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COLÔMBIA, UM DESTINO DE ALEGRIA E CULTURA Andina e caribenha. Assim é a Colômbia, nosso vizinho país amazônico que reúne um dos maiores tesouros naturais e culturais da América do Sul. Uma viagem pela andina Bogotá, a capital do país, a 2.640 metros de magníficas paisagens, ou pela caribenha Cartagena de Índias, no tépido litoral do Caribe, é certamente inesquecível e traz à mente a magia e o colorido que gestaram os magníficos delírios surrealistas do escritor García Márquez, em livros como Cem Anos de Solidão. Para começar, repare que a água escoando na pia gira da direita para a esquerda, ao contrário daqui. Derrubando estereótipos de décadas passadas, Bogotá, por exemplo, que tem 8 milhões de habitantes, é mais segura que São Paulo ou o Rio - taxa de 28 homicídios para cada cem mil habitantes, contrapondo-se com 56 em São Paulo e 95 no Rio. É uma bela cidade com prédios moderníssimos e grandes avenidas. A parte antiga é maior que qualquer cidade histórica brasileira, com impressionantes ruas de casas de balcões barrocos.

Colombia, um paraíso

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Relato de viagem que fiz à Colômbia e que resultou em matéria publicada no Caderno de Turismo do Jornal da Tarde. Falei de Bogotá, Cartagena de Indias e das ilhas

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COLÔMBIA, UM DESTINO DE ALEGRIA E CULTURA

Andina e caribenha. Assim é a Colômbia, nosso vizinho país amazônico que reúne um dos maiores tesouros naturais e culturais da América do Sul.Uma viagem pela andina Bogotá, a capital do país, a 2.640 metros de magníficas paisagens, ou pela caribenha Cartagena de Índias, no tépido litoral do Caribe, é certamente inesquecível e traz à mente a magia e o colorido que gestaram os magníficos delírios surrealistas do escritor García Márquez, em livros como Cem Anos de Solidão. Para começar, repare que a água escoando na pia gira da direita para a esquerda, ao contrário daqui.Derrubando estereótipos de décadas passadas, Bogotá, por exemplo, que tem 8 milhões de habitantes, é mais segura que São Paulo ou o Rio - taxa de 28 homicídios para cada cem mil habitantes, contrapondo-se com 56 em São Paulo e 95 no Rio. É uma bela cidade com prédios moderníssimos e grandes avenidas. A parte antiga é maior que qualquer cidade histórica brasileira, com impressionantes ruas de casas de balcões barrocos. Os preços são mais convidativos do que os de qualquer outra grande cidade do mundo – o custo de vida é quatro vezes menor que o de Nova York, por exemplo. Os museus, bem-aparelhados, reúnem alguns dos mais belos objetos de ouro jamais feitos, contam uma parte vital da história da independência da América hispânica (como a casa de Simon Bolívar) e nos fazem viajar por centenas de obras de pujantes artistas modernos, como as gordas figuras do pintor e escultor Botero (que de perto chegam a ter uma imponência michelangelesca). A fauna e a flora, dentre as mais ricas do planeta, incluem as mais variadas espécies de peixes, pássaros e animais marinhos e o maior número de orquídeas identificadas entre todos os países. As ilhas, como as de San Andrés, são do Caribe, não é preciso dizer mais

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nada – é só pensar nas areias brancas e nas águas azuis paradisíacas. Há também santuários ecológicos, como o arquipélago do Rosário, cercado de recifes de coral e onde se pode visitar um dos maiores e mais bem cuidados aquários de peixes marinhos do mundo.A infra-estrutura turística é invejável, tanto para quem opta por se hospedar em Bogotá, na montanha cercada pelos picos dos Andes, ou na litorânea e caribenha Cartagena, bela cidade histórica e praieira, cheia de labirintos e lendas de piratas, capaz de deixar um turista brasileiro tão à vontade como se estivesse em Salvador. A população é hospitaleira e simpática: “O povo é muito bonito, é só lembrar que são famosas as misses universo da Colômbia”, comenta o brasileiro Ramon Utrera, 16 anos, que foi conhecer o país numa excursão. “Os colombianos de Cartagena, por exemplo, são baianos da América hispânica, muito simpáticos, alegres e acolhedores.”Nosso próprio corpo reage. Todo um mundo de sensações se abre num luminoso país equatorial, acima da linha do equador em que as cidades se separam não só pela distancia física mas também pela altura. Em Bogotá, por exemplo, a quase 3 mil metros de altura, a menor pressão atmosférica chega a produzir efeitos inusitados no organismo. Há quem sinta mal-estar, que em algumas horas desaparece. Mas há homens que se vangloriam de um certo “reforço” na ereção, pelo efeito do aumento da pressão interna do corpo, e também mulheres que de repente se tornam mais sensíveis aos apelos de Afrodite (pelas mesmas razões climáticas, digamos). Fora isso o ar é puríssimo e medicinal, vindo diretamente das florestas dos benfazejos cumes dos Andes, de onde também vem a água puríssima de excelente qualidade que serve a cidade. Não é para menos que esse cenário tenha criado mitos como o da fonte da eterna juventude entre os conquistadores espanhóis que por séculos palmilharam os Andes na esperança de encontrá-la.

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BOGOTÁ, A CIDADE DA ETERNA JUVENTUDE

Quando os primeiros conquistadores espanhóis chegaram àquele vale plano a quase 3 mil metros de altura, no topo dos Andes, já o encontraram habitado por uma sofisticadíssima civilização que adorava o sol e fazia belíssimas jóias com o ouro abundante da região. O conceito de riqueza desses povos era bem diferente dos europeus, como diz um preceito religioso dos muíscas, povo pré-colombiano que habitou a região: “Aquilo que é extraído da terra os metais e a argila, é transformado, usado e simbolizado e então regressa para a terra como oferenda.”

Os muíscas e outros povos faziam magníficas jóias de ouro, que eram atiradas em lagos durante festas religiosas que se pareciam com o nosso carnaval. No século 16, vencida pela pólvora de arcabuzes e canhões, essa florescente civilização americana autóctone foi rapidamente dizimada e seus objetos de ouro levados para a Espanha, num período de grandes guerras, saques e migrações.

Foi nesse tempo que se fez na América o transplante de uma cidade colonial espanhola, com levas de colonizadores europeus que se miscigenaram à população indígena e aos escravos trazidos da África para as minas de ouro e lavouras. Os europeus eram atraídos por lendas como a do Eldorado, uma cidade toda de ouro, ou da fonte da eterna juventude, pois dizia-se que em bebia das águas de Bogotá era capaz de viver mais tempo. Assim nasceu capital da Colômbia, em plena corrida do ouro. Hoje é uma das grandes capitais do mundo, com 8 milhões de habitantes, e que conseguiu se modernizar e ao mesmo tempo conservar grande parte de seu centro histórico e do charme de seus monumentos antigos.

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Capital da Colômbia e principal centro industrial, comercial e cultural do norte da América do Sul e do Caribe, Bogotá fica a 2.640 metros de altura, ocupando uma área de 1,7 milhão de quilômetros quadrados cercada pelos picos andinos. Tem tudo o que uma cidade grande pode oferecer, com mais de 100 mil empresas operando na cidade, por exemplo, combinado com muitas ofertas de lazer e turismo, como excelente rede hoteleira, restaurantes, lanchonetes e danceterias a um custo muito menor que em qualquer outra grande capital do mundo. Para facilitar as contas, imagine o peso boliviano sempre cortando três zeros para transformá-lo numa espécie de real: 14 mil pesos seriam então 14 reais. Você logo notará que os táxis, restaurantes, hotéis, tudo é mais barato que em São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo. Uma corrida que em São Paulo custa R$ 20 sai pelo equivalente a R$ 5 em Bogotá (5 mil pesos colombianos).

Imagine uma mistura de São Paulo mais segura (o índice de homicídios é muito menor) com uma Salvador criteriosamente restaurada (a quantidade de quarteirões e bairros inteiros com casas históricas é impressionante), tudo isso habitado por uma população de beleza privilegiada pela genética, que tradicionalmente destaca o país nos concursos de miss universo: alvíssimos europeus da Espanha, negros da África de elegante talhe grego e índios autóctones caraíbas, muito parecidos com os brasileiros, com uma leve pitada inca, responsável pelo nariz levemente adunco, e mulatas, muitas mulatas.

Por um momento a pessoa se sente no Brasil. Mas as outras pessoas falando um espanhol meio cantado logo lembram que estamos na cosmopolita Bogotá, que tem de tudo para ser visitado, de uma imensa quantidade de bons museus até suas praças e ruas do centro histórico, sem falar nas compras nos shoppings, nos restaurantes e nas feiras-livres, onde frutas e flores nunca vistos se oferecem num dilúvio de cores.

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Como em qualquer outra grande capital do mundo, medidas de segurança são indispensáveis, como informar-se sobre o local que se quer ir da cidade e usar táxis chamados pelo telefone. Bogotá tem áreas seguras como os bairros boêmios de São Paulo com clima de Vila Madalena ou Vila Olímpia (como a região conhecida como El Parque de la 93) e áreas mais inseguras, como a periferia pobre, não recomendável aos turistas - como em São Paulo não se recomendaria passear à noite pelos botequins do Capão Redondo ou em Nova York por certas áreas do Bronx, só para dar dois exemplos...

Comecemos pelos museus. Bogotá tem pelo menos trinta interessantes. Se você não puder mudar-se para a cidade, certamente terá de escolher que museu visitar. Sugerimos como imperdíveis o Museu do Ouro (que guarda preciosas jóias de criativos e infelizmente extintos povos pré-colombianos), o museu-casa Quinta de Bolívar (que nos dá a dimensão humana do herói da independência da América hispânica, dito herói das três Américas, por meio do ambiente preciosamente conservado de toda sua vida cotidiana, da cozinha ao quarto de dormir do começo do século 19), o Museu Botero (com quase duas centenas de obras desse artista considerado gênio das artes plásticas sul-americanas) ou o Museu Arqueológico (situado na casa do marquês de São Jorge, exemplo de arquitetura doméstica colonial de fins do século 17, com uma das mais importantes coleções de cerâmica pré-colombiana do mundo).

Cada um desses museus vale pelo menos uma tarde, tal a riqueza de história viva que oferecem, fazendo-nos viajar por tribos extintas de requintados ourives, pelo cotidiano dos conquistadores e colonizadores espanhóis da era colonial e pela pulsão positiva das artes plásticas de vanguarda.

Uma visita ao centro velho da cidade, a região de La Candelária, levaria na verdade vários dias, se quiséssemos conhecer suas 61 atrações indicadas no guia da cidade, fora o comércio, restaurantes e barzinhos. É la que ficam, por exemplo, o Museu do Ouro e o

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Museu Botero (este situado num conjunto cultural de dois magníficos prédios destinados às artes plásticas, o conjunto da Biblioteca Luís Angel Arango), além de bibliotecas (muito consultadas, pois o povo de Bogotá gosta de ler), dezenas de outros museus, igrejas e palácios, constituindo um impressionante conjunto arquitetônico, tombado como patrimônio mundial pela Unesco.

Em Bogotá é assim, uma atração puxa a outra, permitindo interessantes passeios por várias áreas da cidade. No setor moderno, por exemplo, pode-se visitar a Biblioteca Nacional, a maior do país, o Museu de Arte Moderna, o Planetário, a Praça de Toros de Santa Maria, o Museu Nacional, o Parque Central Bavana e o Centro de Convenções Gonzalo Jimenez de Quesada, na área pontilhada por altos arranha-céus, em que fica um dos hotéis mais famosos da cidade, o Tequendama.

Deslocar-e em Bogotá também é fácil por causa das grandes avenidas e da boa malha de linhas de ônibus, como o Transmilênio, uma versão colombiana e em ponto maior dos corredores de ônibus que o urbanista pioneiro Jaime Lerner criou em Curitiba, no Paraná.

Atrações para as crianças? Bogotá tem o parque Mundo Aventura, com várias atrações, como a montanha-russa que mergulha na água, ou o Maloka, Parque Interativo da Ciência, com cinema esférico e mais de 200 exibições de temas científicos para os pequenos.

Cansou de cultura? Que tal uma balada noturna? Em Bogotá há pelo menos vinte regiões comerciais e de lazer que se parecem com os nossos Jardins ou com a região de bares da Avenida Henrique Schauman, em São Paulo, por exemplo. A vida noturna é uma verdadeira paixão colombiana encarnada, com ambientes para todas as tribos, com clubbers, raves, saunas gays etc. A chamada Zona T, reúne bares e restaurantes que garantem uma noite para lá de animada.

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Um dos points da moda atualmente tem sido o Andrés Carne de Res Restaurante Bar, com seus ambientes criativos e diferentes. Dois bairros se destacam no quesito rumba (“balada”,na gíria de Bogotá): o Usaquén, de perfil mais alternativo, e a Zona Rosa, que reúne as casas mais agitadas.

Mas é bom ir guardando as energias. Bogotá é muito chévere (“legal”, na gíria local), tem ainda cerca de uma dezena de pontos cinco-estrelas como o Planetário, o Jardim Botânico e, nas vizinhanças da cidade, a impressionante Catedral de Sal de Sipaquira, a 55 km de Bogotá, uma mina em atividade com 14 imensas salas subterrâneas que percorremos passos da Paixão de Cristo, culminando na monumental sala da cruz iluminada, na qual uma ilusão de ótica faz flutuar uma gigantesca cruz de pedra brilhante. Com certeza um dos mais impressionantes monumentos de arte, engenharia e fé católica já erigidos (ou escavados) em todo o mundo.

Também vale a pena visitar o Parque Simon Bolívar, com seus lagos de pedalinhos e seus mais de 150 hectares de áreas arborizadas.

Um fecho de ouro para uma tarde em Bogotá, antes de uma noite regada a bons restaurantes com cerveja de ótima qualidade fácil de encontrar em qualquer ponto da cidade: vale a pena tomar o teleférico de Monserrate, que leva até a igreja de Nosso Senhor Caído de Monserrate (tema de uma impressionante e dramática escultura com cabelo natural), erigida no topo de um pico, a 3.150 metros de altura, de onde se descortina um magnífico panorama da alta Bogotá vista ainda mais de cima. A igreja atrai multidões de católicos do país, cuja religiosidade popular lembra a do Nordeste brasileiro. O cenário é deslumbrante, com belos jardins de hortênsias chinesas na subida do teleférico e muitas orquídeas e plantas nativas no alto da montanha.

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“Talvez os conquistadores espanhóis não tenham percebido que, além da água pura, o ar de Bogotá é medicinal, pois renova-se constantemente vindo do topo das montanhas cobertas de florestas virgens”, explica o botânico, Edwin, do Jardim Botânico de Bogotá. “Veja que em toda a cidade os troncos das árvores são cobertos por manchas verde-claras: são os líquens, uma forma simbiótica de fungos e algas que se nutre dos alimentos presentes nos gases do ar.” A presença desses liquens indica que a qualidade do ar é excelente para a vida em geral, pois eles desaparece em cidades poluídas como São Paulo, por exemplo.

Com tudo isso para ser visto e vivido, Bogotá é ou não é inesquecível?

MUSEUS CONTAM HISTÓRIAS FASCINANTES

Os museus da Bogotá são importantes porque revelam momentos cruciais da história sul-americana pouco conhecidos dos brasileiros, pois trata-se da América Hispânica, colônia que já pelo Tratado de Tordesilhas (1494) pertencia à Espanha. Conquistada pelo espanhol Gonzalo Jimenez de Quesada entre 1536 e 1540, que por lá se embrenhou com 200 homens, a região da Colômbia foi por ele batizada de Nova Granada e colonizada por mineradores de ouro e esmeraldas e seus escravos. Movimentos de independência surgiram logo após a Revolução Francesa, imbuídos das mesmas idéias iluministas que geraram a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

A Colômbia só se tornou independente depois que a guerra com a Espanha foi vencida com auxílio do general e estadista venezuelano Simon Bolívar (1783-1830), herói da independência da América Hispânica, que venceu as tropas espanholas na batalha de Boyacá, em 1819 e obrigou o reconhecimento da independência da região

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pela Espanha em 1825, formando a Grande Colômbia, que incluía Venezuela, Equador e América Central.

Esse importante momento da vida de Simon Bolívar, no auge da glória e do poder, pode ser percorrido na Casa Museu Quinta de Bolívar, que foi a moradia do Libertador. O prédio remonta aos anos 1800, construído por um rico comerciante de tabaco e doado a Bolívar em 1820 pelo governo de Nova Granada como gratidão por seus serviços pela causa da independência da América hispânica. Espécie de Napoleão sul-americano, Simon Bolívar tinha de estar sempre em viagem e ocupava esporadicamente a casa, como refúgio da tensa situação da América espanhola, marcada por movimentos separatistas. Governou com poderes ditatoriais até renunciar em 1830 e foi para a pequena cidade de Santa Marta, no interior da Colômbia, onde morreu em dezembro, na miséria e abandonado.

Com a morte de Simon Bolívar terminou o sonho da Grande Colômbia, dela se separando os países da América Central, o Equador, a Venezuela e o Peru. Alem de estar cercada de jardins que formam um parque a seu redor, a quinta de Bolívar conserva intactos os mobiliários da época em todos os ambientes de uma casa nobre, com salão de jogos, alcova, grande salão de recepções, sala de jantar, despensa e cozinha, dotada de água corrente (pois por dentro dela passa, canalizado, o desvio de um riacho).

Outro museu histórico fascinante e revelador é o Museu do Ouro, no centro velho da cidade (área da Candelária). Ele é o mais importante do gênero no mundo, com uma coleção de mais de 34 mil peças de ouro e 20 mil objetos de osso, pedra, cerâmica das culturas pré-colombianas que floresceram na região. É impossível não sair deslumbrado do magnífico Salão Dourado, com mais de 8 mil jóias elegantemente expostas.

Separado por ramificações da cordilheira dos Andes, áreas de savana e de densas florestas cerradas, convivendo com montanhas

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remanescentes de terrenos muito antigos, o território da Colômbia foi ocupado por povos indígenas milenares, os caraíbas, muito parecidos com os índios brasileiros, que tiveram contato com dois grandes focos irradiadores de civilização nativa americanos: os olmecas (depois suplantados pelos astecas) do México e os chavins do Peru (povos pré-incaicos).

Os caraíbas viviam em casas cobertas de telhados de palha, não usavam pedra nas suas construções, mas faziam ídolos de pedra, com desenhos que fundiam mitos mexicanos e peruanos. Formavam grandes cacicatos que dominaram boa parte da Amazônia, incluindo áreas do Brasil, onde ainda restam vestígios arqueológicos dos canteiros onde erguiam suas casas. Os motines, que ainda vivem no sudoeste de Maracaibo, são remanescentes desses caraíbas originais. Os chibchas ocupavam as ordilheiras andinas, divididos entre muícas no planalto da Cordilheira Oriental e quimbayas no Vale do Cauca. Infelizmente esses povos não deixaram registros escritos, o que torna difícil recuperar sua história, mas conhecemos muito de seus mitos e lendas e principalmente das magníficas jóias de ouro dos muícas e quimbayas, os maiores joalheiros do continente americano de todos os tempos, como se pode notar pelo arrojado design das peças de ouro e esmeralda hoje expostas. O museu reúne a sofisticadíssima produção de pelo menos dez povos pré-colombianos.

As peças de ouro mostram reis que também são xamãs, capazes de voar sonhando, profetizar boas colheitas e espantar doenças. Havia caciques muito poderosos, como o zipa, cacique de Chia, que residia em Bacatá, e o zaque, que morava em Tunja. Todos respeitavam um chefe religioso maior, espécie de papa, em comparação com os reis europeus, que se chamava sugamuxi e usava ervas alucinógenas para fazer previsões e curas, com muitos relatos de “vôos para fora do

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corpo” (“projeção do corpo astral”, no dizer dos esotéricos modernos).

Uma das mais belas lendas da conquista espanhola surgiu justamente de uma má-interpretação de narrativas de europeus que puderam presenciar a cerimônia de homenagem ao sol feita com ouro pelos muícas: em lagos como o Guatavita, o cacique-rei embarcava nu coberto de ouro e pó num barco junto com seus sacerdotes. No meio da lagoa promovia uma dança ritual e ao mesmo tempo ia jogando jóias de ouro e esmeralda que os mais finos artesãos tinham demorado o ano todo para elaborar: “Da terra tiramos, da terra transformamos e à terra devolvemos como oferenda”, diz um rito. O povo reunido às margens do lago também atirava suas jóias. El Dorado, o homem de ouro que dançava numa jangada no meio de um lago, logo foi transformado pelos ouvidos europeus na lenda de uma cidade toda de ouro – perseguida ao longo dos séculos pelos aventureiros, talvez até hoje.

Cartagena e Ilhas

JÓIA COLONIAL NO MAR DO CARIBE

Uma das cidades históricas mais bonitas do mundo. Assim é Cartagena, cidade portuária da Colômbia, fundada em 1533 a mando do rei Felipe II da Espanha. Com 1 milhão de habitantes que misturam a cortesia dos argentinos com a simpatia dos baianos, o principal destino turístico colombiano foi o primeiro e principal porto do continente, servindo de escoadouro para os galeões carregados de ouro que por séculos singraram o Atlântico no rumo da Espanha. Dessa cidade, considerada a mais fortificada do mundo, saiu grande parte do ouro que mudou a história mundial, encerrando a Idade Média centrada na Europa em crise e dando início à Idade Moderna.

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O filósofo brasileiro José Américo Pessanha dizia que a descoberta da América pelos europeus só poderia ser comparada, hoje em dia, à descoberta de fontes imensas de riqueza em outro planeta. Isso se aplica principalmente aos espanhóis, que ficaram com a parte oeste do continente sul-americano, rica em ouro, prata, diamantes e esmeraldas. No Brasil, o ciclo do ouro e das esmeraldas não chegou a durar um século, enquanto na Colômbia se estendeu por séculos e o país ainda hoje é fornecedor mundial de esmeraldas de excelente qualidade.

Em Cartagena, a riqueza do ciclo do ouro e das pedras preciosas se expressa na solidez das construções. Boa parte da cidade é constituída pelo Centro Velho, cercado por 9 quilômetros de inexpugnáveis muralhas de pedra de três metros de espessura. Do lado de fora dos muros, na avenida que segue pelas praias, dispõem-se confortáveis hotéis de quatro e cinco estrelas, mais adiante, a parte suburbana da cidade.

A R$ 5 reais de táxi (5 mil pesos colombianos) de distância da área dos hotéis, centro velho de Cartagena parece uma miragem: a quantidade de ruas e casas em estilo renascentista espanhol com balcões de madeira primorosamente conservadas e limpas é tanta que nos sentimos transportados ao passado, a uma mistura de Ouro Preto e Parati, da era colonial brasileira, por exemplo. Mas Cartagena, tombada como patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, tem uma área histórica muito maior que qualquer cidade colonial brasileira, e muito mais bem-conservada.

Um passeio a cavalo de coche (carruagem) leva aos pontos turísticos mais famosos, como o Parque del Bolívar, as Igrejas San Pedro Claver e San Domingo, além do Hotel Santa Clara, onde funcionou o convento descrito no romance Do Amor e Outros Demônios, de Gabriel García Márquez. Além de uma bela casa, o escritor mantém na cidade a Fundación para um Novo Periodismo Iberoamericano, que promove cursos e seminários.

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Andar pelas ruas do Centro Velho de Cartagena, com seu centenário calçamento de pedra, significa visitar uma impressionante sucessão de muralhas, fortes, castelos, conventos, muitos deles museus, como o suntuoso Palácio da Inquisição, o claustro da Igreja San Pedro Claver e a Casa de la Aduana (Casa da Alfândega). Não à toa, um dos sobrados foi usado como cenário para o filme Queimada, de Pontecorvo.

A cidade se orgulha de sediar monumentos arquitetônicos de projeção universal, como o Castelo de São Felipe de Barajas, fortaleza colonial de pedra considerada a mais importante obra de engenharia militar do continente e que levou 121 anos para ser construída, “ao preço da fortuna de um rei”. Sem ela, entretanto, e apesar de suas magníficas muralhas, Cartagena provavelmente não teria resistido aos ataques dos piratas ingleses, que chegaram a investir contra a cidade com quase 200 navios e 30 mil homens em 1702. Um bom programa é agendar com alguma agencia de turismo uma visita a uma joalheria, como a Caribe, que fica na parte comercial da cidade. Lá é possível ver joalheiros trabalhando enfileirados como se fossem operários de uma ótica, alguns deles descendentes dos povos que no passado chegaram a ter todo o ouro da região, nunca lhe dando valor econômico, mas de oferenda. As joalherias costumam ter coleções de pedras brutas, permitindo que se perceba a importância da lapidação e da purificação. Pepitas de ouro, veios verdes de esmeralda tornam-se jóias quando certeiramente cortados em vários ângulos por brocas de diamante: um trabalho de artista.

À noite, Cartagena ferve, principalmente na parte antiga da cidade, dentro das muralhas, sobre as quais os casais namoram ao luar. Há bares e restaurantes para todos os gostos. Os bons restaurantes, como o La Olla CArtagenera, o Pasto Biche Steak Housze, La Fragata ou o Café Del Santíssimo, fecham entre 23h30 e meia-noite,

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pois as famílias são relativamente conservadoras (para se ter uma idéia, a novela global O Clone, que está sendo exibida no país, é proibida para 18 anos e só passa depois da meia-noite), embora as leis da Colômbia sejam bastante liberais para os padrões sul-americanos, permitindo, por exemplo, o porte de pequena quantidade de maconha para uso próprio. Apesar disso, o tráfico é reprimido e não domina a cidade por causa do elevado nível de educação de seu povo. Os índices de criminalidade são muito baixos. A nova polícia é honesta e eficiente e os aeroportos de todo o país possuem detectores de metal e equipamentos de raio X, o que diminuiu o trafico de drogas e aumentou a segurança.

Depois da meia-noite Cartagena mostra seu “lado proibido”, que os guias mais conservadores não recomendam aos turistas. As ruas voltam a se animar com barzinhos e inferninhos. Os horários dessas casas noturnas são os mais estranhos. Uma delas abre às 3h da madrugada. Rapazes distribuem para os homens folhetos com endereços pouco aconselháveis para quem não for em grupo. Uma das ocupações extras dos cafetões que abordam turistas nesses locais é indicar garotas de programa ou levá-los por um giro por outros inferninhos, mostrando os prédios históricos da cidade e contando lorotas em inglês capenga, como a de que o Rei da Espanha, Felipe II, teria vindo para Cartagena disfarçado atraído por uma cortesã. O cafetão mostra uma placa em espanhol que se refere a outro evento histórico e diz que na placa está contada essa lorota. Quem não lê espanhol até pode acreditar.

Mas o pior vem depois. Quando o turista tenta se despedir do malandro que se auto-oferece como “guia”, ele pede pagamento pelos serviços, sendo capaz de dramáticos apelos: ten dolars, please! Os bandidos de Cartagena, ao contrário dos das grandes cidades brasileiras, como São Paulo, por exemplo, evitam assaltar turistas, visto que a cidade vive do turismo, mas acabam usando rodeios para extorquir. “Eu jamais assaltaria uma pessoa e nunca seria capaz de matar uma pessoa para roubar-lhe a carteira ou um objeto. Fazer

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uma coisa assim não seria coisa de homem, seria covarde e eu não sou um covarde”, diz o malandro, indicando padrões de educação mais civilizados que os apresentados atualmente nas grandes cidades brasileiras.

A VIDA EXPLODE NA DIVERSIDADE DE PRAIAS E ILHAS

Apesar de já fazerem parte do Mar do Caribe, as praias de Cartagena são limpas, sempre com gente agradável (turistas de todas as partes do mundo, principalmente americanos e europeus), mas decepcionam para os padrões brasileiros. A areia é cinza e o mar tem tom escuro.

Mas quem quer praias no padrão das melhores brasileiras, como Jericoacoara ou Cabo Frio, também encontra tudo isso na Colômbia. As Ilhas de San Andrés, porto livre situado a 600 km do continente, em pleno Mar do Caribe, a 400 km da Jamaica, oferecem praias esplêndidas. Junto com sua vizinha, Providência, San Andrés, colonizada por ingleses e escravos (a ilha acabou cedida para a Colômbia em 1860 e sua população aderiu à Constituição colombiana), ostenta praias de areias branquíssimas, vegetação exuberante, fauna belíssima, com destaque para os pássaros coloridos, e águas límpidas que permitem ver o fundo do mar colorido por corais e habitado pelos mais variados peixes.

A população de San Andrés, de pele tostada e fala inglesa, é muito hospitaleira e o turismo já se impôs como atividade principal da ilha, antes utilizada como refúgio por piratas. É possível visitar um galeão resgatado do fundo do mar, andar de barcos semi-submergíveis, com vista panorâmica, navegar sobre recifes de coral num bote com fundo de vidro que permite ver o esplendor dos peixes tropicais e dos corais que ondulam na água cristalina.

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Uma das praias mais procuradas é Sound Bay, atraente por seu ar selvagem, como Cocoplum Bay (considerada uma das mais belas do Caribe) e Rocky Cay. O mergulho submarino também é uma das atrações de San Andrés e Providência, com mais de 40 lugares disponíveis, como Las Esponjas de Morgan, El Buque Hundido (“O Navio Afundado”), Las Cuevas, Coral View ou Blue Hole. Bem servida por dezenas de modernos e confortáveis hotéis (do sofisticado Aquarium Decameron ao Calypso Beach mais simples e ao moderníssimo Sunrise Beach), parques de observação de ecoturismo, centros de compras com isenção de impostos alfandegários, restaurantes de cozinha internacional (como o La Regata e o Niko’s Sea Club), danceterias e pontos para baladas (como as Discotecas Blue Deep e Extasis, e o Disco-Bar Tsunami) esse pedaço de paraíso começa a ser descoberto pelos turistas brasileiros.

Mais perto do litoral da Colômbia fica o arquipélago do Rosário, para onde de Cartagena são feitas excursões de um dia. O arquipélago constitui uma dos 47 parques ecológicos com finalidades de preservação da natureza espalhados pela Colômbia para dar mostras de sua grande biodiversidade, uma das maiores do mundo. As Ilhas do Rosário ficam a 45 km de Cartagena, de onde saem diariamente embarcações de turismo para até 50 passageiros, partindo do Muele (“ancoradouro”) de los Pegasos.

As Praias dessas ilhas não são tão bonitas como as de San Andrés, mas guardam uma riquíssima fauna subaquática, que vai desde 50 tipos diferentes de coral das mais caprichosas formas e cores, além de peixes os mais variados e coloridos, algas, esponjas, estrelas-do-mar, pepinos-marinhos, caramujos. É possível mergulhar de snorkel, sempre acompanhado de instrutores, ou até fazer cursos de mergulho. Outra atração das ilhas é o Aquário de San Martín, na ilha de San Martín de Pajares, onde se podem ver tartarugas-marinhas, tubarões-lixa e barracudas, além de aves marinhas, como pelicanos, garças e flamingos. A infra-estrutura é boa, com restaurantes, bares,

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piscina, área para estender redes e chalés (diária de 330 reais para duas pessoas).

Teyuna a cidade perdida

Em Teyuna, A Cidade Perdida da Colômbia, há formações estranhas. Pedras à beira de uma enconsta lembram pódios antigos, com quilômetros de extensão, mesmo no meio da selva.  Essas grandes estruturas permanecem como um testemunho silencioso das civilizações antigas, ou dos povos de Teyuna, em Sierra Nevada, na Colômbia. Conhecida como Ciudad Perdida, é uma das ruínas mais antigas na América Latina, tendo sido construída por volta do ano 800 d.C.   Conta a história que foi abandonada no período da conquista espanhola, e só foi novamente descoberta quando um grupo de ladrões de túmulos tropeçou num dos 1.200 degraus que formam o pódio da cidade antiga.  

Com o trabalho de arqueólogos, 170 dos terraços que formam Teyuna foram restaurados. De acordo com os kogui, que se auto intitulam descendentes culturais de Teyuna, os pódios eram estruturas que serviam como base para casas de madeira, e outras construções típicas daquela civilização.  

Em seu apogeu, Teyuna teria sido o grande centro da rede comercial

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da época. Hoje é ponto de paragem para turistas que buscam a natureza. Explorar o local completo leva cerca de 6 dias, caminhando. Todavia, descer as escadas leva apenas algumas horas. Além de conhecer as ruínas, o turista pode maravilhar-se com o belo passeio pela Sierra Nevada colombiana.  

O cenário é composto por áreas de avistamentos de animais selvagens, lagoas naturais que surgem em meio a floresta, e por parques de campismo devidamente estruturados, inclusive com camas com mosqueteiros.  

Apesar da questão da segurança na Colômbia, os passeios tem sido bem sucedidos nos últimos anos. Vale citar que em 2003 um grupo de trekking foi sequestrado por um grupo de rebeldes, mas depois disso o grupo paramilitar AUC auto declarou-se protetor daquela área.  

E com isso, basta pagar uma taxa extra juntamente com a taxa de turismo para estar devidamente protegido. Há, ainda, a presença do exército colombiano que patrulha a região de forma ativa, com o objetivo de garantir a segurança de quem passa pela atração histórica.  

Os arquitetos da cidade antiga podem ser considerados visionários no seu tempo quando da construção da estrutura, pois hoje pode ser usada para a aterragem de helicópteros. 

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Este detalhe acaba por ser perfeito para quem quer fugir dos passeios com a mochila nas costas. Na cidade de Santa Marta, pode-se organizar o passeio pelo meio de transporte aéreo.   O cuidado nesta viagem é a escolha do guia. Pechinche e pechinche, pois há muitos, e cobram preços variados. Para quem vai fazer trekking, a viagem é de 6 dias. Portanto, é o guia quem vai fornecer o alimento, e cozinhar as refeições, entre outros pormenores.  E quando chegar Teyuna, cansado e exausto da caminhada, vai deparar-se com um xamã simpático vigiando as ruínas, pronto para vendê-lo uma cerveja gelada, retirada de sua geladeira movida a gerador. (informações sobre Teyuna são do site http://www.clmais.com.br/turismo/31849/)