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A Condução da Análise:
Tema:
A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?
Coordenação Alexandre Simões
ALEXANDRE SIMÕES
® Todos os direitos de
autor reservados.
por definição, é algo que se apresenta por meio do e para o
equívoco
Significante
Isto quer dizer que o significante remete a várias significações possíveis e a efeitos
diversos
Voltemos à questão inicial:
A palavra do analista é alusiva: onde isto se localiza na clínica?
INTERPRETAÇÃO
A estrutura da interpretação não deve ser explicativa, nem mesmo sugestiva ou
imperativa
Ela deve ser ALUSIVA e EQUÍVOCA, pois a interpretação não é para ser
estritamente compreendida, mas para
"provocar ondas" (Lacan, Conférences et entretiens dans les universités nord-américaines.
1975)
Especialmente a partir da obra de Freud,
em que ponto podemos localizar com mais precisão a estrutura da interpretação?
A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
Nesta obra, verificamos
que a interpretação é ALUSIVA, na
medida em que ela se
atrela à realização do
desejo
Há uma passagem muito conhecida d’A interpretação dos sonhos, na qual Freud apresenta a seguinte situação de uma de suas pacientes:
Transferencialmente, a paciente se posicionava como uma crítica à sua afirmação de que os sonhos
são realizações de desejo.
Desta forma, ela se empenhava por refutar o saber do Outro.
Em certa ocasião, ela levou para a sua sessão de análise um sonho e assim o apresentou:
“O senhor sempre me diz que o sonho é um desejo realizado. Pois bem, vou lhe contar um
sonho cujo tema foi exatamente o oposto - um sonho em que um de meus desejos não foi
realizado. Como o senhor enquadra isso em sua teoria? Foi este o sonho:”
“Eu queria oferecer uma ceia, mas não tinha nada em casa além de um pequeno salmão defumado. Pensei em sair e comprar alguma coisa, mas então me lembrei que era domingo à tarde e que todas as lojas estariam fechadas. Em seguida, tentei telefonar para alguns fornecedores, mas o telefone estava com defeito. Assim, tive que abandonar meu desejo de oferecer a ceia.”
(cf. A interpretação dos sonhos, capítulo IV)
À primeira vista, não há nada neste sonho que possa nos levar à pensar em um desejo realizado. Na análise do sonho, Freud recorre aos elementos que dão textura ao sonho. Nas palavras de Freud: “... a investigação de um sonho é sempre
encontrada nos acontecimentos da véspera.”
(A interpretação dos sonhos, p. 161; edição de 1980)
Indo aos elementos diurnos do sonho, Freud faz o seguinte comentário: “O marido de minha paciente, um açougueiro atacadista, honesto e competente, comentara com ela, na véspera, que estava ficando muito gordo e que, por isso, pretendia começar um regime de emagrecimento. Propunha-se levantar cedo, fazer exercícios, ater-se a uma dieta rigorosa e, acima de tudo, não aceitar mais convites para cear. Ela acrescentou, rindo, que o marido, no lugar onde almoçava regularmente, travara conhecimento com um pintor que o pressionara a lhe permitir que pintasse seu retrato, pois nunca vira feições tão expressivas. O marido, contudo, replicara, à sua maneira rude, que ficava muito agradecido, mas tinha a certeza de que o pintor preferiria parte do traseiro de uma bonita garota a todo o seu rosto.”
Dando sequência à associação livre, a
paciente, que estava muito
apaixonada pelo marido e brincava muito com ele, diz
a Freud que lhe implorou para que ele não lhe desse nenhum caviar.
“Perguntei-lhe o que significava isso, e ela explicou que há muito tempo desejava poder comer um sanduíche de caviar todas as manhãs, mas refutava fazer essa despesa.
Naturalmente, o marido a deixaria obter isso imediatamente, se ela tivesse pedido. Mas, ao contrário, ela lhe pedira que não lhe desse caviar, para poder continuar a mexer com ele por causa disso.” (cf., p. 162)
Na argumentação de Freud:
“Vi que ela fora obrigada a criar para si mesma um desejo não realizado na vida real ....” - no caso em questão não simplesmente o não ter caviar ou abrir mão do sanduíche matinal de caviar, mas demandar que o amado não lhe desse caviar - “e o sonho representava essa renúncia posta em prática.”
Freud faz uma pergunta bem interessante, que pode nos auxiliar a melhor localizar a estrutura histérica:
“Mas por que precisaria ela de um desejo não realizado?”
(cf. p. 162)
Prosseguindo em seu discurso, a paciente menciona que na véspera
ela visitou uma amiga “... de quem confessava ter ciúmes
porque seu marido (de minha paciente) estava constantemente a
elogiá-la. Felizmente, essa sua amiga é muito ossuda e magra, e o
marido de minha paciente admirava figuras mais cheinhas.”
(cf. p. 162)
• amiga magra
• desejo insatisfeito
• caviar
salmão marido
sonhadora
Começamos, assim, a verificar um encadeamento entre os significantes:
Voltando ao encontro da paciente com a amiga magra
“Perguntei-lhe o que havia conversado com
sua amiga magra. Naturalmente,
respondeu, sobre o desejo dela de engordar
um pouco. A amiga também lhe perguntara: ‘quando é que você vai nos convidar para outro
jantar? Os que você oferece são sempre
ótimos.’” (cf. p. 162)
Freud vai entrar em mais detalhes na interpretação deste sonho. Todavia, o ponto que agora nos
interessa é aquilo que foi mediado pelo significante
salmão defumado:
“ ‘Como foi’, perguntei, ‘que a senhora chegou ao salmão que aparece no sonho?’ ‘Oh’, exclamou ela,
‘salmão defumado é o prato predileto de minha amiga’ ” (cf. p. 163)
“ ... o próprio desejo de minha paciente era que o de sua amiga
(engordar) não se realizasse. Mas, em vez disso, ela sonhou que um de seus próprios desejos não era
realizado. Portanto, o sonho adquirirá nova interpretação se supusermos que a pessoa nele
indicada não era ela mesma, e sim a sua amiga: que ela se colocara
no lugar da amiga, ou, como poderíamos dizer, que se
‘identificara’ com a amiga.”(cf. p. 163)
“Qual é o sentido da identificação histérica? (...) A identificação é um fator altamente importante no mecanismo dos sintomas histéricos.” (cf. p. 163)
Por meio deste sonho, podemos extrair dois pontos cruciais para a estrutura da interpretação:
1) Um desejo sempre se vincula a outro desejo
2) Na histeria, a vinculação de um desejo a outro atrela o sujeito a uma falta
O que há de alusivo na interpretação?
sujeito
falta
Prosseguiremos com a pergunta
Os lugares do sentido e do não-sentido na análise:
há indicadores clínicos para isto?
Até lá!
Acesso a este conteúdo:www.alexandresimoes.com.br
ALEXANDRE SIMÕES
® Todos os direitos de autor reservados.
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