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2. O MITO DO GRANDE AUSENTEOs que ficavam acordados pelas indeterminadas noites afora Tudo comeou h muito, muito tempo,diziam que o ibex no regressava nunca cabana num tempo em que os homens ainda no tinham memriapara de novo se transformar em homem.No entanto, no antepenltimo momento do dia seguinte, mas j tinham saudade.o homem voltava a aparecer no alpendre No caavam animais nem pescavam peixes,e o ritual repetia-se. alimentavam-se do ar e da luz que envolvia as grandes montanhas azuis. Trabalhavam ao sabor dos desejosUm dia, porm, o homem no apareceu: no milionsimo stimo e desejar era uma forma de arte,antepenltimo momento dos dias da sua apario. uma atitude esttica para com a vida e a morte.Em vez dele, surgiram um milho e sete ibexes,todos de um azul diferente. Na montanha mais azul havia uma cabana de madeira.Primeiro ocuparam o alpendre, Os povos da plancie entretinham-se em especulaes:depois o quintal volta, a floresta, o topo vivia ou no vivia nela algum?E toda a encosta at ao ltimo milmetro do sop. Jamais subiam a montanha, pois estavam convencidosLentamente, cada ibex dissolveu-se no azul gmeo de que tudo o que estava a mais de uma girafa do soloque havia na montanha: um milho e sete azuis. j no fazia parte do reino terreno.E os azuis rodopiaram e ondularam e ziguezaguearam Por isso, todos os pssaros eram mgicose fundiram-se num nico azul e os deuses, que ainda no tinham sido inventados,com a forma de um elefante colossal. contentavam-se com ser pssaros, nuvens e vento esse elefante que ocupa hoje o lugar da montanha. a ele que os povos da plancie chamam Os dias tinham ento um nmero varivel de momentos, O GRANDE AUSENTE. consoante a disposio anmica dos planetas.Desde ento, escrevem belos poemas azuis na areia Todavia, os investigadores vindouros descobriramque ciclicamente se apagam e regressam gravados em ncar. que no antepenltimo momentoDesde ento, sem saberem ao certo porqu, de cada um desses dias volveis e atemporaispelo menos uma vez na vida, se repetia um fenmeno no topo daquela montanha:escalam o Grande Ausente, tocam as nuvens, abrem as asas um vulto humano sentava-se no alpendree regressam a casa mais transparentes do que o vento Suy, 5/7/1991 e voltava os braos abertos na direco que os sbios diziam ter sido outrora o Poente.O Sol, que ento se mantinha habitualmente invisvel, apesar da limpidez e intensa luminosidade do cu, surgia de uma fresta do horizonte, descia sobre a montanha, Diego Rivera dissolvia-se lentamente no corpo do humano (1886-1957), que, com a mesma lentido, ia assumindo os contornosA Vendedora de Flores de um ibex castanho com reflexos cobreados. (pintor mexicano) O ibex descia do alpendre e desaparecia por entre a imensidade de azuis.