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psicologia
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UnP - UNIVERSIDADE DE POTIGUAR
ALQUIMY ART
Curso de Especializao em Arteterapia
DESCOBRINDO O EU INTERIOR EM ARTETERAPIA - O ADOLESCENTE:
Evoluo e Vivncias Arteteraputicas
Maria Lcia Teixeira Mainardi
BELM 2005
MARIA LCIA TEIXEIRA MAINARDI
DESCOBRINDO O EU INTERIOR EM ARTETERAPIA - O ADOLESCENTE:
Evoluo e Vivncias Arteteraputicas
Monografia apresentada Universidade Potiguar, RN e
ao Alquimy Art, de So Paulo como parte dos requisitos
para obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia.
Orientadora: Professora MsC. Deolinda Florim Fabietti.
BELM 2005
UnP Universidade Potiguar Alquimy Art
Pr Reitoria de Educao Profissional
DESCOBRINDO O EU INTERIOR EM ARTETERAPIA - O ADOLESCENTE:
Evoluo e Vivncias Arteteraputicas
Monografia apresentada pela aluna Maria Lcia Teixeira Mainardi ao Curso de
Especializao em Arte Terapia em ___/___/____ e recebendo a avaliao da banca
examinadora constituda pelos professores:
____________________________________ Profa. MsC.Deolinda Florim Fabietti - Orientadora _____________________________________ Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini Coordenadora da Especializao
_____________________________________ Profa. Bia Ribolla Leitora Crtica.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me deu o dom da inteligncia, permitindo-me chegar Ps-Graduao, me fazendo acreditar em meu potencial e por ter me dado habilidade suficiente para o exerccio simultneo dos papis de me, av e estudante;
A Profa. MsC Deolinda Florim Fabietti, por fazer o possvel para orientar- me, mesmo distncia;
A Profa. Dra. Cristina Allessandrini, que no mediu esforos para orientar neste processo de construo e reconstruo do meu desenvolvimento intelectual em Arteterapia;
A Psicloga e co-orientadora Eliane Almeida, amiga e mediadora de nossas dvidas;
A Psicloga e Terapeuta, amiga Karina Coelho, ouvinte dos problemas existenciais; amiga e Profa. Meire Torres.
Ao Vilson, meu marido, que me deu apoio no decorrer dos dois anos;
Aos meus filhos, Mrcia, Marcondes; Liliam e Dedei (In memoriam);
Aos meus netos Monzs e Camila, presentes que Deus me deu;
Aos meus colegas, que sempre foram acolhedores e ternos comigo;
A todos os professores da especializao em Arteterapia;
A todos que contriburam direta e indiretamente para que eu cumprisse mais esta etapa de minha vida.
A minha me Martinha, por ter se abdicado de vrios sonhos em favor dos meus;
Ao meu esposo Vilson, pelo companheirismo, pacincia e tolerncia;
Aos meus filhos Mrcia, Liliam e Marcondes por terem grande pacincia e pelo amor incondicional;
Ao meu filho Monzs (in memorian) que mesmo na ausncia fsica se presentifica espiritualmente no meu cotidiano, pois o amor jamais morre.
A arteterapia caminho novo ao encontro do invisvel ao visvel, das cores que falam da harmonia ou desarmonia, da veracidade de fatos internos e externos. (MAINARDI, Lcia, 2005)
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo compreender o adolescente, a sua evoluo e vivncias, por meio da Arteterapia. Um dos instrumentos utilizados foi o estgio, no qual pude me inserir neste contexto, utilizando a Arte como mediadora no processo de construo e compreenso do universo desses sujeitos. Portanto, este estudo uma descrio do alcance e do limite da Arte, como procedimento facilitador durante as Oficinas Criativas, aplicadas aos jovens e adolescentes no desenvolvimento do seu potencial criativo, afetivo e cognitivo, re-significando a sua
viso de mundo, revelada formalmente nas expresses com desenhos, pinturas e modelagens, tendo como suporte terico os autores: Allessandrini (1999), Ferguson (1980), Jung (1977), Pain (1977), Tiba (2002), Winnicott (1989), dentre outros. O resultado obtido foi a produo das informaes descritas e anlise do processo evolutivo e criativo, por meio das observaes durante as aes desenvolvidas.
PALAVRAS-CHAVES: Adolescentes Arteterapia Evoluo Vivncias Oficinas Criativas - Arte
ABSTRACT
This monograph has objective to understand the youth, its evolution and experiences, by means of the Art therapy. One of the used instruments was the period of training, in which I could insert me in this context, using the art as mediating in the construction process and understanding of the universe of these citizens. Therefore, this subject is a description of the reach and the limit of the art, as facilitator procedure during the creative workshops, applied to the young and youth in the development of its creative potential, affective and cognitive, changing its vision of world, disclosed formal in the expressions as drawings, paintings and modeling, having a support theoretician the authors: Allessandrini (1999), Ferguson (1980), Jung (1977), Pain (1977), Tiba (2002), Winnicott (1989), amongst others. The gotten result was the production of the described information and analysis of the evolutive and creative process, by means of the comments during the developed actions.
KEY WORDS: Youth Art Therapy Evolution Experiences Creative Workshops - Art
SUMRIO
I - A TRAJETRIA: MEU ENCONTRO COM A ARTETERAPIA (CONSIDERAES PRELIMINARES).................................................................11
II - A TRANSIO DO
ADOLESCENTE...............................................................18
III - O QUE ARTETERAPIA?..............................................................................23
IV - ENTENDENDO O CONTINNUM DAS TERAPIAS EXPRESSIVAS
(Expressive Terapies Continnum- ETC) ............................................................... .28
V - TRAANDO O ATELIER TERAPUTICO ....................................................29
VI - LAOS DE AMIZADE..................................................................................33
VII - DESCOBRINDO A SI MESMO NO PR-VIDA..............................................37
VIII - PROCESSO CRIATIVO E TERAPUTICO NO VITRAL DE PAPEL.......39
IX - VIVNCIA CORPORAL - CAMINHAR PELA SALA SE PERCEBENDO NESTE
AMBIENTE.......................................................................................43
9.1 Vivncia: Painel de
Apresentao..................................................................43
X- SOMOS PARTE DO TEMPO E HORIZONTE EM EVOLUO CONSTANTE...
(CONSIDERAES FINAIS).................................................................................47
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................................52
ANEXO.................................................................................................................. 53
11
I - A TRAJETRIA: MEU ENCONTRO COM A ARTETERAPIA
A arte o nico domnio em que a onipotncia das idias se manteve at nossos dias. S na arte ainda acontece que um homem, atormentado por desejos, realize algo que se assemelhe a uma satisfao; e, graas iluso artstica, este jogo produz os mesmos efeitos afetivos, como se fosse real. com razo que se fala da magia da arte e que o artista comparado a um mgico. (FREUD apud FIOREZZI, 2004, p. 15)
Relutncia. Esta palavra que poderia sintetizar o meu primeiro contato com o
caminho Arteteraputico. O convite partiu de uma colega de turma, durante uma aula
de graduao em Artes Visuais e Tecnologia da Imagem da Universidade da
Amaznia - UNAMA. O fato de se tratar de uma Especializao que tinha referncia
em Arteterapia deixou-me em dvida por ainda estar cursando o terceiro ano do
curso j citado. Na semana seguinte resolvi enfrentar a dvida e comear o curso.
Na data prevista me dirigi ao local onde estava sendo realizado o curso, cheia
de curiosidade e medo sobre o que encontraria. Apresentei-me professora e
expliquei que havia perdido o primeiro mdulo, mas que na primeira oportunidade o
faria. Neste segundo mdulo fui muito bem recebida pelos colegas e, graas a Deus,
no tive dificuldades na adaptao essa nova realidade.
A partir do momento em que entrei para o grupo, tudo passou a ter uma
conotao diferente, seguindo as vivncias e as experincias de cada mdulo, como
uma descoberta do meu eu interior, transformando-me na personagem principal da
Arteterapia, mergulhando em minhas origens simblicas e na codificao dos outros
como se fosse meu prprio cdigo.
Neste segundo mdulo O Desenvolvimento do Grafismo: Arte & Linguagem
Visual, consegui desenvolver um maior entendimento e acompanhar as atividades
que estavam sendo ministradas naquele dia. A leitura da ementa propiciou-me a
noo de como se encaminharia o curso: o processo de construo da
representao grfica, as caractersticas de cada etapa, a relao do grafismo com
outras atividades, o desenho no diagnstico e na interveno teraputica, as
diferentes qualidades de traos, dentre outros.
12
Partindo do fragmento de um desenho, fiz uma releitura que denominei de
Corao. Ainda neste segundo mdulo, senti uma leve dificuldade de organizao
mental, mas depois dei vazo minha intuio, para que formasse um carter,
informal e descontrada. Ao desenhar o corao utilizei a cor verde, vermelha e azul
como pontos fortes. A figurativizao deu personalidade energia criadora, me
revelando os conflitos existenciais que, de certa forma, intimidam a busca criativa ou
do primeiro trao. Mas vencendo a timidez, expandi a sensibilidade dentro do
processo da histria a ser descoberta.
A sensibilizao estimula as cores internas que esto armazenadas no
consciente. O corao um elemento de transformao do ser humano e por ele
que emerge o calor do amor na vida das pessoas. Durante essa trajetria fiz muitas
descobertas, principalmente quando em relao aos medos que sentia do novo.
Extrair o mago da observao das vivncias um desafio metamorfsico,
mergulhando nas profundezas do mar interior, nas busca pelo fascnio que a forma
abstrata oferece intimidade no processo de transformao.
Neste contexto, pude compreender a construo das idias da viso interior e
da exteriorizao, trazendo conscincia o ato dos procedimentos e, ao mesmo
tempo, a sensao da concluso de algo que sempre quis vir tona e faltava
oportunidade para exteriorizar. Foi como um despertar interior que envolveu toda
uma espera de vinte anos e que se processou nos dois momentos da graduao e
da Especializao em Arteterapia, como se um estivesse esperando pelo outro para
o cumprimento de um dever esquecido que foi sendo retomado.
Vivenciar as experincias com o grupo foi como estar me ajustando ao cu, ao
sol, a lua e as constelaes, comeando de novo todos os recortes que
aconteceram nos estudos e na vida, tornando o objetivo real e maior. Hoje, tenho
certeza de que, pouco a pouco, os recortes se uniram num s feixe de luz que se
propagou no autoconhecimento.
Os feixes de luz visualizados em tons fortes e linhas paralelas representam o
equilbrio e, simbolicamente, essas linhas significam a identidade profissional, as
13
impresses digitais da base da formao vocacional, a responsabilidade em lidar
com o ser humano e seus medos.
Ao longo do percurso desses dois anos de Especializao em Arteterapia me
descobri e perdi muitos medos que se acumularam em todas a fases de minha vida:
desde a infncia at minha vida adulta. Foi perpassando por vivncias que fui
eliminando etapas que no mais me pertenciam, aparando arestas e reconstruindo
momentos expressivos que me marcaram e me curaram.
Dentre os medos, existia um que me perturbava h muitos anos: falar em
pblico. E foi compartilhando momentos de vivncia na Especializao em
Arteterapia e na graduao que estudava em paralelo, que tive a oportunidade de
rever valores que eu mesma desconhecia como potencialidade criativa, tica e
disciplina.
Para Diskin (apud MIGLIORI: 1998 p. 86) valores e tica so:
Os valores humanos so os fundamentos ticos e espirituais que constituem a conscincia humana. Os valores tornam a vida algo digno de ser vivido e permitem constatar que no somos superanimais, mas seres supraconscientes.No se faz necessrio tentar descobrir novos valores, mas perceber que eles so inerentes a ns e pratic-los. A sobrevivncia do mundo e da espcie humana depende do despertar para os valores humanos e do nosso compromisso com a tica.
Passei por todos os nveis de descobertas, ou seja, pelas funes do
imaginrio desses diferentes nveis at os valores que se acumularam ao longo da
especializao: os bons valores e os que classificamos como no bons. Dentre
estes, o de que ns, em alguns momentos, no sabemos ouvir o outro, o que fez
com que vivesse as interaes no grupo com muita intensidade e interesse e
aprendesse a ouvir as transformaes na trajetria percorrida.
A intensidade e a integrao vividas na trajetria deram embasamento e
segurana para o futuro estgio, descortinando um processo em que o ver, o sentir e
o ouvir seriam os pontos focais de um trabalho denso e importante no aprendizado
de uma futura arteterapeuta.
14
Partindo das vivncias nas Oficinas Criativas, em que a sensibilizao
discorreu para um encontro formal e agradvel comigo mesmo, aprendi um pouco
sobre a sensibilidade da pessoa interna. A expresso livre foi um momento de
pensamento ou de idia de criao, elaborando expressamente, transpondo, por
meio da escrita, a sntese do processo criativo, verbalizando e enfocando as
qualidades. Aprendi que um arteterapeuta no ensina ou conduz a uma resposta,
mas d condio para que a pessoa atendida elabore sua prpria resposta.
A Arteterapia, no sentido geral, no objetiva o trabalho da beleza esttica.
Porm, tem sentido experimental e extravasador, passando por momentos em que j
se conversou bastante sobre si para, a seguir, oferecer o material para que a pessoa
experimente: desde o mais denso at o mais sutil. Esses materiais se constituem
numa fonte de valores expressivos que compem os fios que tecem as tramas das
experimentaes necessrias s investigaes e conhecimento de si mesmo.
Considerando Salles (1998 p.156):
Quando se convive com documentos de processo, conseguimos nos aproximar da intrincada trama de motivos que envolvem a experimentao. Muitas dessas possibilidades, aqui apontadas, se entrelaam em uma rede de relaes. Mais de um motivo pode estar e quase sempre est interferindo no ato de decidir. O mtodo de investigao na arte tem certamente mais que uma caixa com muito mais de doze chaves. O processo de criao, como processo de experimentao no tempo, mostra-se, assim, uma permanente e vasta apreenso de conhecimento.
Desse modo, as trajetrias foram situando paradas e reflexes que perpassam
pela percepo que representa o momento de nossas vivncias, das horas que
correspondem ao presente. E neste presente o processo de criao envolvido pela
intensidade da sensibilizao interna e externa.
O estgio foi um dos percursos de extraordinria funo, pois permitiu a
observao do comportamento e o abrao responsabilidade com o outro,
conduzindo-me a uma pesquisa profunda, sobretudo, das expresses lgicas dos
adolescentes.
15
O silncio uma das formas que transitam por este estudo, no qual capto as
possveis transformaes das pessoas atendidas. Vivenciei este momento,
apreciando o desvelamento, o trabalho exercido, a minha funo como
arteterapeuta. Neste trajeto do silncio, fazendo parte de uma dupla, parti com toda
a energia possvel, a fim de realizar o trabalho e dele extrair lies de vida e
experincia em relao projeo vocacional de arteterapeuta.
Transitar por este processo de aprendizado foi gratificante, pois no apreendi a
conhecer somente os outros por meio das atividades, mas a me conhecer enquanto
pessoa, destravando-me, experienciando alguns momentos de recolhimento e
anlise de mim mesma. O estgio foi uma fonte de pesquisa e de descobertas, no
da quantidade, mas da qualidade nas relaes humanas.
Concluo a esta etapa de minha trajetria, tendo certeza dos indicadores de
mudana que a acompanharam, sempre pontuando as fases vivenciadas em todos
os mdulos, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo em Arteterapia. Na
trajetria e no estgio o estudo foi de cunho qualitativo. O objetivo geral do estudo
foi o de compreender o processo de evoluo do adolescente em todas as
fases das vivncias e suas articulaes com projees de imagens que trazem
elementos de seu universo pessoal.
Zamboni (1988) explica que uma das principais caractersticas de uma
pesquisa o grau de conscincia intelectual do autor sobre seu objeto de estudo e
processo de trabalho; a forma que o pesquisador ir encontrar para formatar suas
pesquisas, as mincias prprias de orientaes e conceitos.
Afirma que em qualquer atividade humana a pesquisa, enquanto processo, no
somente fruto racional; o que racional a conscincia do desejo, vontade e a
predisposio para isso. No o processo em si que intercala o racional e o intuitivo,
mas a busca comum em solucionar algo.
Neste sentido, este estgio se direcionou ao desenvolvimento de adolescentes
por meio da arteterapia, solicitando o detalhamento de vivncias e das elaboraes
16
expressadas nos desenhos, pinturas, recortes, colagens e trabalhos com argila,
fundamentalmente, no que concerne a certos tipos de materiais e suas articulaes.
Esta monografia se enquadra como investigao qualitativa, conforme Bogdan;
Bicklem (1994), por se tratar da compreenso e evoluo do adolescente atravs da
Arteterapia e dos processos criativos revelados com o uso de materiais adequados
necessidade do momento.
Alm das sensibilizaes, foram trabalhados a respirao e movimentos com o
corpo, situando-se no espao, meio e no mundo interno, representando seu mundo
ldico na constituio perceptiva, memria e imaginao, como estruturas que se
aliceram no sentido da criao.
A pesquisa qualitativa exige um comportamento questionador, com objetivo de
perceber [...] aquilo que eles experimentam, o modo como eles interpretam as suas
experincias e o modo como eles prprios estruturam e interpretam o mundo social
em que vivem. (Op.cit.p.51).
Essa investigao qualitativa possui suas especificidades e exigncias, pois
necessria a verificao, de certa forma, do mundo, pois as idias no so casuais e
nem triviais: tudo est relacionado potencialidade em achar e construir pistas para
que se tenha uma compreenso mais clara do sujeito ou do objeto que se est
estudando.
Para Bogdan; Bicklen (1994, p.48):
Os investigadores qualitativos freqentam os locais de estudos porque se preocupam com o contexto. Entendem que as aes podem ser melhor compreendidas quando observadas no seu ambiente habitual de ocorrncia. Os locais tm de ser entendidos no contexto da histria das constituies a
que pertencem.
Para os autores, como investigao qualitativa, possvel classificar algumas
caractersticas dos inmeros caminhos a serem seguidos e que fundamentam a
pesquisa qualitativa, conforme descrito abaixo:
17
- O que significa que, a partir do momento em que a direo da pesquisa vai
tomando forma, o investigador vai at a fonte. O agrupamento de dados
denominado Teoria Fundamentada (in locum), que se constitui num dos meios
principais do investigador esclarecer as questes propostas de investigao.
- A descrio efetuada por meio de anotaes feitas no campo de
pesquisa, com registro fotogrfico, vdeo, documentos pessoais. Nesta monografia
utilizo a produo dos jovens e adolescentes, ou seja, todo o material dos trs locais
de estgio, bem como, a apresentao do processo final das vivncias que realizei
durante o estgio.
- A investigao se d de forma estruturada e pensada, de acordo com
as necessidades das pessoas atendidas. Neste estudo recolhi dados e provas, com
o objetivo de confirmar as minhas hipteses investigadas.
- O significado o sentido dado pelo sujeito pesquisador importncia
da abordagem qualitativa. Esta caracterstica emerge das questes presentes na
pesquisa. Todo investigador tem um objetivo proposto, determinado fim e escolha na
determinao de seu objeto ou sujeito de estudo. Uma variedade de pessoas
envolve entendimento e compreenso sobre a experimentao dos objetos, por
apresentar caminhos diversos, realidades diferentes e mltiplas, por no ser a
realidade nica que interessa aos investigadores qualitativos.
Aps situar estas etapas, foi possvel distinguir o processo de evoluo dos
trs grupos atendidos nos estgios de Arteterapia: Meninos e Meninas Livres -
GRUPO MEL; Promotora da Vida e Cidadania - PR-VIDA; Escola Superior Madre
Celeste ESMAC, ratificando as suas relaes perceptivas, de memria,
imaginao e vivncias, dando respostas s problemticas e fundamentando os
argumentos, bem como, respaldando as aes arteteraputicas desenvolvidas ao
longo desta pesquisa considerando a transio do adolescente para a fase adulta.
18
lI - A TRANSIO DO ADOLESCENTE
A adolescncia o perodo de transio da infncia fase adulta.Em geral, considera-se um indivduo que seu inicio se d com a puberdade, mas um indivduo pode ser adolescente sem ser pubescente e vice-versa.
(SPERLING, 2003.p.134).
Na Grcia, por volta do sculo V a.C. h registros sobre a arte sendo usada
como tratamento e cura. A Arteterapia no mundo contemporneo tem auxiliado a se
tornar concreto o desenvolvimento intelectual do adolescente, fato que se consolida
por meio de pesquisas e estudos sobre o comportamento e atitudes, alm da sade
emocional e cultural.
Muitos estudos tm alardeado o mundo do adolescente e suas incessantes
alteraes nos estados emocionais, os quais, a princpio se perguntam sou
normal? J na fase que se chama meio da adolescncia, se questionam: quem sou
eu? E atingindo o final da adolescncia, indagam: qual o meu lugar no mundo?.
bem sabido que, para os jovens, essas fases podem chegar a serem
assustadoras, at que se encontrem verdadeiramente e se reconhecerem em si
mesmos.
Segundo Amiralian (2004)12, a adolescncia compreende uma faixa etria em
que os jovens tm que lidar com mudanas fsicas e hormonais decorrentes da
prpria puberdade, alm de ser uma fase de descoberta pessoal em relao
sexualidade, sendo imprescindvel que esse processo no seja visto como um
problema, mas como uma fase de transio, que no deve ser adiada ou atrasada,
mas deve ser aceita, respeitando o tempo de cada indivduo.
Gessel (1963) afirma que, apesar das diferenas individuais da idade, de
maturidade, possvel assimilar grandes etapas que servem de orientao geral,
embora no correspondam nunca a um adolescente particular. Tais etapas se
resumem em: Pr-adolescncia perodo/anterior aos 10-12 anos; Adolescncia
(perodo/central) dos 13 aos 16 anos; Adolescncia (perodo/final), dos 17 aos 21
anos.
12
Em aula ministrada durante o processo de formao no Curso de Especializao em Arteterapia Belm Par, 2004.
19
Como os rapazes amadurecem um pouco mais tarde que as moas, podemos
considerar que, para elas, as etapas so aproximadamente as seguintes: Pr-
adolescncia, dos 10 aos 11 anos; Adolescncia (perodo central), dos 12 aos 16
anos e Adolescncia (perodo final), dos 17 aos 20 anos.
As mudanas psicolgicas que tm lugar na pr-adolescncia e no perodo
inicial da adolescncia so maiores do que aquelas que ocorrem mais tarde e
acompanham as rpidas modificaes fsicas que acontecem no referido perodo.
As mudanas implicam a necessidade de se adaptar a elas e quanto mais
rapidamente se produzem, tanto mais difcil ser a adaptao. Durante os ltimos
anos da infncia, a vida desenrola-se a um ritmo relativamente calmo. As primeiras
adaptaes ao ambiente fsico e social encontram uma soluo bastante satisfatria
na poca em que a criana chega idade escolar. A partir de ento e at a
adolescncia, as novas adaptaes vo-se realizando de forma gradual, com tempo
suficiente e com a ajuda de pais e mestres, o que torna a adaptao relativamente
fcil.
O incio da puberdade provoca modificaes rpidas no tamanho e estruturas
corporais. Estas mudanas fsicas so acompanhadas de modificaes interiores. O
indivduo torna-se desajeitado, torpe e com falta de segurana nos seus
movimentos. J no lhe interessam os seus colegas de jogo nem os seus
entretenimentos infantis. Possui um novo interesse pelo sexo oposto, pelo cinema,
por atividades sociais e at por leituras que anteriormente desdenhava.
Alm disso, surgem muito mais problemas dos que jamais tinha tido que
resolver num perodo to breve. O adolescente se d conta, gradualmente, de que
por fora do seu aspecto fsico, se espera dele um comportamento como o de um
indivduo adulto e no como o de uma criana indefesa. No entanto, quando, em sua
meninice h uma preparao gradual para esta mudana, tem menos dificuldades
em adaptar-se a ela do que o adolescente que na vida anterior vivenciou a
dependncia plena do adulto.
20
Como todas as transies, a adolescncia caracteriza-se por um ir e vir do
comportamento anterior ao atual e pela tomada de atitudes velhas e novas. A
instabilidade e a contradio so ndices de imaturidade, demonstrando que o
indivduo no tem confiana em si e que procura adaptar-se nova situao que
deve assumir no grupo social.
No aspecto psicolgico, reafirma suas idias, ao compar-las com o mundo
dos outros. Nesta fase, vive no seu mundo interior e para conhecer a prpria
personalidade, as suas idias e ideais, compara-se aos outros, tendo a impresso
de apatia por causa da preocupao repousada e reflexiva pelos prprios estados
anmicos. Esta interiorizao abarca tambm as esferas intelectuais, filosficas e
estticas, enchendo a sua vida com estas teorias.
As caractersticas mais prprias deste perodo so: crescente conscincia e
conhecimento do "eu"; nascimento da independncia; adaptao progressiva aos
ncleos sociais da famlia, escola e comunidade em geral.
O autor sugere algumas atitudes para lidar com um adolescente que so:
demonstrar sincera amizade, estabelecer comunicao baseada no respeito, na
confiana e na oportunidade, compreenso, aprender a escut-los, no cansar de
os animar, exigir suavemente, mas com firmeza, compartilhar dos seus projetos.
Gessel (1963) tambm enfatiza a importncia de recordarmos as nossas
tenses e inquietaes em nossa fase da adolescncia, pois assim estaremos em
condies de ajudar os jovens e de sermos mais compreensivos com eles.
A adolescncia um perodo no qual uma criana se transforma em adulto.
No se trata apenas de uma mudana na altura e no peso, nas capacidades
mentais e na fora fsica, mas, tambm, de uma grande mudana na forma de ser,
da evoluo da personalidade.
Segundo Tiba (2002, p.84 -85):
[...] a puberdade uma busca de identidade sexual, a inundao dos hormnios sexuais na criana e o terremoto corporal causam uma mudana radical no fsico e nas emoes de um adolescente tumultuando a famlia.O feminino e o masculino diferenciam-se nesta etapa, cada qual
21
com um comportamento caracterstico, fortemente pela dobradinha hormnio/cultura.
A garota passa a dar extrema importncia s colegas e amigas, formando
grupos e subgrupos que ora se unem como amigas eternas, ora se afastam como
inimigas mortais. A famlia vai para o segundo plano. Como passarinhos
alvoroados e cantantes no fim de uma tarde de vero, elas voam de repente para
outra rvore e tudo continua. Porm, um passarinho no cho est doente ou
ciscando, do mesmo modo que uma garota solitria no est bem. As competies
comeam quando surge interesse pelo mesmo garoto.
O rapaz embarca no sentido oposto: esse o perodo mais anti-social de sua
vida. Isola-se e se torna irritadio, respondo, mal-humorado. No divide suas
preocupaes, no pede nem oferece ajuda. Grandes transformaes corporais e
psicolgicas ocupam tanto o pbere masculino que ele fica sem energia para
investir nos relacionamentos sociais.
A adolescncia pode ser comparada etapa em que as rvores frutferas
do flores. Estas geralmente ficam na parte mais alta, bem expostas ao sol. Super
coloridas e perfumadas, elas chamam ateno de todos polenizadores. Os
adolescentes so, ao mesmo tempo, flores e polenizadores.
A satisfao emocional pode vir acompanhada de um desejo de construo
interior, o que facilita a transmisso de seus sentimentos e da forma como entende o
mundo, mesmo carregado de conflitos internos e externos. E a arteterapia um dos
caminhos vitais para que o adolescente, em uma das aberturas e possibilidades,
possa aumentar sua autoestima para um inovador processo de descoberta de si
mesmo e tambm de seu processo criativo.
22
III - O QUE ARTETERAPIA?
Segundo Pan (1996.p.9):
[...] ainda que saibamos as noes de arteterapia por incluir em seu contexto tratamento psicoteraputico, que utiliza como mediao a expresso artstica (dana, teatro, msica e outros), nosso conhecimento ainda est limitado, no que diz respeito representao plstica: pintura desenho, gravura, modelagem, mscara, marionete.
Estas atividades tm em comum o objetivo da representao visual do domnio
figurativo, a partir da transformao da matria. Por ser essa uma rea recente, que
data do perodo ps-guerra, preciso tomar a palavra arte no sentido que adquiriu
na segunda metade do sculo, no qual no mais ofcio da recriao da beleza
ideal, nem tampouco est a servio da religio ou da exaltao natureza.
Essa observao constitui um reconhecimento da ruptura da arte
contempornea com aquelas que a precederam, indagando nessa nossa poca,
qual a funo da arte e quais mudanas so possveis ocorrer a partir da escolha
das tcnicas a serem utilizadas e tambm da ideologia do sujeito que a vive.
A linguagem da Arteterapia se torna hbrida, a partir da compreenso de que
outros povos utilizam diversos meios arteteraputicos. No entanto, o desenho e a
pintura so os que mais expressam a contextualizao do ser si mesmo, levando o
indivduo atendido aquisio de uma melhor qualidade de vida, relacionando-se e
se integrando com seu meio e com o mundo que o cerca.
Das tendncias atuais, segundo Pan (1996), o trabalho em arteterapia o mais
prximo da clnica psicoterpica, que considera a atividade plstica como meio
secundrio, porque atribui o efeito teraputico vindo das trocas verbais em torno do
contedo da obra.
Por outro lado, a arteterapia d suporte ao indivduo, para que possa, por meio
das imagens adquiridas em seu universo interior, dar significados, explorando e
expurgando os conflitos subjetivos.
23
A arteterapia, para a autora, tem um papel importante que o de acompanhar o
processo do paciente, ser testemunha de sua aventura, ajudando-o a superar os
obstculos encontrados, considerando-os, ao mesmo tempo, de um ponto de vista
subjetivo e objetivo. Para isso, preciso que haja normas na observao dos
sujeitos que esto realizando uma atividade criativa e, por outro lado, decidir a
oportunidade e o contedo das intervenes.
Neste contexto, do terapeuta exigida uma grande capacidade de
concentrao cada vez que o processo de construo simblica considerado como
uma aventura contnua, em que as transformaes sucessivas so mais importantes
do que o resultado final. De acordo com a mais recente definio de arteterapia:
A arteterapia baseia-se na crena de que o processo criativo envolvido na atividade artstica teraputico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Arteterapia o uso teraputico da atividade artstica no contexto de uma relao profissional por pessoas que experienciam doenas, traumas ou dificuldades na vida, assim como por pessoas que buscam o desenvolvimento pessoal. Por meio do criar em arte e de refletir sobre os processos e trabalhos artsticos resultantes, pessoas podem ampliar o conhecimento de si mesmo e dos outros, aumentar a auto estima, lidar melhor com sintomas, estresse e experincias traumticas, desenvolver recursos fsicos, cognitivos e emocionais e desfrutar e desfrutar do fazer vitalizador do fazer artstico. Arteterapeutas so profissionais com treinamento tanto em arte como em terapia.Tem conhecimento sobre o desenvolvimento humano, teoria psicolgica, prtica clnica, tradies espirituais, multiculturais e artsticas e sobre o potencial curativo da arte. Utilizam a arte em tratamentos, avaliaes e pesquisas, oferecendo consultoria a profissionais de reas afins. Arterapeutas trabalham com pessoas de todas as idades, indivduos, casais, famlias, grupos e comunidades.(AATA, 2003).
Allessandrini (1969), responsvel pela implementao das oficinas criativas e
da elaborao de uma metodologia para trabalhar em atelier teraputico,
contextualiza que um espao em que o participante, por meio de uma atividade
artstica, expressa criativamente uma imagem, que se processa na descoberta,
sensibilizao.
Pensa de acordo Com Pain; Jarreau (apud ALLESSANDRINI 1969.p.29) que
consideram o atelier teraputico como um lugar de aventura, no qual o participante
escolhe os riscos que quer correr medida que entra em contato com o material que
teve afinidade. um fazer interessante no lugar de um fazer bonito. Criar
24
explorar mundos interiores, despertar atravs da sensibilizao, dialogar e sentir o
material, aflora as emoes, compartilha e avalia seu resultado final.
Para explorarmos mundos interiores necessrio entender o outro dentro do
desenvolvimento humano o seu tempo consciente e inconsciente.
A Psicologia, segundo Winnicott (apud ALLESSANDRINI, 2004, p.62) tem
estudado o mecanismo consciente e inconsciente da psique. Nesse sentido, o
desvendar dos processos psquicos a partir de Freud, Jung, Winnicott e outros nos
ajudam, de forma contundente, a entender a importncia de tais mecanismos no
desenvolvimento humano.
Segundo Jung (apud FRANZ 1977.p.161) o processo de individuao uma
engenharia de inmeros componentes. Entre eles est o self - centro organizador de
onde emana a ao reguladora que o autor chamou de ncleo atmico do nosso
sistema psquico. Este foi descrito como a totalidade absoluta da psique, para que
houvesse diferena entre o ego e o self. O ego que constitui uma pequena parcela
da psique.
Jung (1977, p. 161) comparou a psique a:
[...] uma esfera com uma zona brilhante (A) em sua superfcie que representa a conscincia. O ego o centro desta zona (um objeto s consciente quando eu o conheo). O self , a um tempo, o ncleo e a esfera inteira (B); seus processos reguladores internos produzem sonhos. (Op.cit.p.161).
A
EGO
Self
B
Figura 03: Reproduo do desenho da psique comparada a uma esfera
Fonte: Acervo da pesquisadora
25
Em sua acepo, Jung (1977) afirma que o homem desenvolveu vagarosa e
laboriosamente a sua conscincia, num processo que levou um tempo infindvel, at
alcanar o estado civilizado, arbitrariamente datado de quando se inventou a escrita,
mais ou menos no ano 4000 a.C.
Nesse sentido j evolumos, mas precisamos alar vos teraputicos cada vez
mais altos, no que diz respeito ao estudo da subjetividade do ser humano complexo
e de sua transformao. Ferguson (1980, p.65-67) afirma que o termo
transformao tem significados paralelos na Matemtica, nas Cincias Fsicas e na
mudana humana.
Uma transformao , literalmente, uma nova forma, uma reestruturao de
alguma coisa. Uma transformao matemtica, por exemplo, converte um problema
em termos novos, a fim de que possa ser resolvido. E a transformao, segundo o
autor, no especificamente de pessoas, mas a transformao da conscincia.
Neste contexto, conscincia significa apenas a percepo desperta, o estar
consciente da prpria conscincia, tendo experimentado uma modificao positiva
em suas prprias vidas - mais liberdade, sentimento de afinidade e de unidade, mais
criatividade, maior capacidade de lidar com o estresse, uma noo de sentidos da
vida.
A comprovada flexibilidade do crebro e percepo humanos sugere a
possibilidade de que a evoluo individual pode conduzir evoluo coletiva.
Ferguson (1980, p.66) escreveu sobre a evoluo da conscincia:
A idia de que temos amplas opes de conscincia no nova. Com liberdade de opo e com dignidade, como criador e modelador de si mesmo o homem pode assumir a forma que preferir.Ter a fora para gerar nas formas inferiores de vida, que so irracionais. Ter fora, partindo do julgamento da alma, para renascer em formas superiores...
Segundo o autor, os discursos dos filsofos acerca da natureza humana
buscavam saber como era essa natureza humana: boa ou m. Porm, em todas as
disciplinas, nos oferecem uma opo: tanto o crebro como o comportamento
26
humano so quase, inacreditavelmente, flexveis. Somos condicionados a ter medo,
ficarmos na defensiva, sermos hostis, embora ainda tenhamos, tambm, capacidade
para uma extraordinria transcendncia.
A transcendncia se d a partir de quando o ser humano encontra-se num mais
elevado e sublime amor em si mesmo, promovendo um encontro consigo mesmo, ou
seja, quando sente que algo transcende de dentro para fora. Quando transcende os
limites das experincias metafsicas possveis.
Penso que todo o nosso ser capaz de grandes transformaes interiores,
mesmo que tenhamos que passar por momentos dolorosos, que so de suma
importncia para o amadurecimento tanto do adulto quanto do adolescente na sua
estrutura fsica e emocional.
27
IV - ENTENDENDO O CONTINUUM DAS TERAPIAS EXPRESSIVAS
(Expressive Therapies Continuum ETC)
Kagin; Lusebrink (1978) desenvolveram o modelo de um conceito de expresso
e interao com o meio em diferentes nveis, no qual foi constitudo o Continuum das
Terapias Expressivas - ETC.
Este modelo foi dividido em quatro nveis, organizados numa seqncia
desenvolvimentista da formao de imagem e processamento das informaes. Os
primeiros trs nveis refletem a seqncia desenvolvimentista e a crescente
abstrao no processamento da informao, na seguinte ordem: nvel
cinestsico/sensorial (KS); perceptual/afetivo (PA) e cognitivo/simblico C/(Sb), alm
do quarto nvel: o criativo (CR). Este ltimo nvel criativo considerado como
sntese dos outros trs e tambm responsvel pela integrao, transformao e
expresso da experincia em novas formas (KAGIN; LUSEBRINK,1978).
O nvel cinestsico/sensrio est focalizado, primariamente, no soltar da
energia e por meio da ao do movimento corporal. O nvel sensrio refere-se s
sensaes experenciadas e, com ele, o individuo percebe o seu potencial
energtico. A estimulao sensrio-motora apresenta um componente curativo e
teraputico que surge atravs do ritmo que espontaneamente se estabelece no
desenvolvimento da forma e da percepo e de seus significados.
O perceptual/afetivo (PA) seria uma representao da interao entre os
aspectos perceptual e afetivo e a influncia de diferentes meios sobre aquela
interao. O nvel perceptual afetivo caracterizado por uma distncia reflexiva
mnima entre o estmulo e o envolvimento na ao e sensao.
O nvel cognitivo-simblico se caracteriza, essencialmente, pelo uso da
linguagem associada ao smbolo. O cognitivo lida com o pensamento lgico e o
simblico focaliza a formao intuitiva de conceitos.
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O plo perceptual deste nvel est focalizado na forma ou nas qualidades
estruturais da expresso, tais como: definir limites, diferenciar formas e o esforo de
alcanar a representao, que se originam de uma experincia interna ou externa. O
nvel criativo enfatiza a sintetizao e as foras da auto-atualizao do Ego e do EU.
29
V - TRAANDO O ATELIER TERAPUTICO
A motivao para o desenvolvimento deste estudo comeou quando conheci
um grupo de adolescentes que foi indicado pelas colegas da especializao: o
Grupo MEL. Percebi que o mesmo era um grupo preparado para outras atividades,
o que reforou a necessidade do atendimento em Arteterapia.
A instituio responsvel pelo grupo a Secretaria de Segurana Pblica do
Par SEGUP, que recebe apoio da Prefeitura Municipal de Belm. A sigla do
Projeto MEL significa: Meninos e Meninas Livres e beneficia adolescentes com a
faixa etria entre 14 a 17 anos. Esse projeto rotativo, pois em cada local cedido a
permanncia por dois anos. O local onde foi desenvolvida esta pesquisa foi um
clube com quadra de esporte, piscina e rea coberta. Os instrutores so todos
militares, com exceo da psicloga da instituio, que acompanhou todo o
processo dos encontros teraputicos. Comeamos no primeiro encontro com 22
adolescentes e a mdia do atendimento ficou intermediada entre dezenove e dez,
ficando fixada em dez adolescentes, sendo que o nmero de atendimentos fechou-
se em nove.
Para dar incio aos atendimentos no estgio, trabalhamos as suas fases da
infncia at os dias atuais, iniciando pelo conhecimento de suas crenas, os
traumas, as mgoas, ressentimentos, culpas e carncias afetivas. Nas vivncias
sensibilizadoras pedimos que abrissem seus coraes para as coisas mais
importantes, como: suas necessidades, desejos, frustraes e perdas. O trabalho foi
direcionado reconstruo e valorizao da auto-estima.
Como a pesquisa tinha o cunho e o compromisso com a evoluo do
adolescente por meio da pintura com aquarela, guache, pastel a leo e a seco,
colagem, recorte, argila, foi solicitado que pensassem quais as suas metas para o
futuro.
Esse contato com os adolescentes foi um marco profundo para meu estudo e
foi a partir dele que formulei a seguinte problemtica:
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Como construir tramas possibilitadoras para que o adolescente evolua
atravs das prticas e vivncias arteteraputicas transformadoras, mantendo
um dilogo aberto, integrado a um sentimento, um fazer e um pensar?
Tal problemtica conduziu o objetivo da pesquisa ao resgate da dignidade,
autoconfiana, resoluo dos conflitos internos e sociais do adolescente, pois so
indivduos povoados de fantasias e egocntricos.
Uma das formas para o trabalho com o adolescente so as Oficinas Criativas,
nas quais:
[...] se utiliza recursos expressivos e artsticos na perspectiva de re-signficar a aprendizagem do indivduo, prope uma interveno psicopedaggica que trabalha os coordenadores cognitivos [...]. Os coordenadores cognitivos representam os aspectos funcionais gerais da formao e do exerccio dos esquemas de ao, e tambm so fontes comuns das correspondncias e transformaes no desenvolvimento humano. (ALLESSANDRINI, 1996, p. 103)
Partindo das oficinas criativas e do processo de atendimento, observei em
todas as oficinas o desenvolvimento intelectual do grupo e dos indivduos na
desenvoltura para verbalizar, ou seja, para compartilhar o que viveu, sentiu e o que
imaginou internamente.
Inicialmente, o jovem ou o adolescente inibido no admitia compartilhar e
mostrar o que havia produzido. Num outro momento, era notvel a satisfao em
querer compartilhar e expor suas produes. A estes momentos atribui nomes:
momento fechado e momento aberto.
O momento fechado ocorre no instante de elaborar os desenhos e da escolha
da cor para a pintura: ficavam alguns minutos olhando para o branco do papel. Estes
Figura 01: Representao do momento fechado Fonte: Acervo da pesquisadora.
Figura 02: Representao do momento aberto Fonte: Acervo da pesquisadora.
31
cdigos foram detectados nos trs grupos MEL, PR-VIDA e Escola Superior Madre
Celeste - ESMAC.
Entretanto, depois dos momentos de reflexo interna, os adolescentes no
resistiam, elaborando e extravasando o pensamento em desenhos e pinturas
significativas, que enfatizavam o nvel afetivo de expresso livre. As pinturas foram
executadas com tintas fluidas, como aquarela e guache e tambm com material mais
encorpado, como: pastis a leo e a seco, em cores variadas, o que propiciava alvio
aos sentimentos. Os exerccios de aquecimento foram sempre acompanhados por
msicas suaves com sons de rios, mares, chuvas e pssaros.
Neste percurso, as tcnicas e visualizaes luminosas com as cores eram
estimuladas para que, desse encontro consigo mesmo, trouxesse uma resposta
positiva para si mesmo.
Pan (1996, p.20) diz que:
A arte atravs de sua histria e suas variaes, apresenta os diferentes cdigos de significao onde as produes individuais podem encontrar seu sentido.Quanto mais o terapeuta domina o cdigo, mais facilmente ele descobre os valores (luminosidade, obscuridade, contrastes passagens, etc) com os quais o sujeito trabalha e pode melhor auxiliar a enriquecer sua linguagem e sua capacidade de simbolizao.
As teorias e conceitos fundamentaram e enriqueceram a pesquisa para que
compreendssemos aspectos positivos no comportamento dos adolescentes e
jovens. A necessidade de conhecer outros caminhos, at ento despercebidos,
afloraram a simbolizao individual e coletiva que, no conceito de Jung (1977)
evidencia que pelas suas estruturas a linguagem simblica se exprime e se no for
bem compreendida sua importncia vital poder ser benfica ou destrutiva.
A Arteterapia, na viso junguiana, traz amadurecimento, conhecimento no s
individual como coletivas muitas mudanas, transformaes e os sonhos sonhados
de olhos abertos e os outros de quando dormimos se relacionam com o dia a dia.
Essa relao onrica faz com que tendncias se desenvolvam interna e
externamente, regulando o crescimento e o processo de individuao.
32
Partindo desse princpio, a Arteterapia se apropria da energia psquica do
indivduo, formando smbolos que transitam entre o inconsciente e o consciente. A
percepo parte da compreenso de mudanas no estado emocional e afetivo que
se armazenam descondensadas, o que possibilita a construo e o desenvolvimento
individual por meio das produes plsticas.
Somente o profundo mergulho em si mesmo A percepo de uma origem comum A certeza do longo caminho a percorrer Nos conduzem ao mistrio do outro. Sua beleza Sua dor Sua expresso de busca s vezes disfarada pelo pudor.
Compaixo Ruy Csar do Esprito Santo (Migliori. 1998, p.59)
33
VI - LAOS DE AMIZADE
Por meio das visitas fui criando um vnculo harmonioso, ou seja, laos de
amizade, estimulados pela curiosidade dos adolescentes. E as motivaes
cresceram, porque decidi estudar para compreend-los e ajud-los nas suas
descobertas. A recepo por parte deles foi carinhosa e predominantemente repleta
de curiosidade.
Comecei pelo nvel cinestsico por sentir que o grupo estava tenso e
necessitava de um estmulo para se desinibir e perder o medo natural diante do
novo, alm do fato de que este nvel viabiliza a sensibilizao com movimentos
motores, ou seja, trabalha o corpo para poder soltar suas energias. Aps os
exerccios, prossegui as atividades, explorando os materiais a serem usados, como:
o papel A4, lpis pretos, coloridos, tintas aquarela, guache, dentre outros.
Aos poucos, detectei alguns problemas de ordem afetiva que se estendiam s
carncias familiares, como tambm o desejo de se firmarem profissionalmente e
adquirirem estabilidade financeira, pois todos so de famlias de baixa renda. Outros
vm do interior para estudar na cidade e ficam residindo com parentes ou amigos da
famlia.
Alm desses problemas que detectei no Grupo MEL, ainda senti o descrdito
do valor da Arteterapia por parte da Instituio, mesmo explicando que estvamos ali
desempenhando o nosso papel com muito boa-vontade, embora no fssemos
psiclogas. Porm, no fechamento do primeiro semestre, o Coordenador Delegado
da SEGUP relatou o valor do nosso trabalho e sua percepo sobre o quanto era
necessrio para aquele grupo o tipo de trabalho que desenvolvemos.
Os nossos encontros ficavam submetidos ao calendrio da Instituio, o que
interferiu, sobremaneira no incio das atividades, pois tnhamos que aguardar a
autorizao para comear o trabalho com os adolescentes. O trabalho fluiu porque
os adolescentes se sentiam ansiosos pelos encontros e pediam para que iniciasse o
atendimento.
34
Ao iniciar o processo teraputico, houve algumas Interferncias externas, mas
que logo foram solucionadas: queriam ver se iria clinicar, ou seja, se o nosso
trabalho estaria direcionado rea da Psicologia e, com muito custo, tive uma
conversa sria e entenderam que o objetivo no era este, mas sim agilizar o estgio,
deixando a contribuio aos adolescentes daquela comunidade.
A seguir, os responsveis pelo Projeto se colocaram apenas como ouvintes,
participando das atividades. As interferncias internas minimizaram e os
adolescentes se envolveram com as atividades.
A cada encontro o grupo se mantinha ansioso porque era uma novidade.
Queriam saber o que era a Arteterapia. Expliquei de uma forma simples para que
entendessem. Ento disse: Vocs iro expressar-se atravs do desenho e pintura,
ou seja, atravs da expresso livre. E com a arteterapia o ser humano alcana um
equilbrio emocional para uma melhor qualidade de vida.
A sensibilizao aquecia e ocasionava o relaxamento e desejo de fazer as
atividades. Seus desenhos mostravam o sentimento mais afetivo, pois desenhavam
a famlia, por meio da disponibilidade das cores, verbalizavam e escreviam frases ou
pequenos textos, nos quais demonstravam amor ou desamor por algumas
passagens de suas vidas. Sentiram-se seguros com minha presena. No desenrolar
dos encontros a harmonia sempre predominava.
Dentre os adolescentes, o que mais me chamou a ateno foi JH, um dos seis
fixos que iniciaram e terminaram o processo teraputico. A preocupao dele era
familiar, querendo resgatar o entendimento com um irmo que no se comunicava
h cerca de dois anos, por causa de um conflito de ordem social, pois se preocupava
constantemente com habitao, sade, e emprego, que so princpios bsicos para
a qualidade de vida de todo cidado brasileiro e do mundo.
JH uma pessoa alegre e demonstrou total interesse pelas atividades
propostas, comeando e terminando todos os desenhos, mesmo que, por alguns
minutos, refletisse muito olhando o branco do papel.
35
Antes do final do estgio, fiquei sabendo que o seu irmo voltou a falar com ele
sem criar resistncia. Um indicativo de mudana muito importante, pois outras
pessoas no conseguiram essa transformao.
Fizemos a terapia com o barro, com o objetivo de transformao de si mesmo
usando os quatro elementos da natureza. Ao iniciarmos a sensibilizao,
exercitvamos o corpo, balanando-o de um lado para o outro, nos deixando
conduzir como as ondas do mar, trabalhando sempre a respirao para que se
sentissem relaxados.
A seguir, comeamos pela esfera, reino vegetal mineral, animal, at chegar na
evoluo do homem. Todos receberam uma quantidade de barro que coubesse em
suas mos, limparam o barro, retirando as impurezas e moldaram uma esfera,
representando o seu mundo, na qual a cada evoluo interna seria transformado em
outro mineral, sucessivamente.
Nesse momento, havia apego com o objeto e os adolescentes no queriam
despedir-se do animal que fizeram, pois se empenhavam intensamente em faz-lo e
no queriam perd-lo. Finalizamos com a verbalizao e a sntese dessa vivncia
coletiva e individual e a palavra final foi solidariedade.
Finalizei os nove encontros, mostrando dois dos momentos mais marcantes,
que foram a construo dos bonecos feitos com garrafas plsticas descartveis e os
quatro elementos da natureza. Durante a atividade com o barro os adolescentes
foram filmados trabalhando, o que os deixou orgulhosos, dizendo-se capazes de
produzir.
Em seus depoimentos disseram que nunca mais iriam me esquecer, pois
proporcionei a eles bem-estar e a descoberta do potencial de criao e que, em
alguns momentos, se achavam incapazes de desenhar e pintar. Um momento
marcante, alm de tantos vividos, foi o da finalizao com a palavra do dia e as
palavras mais repetidas foram F e Esperana.
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Nessa despedida ganhei uma pintura em papel reciclado como agradecimento
dos dias que passamos juntos. O coordenador ficou encantado com o trabalho e
pediu a fita para ser gravada em CD para possvel apresentao dos trabalhos
executados junto ao Grupo MEL. O descrdito inicial dos dirigentes transformou-se
em elogios e aplausos.
Percebi os indicadores de mudanas e crescimentos pessoais em cada um, ao
seu tempo, e dizendo que aprenderam a ver o mundo com mais pacincia e
tolerncia, qualidades que no sabiam lidar antes da arteterapia. Aprenderam a se
conhecer melhor e a valorizar o trabalho do outro.
Ao encerrar o trabalho com esse grupo, recebi um convite para novamente
trabalhar com adolescentes que vivem internos por praticarem delitos ou porque
perderam o contato com familiares, moradores de rua e outros casos em que os pais
so alcolatras ou drogados.
O contato com o coordenador do grupo foi imediato para ver as principais
necessidades deste novo grupo. O novo grupo era a PR-VIDA, ou seja, o Lar Jian
Lucca Pr-Vida (Promotora da Vida e Cidadania) mantido por famlias Italianas,
Organizao No-Governamental, intermediada pelo padre Savino Mondelle da
Igreja Catlica, com sede situada a Rua Ricardo Borges, 150 Bairro da
Guanabara, Municpio de Ananindeua - Par. Os jovens residentes neste lar so de
faixa etria entre dezesseis a vinte anos e so em nmero de dez residentes.
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VII - DESCOBRINDO A SI MESMO NO PR-VIDA
Descobrindo o eu interior em Arteterapia, se desenvolveu a partir da minha
escolha em trabalhar a carncia de afetividade que o adolescente sofre por no
conviver com seus familiares, entrando em seu mundo interno, buscando
alternativas para um viver melhor a partir de suas necessidades. Entretanto, percebi
nos adolescentes focos predominantes do desejo de mudana e de crescimento
intelectual, espiritual e profissional, alm de um mundo mais afetuoso e humano, por
terem pais que vivem num mundo tenebroso e triste.
Na pesquisa foi detectada a no convivncia com os pais e irmos. Mesmo
assim, notei um forte lao de amizade entre eles, bem como, o compromisso de
todos na vivncia em comunidade, dividindo os trabalhos da casa, como: lavar
cozinha, limpar, ou seja, manter o ambiente limpo e organizado.
Os adolescentes sofrem por falta do amor materno. Este um problema que
talvez tenha cura ou no, porque mesmo que tenha acontecido um corte umbilical
brusco, por motivos to incoerentes e to longe de seus entendimentos, esse corte
aconteceu quando eram praticamente bebs ou a partir dos trs anos. Os motivos
principais foram: alcoolismo, drogas, fatores econmicos. Estes fatores descritos so
desencadeantes de suas doenas emocionais.
Winnicott (1993, p.115-16) diz, bem claramente, sobre a cura do adolescente:
Cada indivduo v-se engajado numa experincia viva, num problema do existir....
... A cura da adolescncia vem do passar do tempo e do gradual desenrolar dos
processos de amadurecimentos.
Conversando com os adolescentes e ouvindo suas verbalizaes aps as
atividades, o sentimento de re-construo, aliado ao desejo de amor, carinho e
afetividade. Notei entre um e outro que, para eles, essa casa acolhedora e no se
constitui numa priso. Contudo, para estes jovens no h alternativa, seno esperar
uma boa oportunidade que os leve ao trabalho e a uma profisso.
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possvel que no seu querer algo, mesmo com alguns traos de rebeldia e
desinteresse, o que realmente precisam de uma oportunidade para dar a sua
contribuio, para criarem seu mundo ldico e expressarem suas formas
imaginativas, obtendo, com isso, um trabalho de transformao interior.
Alguns jovens, quando passam por essa fase de reconstruo interior um
verdadeiro dilema, pois na altura em que atingiram o grau de maturidade ficam num
limiar em que se perguntam sobre o que ser o futuro.
Um dos jovens atendidos foi P. de 20 anos de idade - criado neste lar desde os
cinco anos. Tem me, mas foi acolhido pelo Lar Jian Lucca, Pr-Vida. Em seu
depoimento, P afirmou: Estou aqui h muitos anos. Estou terminando o ensino
mdio, mas a minha maior preocupao de no saber o que irei fazer no futuro?.
A sua necessidade a de estar bem consigo mesmo e expressou isso quando
fez um desenho representando o mundo e nele uma interrogao equivalente
pergunta acima que se fez.
No desenho coletivo foi proposto que cada um procurasse um espao para si
no papel 60k exposto um painel para que desenhassem uma base no papel, depois
sassem do seu desenho e encontrassem os das outras pessoas, tentando ser
sensveis, compreendendo o que havia no primeiro desenho.
Com estes desenhos, detectei que P um lder de seu grupo, pois pareceu ter
bastante sensibilidade para expor sua ansiedade e, ao mesmo tempo, o seu desejo
em querer ser e transformar-se. Desenhou um leo bebendo gua num rio azul e
com flores azuis. O leo tinha grandes ps fortes, expressando uma pessoa forte e
determinada. A sua ansiedade em querer ser e transformar-se o leva a ajudar seus
colegas, aconselhando-os a se tornarem pessoas melhores.
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VIII - PROCESSO CRIATIVO E TERAPUTICO NO VITRAL DE PAPEL
A reconstruo foi visvel em cada indivduo do grupo Pr-Vida. As buscas pela
Arteterapia integram o ser humano a uma profunda internalizao, soltando
emaranhados que h tanto tempos est adormecida, tornando-o capaz de se
reorganizar, construindo novos valores significativos.
Nessa vivncia participaram oito jovens. Iniciamos alongando o corpo,
trabalhando a respirao. Depois, sentados em crculos, continuamos a trabalhar a
respirao, ouvindo msica com sons de rios e mares, pedindo que visualizassem a
transparncia das guas e da luz do sol incidindo sobre ela: a luminosidade. Aps a
sensibilizao foi oferecido o material, com livre escolha de cores.
A tcnica e materiais utilizados foram: papel celofane, papel carmim branco,
estilete, tesoura, cola basto e outros. O objetivo foi: compreender a adequao aos
desejos, aos limites e s possibilidades dos materiais disponveis e a habilidade para
recortar. O significado da transparncia e da luminosidade fundamental para julgar
o prazer provado pelo jovem na atividade do vitral.
Dentre os jovens, Ed. contribuiu para um estudo mais aprofundado, pois
trabalhou as suas dificuldades. Escolheu seu material usando uma cor s de papel
celofane. Para todos, o tamanho do papel era o mesmo 40cm X 40cm, mas ele
comeou desenhando um crculo e dois quadrados com o lpis. Porm, parecia que
no achava o jeito: recortou o papel verde (cor que escolheu para que tornasse seu
trabalho menos frio) at ficar com 15cm e colou nos vazios.
Trabalhou silenciosamente. Ao terminar, perguntei se queria comentar sobre o
que tinha feito. Ed. comentou que, ao iniciar, tinha dificuldade em verbalizar, que
havia confeccionado os quadrados que, para ele, representavam a maneira como se
sentia: preso dentro dele como num labirinto, que j havia ultrapassado algumas
dificuldades de relacionamentos e a transparncia do papel fez com que parecesse
que ningum o estava enxergando.
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Disse, ainda, que seu maior problema era a comunicao, que sentia como se
seus anseios estivessem todos ali dentro do labirinto e que o seu desejo era sair do
quadrado e passar para o crculo. Comentou que, a princpio, no sabia o que fazer,
mas que, de repente, surgiram estes desenhos e que se sentia mais corajoso em
relao comunicao aps compartilhar com os colegas e se abrir com os
mesmos. Trabalhou as dificuldades relacionais consigo mesmo e com os outros.
Ao final de todos os encontros, soltou a voz e comentou o que sentia em
relao a si e aos outros, expondo seus sentimentos de ressentimento e tambm de
amor. Finalizamos o encontro sabendo que grandes transformaes haviam ocorrido
neste grupo.
No ETC, que um exerccio de tcnica, detectei que a porta de entrada do
atendimento aos jovens e adolescentes seria o afetivo-cognitivo, simblico,
relacionando como agiam, o que pensavam sobre si mesmos e sua prpria
concentrao.
A seguir, observei como lidavam com os colegas, o grau de interesse ou at
que pontos respeitavam o limite um do outro. Alm dessa observao no
comportamento desses jovens, atentei para como se relacionavam com o material, o
objeto e o que escreviam ou como se sentiam ao escrever.
Na escrita, percebi uns trs jovens que no conseguiam achar a palavra inicial
para a escrita, diferente do que acontecia com os desenhos, momento em que eram
mais soltos e bem mais pessoais. Na pintura exerciam os movimentos com uma
fluidez impressionante. Alguns sentiam dificuldade quanto ao primeiro risco,
demonstrando-se livres depois do primeiro momento. Nos primeiros desenhos se
expressaram como se estivessem pedindo socorro para sair de seus problemas
existenciais.
Os oito jovens e adolescentes mesmo parecendo responsveis por si mesmos
e pelos colegas do lar em que vivem, senti ainda imaturidade quanto s prprias
descobertas interiores. Quanto essa imaturidade Sheehy (2004, p.31) afirma que a
maturidade provisria vai dos 18 anos aos 30 anos; a primeira maturidade dos 30
41
aos 45 anos, a segunda maturidade dos 45 aos 85 anos+. Adolescentes e jovens
tm muito que aprender, pois a estrada ainda longa e cada um apresenta conflitos
diferenciados, exigindo sonhos diversificados.
A idade, em cada indivduo, apresenta caractersticas variadas. O autor diz que
importante a possibilidade que se apresenta nos trs momentos que antecedem o
ciclo da vida adulta. Talvez o medo do mundo l fora os deixava parecendo
imaturos.
Neste final de ano recebi um telefonema do coordenador do Pr-Vida, relatando
a notcia maravilhosa de que os jovens atendidos passaram por uma transformao
marcante: alguns voltariam para suas famlias de origem, alguns com emprego e
perguntei se estavam bem e o coordenador falou que depois que foi feito todo
aquele atendimento, os jovens tiveram um novo olhar sobre o mundo e o que
pretendiam sobre este novo mundo que os cercava.
Quando iniciaram os atendimentos, a viso de mundo no parecia promissora,
mas hoje as suas perspectivas so melhores. Um dos jovens - o A. descobriu, ao
ganhar uma mquina fotogrfica de presente, que vai se dedicar a fotografar
pessoas.
Para mim, como futura arteterapeuta, este primeiro momento foi um lance a
mais na escada da vida e uma resposta concreta minha pergunta: H
possibilidade do adolescente evoluir em arteterapia por meio do desenho, recortes,
pintura e colagem? Confirmei neste estudo a possibilidade de ocorrer a evoluo do
adolescente nas prticas arteraputicas.
Ento, por meio destes indicadores, dediquei-me a estudar cada vez mais a
teoria junguiana sobre a individuao e o desenvolvimento humano, pois somos
capazes de ultrapassar barreiras da existncia, sabendo que podemos crescer e
vivenciar momentos de delicadeza e percepo de ns mesmos.
Trabalhei, ainda, num terceiro grupo de jovens e adultos, realizando quatro
encontros no formato de um workshop com doze pessoas na Escola Superior Madre
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Celeste ESMAC. Porm, apenas oitos comearam e terminaram todas as
vivncias. Todos os participantes vivenciaram intensamente as atividades propostas.
Iniciando com as sensibilizaes, o objetivo era a valorizar a respirao,
movimentos com o corpo, percebendo e sentindo seu prprio corpo e o ambiente.
Aps este movimento, passamos para outra fase: deitados no cho enumeram as
partes do corpo, comeando pelos ps at chegar cabea. Finalmente, solicitei
que colocassem as mos sobre o peito, sentindo as batidas do corao,
mentalizando as cores e trazendo-as para o desenho.
Na primeira noite que se sucedeu oficina, fiz a apresentao como
ministrante arteterapeuta e sabendo que faria um trabalho ousado, pois seriam
quatro dias consecutivos com vivncias que teriam comeo, meio e fim a cada dia
das oficinas. Ento, neste primeiro dia, promovemos uma conversa para que
percebssemos suas expectativas enquanto profissionais pedagogos e alunos que
buscavam extinguir o estresse por meio da auto-expresso e a terapia, tendo como
relevncia a experincia de um novo olhar como arte-educador, em sentir a arte de
dentro do eu interior para fora e no como antes, ou seja, de fora para dentro.
A problemtica elaborada neste grupo foi: Como organizar e reconstruir este
grupo de alunos e pedagogos beira de um estresse e com baixa afetividade? O
objetivo deste projeto foi criar momentos reflexivos e trocas de experincias,
reconhecendo o prprio potencial criativo, estimulando a autoconfiana e a auto-
estima.
Todos os materiais utilizados foram acessveis e de fcil aquisio, para que
pudessem tambm utilizar futuramente com seus alunos, pois este grupo formado
de pedagogos e arte-educadores, alm de jovens da comunidade. Com este grupo
houve uma ampliao maior quanto comunicao e expresso livre, aos smbolos
criativos e conscincia de si mesmo.
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IX - VIVNCIA CORPORAL - CAMINHAR PELA SALA
SE PERCEBENDO NESTE AMBIENTE
No momento em que est caminhando, observar e se integrar, concentrando-se
em todo o ambiente, percebendo todo o material que ocupa o espao, a si prprio,
sua pulsao, respirao. Aps este aquecimento, solicitei que deitassem sobre o
cho para um relaxamento do corpo, enumerando as partes do corpo dos ps para a
cabea, relaxando e sentindo a respirao profunda, colocando as mos um pouco
abaixo do umbigo e sentindo a energia dessa respirao, primeiramente lenta e em
seguida, profundamente. Aps este momento de reflexo interna, foi apresentado o
material para que escolhessem conforme suas necessidades.
9.1 Vivncia: Painel de Apresentao
Neste grande painel, o grupo props a apresentao e nele escreveram seus
nomes, profisso, idades, se tinham filhos, o estado civil, tipo de hobby. No centro do
crculo foram colocados diversos materiais, como: canetas coloridas, giz de cera,
pastel a leo e seco, revistas, colas coloridas, colas com gliter e outros.
O foco do primeiro trabalho foi individual, utilizando papel sulfite, colagem de
figuras, escrita de frases, escolha da melhor forma de se apresentar ao grupo. Ao
final, todos compartilharam e se dirigiram ao grande painel, colando individualmente
suas apresentaes.
Na verbalizao, notei que havia afinidades entre as histrias de cada um: um
jovem e uma jovem expuseram a sua vontade de ter um filho e, ao final, detectei que
eram casados. Sobre o relaxamento, disseram ter mergulhado profundamente em si
mesmos e descobriram afinidades que, at ento, com dez anos de casados
passavam despercebidos e relataram como a magia do relaxamento trouxe maior
proximidade entre eles. Ao finalizar a vivncia, o grupo disse uma palavra que
deixou marcado aquele momento de encontro consigo mesmo.
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Ao manusear este material compilado, com sensibilizao, deixei este grupo de
pessoas bem vontade, liberando seus sentimentos. Observei que o material
oferecido abriu-se num leque de opes, em que tiveram a oportunidade de
expressar-se livremente, com a segurana de algum que deseja uma
transformao no alcance de seus objetivos. Ao terminar a vivncia a palavra que
marcou esse dia foi sublimao.
De modo geral, a questo detectada foi o desejo de reconstruo, tendo como
porta de entrada do Continuum das Terapias Expressivas - ETC que d
embasamento para que haja um desenvolvimento no trabalho teraputico.
Nessa oficina percebi o quanto s pessoas estavam carentes e em busca de
preencher o corao, revalorizando contedos at ento congelados pelo tempo.
Nesse processo criativo e meditativo foram trabalhados os aspectos
afetivos/cognitivos.
Em meio ao caos emocional percebido, disseram que apreenderam a
compartilhar seus sonhos e tristezas com os colegas do grupo. Vivenciaram
momentos antes no vividos no cotidiano e, naquele instante despertaram para o
sentir os outros como parte integrante deste universo to grande, com
peculiaridades diferentes.
Houve casos significativos na oficina criativa, como o da jovem AL. que passou
a vida toda se escondendo, dizendo que jamais pensava que poderia se
desvencilhar de um problema nos quatro dias em que participou da oficina de ateli
teraputico: chamou-o de encasulamento. Contou que sempre viveu momento de
angstia, por se sentir muito sozinha, mesmo quando estava rodeada de pessoas,
no tendo coragem de falar de si mesma. E disse que os desenhos e pinturas
fizeram vir tona este sentimento e a tornara livre, leve e mais solta.
A oficina revelou ao grupo suas imagens internas, demonstrando a importncia
da solidariedade, de nos colocarmos disponveis a sermos ouvintes da necessidade
do outro. O nvel criativo enfatiza a sintetizao e as foras de auto-realizao do
ego e do EU. (ALLESSANDRINI 2003, p.18).
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Dentre outros momentos de vivncia, AL. se deixou envolver pela
sensibilizao, se aprofundando no exerccio respiratrio, relaxando profundamente
por meio da msica com sons de rios, buscando em si mesma a necessidade de se
libertar de sentimentos antigos.
Trabalhou as linhas da vida, nas quais cada parte lembrava um fato ocorrido
entre trs e seis anos de idade. Para as linhas sinuosas, utilizou areia colorida no
tom azul ultramar e para fazer as linhas o tubo de cola cascorez, desenhando com o
bico da cola. Depois, derramou a areia sobre a cola, em cada parte objeto ou outra
cor de areia. Marcando um ponto de recordao, desenhou no canto do papel uma
borboleta amarela.
Terminado esse momento de conversa interior entre o pensar e o fazer A.
resolveu compartilhar com o grupo seus anseios. Contou que um dos fatos que ficou
marcante em sua vida se deu aos seis anos de idade. Ela era filha nica quando sua
me resolveu ter outro beb e um dia A. pegou o beb com sete meses e foi passear
com ele, retirando-o do carrinho. Sua me viu, ela se assustou, ficou com medo e
correu para se esconder debaixo da cama. Foi ento que A. descobriu a origem de
sua timidez e de nunca se abrir para contar seus problemas. E disse que a borboleta
representava o desvencilhar de sua timidez para a liberdade.
Dois estudos viabilizaram-me a compreender a timidez dos dois jovens: AL e
ED, cada um no seu mundo. AL. com sua famlia bem estruturada e ED., sem famlia
e criado por pessoas do lar acolhedor, desde os dez anos de idade e com
dificuldade em falar e expressar seus sentimentos.
AL. pelo susto que tomou quando criana, sendo tolhida de sua liberdade e,
naquele exato dia, com uma simples vivncia, conseguiu rever o que a fazia sofrer,
desprendendo-se de seu ser, pois deu a si mesma sua resposta.
ED, com a vivncia do vitral percebeu o grau de dificuldade que encontrava em
verbalizar o que sentia, conseguiu organizar as idias e expor s pessoas de seu
convvio, dizendo que se sentia livre e no se sentia mais preso em si mesmo.
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Nestes dois estudos percebi como fatores internos interferem e perturbam o
desenvolvimento do ser humano.
Com base nestes estudos, vejo quanto os jovens se sentem perturbados com
coisas que aconteceram em suas infncias e a busca por respostas que propiciem
um novo sentido s suas existncias, atitudes e valores.
De acordo com Jung (1977 p.166):
Se o desenvolvimento da conscincia for perturbado no seu desabrochar natural, a criana, para escapar s suas dificuldades externa e interna, isola-se em uma fortaleza ntima. Quando isso acontece, seus sonhos e seus desenhos, que do ao material inconsciente uma expresso simblica, revelam de maneira invulgar a recorrncia de um tipo de motivo circular, quadrangular ou nuclear. Centro vital da personalidade do qual emana todo o desenvolvimento estrutural da conscincia.
Todos os jovens e adolescentes foram perturbados por no terem sido criados
e educados por seus pais desde bebs at sua vida atual, mesmo tendo encontrado
pessoas que lhes deram suporte e proteo. As marcas so perceptveis na carncia
pelo desejo do conjunto familiar, tanto neles quanto em muitos outros que
desconhecemos, pois esto imersos num universo que s pertence a eles. No
difcil, mas custoso para um jovem encontrar o equilbrio total, mediante todas as
crises que sucederam os caminhos percorridos.
Jung (1977) discorre que o jovem se desperta gradativamente, caracterizado
pela conscincia de si mesmo e de seu mundo. durante a infncia que se torna
intensa a fase emocional, nascendo os primeiros sonhos e nas vivncias que os
adolescentes sempre descrevem sua infncia e seus desejos infantis. Como toda
criana, possuem sonhos de brincar com brinquedos diferentes: carrinho controle
remoto, viajar de avio, lpis de cores e um caderno de desenho - todos os sonhos
que crianas com melhor poder aquisitivo tm. E nesse momento que se encontra
a [...] estrutura bsica simblica, indicando como mais tarde ela ir modelar o
destino do indivduo (Op.cit., p.165).
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X - SOMOS PARTE DO TEMPO E HORIZONTE EM EVOLUO CONSTANTE...
(CONSIDERAES FINAIS)
Na Arteterapia foi bem fcil detectar por quais caminhos percorri e quem pingou
a tinta para influenciar este estudo. Porm, ficou claro que uma parcela do saber
adquirido se deu na observao e nas vivncias das oficinas criativas, desenvolvidas
no decorrer do estgio.
A energia gerada por todos os docentes que, pouco a pouco, semearam e
apresentaram teorias e ensinamentos a respeito da Arteterapia enriqueceram meu
aprendizado teraputico.
As vivncias em sala de aula somadas ao estgio se constituram em smbolos
que se projetaram quando buscava a evoluo dos adolescentes por meio da
Arteterapia. E essa projeo se argumentou incessantemente nas possibilidades e
formas propostas a cada encontro, amadurecendo a minha percepo quanto ao
fato de observar e acompanhar o desenvolvimento global de cada adolescente
atendido. Tenho conscincia de que cedo para ter esta certeza, porm, ainda
tenho uma longa jornada de aprendizado que vir com novos momentos
arteteraputicos.
Se atentarmos para o fato de que a percepo um meio pelo qual articulamos
e transformamos os saberes e que a arteterapia no se restringe somente ao carter
formal, mas tambm ao prprio comportamento que o individuo precisa adquirir,
sinto que todos os caminhos percorridos me fizeram amadurecer tanto para
problematizar quanto para criar solues que, ao longo do estgio, se configuraram.
Salles (1998.p.90), diz que:
A percepo artstica, como atividade criadora da mente humana, um dos momentos em que se percebem aes transformadoras. O filtro perceptivo vai processando o mundo em nome da criao da nova realidade que a obra de arte oferece. A lgica criativa consiste em formao de um sistema que gera significado. A partir de caracterstica que o artista lhe concede,
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a construo de mundos mgicos decorrentes da estimulao internas e
externas recebidas por meios de lentes originais.
Quanto magia que tomou conta de meu despertar enquanto arteterapeuta foi
proporcionada pelas expresses contidas nas vivncias e tiveram elaboraes
tericas na percepo, observao, unificao do real ao meu imaginrio, ao meu
fazer criativo integrado com os diversos nveis de expresso contidos nos dois anos
da especializao, na convivncia com os mestres que me conduziram busca de
conhecimentos, apontando caminhos que me levassem, no a um fim comum na
concluso do curso, mas abertura de novos horizontes que pudessem fazer a
minha vida mais desejante, com muito mais perspectivas.
As expresses que os adolescentes elaboraram foram se conduzindo conforme
suas necessidades e pelos meus estudos, no desejo em ajud-los a se encontrarem.
As linhas e cores eram aplicadas em diferentes tonalidades que se ligavam aos
componentes somticos e motores da vivncia e da expresso, ao nvel
cinestsico/sensorial e se transformaram em imagens por meio da forma.
Percebi que os adolescentes e jovens exploraram cada etapa, considerando a
sensibilidade no contexto dos desenhos e da massa argila, mantendo o foco para
suas reaes, sensaes, interesse, seus ritmos lentos ou mais acelerados.
Mantive-me como um a guardi consciente sobre o que viria a acontecer: suas
dificuldades e discernimentos quanto compreenso de seus movimentos internos.
A ansiedade tomou conta de mim dia aps dia durante todo o percurso do estgio.
Lembro-me bem de um dos momentos mais bonitos: foi quando levei sucatas
para criao dos bonecos em garrafas descartveis, em que passaram por etapas:
criar bonecos, reunir em equipe, criar uma histria, o cenrio e o momento da
apresentao. Fiquei encantada com a criatividade dos adolescentes. Esse toque de
vivncia me conduziu sensoriabilidade e percepo dos acontecimentos que
perpasavam por mim, sentindo a emoo dos meninos e meninas em seus
momentos de liberdade e ao.
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Essa experincia e a vivncia so frutos que se propagaram em meu
desenvolvimento e em minha compreenso de que a percepo um complicado
fenmeno que sofre diferente evoluo interior de minha realidade, enquanto
pesquisadora, em contraponto s oscilaes de um determinado momento, pois as
dvidas que surgiam pareciam infinitas e sem respostas.
Muitos questionamentos me foram suscitados interiormente e propus a mim
mesma: disciplina entre a transio, a leitura das teorias e o fazer, elaborando as
vivncias e a transcrio do processo de trabalho. Portanto, emergiu em mim um
potencial que foi se tornando um componente ativo de meu fazer cotidiano, pois me
sinto mais preparada para idealizar e concretizar os meus estudos, percebendo as
transformaes que os desenhos e modelagens proporcionam em cada gesto e
movimento das pessoas atendidas.
Mas o que mais me chamou ateno foi o fato de trabalhar, primeiramente, o
no verbal, observando nos desenhos dos adolescentes a desenvoltura para uma
nova elaborao e, ao mesmo tempo, comecei a perceber que, a cada encontro
repensava a necessidade do desdobramento para complementar o encontro
passado, analisando cada etapa concluda.
Passei a olhar a Arteterapia por um novo ngulo. As vivncias construdas e
desconstrudas me impulsionaram a novas realizaes. Sei que ainda preciso
estudar muito, mas creio que esta especializao ampliou os meus conhecimentos,
conceitos, significaes, formas de ver e materializar os meus sonhos, o meu
imaginrio e os de outras pessoas que me foram e so queridas.
Para Ostrower (1977 p.70).
No trabalho o homem intui. Age, transforma, configura, intuindo. O caminho em toda tarefa ser novo e necessariamente diferente. Ao criar, receber sugesto da matria que est sendo ordenada e se altera sob suas mos, nesse processo configurador o indivduo se v diante de encruzilhadas. A todo instante, ele ter que se perguntar: sim ou no, falta algo, sigo ou paro... A partir de noes intelectuais, conhecimentos familiares sua mente... Decidir baseando-se numa empatia com a matria via articulao.
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As possibilidades foram muitas e aprendi a ir sempre em busca de mais,
sempre mais... Construindo, reconstruindo, desconstruindo saberes, pois a vida
um tempo que se move.
bem verdade que o avano da cincia faz com que o homem tenha uma nova
viso, como uma pessoa de mente flexvel, aberta e disponvel para novas
articulaes, procurando resolues para vrias questes e dvidas. E foi nesta
perspectiva que parti em busca de levantamento das possibilidades, envolvendo os
adolescentes e sua evoluo por meio dos desenhos, pinturas, recortes, colagens e
modelagens, levando os adolescentes, por meio de materiais simples, a alarem
vos teraputicos como resultados deste estudo.
A relevncia desta pesquisa se direciona especificamente ao adolescente,
podendo atingir os jovens e adultos de toda Regio Amaznica, ainda carente neste
contexto, pois descrevo o processo e as descobertas que aconteceram neste
percurso.
Ademais, foi uma pesquisa que respeitou todos os passos necessrios
comprovao cientfica, pois segui os caminhos que foram direcionados pela
coordenadora e a co-orientadora, in locum, colhendo dados, vivenciando, por vezes
desconstruindo, reconstruindo, elementos que considero indispensveis a um bom
arteterapeuta: a capacidade de transformar, no s as matrias ou os indivduos
envolvidos no processo, mas primordialmente, a si mesmo. E na pesquisa em
Arteterapia nada disso diferente: vale, sim, o respeito s regras cientificas.
A importncia desse desenvolvimento se confirmou na possibilidade e
construo do conhecimento tcito, se revelando verdadeira e necessria
componente da ao imaginativa e criativa.
Neste nterim, socializei-me com a coordenadora e a co-orientadora, recebendo
informaes sobre a necessidade e importncia do equilbrio no processo
teraputico, para que pudesse realizar, de maneira tranqila, este meu caminhar,
mesmo com todos os desafios, que s serviram de estmulo, na medida em que j
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havia decidido partir em busca de meu desenvolvimento, tanto cognitivo quanto
afetivo/emocional, relacionando cada vivncia, cada adolescente presente em
minhas experincias como futura arteterapeuta.
Somos tempo e horizonte em constante evoluo, envoltos no processo dos
mistrios da essncia, que nos permite pensar sempre: somos gua, terra, fogo e ar
em eterna ebulio. O horizonte inalcanvel de nossas memrias hbridas tem
cheiro de tempo... de sonhos, de eterno prosseguir. E assim, no finalizo este texto,
pois para mim tudo fica at um novo reencontro, at o novo percurso que somente o
tempo permitir ver chegar.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ALLESSANDRINI, Cristina Dias.Tramas Criadoras na construo do ser si mesmo. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1999. _________________________. Anlise Microgentica da Oficina Criativa: Projeto de Modelagem em Argila. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2004.
ARTIGO.http://paginaseducao.no.sapo.pt/Caractersticas dos 13 a 16anos.
02/05/2005.GESSEL,Psicologia Evolutiva de 1 16 aflos,ed.Paids Aires,1963.
FERGUSON, M., A conspirao Aquariana. Rio de Janeiro. Editora Record, 1980. JUNG, C.G. O homem e seus Smbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.
MIGLIORI, Regina de Ftima et al. tica, valores humanos e transformao. So Paulo: Fundao Petrpolis, 1998.
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TIBA, Iami. Quem Ama Educa! So Paulo: Editora Gente, 2002.
WINNICOTT.D.W. Tudo comea em casa. In: O conceito de Indivduo Saudvel; Vivendo de Modo Criativo; A imaturidade do adolescente. So Paulo: Martins Fontes, 1989.
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ANEXO
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ANEXO A - Grupo MEL: Encontro 01 - 27 / 04 / 2004
Neste primeiro encontro nos reunimos em crculo e fizemos levantamento das
necessidades do grupo: apresentao atravs da confeco de um crach, na qual
deveria se colocar um a
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