialmente mu-lheres, como Madonna, Shakira, Janis Joplin, Joss Stone, Marisa Monte, Rita Lee e, claro, sua favorita Alanis Morissete – Vivi Fields está pronta para gravar seu álbum com composições próprias, em in-glês e português, que deve ser lançado ainda este ano. “Pode-se esperar do meu CD músicas pop rock com pitadas de folk e estilo soft rock. Minhas composições são um retrato do que sempre ouvi.” Su-as canções são suaves e leves como sua voz. “É muito importante a interpretação de uma música composta pelo próprio artista, assim ele revela também um pou-co do seu eu, na sua própria poesia”, reflete.

ApresentaçõesVivi é filha de um músico tradicionalista e cresceu em um am-

biente musical. Ela toca violão e gaita de boca e iniciou sua carreira profissional como cantora em 1995, aos 21 anos, apesar de já cantar em uma paróquia em Porto Alegre desde os 13 anos. Ela se formou em Letras na Unisinos e trabalhava no hospital da Ulbra, mas há quatro anos decidiu largar tudo para dedicar-se somente à música.

Atualmente, trabalha em vários projetos musicais parale-los, entre eles o Vivi Fields e Banda, a banda Yellowstone, perfor-mances em dupla e solo. Todas as quartas-feiras e sábados toca no café Santo de Casa, na Casa de Cultura Mário Quintana, e às quintas-feiras no Entreato Pub, ambos em Porto Alegre. Outros locais que contam duas vezes por mês com sua presença são o Riversides Shikki Café, o Barbazul, o bar Opinião, o Cult Pub e o Abbey Road, todos também na capital.

Suas apresentações costumam ter grande receptividade e identificação com o público. “Como toco em lugares fixos algu-mas pessoas vão especificamente para assistir ao show. Recebo um enorme carinho dos que admiram o meu trabalho, isso é o ali-mento do artista”, conclui.

A portoalegrense Vivi Fields prova que as mulheres marcam presença na música

A DOCE voz feminina

Igor Sperotto/Divulgação

A cantora se prepara para lançar CD com composições próprias

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[ Estética & bElEza ]

Neste visual, cria-se uma atmosfera

angelical, como nos personagens de filmes

de contos de fadas. Uma criatura pura e

imaculada, apesar da aparência frágil

tem um forte poder de sedução. Os cílios

de plumas brancas lembram as asas

dos anjos. Modelo: Shelega Bock (Joy

Model Management)

Pixel Imagem

Digital/Divulgação