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Um paraíso com fartura e agroecologia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1123 Dezembro/2013 Ipubi Atravessar as dificuldades com o sorriso no rosto, na certeza de que dias melhores virão. Esse é o sentimento que sempre tomou conta de Dona Maria Eliete de Brito Leite, mais conhecida como Dona Preta, de 51 anos, e Seu Expedito Pereira Leite, de 53 anos. O casal tem 7 filhos e mora na Serra da Baixa, município de Ipubi, Sertão do Araripe, com apenas dois deles: Osana de Brito Leite, de 15 anos, e José Moacir Sobrinho Leite, de 13 anos. Os outros filhos casaram e deixaram a cidade há alguns anos. Casados há 31 anos, Dona Preta e Seu Expedito antes de viverem na propriedade de 15 hectares, moraram 4 anos na comunidade da Serra da Baixa II. Como sempre trabalharam na agricultura, a família optou por adquirir uma propriedade em condições melhores para investir no plantio da mandioca e então fazer farinha para vender. Naquela época, essa era a única fonte de renda. Durante 17 anos, a família morou numa casa pequena de poucos cômodos. Desde então, começaram a plantar caju. Segundo Dona Preta, a venda da castanha ajudava na despesa familiar. Ela ainda diz que na época das chuvas plantava algumas verduras para o consumo, pois horta sempre foi sua grande paixão. Há 9 anos se mudaram para a casa em que vivem atualmente. Para ter acesso à água, a família percorria 4 quilômetros até chegar em um barreiro. A rotina da família só mudou em 2008, ocasião em que ela foi beneficiada com uma cisterna de placa, capaz de armazenar 16 mil litros de água para beber e cozinhar, através do Programa Estadual de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (ProRural). “Com a cisterna a gente passou a beber uma água segura e saudável, então deixamos a água do barreiro só para roça”, conta Seu Expedito. Há algum tempo, o agricultor resolveu investir na apicultura e, assim, conseguiu acessar uma linha de crédito para comprar algumas caixas de abelhas e uma centrífuga. Em 2012, mesmo com a seca, o agricultor conseguiu produzir 200 quilos de mel.

Um paraíso com fartura e agroecologia

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O boletim de Dona Preta e Seu Expedito conta a experiência em quintais produtivos agroecológicos com o uso de água de chuva armazenada numa tecnologia do P1+2. Além da colheita farta e diversa, a família apostou no plantio de morangos na propriedade. A novidade, em pleno Sertão pernambucano, chama atenção dos visitantes. O casal comercializa o excedente da produção na Feira de Serrolândia, garantindo uma boa renda.

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Um paraíso com fartura e agroecologia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1123

Dezembro/2013

Ipubi

Atravessar as dificuldades com o sorriso no rosto, na certeza de que dias melhores virão. Esse é o sentimento que sempre tomou conta de Dona Maria Eliete de Brito Leite, mais conhecida como Dona Preta, de 51 anos, e Seu Expedito Pereira Leite, de 53 anos. O casal tem 7 filhos e mora na Serra da Baixa, município de Ipubi, Sertão do Araripe, com apenas dois deles: Osana de Brito Leite, de 15 anos, e José Moacir Sobrinho Leite, de 13 anos. Os outros filhos casaram e deixaram a cidade há alguns anos. Casados há 31 anos, Dona Preta e Seu Expedito antes de viverem na propriedade de 15 hectares, moraram 4 anos na comunidade da Serra da Baixa II. Como sempre trabalharam na agricultura, a família optou por adquirir uma propriedade em condições melhores para investir no plantio da mandioca e então fazer farinha para vender. Naquela época, essa era a única fonte de renda.

Durante 17 anos, a família morou numa casa pequena de poucos cômodos. Desde então, começaram a plantar caju. Segundo Dona Preta, a venda da castanha ajudava na despesa familiar. Ela ainda diz que na época das chuvas plantava algumas verduras para o consumo, pois horta sempre foi sua grande paixão. Há 9 anos se mudaram para a casa em que vivem

atualmente. Para ter acesso à água, a família percorria 4 quilômetros até chegar em um barreiro.

A rotina da família só mudou em 2008, ocasião em que ela foi beneficiada com uma cisterna de placa, capaz de armazenar 16 mil litros de água para beber e cozinhar, através do Programa Estadual de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (ProRural). “Com a cisterna a gente passou a beber uma água segura e saudável, então deixamos a água do barreiro só para roça”, conta Seu Expedito. Há algum tempo, o agricultor resolveu investir na apicultura e, assim, conseguiu acessar uma linha de crédito para comprar algumas caixas

de abelhas e uma centrífuga. Em 2012, mesmo com a seca, o agricultor conseguiu produzir 200 quilos de mel.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

Realização Apoio

Em 2010, a família de Dona Preta e Seu Expedito conquistou a cisterna-calçadão, uma das tecnologias do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). Caprichosa, Dona Preta gosta de experimentar e apostou no plantio do morango na propriedade. Por enquanto, a fruta é só para o consumo, mas ela diz que ajudou a dar vida ao quintal. “O meu sonho era produzir morangos, pois é uma fruta saborosa e depois da chegada da cisterna consegui realizar, além de que mudou a vida de todo mundo, pois meus filhos deixaram de comprar alimentos na feira”, revela.

Seu Expedito já participou de cursos e visitas de intercâmbio, e todo conhecimento adquirido foi compartilhado com a esposa. Hoje em dia, a família recebe muitos intercâmbios na propriedade, pois há muito para mostrar aos visitantes. “Sempre gostei de diversificar, de tudo eu planto um pouco”, explica Dona Preta. Para ela, o sucesso da produção são os morangos, pois os visitantes ficam entusiasmados com a novidade. A família faz uso da mistura do detergente, vinagre e sal nos cultivos. Os defensivos naturais combinados à cobertura morta garantem a umidade da terra por mais tempo e também diminuem a incidência dos raios solares.

Além das verduras, na propriedade também são encontradas frutíferas e plantas medicinais. O casal ainda cria porcos e galinhas de capoeiras. Há 2 anos a produção aumentou e a família começou a comercializar o excedente aos domingos, na feira do Distrito de Serrolândia. No início, os produtos eram levados em reservatórios plásticos e por isso levavam sol e poeira,

mas o casal foi perseverante, e com o apoio do Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), a família conseguiu uma barraca para vender uma variedade grande de hortaliças e leguminosas agroecológicas. “Os clientes nem esperam a gente terminar de arrumar os produtos na barraca, antes disso, eles já começam a comprar. Em menos de 4 horas, vendemos tudo. No dia que a gente falta, eles vão até a nossa propriedade atrás das hortaliças”, diz Seu Expedito.

A maior parte da renda da família vem da comercialização dos alimentos. Para o futuro, a família deseja investir cada vez

mais na propriedade. “Nosso sonho é adquirir uma estufa para produção e outra tecnologia de captação e armazenamento de água para ampliar a roça ainda mais”, finaliza Dona Preta.