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SUMÁRIO
1 ANTECEDENTES..................................................................................................................22 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DESERTIFICAÇÃO................................143 DESERTIFICAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE........................................................18
3.1 Caracterização Geral do Território Norte-rio-grandense................................................183.2 As Áreas Susceptíveis à Desertificação do Rio Grande do Norte..................................32
3.2.1 Características..........................................................................................................333.2.2 Áreas Susceptíveis à Desertificação........................................................................443.2.2.1 Áreas Semi-áridas.................................................................................................463.2.2.1.1 Núcleo de Desertificação do Seridó...................................................................483.2.2.2 Áreas Subúmidas Secas........................................................................................523.2.2.3 Áreas do Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas..............................53
4. CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO ÂMBITO DAS POLITÍCAS PÚBLICAS DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO.............................................................555. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL...........................................................................................62REFERÊNCIAS........................................................................................................................70ANEXOS..................................................................................................................................73
1 ANTECEDENTES
A segunda metade do século XX e o limiar do século XXI foram marcados por
um elevado estágio de desenvolvimento científico-tecnológico, ampliando-se os horizontes da
criação, inovação e reinvenção do saber-fazer humano. Nesta fase, também foram dilatados o
nível e a natureza das ações e intervenções humanas sobre o meio ambiente, de modo que a
exploração dos recursos naturais passou a registrar maior produção/produtividade, traduzindo-
se em maior pressão sobre os mesmos. Assim, a ampliação de possibilidades criadas pelo
meio técnico-científico-informacional é contemporânea à elevação da magnitude dos
problemas enfrentados pela humanidade.
Neste contexto, as relações entre os homens e entre estes e a natureza têm sido
presididas por uma racionalidade economicista, manifestando-se na exploração social (dos
homens entre si) e ambiental (homem x meio ambiente). Em conseqüência, expande-se a
degradação social, transformando pessoas em farrapos humanos, cuja existência se constitui
um grosseiro simulacro da vida. A espacialização deste processo assume a forma de
degradação ambiental, cuja feição mais intensa é a desertificação. Este fenômeno que se
revela no desgaste dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação, da biodiversidade, por
conseguinte, da própria qualidade de vida, manifesta-se sobretudo nas regiões áridas e semi-
áridas da Terra. Sobrepondo-se os indicadores sociais a estes recortes, constata-se que neles
há uma expressiva concentração de pobreza e miséria, cujas razões não se fundam em
fenômenos naturais, mas na trajetória histórica. “São mais de 1 bilhão de pessoas vivendo nas
terras secas e utilizando, em termos gerais, sistemas produtivos de baixo nível tecnológico e
totalmente descapitalizados” (PERNAMBUCO, 2001, p. 9), procurando sugar os escassos
recursos na luta para subsistir.
Nos últimos decênios, a expansão e os impactos da desertificação despertaram a
comunidade científica para a necessidade de se aprofundar os estudos sobre o tema e de
formular políticas que tenham como objetivo atuar sobre os agentes desencadeadores e/ou
minimizar seus efeitos.
As preocupações com a desertificação adquiriram proeminência, na década de
1930, em função da intensa degradação dos solos verificada no meio-oeste americano,
conhecida como “Dust Bowl”, que atingiu uma área de 380.000 km². A ocorrência deste
fenômeno motivou os cientistas a desenvolverem estudos e pesquisas neste campo e a
identificarem tal processo como sendo o da desertificação.
2
Contudo, foi nos anos de 1970, quando o Sahel africano – região semi-árida
abaixo do deserto do Saara - vivenciou uma grande seca resultando, entre outras
conseqüências, na dizimação de mais de 500.000 pessoas de fome, que a problemática
repercutiu mundialmente (MMA, [199-], p. 2-3). As precárias e dramáticas situações de vida
da população africana, enredadas em secas, fome e guerras, já vinham chamando a atenção da
comunidade internacional desde a década de 1960. Intensos movimentos migratórios e uma
acentuada devastação ambiental pontilhavam o território africano, especialmente o Sahel, e
sinalizavam para a conformação de um quadro sócio-ambiental resultante da associação entre
pobreza, fome e destruição dos recursos naturais vitais como água, vegetação e solo. A leitura
deste processo conduziu à interpretação de que se tratava do fenômeno da desertificação, cuja
face ambiental manifestava-se pela destruição dos recursos naturais; a face econômica
revelava-se pela redução da produção e da produtividade agrícola e a face social mostrava-se
através do empobrecimento da população, expresso no aumento das epidemias e das taxas de
mortalidade infantil. Desta constatação inicial, a comunidade internacional construiu um outro
entendimento: o de que o fenômeno em pauta não se restringia à África, aparecendo nos
demais continentes, mais especificamente nas regiões sob climas áridos e semi-áridos -
sujeitos à seca. Neste sentido, a desertificação passou a ser considerada um problema de
escala global e, como tal, tornou-se um tema recorrente na agenda das organizações
internacionais.
Neste cenário, as Nações Unidas patrocinaram as iniciativas primeiras e de maior
envergadura. Sob seus auspícios, em 1972, na Suécia (Estocolmo), foi realizada a Conferência
Internacional sobre Meio Ambiente Humano, sendo abordada a catástrofe africana decorrente
da seca (1967-1970) e dos problemas de desertificação. As proporções que a problemática
assumiu foram fundamentais para que, nesta Conferência, fosse decidida a realização de um
outro evento específico para abordar a desertificação.
Este ocorreu em 1977, no Quênia (Nairóbi), sob o título de Conferência das
Nações Unidas sobre Desertificação, e resultou “na consolidação do tema a nível mundial”,
sendo incluídas no cenário das discussões as regiões áridas e semi-áridas da Terra e questões
pertinentes à relação entre pobreza e meio ambiente, além da decisão de se elaborar o Plano
de Ação Mundial contra a Desertificação (MMA, [199-], p. 14-15).
Na seqüência dos eventos internacionais com repercussões sobre desertificação,
sagrou-se a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. A Rio 92 ou ECO 92, como ficou
conhecida, representou um marco nas discussões e ações sobre o tema, tendo em vista a
3
consolidação e aprovação de cinco documentos relacionados ao ambiente1: Carta da Terra,
Convenção do Clima, Convenção da Biodiversidade, Declaração de Princípios sobre Florestas
e Agenda 21. Este último é considerado por muitos ambientalistas como o principal
documento assinado pelas autoridades mundiais nesse evento e conforme registra
textualmente “está voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo, ainda, de
preparar o mundo para os desafios do próximo século”.
Na Agenda 21, em seu Capítulo 12 (1997, p. 183), encontra-se sistematizada uma
definição para o termo desertificação, assim expressa: “a desertificação é a degradação do
solo em áreas áridas, semi-áridas e subúmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive
de variações climáticas e de atividades humanas”. A degradação da terra é entendida como
correspondente à degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e da
biodiversidade, significando, por fim, a redução da qualidade de vida das populações afetadas
(MMA, 2004, p. 4). Como resultado da implementação da Agenda 21, merece ser ressaltada a
sistematização e aprovação da “Convenção das Nações Unidas para o Combate à
Desertificação nos países que sofrem seca grave e/ou desertificação, particularmente na
África”- CCD, em vigor desde 26 de dezembro de 1996, que representa um progresso em
termos de enfrentamento do problema em níveis nacionais e internacionais.
Tecida no âmbito do entrelaçamento de fatores naturais e ações antrópicas, a
desertificação alastrou-se pelo mundo atingindo cerca de um sexto da população, 70% das
terras secas e um quarto da área do planeta (Agenda 21, 1997, p. 183). Considerando a
dimensão e a extensão deste fenômeno é possível admitir que a sociedade atual vive um
momento de extrema periculosidade, posto que o crescimento demográfico, embora
desacelerado, ainda é positivo e se traduz em maior pressão sobre os recursos naturais.
Embora se tenha conhecimento de que a apropriação das terras pelo homem é um
processo secular, é reconhecível que, na segunda metade do século XX, em decorrência de
uma série de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, a sociedade passou a intervir
com maior avidez sobre a natureza e a exigir vorazmente dos recursos naturais, em muitos
casos levando-os à ameaça de exaustão.
No Brasil, a trajetória da desertificação seguiu basicamente os (des)caminhos
trilhados pelo processo em nível mundial. As referências a uma preocupação com a destruição
das matas, remontam ao século XVIII, mais precisamente ao “ano de 1726, quando o governo
1 Sobre a essência do que estabelece cada documento consultar CORRÊA, Altir. Agenda 21: solo, áreas degradadas, desertificação. EMBRAPA, solos. Disponível em: http://www.cnps.embrapa.br/search/planets/coluna23.html. Acesso em: 26 set 2005.
4
colonial criou o cargo de juiz conservador de matas”, com o objetivo de coibir as ações
indiscretas e desordenadas que assolavam as matas (VILLA, 2000, p. 65 apud MEDEIROS,
2004, p. 22). Fragmento textual extraído de um discurso proferido por José Bonifácio, na
Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império, em 1823, expressa o quão antigo é o
problema da degradação no Brasil: “[...] nossas preciosas matas vão desapparecendo, victimas
do fogo e do machado destruidor da ignorância e do egoísmo; nossos montes e encostas vão-
se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes, que
favoreção a vegetação, alimentam nossas fontes e rios, sem o que o nosso bello Brasil em
menos de dois séculos ficará reduzido aos paramos e desertos áridos da Lybia” (BRITO,
1987, p. 57 apud MEDEIROS, 2004, p. 23).
No decorrer do século XX, importantes contribuições foram dadas por estudiosos
como Phillip Luetzelburg, José Guimarães Duque, Thomas Pompeu de Souza Brasil, Thomas
Pompeu de Souza Brasil Filho, Thomas Pompeu Sobrinho, Carlos Bastos Tigre, Dárdano de
Andrade Lima e Lauro Xavier (MMA, 2004, p. 52). Além destes, há ainda estudos produzidos
por Aziz Ab’Saber, Edmon Nimer, Phillip M. Fearnside, Luciano José de Oliveira Acciolly,
Magda Adelaide Lombardo, Alexandre José Rego P. de Araújo, José Bueno Conti, Benedito
Vasconcelos Mendes, entre outros.
Dentre os estudiosos do tema desertificação, merece um realce especial a
produção de João de Vasconcelos Sobrinho, professor da Universidade Federal Rural de
Pernambuco. O referido professor, além de publicar uma significativa produção bibliográfica
nesta área, contemplando principalmente a Região Nordeste, também atuou na elaboração do
Relatório Brasileiro para a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação e foi membro
da delegação brasileira para a Conferência em Nairóbi. Entre suas proposições científicas
mais relevantes situa-se a teoria dos Núcleos de Desertificação e a metodologia para
identificação de processos de desertificação (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002).
Uma outra importante contribuição ao conhecimento das áreas susceptíveis à
desertificação do Brasil, correspondentes ao bioma Caatinga, foi produzida pelo Conselho
Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga. O Projeto “Cenários para o Bioma Caatinga”,
envolve a montagem de um banco de dados em ambiente SIG, com sistema interativo de
consulta, e a elaboração de cenários, a partir do diagnóstico e da identificação das
potencialidades regionais. A publicação dos resultados deste trabalho, sob o título “Cenários
para o Bioma Caatinga”, foi sistematizada em tópicos que tratam das bases para o
desenvolvimento sustentável do referido bioma, do cenário tendencial, do cenário desejável,
da agenda de desenvolvimento sustentável e do diagnóstico. Neste último, são analisados os
5
aspectos do desenvolvimento regional, caracterizadas as dimensões econômicas, sociais,
culturais e ambientais do bioma caatinga e apresentados os impactos ambientais decorrentes
do uso dos recursos naturais e os impactos das políticas públicas sobre o desenvolvimento do
mencionado bioma (BRASIL, 2004). Este projeto se constitui o maior banco de dados sobre o
bioma Caatinga, sendo uma referência para os estudos que tratem de temas relativos a esta
fração do território brasileiro.
Considerando a definição de desertificação, anteriormente exposta, vislumbra-se
que uma significativa parcela do Brasil é passível à ocorrência do fenômeno, mais
especificamente, a região semi-árida nordestina. No Mapa de Ocorrência da Desertificação do
Brasil este recorte apresenta áreas com processos de degradação intensos, muito graves,
graves e moderados. As áreas de intensa degradação, ou seja, os Núcleos de Desertificação
situam-se em Gilbués/PI, Irauçuba/CE, Cabrobó/PE e na Região do Seridó/RN (MMA,
[199-], p. 10-11).
No âmbito dos compromissos firmados pelo governo brasileiro, ao ratificar a
Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, foi construído o Programa de
Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN Brasil
(MMA, 2004). Norteado pelo paradigma do desenvolvimento sustentável, conforme
explicitado na Agenda 21, este documento assume relevância “na medida em que faz
referência e busca criar condições de prosperidade para uma região com grandes déficits
sociais e produtivos, resultantes de uma história ambiental, social, econômica e política, que
configuram um quadro muitas vezes desolador de pobreza e miséria” (MMA, 2004, p. xxiii).
Em termos de território brasileiro, conforme as definições da Convenção, a região em foco
corresponde aos espaços semi-áridos e subúmidos secos do Nordeste e alguns trechos
igualmente afetados pelas secas nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Identificados
como Áreas Susceptíveis à Desertificação – ASD, estes espaços estão concentrados na Região
Nordeste, abrangem 1.338.076 km², equivalentes a 15,72% do território nacional, abrigam
mais de 31,6 milhões de habitantes (18,65% da população brasileira) e correspondem à
circunscrição da Caatinga, um bioma sui generis.
Tratando-se especificamente da problemática da desertificação no Rio Grande do
Norte, é possível evidenciar na bibliografia pertinente que frações do território estadual já
foram inseridas como representativas deste processo, desde os estudos de Vasconcelos
Sobrinho, sobre a ocorrência do fenômeno no Nordeste brasileiro. Ao desenvolver o conceito
6
de Área Piloto2, o mencionado autor definiu que no Rio Grande do Norte esta seria
representada pela Região Fitogeográfica do Seridó, envolvendo os municípios de Currais
Novos, Acari, Parelhas, Equador, Carnaúba dos Dantas, Caicó, Jardim do Seridó e áreas de
municípios vizinhos (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002, p. 60).
Outros trabalhos contemplando o território potiguar sob a ótica da questão da
desertificação e/ou temas correlatos como a seca, a exploração de recursos naturais e o
desenvolvimento sustentável, foram desenvolvidos por vários estudiosos transformando-se
em um importante legado para as gerações atual e futura, dos quais destacamos:
BORGES, A. M. et, alii. Áreas vulneráveis à Desertificação do Rio Grande do Norte. Caderno Norte-riograndense de temas geográficos, Natal, , v. 4, 1979. BRASIL; MMA; SERHID. Projeto piloto de combate à desertificação na Região do Seridó, 2001 (partes A e B).COSTA, Thomaz Corrêa e Castro da. et. al. Mapeamento da fitomassa da caatinga do Seridó pelos índices de área de planta e vegetação normalizada. Sci. Agric. (Piracicaba, Braz. [on line]. out./dez.2002, v. 59, nº 4, p. 707-715. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&S0103-90162002000400014&ing=pt&nrm=iso. ISSN 0103-9016.EMPARN. Avaliação de práticas de revegetação em áreas degradadas pela atividade de cerâmica-RN. [S.l.: s.n., 19--].EMPARN. Introdução e seleção de espécies florestais para florestamento e reflorestamento no semi-árido potiguar. [S.l.: s.n., 19--];.FARIA, H. B. de. Identificação de núcleos de desertificação na região seridoense do Estado do Rio Grande do Norte. Seminário sobre desertificação no Nordeste. Recife: SUDENE, 1986.FREIRE, Adalberto Antônio Varela. A caatinga hiperxerófila Seridó: caracterização e estratégia para a sua conservação. Publi. ACIESP/U.S. FISH & WILDLIFE SERVICE, n. 11. São Paulo, 2002. IICA. Preservação e conservação e recuperação da cobertura vegetal nativa do município de Equador – RN, [S.l.: s.n., 19--].MEDEIROS, Getson Luís D. de. Mapeamento dos agentes de degradação ambiental do Seridó. In: Seminário Sociedade e Territórios no Semi-Árido Brasileiro: em busca da sustentabilidade. Campina Grande-PB, 2002.MEDEIROS, Getson Luís Dantas de. A desertificação do semi-árido nordestino: o caso da Região do Seridó norte-rio-grandense. 2004. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2004.MEDEIROS, Josemar Araújo de; MEDEIROS, Erivelto Elpídio de. Água: a questão hídrica no Seridó. Diário de Natal, Natal, 22 mar. 2003.
2 Vasconcelos Sobrinho, 2002, p. 59: Conceito de Área Piloto – “É evidente que há impossibilidade de um estudo abrangente de uma área por demais vasta como seja a de um Estado e muito menos a de todo o Polígono. Impões, pois, a escolha de áreas específicas bem representativas, capazes de serem estudadas como áreas-piloto.” Foram criadas seis áreas piloto, distribuídas pelos estados do Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte.
7
MEUNIER, Isabelle Maria J.; CARVALHO, Adailton José Epaminondas de. Crescimento da caatinga submetida a diferentes tipos de cortes na Região do Seridó do Rio Grande do Norte. Boletim Técnico, nº 4, Natal: MMA, set. 2000.NÉRI, M. S. A. Processo de desertificação: o caso de São José do Seridó. Natal: UFRN, 1982.PNUD/FAO/BRA/87/007. Diagnóstico florestal do Rio Grande do Norte. [S.l.: s.n.], 1994. PNUD/FAO/BRA/93/033. Crescimento da caatinga submetida a diferentes tipos de cortes na Região do Seridó do RN. [S.l.: s.n.], 1999. PNUD/FAO/BRA/87/007. Incremento das matas nativas do Seridó do Rio Grande do Norte. [S.l.: s.n.], 1991; PNUD/FAO/BRA/87/007. Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do RN: v. I – Levantamentos básicos, v. II – Definição de estratégias, v. III Plano de manejo florestal. [S.l.: s.n.], 1992.QUEIROZ, Alvamar Costa. Desertificação: causas e conseqüências. In: Seminário sobre desertificação no Seridó – RN, 1997, Currais Novos/RN: 1997. p. 1-9. Texto xerog..RIO GRANDE DO NORTE; SEPLAN; IICA. Plano de desenvolvimento sustentável do Seridó: v. 1 - Diagnóstico; v. 2 – Estratégias, programas e projetos e sistema de gestão. Caicó, set. 2000.SILVA, Carlos Sérgio Gurgel da. Abordagens sobre o processo de desertificação nos municípios de Parelhas e Equador no Estado do Rio Grande do Norte: uma avaliação. 1999. Monografia (Bacharelado em Geografia) – UFRN, Natal, 1999.SZILAGYI, Gustavo. Abordagens sobre o processo de desertificação e uma revisão conceitual para o fenômeno investigado. Monografia (Bacharelado em Geografia) – UFRN, Natal, 2004.
No âmbito da produção norte-rio-grandense um estudo que se tornou referência
foi produzido por Carvalho; Gariglio; Barcellos (2000) sob o título “Caracterização das áreas
de ocorrência de desertificação no Rio Grande do Norte”. Este trabalho teve como aporte o
Plano Nacional de Combate à Desertificação – PNCD (1995), no qual o território potiguar foi
avaliado sob a ótica da ocorrência e da intensidade do processo de desertificação. As áreas
susceptíveis ao fenômeno foram classificadas segundo o Grau de Susceptibilidade, em áreas
com intensidade muito grave, grave e moderada (TAB. 01).
TABELA 01Ocorrência do Processo de Desertificação no Rio Grande do Norte
CLASSE DE ÁREA POPULAÇÃOINTENSIDADE Km² % Absoluta %
Muito Grave 12 965 24,3 289 767 11,0Grave 20 545 38,5 591 158 22,5
8
Moderada 5 120 9,6 215 112 8,2Total Afetado no RN 38 630 72,5 1 096 037 41,7Estado 53 307 100,0 2 630 000 100,0
FONTE: PNCD, 1995 apud CARVALHO; GARIGLIO; BARCELLOS. Caracterização das áreas de ocorrência de desertificação no Rio Grande do Norte, 2000, p. 8.
As informações apresentadas3 permitem inferir que, possivelmente no início dos
anos de 1990, a desertificação já tinha afetado 72,5% do território potiguar, em níveis de
intensidade variados e sinalizavam para estatísticas preocupantes, principalmente em função
da representatividade que assumia as áreas com estágios de ocorrência classificados como
grave e muito grave. Um outro aspecto importante refere-se à abrangência populacional, visto
que nas áreas afetadas moravam 41,7% do contingente estadual, ressaltando-se que, na região
com nível de desertificação muito grave, residiam 11% dos potiguares.
A projeção dos dados da desertificação no espaço norte-rio-grandense revela o
mapa de ocorrência do fenômeno, explicitando a classe de intensidade, segundo as regiões
afetadas (MAPA 01).
MAPA 01 – Ocorrência de Desertificação no Rio Grande do Norte
3 Importante esclarecer alguns pontos. Este documento foi produzido quando ainda se considerava que o Rio Grande do Norte possuía aproximadamente 53.000 km² de extensão; há indicações no texto de que o PNCD foi datado de 1995, porém não esclarece o ano ao qual a tabela se refere, por isso, consideramos que possivelmente remeta ao início dos anos de 1990; os autores adotaram a mesma divisão que o PNCD apresentou, ou seja, a antiga divisão do Estado em microrregiões homogêneas.
9
FONTE: CARVALHO; GARIGLIO; BARCELLOS. Caracterização das áreas de ocorrência de desertificação no Rio Grande do Norte, 2000, p. 9.
Conforme a representação cartográfica da desertificação no território potiguar, o
recorte de ocorrência muito grave correspondia à Microrregião Homogênea do Seridó (centro-
sul do Estado), inclusive sendo retratada a área de abrangência do Núcleo de Desertificação,
compreendido pelos municípios de Currais Novos, Acari, Cruzeta, Carnaúba dos Dantas,
Parelhas e Equador. Em 1989, com a vigência da nova divisão regional do Brasil, adotada
pelo IBGE, este espaço passou a configurar duas microrregiões geográficas: Seridó Oriental,
onde se situa o Núcleo de Desertificação, e Seridó Ocidental (vide MAPA 02).
O espaço onde a desertificação se manifestava de forma grave era constituído
pelas Microrregiões Salineira Norte-rio-grandense (litoral norte em sua porção centro-oeste),
Açu e Apodi (centro e oeste) e Serra Verde (centro-leste). Com a nova divisão regional, houve
um reordenamento que resultou nas seguintes microrregiões: Mossoró, Chapada do Apodi,
Médio Oeste e Vale do Açu, localizadas na porção centro-oeste, e Litoral Nordeste, Baixa
Verde e Angicos, situadas no centro-leste do Estado.
A circunscrição de ocorrência moderada restringia-se à Microrregião Homogênea
Serrana Norte-rio-grandense, cuja localização corresponde ao extremo sul-oeste do território
potiguar. Mediante a reorganização regional foi dividida em três microrregiões: Umarizal, Pau
dos Ferros e Serra de São Miguel.
A identificação dos estudos sobre a desertificação no Rio Grande do Norte denota
que a preocupação com o problema já se fazia presente nos últimos decênios do século XX,
sendo sintomático que, em 1997, tenha sido criado o Grupo de Estudos sobre Desertificação
no Seridó – GEDS. O referido grupo, que envolve diversas instituições, “foi fruto de um
processo de reflexão em torno das questões da seca, das alternativas de convivência com a
mesma e do combate direto aos processos desencadeadores da desertificação” e tem como
objetivo fomentar estudos e debates sobre o tema, articulando ações capazes de promover o
desenvolvimento sustentável no Seridó (IDEMA, 2004, p. 11).
Nesta mesma linha de ação, em 17 de junho de 2004, através de Termo de
Cooperação Técnica e Científica Nº 004/2004, instrumento que visa implantar estratégias para
combater e controlar o processo de desertificação no Estado, a partir da criação de áreas
pilotos e ações sincronizadas, foi criado o Núcleo de Desenvolvimento Sustentável da Região
do Seridó – NUDES. O referido Termo foi celebrado entre a Procuradoria Geral de Justiça do
Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, o Governo do Estado do Rio Grande
do Norte, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Escola Superior de Agricultura
10
de Mossoró, o Departamento Nacional de Obras contra as Secas, o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis e a Agência de Desenvolvimento do Seridó. Os
signatários do Termo se propõem a desenvolver ações conjuntas, de modo a integrar os
diversos recursos materiais e humanos existentes, bem como toda a experiência e
conhecimento adquiridos sobre o tema.
A criação do NUDES foi idealizada pelo Ministério Público, através do Centro
Operacional às Promotorias de Meio Ambiente (CAOPMA). Os trabalhos de elaboração do
plano foram deflagrados, no início de 2004, através de estudos de viabilidade sócio-
econômica e de impacto ambiental.
O arcabouço de ações desenvolvidas no âmbito do NUDES norteia-se por três
vertentes: educação ambiental, medidas jurídicas de proteção ao meio ambiente e introdução
de propostas econômicas alternativas, que conciliem a preservação ambiental e a geração de
renda (http://www.serhid.rn.gov.br). Nesta perspectiva, objetiva o desenvolvimento de ações
visando à redução dos problemas ambientais, sociais e econômicos numa área geográfica pré-
definida.
A área piloto escolhida para implantação deste núcleo, abrange uma extensão de
80 km², localiza-se no município de Parelhas, mais especificamente nas comunidades rurais
de Cachoeira, Juazeiro e Santo Antônio da Cobra, inseridas na bacia hidrográfica do Rio
Cobra. Conforme informações obtidas na SERHID, nas três comunidades residem 391
famílias, totalizando 1.567 habitantes, e existem nove cerâmicas, sendo uma comunitária, cuja
produção é de 28 milheiros de telha/dia.
As razões que levaram estas comunidades a serem escolhidas residem na
conjugação de alguns fatores, dos quais destacamos: o Município de Parelhas está entre
aqueles que o PAN Brasil relaciona como área piloto para investigação sobre desertificação
no Semi-árido brasileiro; constitui-se o principal produtor de cerâmica do Estado, usando a
argila como matéria-prima e a lenha como fonte de energia; há alguns anos, a problemática da
degradação ambiental local é alvo de discussões e reflexões entre as comunidades rurais e
organizações governamentais e não-governamentais, sendo notável a existência de uma
consciência dos danos e dos limites ambientais e de uma tendência ao associativismo.
No âmbito do NUDES, as principais ações foram desenvolvidas pelo IDEMA e
consistiu na avaliação e monitoramento da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho Cobra e na
realização de um Curso de Capacitação em Educação Ambiental, que reuniu professores,
representantes das atividades produtivas locais, das organizações comunitárias e estudantes.
11
A justificativa para que o Seridó seja o objeto de análise em expressiva parcela da
produção bibliográfica referente à desertificação no Rio Grande do Norte e tenha sido o lócus
da criação do GEDS e do NUDES, fundamenta-se no reconhecimento de que, em nível de
Estado, é a região mais afetada.
A percepção de que a desertificação está relacionada à ocorrência de secas e à
forma como o homem se relaciona com o meio, principalmente para fins de exploração
econômica é um forte indicativo de que, em espaços como o Rio Grande do Norte, torna-se
premente repensar as estratégias de produção e de sobrevivência da sociedade. No cenário de
reestruturação produtiva, delineado após a crise do algodão e da mineração (1970-1980), em
que emergiram novos segmentos produtivos remodeladores da geografia econômica do
território, a insurgência e/ou acentuação da degradação ambiental foi uma forte motivação
para se pensar estratégias que viabilizassem o desenvolvimento em bases sustentáveis.
Nesta perspectiva ressalta-se que, a partir de demandas da sociedade, o Governo
assumiu o compromisso de desenvolver uma política de planejamento regional norteada pelos
pressupostos da sustentabilidade.
Em função de suas particularidades sociais, econômicas, políticas e ambientais
coube ao Seridó a primazia de vivenciar este processo que culminou com a elaboração do
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó - PDSS. O panorama em que germinou a
idéia de sua formulação, entre 1999 e 2000, foi marcado pela acentuação de problemas, com
destaque para a escassez d’água. A sociedade, através de suas principais lideranças políticas,
empresariais, sindicais e religiosas recorreram aos representantes do Estado, em suas diversas
esferas, reivindicando soluções para os problemas existentes. Da associação de influências
provenientes de uma conjuntura externa, onde se discutia pobreza e ambiente como facetas de
um mesmo processo de degradação da vida humana e se colocava como paradigma alternativo
o desenvolvimento sustentável à atuação local de um pequeno coro de vozes que pregavam no
deserto, chegou-se a uma experiência pioneira e inovadora em termos de planejamento
estratégico participativo.
O PDSS foi elaborado com base em uma metodologia que envolveu a compilação
e análise de dados e documentos extraídos de diferentes fontes, inclusive teses e dissertações
que versam sobre a região; a consulta à sociedade, através de reuniões municipais e sub-
regionais, e a realização de entrevistas com personalidades e lideranças de diversos segmentos
da sociedade, conhecedoras da problemática regional. A coordenação dos trabalhos foi
desenvolvida por consultores do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura –
IICA.
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A adoção desta metodologia de planejamento objetivou possibilitar o
envolvimento da sociedade no processo de construção do seu plano de desenvolvimento.
Nesta perspectiva, foram convidados a participar das reuniões municipais, sub-regionais e
regionais os representantes das várias instituições e organizações públicas e privadas da
região que tiveram um importante papel na identificação dos problemas existentes, na
indicação das possíveis soluções, no desvendamento das potencialidades e na delineação dos
cenários desejados, conteúdos informativos que serviram de subsídios à formulação do plano.
Tendo como base a experiência de planejamento descentralizado e participativo e
a adoção dos princípios do desenvolvimento sustentável, cujas iniciativas devem ser
geradoras de uma maior eqüidade social, um elevado nível de conservação ambiental e uma
maior racionalidade/eficiência econômica, construiu-se um documento estruturado em dois
volumes. No primeiro, tem-se um diagnóstico do Seridó através da caracterização das
dimensões ambiental, tecnológica, econômica, sócio-cultural e política-institucional. Este
meticuloso documento, além de uma análise consistente sobre a região, ainda identifica suas
fragilidades e potencialidades. No segundo, são demonstrados estratégias, programas e
projetos por dimensão e o sistema de gestão do Plano, na perspectiva de apontar diretrizes que
permitam a solução dos problemas e/ou delineação dos cenários desejados pela sociedade.
Desta forma, o PDSS se propõe a ser um norteador das ações que conduzirão o processo de
desenvolvimento sustentável e, neste, a dimensão ambiental assume uma expressiva
relevância em função do nível de degradação regional que se situa entre muito grave e
intenso.
Dando prosseguimento à estratégia de planejamento participativo e
descentralizado e utilizando-se o mesmo arcabouço teórico-metodológico do PDSS, foram
elaborados o Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável do Agreste, Potengi e Trairi e o
Plano de Desenvolvimento Sustentável da Zona Homogênea do Litoral Norte. Em fase de
conclusão encontra-se o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região do Alto Oeste.
A adoção desta política de planejamento do desenvolvimento regional está em
sintonia com os novos postulados do desenvolvimento, por ter como referenciais os princípios
de uma nova racionalidade que não se norteia apenas pelos interesses econômicos. Ademais,
representa um avanço em termos de pensar o território estadual a partir de suas
especificidades regionais e uma significativa conquista da sociedade, que se torna co-
responsável pela elaboração, execução e gestão do seu plano de desenvolvimento.
Considerando que a sustentabilidade do desenvolvimento pressupõe a articulação
entre as dimensões econômica, política, sócio-cultural, científico-tecnológica e ambiental e
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que, no momento atual, a sociedade e o Governo deixam transparecer o desejo de apoiar os
planos já implementados, implantar os que estão em fase de construção e expandir o processo
para as regiões ainda não contempladas, é possível pensar que a problemática da
desertificação no Rio Grande do Norte tenderá a sofrer um refreamento. Esta possibilidade
não poderá ficar inscrita apenas no cenário desejado, mas deverá se cristalizar através
decisões e ações que fomentem o desenvolvimento de tecnologias e alternativas de
recuperação de áreas degradadas e de prevenção e convivência em áreas em processo de
desertificação, de modo que as populações afetadas conquistem o direito de viver de forma
digna nestes lugares, vivenciando a seca, condição que não se pode mudar, sob novas
perspectivas de vida derivadas do saber científico e de novas relações homem x meio.
2 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DESERTIFICAÇÃO
A CCD (MMA, [199-], p. 9) definiu que “por Desertificação entende-se a
degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e subúmidas secas, resultantes de vários
fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas.”
Nas áreas susceptíveis a este processo o clima prevalecente tem entre suas
características marcantes: a ausência, escassez e má distribuição das precipitações
pluviométricas, no tempo e no espaço, ou seja, a ocorrência da seca. A definição deste
fenômeno remete a uma ocorrência que se verifica “naturalmente quando a precipitação
registrada é significativamente inferior aos valores normais, provocando um sério
desequilíbrio hídrico que afeta negativamente os sistemas de produção dependentes dos
recursos da terra” (MMA, [199-], p. 9).
Neste sentido, seca e desertificação apresentam-se como fenômenos distintos, mas
estreitamente relacionados. Isto porque nas áreas marcadas pela semi-aridez registra-se um
desequilíbrio entre oferta e demanda de recursos naturais, levando-se em conta o atendimento
às necessidades básicas de seus habitantes (MMA, 2004, p. 3). Nos períodos de seca este
descompasso aumenta, visto que a pressão sobre os recursos naturais se amplia e a
intervenção do homem, em geral, se faz através do uso inadequado do solo, da água e da
vegetação. Assim, as variações climáticas e as atividades humanas se conjugam criando um
ambiente favorável à instalação do processo de desertificação, estabelecendo-se um círculo
vicioso de degradação, “onde a erosão causa a diminuição da capacidade de retenção de água
pelos solos, que leva à redução de biomassa, com menores aportes de matéria orgânica ao
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solo; este se torna cada vez menos capaz de reter água, a cobertura vegetal raleia e
empobrece, a radiação solar intensa desseca ainda mais o solo e a erosão se acelera,
promovendo a aridez.” No desenrolar deste processo a ação antrópica tem desempenhado
papel fundamental, “acelerando seu desenvolvimento e agravando as conseqüências através
de práticas inadequadas de uso dos recursos naturais” (ARAÚJO et. al., 2002, p. 11).
Aportando-se em Sampaio et. al (2003, p. 24) tem-se que, entre as principais
formas de utilização das terras e possíveis degradações, estão a retirada da vegetação e a
prática da agropecuária. Com relação à retirada da cobertura vegetal, os autores indicam cinco
razões principais para o seu procedimento: a substituição da cobertura vegetal por construções
ou sua retirada contínua para a manutenção de áreas descobertas; utilização do material do
solo ou subsolo; a destruição periódica por fogo; o uso da lenha e a substituição da cobertura
original por outra de melhor uso como pastagem.
No que diz respeito à substituição da cobertura vegetal, advogam que isto jamais
será enquadrado como fator da desertificação pelo benefício antrópico que traz e, no caso do
semi-árido, não tem impacto significativo. Porém, a leitura difere quando a justificativa é a
construção de reservatórios artificiais. Os de grande porte submergem extensas áreas de
cultivo e/ou cidades e deslocam populações e os de pequeno e médio portes, subtraem áreas
de cultivo nos terrenos mais baixos. Apesar disso, “a possibilidade de degradação deve ser
considerada, mas em geral, estas construções trazem mais benefício que prejuízo, o que é
esperado de ações planejadas e de custo alto” (SAMPAIO et. al., 2003, p. 25).
A retirada da vegetação para fins de exploração do material do solo ou subsolo,
típica da atividade mineira, implica na retirada de areia de construção dos aluviais de beira de
rio à remoção de camadas de terra para acesso a veios de minério. Nas áreas de minas são
comuns a formação de depósitos de resíduos, freqüentemente tóxicos, e a presença de
escavações, que parecem rasgar a terra deixando expostas suas entranhas. A retirada do solo
deixa um legado de terras imprestáveis para o uso agropecuário.
As queimadas, embora tendam a se reduzir, ainda são praticadas, levando à perda
de nutrientes do solo e, dependendo do período em que o solo ficar despido, pode provocar
erosão.
O corte da vegetação para lenha, a rigor, não poderia ser considerado como
destruição da vegetação, posto que, se área não for mexida, ocorre a recomposição. O
problema se instala quando não se concede à natureza este tempo para a recomposição e se
realiza a queimada, após o desmate, afetando as espécies vegetais e animais, o solo, enfim, a
biodiversidade do lugar.
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A substituição da cobertura original por outra com maior produção está ligada,
principalmente, à agropecuária e produz inquestionáveis benefícios, apesar de reduzir a
biodiversidade. Em Sampaio et. al. (2003, p. 27) encontra-se que “a substituição da vegetação
nativa por espécies cultivadas, por si só, dificilmente leva à degradação das terras. Para isto, a
agropecuária precisa ser praticada em condições que levem a outros processos de perda.”
No quesito sobre a agropecuária e a deterioração das propriedades do solo foram
identificados como principais fatores de degradação: a ausência de adubação, justificada pelo
risco de falha das colheitas por falta de chuvas; a perda por erosão, que tende a ser maior
mediante a retirada da cobertura vegetal e nas áreas de declive e o emprego de técnicas
incompatíveis de produção.
A projeção deste elenco de fatores da degradação das terras, a partir das formas de
uso do solo, sob o espaço nordestino revela a sua ocorrência, embora existam alguns cuja
interferência é mais aguda e cuja manifestação é intensificada nos períodos de seca. Um
exemplo é a utilização dos recursos de solo para o fabrico de telhas e tijolos no Seridó
potiguar, colocada como uma das principais razões da existência do Núcleo de Desertificação
na região (SAMPAIO et. al., 2003, p. 25).
A identificação das ASD brasileiras, foi estabelecida de acordo com a CCD, que
se baseia na definição de aridez formulada por Thornthwaite (1941). Conforme esta definição,
o grau de aridez de uma região depende da quantidade de água advinda da chuva e da perda
máxima potencial de água através da evapo-transpiração potencial. Em termos de Nordeste, a
classificação de susceptibilidade à desertificação, em função do Índice de Aridez, foi firmada
conforme exposto na TAB. 02.
TABELA 02Classificação de Susceptibilidade à Desertificação, em função do Índice de Aridez
ÍNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE À DESERTIFICAÇÃO0,05 a 0,20 Muito Alta0,21 a 0,50 Alta0,51 a 0,65 Moderada
FONTE: MATALLO JR. Heitor. A desertificação no mundo e no Brasil. In.: SCHENKEL, Celso Salatino; MATALLO JR. Heitor. Desertificação, 1999, p. 11 apud MMA. Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, 2004, p. 33.
Os estudos realizados para fins de delimitação e caracterização das ASD do Brasil
conduziram à constatação de que, em linhas gerais, abrangem áreas correspondentes à
superfície do Bioma Caatinga. Típica do Nordeste Semi-árido, a vegetação de Caatinga
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caracteriza-se pelo fenômeno do xerofilismo. As plantas xerófilas são aquelas que resistem à
seca, desenvolvendo um sistema de elaboração e armazenamento de reservas hídricas para as
épocas de escassez, que compreende duas fases: “uma de intensa atividade vegetativa e outra
de dormência; na primeira, a folhagem das árvores e dos arbustos elabora, por meio da
clorofila, da luz solar, do ar e da umidade, as substâncias alimentícias, com os elementos
sugados pelas raízes e aqueles sintetizados nas folhas. Nos meses chuvosos, há uma
elaboração de seiva superior ao consumo e este excesso é depositado nos vasos do caule e nos
‘xilopódios’ das raízes [...]. Na estação seca [...], a maioria dos vegetais perde as folhas para
economizar água, paralisa a função clorofiliana e o panorama torna-se cinzento, com uma ou
outra planta verde, graças ao controle rígido da transpiração aquosa [...]” (DUQUE, 1964, p.
29). Segundo o referido autor (1964, p. 39), a Caatinga é um complexo vegetativo sui generis,
diferente das associações vegetais de outras partes semi-áridas do mundo; um laboratório
biológico de imenso valor que urge ser preservado.
Não obstante, é factível de reconhecimento que, assim como a cartografia do
Semi-árido se superpõe a do Bioma Caatinga, também o mapa da desertificação sobre estas se
delineia. Nesta circunscrição, a vegetação de Caatinga e o clima Semi-árido estão em estreita
correlação e fazem parte do enredo histórico da sociedade regional. São os rincões sertanejos,
onde vive o povo da seca, mas também de outras tantas características marcantes e
particulares, principalmente em termos culturais, que remetem às origens da nação brasileira.
De acordo com o PAN Brasil (2004, p. 188) a extensão das ASD nacionais
corresponde a 1.338.076,0 km² (15,72% do território nacional), abrangendo 11 estados
brasileiros. Segundo o Censo 2000, sua população é de 31.663.671 habitantes (18,65% da
população do país), dos quais 19.692.480 são moradores urbanos e 11.971.191 são residentes
rurais, perfazendo uma taxa de urbanização de 62,19%. A densidade demográfica é de 23,66
hab./km². Interessante registrar que, em 1956, Jean Dresch observou que as áreas semi-áridas
do Nordeste brasileiro estavam entre as mais povoadas do mundo, registro feito pelo geógrafo
Aziz Ab’ Saber, no Congresso Internacional de Geografia, realizado no Rio de Janeiro,
naquele mesmo ano (MMA, 2004, p. 8).
Os estados brasileiros afetados pela desertificação são: Maranhão, Piauí, Ceará,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do
Norte, objeto de análise deste estudo.
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3 DESERTIFICAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE
3.1 Caracterização Geral do Território Norte-rio-grandense
O Rio Grande do Norte possui uma superfície de 52.796,791 km², ou seja, 0,62% do
território nacional4. Sua cartografia (MAPA 02), historicamente construída, atualmente
comporta 167 municípios e, de acordo com o Censo 2000 (IBGE, 2000, p. 269), sua
população somava 2.776.782 habitantes, correspondendo a 1,64% da população do Brasil. A
distribuição populacional pelo território estadual indicou que 2.036.673 habitantes residiam
em espaços urbanos e 740.109 eram moradores rurais. Embora apresente elevada taxa de
urbanização (73,35%), em seu tecido urbano predominam as pequenas cidades e ocorre uma
concentração demográfica na Região Metropolitana de Natal5, que abriga 1.097.273
habitantes, equivalentes a 39,52% da população potiguar.
MAPA 02 – Divisão Política e Regional do Rio Grande do Norte
FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar do Rio Grande do Norte, 1999.
4 IBGE. Resolução n. 5, de 10 de outubro de 2002. Área territorial oficial: Rio Grande do Norte – 52.796,791 km² e Brasil – 8.514.876,5995 FELIPE, José Lacerda Alves. Atlas Rio Grande do Norte: espaço geo-histórico e cultural, p. 31: A Região Metropolitana de Natal ou Grande Natal é formada pelos municípios de Natal, Extremoz, Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante, São José do Mipibu, Macaíba, Nísia Floresta e Parnamirim.
18
O quadro natural do Rio Grande do Norte, principalmente os seus aspectos
climáticos e sua cobertura vegetal, são reveladores de características típicas de espaços semi-
áridos. Sua trajetória histórica foi marcada por um processo de ocupação territorial, baseado
inicialmente na agricultura e na pecuária, e reorganizado através do desenvolvimento de
outras atividades como a produção de sal, a mineração, a extração da cera de carnaúba, entre
outros. Nos últimos decênios do século XX, principalmente em seu recorte semi-árido,
atingido pelas crises do algodão e da mineração, adquiriram realce outras economias,
destacando-se a produção ceramista que obteve significativo crescimento. O somatório destes
processos, acrescido da reestruturação sócio-espacial via concentração demográfica nas
cidades, repercutiu (e repercute) sobre os ecossistemas, especialmente o da caatinga, de modo
que “a vegetação primitiva foi praticamente aniquilada, passando a existir uma vegetação
secundária, apresentando um porte bastante inferior em relação ao passado” (FELIPE;
CARVALHO; ROCHA, 2004, p. 42).
A partir do exposto, constata-se que a histórica relação homem x meio,
estabelecida desde a colonização do território, com base na exploração e aproveitamento dos
recursos naturais, repercutiu sobre os seus ecossistemas. Nos dias atuais, a associação entre
aspectos naturais e ação antrópica evidenciam a ocorrência de diferentes níveis de degradação
ambiental.
No que se refere às condições climáticas, o Rio Grande do Norte caracteriza-se
por apresentar temperatura média anual em torno de 25,5º C, com máxima de 31,3º C e
mínima de 21,1° C, pluviometria bastante irregular (em termos de quantidade e período) e
umidade relativa do ar, com variação média anual de 59% a 76%. Em decorrência de sua
localização geográfica próxima ao Equador, predominam as elevadas temperaturas,
verificando-se entre 2.400 e 2.700 horas por ano de insolação6.
De maneira geral, os tipos de clima que ocorrem no Estado podem ser
classificados em Tropical Quente, Úmido e Subúmido, e Tropical Quente e Seco ou Semi-
árido (FELIPE; CARVALHO, 1999, p. 26) (MAPA 03).
MAPA 03 – Tipos Climáticos do Rio Grande do Norte
6 IDEMA. Perfil do Estado do Rio Grande do Norte. Disponível em: www.idema.rn.gov.br. Acesso em 04 abr 2005.
19
FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 26.
O Clima Tropical Quente e Úmido ocorre em uma pequena faixa na porção sul do
Litoral Oriental, que compreende parte da Microrregião Geográfica Litoral Sul, onde se
registra uma pluviosidade média de 1.200 mm anuais. Já o tipo Tropical Subúmido, apresenta
uma pluviosidade média entre 800 e 1.200 mm anuais, e abrange basicamente a Mesorregião
Geográfica do Leste Potiguar7, exceto a porção úmida, e as áreas serranas do interior, onde a
morfologia do relevo, com suas expressivas altitudes, influencia as condições
microclimáticas, favorecendo à ocorrência de temperaturas amenas.
O Clima Tropical Quente e Seco ou Semi-Árido domina, de forma quase
contínua, todo o interior do território estadual, chegando inclusive a atingir o Litoral
Setentrional8. Este tipo climático caracteriza-se pelas altas temperaturas, escassez e
irregularidade das precipitações pluviométricas, configurando-se como período chuvoso os
meses de janeiro a abril. A média de precipitação de chuvas é variável, podendo situar-se
entre 400 e 600 mm, em algumas áreas centrais do Estado, ou atingir índices um pouco mais
elevados. As regiões submetidas a este clima são ciclicamente atingidas pelo fenômeno da
7 Esta Mesorregião Geográfica é formada pelas Microrregiões Geográficas Litoral Nordeste, Macaíba, Natal e Litoral Sul.8 IDEMA. Perfil do Estado do Rio Grande do Norte. Disponível em: www.idema.rn.gov.br. Acesso em 04 abr 2005.
20
seca, quando as precipitações são acentuadamente reduzidas, situação que pode se estender
por alguns meses ou prolongar-se por anos consecutivos.
A análise dos dados demonstra que as áreas sob o domínio do clima Semi-árido,
onde impera a Caatinga hiperxerófila, correspondem basicamente à cartografia das ASD do
Rio Grande do Norte. De acordo com Sant’Ana (2003), a seca “não é ‘causa’ de
desertificação, mas pode atuar como um acelerador dos processos”.
Um outro aspecto interessante a ser ressaltado neste estudo sobre a desertificação,
constituindo-se um quesito diretamente relacionado ao clima, diz respeito aos recursos
hídricos superficiais. Estes são representados, principalmente, pelas bacias hidrográficas
constituídas, em sua maioria, por rios que têm um caráter intermitente e passam boa parte do
ano com o leito seco, por vezes mostrando-se caudalosos nos períodos chuvosos. No Estado, a
importância dos rios é evidenciada historicamente a partir dos registros da ocupação espacial,
do papel que desempenharam no processo de interiorização e na estruturação sócio-
econômica do território.
Uma outra referência de águas superficiais são os açudes que, em alguns casos, ao
barrarem os cursos dos rios, permitem a perenização total ou parcial, repercutindo
favoravelmente em termos sociais e econômicos, em nível local/regional. Os açudes também
resguardam sua relevância histórica, inclusive como elemento impulsionador da formação de
aglomerados humanos que se transformaram em cidades.
A malha hidrográfica do Rio Grande do Norte é constituída por 16 bacias com
extensões e níveis de importância sócio-econômica variáveis (ANEXO 01). No quadro geral,
as bacias hidrográficas Piranhas-Açu e Apodi-Mossoró se destacam pela sua extensão,
abarcando 60,1 % do território estadual, e pela importância econômica através do
desenvolvimento de atividades agrícolas e pecuárias. Apesar das demais bacias apresentarem
circunscrições mais reduzidas, estas também são relevantes para o abastecimento humano, as
práticas agrícolas, a dessedentação animal e as atividades industriais (MAPA 04)
21
MAPA 04 – Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte
FONTE: Bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte. Disponível em : <http:serhid.rn.gov.br> Acesso em 17 mai 2005.
As principais bacias do Estado, a do Piranhas-Açu e a do Apodi-Mossoró,
atravessam o recorte semi-árido e devido à escassez e irregularidade das chuvas associada à
alta evaporação, que, provoca a perda de grande parte da água acumulada, apresentam rios
intermitentes. O registro de rios perenes verifica-se apenas na faixa sedimentar costeira do
litoral norte, que em função da existência de fontes, apresenta filetes d’água nos baixos cursos
dos rios, e na faixa do litoral leste, onde a influência do clima úmido, responde pela
perenização dos baixos cursos dos rios (IDEMA, 2004, p. 15).
Na Bacia Piranhas-Açu foram cadastrados 1.112 açudes, ou seja, 49,3% dos
reservatórios existentes no Rio Grande do Norte. O volume de acumulação destes açudes
corresponde a 3.503.853.300 m³ o que torna esta bacia responsável por 79,6% do volume
acumulado no Estado (RIO GRANDE DO NORTE, [199-], p.21). Ocupa o 1º lugar em
número de açudes e em volume acumulado. Somente a Barragem Engenheiro Armando
Ribeiro Gonçalves apresenta uma capacidade de acumulação de 2.400.000.000 m³ de água,
constituindo-se o maior reservatório norte-rio-grandense, tendo sido fator primordial à
expansão da fruticultura irrigada no Vale do Açu.
22
A Bacia Hidrográfica Apodi-Mossoró coloca-se na 2ª posição em extensão no
Estado (14.276 km²) e ocupa o 1º lugar quanto ao número de municípios que abrange (52).
Em termos de açudagem, o Inventário do Espelho D’água Superficial do Estado do Rio
Grande do Norte (IDEC, 1993, p. 24-68), registrando dados relativos aos reservatórios acima
de 100.000 m³ em 1992, contabilizou 615 reservatórios que correspondiam a 27,4% dos
açudes potiguares e totalizavam um volume de acumulação de 443.727.000 m³ de água, ou
seja, 11,13% do volume acumulado no Estado. Dados da SERHID9 sobre açudes com
capacidade superior a 5.000.000 m³ informam que mais 04 reservatórios foram construídos -
Passagem (Rodolfo Fernandes), Rodeador (Umarizal), Santa Cruz do Apodi (Apodi) e Umari
(Upanema). No conjunto, estes novos reservatórios apresentam uma capacidade de
acumulação de 921.155.650 m³ de água. Desta forma, é possível considerar que o volume de
acumulação no recorte da bacia foi ampliado, passando para 1.364.882.650 m³ de água, sendo
a Barragem de Santa Cruz do Apodi, com seus 599.712.000 m³, responsável por 43,93%
desse total, e a de Umari, com 292.813.650 m³, por 21,45%.
A geologia do Rio Grande do Norte é basicamente formada pelo embasamento
cristalino e estruturas sedimentares. O embasamento cristalino corresponde a formações
geológicas que datam da Era Pré-Cambriana; conformam terrenos antigos, formados por
rochas resistentes como granitos, quartzitos, gnaisses e micaxistos, onde estão presentes
minerais como scheelita, berilo, cassiterita, tantalita, ferro, micas, ouro, águas marinhas
(turmalina), entre outros. Ocupa grande parte do sul e o centro-oeste do Estado, representando
a sua formação geológica dominante. Caracteriza-se por apresentar baixa capacidade de
infiltração/retenção de água que aliada à elevada evapotranspiração potencial e aos períodos
de estiagem, são responsáveis pela intermitência dos cursos d’água. Os solos derivados dessas
rochas são predominantemente rasos, com baixa capacidade de infiltração, alto escoamento
superficial e baixa drenagem natural.
A estrutura geológica sedimentar data da Era Terciária, portanto, corresponde a
uma formação mais recente. No Rio Grande do Norte está representada por formações
identificadas como Calcário Jandaíra, Arenito Açu, Grupo Barreiras e Dunas. Nesta
circunscrição geológica situam-se recursos minerais de expressivo valor econômico, como
petróleo e gás natural, além de águas subterrâneas, calcário e argila.
Em relação aos solos do Rio Grande do Norte observa-se a ocorrência de certa
diversidade, sendo as principais classes assim identificadas: Bruno Não Cálcico, Litólico 9 Bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte. Disponível em : <http:serhid.rn.gov.br> Acesso em 30 mar 2005.
23
Eutrófico, Areia Quartzosa, Latossolo Vermelho Amarelo, Regossolo, Podzólico Vermelho-
Amarelo, Vertissolo, Solonchaks-Solonétzico, Solonetz-Solodizado, Planossolo Solódico,
Aluvial, Cambissolo Eutrófico, Solos Gley, Rendizina e Solos de Mangue (MAPA 05).
MAPA 05 – Solos do Rio Grande do Norte
FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 24.
Apesar da diversidade de classes de solos, em que alguns redutos são
considerados férteis e com bom potencial agrícola, em decorrência das características
ambientais do território, prevalecem no Estado os solos rasos, erodidos e de fertilidade
mediana. As características gerais dos principais tipos de solo e suas respectivas áreas de
ocorrência constam no ANEXO 02.
A distribuição espacial dos solos demonstra uma variável formação mesmo no
domínio da Caatinga, onde prevalece o clima Semi-árido. Em função da abrangência espacial,
destacam-se os solos Litólicos Eutróficos e os Bruno Não Cálcicos, que apresentam certas
restrições ao uso agrícola, por serem pedregosos, de pequena profundidade e muito
susceptíveis à erosão.
Os tipos climáticos associados às formas de relevo e aos diferentes solos,
permitem reconhecer no Estado a existência de sete ecossistemas: Caatinga, Mata Atlântica,
24
Cerrado, Floresta das Serras, Floresta Ciliar de Carnaúba, Vegetação das Praias e Dunas e
Manguezal (MAPA 06).
MAPA 06 – Vegetação do Rio Grande do Norte
FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 26.
Em termos de Rio Grande do Norte, devido a extensão que ocupa (cerca de 80%
do território), destaca-se o ecossistema da Caatinga, em especial a sua formação florestal
hiperxerófila que recobre aproximadamente 60% do Estado (SEPLAN; IDEC, 1997, p. 23.
Além disso, neste trabalho, em função da relação existente entre o ambiente ecológico da
Caatinga e as ASD, optou-se por delimitar a análise as características do ecossistema
mencionado.
O ecossistema da Caatinga é típico do Nordeste Semi-árido, caracterizando-se
pelo fenômeno do xerofilismo, que se refere à capacidade de armazenar água para sobreviver
nos períodos de seca. Devido a este dispositivo natural, a Caatinga muda seu perfil de acordo
com a sazonalidade, exibindo duas paisagens bem diferenciadas. No período chuvoso, suas
plantas recobrem-se de folhagens e se mostram exuberantes o suficiente para, em um
verdadeiro emaranhado, produzirem um cenário em que a tonalidade do verde assume
diversas gradações. No período de seca, as plantas perdem as folhas deixando à mostra seus
25
galhos retorcidos. O tapete verde cede lugar a uma paisagem branca-acizentada assumindo um
certo ar de agressividade, expresso através de plantas aparentemente mortas com salientes
espinhos a desafiar o tempo e o espaço adverso. O significado da palavra caatinga – mato
branco, de origem indígena, remete à aparência que a vegetação assume no período de seca.
A despeito de apresentar uma certa uniformização no que diz respeito às diversas
formas de resistência à carência d’água, a Caatinga potiguar apresenta fitofisionomias
diferenciadas, decorrentes do seu porte. A Caatinga hipoxerófila é formada
predominantemente por árvores e arbustos; sua ocorrência é verificada no Agreste e em áreas
de clima Subúmido seco e de transição para o Semi-árido. A Caatinga hiperxerófila
caracteriza-se por apresentar uma vegetação de pequeno porte, seca, rala e resistente a grandes
períodos de estiagem, sendo típica de solos pedregosos, rasos e de pouca fertilidade; é típica
das áreas quentes e secas que conformam o semi-árido norte-rio-grandense. A composição
florística desse ecossistema é representada pelas bromeliáceas (caroá, macambira), cactáceas
(xique-xique, facheiro, mandacaru, coroa-de-frade), leguminosas (jurema, sabiá, angico,
catingueira, jucá), euforbiáceas (pinhão bravo, faveleiro, marmeleiro), entre outros. A fauna
também é rica em espécies bem adaptadas às condições locais, destacando-se animais de
pequeno porte como o tatu-verdadeiro, o peba, o preá e o mocó.
Considerando a inter-relação entre clima, solo e vegetação e o fato de que a
cobertura vegetal é a expressão que marca visualmente a paisagem, tem-se que as ASD estão,
sobremaneira, circunscritas ao ecossistema da Caatinga. Segundo Vasconcelos Sobrinho
(2002, p. 64), no semi-árido nordestino, é possível detectar a existência de áreas em
desertificação ao se sobrevoar em vôo baixo de 50m a 150m sobre o solo e, em seguida,
realizar investigação in loco, posto que elas “apresentam uma fisionomia denunciadora”:
porte reduzido, espécies com sintomatologia de nanismo e concentração diluída, ou seja, com
maior permeabilidade do que nas demais áreas. O registro deste perfil geralmente coincide
com a presença da Caatinga hiperxerófila, cuja área de ocorrência é “presumivelmente
comprometida com o processo de desertificação, o qual se acentua a cada estio anual e
principalmente após cada seca. Quando o período chuvoso volta, verifica-se um esforço de
recuperação que nem sempre é recompensado integralmente. E assim, nesse balanço incerto
entre recuperação e degradação, é difícil descobrir qual a condição que prevalecerá. Mas se o
homem interfere negativamente, então é certo que a desertificação prevalece.”
A equação entre ação humana, degradação e recuperação ambiental tem se
mostrado um dos mais urgentes e imprescindíveis desafios a serem enfrentados pelas
populações que vivem nas regiões susceptíveis à desertificação no planeta. Neste contexto,
26
inclui-se a sociedade nordestina, cujo território representa as circunscrições das ASD
brasileiras, e, nesta delimitação, insere-se o Rio Grande do Norte.
Decerto a acentuação do quadro de degradação ambiental no Estado está
relacionada à dinâmica sócio-econômico empreendida nos últimos 35 anos. A literatura
pertinente aponta que o Rio Grande do Norte obteve um excelente desempenho econômico,
entre 1970-2000, despontando como o Estado que mais cresceu, a partir de 1970, na Região
Nordeste. “Este ‘pequeno notável’ teve a façanha de conseguir a maior taxa de crescimento do
PIB do país na ‘década perdida’ e, como tem, historicamente, uma base econômica pequena,
os efeitos dos investimentos tiveram uma capacidade de dinamismo muito forte.”
(CLEMENTINO, 2003, p. 387). A correlação entre a taxa média anual de crescimento do PIB
do país, da região e do estado evidencia a situação anteriormente descrita (TAB. 03).
TABELA 03Taxa Média Anual de Crescimento do PIB Real do Brasil, Região Nordeste e
Rio Grande do Norte – 1970-1999
PERÍODOTAXA (%)
Brasil Nordeste Rio Grande do Norte1970-1980 8,60 8,70 10,301980-1990 1,60 3,30 7,41990-1999 2,5 3,0 4,1
FONTE: FGV; IBGE.; SUDENE/DPO/EPR/Contas Regionais – Nordeste apud CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. Rio Grande do Norte: novas dinâmicas mesmas cidades, 2003, p. 389.
Conforme atestam os números, o desempenho econômico do Rio Grande do
Norte foi expressivo, apesar das fases de crises nacional, motivadas pelo déficit público e
hiperinflação, e internacional, decorrentes de problemas no México, na Rússia e na Ásia. A
justificativa para essa situação encontra-se fundamentada no dinamismo recente, alavancado
por novas economias e pela reestruturação de alguns antigos segmentos. No interstício 1970-
1999 a participação do Estado no PIB do Brasil passou de 0,46% para 1,1% e no PIB do
Nordeste oscilou de 4,70 para 6,40. Dentre as atividades responsáveis por este quadro estão o
turismo, o petróleo, a fruticultura e o crescimento dos setores industriais e de serviços,
principalmente, na Região Metropolitana de Natal.
Não obstante, é preciso reconhecer que, embora o desempenho da economia
potiguar tenha atingido índices crescentes, entre 1970 e 2000, perdura no tecido social um
estado de pobreza que se reflete nas precárias condições de vida de parte considerável de sua
população, traduzindo-se em um retrato da própria realidade brasileira.
27
A falta de alimentação, de trabalho, de moradia são algumas das facetas do
universo de privações que assola milhares de famílias que vivem na pobreza. Esta perversa
vivência da escassez, já não permite mais o discernimento dos problemas, a partir da relação
entre causa e conseqüência. Seria a desocupação ou o desemprego responsáveis pela fome e
pela falta de moradia? Mas, como se inserir no mercado de trabalho, sem ter acesso à
educação, saúde e, até mesmo à alimentação? Como suprir as necessidades básicas sem
trabalho e renda? Este contexto de múltiplas privações e situações-problemas, estreitamente
articuladas, parece embaçar o cotidiano das pessoas pobres, turvando seus sonhos e desejos,
estabelecendo cercas sociais que delimitam seus espaços de sociabilidade e vivências.
No âmbito deste diagnóstico, tratar da pobreza se faz pertinente como forma de
trazer à tona uma realidade que tem se mostrado, em alguns lugares, articulada à degradação
ambiental. Embora a pobreza esteja disseminada pelo mundo, sua configuração nas regiões
áridas e semi-áridas do planeta evidencia uma cristalina nitidez. Nestas áreas, que enfrentam
longos e cíclicos períodos de seca, há redução da produtividade agrícola interferindo na
produção de gêneros alimentícios o que se traduz em fome, onde já se vive a ameaça de sede.
Assim, as nuances da pobreza, que não é causada pelos fenômenos naturais, são aguçadas e o
suprimento das necessidades humanas aumenta a pressão sobre os recursos naturais,
produzindo o seu constante e progressivo desgaste. Desta conjugação entre degradação social
e degradação ambiental têm-se como resposta a manifestação do processo de desertificação.
O Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil10 apresenta dados relativos à
indigência e à pobreza. De acordo com o referido Atlas, vivenciavam a condição de
indigência a parcela da população cuja renda domiciliar per capita era equivalente a ¼ do
salário mínimo vigente em agosto de 200011. A pobreza envolvia a fração populacional que
tinha uma renda domiciliar per capita correspondente a ½ do salário mínimo vigorante em
agosto de 200012. Infere-se, portanto, que a indigência remete-se a uma classe que vive a
pobreza extrema ou miserabilidade.
As referências a estes índices, em termos de Brasil, denotam uma redução na
proporção de pessoas afetadas por estas situações, visto que, a proporção de indigentes passou
de 20,24%, em 1991, para 16,32%, em 2000, e a participação da população em estado de
10 PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas. 11 PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas: Equivalia a proporção de indivíduos com renda domiciliar per capita inferior a R$ 37,75 (linha de indigência) equivalente a ¼ do salário mínimo em agosto de 2000.12 PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas: Correspondia a proporção de indivíduos com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50 (linha de pobreza) equivalente a ½ do salário mínimo em agosto de 2000.
28
pobreza decaiu de 40,08% para 32,75%, nos anos focalizados. Apesar disso, é preciso atentar
que os indicadores ainda permanecem elevados.
A tendência a declínio também se verificou no Rio Grande do Norte. Em 1991, a
população indigente do Estado equivalia a 34,56% decaindo para 26,89%, no ano 2000. Com
relação à representatividade de pobres no universo populacional, registrou-se um declínio de
61,71% para 50,63%. Entretanto, a soma dos indicadores demonstra que 77,52% dos
potiguares, em 2000, viviam com uma renda domiciliar per capita correspondente a ½ do
salário mínimo ou em extrema miséria, constituindo-se um dado preocupante. A cartografia
da pobreza e da indigência dos norte-rio-grandenses pode ser avaliada nas representações a
seguir (MAPA 07 e MAPA 08)
MAPA 07 – Intensidade da Pobreza segundo os Municípios do Rio Grande do Norte - 2000
FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas
MAPA 08 – Intensidade da Indigência segundo os Municípios do Rio Grande do Norte - 2000
29
FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas
O mapa da pobreza norte-rio-grandense demonstra a difusão territorial que esta
assume, sendo importante apreender a sua espacialização regional. A despeito da elevada
representatividade que possui na sociedade potiguar, entre os recortes onde a intensidade da
pobreza mostra-se menor (38,34 a 48,36) destacam-se o entorno de Natal, alguns municípios
próximos à Mossoró e à Região do Seridó. No outro extremo, onde a intensidade do problema
evidencia-se mais fortemente (61,51 a 72,63), notifica-se a concentração entre os municípios
do Alto Oeste e do Agreste Potiguar. A espacialização da intensidade da indigência, de forma
geral, é correspondente ao mapa da pobreza.
Na perspectiva de não restringir a análise apenas a indicadores econômicos,
buscou-se aporte no Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que procura retratar além da
renda, duas outras características esperadas do desenvolvimento humano: a longevidade de
uma população (expressa pela esperança de vida ao nascer) e o grau de maturidade
educacional (avaliado pela taxa de alfabetização de adultos e pela taxa combinada de
matrícula nos três níveis de ensino). A renda é calculada através do PIB real per capita,
expresso em dólares e ajustado para refletir a paridade do poder de compras entre os países. O
30
IDH varia de 0 (nenhum desenvolvimento) a 1 (desenvolvimento humano total) e estabelece a
seguinte classificação: baixo desenvolvimento humano (índices até 0,499); médio
desenvolvimento humano (0,500 a 0,799) e alto desenvolvimento humano (maior que 0,800).
O mapa do IDH do Rio Grande do Norte revela a situação em que se encontra o Estado sob o
ponto de vista do desenvolvimento humano (MAPA 09).
MAPA 09 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M do Rio Grande do Norte - 2000
FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas.
O IDH do Rio Grande do Norte obteve um crescimento positivo passando de
0,604 em 1991 para 0,705 em 2000. Não obstante, ainda permaneceu um índice inferior ao
obtido pelo país que era de 0,696, em 1991, e foi elevado a 0,776 em 2000. Sua posição no
ranking entre os estados da federação oscilou do 20º lugar, em 1991, para o 19º em 2000.
No âmbito do território estadual é importante a verificação de que todos os
municípios encontram-se no nível intermediário de desenvolvimento humano e que a
31
amplitude é de 0,544 (Venha Ver) a 0,788 (Natal). Neste intervalo, conforme mostra o mapa,
há uma variação de faixas de indicadores que, apesar da dispersão espacial, chama atenção
pela mancha que produz sob o território seridoense. Neste, concentra-se 14 municípios
(43,75%) dos 32 que obtiveram maior IDH no Rio Grande do Norte.
Neste ínterim, faz-se mister ressaltar o que ficou evidenciado nas representações
espaciais da pobreza, da indigência e do IDH, em termos de Rio Grande do Norte. A
elucidação das referências positivas projetadas no entorno de Natal e de Mossoró podem ser
fundamentadas pelo dinamismo econômico, pela funcionalidade de suas sedes municipais no
sistema urbano estadual, dentre outros aspectos. Instigante é a situação do Seridó,
considerando-se a situação sócio-econômica e ambiental em que se encontra. A região não se
coloca entre os focos dinâmicos recentes da economia estadual e figura no mapa de
ocorrência da desertificação como uma área de degradação muito grave e intensa. Porém, o
aparente paradoxo se desfaz logo que se busca a historicidade da região para desvendar o seu
estágio atual e vislumbra-se que as estratégias sócio-políticas e culturais de décadas passadas
são revitalizadas no presente. Criando, inovando e reinventando o saber-fazer regional, a
sociedade vem construindo cenários de resistência e a atuação de sua representação política
tem sido fundamental para a melhoria dos indicadores sociais, como educação e saúde
(MORAIS, 2005, p. 308).
Delineado este perfil sócio-ambiental do Rio Grande do Norte faz-se mister
enveredar pela cartografia da desertificação a partir da caracterização e da delimitação das
áreas identificadas como susceptíveis ao fenômeno.
3.2 As Áreas Susceptíveis à Desertificação do Rio Grande do Norte
As ASD no Rio Grande do Norte correspondem a 97,6% do território e abrigam
95,6% da população. Este elevado índice de inclusão dentre as áreas susceptíveis à
desertificação decorre da inter-relação entre o meio natural e o homem, ao longo de séculos
de ocupação e exploração do espaço.
3.2.1 Características
32
A história da ocupação do território que hoje compõe as ASD potiguares remete à
presença portuguesa nestas terras, cuja intervenção mais efetiva foi deflagrada no final do
século XVI, quando passaram a desenvolver a cana-de-açúcar, no litoral. Nos séculos
seguintes, deu-se a apropriação do espaço interiorano utilizado para a criação de gado, a
agricultura de subsistência e, mais adiante, para o cultivo do algodão. No decorrer dos
séculos, outras atividades surgiram como a extração do sal, da cera de carnaúba, da oiticica e
do sisal e a mineração. Além disso, a população cresceu, as cidades se expandiram e se
multiplicaram, estradas foram construídas e muitas alterações foram impressas ao espaço.
Neste processo, elevaram-se as demandas em relação aos recursos naturais, mas também
foram ampliadas as possibilidades de intervenção do homem no espaço através do emprego de
tecnologias. Todavia, especialmente no recorte semi-árido do Estado, já são notáveis os sinais
de descompasso entre os recursos naturais disponíveis e o atendimento às demandas sociais.
Em um passado recente, o território potiguar foi afetado pelas crises da
cotonicultura e da mineração, que desestabilizaram a sua base produtiva (décadas de 1970 e
1980). A emergência de novas atividades e a expansão de outras já existentes, se
encarregaram de refazer a dinâmica econômica que repercutiu diferentemente sobre as
regiões, em função de especificidades locais e conjunturais.
No entanto, em meio ao elenco de atividades desenvolvidas existem algumas que
têm se mostrado extremamente danosas ao meio ambiente, inclusive contribuindo
decisivamente para a acentuação da susceptibilidade à desertificação, tanto nas circunscrições
do semi-árido, quanto nas de clima subúmido seco. Além das atividades econômicas um outro
componente a incidir sobre este processo são as práticas culturais, que estão diretamente
vinculadas à forma de produzir e ao cotidiano das pessoas, por exemplo o desmatamento e a
queimada para uso do solo na agricultura e a extração da lenha para fins domésticos.
A partir destes pressupostos e da concepção de que “a desertificação é um
processo de degradação da terra que pode ter múltiplas causas e pode dar lugar a múltiplas
conseqüências”, de tal modo interligadas por mecanismos de retroalimentação que formam
círculos viciosos (SAMPAIO et. al, 2003, p. 22), é possível identificar as principais atividades
econômicas que, no Rio Grande do Norte, repercutem sobre o ambiente contribuindo para a
sua degradação: a agropecuária, a mineração – com destaque para a produção ceramista - e a
panificação.
A agropecuária é uma atividade secular em terras nordestinas e, por conseguinte,
nas potiguares, sendo desenvolvida desde os primórdios de sua colonização. Dentre as
economias fundadoras do território estão a cana-de-açúcar, a pecuária e a cotonicultura.
33
A agricultura da cana-de-açúcar localizava-se (ainda localiza-se) na faixa litorânea
ou Zona da Mata, onde anteriormente, havia sido praticada a extração do pau-brasil (GOMES,
1997, p. 23). A partir desta atividade, o espaço foi sendo pontilhado por engenhos de açúcar e
pequenos núcleos populacionais. Também ocorria neste espaço a agricultura de subsistência.
O território da cana-de-açúcar, em termos de extensão, foi exígüo tendo em vista a estreita
faixa de terras cujas condições eram propícias ao seu plantio. Mas, esta economia foi
importante, entre outros motivos, por definir os primeiros fluxos de exportação do território
potiguar e por influenciar o surgimento de centros urbanos.
Ao longo de sua história, o Litoral Leste tornou-se uma região que tem na
produção agrícola um dos seus aportes e apresenta-se densamente ocupada e urbanizada.
Neste sentido, observa-se que onde antes predominava a Mata Atlântica, recorreu-se à prática
do desmatamento para viabilizar a implantação da monocultura da cana-de-açúcar e a
estrutura citadina, com suas derivações, por exemplo às vias de circulação (estradas).
Possivelmente reside nestes aspectos históricos, a justificativa para que, nos dias
atuais, alguns redutos canavieiros do Estado, localizados ao norte da Mesorregião Leste
Potiguar, como Ceará-Mirim e São Gonçalo do Amarante, estejam entre as ASD norte-rio-
grandenses, classificadas como áreas subúmidas secas. A mesma explicação servirá à
compreensão da inclusão dos municípios de Extremoz, Natal e Parnamirim na Área do
Entorno das Áreas Semi-áridas e das Áreas Subumidas Secas do Estado, sendo também
passíveis de afetação pelo processo de desertificação.
A pecuária aparece como a economia fundante do Sertão, responsável pela sua
efetiva ocupação. Considerando a grande extensão do Sertão em relação à Zona da Mata,
infere-se sobre a importância e repercussão que a criação de gado teve em termos de
construção do território potiguar. O Sertão corresponde, basicamente, ao recorte semi-árido
onde impera a Caatinga, território dos currais, hoje identificado como área semi-árida afetada
ou susceptível à processos de desertificação.
Com a emergência do algodão à condição de cultura de exportação (final do
século XIX), o espaço da fazenda sertaneja foi refuncionalizado passando a se estruturar em
torno do histórico binômio gado-algodão. Após a decadência da cultura algodoeira (década de
1970), a pecuária continuou a ser praticada e vem demonstrando sinais de incorporação de
inovações técnicas que repercutem na produção e na produtividade. Neste período, a pecuária
diversificou-se influenciada pelas políticas de incentivo à caprinocultura e à ovinocultura,
cujos rebanhos obtiveram expressivo crescimento, e a bovinocultura teve sua produção
bifurcada entre o gado de corte e o gado leiteiro, em resposta à política governamental do
34
Programa do Leite. A agricultura também foi redimensionada e modernizada em algumas
regiões, destacando-se o segmento da fruticultura.
No âmbito da agropecuária faz-se mister atentar que sua inclusão dentre as
atividades que podem contribuir para processos de desertificação deriva da forma como é
implementada. De fato, é o manejo inadequado dos recursos naturais – solo, água e vegetação
- para fins de práticas agropecuárias que torna a atividade degradante. Este processo se
materializa através de ações como o desmatamento e a queimada, (FIG. 01) realizados sem
orientação técnica ou planejamento, para cultivos em encostas de serras, (FIG 02) margens de
rios e outros ambientes, incluindo-se aqueles destinados à formação de pastagens; o
superpastoreio, (FIG. 03 e 04) seja em termos de espaço ou tempo; a irrigação, (FIG. 05) que
produziu benefícios, mas sendo realizada de forma inadequada e sem recurso à drenagem
gerou o problema da salinização. Acrescente-se à problemática em foco, o uso indiscriminado
e inadequado de herbicidas.
35
FIGURA 01 – QUEIMADAS NA SERRA DE SANT’ANA MUNICÍPIO DE LAGOA NOVA
FIGURA 02 - DESMATAMENTO DE ENCOSTAS NO MUNICÍPIO DE CERRO CORÁ.
FONTE: ADESE, 2005. FONTE: FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL BRASIL, 2002
Não é demais enfatizar que a circunscrição das ASD no Rio Grande do Norte
corresponde a 97,6% de seu território e que a agropecuária ainda tem um papel importante no
quadro econômico, principalmente na porção semi-árida e subúmida seca, apesar da redução
de sua participação na composição do PIB estadual.
Quanto à mineração (FIG. 06) do Rio Grande do Norte também é importante
salientar o seu desenvolvimento há vários decênios, tendo sido emblemática de uma fase
próspera do Estado, mais especificamente da Região do Seridó, entre os anos de 1940 e 1980.
Neste período, a exploração da província scheelitífera curraisnovense “não só colocou este
município em posição de primazia (quase totalidade do mineral produzido e exportado no
país) como elevou o Rio Grande do Norte ao patamar de detentor das maiores reservas e de
maior produtor brasileiro” (ALVES, 1997, p.13-15 apud MORAIS, 2005, p. 171). A produção
da scheelita destinava-se principalmente ao mercado externo e compunha junto com o
algodão e a pecuária o tripé de sustentação da economia seridoense. Contudo, assim como a
cotonicultura, esta produção mineira que teve uma singular expressão econômica e histórica
para a sociedade potiguar, especialmente a seridoense, traduzindo-se em uma fase de fausto,
modernização e riqueza, também enfrentou uma crise que a levou à decadência.
36
FONTE: FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL BRASIL, 2002
FONTE: ADESE, 2005.
FIGURA 03 – SUPERPASTOREIO
FIGURA 05 – IRRIGAÇÃO NO MUNICÍPIO DE SAÕ JOÃO DO SABUGI
FONTE: FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL BRASIL, 2002
FIGURA 06 - MINERAÇÃO LOCALIZADA NA COMUNIDADE OLHO D’ÁGUA DE QUINTOS MUNICÍPIO DE EQUADOR
FIGURA 04 - SUPERPASTOREIO
Na tessitura deste enredo de crises, que abalou a economia estadual, novos
segmentos de produção do setor mineral foram surgindo e outros, já explorados, tiveram a
oportunidade de se fortalecer e/ou ampliar. A Avaliação Preliminar do Setor Mineral do Rio
Grande do Norte (SEDEC, 2004), documento elaborado com base nas informações do
Cadastro Industrial da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte – FIERN,
referente aos anos 2002-2003, e da listagem de processos de licenciamento das atividades de
mineração do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do
Norte – IDEMA, indica os principais bens minerais e os municípios que respondem pela
Indústria Extrativa e de Transformação Mineral do Estado (ANEXO 03 e ANEXO 04).
Os dados sobre este segmento industrial evidenciam a existência de certa
diversidade de bens minerais sendo explorados, tais como água mineral, areia, argila, brita,
cal, calcário, caulim, feldspato, gemas, sal marinho, tantalita, cerâmica vermelha e cerâmica
branca, dentre outros. A distribuição destas unidades produtivas pelo território abrange as 4
mesorregiões do Estado e 18 microrregiões das 19 existentes, exceto a Microrregião de São
Miguel (vide MAPA 02). No entanto, as informações apontam para a ocorrência de uma
concentração em termos de localização geográfica e de segmento produtivo.
Em termos de concentração geográfica dos estabelecimentos da Indústria
Extrativa e de Transformação Mineral do Estado, destacam-se as mesorregiões Oeste Potiguar
(119 unidades) e Central Potiguar (120 unidades). Esta última tem 104 indústrias (86,6%)
37
FONTE: ADESE, 2005.
localizadas nas microrregiões do Seridó Ocidental e Oriental ressaltando-se que, nesta, onde
existe o núcleo de desertificação, há 95 indústrias de extração mineral.
Considerando o número de indústrias tem-se que, das 350 empresas que constam
na fonte documental, os segmentos mais representativos são o de produção de cerâmica
vermelha (141) e o salineiro (40). O primeiro responde por 40,28% do total de empresas e
encontra-se disseminado pelo território em unidades isoladas ou formando pólos. O segundo é
responsável por 11,42% das empresas e tem como redutos de produção os municípios de
Areia Branca, Macau, Grossos, Galinhos e Mossoró, sendo este último detentor de 21
indústrias das 40 identificadas, ou seja, 52,5% do total.
Nesta geografia da Indústria Extrativa e de Transformação Mineral do Rio Grande
do Norte os dados sobre o segmento ceramista e sobre a Região do Seridó despertam a
atenção. De acordo com o levantamento realizado as empresas do setor encontram-se
distribuídas em 35 municípios do território potiguar e formam três pólos de produção: o da
Grande Natal, do Baixo Açu e do Seridó (MAPA 10).
38
MAPA 10 – Municípios produtores de Cerâmica do Rio Grande do Norte
FONTE: SEDEC. Avaliação preliminar do setor mineral do Rio Grande do Norte. Natal, 2004.
O Pólo da Grande Natal abrange 17 empresas e é composto pelos municípios de
Nísia Floresta, São José do Mipibu, Ceará-Mirim, Ielmo Marinho e São Gonçalo do
Amarante, principal produtor.
O Pólo do Baixo Açu é formado pelos municípios de Itajá, Ipanguassu, Alto do
Rodrigues, Pendências e Açu. Em Itajá estão concentradas 17 empresas das 34 que compõem
o pólo e 10 no município de Açu.
No Pólo do Seridó os dados são mais expressivos: das 141 empresas produtoras
de cerâmica do Estado, 66 estão situadas na região (46,8%), dispersas por 14 municípios.
Parelhas, com suas 24 unidades de produção, se destaca como maior produtor do Estado. Em
seguida despontam os municípios de Carnaúba dos Dantas (13), Jardim do Seridó (6) e
Cruzeta (6).
Indiscutivelmente, a mineração, praticada de maneira racional e econômica, se
constitui uma atividade básica da economia, que “deve ser operada com responsabilidade
social, consolidando-se no contexto do desenvolvimento sustentável, procurando um
39
equilíbrio sistemático entre o trinômio homem-recurso natural-território” (SEDEC, 2004, p.
35). Porém, os questionamentos acerca desta atividade surgem em função de que o seu
exercício nem sempre se pauta por estas prerrogativas ou pela observação da legislação
pertinente. Disto resulta que a mineração executada sem um devido planejamento e sem
critérios técnicos e ambientais torna-se uma atividade portadora de expressivo poder de
degradação ambiental.
A assertiva conduz a pensar sobre o desenvolvimento da mineração em um
território com elevada susceptibilidade à desertificação, como é o caso do Rio Grande do
Norte, especialmente a Região do Seridó, principal pólo de produção ceramista do Estado e
onde se registram os mais altos níveis de susceptibilidade (muito grave e intenso),
responsáveis pela configuração de um núcleo de desertificação.
A difusão da produção de cerâmica (FIG. 07 e 08) pelo Seridó coloca-se no
contexto de rebatimento da crise da base produtiva – algodão e scheelita -, insurgindo-se
como uma alternativa capaz de gerar ocupação e renda. Dados do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial – SENAI/RN, revelaram que, entre 1989 e 2001, houve um
expressivo crescimento do setor ceramista no Rio Grande do Norte, principalmente, no
Seridó. No período em foco, foi registrado um crescimento relativo deste segmento da ordem
de 93,9% no Estado e de 690% na citada região (MORAIS, 2005, p. 293).
40
FIGURA 07 - CERÂMICA LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE CRUZETA
FIGURA 08 - CERÂMICA LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE CRUZETA
FONTE: ELISÂNGELO, 2004 FONTE: ADESE, 2001
Nos principais municípios produtores esta atividade tem sido responsável pela
garantia de trabalho e renda para um grande contingente da população. Mas, se por um lado
pode parecer promissora em termos de mercado de trabalho, por outro, contribui para acentuar
a susceptibilidade à desertificação, tendo em vista a origem da matéria prima argila e a
rudimentar tecnologia de produção que utiliza a lenha como fonte de energia. A fabricação de
telhas e tijolos com base na utilização de recursos florestais e de solos aluviais, antes usados
para a lavoura de subsistência e o plantio de pastagens, tem aguçado os problemas ambientais
da região, cujo ecossistema predominante já apresenta naturalmente tendência a processos de
degradação. O uso de argila de açude para fins ceramistas também tem contribuído para
degradar e gerar conflitos em áreas de vazante dos reservatórios, cuja destinação é a produção
de hortifrutiganjeiros e de capim para o gado quando o volume d’água encontra-se baixo. De
acordo com Medeiros (2004, p. 74), a produção ceramista “é considerada pela maioria dos
estudiosos como a atividade que mais corrobora para degradar a região do Seridó norte-rio-
grandense”.
A forma como a produção é realizada recorrendo-se ao desmatamento de áreas
recobertas pela Caatinga, que deixa o solo desnudo, e a extração de argila em recortes férteis
que aceleram a erosão através das crateras que se formam no solo, torna-a um agente incisivo
de degradação em um cenário marcado pela semi-aridez. Outrossim, o baixo nível tecnológico
utilizado no fabrico de telhas e tijolos tem gerado grandes perdas de material que se
transformam em resíduo, entulhado nas proximidades das unidades de produção, denotando
uma outra face da agressão ao meio ambiente.
Neste sentido, descortina-se o desafio que a sociedade potiguar precisa enfrentar,
tendo em vista a extensão da atividade mineira e, especialmente a dimensão que a produção
de cerâmica assume, nos dias atuais. Apresentando-se com alguns estabelecimentos dispersos
e outros agregados em pólos, a produção de cerâmica cristaliza a difícil equação entre
dividendos econômicos e degradação ambiental. Neste panorama, porém, há um dado que não
se pode negligenciar: 97% das terras do Rio Grande do Norte são susceptíveis à desertificação
e, no Seridó, principal pólo ceramista, há um retrato sem retoques produzido pela exaustiva
intervenção do homem no meio, um legado de degradação que fez a região ser perfilada entre
os núcleos de desertificação do Brasil.
Uma outra atividade econômica que pode ser apontada dentre aquelas cujo
desenvolvimento colabora para a desertificação é a panificação. Embora ainda não se tenha
dado disponível sobre o assunto, é possível vislumbrar uma correlação entre o crescimento
41
das panificadoras e a elevação das taxas de urbanização, visto que, na atualidade, a quase
totalidade dos municípios do Estado, dispõe deste tipo de unidade industrial.
A relação entre esta atividade e o processo de degradação se estabelece a partir do
uso da lenha no processo de produção. Assim, a panificação passa a ser uma atividade
humana a gerar pressão sobre os já comprometidos estoques de vegetação lenhosa do
território e, dada a constante e crescente demanda industrial, inclusive por parte de outros
segmentos produtivos, amplia e impulsiona a prática do desmatamento. Tomando a situação
do Seridó como referência, o consumo da lenha por parte das cerâmicas e panificadoras está
implicando na destruição da cobertura vegetal e segundo Medeiros (2004, p. 82) este processo
vem condenando algumas espécies vegetais e animais à extinção, como exemplo a abelha
jandaíra, que faz seu ninho no tronco das árvores. A avidez humana de impor a lei do
machado, faz com que as árvores, redutos de proliferação de vida, tombem e com elas
declinem também as possibilidades de reprodução de algumas espécies animais.
Além destes aspectos, é preciso ainda considerar que a destruição da cobertura
vegetal para se obter a lenha também é realizada para fins de uso doméstico, principalmente
nas áreas rurais e com menor intensidade nas periferias urbanas. Isso reflete a persistência de
uma prática sócio-cultural, em função de baixo poder aquisitivo ou do fator distância,
geradores de dificuldades para o uso do GLP.
Alguns dados sobre a extração vegetal no Rio Grande do Norte revelam como esta
prática, a partir de espécies nativas, ainda se mantém viva na sociedade. Em 2002, a produção
de carvão vegetal no Estado foi de 3.058 toneladas, destacando-se os municípios de Baraúna
(288 t), Santana do Matos (275 t) e Caraúbas (225 t). A produção de lenha correspondeu a
1.713.765 m³, tendo como principais produtores os municípios de Governador Dix-Sept
Rosado (129.600 m³), Baraúna (75.192 m³) e Apodi (67.280 m³) (IDEMA, 2002). Importante
o registro de que a extração de lenha se verifica em 166 municípios do Estado e a produção de
carvão em 159 deles.
A delineação deste quadro em relação à desertificação no Rio Grande do Norte é
uma clara evidência da inter-relação entre os aspetos naturais e a ação humana no
desencadeamento do fenômeno. Considerando que a degradação da terra é definida como a
redução ou perda da capacidade da produtividade biológica ou econômica e da complexidade
das terras e que comporta a degradação do solo, água e vegetação, verifica-se que, no Estado,
algumas práticas como o desmatamento e as queimadas e o emprego de técnicas
agropecuárias inadequadas repercutem sobre o território, intensificando a susceptibilidade à
desertificação.
42
Nas áreas afetadas pela desertificação as conseqüências se pautam mais pela
semelhança das manifestações que pelas diferenças, evidenciando-se sob múltiplos aspectos e
variadas dimensões, de forma bastante inter-relacionada. Em termos ambientais, os efeitos da
degradação ganham visibilidade através da erosão (FIG. 09 e 10) e salinização dos solos,
perda da biodiversidade, diminuição da disponibilidade e da qualidade dos recursos hídricos,
entre outros. Socialmente, os reflexos são sentidos a partir da desestruturação familiar
motivada pela necessidade de emigrar para centros urbanos, devido à perda da capacidade
produtiva da terra, o que gera novas demandas sociais e aumenta a pressão sobre os serviços,
principalmente os oferecidos pelo Estado. Na dimensão econômica destacam-se a queda na
produtividade e produção agrícolas, sobretudo a agricultura de sequeiro mais vulnerável aos
fatores climáticos, e a redução da renda e do consumo da população. Acrescente-se a
repercussão sobre a arrecadação de impostos e na circulação de renda decorrente da perda da
capacidade produtiva (IDEMA, 2004, p. 13-14).
A delineação deste quadro de referências sobre as causas e as conseqüências da
desertificação define a condição do Rio Grande do Norte como área susceptível ao processo,
sendo importante identificar a cartografia que assume em território potiguar.
43
FIGURA 09 – EROSÃO DOS SOLOS NO MUNICÍPIO DE LAGOA NOVA
FIGURA 10 – EROSÃO DOS SOLOS NO MUNICÍPIO DE CURRAIS NOVOS
FONTE: ADESE, 2005. FONTE: ELISÂNGELO, 2004.
3.2.2 Áreas Susceptíveis à Desertificação
Tomando como referência o PAN Brasil (MMA, 2004), que estabelece uma
regionalização em áreas semi-áridas, subúmidas secas e de entorno, segundo os estados, foi
possível sistematizar alguns dados sobre as ASD do Rio Grande do Norte que desnudam a
problemática da desertificação, revelando o quão é preocupante a situação no Estado, em
termos de extensão e contingente de população afetado (TAB. 06).
TABELA 06Áreas Susceptíveis à Desertificação no Rio Grande do Norte segundo o PAN-Brasil – 2004
ÁREASSUSCEPTÍVEIS
POPULAÇÃO ÁREA (km²)¹Urbana Rural Total % Total %
Semi-Árida 1 041 484 521 994 1 563 478 56,3 48 706,01 92,3Subúmida Seca 104 704 155 586 260 290 9,3 2 396,834 4,5Do Entorno 834 874 21 705 856 579 30,9 416,165 0,8ASD do Estado 1 981 062 699 285 2 680 347 96,5 51 519,01 97,6Estado (total) 2 036 673 740 109 2 776 782 100,00 52 796,791 100,00FONTE: MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação nacional de
combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca – PAN Brasil, 2004, p. 189-194.IBGE. Censo demográfico 2000, 2000, p. 269-271.IBGE. Área territorial oficial. Resolução nº 5 de 10 de outubro de 2002. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias.
¹ Calculada com base na área territorial oficial, segundo o IBGE.
Considerando a classificação estabelecida no PAN Brasil (MMA, 2004) o Rio
Grande do Norte apresenta 97,6% de seu território incluído nas ASD, estando a parcela mais
significativa classificada nas áreas semi-áridas susceptíveis à desertificação. Nos 48.706,01
km² das referidas áreas, 4.093.806 km² apresentam um nível de degradação muito intenso
configurando o Núcleo de Desertificação do Seridó.
O conjunto das ASD no Rio Grande do Norte compreende 159 municípios dos
167 existentes (95,21%)13 (MAPA 10). Abriga um contingente de 2.680.347 habitantes, dos
quais 73,91% residem em espaços urbanos e 26,08% são moradores rurais. Este universo
populacional corresponde a 97,26% do contingente urbano e 94,48% da população rural do
Estado.
13 Informação atualizada considerando o desmembramento de Várzea que deu origem ao Município de Judiá, em 1996.
44
MAPA 10 - Áreas Susceptíveis à Desertificação no Rio Grande do Norte segundo o Pan-Brasil - 2004
N
EW
S
30 0 30 km
Áreas Susceptíveis a Desertificação no Rio Grande do Norte segundo o PAN-Brasil - 2004
AC U
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Área Sem i-Árida
Área Subúm ida Seca
Área do E ntorno
FONTE: MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca – PAN Brasil, 2004, p. 189-194.
45
A cartografia da desertificação no Rio Grande do Norte referenda a correlação
estabelecida entre o fenômeno e a área do ecossistema da Caatinga, ou seja, sob o domínio do
semi-árido. Considerando que em aproximadamente 75% do território estadual o clima
predominante é o Semi-árido e que as ASD também abarcam espaços subúmidos secos e as
áreas de entorno, tem-se um quadro em que apenas 2,4% da superfície potiguar não
demonstram susceptibilidade à desertificação14.
3.2.2.1 Áreas Semi-áridas
Conforme foi analisado anteriormente, as áreas semi-áridas que conformam as
ASD do Rio Grande do Norte correspondem ao espaço onde predomina o ecossistema da
Caatinga e se manifestam as características climáticas da semi-aridez.
Dentre os 159 municípios que compõem as ASD norte-rio-grandenses, 143
compreendem as Áreas Semi-áridas e totalizam uma extensão de 48.706,01 km², ou seja
92,3% do território. Nestes rincões sertanejos moram 1.563.478 habitantes, um pouco mais da
metade da população potiguar (56,3%). Deste universo, 66,61% da população vivem em
espaços urbanos.
A tentativa de estabelecer uma correspondência entre este recorte e as divisões
regionais do Estado (vide MAPA 02) permite identificar que dele fazem parte as mesorregiões
Oeste Potiguar, Central Potiguar, Agreste Potiguar e alguns municípios da Mesorregião Leste
Potiguar. As especificidades encontradas nas escalas microrregionais tornam possível admitir
que ocorrem diferentes níveis de degradação.
Entrecruzando a leitura de Carvalho; Gariglio; Barcelos (2000) com a
classificação do PAN Brasil (2004), é possível delinear recortes a partir da intensidade do
processo de desertificação.
Assim, dentre as áreas semi-áridas do Rio Grande do Norte, afetadas por este
fenômeno, a porção sul da Mesorregião Oeste Potiguar ou sul-oeste do Estado, onde se situam
as microrregiões de Pau dos Ferros, Serra de São Miguel e Umarizal, apresenta um estágio de
degradação moderada.
14 Não apresentam susceptibilidade à desertificação os municípios de Arês, Baía Formosa, Canguaretama, Goianinha, Nísia Floresta, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Vila Flôr, integrantes da Microrregião Geográfica Litoral Sul, reduto do clima tropical úmido no Estado. Em termos de área esses municípios ocupam 2,4% do território estadual, onde vivem 78.774 habitantes (2,83% da população potiguar).
46
No outro extremo, registrando níveis de degradação muito grave e intenso, está
uma fração da Mesorregião Central Potiguar, mais especificamente as microrregiões do
Seridó Ocidental e Oriental e os municípios de Jucurutu (Vale do Açu), Florânia, Tenente
Laurentino e São Vicente (Serra de Santana), localizadas na parte centro-sul do Estado, cuja
gravidade da situação resultou na identificação de um núcleo de desertificação, objeto de
análise a seguir.
Os demais espaços semi-áridos susceptíveis à desertificação no Rio Grande do
Norte foram parcialmente identificados pelo estudo de Carvalho; Gariglio; Barcelos (2000),
de forma que é possível apontar como áreas de ocorrência grave apenas as microrregiões
Chapada do Apodi, Médio Oeste, Mossoró e frações do Vale do Açu (Messoregião Oeste
Potiguar); a microrregião Macau (Mesorregião Central Potiguar); a microrregião de Baixa
Verde (Mesorregião Agreste Potiguar) e alguns municípios da microrregião do Litoral
Nordeste (Mesorregião Leste Potiguar).
A análise destes recortes sob a ótica da intensidade da pobreza, da indigência e do
IDH-M mostra um quadro bastante variado. Com relação à pobreza e a indigência, os
municípios que evidenciaram maior intensidade estão situados, principalmente, nas
microrregiões de São Miguel, Pau dos Ferros, Umarizal e Agreste Potiguar. Os índices menos
expressivos concentraram-se em municípios do entorno de Mossoró e das microrregiões do
Seridó Ocidental e Oriental. Nos demais espaços, os indicadores apresentaram uma situação
intermediária. Em termos de IDH-M, as situações mais críticas aparecem na microrregião do
Litoral Nordeste e em alguns municípios dispersos pelo território estadual, pontilhando os
espaços regionais. Os índices mais favoráveis se sobrepõem às regiões em que a pobreza e a
indigência registraram menor intensidade.
Nas áreas semi-áridas susceptíveis à desertificação norte-rio-grandenses a
agropecuária ainda desempenha um importante papel no tecido sócio-econômico, estando o
Seridó entre as principais bacias leiteiras do Estado; a produção ceramista assumiu
expressividade, passando a representar uma das relevantes fontes de renda, e a urbanização
intensificou-se, nos últimos 35 anos, gerando novas demandas sociais e o aumento da pressão
sobre os recursos naturais. Neste recorte inclui-se o núcleo de desertificação.
47
3.2.2.1.1 Núcleo de Desertificação do Seridó
Os núcleos de desertificação correspondem à áreas de amplitude variável onde
aparecem “manchas aproximadamente circulares” e “a fisionomia desértica se imprime mais
denunciadora. No solo todo ou quase todo erodido, onde o horizonte A foi arrastado, ou nunca
existiu, a vegetação, mesmo nos períodos de chuva, se recupera muito escassamente ou não se
recupera” (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002, p. 65). São redutos onde a degradação
ambiental é maximizada e os efeitos da conjugação de variáveis naturais e humanas se
evidenciam de forma clara, deixando transparecer no espaço a deterioração das relações
sócio-ambientais.
A configuração desses núcleos resulta de um equilíbrio ecológico instável,
determinado por fatores naturais e pela ação humana. No dizer de Vasconcelos Sobrinho
(1971 apud 2002, p. 64), enquanto não há interferência, o periclitante equilíbrio entre flora e
fauna e o meio hostil vai se mantendo a duras penas. “Mas vem o homem e ocupa a área;
derruba e queima a cobertura vegetal, quebrando um dos elos da cadeia de condicionamentos
e dá-se a ruptura do complexo: o solo foge perdendo a fertilidade, assoreando os rios; sua
superfície resseca-se e impermeabiliza-se; a cobertura vegetal perde a pujança e degrada-se; a
atmosfera desidrata-se e aquece-se, dificultando as precipitações; as reservas de água das
profundidades do solo minguam, as fontes estacam-se e os rios tornam-se intermitentes. E,
por último, o homem foge.”
Os núcleos de desertificação apresentam um dinamismo próprio, com tendência a
de expansão em detrimento de áreas vizinhas, caso se agucem os processos desencadeadores
de sua formação.
As primeiras referências sobre a formação de núcleos de desertificação no Brasil,
mais especificamente no Nordeste, foram pioneiramente apresentadas por Vasconcelos
Sobrinho. Em 1977, com a colaboração do referido professor, a SUDENE iniciou o estudo
das áreas em processo de desertificação, visando identificar as áreas mais afetadas e
selecionar as mais críticas, como áreas piloto, para efeito de mapeamento. Foram selecionadas
seis áreas piloto nos estados do Piauí (Caatinga e Cerrado), Ceará (Inhamuns), Paraíba
(Cariris Velhos), Pernambuco (Sertão Central), Bahia (Sertão do São Francisco) e Rio Grande
do Norte (Seridó). Em 1996 foram realizadas visitas de campo em Gilbués (PI), Irauçuba
(CE), Cabrobó (PE) e Seridó (RN), sendo possível constatar que entre as causas principais
para a intensa degradação dessas áreas estavam o desmate da Caatinga para uso na
agricultura, pecuária e mineração, extração de argila de solos aluviais e retirada de madeira
48
para lenha. “Essas áreas foram caracterizadas como de alto risco à desertificação, e ficaram
conhecidas como núcleos desertificados” (MMA, 2004, p. 17). No Seridó, a extração de argila
de solos aluviais, tendo como destino a produção ceramista, foi apontada como causa
principal da desertificação.
Sobre a inclusão do Seridó potiguar como núcleo de desertificação assim se
manifesta Vasconcelos Sobrinho (1982 apud 2002, p. 68): “No Rio Grande do Norte, quase
toda a região fitogeográfica do Seridó vem sendo submetida a intensos trabalhos de
prospecção e mineração, criando núcleos de desertificação”. O autor salienta que esta
atividade, juntamente com as condições climáticas de baixa pluviosidade, tornam o Seridó um
dos exemplos mais graves da presença da desertificação no Nordeste. Um outro agravante é a
produção de cerâmica, cujos efeitos nefastos extrapolam a formação de crateras para a
retirada do barro [argila], grassando pela destruição da cobertura vegetal para obtenção de
lenha a ser usada nos fornos. “O Seridó, principalmente nos municípios de Equador, Parelhas,
Carnaúba dos Dantas e Acari, 104 (cento e quatro) cerâmicas competem entre si pelo volume
de argila retirado do solo para fabricação de telhas e tijolos, incentivadas pela qualidade do
barro, que permite um tipo especial dos artefatos fabricados.”
Considerando que este estudo foi realizado em 1982 e que nos dias atuais (2005) a
produção ceramista é ainda identificada como uma das principais atividades a gerar ocupação
e renda para os seridoenses, sendo ainda marcada pelo emprego de baixa tecnologia, conclui-
se que decorreram 23 anos de intensa degradação dos solos e da vegetação em terras
seridoenses.
Os dados coletados sobre a área e a população do Núcleo de Desertificação do
Seridó, segundo a regionalização adotada pelo PAN Brasil (MMA, 2004, p. 17), delineiam a
extensão territorial e a abrangência demográfica do fenômeno (TAB. 07).
49
TABELA 07Núcleo de Desertificação do Seridó
2005MUNICÍPIOS ÁREA (km²) POPULAÇÃO
Total % Urbana Rural Total %Acari 608,565 1,2 8.841 2.348 11.189 0,4Caicó 1.228,574 2,3 50.624 6.378 57.002 2,1Carnaúba dos Dantas 245,648 0,5 5.035 1.537 6.572 0,2Currais Novos 864,341 1,6 35.529 5.262 40.791 1,5Equador 264,983 0,5 4.324 1.340 5.664 0,2Jardim do Seridó 368,643 0,7 9.297 2.744 12.041 0,4Parelhas 513,052 1,0 15.606 3.713 19.319 0,7Núcleo de Desertificação 4.093,806 7,8 129.256 23.322 152.578 5,5Estado (total) 52.796,791 100 2.036.673 740.109 2.776.782 100FONTE: IBGE. Censo demográfico 2000, 2000, p. 269-271.
IBGE. Área territorial oficial. Resolução nº 5 de 10 de outubro de 2002. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias.
O Núcleo de Desertificação do Seridó ocupa 4.093,803 km² do território do Rio
Grande do Norte e abriga uma população de 152.578 habitantes. A população urbana
residente nas circunscrições do núcleo corresponde a 84,71% e a população rural a apenas
15,28%. Os sete municípios do Núcleo, hoje, apresentam como traço marcante o
desenvolvimento do setor terciário, com ênfase nos pequenos negócios urbanos e nos
segmentos dos serviços sociais, e das atividades mineiras, com realce para a cerâmica. O
município de maior expressão territorial e demográfica é Caicó.
A localização geográfica do Núcleo de Desertificação do Seridó corresponde ao centro
do Polígono das Secas. Sua fácies ecológica está representada pelo clima muito quente e
semi-árido, passível de estiagens prolongadas; estrutura geológica formada pelo embasamento
cristalino (gnaisses, micaxistos, granitos, etc.); predominância de solos dos tipos Bruno Não-
cálcico e Litólicos, que são rasos e pedregosos, apresentando baixa capacidade de retenção de
água e “como espelho do meio”, a vegetação de Caatinga, que em sua feição arbustiva é
baixa, muito aberta e entremeada de herbáceas; em sua formação lenhosa, onde há espécies
arbóreas, é marcada pelo nanismo.
O relevo regional apresenta uma topografia acidentada. As encostas mais acentuadas,
com sua baixa cobertura vegetal e solos rasos, têm apresentado intensos processos de erosão,
derivados principalmente da retirada da cobertura vegetal para lenha.
Apresentando características naturais que refletem uma certa vocação ecológica para a
desertificação, conforme expressão de Vasconcelos Sobrinho (1982 apud 2002, p. 69), o
Seridó, tem no processo de ocupação territorial, a face da intervenção humana acentuando a
predisposição ao processo.
50
O desenvolvimento da pecuária extensiva, da agricultura de subsistência nos aluviões
e do cultivo do algodão, inclusive nas encostas de serras, foram atividades que repercutiram
sobre o ambiente, a despeito dos benefícios sócio-econômicos que acarretaram. A efetiva
ocupação espacial e o crescimento demográfico ensejaram a formação de núcleos
populacionais – fazendas, vilas e cidades – passando a demandar o uso da lenha para fins
múltiplos, entre eles o uso doméstico, gerando um outro fator de pressão sobre a vegetação.
Com a derrocada do algodão foi minimizado o desgaste do solo pelas roças. No
entanto, a expansão das atividades ceramista e de panificação intensificou a extração de lenha
e a produção de carvão. Além do impacto sobre a vegetação, a cerâmica também afeta o solo,
tendo em vista que a argila é retirada dos baixios e “assim perde-se parte das áreas mais
nobres para agricultura, não só pela sua condição topográfica, de maior recepção de água, mas
por terem os solos mais profundos e de maior fertilidade” (SAMPAIO et. al., 2002, p. 120).
Com o declínio do binômio algodão-gado foi retomada a produção pecuária, com
incentivo governamental, determinando um processo de expansão que incidiu sobre o
território, entre outras formas, através da ampliação das áreas com plantio de capim. Além do
rebanho bovino, também cresceu significativamente o de caprinos e ovinos. A questão do
aumento dos rebanhos se torna problemática mediante a ocorrência de superpastoreio.
Pesquisa realizada por Sampaio et. al (2002, p. 121) aponta para uma contração na
área de lavoura permanente na Região do Seridó, após 1985, que se deve à redução da área
plantada com algodão arbóreo. No entanto, observando que, em 1995-1996, alguns
municípios como Carnaúba dos Dantas, Acari e Parelhas apresentaram reduções maiores que
a região, inferiu que “a desertificação parece, [...], ser elemento agravante da contração da
área cultivada com lavoura permanente no núcleo.” Além da contração na área cultivada,
também foi evidenciada queda na produtividade, destacando-se os municípios de Equador e
Parelhas.
Ressalta-se que dos sete municípios do Núcleo de Desertificação, cinco fazem parte do
Pólo Ceramista do Seridó (exceto Equador).
Desta forma, nos municípios que compõem o Núcleo, a prática da agricultura, da
pecuária e da mineração acompanharam o enredo da história regional, mas deixaram como
legado um horizonte turvo, embaçado pela avidez do machado para retirar a lenha e pela
fumaça que emana dos fornos das cerâmicas, onde a argila é transformada em telhas e tijolos,
e dos bacuraus ou trincheiras (fornos), onde a vegetação é queimada para produzir carvão.
Assim, impulsionada pelo desmatamento, queimadas e atividades econômicas desenvolvidas
de forma inadequada, as terras vão ficando despidas, expostas ora ao sol causticante, ora às
51
chuvas torrenciais; a erosão vai rasgando o solo, deixando à mostra suas entranhas, formando
crateras, gerando uma paisagem chocante que se torna ainda mais agressiva quando se
concebe que, embora havendo uma predisposição natural, sua conformação atual foi lapidada
pela ação humana.
Neste cenário, considerando a importância da gestão no âmbito da problemática
ambiental, buscou-se informações a respeito da estrutura institucional dos municípios
formadores do Núcleo de Desertificação, como forma de identificar o tratamento dispensado a
dimensão ambiental. De acordo com os dados fornecidos pelas prefeituras, os municípios de
Parelhas, Caicó, Currais Novos, Jardim do Seridó, Carnaúba dos Dantas e Acari apresentam
em sua estrutura administrativa uma Secretaria Municipal com atuação sobre o meio
ambiente, porém, não de forma específica. Geralmente esta secretaria abrange também a
agricultura, o abastecimento e/ou serviços urbanos. Em nível de aparato institucional do
Estado, registrou-se a presença da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural –
EMATER nos sete municípios. Em termos de atuação direta do Governo Federal, há um
escritório do DNOCS apenas em Caicó.
As informações obtidas sinalizam para um avanço na estrutura institucional em nível
de municípios. Todavia, é preciso atentar que a gestão ambiental não se faz apenas através da
criação de organismos, mas, principalmente, a partir de decisões e ações aglutinadoras de
divergentes interesses, pautando-se em uma construção social participativa e descentralizada,
em que o Estado e a sociedade compartilhem as responsabilidades sobre o uso e a
conservação/preservação dos recursos naturais.
3.2.2.2 Áreas Subúmidas Secas
Do universo de 159 municípios formadores das ASD do Rio Grande do Norte,
apenas 13 (8,2%) compõem as Áreas Subúmidas Secas. São municípios que, de modo geral,
localizam-se na faixa de transição entre o litoral e o sertão, resguardando em sua paisagem
traços de uma ou outra região geográfica, dependendo da sua localização.
A relação entre esta regionalização e a adotada pelo IBGE torna possível a
seguinte identificação: na Mesorregião Leste Potiguar estão Rio do Fogo e Maxaranguape
(Microrregião Litoral Nordeste); Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante e São José do
Mipibu (Microrregião Macaíba) e na Mesorregião Agreste Potiguar situam-se Pedro Velho,
52
Montanhas, Várzea, Judia, Espírito Santo, Passagem, Brejinho e Monte Alegre (Microrregião
Agreste Potiguar).
Sua abrangência territorial é de 2.396,834 km² correspondentes a 4,5% da área
total do Estado. A população residente soma 260.290 moradores, dos quais 40,22% residem
em ambientes urbanos, segundo o Censo 2000.
Nestas áreas há predominância de índices de pobreza e indigência, situando-se em
em uma escala de média a alta intensidade. O IDH-M é variável, sendo ressaltados os baixos
indicadores dos municípios do Litoral Nordeste.
Neste recorte a agricultura e a produção ceramista também são representativas.
Nos municípios litorâneos, a infra-estrutura turística se fortalece e irradia-se pelas áreas
adjacentes, dinamizando a economia.
3.2.2.3 Áreas do Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas
As Áreas do Entorno, conforme explicitado no PAN Brasil (2004, p. 19),
correspondem àqueles espaços “também passíveis de afetação por processos similares de
desertificação”, sendo a ocorrência de secas, nestes municípios, uma evidência da expansão
do fenômeno.
No Rio Grande do Norte, as Áreas do Entorno correspondem a 416,165 km² e
abrangem os municípios de Extremoz, Natal e Parnamirim, formadores da Microrregião Natal
(Mesorregião Leste Potiguar). Em termos espaciais, ocupa uma pequena fração de 0,8% do
território potiguar.
A exígüa participação na escala territorial contrasta com a relevante representação
populacional. Os três municípios possuem 856.579 habitantes ou 30,9% do contingente
demográfico estadual e apresentam uma taxa de urbanização correspondente a 97,46%.
Natal abriga 712.317 moradores, o que equivale a 83,1% dos habitantes das Áreas
de Entorno e 25,65% da população potiguar. Esta concentração populacional tem como
explicação o fato de ser Natal a capital e o principal centro econômico do Estado. Nas últimas
décadas seu intenso crescimento urbano esboçou um processo de conurbação que referendou
a criação da Região Metropolitana de Natal, em 10 de janeiro de 2002, sendo esta formada
por oito municípios, entre eles os três que formam as Áreas de Entorno.
O perfil ambiental deste recorte do território estadual difere daquele predominante
na imensidão sertaneja. É uma região litorânea que tem como características o clima
53
subúmido, os solos arenosos e uma cobertura vegetal variável - praias e dunas, manguezais e
floresta litorânea.
Os municípios das Áreas de Entorno estão entre os que apresentaram os melhores
indicadores sociais de pobreza, indigência e desenvolvimento humano em nível de Estado.
Nos últimos decênios, este recorte está sendo intensamente remodelado em decorrência da
expansão do turismo e da ampliação do setor terciário. Devido a sua dinâmica econômica,
esta região tornou-se um pólo de atração populacional, o que se confirma pelos dados
censitários reafirmadores da tendência à concentração demográfica.
54
4. CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO ÂMBITO DAS POLITÍCAS PÚBLICAS DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO.
CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO
ItemConvênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de
Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição Implementação Financiamento
1 Programa Água Doce
x MMA Financiamento
U$ 6.000.000,00 2004/2007 MMA / SRH
x SERHIDExecução e
operação
2Programa de Desenvolvimento
Solidário x SEAS
Financiamento e
Execução
R$ 16.665.256,71 2003 / 2004
BIRD
R$ 25.491.000,00 2005/2006
3 Programa Água de Beber x SERHID Execução R$ 3.000.000,00 Durante todo o
tempo de GovernoEstado do RN
4
Subprograma de
Desenvolvimento Sustentável de
Recursos Hídricos para o Semi-
árido Brasileiro – PROÁGUA /
Semi-árido
x ANA Financiamento
R$ 50.000.000,00 1998/2005 BIRD
x SERHID Execução
55
CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO
ItemConvênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de
Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementação Financiamento
5
Modelo de Gestão dos Serviços
de Saneamento na Área de
Atuação da Agência de
Desenvolvimento Sustentável do
Seridó - ADESE - RN
x ANA Financiamento
R$ 10.000.000,00 2003/2007PROÁGUA /
ANA x ADESE Execução
6
Plano de Monitoramento de
Qualidade das Águas das Bacias
do Seridó e do Potengi (PNMA-
II)
x MMA Financiamento
R$ 95.000,00 Durante todo o
tempo de GovernoMMA
x IDEMA Coordenação
7
Núcleo de Desenvolvimento
Sustentável - NUDES: Área
piloto do Seridó nas
comunidades rurais de
Cachoeira, Cobra e Juazeiro
x SERHID Execução R$ 152.167,96 Durante todo o
tempo de GovernoGoverno do RN
8Plano de Ação Estadual de
Combate à Desertificação
x MMA Financiamento
A ser orçado 2004/2005 MMA
x SERHID Execução
Item Convênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de
56
Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementação Financiamento
9Projeto Manejo Sustentável de
Uso Múltiplo no Seridó/RN
x MMA Financiamento
152.365,00 2005-2006 MMA/FNMA
x EMATER Execução
10
Projeto Recuperação da Área
Desertificada da Bacia do Rio
Cobra
x MMA Financiamento
300.000,00 2005-2006 MMA/FNMA
x SERHID Execução
11
Levantamento da situação dos
Perímetros Irrigados dos
Estados do Rio Grande do
Norte e Paraíba
x MI Financiamiento
10.774.000,00 2005 MI x SAPE Execução
x DIBA Execução
12 Plano Plurianual - 2004/2007 x SERHID Execução 534.443.000,00 2005/2007 Estado do RN
57
CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO
ItemConvênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de
Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementação Financiamento
13
Convênios Firmados pela
Secretaria de Estado do
Trabalho, da Habitação e da
Assistência Social -
SETHAS/RN
x SETHAS Financiamento 14.375.509,34 2004/2005 Governo do RN
14Recuperação de áreas
degradadas no vale do Açu.
x Financiamento
-
2005/2006 Governo do RN
x SEDEC Execução
15
Ordenamento da extração do
Quartzito localizado na Serra
do Poção, município de ouro
Branco/RN.
x
DNPN Financiamento
578.000,00 2004/2007Governo Federal e
estadual
x
SEDEC Execução
16
Programa de arranjo
produtivo - Estudo dos
pegmatitos envolve os
Estados do Rio Grande do
Norte e Paraíba
x
DNPN Financiamento
1.000.000,00 2004/2007Governo Federal e
Estado x
SEDEC Execução
17Projeto Gasoduto Açu/Seridó
- Orçado no ano de 2002
x
SEDEC Financiamento
86.636,671,99 2004/2007 Governo do RN
Execução
58
CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO
Item Convênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de
Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementação Financiamento
18 Programa de Desenvolvimento Sustentável de
Territórios Rurais
x MDA Financiamento
69.125,00 2005/2006 MDA
x ADESE Execução
19 Programa de Desenvolvimento Sustentável de
Territórios Rurais
MDA Financiamento
156.600,00 2005/2006
MDA/Prefeitura
Municipal de
São João do
Sabugi
x x
Pref. Muni de
São João do
Sabugi
Financiamento e
Execução
20 Programa de Desenvolvimento Sustentável de
Territórios Rurais
x MDA Financiamento
165.300,00 2005/2006
MDA/Prefeitura
Municipal de
Serra Negra do
Norte.x
Pref. Muni. De
Serra Negra
do Norte
Financiamento e
Execução
21 Programa de Formação e Mobilização Social
para a convivência com o Semi-Árido: Um
Milhão de Cisternas Rurais - P1MC
x
FEBRABAN Financiamiento
2.113.339,67 2003/2005 FEBRABAN/
MDSx MDS Financiamento
x SEAPAC Execução
Total dos Recursos762.167.335,67
FONTES: Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte - Janeiro de 2004 a Setembro de 2005.
RIO GRANDE DO NORTE. SEDEC, SERHID, SEAS, SAPE
SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente
59
CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO.
Programas Recursos
Programa Água Doce 6.000.000,00
Programa de Desenvolvimento Solidário - 2003/2004 16.665.256,71
Programa de Desenvolvimento Solidário - 2005/2006 25.491.000,00
Programa Água de Beber 3.000.000,00
Subprograma de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos para o Semi-Árido Brasileiro - PROÁGUA / Semi-árido 50.000.000,00
Modelo de Gestão dos Serviços de Saneamento na Área de Atuação da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó -
ADESE - RN 10.000.000,00
Plano de Monitoramento de Qualidade das Águas das Bacias do Seridó e do Potengi (PNMA-II) 95.000,00
Núcleo de Desenvolvimento Sustentável do Seridó - NUDES: Área piloto do Seridó nas comunidades rurais de Cachoeira, Cobra e
Juazeiro. 152.167,96
Plano de Ação Estadual de Combate à Desertificação. -
Projeto Manejo Sustentável de Uso Múltiplo no Seridó/RN 152.365,00
Projeto Recuperação da Área Desertificada da Bacia do Rio Cobra300.000,00
60
CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO.
Programa Recursos
Levantamento da situação dos Perímetros Irrigados dos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba 10.774.000,00
Plano Plurianual - 2004/2007 534.443.000,00
Convênios Firmados pela Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social - SETHAS/RN. 14.375.509,34
Recuperação de áreas degradadas no Vale do Açu. -
Ordenamento da extração do Quartzito localizado na Serra do Poção, município de ouro Branco/RN. 578.000,00
Programa de arranjo produtivo - Estudo dos pegmatitos envolve os Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba 1.000.000,00
Projeto Gasoduto Açu/Seridó - Orçado no ano de 2002 86.636.671,99
Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais nos municípios do Seridó 69.125,00
Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais no município de São João do Sabugi 156.600,00
Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais no município de Serra Negra do Norte. 165.300,00
Programa de Formação e Mobilização Social para a convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais -
P1MC 2.113.339,67
Total 762.167.335,67
FONTES: Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte - Janeiro de 2004 a Setembro de 2005.SERHID - Projetos e Programas articulados com o Programa Estadual de Desenvolvimento Sustentável e Convivência com o Semi-árido Potiguar.SEAS - Programa de Desenvolvimento Solidário.SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos ComunitáriosADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do SeridóSEDEC - Secretaria de Desenvolvimento EconômicoEMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão RuralIDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio AmbienteSAPE - Secretaria de Agricultura e Pesca
61
5. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL.
INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL
Instituições Programas Ações
MMA / SRH Programa Água Doce
Recuperação de 1.500 sistemas de dessalinização que não estão funcionando,
implantação de 500 novos sistemas de dessalinização, implantação de 22 unidades
demonstrativas de criação de peixe e cultivos de plantas halófitas utilizando água
do rejeito dos dessalinizadores e implantação de 300 unidades produtivas de
criação de peixe e cultivo de plantas halófitas utilizando água rejeito de
dessalinizadores.
SEAS Programa de Desenvolvimento
Solidário
Financiamento de subprojetos produtivos, agrícolas e não agrícolas, ligados à
produção e que possam contribuir para melhorar a renda e aumentar o número de
empregos, e subprojetos de infra-estrutura econômica e social que visam melhorar
as condições de vida da população.
SERHID Programa Água de Beber
Perfuração, instalação e recuperação de poços; instalação convencional, com
dessalinizadores acoplados ou associados a painéis de energia fotovoltaica.
ANA/ SERHIDSubprograma de Desenvolvimento
Sustentável de Recursos Hídricos
para o Semi-Árido Brasileiro –
PROÁGUA / Semi-árido
Gestão de recursos hídricos, obras prioritárias, elaboração de estudos e projetos,
gerenciamento, monitoria e avaliação, estruturação dos órgãos gestores
comunicação, educação e gestão participativa, e implantação do sistema de
outorga e cobrança pelo uso da água.
62
INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL
Instituições Programas Ações
ANA/ADESE
Modelo de Gestão dos Serviços de
Saneamento na Área de Atuação da
Agência de Desenvolvimento
Sustentável do Seridó - ADESE - RN
Diagnóstico, estudos de alternativas técnicas e projeto básico de abastecimento
de água; estudos e estimativas para o modelo de gestão dos serviços de
saneamento da zona rural do Seridó do RN.
MMA/IDEMA
Plano de Monitoramento de
Qualidade das Águas das Bacias do
Seridó e do Potengi (PNMA-II).
Elaboração do Plano Estadual de Monitoramento da Qualidade da Água de
Bacias Hidrográficas Prioritárias.
SERHID
Núcleo de Desenvolvimento
Sustentável do Seridó - NUDES:
Área piloto do Seridó nas
comunidades rurais de Cachoeira,
Cobra e Juazeiro.
Implementação de barragens assoreadoras; diagnóstico ambiental da área, estudo
de microbacia do Rio Cobra, reutilização de águas servidas; instalação de
dessalinizadores e reutilização dos rejeitos para criação de peixes e incentivo à
utilização de tecnologias voltadas às atividades econômicas que não contribuam
com a aceleração do processo de desertificação.
MMA/ SERHID Plano de Ação Estadual de Combate
à Desertificação
Implementação de ações de redução da pobreza e da desigualdade; ampliação
sustentável da capacidade produtiva; conservação, preservação e manejo
sustentável dos recursos naturais; e gestão democrática e fortalecimento
institucional.
63
INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL
Instituições Programas Ações
MMA/ SERHID Projeto Recuperação da Área
Desertificada da Bacia do Rio
Cobra
Estabelecer áreas de reserva legal em pequenas propriedades de posse familiar
nas comunidades rurais de Cobra, Juazeiro e Cachoeira, localizadas no município
de Parelhas; recuperação da mata ciliar do Rio Cobra numa extensão de 20,12 Km
e atividades direcionadas à educação ambiental.
MI/ SAPE
Levantamento da situação dos
Perímetros Irrigados dos Estados do
Rio Grande do Norte e Paraíba
Implementação de ações de administração, operação e manutenção; administração
e titulação fundiária; recuperação de estruturas elétricas, equipamentos de
irrigação; implantação de hidrômetros; implantação de drenagem parcelar;
implantação de sistema de automação com controle central; aquisição e instalação
de câmera fria.
SEDEC
-
Recuperação de áreas degradadas no Vale do Açu.
EMATER Projeto Agricultura Orgânica
O programa é realizado com as famílias da Comunidade Arapuá - Serra Negra do
Norte, onde há um incentivo a produção de legumes e hortaliças com técnicas
orgânicas e conta com a participação de alunos da rede pública na construção de
uma cerca viva em torno da área do projeto.
64
INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL
Instituições Programas Ações
SERHID Plano Plurianual - 2004/2007
Retificação e conservação de canais naturais;
Reuso de águas;
Implantação de projetos hidroagrícolas;
Pesquisa de recursos hídricos;
Gestão de recursos hídricos;
Reestruturação organizacional;
Combate à desertificação
Construção, ampliação e recuperação de adutoras e canais;
Construção, ampliação e recuperação de barragens e açudes;
Pequenos sistemas de abastecimento de água comunitários;
Construção, ampliação e recuperação de poços, dessalinizadores e cisternas;
Construção, ampliação e recuperação de poços, dessalinizadores e cisternas;
Operação e manutenção de infra-estrutura hídrica;
EMATER / SENAR e
SEBRAEProjeto Agrinho
Desenvolve atividades de educação ambiental em 21 municípios do Estado,
contando com a participação de crianças de 1ª a 4ª e 5ª a 8ª Serie das Escolas das
Comunidades Rurais dos municípios envolvidos.
65
INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL
Instituições Programas Ações
EMATER Circuito do meio ambiente na
Região do Seridó
Realização de 13 oficinas envolvendo 350 agricultores e familiares, com ênfase na
prática do uso sustentável dos recursos naturais através do manejo adequado das
atividades agrícola e pecuária e de extrativismo vegetal. O projeto, nesta primeira
etapa, se desenvolve em comunidades rurais dos municípios de Caicó, Jardim de
Piranhas e Jardim do Seridó. Após o treinamento os participantes passam a ser
agentes multiplicadores.
MDA/Prefeitura Municipal
de São João do Sabugi
Programa de Desenvolvimento
Sustentável de Territórios Rurais
Readequação industrial de queijeira comunitária e implantação de tratamento de
efluentes e resíduos sólidos.
MDA/Prefeitura de Serra
Negra do Norte
Programa de Desenvolvimento
Sustentável de Territórios Rurais
Readequação industrial de queijeira comunitária e implantação de tratamento de
efluentes e resíduos sólidos.
DNPM/SEDEC Programa de Aranjo Produtivo
Estudo dos peguimatitos envolvendo os Estudos do rio Grande do Norte e Paraíba.
DNPM/SEDEC- Ordenamento da extração do quartzito na Serra do Poção, município de ouro
branco/RN
SETHASConvênios com Associações
Comunitárias Redução da Pobreza Rural
FONTES: SERHID - Projetos e Programas Articulados com o Programa Estadual de Desenvolvimento Sustentável e Convivência com o Semi-árido Potiguar
ADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó
SEDEC - Secretaria de Desenvolvimento Econômico
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte
66
INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL
Instituições Programas Ações
ADESE/ASA Potiguar
Plano Nacional de Combate a
Desertificação
Articulação e mobilização das instituições estaduais e regionais do
Estado do Rio Grande do Norte para a realização das oficinas
Estaduais para construção do Plano de Ação Nacional de Combate à
Desertificação – PAN/LCD
Articulação para o lançamento do
PAN/Brasil
Visita da Ministra do Meio Ambiente Marina Silva Para o
Lançamento do PAN/Brasil no Estado do Rio Grande do Norte.
Formação do Comitê de Bacias do
Piranhas/Açu
Mobilização social de apoio ao Comitê da Bacia Piranhas-Açu
Evento em comemoração ao dia Mundial
da Água
Parceria junto a Pastoral da Criança, Sindicato dos Trabalhadores
Rurais da Região, SEBRAE local, Diocese de Caicó e Associações
Rurais, para as passeatas em comemoração ao dia mundial da água.
Constituição do NUDES Acompanhamento das reuniões de implantação do Núcleo de
Desenvolvimento Sustentável do Seridó denominado de NUDES.
67
INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL
Instituições Programas Ações
ADESE/ASA Potiguar Elaboração de Projetos
Construção da Carta de Acordo para o GEF/Caatinga/ADESE
Acompanhamento de projetos financiados pelo Desenvolvimento
Solidário
O Seridó no Combate à Desertificação ADESE/Petrobrás
Projeto IICA – Combate à Desertificação na Região do Seridó do Rio
Grande do Norte e do Seridó da Paraíba.
Projeto IICA/BID – Programa de Combate
a Desertificação
Formação de parcerias junto a Fundação Grupo Esquel Brasil,
Instituto Interamericano de Cooperação para a agricultura - IICA e a
Comissão Ecomônica Para o Desenvolvimento da América Latina e
Caribe - CEPAL/Nações Unidas, no que diz respeito ao levantamento
de indicadores de desertificação na Região do Seridó (agrícola,
agropecuário e socioeconômico).
ADESE/MDA
Programa de Desenvolvimento Sustentável
de Territórios Rurais
Cursos de Aperfeiçomaneto em operacionalização de GPS e Manejo
Anima e derivados do Leite
68
INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL
Instituições Programas Ações
SEAPACPrograma de Formação e Mobilização
Social para a convivência com o Semi-
Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais -
P1MC
* Mobilizar a sociedade civil para implementação do programa;
* Criar mecanismos que promovam a participação de todos os
atores envolvidos na gestão do projeto e no controle social;
* Propiciar o acesso descentralizado à água para consumo
humano a 1.000.000 de famílias - aproximadamente 5.000.000
de pessoas;
* Melhorar a qualidade de vida de 5.000.000 de pessoas da
região semi-árida, especialmente, crianças, mulheres e idosos;
* Fortalecer as organizações da sociedade civil envolvidas na execução do Programa, visando garantir as condições necessárias ao desenvolvimento eficaz e eficiente do P1MC;
* Implementar um processo de formação que considere a
educação para a convivência com o semi-árido e a participação
nas políticas públicas;
* Difundir no conjunto da sociedade brasileira uma correta
compreensão do semi-árido brasileiro.
FONTES: ADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó
SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários
69
REFERÊNCIAS
Agenda 21. Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Brasília: Senado Federal, 1997.
ARAÚJO et. al.. Desertificação e seca. Recife: Gráfica e Editora do Nordeste Ltda., 2002.
Bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte. Disponível em : <http:serhid.rn.gov.br> Acesso em 17 mai 2005.
BRASIL. Conselho Nacional da Reserva da Biosfera sa Caatinga. Cenários para o bioma caatinga. Recife: SECTMA, 2004.
BUARQUE, Sérgio C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de planejamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
CARVALHO, Adaílton Epaminondas de; GARIGLIO, Maria Auxiliadora; BARCELLOS, Newton Duque Estrada. Caracterização das áreas de ocorrência de desertificação no Rio Grande do Norte. Natal: [s.n.], 2000.
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ANEXOS
ANEXO 01- Abrangência das Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte – 1998
ANEXO 02 - Principais Classes de Solo do Rio Grande do Norte
ANEXO 03 - Recursos Minerais do Rio Grande do Norte por Municípios e Número de Empresas - 2002-2003
ANEXO 04 - Municípios Produtores de Recursos Minerais por Número de Empresas
ANEXO 05 - Convênios firmados entre a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social - SETHAS/RN e as Associações Comunitárias do Rio Grande do Norte, no período de 2004 a 2005, no âmbito das ações comprometidas com a redução da pobreza rural, o abastecimento d’água (poços, cisternas e açudes), a apicultura, o incentivo a hortas comunitárias, a eletrificação rural e a energia solar.
ANEXO 06 – Plano Plurianual do Estado do Rio Grande do Norte: Ações sócio-ambientais a serem desenvolvidas no período 2004 – 2007.
ANEXO 07 - Projetos desenvolvidos pelo Programa Desenvolvimento Solidário no Rio Grande do Norte através dos FUMACs - 2004 a 2005, no âmbito das ações de abastecimento d’água (Infra-estrutura, rede de distribuição, construção de cisternas, poços tubulares, adutoras com rede de distribuição, caixa d'água, recuperação e ampliação de açude, construção de barragens, construção de passagem molhada)
ANEXO 08 - Projetos desenvolvidos pelo Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários - SEAPAC no Rio Grande do Norte através do PAPP e do PCPR - 2004 a 2005, no âmbito das ações de geração de emprego e renda, implantação de hortaliças comunitárias, abastecimento d’água (Poço tubular, dessalinizador, cisternas de placas, barragens assoreadoras, reforma e ampliação de açudes, passagem molhada).
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