View
5
Download
2
Category
Preview:
Citation preview
Ningum nasce sabendo
Crnicas sobre a educao no sculo 21
Anna Veronica Mautner
NiNgum Nasce sabeNdocrnicas sobre a educao no sculo 21
Copyright 2013 by Anna Veronica MautnerDireitos desta edio reservados por Summus Editorial
Editora executiva: Soraia Bini CuryEditora assistente: Salete Del GuerraIlustrao de capa: Andrs Sandoval
Finalizao de capa: SpressProjeto grfico e diagramao: Crayon Editorial
Impresso: Sumago Grfica Editorial
Summus EditorialDepartamento editorial
Rua Itapicuru, 613 7o andar05006 -000 So Paulo SP
Fone: (11) 3872 -3322Fax: (11) 3872 -7476
http://www.summus.com.bre -mail: summus@summus.com.br
Atendimento ao consumidorSummus Editorial
Fone: (11) 3865 -9890
Vendas por atacadoFone: (11) 3873 -8638Fax: (11) 3873 -7085
e -mail: vendas@summus.com.br
Impresso no Brasil
Sumrio
Prefcio 7Apresentao 11
A escola hojeBullying A revolta dos injustiados 14Chega de ser trouxa 16Em defesa do perodo integral 18Errar mesmo humano? 20A escola moderna e a escola antiga 23A escola mudou 26Lio de casa: sinnimo de solido 29Matemtica de novo 31Que escola ensina melhor? 34Questo de preferncia 37Reunio como ponto de venda 40Seminrio bom para quem? 43
O papel do professorAprender 46Ensino e simpatia 49Educar frustrar 52O professor na berlinda 54Quem ensina a alfabetizar? 58Reprovao 61Senta e estuda 64
Corpo e sociedadeCad o trabalho manual? 68
Escolas... como sero? 72Mo: cada vez menos til, porm necessria 75Rabiscar para inovar 78Sem gnero 81Terapia ocupacional na escola 86
Famlia e escolaAprendizado 90Autoridade 93Do banal ao especial 96Famlia versus escola 100
Informao, tecnologia e comunicaoDizer, no ouvir, repetir... 104Do mouse ao rascunho 107Escola paraso 109A gripe e a educao online 112Saber virou dever 115Transmisso de cultura 118Vivncia real 122 Infncia e adolescncia margem da escola 128Adaptao 131Brincar e fazer de conta 134Primeiro ano primrio 137 Depois da escolaCriando um indivduo para o mundo 142Eis o homem. Qual? 145O mundo muda e viver continua sendo difcil 148Pela cultura do aprendiz 150
7
Prefcio
As crnicas aqui presentes esto reunidas por dois traos comuns: do ponto de vista do contedo, o estabele
cimento de contrastes entre o novo e o antigo; do ponto
de vista do estilo, o uso de frases assertivas, intercala
das por perguntas. O realce de um ou outro desses tra
os pode proporcionar dois tipos de leitura.
Por um lado, uma leitura mais ligeira tende a acen
tuar as tomadas de posio, isto , as afirmaes mais
fortes, encontrando nestas crnicas, principalmente, a
defesa do antigo e a denncia do novo. Ordem, dis
ciplina, bons modos, compostura, tradio, autoridade,
hierarquia so necessrios educao; desnecessrio
tudo que esbarra no falso democratismo; necessria
a aquisio dos instrumentos bsicos ler, escrever,
contar; necessrias so as caretices de antigamente
cpia, ditado, descrio. Um ngulo austero, quase con
servador, portanto. Ele reforado pelo uso frequente
de um vocabulrio nada brando: treinamentos e exerc
A n n A V e r o n i cA M Au t n e r
8
cios, preparao e instrumentao, prtica e esforo
so sustentculos de uma slida educao.
Por outro lado, uma leitura mais atenta mostrar que
nada to simples assim. Sombreando a clareza das afirma
es, insinuam se dvidas, flexionam se certezas, abrem
se alternativas, sugere se o novo. Nascem perguntas. A se
leo de algumas passagens, colhidas aqui e ali ao longo dos
textos, ilustra melhor do que qualquer comentrio:
Viso pessimista, diro os leitores. No. Creio
na mudana.
Inovar significa caminhar em terrenos des
conhecidos.
Peo colaborao. Mandem ideias.
Diante da mquina, a mquina o limite. Pe
rante nossa competncia, do rabisco em dian
te, o cu o limite.
A liberdade ldica o espao em que ocorre o
teste de si prprio.
Aquele que pode refletir, mudar de ideia, de
interesse, de atividade um indivduo livre.
Desse ponto de vista, no surpreendente que t
tulos de muitos textos tenham a forma de pergunta ou
que alguns deles se iniciem ou se concluam com uma
interrogao. E que, no meio deles, perguntas incidam
sobre frases afirmativas:
9
N i N g u m N as c e sa b e N d o
Ser que a mudana foi boa?
E dizem que criatividade e capricho no ca
sam. Quem prova isso?
Que humanidade nascer da vitria do in
dicador?
Estou defendendo o fim da escola? No. Es
tou defendendo formas livres de aprender.
Onde que os mestres aprendem a alfabetizar?
[...] que homem queremos formar? [...] e como
se forma o homem que pensa?
Se fizermos uma conjuno dos dois traos que
marcam a variedade dos escritos e dos dois modos de
leitura a que do lugar, compreenderemos quanto ex
pressiva a reunio de pares opostos presentes nos v
rios textos: liberdade e interdio; silncio e rudo; infor
mao e afeto; criatividade e capricho; esforo e prazer;
corpo e mquina; indicador (que clica o teclado da m
quina) e polegar (que pega, pina, dobra); virilidade e
doura; suavidade e fora; rigidez e flexibilidade; adap
tao e transgresso.
Compreenderemos mais. Se vasculharmos esta
obra, procurando por duas ou trs palavras menos re
correntes, talvez, mas capazes de constituir seu eixo,
encontraremos: impasse; encruzilhada; paradoxo. So
termos que apontam tenses ou uma confluncia de al
ternativas. No sugerem sadas. Assim como o mistrio,
A n n A V e r o n i cA M Au t n e r
1 0
que se acata mas no se decifra, tambm aqui no se tra
ta de resolver impasses, evitar encruzilhadas, dissolver
paradoxos, pois eles pertencem ao dia a dia da vida. Tra
tase, antes, de acolhlos, conviver com eles e descobrir
uma alegria nesse convvio. Ou, se quisermos, tratase
de um convite para celebrar, na educao como na vida,
certa liturgia do cotidiano. Concluamos com mais um
fragmento das palavras de Anna Veronica Mautner:
Uma vida feita s de prazer difcil, se no imposs
vel. Mas pensar em melhorar nos leva a manter um fun
do prazeroso que nos faz transmitir aos que nos seguem
uma sabedoria de bem viver, no s de sobreviver.
Salma Tannus Muchail
Professora titular do Departamento de Filosofia da Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo (PUCSP) e professora
emrita da mesma instituio
1 1
Apresentao
No nada simples organizar um livro escrito por Anna Veronica Mautner.
primeira vista, deveria ser fcil separar os textos
originalmente publicados na revista Profisso Mestre
e no caderno Equilbrio, da Folha de S.Paulo por te
mas e ento organiz los em blocos. Porm, quando se
mergulha nos escritos dessa mulher sbia e provocado
ra, se percebe que cada artigo contm uma riqueza de
ideias impossvel de conter num simples rtulo.
Anna Veronica no d receitas. No diz como nem
quando. Ao contrrio, trava com o leitor uma conversa
franca em que no faltam puxes de orelha. O objetivo
despertar a conscincia para discutir com seriedade a edu
cao que se pratica em nossas escolas e em nossas famlias.
A tecnologia vai suplantar a aptido fsica? Em que
medida a escola de hoje, mais moderna, melhor que
a de ontem, mais humana? Em tempos de politicamente
correto e das lutas por incluso, possvel trabalhar a
A n n A V e r o n i cA M Au t n e r
1 2
diversidade nas instituies escolares? Se aprender ta
buada chato, conseguiremos formar cidados capazes
de cuidar das prprias finanas? A autoridade em classe
mesmo uma ameaa? Estamos preparados para aco
lher a infncia em todas as suas nuanas ou preferimos
delegar a tarefa a qualquer um que se proponha a nos
tirar esse fardo dos ombros? Essas so algumas das
perguntas que a autora lana para os leitores.
Porm, ainda que no haja respostas prontas para
todas essas questes, reza a cartilha dos editores que
uma coletnea de artigos tenha algum tipo de fio condu
tor e certamente Anna Veronica aprovaria isso. Assim,
esta obra est organizada em sete grandes sees: A es
cola hoje, O papel do professor, Corpo e sociedade,
Famlia e escola, Informao, tecnologia e comunica
o, Infncia e adolescncia e Depois da escola. O
leitor perceber que essa diviso por vezes arbitrria,
visto que os temas com frequncia se misturam num
mesmo artigo o que por sua vez enriquece a leitura.
Destinado a pais e professores, este livro pretende
ser a pulga atrs da orelha de cada leitor. Seu objetivo
maior ampliar a discusso acerca de como estamos
educando nossas crianas e de que tipo de ser humano
desejamos formar. Esperamos que os textos aqui reuni
dos cumpram esse objetivo.
A editora
A escola hoje
1 4
Bullying A revolta dos injustiados
muito difcil tolerar o ser humano igual a mim, que tem todas as facilidades e limitaes que eu tenho e no faz o
esforo que eu acho que fao para vencer dificuldades
me refiro dificuldade de conviver em grupo.
Esforo para qu? A que est o xis da questo.
Para manter os grupos sociais dentro de certa harmo
nia e conforto psicolgico, dependendo da idade de
cada um de ns, exigido um rol de comportamentos
que mantm o equilbrio das relaes interpessoais,
permitindo a coeso do grupo. Se cada um de ns fizes
se o que quiser, na hora em que tem vontade, as tarefas
coletivas tornar se iam impossveis. Se numa sala de
aula no for mantida certa tranquilidade, a aprendiza
gem fica difcil.
A finalidade de os alunos estarem reunidos em
torno de um mestre que cada um receba um tanto de
conhecimentos novos. A presena de uma ou mais pes
soas impedindo a aprendizagem atrai a ateno do gru
1 5
N i N g u m N as c e sa b e N d o
po. Esse que quebra a rotina um heri, um lder ou um
chato. Se a maioria quer aprender e o que diverge no
percebe sua inadequao, ele chato. Se ele o nico
que tem coragem de expressar o descontentamento de
todos, heri. O chato a gente zoa, ridiculariza, maltra
ta. J o outro admirado.
A criana que atrapalha, no se manca, torna se
objeto da maldade dos outros. Se ela no consegue se
conter, ser reprimida pelos outros e sofrer.
importante notar que no se faz maldade, no
se faz bullying com o verdadeiramente deficiente. O
maneta, o perneta, o cego, o surdo no so zoados pe
los colegas.
As crianas so cruis, de fato elas podem ser. Mas
o so apenas diante do que sentem (pode at no ser de
verdade), que a falta de esforo do outro. Todo mun
do, todas as crianas usam a tal da fora de vontade
para conter certos comportamentos que no se ajustam
ao momento. Os que no fazem esse esforo fazem os
outros se sentirem injustiados.
Esse sentimento de ser injustiado que o malva
do tem um dos ingredientes das maldades que so
feitas com os menos dotados ou os que no mostram
suficiente fora de vontade.
uma reao a uma percepo de injustia que
estaria ocorrendo no grupo.
Recommended