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Ninguém nasce sabendo Crônicas sobre a educação no século 21 Anna Veronica Mautner

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  • Ningum nasce sabendo

    Crnicas sobre a educao no sculo 21

    Anna Veronica Mautner

  • NiNgum Nasce sabeNdocrnicas sobre a educao no sculo 21

    Copyright 2013 by Anna Veronica MautnerDireitos desta edio reservados por Summus Editorial

    Editora executiva: Soraia Bini CuryEditora assistente: Salete Del GuerraIlustrao de capa: Andrs Sandoval

    Finalizao de capa: SpressProjeto grfico e diagramao: Crayon Editorial

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  • Sumrio

    Prefcio 7Apresentao 11

    A escola hojeBullying A revolta dos injustiados 14Chega de ser trouxa 16Em defesa do perodo integral 18Errar mesmo humano? 20A escola moderna e a escola antiga 23A escola mudou 26Lio de casa: sinnimo de solido 29Matemtica de novo 31Que escola ensina melhor? 34Questo de preferncia 37Reunio como ponto de venda 40Seminrio bom para quem? 43

    O papel do professorAprender 46Ensino e simpatia 49Educar frustrar 52O professor na berlinda 54Quem ensina a alfabetizar? 58Reprovao 61Senta e estuda 64

    Corpo e sociedadeCad o trabalho manual? 68

  • Escolas... como sero? 72Mo: cada vez menos til, porm necessria 75Rabiscar para inovar 78Sem gnero 81Terapia ocupacional na escola 86

    Famlia e escolaAprendizado 90Autoridade 93Do banal ao especial 96Famlia versus escola 100

    Informao, tecnologia e comunicaoDizer, no ouvir, repetir... 104Do mouse ao rascunho 107Escola paraso 109A gripe e a educao online 112Saber virou dever 115Transmisso de cultura 118Vivncia real 122 Infncia e adolescncia margem da escola 128Adaptao 131Brincar e fazer de conta 134Primeiro ano primrio 137 Depois da escolaCriando um indivduo para o mundo 142Eis o homem. Qual? 145O mundo muda e viver continua sendo difcil 148Pela cultura do aprendiz 150

  • 7

    Prefcio

    As crnicas aqui presentes esto reunidas por dois traos comuns: do ponto de vista do contedo, o estabele

    cimento de contrastes entre o novo e o antigo; do ponto

    de vista do estilo, o uso de frases assertivas, intercala

    das por perguntas. O realce de um ou outro desses tra

    os pode proporcionar dois tipos de leitura.

    Por um lado, uma leitura mais ligeira tende a acen

    tuar as tomadas de posio, isto , as afirmaes mais

    fortes, encontrando nestas crnicas, principalmente, a

    defesa do antigo e a denncia do novo. Ordem, dis

    ciplina, bons modos, compostura, tradio, autoridade,

    hierarquia so necessrios educao; desnecessrio

    tudo que esbarra no falso democratismo; necessria

    a aquisio dos instrumentos bsicos ler, escrever,

    contar; necessrias so as caretices de antigamente

    cpia, ditado, descrio. Um ngulo austero, quase con

    servador, portanto. Ele reforado pelo uso frequente

    de um vocabulrio nada brando: treinamentos e exerc

  • A n n A V e r o n i cA M Au t n e r

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    cios, preparao e instrumentao, prtica e esforo

    so sustentculos de uma slida educao.

    Por outro lado, uma leitura mais atenta mostrar que

    nada to simples assim. Sombreando a clareza das afirma

    es, insinuam se dvidas, flexionam se certezas, abrem

    se alternativas, sugere se o novo. Nascem perguntas. A se

    leo de algumas passagens, colhidas aqui e ali ao longo dos

    textos, ilustra melhor do que qualquer comentrio:

    Viso pessimista, diro os leitores. No. Creio

    na mudana.

    Inovar significa caminhar em terrenos des

    conhecidos.

    Peo colaborao. Mandem ideias.

    Diante da mquina, a mquina o limite. Pe

    rante nossa competncia, do rabisco em dian

    te, o cu o limite.

    A liberdade ldica o espao em que ocorre o

    teste de si prprio.

    Aquele que pode refletir, mudar de ideia, de

    interesse, de atividade um indivduo livre.

    Desse ponto de vista, no surpreendente que t

    tulos de muitos textos tenham a forma de pergunta ou

    que alguns deles se iniciem ou se concluam com uma

    interrogao. E que, no meio deles, perguntas incidam

    sobre frases afirmativas:

  • 9

    N i N g u m N as c e sa b e N d o

    Ser que a mudana foi boa?

    E dizem que criatividade e capricho no ca

    sam. Quem prova isso?

    Que humanidade nascer da vitria do in

    dicador?

    Estou defendendo o fim da escola? No. Es

    tou defendendo formas livres de aprender.

    Onde que os mestres aprendem a alfabetizar?

    [...] que homem queremos formar? [...] e como

    se forma o homem que pensa?

    Se fizermos uma conjuno dos dois traos que

    marcam a variedade dos escritos e dos dois modos de

    leitura a que do lugar, compreenderemos quanto ex

    pressiva a reunio de pares opostos presentes nos v

    rios textos: liberdade e interdio; silncio e rudo; infor

    mao e afeto; criatividade e capricho; esforo e prazer;

    corpo e mquina; indicador (que clica o teclado da m

    quina) e polegar (que pega, pina, dobra); virilidade e

    doura; suavidade e fora; rigidez e flexibilidade; adap

    tao e transgresso.

    Compreenderemos mais. Se vasculharmos esta

    obra, procurando por duas ou trs palavras menos re

    correntes, talvez, mas capazes de constituir seu eixo,

    encontraremos: impasse; encruzilhada; paradoxo. So

    termos que apontam tenses ou uma confluncia de al

    ternativas. No sugerem sadas. Assim como o mistrio,

  • A n n A V e r o n i cA M Au t n e r

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    que se acata mas no se decifra, tambm aqui no se tra

    ta de resolver impasses, evitar encruzilhadas, dissolver

    paradoxos, pois eles pertencem ao dia a dia da vida. Tra

    tase, antes, de acolhlos, conviver com eles e descobrir

    uma alegria nesse convvio. Ou, se quisermos, tratase

    de um convite para celebrar, na educao como na vida,

    certa liturgia do cotidiano. Concluamos com mais um

    fragmento das palavras de Anna Veronica Mautner:

    Uma vida feita s de prazer difcil, se no imposs

    vel. Mas pensar em melhorar nos leva a manter um fun

    do prazeroso que nos faz transmitir aos que nos seguem

    uma sabedoria de bem viver, no s de sobreviver.

    Salma Tannus Muchail

    Professora titular do Departamento de Filosofia da Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo (PUCSP) e professora

    emrita da mesma instituio

  • 1 1

    Apresentao

    No nada simples organizar um livro escrito por Anna Veronica Mautner.

    primeira vista, deveria ser fcil separar os textos

    originalmente publicados na revista Profisso Mestre

    e no caderno Equilbrio, da Folha de S.Paulo por te

    mas e ento organiz los em blocos. Porm, quando se

    mergulha nos escritos dessa mulher sbia e provocado

    ra, se percebe que cada artigo contm uma riqueza de

    ideias impossvel de conter num simples rtulo.

    Anna Veronica no d receitas. No diz como nem

    quando. Ao contrrio, trava com o leitor uma conversa

    franca em que no faltam puxes de orelha. O objetivo

    despertar a conscincia para discutir com seriedade a edu

    cao que se pratica em nossas escolas e em nossas famlias.

    A tecnologia vai suplantar a aptido fsica? Em que

    medida a escola de hoje, mais moderna, melhor que

    a de ontem, mais humana? Em tempos de politicamente

    correto e das lutas por incluso, possvel trabalhar a

  • A n n A V e r o n i cA M Au t n e r

    1 2

    diversidade nas instituies escolares? Se aprender ta

    buada chato, conseguiremos formar cidados capazes

    de cuidar das prprias finanas? A autoridade em classe

    mesmo uma ameaa? Estamos preparados para aco

    lher a infncia em todas as suas nuanas ou preferimos

    delegar a tarefa a qualquer um que se proponha a nos

    tirar esse fardo dos ombros? Essas so algumas das

    perguntas que a autora lana para os leitores.

    Porm, ainda que no haja respostas prontas para

    todas essas questes, reza a cartilha dos editores que

    uma coletnea de artigos tenha algum tipo de fio condu

    tor e certamente Anna Veronica aprovaria isso. Assim,

    esta obra est organizada em sete grandes sees: A es

    cola hoje, O papel do professor, Corpo e sociedade,

    Famlia e escola, Informao, tecnologia e comunica

    o, Infncia e adolescncia e Depois da escola. O

    leitor perceber que essa diviso por vezes arbitrria,

    visto que os temas com frequncia se misturam num

    mesmo artigo o que por sua vez enriquece a leitura.

    Destinado a pais e professores, este livro pretende

    ser a pulga atrs da orelha de cada leitor. Seu objetivo

    maior ampliar a discusso acerca de como estamos

    educando nossas crianas e de que tipo de ser humano

    desejamos formar. Esperamos que os textos aqui reuni

    dos cumpram esse objetivo.

    A editora

  • A escola hoje

  • 1 4

    Bullying A revolta dos injustiados

    muito difcil tolerar o ser humano igual a mim, que tem todas as facilidades e limitaes que eu tenho e no faz o

    esforo que eu acho que fao para vencer dificuldades

    me refiro dificuldade de conviver em grupo.

    Esforo para qu? A que est o xis da questo.

    Para manter os grupos sociais dentro de certa harmo

    nia e conforto psicolgico, dependendo da idade de

    cada um de ns, exigido um rol de comportamentos

    que mantm o equilbrio das relaes interpessoais,

    permitindo a coeso do grupo. Se cada um de ns fizes

    se o que quiser, na hora em que tem vontade, as tarefas

    coletivas tornar se iam impossveis. Se numa sala de

    aula no for mantida certa tranquilidade, a aprendiza

    gem fica difcil.

    A finalidade de os alunos estarem reunidos em

    torno de um mestre que cada um receba um tanto de

    conhecimentos novos. A presena de uma ou mais pes

    soas impedindo a aprendizagem atrai a ateno do gru

  • 1 5

    N i N g u m N as c e sa b e N d o

    po. Esse que quebra a rotina um heri, um lder ou um

    chato. Se a maioria quer aprender e o que diverge no

    percebe sua inadequao, ele chato. Se ele o nico

    que tem coragem de expressar o descontentamento de

    todos, heri. O chato a gente zoa, ridiculariza, maltra

    ta. J o outro admirado.

    A criana que atrapalha, no se manca, torna se

    objeto da maldade dos outros. Se ela no consegue se

    conter, ser reprimida pelos outros e sofrer.

    importante notar que no se faz maldade, no

    se faz bullying com o verdadeiramente deficiente. O

    maneta, o perneta, o cego, o surdo no so zoados pe

    los colegas.

    As crianas so cruis, de fato elas podem ser. Mas

    o so apenas diante do que sentem (pode at no ser de

    verdade), que a falta de esforo do outro. Todo mun

    do, todas as crianas usam a tal da fora de vontade

    para conter certos comportamentos que no se ajustam

    ao momento. Os que no fazem esse esforo fazem os

    outros se sentirem injustiados.

    Esse sentimento de ser injustiado que o malva

    do tem um dos ingredientes das maldades que so

    feitas com os menos dotados ou os que no mostram

    suficiente fora de vontade.

    uma reao a uma percepo de injustia que

    estaria ocorrendo no grupo.