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O consumo de músicas via YouTube Tiago Alves Nogueira de Souza Introdução: O YouTube e o consumo de músicas Quando o YouTube surgiu em 2005, ninguém poderia prever a grandeza que ele atingiria e a pluralidade de possibilidades de uso dessa rede social de compartilhamento de vídeos. O Youtube utiliza o formato Adobe Flash para disponibilizar o conteúdo que pode ser enviado por qualquer usuário devidamente cadastrado. Embora atualmente seu slogan seja “Broadcast yourself” (algo como “Transmita- se”), nos primeiros momentos de sua existência ele trazia os seguintes dizeres: “your digital video repository” (seu repositório de vídeos digitais). Pode-se dizer que ele é, na verdade, um pouco dos dois. As pessoas tanto usam o youtube para se transmitir como para armazenar seus vídeos favoritos. Nesse meio, além de vídeos de família, gravações caseiras e vídeos amadores, também encontramos covers de bandas e artistas desconhecidos, bootlegs e gravações de shows, além de clips musicais – legais e ilegais. O potencial do Youtube para armazenar a cultura da era contemporânea é muito grande. Velhos vídeos que jamais seriam vistos novamente, ganham vida no Youtube. Jean Burgess e Joshua Green comentam: (...) se o YouTube persistir tempo suficiente, o resultado será não apenas um

O consumo de músicas via youtube

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Quando o YouTube surgiu em 2005, ninguém poderia prever a grandeza que ele atingiria e a pluralidade de possibilidades de uso dessa rede social de compartilhamento de vídeos. O Youtube utiliza o formato Adobe Flash para disponibilizar o conteúdo que pode ser enviado por qualquer usuário devidamente cadastrado. Embora atualmente seu slogan seja “Broadcast yourself” (algo como “Transmita-se”), nos primeiros momentos de sua existência ele trazia os seguintes dizeres: “your digital video repository” (seu repositório de vídeos digitais). Pode-se dizer que ele é, na verdade, um pouco dos dois.

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O consumo de músicas via YouTubeTiago Alves Nogueira de Souza

Introdução: O YouTube e o consumo de músicas

Quando o YouTube surgiu em 2005, ninguém poderia prever a grandeza que ele

atingiria e a pluralidade de possibilidades de uso dessa rede social de compartilhamento

de vídeos. O Youtube utiliza o formato Adobe Flash para disponibilizar o conteúdo que

pode ser enviado por qualquer usuário devidamente cadastrado. Embora atualmente seu

slogan seja “Broadcast yourself” (algo como “Transmita-se”), nos primeiros momentos

de sua existência ele trazia os seguintes dizeres: “your digital video repository” (seu

repositório de vídeos digitais). Pode-se dizer que ele é, na verdade, um pouco dos dois.

As pessoas tanto usam o youtube para se transmitir como para armazenar seus

vídeos favoritos. Nesse meio, além de vídeos de família, gravações caseiras e vídeos

amadores, também encontramos covers de bandas e artistas desconhecidos, bootlegs e

gravações de shows, além de clips musicais – legais e ilegais. O potencial do Youtube

para armazenar a cultura da era contemporânea é muito grande. Velhos vídeos que

jamais seriam vistos novamente, ganham vida no Youtube. Jean Burgess e Joshua Green

comentam:

(...) se o YouTube persistir tempo suficiente, o resultado será não

apenas um repositório de conteúdo de vídeos antigos, mas algo

até mais significativo: um registro de conteúdo popular

contemporâneo global (incluindo a cultura venacular e cotidiana)

na forma de vídeo, produzida e avaliada de acordo com a lógica

do valor cultural que emerge das escolhas coletivas da

compartilhada comunidade de usuários do YouTube. (Burgess e

Green, 2009: pg. 120)

O homem está colocando cada vez mais sua cultura no cibersepaço. Um

aplicativo recentemente produzido pela Bouygues criava um livro a partir das

atualizações que o usuário fazia em seu Facebook. As expressões dos usuários quando

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se colocaram sub a perspectiva de ver toda a sua vida digital num livro foram

surpreendentes. As pessoas nunca foram tão virtuais como atualmente.

Outro ponto fundamental que norteia este artigo é o consumo musical na

contemporaneidade. Mp3 players, computadores portáteis, smartphones, dentre outros

aparelhos modificaram a forma como consumimos música. As pessoas nunca

consumiram tanta música como atualmente.

Acredito que exista um misto desses elementos no site YouTube. Apesar de

existirem várias redes sociais de compartilhamento de músicas, 32% das pessoas que

acessam ao YouTube nos Estados Unidos o utilizam para ver vídeos relacionados à

música, segundo o Pew Institute of research. Recentemente tivemos também o caso dos

cantores pop Lady Gaga e Justin Bieber que atingiram marcas histórias no YouTube:

seus canais1 no foram assistidos mais de 1 bilhão de vezes. Mesmo sendo um site cujo

principal motor seja o compatilhamento de vídeos, muitas pessoas acessam o YouTube

com o intuito único de escutar música, como comprovaremos mais adiante em nossa

pesquisa.

Portanto, o principal objetivo deste artigo é analisar como os usuários do

YouTube consomem música através deste site, uma. Para tanto, foi aplicado um

questionário, entre os dias 18 e 24 de Novembro de 2010, obtendo 209 respostas acerca

de assuntos relacionados à esse consumo. Foram escutadas pessoas de várias faixas

etárias, sendo que a predominante foi a dos 18 aos 24 anos, compondo 64,11% da

amostra. A pesquisa também dividiu os usuários entre gênero, sendo que 75,60% deles

eram do sexo masculino. Apesar dessas divisões, os resultados mostraram-se

praticamente os mesmos, indepentemente da idade ou do sexo do usuário.

O cenário musical do Youtube

Em 8 de dezembro de 2009, Sony Music Entertainment, Universal Music Group , Abu

Dhabi Media Company e EMI se uniram para formar a joint venture2 VEVO de vídeos

musicais e entretenimento. O armazenamento dos vídeos é provido pelo YouTube com

o Google, que então divide sua receita de anúncios com a VEVO. Uma das razões para 1 http://www.youtube.com/user/LadyGagaVEVO e http://www.youtube.com/user/JustinBieberVEVO, respectivamente2 Joint venture, também conhecido como empreendimento conjunto, é uma associação de empresas para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica.

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o surgimento da VEVO foi justamente o alto nível de competitividade entre os video-

clips musicais dentro do YouTube. E é da VEVO que surgiram alguns dos maiores

fenômenos da música pop no youtube: Lady Gaga e Justin Bieber cujos video-clips,

juntos, já geraram mais de 2 bilhões de views.

Por outro lado, o YouTube vem ajudando milhares de músicos desconhecidos

em todo o mundo. Como o próprio slogan diz, o YouTube é um lugar para transmitir-se.

Nesse sentido, bandas independentes aproveitam do grande número de acessos do site

para divulgar suas canções e performances.

Bandas e cantores antigos também têm seu espaço no YouTube. Muitos clips

musicais que já não apareciam mais na televisão reviveram graças ao trabalho dos fãs.

Mesmo que indiretamente, o YouTube conecta à esses vídeo-clips, uma vez que os

camelôs brasileiros encontraram uma demanada reprimida ao baixar esses clips e vender

os DVDs ilegalmente. “É muito mais provável esgotar nossa própria capacidade de

nostalgia do que exaurir as possibilidades de material antigo disponível atualmente no

YouTube” (Burgess e Green, 2009: pg. 199)

Adriana Amaral (2010) comenta também em seu ensaio sobre as práticas de

fansourcing sobre esse momento em que os fãs estão criando uma verdadeira curadoria

digital, protegendo através da internet o conteúdo excluído das mídias tradicionais de

massa que poderia se perder com o tempo. Apesar do uso intensivo da internet, a autora

defende que essas práticas de fansourcing “(...) de forma alguma são inventadas pelo

on-line – mas amplificam seu poder de divulgação pelo caráter de viralidade ou o que

Boyd (2009) caracteriza como ‘replicabilidade’” (Amaral, 2010: pg. 146).

Para a autora, fansourcing é “um tipo de prática de coleta e distribuição de

informações, e apropriação criativa de material de determinado artista, produzida por

um grupo de fãs específico” (Amaral, 2010: pg. 158). As práticas de criação de um

canal no YouTube de determinada banda, da criação de clips com imagens de cantores e

capas de álbuns, bem como a postagem de covers em homenagem aos artistas podem

ser consideradas como fansourcing. E disto o YouTube está repleto.

Em fato, o YouTube possui mais conteúdo criado por fãs do que por gravadoras

ou músicos, uma vez que ainda existe um grande dilema em relação aos direitos

autorais. Embora empreendimentos de grandes empresas como o VEVO estejam

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modificando essa estrutura, até a segunda metade desta década o pensamento da maioria

das empresas e produtores musicais ainda refletia o medo e moralismo empregados por

Andre Keen (2009). Em seu livro, A cultura do amador, Keen defende que a música

morreu. Os argumentos usados pelo autor são os de que a internet 1) fechou grandes

lojas varejistas de música; 2) acabou com o mercado de CDs e; 3) não representa o

mercado de nichos, entre outros argurmentos romanticamente expostos.

O preconceito que a internet sofreu (e ainda sofre em alguns casos) sobre o

futuro da música, foi o mesmo de quando os CDs chegaram às lojas. Críticos afirmavam

que eles iriam destruir a qualidade da música. Semelhate também foi o caso dos MP3s

(embora este tenha surgido simultâneamente com a internet). Mas Jonathan Sterne nos

ajuda à refletir sobre o porquê dos MP3s serem o sucesso de hoje em dia: “MP3s são

desenvolvidos para serem escutados via fones de ouvido, na rua, em um ruidoso

dormitório, em um escritório com ventilador de computador barulhento, enquanto pano

de fundo para outras atividades e através de caixas de som low-fi ou mid-fi para

computador” (Sterne, 2010: pg. 80).

A verdade é que o consumidor musical evolui. Não é pretensão deste artigo

examinar se essa mudança foi negativa ou positiva, mas alguns fatos devem ser levados

em consideração: 1) nunca se consumiu tanta música no mundo como atualmente; 2)

mais pessoas têm acesso à mais música a um preço menor e; 3) Os que são alfabetizados

digitalmente encontram mais nichos musicais e com mais facilidade.

Outro fato que aumenta a potencialidade do YouTube como distribuidor musical

é aquilo que Jason Stanyek e Benjamin Piekut chamam de “mortitude”: “No capitalismo

tardio, os mortos são altamente produtivos. Claro, todo capital é trabalho morto, mas os

mortos também geram capital em colaboração com os vivos” (Stanyek e Piekut, 2010:

pg. 11). No YouTube, cantores falecidos fazem sucesso: Michael Jackson é o mais

cotado para ser o 3º artista a atingir 1 bilhão de views em seu canal no site.

O cenário musical do YouTube é, portanto, formado por grandes e pequenas

empresas, artistas indepententes e pop-stars, compositores vivos e mortos, além de um

grande conjunto de covers, bootlegs, gravações amadoras, talkshows e pedaços de

reportágens sobre bandas e músicos. Apesar de parecer confuso e complexo, é a forma

favorita para muitos usuários de escutar música na internet.

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O YouTube como repositório online de músicas e oportunidadesPorque as pessoas consomem músicas no ambiente destinado à vídeos? Adriana Amaral

nos dá a pista novamente: “No mundo contemporâneo ou pós-moderno, a ‘Imagem’ é a

musa sedutora. Tende-se a desconsiderar os sons, os ruídos e a própria música como

seus elementos. A imagem e os outros componentes do sentido da visão definem a

marca de nossa época” (Amaral, 2003: p. 1)

Quando elaborei o questionário sobre o consumo de músicas via YouTube,

coloquei a seguinte questão: “Quando você escuta/vê algum clip de música no Youtube,

você se importa com a qualidade da imagem?”. Esperei que o “sim” ganhasse do “não”

nesta pergunta, mas o resultado foi além das minhas expectativas, o que, de fato, me

ajudou a elucidar algumas questões: 82,78% dos pesquisados respoderam que a

qualidade da imagem era um fator importante ao assistir um video-clip musical no

YouTube. As respostas fazem muito sentido quando você observa um clip da Lady

Gaga em seu canal: o apelo visual da cantora em suas produções cinematográficas

chamam a atenção do usuário, impedindo o zapping entre programas e outras janelas em

seu computador. A qualidade da imagem é um fator fundamental na experiência estética

do fruidor. Amaral complementa:

A tendência ao endeusamento e, por conseqüência, uma

fetichização da imagem faz com que nos concentremos apenas na

veloz sucessão de frames que perpassam o controle remoto em

um zapping contínuo do mundo. Assim, recortamos e colamos

não só imagens propriamente ditas, como sons, ruídos e músicas,

tramando uma verdadeira sinfonia visual do presente (Amaral,

2003: pg. 2)

Isso ajuda a entender também o porquê dos vídeos relacionados à música mais

ouvidos serem os mais próximos dos “oficiais”. Ao ver os resultados da pergunta “Qual

tipo de vídeo relacionado a música você mais assiste?” depois de observar os resultados

da pergunta anterior, não tive surpresas: 86,12% dos pesquisados assistem à Clips

oficiais da banda/cantor; 61,24% assistem à Shows (ou trechos de shows). É notável que

a qualidade desses vídeos com relação às outras fontes é superior. Os demais tipos

assistidos foram vídeos de Música com imagens coletadas por fãs com 32,54%;

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Entrevistas com 29,67%; Bootlegs (gravações não oficiais de shows/apresentações) com

23,92%; Programas musicais com 18,18% e; covers com 18,18% também. É importante

observar que apesar da alta busca por materiais oficiais (video-clips e shows), poucos

deles são realmente liberados por músicos e gravadoras. Apesar de colocarmos nessa

ordem, sabe-se que os maiores entraves surgem por conta das gravadoras.

Entretanto, ao perguntarmos “Alguma vez você procurou alguma música no

Youtube no intento de apenas escutá-la, mas não visualizar o vídeo?” tivemos 176

respostas positivas, totalizando 84,21% dos pesquisados. Ora, mas os usuários não se

importam tanto com a qualidade da imagem? A verdade é que o YouTube é tanto um

repositório de vídeos, como também um player de músicas online. Os usuários visitam o

site em dois momentos distintos: para escutar músicas e para ver vídeos musicais. Outro

dado interessante é que 35,89% dos pesquisados afirmaram que já criaram pelo menos

uma lista de execução no Youtube com o objetivo de reproduzir uma playlist de

músicas, sendo que desse percentual, 11% já criaram mais de 5 listras de reprodução

com esse objetivo, o que caracteriza uma apropriação por parte dos usuários muito forte

no sentido de construção de novas práticas no YouTube. Ao associar às listas de

reprodução de vídeos com playlists musicais, o YouTube perde um pouco da sua função

de “transmita-se” e vira um tipo de “escuta-me”. Isto pode ser evidenciado nos 32,54%

dos usuários que assistem vídeos de músicas com imagens de coletadas pelo autor do

vídeo. E em alguns casos, o vídeo é composto de apenas uma única imagem congelada

enquanto a música toca.

Outro fator interessante de ser analisado é como as pessoas chegam aos vídeos

do YouTube. Como atualmente ele já é um site consagrado, muitas pessoas acessam

diretamente seu link na web, o que as leva, então, a pesquisar sobre determinado tema

na caixa de busca do site. Perguntei aos pesquisados “Ao fazer essa busca (referente à

questão anterior) você acabou se deparando com algum material diferente do que

buscava e acabou gostando?” 77,34% responderam que “sim”. A multitarefa e a difusão

da atenção são características próprias do ciberespaço. Por outro lado, temos que o

próprio buscador do Google não é totalmente eficaz, o que pode levar as pessoas a

encontrarem materiais diferentes do que estavam buscando, porém semelhantes, o que

as ajuda a gostarem desse material distinto.

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Exemplifiquemos: Uma rápida busca no YouTube ao termo “Heroes David

Bowie” (uma música e o nome do cantor) feita no dia 1º de dezembro de 2010 resultará

em 4.600 resultados. Examinemos apenas a primeira página, composta de 20 resultados.

Apenas 2 desses resultados não têm vínculo nenhum com o objetivo da busca (são

vídeos que têm palavras-chave semelhantes, mas com significados completamente

diferentes. Dos 18 vídeos restantes, apenas 2 foram carregados por representantes

oficiais da banda, sendo que apenas um era partner do YouTube. Todos os outros vídeos

desta página foram carregados por usuários comuns, em baixa qualidade. Desses 18

vídeos, temos ainda que: Apenas 1 era um video-clip musical; 6 eram shows (ou trechos

de); 6 eram covers (sendo que 3 foram produzidos oficialmente por outras bandas e 3

eram amadores); 3 eram vídeos produzidos com imagens coletadas por fãs e; 2 eram

bootlegs.

Podemos afirmar que diversas outras buscas trariam resultados semelhantes. Isso

dialoga bem com a idéia de Chris Anderson sobre a cauda longa, onde um vídeo tem

muito mais exibições que os outros, mas a soma de todos os outros tem um número

muito superior de visualizações.

De qualquer forma, aqui a idéia do “Transmita-se” cái muito bem. Vários covers

são assistidos e muitas produções amadoras acabam ganhando destaque. Recentemente,

podemos citar o caso da banda alagoana “Los borachos enamorados”. Fazendo uma

paródia bem humorada da música “Minha mulher não deixa não”, da nacionalmente

conhecida banda Aviões do Forró, o grupo alagoano ganhou mais de 180 mil acessos

em apenas três dias com seu clip “Vou sim, quero sim” 3.

O youtube é, portanto, um grande potencializador de gostos musicais. Ao

realizar uma pesquisa no site, os usuários acabam encontrando materiais semelhantes

que fortalecem seu gosto musical, por um lado e que, por outro lado, pode lhe ajudar a

descobrir novos gêneros, bandas e cantores. Esses materiais novos, porém semelhantes,

são um registro contemporâneo da maneira de se consumir música online.

Considerações FinaisO youtube é muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É também

uma rede musical viva e ativa que recebe diáriamente milhões de acessos de pessoas em 3 http://www.youtube.com/watch?v=QS3G_ErpFqY

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busca de música, não de vídeos. Entretanto é importante observar que o vídeo não deve

ser excluído do processo, pois os consumidores musicais entram no site em dois

momentos distintos como pudemos observar.

Existe, de fato, aquele consumidor que deseja realmente assistir ao vídeo. E aí a

qualidade gráfica do mesmo torna-se extremamente relevante e casos de sucesso no

youtube como a Lady Gaga são a prova disso. Por outro lado o mesmo consumidor

pode entrar no site com o intuito de meramente escutar uma música. Aí a qualidade do

vídeo não é tão significativa o que responde a questão do porquê de vídeos feitos apenas

com imagens e fotografias serem tão populares.

As bandas novas devem se aproveitar desse fato. Muitas músicas de bandas

independentes ficam “perdidas” em páginas oficias e sites de compartilhamento de

músicas, que não são tão populares como o YouTube. Dessa forma, as bandas iniciantes

podem pegar um conjunto de fotos (ou até mesmo uma só) e produzir um clip com sua

música. Saber que 32,54% dos usuários do youtube que buscam músicas vêem (ou

melhor, escutam) esse tipo de produção pode estimular os músicos a colocarem suas

faixas no site sem a necessidade de ter um clip bem produzido. Não estamos rejeitando

os clips oficiais, pelo contrário. O apelo visual é uma característica muito forte do

YouTube. Entretanto, devemos lembrar que existem momentos que os consumidores

buscam apenas as músicas, e não os vídeos, e é desse tipo de consumidor que as bandas

que não têm condições para produzir clips devem se aproveitar.

Num outro momento observamos a questão da cauda longa presente nas buscas

por vídeos musicais. Os clips, entrevistas, show, etc. oficiais são muito poucos, embora

gerem isolados um número alto de acessos. Os outros vídeos relacionados (covers,

músicos amadores, bootlegs, vídeos com imagens colocadas por fãs, etc.) representam

uma quantidade muito maior de vídeos, mas que não são tão assistidos como os oficiais.

Entretanto, a soma total desses vídeos supera o número de exibições do clips isolados.

Aqui visualizamos bem a questão do “transmita-se” do YouTube, onde os

usuários produzem conteúdos amadores e ganham visualização “às custas” dos clips de

sucesso. É, então, outro momento que as bandas inciantes podem se aproveitar, podendo

ganhar visibilidade através das buscas relacionadas de conteúdo.

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Finalmente observamos o uso do YouTube como um player online de músicas.

Os consumidores criam listas de reprodução de vídeos no intuito de escutar músicas,

não de visualizar os vídeos. Essa característica pode ser afirmada ao observar sites como

o blip.fm, onde os usuários coloquem músicas à partir do youtube para seus seguidores.

A constatação dos objetos analisados pode ser conseguida através da lista de

vídeos mais vistos no YouTube em 20104. Dos 10 vídeos mais vistos desse ano, 4 são

vídeos relacionados à música e os 3 primeiros colocados da lista são vídeos

relacionados à música. Na verdade, todos os três primeiros colocados não são vídeo-

clips oficiais. O primeiro da lista é o “Bed Intruder Song!” é um clip feito por amadores

juntando partes remixadas de outro vídeo. O segundo colocado é um clip paródia da

cantora Kesha e o terceiro é uma apresentação amadora de um jovem garoto

interpretando “paparazzi” da Lady Gaga.

E em 7º lugar nós vemos um vídeo-clip musical oficial. É o This Too Shall Pass,

da banda Ok Go. Aqui observamos um apelo visual muito forte, com várias cenas que

chamam a atenção do usuário a todo o momento.

O YouTube é, então, muito mais que um site de compartilhamento de vídeos. É

uma plataforma multimídia completa. Os usuários de fato o utilizam como um player de

músicas e de fato a música é tão presente no youtube que neste ano o YouTube

“premiou” três categorias de vídeos: os mais assistidos do ano, os termos de busca que

cresceram mais rapidamente e os vídeos de música mais assistidos. Entretanto, na

categoria de vídeos de música mais assistidos não visualizamos nenhum vídeo amador.

Talvez a criação dessa categoria seja uma forma de melhorar a imagem da empresa

junto às gravadoras. Por outro lado o YouTube se mantém forte como divulgador de

cultura vernacular ao ter muitos vídeos amadores na lista dos vídeos mais assistidos do

ano.

4 http://www.youtube.com/rewind

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