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Populações e Territórios

Prof. Doutor Miguel PadeiroProfessor Auxiliar

Universidade de Coimbra

(2) Evolução e distribuição da população mundial:

teorias da população

Introdução às teorias da população

Teorias da população

• Questão central do número de seres humanos: somos demasiados?• Devemos favorecer, impedir, ou deixar evoluir o crescimento demográfico?

O que é uma teoria?

Causas

Factores explicativos

Efeitos

Consequências

Observação

Evolução da população

Permite fazer previsões

Teorias da população

• Os primórdios: teorias mercantilistas e militares

• O crescimento populacional é essencialmente benéfico

• O bem social é medido através da riqueza e da potência do Estado-Nação

• A população é fonte de receitas públicas, maior produção de riqueza, poder

militar, forças de colonização

Teorias da população

Schumpeter

“A numerous and increasing population was the most important symptom of wealth; it was the chief cause of wealth; it was wealth itself—the greatest asset for any nation to have.”

Thomas Jefferson

“Population is power”

Florença em 1493, ilustração na Schedel'schen Weltchronik

Importantes efectivos populacionais frequentemente associados à prosperidade económica

Teorias da população

Optimistas: perspectiva de Boserup

Pessimistas: perspectiva de Malthus

Malthusianismo

Neo-malthusianismo

Perspectivas equilibradas: gestão de

recursos, economia circular, economia verde

A teoria malthusianaPessimismo e limitação dos nascimentos

Teoria malthusiana

• Thomas Robert Malthus (1766-1834)• Clérigo e economista inglês

Teoria malthusiana

Quantidade

População

Crise malthusiana

Produção alimentar

Tempo

Essay on Population (1798)

Teoria malthusiana

• A lei dos rendimentos decrescentes

• O aumento da população, tendo em conta recursos fixos, conduz a uma diminuição da

produção per capita.

• Podem surgir algumas inovações: rotação das culturas, armazenamento das sementes

para utilização futura, melhorias da fertilização das terras, uso do metal em complemento

da madeira…

• Permitem temporariamente aumentar a produção, mas rapidamente o crescimento

populacional absorve os ganhos: o aumento da população acelera e necessita ainda

mais recursos alimentares

Teoria malthusiana

• Relação insustentável, que se reequilibra esporadicamente através de:

• Sistemas de controlo positivos: fome, doenças/pragas, guerras, emigração

• Sistemas de controlos voluntários: celibato, adiamento da idade do casamento,

práticas naturais que reduzem os nascimentos

Teoria malthusiana

• Os 4 grandes princípios do modelo malthusiano:• O recurso primário é a alimentação. Se for raro, a mortalidade aumenta, o

aumento da população abranda ou inverte-se, o equilíbrio fica restabelecido

• A lei do rendimento decrescente é inevitável. Procurar novas terras e intensificação dos cultivos acrescenta ganhos cada vez mais pequenos face ao esforço dispendido

• Os aumentos de produção ou produtividade, resultantes da inovação, providenciam apenas ganhos temporários, que depois são compensados por mais crescimento populacional, e não se traduzem em mais bem-estar para toda a população

• A consciência do ciclo negativo da população e os sistemas de controlo positivos (“positive checks”) podem ajudar a população a ser mais contida

Teoria malthusiana

+ : correlação positiva = quando um aumenta, o outro também aumenta

- : correlação negativa = quando um aumenta, o outro diminui; quando um diminui, o outro aumenta

O sentido da seta indica a direcção causa - efeito

(Homer-Dixon, 1999)

Escassez / penúria

Disponibilidade de

recursos

Procura total (equivale à

população total)

Críticas à teoria de Malthus

(i) A história da Europa occidental acabou por desmentir as previsões de Malthus: a população não cresceu ao ritmo que ele prevera. Por outro lado, a produção aumentou de forma significativa graças aos avanços tecnológicos.

Em consequência, os padrões de vida melhoraram em vez de piorar como Malthus anunciava.

Aumento dos rendimentos

agrícolas, aumento da produção de

riqueza, diminuição da mortalidade

infantil.

Até agora, tendem a

contradizer a perspectiva de

Malthus.

Críticas à teoria de Malthus

(ii) Malthus partia do princípio que a produção alimentar não iria progredir ao mesmo ritmo que a progressão da população, devido à lei dos rendimentos decrescentes. No entanto, os avanços tecnológicos e a acumulação de capital permitiu grandes investimentos e adiou a fase dos rendimentos decrescentes. Com o uso de fertilizantes químicos, sementes, maquinaria, tractors, a produção agrícola aumentou significativamente.

Na maior parte dos países avançados, a produção alimentar excedeu o aumento populacional.

A produção também pode crescer exponencialmente (inovação, I&D), e fê-lo: a economia cresce 2%/ano => exponencial

Críticas à teoria de Malthus

(iii) Malthus comparava o crescimento populacional com o aumento da produção de alimentos apenas. Estávamos em finais do século XVIII: população a aumentar, salários a diminuir, agricultura como actividade dominante, alimentação como 1º posto de despesas das famílias

Não considerou outros tipos de produção (emergentes na altura): a Inglaterra não sofreu nenhuma crise alimentar porque recorreu a outros recursos oriundos da industrialização: carvão, aço, ferro; indústrias novas (minas, navios, redes ferroviárias), produção de bens para exportação, o que permitiu aumentar capitais e importar alimentos.

Críticas à teoria de Malthus

(iv) O malthusianismo pode ser recuperado pelo discurso contra reformas sociais

Aumento de rendimentos

Pressão sobre os recursos

Recursos em diminuição

Mais nascimentos

Maior mortalidade

Agravamento das condições de vida, económicas, sociais

Resultado: a pobreza aparece como inevitável, o

que justifica que nunca se aumentem os salários

Crítica à teoria de Malthus

(v) Não previa a queda das taxas de natalidade - de 40 a menos de 10‰ desde 1800

Malthus, enquanto pastor, seria contra os métodos contraceptivos artificiais e não previa que os

mesmos viessem a afirmar-se

No Século XVIII, os níveis de fecundidade eram essencialmente controlados pelo casamento e não

por escolhas conscientes

Considerava a reprodução humana como um mero reflexo natural. Na verdade, não constitui

apenas um instinto natural, é também fortemente influenciado por factores culturais e económicos

A

Um exemplo: a Great Irish

Famine (1845)

1/3 da população depende do

cultivo da batata

Fungo phythophtera infestans

Destrói praticamente todos os

cultivos entre 1845 e 1848

https://youtu.be/M8Rbj7H0eX4

A

A

Fome irlandesa 1845-1848:

1 milhão de vítimas

1/8 da população irlandesa

Fome irlandesa 1845-1848:

1 milhão de vítimas

1/8 da população irlandesa

Fome irlandesa 1845-1848:

1 milhão de emigrantes no período da

grande fome

A emigração perdurou durante as

décadas que se seguiram (mais 2

milhões)

Principalmente América do Norte,

Austrália, Inglaterra

1845 (antes da crise): 50 mil pessoas saíram

1846: 100 mil

1847: 250 mil

1848-1852: em média 200 mil por ano

A

Muitos viram na fome irlandesa uma

crise malthusiana

Mas… o que poderia o governo britânico fazer?

- no caso de ser de curto prazo: importar alimentação, trigo + subsidiar a

população que está sem rendimentos?

- no caso de ser de longo prazo, apoiar a emigração?

O governo britânico opta por não intervir.

Neo-malthusianismo

•Perspectiva mais recente que retoma no essencial as ideias de Malthus• Com maior foco nas emissões de CO2 e outros, poluição do

mar, redução da biodiversidade, degradação das terras (erosão)

• Não só a população mundial não deveria aumentar, como os padrões de consumo também devem diminuir

A teoria de BoserupOptimismo e inovação técnica

Os primórdios

Já no século XVIII, Condorcet afirma:

“Novos instrumentos e máquinas podem aumentar a força do homem e melhorar a qualidade e a precisão das produção, e ao mesmo tempo diminuir o tempo e a quantidade de trabalho necessários” (…)

“Passará a ser necessária apenas uma pequena quantidade de terra para produzir grandes quantidades de produtos”

Condorcet (1743-1794)

Teoria de Boserup: a perspectiva optimista

• Ester Boserup (1910-1999)• Economista dinamarquesa

• Trabalhou muitos anos em países em desenvolvimento, onde a natalidade aumentava apesar do baixo acesso aos recursos alimentares

• No seu livro ‘The Condition of Agricultural Growth’ (1965), refuta a hipótese de Malthus de que a quantidade de alimentos disponíveis limita o crescimento da população

Teoria de Boserup: a perspectiva optimista

• Crescimento demográfico estimula o génio humano e a inovação, os quais eliminam as desvantagens associadas aos recursos limitados

Aumento da população

Aumento da produção e dos

lucros

Economias de escala

Progresso técnico

Desenvolvimento económico e melhoria das condições de vida

Resultado: A reduzida qualidade das terras podem

estimular inovações, trabalho e investimento

Teoria de Boserup: a perspectiva optimista

Escassez / penúria

Disponibilidade de

recursos

Procura total (equivale à

população total)

Qualidade das

Instituições, Políticas

e Tecnologias

A produção de alimentos acompanha o aumento

da população, ao contrário do que diz Malthus.

A produção de alimentos acompanha o aumento

da população, ao contrário do que diz Malthus.

Teoria de Boserup: a perspectiva optimista

• Os mercados induzem inovação; escassez de materiais não renováveis estimulam a procura de soluções de substituição, conservação e maior eficiência: os recursos são apenas limitados pela capacidade humana de os inventar

• É hoje a postura predominante do Banco Mundial e de outras agências de desenvolvimento

Afinal, quem tem razão?

• Um século depois de Malthus escrever o Ensaio, a Inglaterra tinha população x4 e os rendimentos tinham aumentado

• O crescimento demográfico tende a causar inovação técnica

• O uso do fogo, a domesticação do animal, a invenção da agricultura permitiram sustentar uma população mais numerosa

• O crescimento demográfico está na origem da Revolução Industrial

• Por mais técnica que se possa inventar, não se pode expandir os recursos fixos (espaço, terras aráveis, elementos naturais)

• É notório o declínio de várias espécies: extinções ou quase extinções (bacalhau no Atlântico Norte nas décadas de 1990 e 2000, com recuperação recente)

Boserup? Malthus?

https://youtu.be/FACK2knC08E

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