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Extração de amido. Tecnologia para extração de amido de papas Marney Pascoli Cereda 1 1. O amido: O amido é um dos carboidratos mais disponíveis em nível mundial, ficando apenas atrás da celulose. Seu baixo preço e múltiplas utilidades fazem dele um “commodities” com alguns nichos de preços mais altos em razão de usos específicos. Os amidos recebem o nome do vegetal de origem. Por exemplo, amido de milho, de trigo, de mandioca, de batata, etc. Praticamente todos os vegetais, inclusive a cana-de- açúcar acumulam amido em um determinado estádio de desenvolvimento da planta mas para que o amido seja extraído comercialmente uma série de características devem ser consideradas. Além da disponibilidade e baixo custo, é possível diferenciar as propriedades funcionais, que dependem menos da extração que da fonte botânica. Embora possam ser consideradas fontes botânicas as leguminosas não são usadas como matéria-prima comercial. Os amidos disponíveis comercialmente são apresentados na Figura 1. Na Ásia outros 1 Professora e pesquisadora do Centro de Tecnologia e Análise do Agronegócio, Universidade Católica de Campo Grande, MS. E-mail: [email protected]

Tecnologia para extração de amido de papas

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Extração de amido. Tecnologia para extração de amido de papas

Marney Pascoli Cereda1

1. O amido:

O amido é um dos carboidratos mais disponíveis em nível mundial, ficando

apenas atrás da celulose. Seu baixo preço e múltiplas utilidades fazem dele um

“commodities” com alguns nichos de preços mais altos em razão de usos

específicos. Os amidos recebem o nome do vegetal de origem. Por exemplo,

amido de milho, de trigo, de mandioca, de batata, etc.

Praticamente todos os vegetais, inclusive a cana-de-açúcar acumulam

amido em um determinado estádio de desenvolvimento da planta mas para que o

amido seja extraído comercialmente uma série de características devem ser

consideradas.

Além da disponibilidade e baixo custo, é possível diferenciar as

propriedades funcionais, que dependem menos da extração que da fonte botânica.

Embora possam ser consideradas fontes botânicas as leguminosas não são

usadas como matéria-prima comercial. Os amidos disponíveis comercialmente

são apresentados na Figura 1. Na Ásia outros amidos são comerciais como os de

batata-doce, inhame e taro, mas não chegam a ser comercializados nesta forma

por ser a base para a fabricação de macarrões tipo “oriental”, feitos unicamente a

base de amido, contrariamente aos macarrões a base de farinha de trigo.

1 Professora e pesquisadora do Centro de Tecnologia e Análise do Agronegócio, Universidade Católica de Campo Grande, MS. E-mail: [email protected]

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Fonte: Vilpoux, (2001).

Figura 1: Principais matérias-primas usadas na produção mundial de amido

expressa em milhões de toneladas por ano.

A maioria desses amidos comerciais é disponível em sua forma natural ou

“nativa”, exatamente como extraído da planta. Esses produtos comerciais nativos

são constituídos quimicamente de amido quase puro, com poucas substâncias

acompanhantes, que variam em composição e quantidade com o método de

extração. Quando se diz que amido foi extraído, está se falando dos grânulos

insolúveis em água fria.

O amido encontra-se na forma de grânulos formados por dois

polímeros de glicose, a amilose e amilopectina, distribuído em regiões cristalinas e

amorfas alternadas. A região cristalina ou micelar é composta principalmente por

amilopectina, sendo resistente à entrada de água e ao ataque enzimático.

Algumas raízes e tubérculos (mandioca, batata, araruta) e os

grãos de cereais são as fontes mais importantes de amido, com teores acima de

60% (POORE et al., 1993 apud Lopez e Stumpf Junior, 2005). O sorgo apresenta

teor médio de 72% de amido (NOCEK e TAMINGA, 1991 apud Lopez e Stumpf

Junior, 2005) com variação em função do cultivar, do ano e das condições

climáticas.

Page 3: Tecnologia para extração de amido de papas

O amido é o polímero natural mais importante depois da

celulose, mas tem uso ainda mais amplo. As matérias-primas para extração

comercial de amido são os cereais e as raízes e tubérculos (CEREDA et ali.,

2001).

3.1. Características do amido

As propriedades do amido são resultados de características

tais como tamanho dos grânulos, teores de amilose e amilopectina e tipo de

cadeias destes polímeros. Dependem também de outros constituintes que estão

presentes no amido como o fósforo ou de resíduos da extração (CEREDA et ali.,

2001).

O amido é um polímero de elevado peso molecular e fornece

de 70 a 80% de calorias consumidas pelo homem em todo o mundo. (WHISTLER

e BEMILLER, 1997) além de ser facilmente convertido em muitos derivados por

processos químicos e bioquímicos, é uma fonte potencial e renovável que possui

papel importante em vários campos da vida do homem (HIZUKURI et al., 1997).

Para extrair o amido é necessário romper o tecido da matéria-

prima o que se faz por moagem do grão macerado em água e amolecido ou por

ralação seguida de peneiragem para separação da fibra no caso das raízes e

tubérculo. Durante a extração parte dos constituintes do citoplasma da célula

vegetal podem permanecer no amido, prejudicando sua qualidade por interferir

com suas propriedades.

Page 4: Tecnologia para extração de amido de papas

A literatura denomina os componentes fibras, açúcares totais

e proteínas que ficam após a extração de fração não amido. Menor fração não

amido proporciona maiores rendimentos de extração e processos industriais mais

simples (FRANCO et al., 2001). Confirmando essa afirmação, Sarmento, (1997))

complementa que a indústria considera indesejável a presença de outros

componentes como fibras, cinzas, proteínas, matéria graxa e carboidratos na

matéria-prima amiláceas de vegetais, por dificultar o processo de purificação do

amido, podendo ainda, alterar a qualidade e interferir em suas propriedades.

Por outro lado, a fração não amido pode gerar interessantes

co-produtos e que reduzem o custo de extração. Um exemplo é dado na extração

de amido de milho, aonde o amido chega a ser co-produto de extração de óleo e

proteína, onde a proteína é um co-produto valioso. Os açúcares totais são

representados por carboidratos não amido, principalmente por sacarose, frutose e

glicose (FRANCO et al., 2001).

Outro exemplo é o do trigo, onde o glútem é co-produto

bastante valorizado (VILPOUX, 2003).

Apesar do grande número de informações disponíveis sobre

o tamanho e forma dos grânulos de amido, esses dados ainda não foram

adequadamente explorados, não sendo disponíveis correlações com outras

propriedades do amido analisado (FRANCO et al., 2001).

4. Grânulos de amido

As características do amido dependem principalmente do local onde é

estocado na planta.

4.1.O grânulo de amido

Os amidos podem ser subdividos em amidos de cereal e

amidos derivados de raízes e tubérculos, sendo que os grânulos de diferentes

fontes botânicas vão variar na composição, forma e tamanho. Como exemplo, os

amidos de cereais são em geral menores e contêm mais resíduos de proteínas e

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lipídios que os amidos de raízes e tubéculos (HERMANSSON e SVEGMARK,

1996).

Figura 2. Formato e tamanho de grânulos de amido de diferentes fontes

botânicas.

O amido é único dentre os carboidratos, por ocorrer

naturalmente na forma de grânulos, que são compostos de uma mistura de dois

polímeros: um polissacarídeo essencialmente linear chamado amilose e um

polissacarídeo altamente ramificado denominado amilopectina, em proporções

que variam com a espécie e o grau de maturação da planta (WHISTLER e

BEMILLER, 1997).

A estrutura do grânulo de amido está intimamente ligada ao

seu desenvolvimento na célula viva. O amido armazenado nas células das

sementes, raízes e tubérculos, encontram-se depositados como grânulos

insolúveis, apresentando forma e dimensões diversas (FRANCO et al., 2001).

4.2. Tamanho dos grânulos de amido

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O tamanho dos grânulos de amido está compreendido

entre 1 a 100 μm. Tamanho e forma dos grânulos variam com a espécie,

enquanto que a distribuição de tamanho varia com o estágio de

desenvolvimento da planta e forma de tuberização (Tabela 1).

O tamanho e a forma dos grânulos de amido estão entre os

fatores importantes para estabelecer os usos potenciais do amido. Grânulos

menores de 2,0 μm, por exemplo, podem ser usados como substitutos de gordura

devido ao tamanho ser semelhante ao dos micélios de lipídeos (CEREDA e

VILPOUX, 2003).

Por estar ligada ao desenvolvimento da planta, a estrutura do

amido está também intimamente relacionada às condições agronômicas do local

em que se dá o cultivo. Alterações de clima, como temperatura e chuvas, podem

influir na formação do grânulo e na deposição do amido. Esses fatores por sua vez

podem influir sobre o tamanho e o formato do grânulo de amido (DAIUTO, 2005).

O tamanho e a forma dos grânulos de amido são

característicos da planta de origem. As formas encontradas para o amido de

mandioca segundo Rickard et al., (1991) e Rosenthal et al., (1976) apud Roesler,

(2003) são redondas, truncadas, poligonal, cupuliforme, mitriforme. Para a batata

doce, a forma observada, foi esférica com diâmetro de 15 a 12 μm (FRANCO et

al., 2001 apud Roesler, 2003).

4. 2. Outras características do grânulo de amido

Por muito tempo, a estrutura de grânulo de amido foi

considerada suficientemente esclarecida; no entanto, estudos têm apresentado

estruturas ainda pouco elucidadas. BeMiller, (1997) apud Cereda et al., (2001) cita

a presença de poros na superfície de alguns grânulos. No caso dos grânulos de

amido de sorgo, esses poros atingem o interior do grânulo, formando túneis

penetrando provavelmente até uma cavidade no hilo. O interessante desses túneis

é que eles aumentam a área de atuação possível dos reagentes químicos e de

Page 7: Tecnologia para extração de amido de papas

enzimas. Outros aspectos relevantes do grânulo de amido são os tipos de

organização interna e a natureza do envoltório externo. Existem diferentes níveis

de organização nos grânulos de amido, que vão desde áreas desorganizadas à

relacionadas até estruturas supramoleculares. A quantidade dos vários tipos de

estrutura está relacionada com a facilidade e o grau de inchamento do grânulo. O

autor indica que o grau de inchamento controla a eficiência de reações e

quantidade de substituição com reagente. Outro aspecto levantado por BeMiller,

(1997) apud Cereda et al., (2001) é o fato da parte externa do amido diferir da

parte interna, apesar de ter igual composição química.

O amido que se apresenta na forma de discretos grânulos

com forma e tamanho dependentes de sua fonte botânica, é composto

basicamente por dois tipos de macromoléculas: amilose e amilopectina. O amido

deve muito de sua funcionalidade a estas duas macromoléculas, assim como a

organização física das mesmas dentro da estrutura granular (BILIADERIS, 1991).

A proporção entre amilose e amilopectina é variável com a fonte botânica, o que

irá conferir características específicas à pasta de amido (CEREDA et ali., 2001). O

conteúdo desses polissacarídeos afeta a arquitetura do grânulo de amido, as

propriedades de gelificação e os atributos texturais (THOMAS e ATWELL, 1999).

A estrutura do grânulo do amido está intimamente ligada ao seu

desenvolvimento na célula viva. O amido armazenado nas células das sementes,

das raízes, dos tubérculos, etc., acha-se aí depositado como grânulos mais ou

menos brilhantes, apresentando forma e dimensões diversas. Nas células

vegetais, os grânulos são formados dentro de estruturas especiais denominadas

amiloplastos, envolvidos por uma matriz protéica, o estroma.

Para extrair os grânulos de amido há necessidade de romper ou

amolecer esse estroma para soltar os grânulos que serão depois arrastados com a

água e depositados sendo essa a base de sua purificação.

A microscopia aparece como uma ferramenta importante nos estudos

das características de grânulos de amido, acompanhamento de desenvolvimento

de plantas amiláceas, análise de produtos, acompanhamento de processos,

Page 8: Tecnologia para extração de amido de papas

caracterização de resíduos, entre outros. O reconhecimento da origem botânica do

amido, através de microscopia é importante porque possibilita mesmo a pessoas

com pouca especialização, a descoberta de fraudes em partidas de amido,

ocasionadas por misturas indevidas de produtos amiláceas de diferentes origens

botânicas.

O tamanho e forma dos grânulos de amido são característicos da planta de

origem. A forma e tamanho de grânulo de amido de plantas mais comuns são

apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Variação da forma e diâmetro (μm) de grânulos de amido de algumas

fontes botânicas.

Nome CientíficoForma

Diâmetro (μm)

Maior Menor

Ipomoea batatas Esférica 15 12

Solanum batatas Ovalados 120 5

Manihot esculenta Esférica, semiesférica 12 11

Oryza sativa Poliédrica 6 6

Sorghum vulgare Poliédrica 15 14

Zea mays Poliédrica 15 12

Fonte: Hurtado, (1997) citado por Daiuto, (2005).

Os grânulos de amidos de tubérculo e raízes diferem bastante dos de

cereais. Enquanto que em raízes e tubérculos o teor de proteína é mais baixo, nos

cereais ocorre uma forte matriz protéica que cimenta os grânulos e torna difícil sua

extração. O fato de raízes e tubérculos o número de grânulos por plastídeos ser

menor os deixa livres para se desenvolver com formato arredondado. Por outro

lado os grânulos de amidos de cereais são mais numerosos e acabam por tomar o

formado anguloso com arestas. Dentre os amidos de raízes e tubérculos, os de

batata são os maiores, o que facilita a decantação. Entretanto a batata tem mais

proteína que a mandioca, o que dificulta a extração, mas proporciona co-produtos

de maior valor agregado.

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Os grânulos de amido de batata são conhecidos como um dos maiores de

amidos comerciais, muito parecidos em formato com os de mandioca. Os grânulos

de amido de mandioca apresentam diâmetros parecidos com os de amido de

milho, porém são morfologicamente diferentes. São ovais ou redondos com alguns

côncavo-convexos característicos. Não são vistos estriamentos nos grânulos e,

sobre luz polarizada, observa-se claramente a cruz de malta. O tamanho varia de

5 a 35µm de diâmetro com a média de 20µm. A fécula de batata doce é composta

de grânulos poligonais parecidos com os de milho, com 10 a 25µm de diâmetro. A

cruz de malta é distinta e cruza no hilo.

O amido que se apresenta na forma de discretos grânulos com forma e

tamanho dependente de sua fonte botânica, é composto basicamente por dois

tipos de macromoléculas: amilose e amilopectina. O amido deve ser muito de sua

funcionalidade a estas duas macromoléculas, assim como a organização física

das mesmas dentro da estrutura granular. A proporção entre amilose e

amilopectina é variável com a fonte botânica, o que irá conferir características

específicas à pasta de amido e também interferir em suas aplicações porque afeta

a arquitetura do grânulo de amido, as propriedades de gelificação.

A grande maioria dos amidos contém 20 – 30% de amilose e 70 – 80% de

amilopectina. Existem amidos que são constituídos de 100% de amilopectina

denominados amidos “cerosos”, e algumas variedades de amidos de milho

definidos como de alto teor de amilose como 50 e 70%. A amilose é

essencialmente um polímero linear formado por unidades de D-glicose, unidas

entre si por ligações glicosídicas α(1→ 4) como consta da Figura 4. O grau de

polimerização (DP) está usualmente na faixa de 500 – 6000 unidades de glicose.

Somente poucas ligações α(1→ 6) estão presentes, correspondendo de 09 a 90

pontos de ramificações.

Page 10: Tecnologia para extração de amido de papas

Fonte: Adaptado de Wurzburg, (1986)

Figura 4. Estrutura molecular da amilose.

A amilopectina é uma molécula muito grande, altamente ramificada,

formada por unidades de D-glicose ligadas em α(1→ 4) e com 5 a 6% de ligações

α(1→ 6) nos pontos de ramificações (Figura 5). Possui um dos maiores pesos

moleculares relativos (107 -109 g/mol A molécula de amilopectina consiste de uma

cadeia principal C, que carrega o grupo redutor, e numerosas cadeias ramificadas

denominadas cadeias A e B. As cadeias A são conectadas às cadeias B ou C via

ligações α(1→ 6), mas não carregam qualquer ramificação, enquanto as cadeias

B, também conectadas a outras cadeias via ligações α(1→ 6), possuem uma ou

mais cadeias A ou B ligadas a ela nos pontos de ramificações.

Fonte: Adaptado de Wurzburg, (1986) citado por Cereda, (2001).

Figura 5. Estrutura molecular de amilopectina.

Page 11: Tecnologia para extração de amido de papas

Ácidos graxos livres e lisofosfolipídeos formam complexos de

inclusão com amilose. Estes complexos existem no amido natural e são uma

característica do amido de batata. O teor de forfato natural em amido de batata faz

com apresente características únicas que o destacam como um amido natural com

propriedades de modificados.

3. Constituintes do amido:

O amido é constituído apenas de carboidratos. No entanto, o produto

industrial apresenta como acompanhantes substâncias tais como matéria graxa,

proteínas e cinzas. Essas substâncias são partes da própria planta de onde o

amido foi extraído. A quantidade delas no amido depende da composição da

planta e do método de extração e purificação. Quanto menor o teor destas

substâncias, melhor a qualidade do amido. Teores menores também refletem

processos de extração e purificação mais eficientes.

Métodos de laboratório não permitem extrações comparáveis com

aquelas industriais e as obtidas em pequena escala não podem ser comparadas

com extrações em plantas automatizadas. A composição química só tem portanto

valor para comparar as características dos amidos das diferentes matérias-primas

nas mesmas condições de extração. Ainda assim é possível generalizar sobre

substancias acompanhantes de amidos de cereais e de raízes e tubérculos.

A Figura 3 apresenta a composição de amido comercial, mostrando a

grande proporção de amido em relação a outros acompanhantes

Page 12: Tecnologia para extração de amido de papas

H2O (%) Amido Fibras Matéria graxa Açúcares redutores Cinzas Proteína

Figura 6. Composição centesimal de amido extraído de mandioca.

4: Principais matérias-primas usadas na produção mundial de amido

expressa em milhões de toneladas por ano.

Quanto maior o teor de proteína e gordura na matéria-prima, maior a

dificuldade de extração, mais caro o processo e mais difícil conseguir amido de

boa qualidade. Por essa razão a extração de amido de raízes e tubérculos, como

o da mandioca é mais fácil que a extração de amido de cereais como o milho.

Para o amido de batata extraído comercialmente o teor de impurezas

acompanhantes pode variar de 4 a 11% do peso total das batatas. Os componetes

solúveis serão extraídos junto com a água. Ainda assim o teor de amido nos

tubérculos de batata representam mais de 2/3 de seu peso seco.

O amido contém traços de elementos minerais e sais

inorgânicos, como cálcio, potássio, magnésio e sódio, encontrados na sua forma

iônica (JACOBS, 1998 apud Serrano, 2004). O conteúdo de cinzas pode variar

dependendo da fonte do material natural, práticas agronômicas, procedimentos de

moagem, e tipos de modificações químicas que podem sofrer os amidos. O

Page 13: Tecnologia para extração de amido de papas

conteúdo de cinzas no amido é inferior a 0,5% da matéria seca (THOMAS e

ATWEEL, 1999 apud Serrano, 2004).

Dos constituintes menores, os que mais influenciam as

propriedades funcionais dos amidos são os lipídeos e o fósforo. Presentes

principalmente nos cereais, os lipídeos afetam a gelificação, modificam o

comportamento reológico das pastas resultantes e inibem a cristalização das

moléculas, reduzindo assim a retro gradação (WANG e WHITE, 1994 apud

Serrano, 2004). O movimento de água dentro dos grânulos é inibido na presença

de lipídeos de superfície, enquanto o inchamento e a lixiviação da amilose são

reduzidos na presença de complexos amilose-lipídeos (RAEKER et al., 1998). .

O amido de cereais de um modo geral contém fósforo

principalmente na forma de fosfolipídeos (MEREDITH et al., 1978, 2004) enquanto

em amidos de raízes e tubérculos o fósforo se encontra principalmente na forma

de monoéster (HIZUKURI, 1970). Amidos de alguns cereais como milho, milho

ceroso, arroz e arroz ceroso também apresentam quantidades menores de

monoéster fosfato (6-15 ppm), que estão localizados principalmente no C-6 de

suas unidades glicosídicas (TABATA et al., 1975).

Altos teores de fosfolipídeos provocam redução da

retrogradação de amidos (LIN e CZUCHAJOWSKA, 1998). A remoção dos

fosfolipídeos por desengorduramento das amostras torna o grupo hidroxil das

unidades da glicose disponível para formação de novas ligações de hidrogênio

que resultam em aumento da retrogradação.

4. Propriedades funcionais do amido:

O amido extraído dos tecidos vegetais é denominado amido natural

ou nativo. Há inúmeras aplicações para o amido nativo, mas em alguns tipos

específicos de usos essas propriedades do amido natural não são suficientes,

sendo necessário introduzir outras para obter melhor desempenho. Esses amidos

Page 14: Tecnologia para extração de amido de papas

são denominados amidos modificados. As modificações são sempre consideradas

em relação as propriedades do amido nativo.

Para preencher as várias demandas para funcionalidades em

produtos amiláceas diferentes, o amido processado industrialmente pode ser

modificado enzimaticamente, fisicamente ou quimicamente. Na maioria das

modificações químicas do amido, normalmente referidas como derivatizações

químicas, a forma granular é mantida e grupos hidroxilas são parcialmente

substituídos produzindo éteres ou ésteres de amido, assim como amidos

aniônicos e catiônicos. Outros tipos de derivações químicas são a oxidação e as

ligações cruzadas.

A geleificação do amido ocorre quando os grânulos são expostos a

umidade e temperaturas elevadas, condições que determinam ruptura das

ligações de hidrogênio mais fracas, que unem as cadeias de amilose e

amilopectina, resultando em absorção de água e conseqüente intumescimento dos

grânulos, causando exsudação de parte da amilose tornando os grânulos mais

susceptíveis á digestão enzimática.

5. Processos de extração de amido:

Qualquer processo de extração de amido inclui uma ralação (raízes e

tubérculos) ou uma moagem, seguidos de separação do amido da fibra ou bagaço

constituído pelas paredes celulares. Como o amido é insolúvel em água fria, a

suspensão de amido em água é agitada para remover impurezas, a água trocada

diversas veze, finalmente o amido é decantado e seco.

O amido pode ser extraído de diversas matérias-primas por processo físico

constituído de moagem e separação em peneiras e centrífugas.

A moagem dos cereais deve ser maior energética que a ralação das

raízes e tubérculos, e além do mais, deve ser precedida de processo de

maceração em água, o que encarece o processo.

Page 15: Tecnologia para extração de amido de papas

Singh e Eckhoff, (1998) apresentam em seu artigo uma cuidadosa revisão

sobre as metodologias usadas em laboratório ou em escala piloto para extração

de amido. Segundo os autores a extração de amido de cereais é dificultada pela

presença de proteínas e de gordura, esta quase que totalmente concentrada no

germem do grão. Para extrair o amido as metodologias existentes propõem a

maceração do grão inteiro em água ou solução de água - ácido lático (método

mais rápido), seguido na moagem dos grãos inchados e amolecidos. A esta

solução de água - ácido lático é acrescentado metabisulfito de sódio, como forma

de controlar as fermentações e dissolver parte da proteína que está presente no

endosperma dos cereais e que dificulta a extração e a purificação do amido.

O autor informa ainda que na industrie, os grãos são macerados num fluxo

contracorrente, com solução 0,1-0,2% de SO2 a 50-55°C, por 24 a 38 horas, o que

proporciona amido com concentrações baixas de SO2, para o qual há limites na

legislação européia. A Figura 7 apresenta um esquema completo da extração de

amido comercial de milho.

Fonte: Lopes Filho et al., (1999).

Figura 7: Fluxograma da extração do amido de milho.

Grãos de Milho

água imersão Água de imersão

Quebra sementes/Moagem grossaágua

estufa

Maceração dinâmica

moagem

Separação do germe peneiras água

estufaÁgua do amido

água Segunda moagem

decantação

Sólidos

massa

GERMEM

Separação da fibraÁgua decantação + água

Fibra grossaFibra fina

Decantação(glúten – amido)

Mesa de amido Água decantação + água

Água/proteína estufa

filtragem AMIDO

Água do filtrado estufa

GLÚTENestufaSÓLIDOS

estufa

FIBRA

Page 16: Tecnologia para extração de amido de papas

A extração do amido de matérias-primas tuberosas é facilitada pelo baixo

conteúdo de gordura e de proteína, mas se essas características facilitam a

extração, também limitam as possibilidades de co-produtos que possam ser

comercializados e ajudar a reduzir o custo de produção. Um outro diferencial é

que o amido de raízes e tubérculos é mais neutro, menos colorido e pode ser

usado para produtos mais finos, por não conferir sabor, odor ou cor ao produto.

A extração do amido de forma comercial é feita por magem

ou ralação, separação de fibra e suspensão de amido em água, centrifugação,

purificação, desidratação e secagem (Figura 8). Amidos não comerciais podem

exigir etapas extras.

Água →Lavagem↓

descascamento → cascas↓

Picagem↓

Ralação↓

Extração→→→→→→ Bagaço(peneira de 130 μm)

↓Extração→→→→→→ Bagaço

(peneira de 70 μm)↓

Primeira centrifugação↓

Segunda centrifugação↓

Filtração↓

Secagem↓

Empacotamento

Fonte: Jacquey, (1999).

Figura 8: Fluxograma da extração comercial de amido de mandioca

Page 17: Tecnologia para extração de amido de papas

A extração do amido de batata (papa) segue o mesmo fluxograma da figura

5. A maior diferença está no maior teor de proteina, que produz um efluente que,

ao contrário da mandioca, pode gerar um co-produto com teor razoável de

nitrogênio quando comparado ao baixo teor apresentado nos efluentes das

empresas comerciais extratoras de amido de mandioca, caracterizando um

resíduo que deve ser tratado, com custos e sem benefícios diretos ao empresário.

A política de compra de créditos de carbono poderia pelo menos amenizar os

custos deste processo obrigatório.

3.5. Equipamentos comerciais

O amido é um “commodities” e como tal seu uso é regulado pelo preço. Na

Amárica Latina o milho ainda domina o mercado de amido, seguido pelo amido de

mandioca principalmente processado no Brasil. O amido de batata só é extraído

como co-produto do corte no processamento de batata “chips” e “french fries”. A

opção para industrializar o amido de mandioca veio com os colonizadores

alemães do sul do Brasil e foi calcada no sistema indutrial da extração de amido

de batata na Alemanha e Holanda. Em nível mundial a Tailândia também adotou

equipamento semelhante com pequenas modificações que foram absorvidas da

China. Maiores informações sobre a comparação entre esses tres paises podem

ser encontradas na publicação de Vilpoux (2004).

Para ganhar competitividade as empresas brasileiras extratoras e

modificadoras do amido de mandioca (fecularias) têm aumentado seu período de

funcionamento e diminuido a ociosidade da indústria . E o único país produtor a

extrai amido o ano todo e não apenas nos períodos de maior rendimento.

Também nesse espírito as industrais comerciais tem tamnaho mínimo de

200 toneladas de raízes por dia e estão caminhando rapidamente para 200

toneladas de raízes por dia. Esse fato desistimulou a comercialização ou mesmo a

fabricação de unidades de menor capacidade. A cerca de 8a 10 anos existia no

Nordeste brasileiro algumas epresas que faziam equipamentos para 2 a 5

toneladas de raízes por dia, mas elas se tornaram onerosas e ficou mais barato

para os clientes comprarem o amido das grandes empresas.

Page 18: Tecnologia para extração de amido de papas

3.6. Conclusões

Qualquer equipamento que seja usado para mandioca ou batata-dece

poderá também ser usado para extrair amido de papa. Neste caso é importante

contatar uma empresa com experiência em montar indústrias no experior. Não é

uma questão tecnológica, mas sim economica que o mercado mundial esteja

ficando pouco variado.

REFERÊNCIAS

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