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SUMÁRIO 1 ANTECEDENTES............................................... 2 2 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DESERTIFICAÇÃO...........14 3 DESERTIFICAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE.....................18 3.1 Caracterização Geral do Território Norte-rio-grandense. 18 3.2 As Áreas Susceptíveis à Desertificação do Rio Grande do Norte......................................................32 3.2.1 Características....................................33 3.2.2 Áreas Susceptíveis à Desertificação................44 3.2.2.1 Áreas Semi-áridas................................46 3.2.2.1.1 Núcleo de Desertificação do Seridó.............48 3.2.2.2 Áreas Subúmidas Secas............................52 3.2.2.3 Áreas do Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas.................................................... 53 4. CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO ÂMBITO DAS POLITÍCAS PÚBLICAS DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO........................55 5. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL.....................................62 REFERÊNCIAS................................................. 70 ANEXOS...................................................... 73

3 desertificação no rio grande do norte

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SUMÁRIO

1 ANTECEDENTES..................................................................................................................22 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DESERTIFICAÇÃO................................143 DESERTIFICAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE........................................................18

3.1 Caracterização Geral do Território Norte-rio-grandense................................................183.2 As Áreas Susceptíveis à Desertificação do Rio Grande do Norte..................................32

3.2.1 Características..........................................................................................................333.2.2 Áreas Susceptíveis à Desertificação........................................................................443.2.2.1 Áreas Semi-áridas.................................................................................................463.2.2.1.1 Núcleo de Desertificação do Seridó...................................................................483.2.2.2 Áreas Subúmidas Secas........................................................................................523.2.2.3 Áreas do Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas..............................53

4. CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO ÂMBITO DAS POLITÍCAS PÚBLICAS DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO.............................................................555. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL...........................................................................................62REFERÊNCIAS........................................................................................................................70ANEXOS..................................................................................................................................73

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1 ANTECEDENTES

A segunda metade do século XX e o limiar do século XXI foram marcados por

um elevado estágio de desenvolvimento científico-tecnológico, ampliando-se os horizontes da

criação, inovação e reinvenção do saber-fazer humano. Nesta fase, também foram dilatados o

nível e a natureza das ações e intervenções humanas sobre o meio ambiente, de modo que a

exploração dos recursos naturais passou a registrar maior produção/produtividade, traduzindo-

se em maior pressão sobre os mesmos. Assim, a ampliação de possibilidades criadas pelo

meio técnico-científico-informacional é contemporânea à elevação da magnitude dos

problemas enfrentados pela humanidade.

Neste contexto, as relações entre os homens e entre estes e a natureza têm sido

presididas por uma racionalidade economicista, manifestando-se na exploração social (dos

homens entre si) e ambiental (homem x meio ambiente). Em conseqüência, expande-se a

degradação social, transformando pessoas em farrapos humanos, cuja existência se constitui

um grosseiro simulacro da vida. A espacialização deste processo assume a forma de

degradação ambiental, cuja feição mais intensa é a desertificação. Este fenômeno que se

revela no desgaste dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação, da biodiversidade, por

conseguinte, da própria qualidade de vida, manifesta-se sobretudo nas regiões áridas e semi-

áridas da Terra. Sobrepondo-se os indicadores sociais a estes recortes, constata-se que neles

há uma expressiva concentração de pobreza e miséria, cujas razões não se fundam em

fenômenos naturais, mas na trajetória histórica. “São mais de 1 bilhão de pessoas vivendo nas

terras secas e utilizando, em termos gerais, sistemas produtivos de baixo nível tecnológico e

totalmente descapitalizados” (PERNAMBUCO, 2001, p. 9), procurando sugar os escassos

recursos na luta para subsistir.

Nos últimos decênios, a expansão e os impactos da desertificação despertaram a

comunidade científica para a necessidade de se aprofundar os estudos sobre o tema e de

formular políticas que tenham como objetivo atuar sobre os agentes desencadeadores e/ou

minimizar seus efeitos.

As preocupações com a desertificação adquiriram proeminência, na década de

1930, em função da intensa degradação dos solos verificada no meio-oeste americano,

conhecida como “Dust Bowl”, que atingiu uma área de 380.000 km². A ocorrência deste

fenômeno motivou os cientistas a desenvolverem estudos e pesquisas neste campo e a

identificarem tal processo como sendo o da desertificação.

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Contudo, foi nos anos de 1970, quando o Sahel africano – região semi-árida

abaixo do deserto do Saara - vivenciou uma grande seca resultando, entre outras

conseqüências, na dizimação de mais de 500.000 pessoas de fome, que a problemática

repercutiu mundialmente (MMA, [199-], p. 2-3). As precárias e dramáticas situações de vida

da população africana, enredadas em secas, fome e guerras, já vinham chamando a atenção da

comunidade internacional desde a década de 1960. Intensos movimentos migratórios e uma

acentuada devastação ambiental pontilhavam o território africano, especialmente o Sahel, e

sinalizavam para a conformação de um quadro sócio-ambiental resultante da associação entre

pobreza, fome e destruição dos recursos naturais vitais como água, vegetação e solo. A leitura

deste processo conduziu à interpretação de que se tratava do fenômeno da desertificação, cuja

face ambiental manifestava-se pela destruição dos recursos naturais; a face econômica

revelava-se pela redução da produção e da produtividade agrícola e a face social mostrava-se

através do empobrecimento da população, expresso no aumento das epidemias e das taxas de

mortalidade infantil. Desta constatação inicial, a comunidade internacional construiu um outro

entendimento: o de que o fenômeno em pauta não se restringia à África, aparecendo nos

demais continentes, mais especificamente nas regiões sob climas áridos e semi-áridos -

sujeitos à seca. Neste sentido, a desertificação passou a ser considerada um problema de

escala global e, como tal, tornou-se um tema recorrente na agenda das organizações

internacionais.

Neste cenário, as Nações Unidas patrocinaram as iniciativas primeiras e de maior

envergadura. Sob seus auspícios, em 1972, na Suécia (Estocolmo), foi realizada a Conferência

Internacional sobre Meio Ambiente Humano, sendo abordada a catástrofe africana decorrente

da seca (1967-1970) e dos problemas de desertificação. As proporções que a problemática

assumiu foram fundamentais para que, nesta Conferência, fosse decidida a realização de um

outro evento específico para abordar a desertificação.

Este ocorreu em 1977, no Quênia (Nairóbi), sob o título de Conferência das

Nações Unidas sobre Desertificação, e resultou “na consolidação do tema a nível mundial”,

sendo incluídas no cenário das discussões as regiões áridas e semi-áridas da Terra e questões

pertinentes à relação entre pobreza e meio ambiente, além da decisão de se elaborar o Plano

de Ação Mundial contra a Desertificação (MMA, [199-], p. 14-15).

Na seqüência dos eventos internacionais com repercussões sobre desertificação,

sagrou-se a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

realizada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. A Rio 92 ou ECO 92, como ficou

conhecida, representou um marco nas discussões e ações sobre o tema, tendo em vista a

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consolidação e aprovação de cinco documentos relacionados ao ambiente1: Carta da Terra,

Convenção do Clima, Convenção da Biodiversidade, Declaração de Princípios sobre Florestas

e Agenda 21. Este último é considerado por muitos ambientalistas como o principal

documento assinado pelas autoridades mundiais nesse evento e conforme registra

textualmente “está voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo, ainda, de

preparar o mundo para os desafios do próximo século”.

Na Agenda 21, em seu Capítulo 12 (1997, p. 183), encontra-se sistematizada uma

definição para o termo desertificação, assim expressa: “a desertificação é a degradação do

solo em áreas áridas, semi-áridas e subúmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive

de variações climáticas e de atividades humanas”. A degradação da terra é entendida como

correspondente à degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e da

biodiversidade, significando, por fim, a redução da qualidade de vida das populações afetadas

(MMA, 2004, p. 4). Como resultado da implementação da Agenda 21, merece ser ressaltada a

sistematização e aprovação da “Convenção das Nações Unidas para o Combate à

Desertificação nos países que sofrem seca grave e/ou desertificação, particularmente na

África”- CCD, em vigor desde 26 de dezembro de 1996, que representa um progresso em

termos de enfrentamento do problema em níveis nacionais e internacionais.

Tecida no âmbito do entrelaçamento de fatores naturais e ações antrópicas, a

desertificação alastrou-se pelo mundo atingindo cerca de um sexto da população, 70% das

terras secas e um quarto da área do planeta (Agenda 21, 1997, p. 183). Considerando a

dimensão e a extensão deste fenômeno é possível admitir que a sociedade atual vive um

momento de extrema periculosidade, posto que o crescimento demográfico, embora

desacelerado, ainda é positivo e se traduz em maior pressão sobre os recursos naturais.

Embora se tenha conhecimento de que a apropriação das terras pelo homem é um

processo secular, é reconhecível que, na segunda metade do século XX, em decorrência de

uma série de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, a sociedade passou a intervir

com maior avidez sobre a natureza e a exigir vorazmente dos recursos naturais, em muitos

casos levando-os à ameaça de exaustão.

No Brasil, a trajetória da desertificação seguiu basicamente os (des)caminhos

trilhados pelo processo em nível mundial. As referências a uma preocupação com a destruição

das matas, remontam ao século XVIII, mais precisamente ao “ano de 1726, quando o governo

1 Sobre a essência do que estabelece cada documento consultar CORRÊA, Altir. Agenda 21: solo, áreas degradadas, desertificação. EMBRAPA, solos. Disponível em: http://www.cnps.embrapa.br/search/planets/coluna23.html. Acesso em: 26 set 2005.

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colonial criou o cargo de juiz conservador de matas”, com o objetivo de coibir as ações

indiscretas e desordenadas que assolavam as matas (VILLA, 2000, p. 65 apud MEDEIROS,

2004, p. 22). Fragmento textual extraído de um discurso proferido por José Bonifácio, na

Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império, em 1823, expressa o quão antigo é o

problema da degradação no Brasil: “[...] nossas preciosas matas vão desapparecendo, victimas

do fogo e do machado destruidor da ignorância e do egoísmo; nossos montes e encostas vão-

se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes, que

favoreção a vegetação, alimentam nossas fontes e rios, sem o que o nosso bello Brasil em

menos de dois séculos ficará reduzido aos paramos e desertos áridos da Lybia” (BRITO,

1987, p. 57 apud MEDEIROS, 2004, p. 23).

No decorrer do século XX, importantes contribuições foram dadas por estudiosos

como Phillip Luetzelburg, José Guimarães Duque, Thomas Pompeu de Souza Brasil, Thomas

Pompeu de Souza Brasil Filho, Thomas Pompeu Sobrinho, Carlos Bastos Tigre, Dárdano de

Andrade Lima e Lauro Xavier (MMA, 2004, p. 52). Além destes, há ainda estudos produzidos

por Aziz Ab’Saber, Edmon Nimer, Phillip M. Fearnside, Luciano José de Oliveira Acciolly,

Magda Adelaide Lombardo, Alexandre José Rego P. de Araújo, José Bueno Conti, Benedito

Vasconcelos Mendes, entre outros.

Dentre os estudiosos do tema desertificação, merece um realce especial a

produção de João de Vasconcelos Sobrinho, professor da Universidade Federal Rural de

Pernambuco. O referido professor, além de publicar uma significativa produção bibliográfica

nesta área, contemplando principalmente a Região Nordeste, também atuou na elaboração do

Relatório Brasileiro para a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação e foi membro

da delegação brasileira para a Conferência em Nairóbi. Entre suas proposições científicas

mais relevantes situa-se a teoria dos Núcleos de Desertificação e a metodologia para

identificação de processos de desertificação (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002).

Uma outra importante contribuição ao conhecimento das áreas susceptíveis à

desertificação do Brasil, correspondentes ao bioma Caatinga, foi produzida pelo Conselho

Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga. O Projeto “Cenários para o Bioma Caatinga”,

envolve a montagem de um banco de dados em ambiente SIG, com sistema interativo de

consulta, e a elaboração de cenários, a partir do diagnóstico e da identificação das

potencialidades regionais. A publicação dos resultados deste trabalho, sob o título “Cenários

para o Bioma Caatinga”, foi sistematizada em tópicos que tratam das bases para o

desenvolvimento sustentável do referido bioma, do cenário tendencial, do cenário desejável,

da agenda de desenvolvimento sustentável e do diagnóstico. Neste último, são analisados os

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aspectos do desenvolvimento regional, caracterizadas as dimensões econômicas, sociais,

culturais e ambientais do bioma caatinga e apresentados os impactos ambientais decorrentes

do uso dos recursos naturais e os impactos das políticas públicas sobre o desenvolvimento do

mencionado bioma (BRASIL, 2004). Este projeto se constitui o maior banco de dados sobre o

bioma Caatinga, sendo uma referência para os estudos que tratem de temas relativos a esta

fração do território brasileiro.

Considerando a definição de desertificação, anteriormente exposta, vislumbra-se

que uma significativa parcela do Brasil é passível à ocorrência do fenômeno, mais

especificamente, a região semi-árida nordestina. No Mapa de Ocorrência da Desertificação do

Brasil este recorte apresenta áreas com processos de degradação intensos, muito graves,

graves e moderados. As áreas de intensa degradação, ou seja, os Núcleos de Desertificação

situam-se em Gilbués/PI, Irauçuba/CE, Cabrobó/PE e na Região do Seridó/RN (MMA,

[199-], p. 10-11).

No âmbito dos compromissos firmados pelo governo brasileiro, ao ratificar a

Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, foi construído o Programa de

Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN Brasil

(MMA, 2004). Norteado pelo paradigma do desenvolvimento sustentável, conforme

explicitado na Agenda 21, este documento assume relevância “na medida em que faz

referência e busca criar condições de prosperidade para uma região com grandes déficits

sociais e produtivos, resultantes de uma história ambiental, social, econômica e política, que

configuram um quadro muitas vezes desolador de pobreza e miséria” (MMA, 2004, p. xxiii).

Em termos de território brasileiro, conforme as definições da Convenção, a região em foco

corresponde aos espaços semi-áridos e subúmidos secos do Nordeste e alguns trechos

igualmente afetados pelas secas nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Identificados

como Áreas Susceptíveis à Desertificação – ASD, estes espaços estão concentrados na Região

Nordeste, abrangem 1.338.076 km², equivalentes a 15,72% do território nacional, abrigam

mais de 31,6 milhões de habitantes (18,65% da população brasileira) e correspondem à

circunscrição da Caatinga, um bioma sui generis.

Tratando-se especificamente da problemática da desertificação no Rio Grande do

Norte, é possível evidenciar na bibliografia pertinente que frações do território estadual já

foram inseridas como representativas deste processo, desde os estudos de Vasconcelos

Sobrinho, sobre a ocorrência do fenômeno no Nordeste brasileiro. Ao desenvolver o conceito

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de Área Piloto2, o mencionado autor definiu que no Rio Grande do Norte esta seria

representada pela Região Fitogeográfica do Seridó, envolvendo os municípios de Currais

Novos, Acari, Parelhas, Equador, Carnaúba dos Dantas, Caicó, Jardim do Seridó e áreas de

municípios vizinhos (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002, p. 60).

Outros trabalhos contemplando o território potiguar sob a ótica da questão da

desertificação e/ou temas correlatos como a seca, a exploração de recursos naturais e o

desenvolvimento sustentável, foram desenvolvidos por vários estudiosos transformando-se

em um importante legado para as gerações atual e futura, dos quais destacamos:

BORGES, A. M. et, alii. Áreas vulneráveis à Desertificação do Rio Grande do Norte. Caderno Norte-riograndense de temas geográficos, Natal, , v. 4, 1979. BRASIL; MMA; SERHID. Projeto piloto de combate à desertificação na Região do Seridó, 2001 (partes A e B).COSTA, Thomaz Corrêa e Castro da. et. al. Mapeamento da fitomassa da caatinga do Seridó pelos índices de área de planta e vegetação normalizada. Sci. Agric. (Piracicaba, Braz. [on line]. out./dez.2002, v. 59, nº 4, p. 707-715. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&S0103-90162002000400014&ing=pt&nrm=iso. ISSN 0103-9016.EMPARN. Avaliação de práticas de revegetação em áreas degradadas pela atividade de cerâmica-RN. [S.l.: s.n., 19--].EMPARN. Introdução e seleção de espécies florestais para florestamento e reflorestamento no semi-árido potiguar. [S.l.: s.n., 19--];.FARIA, H. B. de. Identificação de núcleos de desertificação na região seridoense do Estado do Rio Grande do Norte. Seminário sobre desertificação no Nordeste. Recife: SUDENE, 1986.FREIRE, Adalberto Antônio Varela. A caatinga hiperxerófila Seridó: caracterização e estratégia para a sua conservação. Publi. ACIESP/U.S. FISH & WILDLIFE SERVICE, n. 11. São Paulo, 2002. IICA. Preservação e conservação e recuperação da cobertura vegetal nativa do município de Equador – RN, [S.l.: s.n., 19--].MEDEIROS, Getson Luís D. de. Mapeamento dos agentes de degradação ambiental do Seridó. In: Seminário Sociedade e Territórios no Semi-Árido Brasileiro: em busca da sustentabilidade. Campina Grande-PB, 2002.MEDEIROS, Getson Luís Dantas de. A desertificação do semi-árido nordestino: o caso da Região do Seridó norte-rio-grandense. 2004. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2004.MEDEIROS, Josemar Araújo de; MEDEIROS, Erivelto Elpídio de. Água: a questão hídrica no Seridó. Diário de Natal, Natal, 22 mar. 2003.

2 Vasconcelos Sobrinho, 2002, p. 59: Conceito de Área Piloto – “É evidente que há impossibilidade de um estudo abrangente de uma área por demais vasta como seja a de um Estado e muito menos a de todo o Polígono. Impões, pois, a escolha de áreas específicas bem representativas, capazes de serem estudadas como áreas-piloto.” Foram criadas seis áreas piloto, distribuídas pelos estados do Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte.

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MEUNIER, Isabelle Maria J.; CARVALHO, Adailton José Epaminondas de. Crescimento da caatinga submetida a diferentes tipos de cortes na Região do Seridó do Rio Grande do Norte. Boletim Técnico, nº 4, Natal: MMA, set. 2000.NÉRI, M. S. A. Processo de desertificação: o caso de São José do Seridó. Natal: UFRN, 1982.PNUD/FAO/BRA/87/007. Diagnóstico florestal do Rio Grande do Norte. [S.l.: s.n.], 1994. PNUD/FAO/BRA/93/033. Crescimento da caatinga submetida a diferentes tipos de cortes na Região do Seridó do RN. [S.l.: s.n.], 1999. PNUD/FAO/BRA/87/007. Incremento das matas nativas do Seridó do Rio Grande do Norte. [S.l.: s.n.], 1991; PNUD/FAO/BRA/87/007. Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do RN: v. I – Levantamentos básicos, v. II – Definição de estratégias, v. III Plano de manejo florestal. [S.l.: s.n.], 1992.QUEIROZ, Alvamar Costa. Desertificação: causas e conseqüências. In: Seminário sobre desertificação no Seridó – RN, 1997, Currais Novos/RN: 1997. p. 1-9. Texto xerog..RIO GRANDE DO NORTE; SEPLAN; IICA. Plano de desenvolvimento sustentável do Seridó: v. 1 - Diagnóstico; v. 2 – Estratégias, programas e projetos e sistema de gestão. Caicó, set. 2000.SILVA, Carlos Sérgio Gurgel da. Abordagens sobre o processo de desertificação nos municípios de Parelhas e Equador no Estado do Rio Grande do Norte: uma avaliação. 1999. Monografia (Bacharelado em Geografia) – UFRN, Natal, 1999.SZILAGYI, Gustavo. Abordagens sobre o processo de desertificação e uma revisão conceitual para o fenômeno investigado. Monografia (Bacharelado em Geografia) – UFRN, Natal, 2004.

No âmbito da produção norte-rio-grandense um estudo que se tornou referência

foi produzido por Carvalho; Gariglio; Barcellos (2000) sob o título “Caracterização das áreas

de ocorrência de desertificação no Rio Grande do Norte”. Este trabalho teve como aporte o

Plano Nacional de Combate à Desertificação – PNCD (1995), no qual o território potiguar foi

avaliado sob a ótica da ocorrência e da intensidade do processo de desertificação. As áreas

susceptíveis ao fenômeno foram classificadas segundo o Grau de Susceptibilidade, em áreas

com intensidade muito grave, grave e moderada (TAB. 01).

TABELA 01Ocorrência do Processo de Desertificação no Rio Grande do Norte

CLASSE DE ÁREA POPULAÇÃOINTENSIDADE Km² % Absoluta %

Muito Grave 12 965 24,3 289 767 11,0Grave 20 545 38,5 591 158 22,5

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Moderada 5 120 9,6 215 112 8,2Total Afetado no RN 38 630 72,5 1 096 037 41,7Estado 53 307 100,0 2 630 000 100,0

FONTE: PNCD, 1995 apud CARVALHO; GARIGLIO; BARCELLOS. Caracterização das áreas de ocorrência de desertificação no Rio Grande do Norte, 2000, p. 8.

As informações apresentadas3 permitem inferir que, possivelmente no início dos

anos de 1990, a desertificação já tinha afetado 72,5% do território potiguar, em níveis de

intensidade variados e sinalizavam para estatísticas preocupantes, principalmente em função

da representatividade que assumia as áreas com estágios de ocorrência classificados como

grave e muito grave. Um outro aspecto importante refere-se à abrangência populacional, visto

que nas áreas afetadas moravam 41,7% do contingente estadual, ressaltando-se que, na região

com nível de desertificação muito grave, residiam 11% dos potiguares.

A projeção dos dados da desertificação no espaço norte-rio-grandense revela o

mapa de ocorrência do fenômeno, explicitando a classe de intensidade, segundo as regiões

afetadas (MAPA 01).

MAPA 01 – Ocorrência de Desertificação no Rio Grande do Norte

3 Importante esclarecer alguns pontos. Este documento foi produzido quando ainda se considerava que o Rio Grande do Norte possuía aproximadamente 53.000 km² de extensão; há indicações no texto de que o PNCD foi datado de 1995, porém não esclarece o ano ao qual a tabela se refere, por isso, consideramos que possivelmente remeta ao início dos anos de 1990; os autores adotaram a mesma divisão que o PNCD apresentou, ou seja, a antiga divisão do Estado em microrregiões homogêneas.

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FONTE: CARVALHO; GARIGLIO; BARCELLOS. Caracterização das áreas de ocorrência de desertificação no Rio Grande do Norte, 2000, p. 9.

Conforme a representação cartográfica da desertificação no território potiguar, o

recorte de ocorrência muito grave correspondia à Microrregião Homogênea do Seridó (centro-

sul do Estado), inclusive sendo retratada a área de abrangência do Núcleo de Desertificação,

compreendido pelos municípios de Currais Novos, Acari, Cruzeta, Carnaúba dos Dantas,

Parelhas e Equador. Em 1989, com a vigência da nova divisão regional do Brasil, adotada

pelo IBGE, este espaço passou a configurar duas microrregiões geográficas: Seridó Oriental,

onde se situa o Núcleo de Desertificação, e Seridó Ocidental (vide MAPA 02).

O espaço onde a desertificação se manifestava de forma grave era constituído

pelas Microrregiões Salineira Norte-rio-grandense (litoral norte em sua porção centro-oeste),

Açu e Apodi (centro e oeste) e Serra Verde (centro-leste). Com a nova divisão regional, houve

um reordenamento que resultou nas seguintes microrregiões: Mossoró, Chapada do Apodi,

Médio Oeste e Vale do Açu, localizadas na porção centro-oeste, e Litoral Nordeste, Baixa

Verde e Angicos, situadas no centro-leste do Estado.

A circunscrição de ocorrência moderada restringia-se à Microrregião Homogênea

Serrana Norte-rio-grandense, cuja localização corresponde ao extremo sul-oeste do território

potiguar. Mediante a reorganização regional foi dividida em três microrregiões: Umarizal, Pau

dos Ferros e Serra de São Miguel.

A identificação dos estudos sobre a desertificação no Rio Grande do Norte denota

que a preocupação com o problema já se fazia presente nos últimos decênios do século XX,

sendo sintomático que, em 1997, tenha sido criado o Grupo de Estudos sobre Desertificação

no Seridó – GEDS. O referido grupo, que envolve diversas instituições, “foi fruto de um

processo de reflexão em torno das questões da seca, das alternativas de convivência com a

mesma e do combate direto aos processos desencadeadores da desertificação” e tem como

objetivo fomentar estudos e debates sobre o tema, articulando ações capazes de promover o

desenvolvimento sustentável no Seridó (IDEMA, 2004, p. 11).

Nesta mesma linha de ação, em 17 de junho de 2004, através de Termo de

Cooperação Técnica e Científica Nº 004/2004, instrumento que visa implantar estratégias para

combater e controlar o processo de desertificação no Estado, a partir da criação de áreas

pilotos e ações sincronizadas, foi criado o Núcleo de Desenvolvimento Sustentável da Região

do Seridó – NUDES. O referido Termo foi celebrado entre a Procuradoria Geral de Justiça do

Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, o Governo do Estado do Rio Grande

do Norte, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Escola Superior de Agricultura

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de Mossoró, o Departamento Nacional de Obras contra as Secas, o Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis e a Agência de Desenvolvimento do Seridó. Os

signatários do Termo se propõem a desenvolver ações conjuntas, de modo a integrar os

diversos recursos materiais e humanos existentes, bem como toda a experiência e

conhecimento adquiridos sobre o tema.

A criação do NUDES foi idealizada pelo Ministério Público, através do Centro

Operacional às Promotorias de Meio Ambiente (CAOPMA). Os trabalhos de elaboração do

plano foram deflagrados, no início de 2004, através de estudos de viabilidade sócio-

econômica e de impacto ambiental.

O arcabouço de ações desenvolvidas no âmbito do NUDES norteia-se por três

vertentes: educação ambiental, medidas jurídicas de proteção ao meio ambiente e introdução

de propostas econômicas alternativas, que conciliem a preservação ambiental e a geração de

renda (http://www.serhid.rn.gov.br). Nesta perspectiva, objetiva o desenvolvimento de ações

visando à redução dos problemas ambientais, sociais e econômicos numa área geográfica pré-

definida.

A área piloto escolhida para implantação deste núcleo, abrange uma extensão de

80 km², localiza-se no município de Parelhas, mais especificamente nas comunidades rurais

de Cachoeira, Juazeiro e Santo Antônio da Cobra, inseridas na bacia hidrográfica do Rio

Cobra. Conforme informações obtidas na SERHID, nas três comunidades residem 391

famílias, totalizando 1.567 habitantes, e existem nove cerâmicas, sendo uma comunitária, cuja

produção é de 28 milheiros de telha/dia.

As razões que levaram estas comunidades a serem escolhidas residem na

conjugação de alguns fatores, dos quais destacamos: o Município de Parelhas está entre

aqueles que o PAN Brasil relaciona como área piloto para investigação sobre desertificação

no Semi-árido brasileiro; constitui-se o principal produtor de cerâmica do Estado, usando a

argila como matéria-prima e a lenha como fonte de energia; há alguns anos, a problemática da

degradação ambiental local é alvo de discussões e reflexões entre as comunidades rurais e

organizações governamentais e não-governamentais, sendo notável a existência de uma

consciência dos danos e dos limites ambientais e de uma tendência ao associativismo.

No âmbito do NUDES, as principais ações foram desenvolvidas pelo IDEMA e

consistiu na avaliação e monitoramento da Sub-bacia Hidrográfica do Riacho Cobra e na

realização de um Curso de Capacitação em Educação Ambiental, que reuniu professores,

representantes das atividades produtivas locais, das organizações comunitárias e estudantes.

11

Page 12: 3 desertificação no rio grande do norte

A justificativa para que o Seridó seja o objeto de análise em expressiva parcela da

produção bibliográfica referente à desertificação no Rio Grande do Norte e tenha sido o lócus

da criação do GEDS e do NUDES, fundamenta-se no reconhecimento de que, em nível de

Estado, é a região mais afetada.

A percepção de que a desertificação está relacionada à ocorrência de secas e à

forma como o homem se relaciona com o meio, principalmente para fins de exploração

econômica é um forte indicativo de que, em espaços como o Rio Grande do Norte, torna-se

premente repensar as estratégias de produção e de sobrevivência da sociedade. No cenário de

reestruturação produtiva, delineado após a crise do algodão e da mineração (1970-1980), em

que emergiram novos segmentos produtivos remodeladores da geografia econômica do

território, a insurgência e/ou acentuação da degradação ambiental foi uma forte motivação

para se pensar estratégias que viabilizassem o desenvolvimento em bases sustentáveis.

Nesta perspectiva ressalta-se que, a partir de demandas da sociedade, o Governo

assumiu o compromisso de desenvolver uma política de planejamento regional norteada pelos

pressupostos da sustentabilidade.

Em função de suas particularidades sociais, econômicas, políticas e ambientais

coube ao Seridó a primazia de vivenciar este processo que culminou com a elaboração do

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó - PDSS. O panorama em que germinou a

idéia de sua formulação, entre 1999 e 2000, foi marcado pela acentuação de problemas, com

destaque para a escassez d’água. A sociedade, através de suas principais lideranças políticas,

empresariais, sindicais e religiosas recorreram aos representantes do Estado, em suas diversas

esferas, reivindicando soluções para os problemas existentes. Da associação de influências

provenientes de uma conjuntura externa, onde se discutia pobreza e ambiente como facetas de

um mesmo processo de degradação da vida humana e se colocava como paradigma alternativo

o desenvolvimento sustentável à atuação local de um pequeno coro de vozes que pregavam no

deserto, chegou-se a uma experiência pioneira e inovadora em termos de planejamento

estratégico participativo.

O PDSS foi elaborado com base em uma metodologia que envolveu a compilação

e análise de dados e documentos extraídos de diferentes fontes, inclusive teses e dissertações

que versam sobre a região; a consulta à sociedade, através de reuniões municipais e sub-

regionais, e a realização de entrevistas com personalidades e lideranças de diversos segmentos

da sociedade, conhecedoras da problemática regional. A coordenação dos trabalhos foi

desenvolvida por consultores do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura –

IICA.

12

Page 13: 3 desertificação no rio grande do norte

A adoção desta metodologia de planejamento objetivou possibilitar o

envolvimento da sociedade no processo de construção do seu plano de desenvolvimento.

Nesta perspectiva, foram convidados a participar das reuniões municipais, sub-regionais e

regionais os representantes das várias instituições e organizações públicas e privadas da

região que tiveram um importante papel na identificação dos problemas existentes, na

indicação das possíveis soluções, no desvendamento das potencialidades e na delineação dos

cenários desejados, conteúdos informativos que serviram de subsídios à formulação do plano.

Tendo como base a experiência de planejamento descentralizado e participativo e

a adoção dos princípios do desenvolvimento sustentável, cujas iniciativas devem ser

geradoras de uma maior eqüidade social, um elevado nível de conservação ambiental e uma

maior racionalidade/eficiência econômica, construiu-se um documento estruturado em dois

volumes. No primeiro, tem-se um diagnóstico do Seridó através da caracterização das

dimensões ambiental, tecnológica, econômica, sócio-cultural e política-institucional. Este

meticuloso documento, além de uma análise consistente sobre a região, ainda identifica suas

fragilidades e potencialidades. No segundo, são demonstrados estratégias, programas e

projetos por dimensão e o sistema de gestão do Plano, na perspectiva de apontar diretrizes que

permitam a solução dos problemas e/ou delineação dos cenários desejados pela sociedade.

Desta forma, o PDSS se propõe a ser um norteador das ações que conduzirão o processo de

desenvolvimento sustentável e, neste, a dimensão ambiental assume uma expressiva

relevância em função do nível de degradação regional que se situa entre muito grave e

intenso.

Dando prosseguimento à estratégia de planejamento participativo e

descentralizado e utilizando-se o mesmo arcabouço teórico-metodológico do PDSS, foram

elaborados o Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável do Agreste, Potengi e Trairi e o

Plano de Desenvolvimento Sustentável da Zona Homogênea do Litoral Norte. Em fase de

conclusão encontra-se o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região do Alto Oeste.

A adoção desta política de planejamento do desenvolvimento regional está em

sintonia com os novos postulados do desenvolvimento, por ter como referenciais os princípios

de uma nova racionalidade que não se norteia apenas pelos interesses econômicos. Ademais,

representa um avanço em termos de pensar o território estadual a partir de suas

especificidades regionais e uma significativa conquista da sociedade, que se torna co-

responsável pela elaboração, execução e gestão do seu plano de desenvolvimento.

Considerando que a sustentabilidade do desenvolvimento pressupõe a articulação

entre as dimensões econômica, política, sócio-cultural, científico-tecnológica e ambiental e

13

Page 14: 3 desertificação no rio grande do norte

que, no momento atual, a sociedade e o Governo deixam transparecer o desejo de apoiar os

planos já implementados, implantar os que estão em fase de construção e expandir o processo

para as regiões ainda não contempladas, é possível pensar que a problemática da

desertificação no Rio Grande do Norte tenderá a sofrer um refreamento. Esta possibilidade

não poderá ficar inscrita apenas no cenário desejado, mas deverá se cristalizar através

decisões e ações que fomentem o desenvolvimento de tecnologias e alternativas de

recuperação de áreas degradadas e de prevenção e convivência em áreas em processo de

desertificação, de modo que as populações afetadas conquistem o direito de viver de forma

digna nestes lugares, vivenciando a seca, condição que não se pode mudar, sob novas

perspectivas de vida derivadas do saber científico e de novas relações homem x meio.

2 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DESERTIFICAÇÃO

A CCD (MMA, [199-], p. 9) definiu que “por Desertificação entende-se a

degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e subúmidas secas, resultantes de vários

fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas.”

Nas áreas susceptíveis a este processo o clima prevalecente tem entre suas

características marcantes: a ausência, escassez e má distribuição das precipitações

pluviométricas, no tempo e no espaço, ou seja, a ocorrência da seca. A definição deste

fenômeno remete a uma ocorrência que se verifica “naturalmente quando a precipitação

registrada é significativamente inferior aos valores normais, provocando um sério

desequilíbrio hídrico que afeta negativamente os sistemas de produção dependentes dos

recursos da terra” (MMA, [199-], p. 9).

Neste sentido, seca e desertificação apresentam-se como fenômenos distintos, mas

estreitamente relacionados. Isto porque nas áreas marcadas pela semi-aridez registra-se um

desequilíbrio entre oferta e demanda de recursos naturais, levando-se em conta o atendimento

às necessidades básicas de seus habitantes (MMA, 2004, p. 3). Nos períodos de seca este

descompasso aumenta, visto que a pressão sobre os recursos naturais se amplia e a

intervenção do homem, em geral, se faz através do uso inadequado do solo, da água e da

vegetação. Assim, as variações climáticas e as atividades humanas se conjugam criando um

ambiente favorável à instalação do processo de desertificação, estabelecendo-se um círculo

vicioso de degradação, “onde a erosão causa a diminuição da capacidade de retenção de água

pelos solos, que leva à redução de biomassa, com menores aportes de matéria orgânica ao

14

Page 15: 3 desertificação no rio grande do norte

solo; este se torna cada vez menos capaz de reter água, a cobertura vegetal raleia e

empobrece, a radiação solar intensa desseca ainda mais o solo e a erosão se acelera,

promovendo a aridez.” No desenrolar deste processo a ação antrópica tem desempenhado

papel fundamental, “acelerando seu desenvolvimento e agravando as conseqüências através

de práticas inadequadas de uso dos recursos naturais” (ARAÚJO et. al., 2002, p. 11).

Aportando-se em Sampaio et. al (2003, p. 24) tem-se que, entre as principais

formas de utilização das terras e possíveis degradações, estão a retirada da vegetação e a

prática da agropecuária. Com relação à retirada da cobertura vegetal, os autores indicam cinco

razões principais para o seu procedimento: a substituição da cobertura vegetal por construções

ou sua retirada contínua para a manutenção de áreas descobertas; utilização do material do

solo ou subsolo; a destruição periódica por fogo; o uso da lenha e a substituição da cobertura

original por outra de melhor uso como pastagem.

No que diz respeito à substituição da cobertura vegetal, advogam que isto jamais

será enquadrado como fator da desertificação pelo benefício antrópico que traz e, no caso do

semi-árido, não tem impacto significativo. Porém, a leitura difere quando a justificativa é a

construção de reservatórios artificiais. Os de grande porte submergem extensas áreas de

cultivo e/ou cidades e deslocam populações e os de pequeno e médio portes, subtraem áreas

de cultivo nos terrenos mais baixos. Apesar disso, “a possibilidade de degradação deve ser

considerada, mas em geral, estas construções trazem mais benefício que prejuízo, o que é

esperado de ações planejadas e de custo alto” (SAMPAIO et. al., 2003, p. 25).

A retirada da vegetação para fins de exploração do material do solo ou subsolo,

típica da atividade mineira, implica na retirada de areia de construção dos aluviais de beira de

rio à remoção de camadas de terra para acesso a veios de minério. Nas áreas de minas são

comuns a formação de depósitos de resíduos, freqüentemente tóxicos, e a presença de

escavações, que parecem rasgar a terra deixando expostas suas entranhas. A retirada do solo

deixa um legado de terras imprestáveis para o uso agropecuário.

As queimadas, embora tendam a se reduzir, ainda são praticadas, levando à perda

de nutrientes do solo e, dependendo do período em que o solo ficar despido, pode provocar

erosão.

O corte da vegetação para lenha, a rigor, não poderia ser considerado como

destruição da vegetação, posto que, se área não for mexida, ocorre a recomposição. O

problema se instala quando não se concede à natureza este tempo para a recomposição e se

realiza a queimada, após o desmate, afetando as espécies vegetais e animais, o solo, enfim, a

biodiversidade do lugar.

15

Page 16: 3 desertificação no rio grande do norte

A substituição da cobertura original por outra com maior produção está ligada,

principalmente, à agropecuária e produz inquestionáveis benefícios, apesar de reduzir a

biodiversidade. Em Sampaio et. al. (2003, p. 27) encontra-se que “a substituição da vegetação

nativa por espécies cultivadas, por si só, dificilmente leva à degradação das terras. Para isto, a

agropecuária precisa ser praticada em condições que levem a outros processos de perda.”

No quesito sobre a agropecuária e a deterioração das propriedades do solo foram

identificados como principais fatores de degradação: a ausência de adubação, justificada pelo

risco de falha das colheitas por falta de chuvas; a perda por erosão, que tende a ser maior

mediante a retirada da cobertura vegetal e nas áreas de declive e o emprego de técnicas

incompatíveis de produção.

A projeção deste elenco de fatores da degradação das terras, a partir das formas de

uso do solo, sob o espaço nordestino revela a sua ocorrência, embora existam alguns cuja

interferência é mais aguda e cuja manifestação é intensificada nos períodos de seca. Um

exemplo é a utilização dos recursos de solo para o fabrico de telhas e tijolos no Seridó

potiguar, colocada como uma das principais razões da existência do Núcleo de Desertificação

na região (SAMPAIO et. al., 2003, p. 25).

A identificação das ASD brasileiras, foi estabelecida de acordo com a CCD, que

se baseia na definição de aridez formulada por Thornthwaite (1941). Conforme esta definição,

o grau de aridez de uma região depende da quantidade de água advinda da chuva e da perda

máxima potencial de água através da evapo-transpiração potencial. Em termos de Nordeste, a

classificação de susceptibilidade à desertificação, em função do Índice de Aridez, foi firmada

conforme exposto na TAB. 02.

TABELA 02Classificação de Susceptibilidade à Desertificação, em função do Índice de Aridez

ÍNDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE À DESERTIFICAÇÃO0,05 a 0,20 Muito Alta0,21 a 0,50 Alta0,51 a 0,65 Moderada

FONTE: MATALLO JR. Heitor. A desertificação no mundo e no Brasil. In.: SCHENKEL, Celso Salatino; MATALLO JR. Heitor. Desertificação, 1999, p. 11 apud MMA. Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, 2004, p. 33.

Os estudos realizados para fins de delimitação e caracterização das ASD do Brasil

conduziram à constatação de que, em linhas gerais, abrangem áreas correspondentes à

superfície do Bioma Caatinga. Típica do Nordeste Semi-árido, a vegetação de Caatinga

16

Page 17: 3 desertificação no rio grande do norte

caracteriza-se pelo fenômeno do xerofilismo. As plantas xerófilas são aquelas que resistem à

seca, desenvolvendo um sistema de elaboração e armazenamento de reservas hídricas para as

épocas de escassez, que compreende duas fases: “uma de intensa atividade vegetativa e outra

de dormência; na primeira, a folhagem das árvores e dos arbustos elabora, por meio da

clorofila, da luz solar, do ar e da umidade, as substâncias alimentícias, com os elementos

sugados pelas raízes e aqueles sintetizados nas folhas. Nos meses chuvosos, há uma

elaboração de seiva superior ao consumo e este excesso é depositado nos vasos do caule e nos

‘xilopódios’ das raízes [...]. Na estação seca [...], a maioria dos vegetais perde as folhas para

economizar água, paralisa a função clorofiliana e o panorama torna-se cinzento, com uma ou

outra planta verde, graças ao controle rígido da transpiração aquosa [...]” (DUQUE, 1964, p.

29). Segundo o referido autor (1964, p. 39), a Caatinga é um complexo vegetativo sui generis,

diferente das associações vegetais de outras partes semi-áridas do mundo; um laboratório

biológico de imenso valor que urge ser preservado.

Não obstante, é factível de reconhecimento que, assim como a cartografia do

Semi-árido se superpõe a do Bioma Caatinga, também o mapa da desertificação sobre estas se

delineia. Nesta circunscrição, a vegetação de Caatinga e o clima Semi-árido estão em estreita

correlação e fazem parte do enredo histórico da sociedade regional. São os rincões sertanejos,

onde vive o povo da seca, mas também de outras tantas características marcantes e

particulares, principalmente em termos culturais, que remetem às origens da nação brasileira.

De acordo com o PAN Brasil (2004, p. 188) a extensão das ASD nacionais

corresponde a 1.338.076,0 km² (15,72% do território nacional), abrangendo 11 estados

brasileiros. Segundo o Censo 2000, sua população é de 31.663.671 habitantes (18,65% da

população do país), dos quais 19.692.480 são moradores urbanos e 11.971.191 são residentes

rurais, perfazendo uma taxa de urbanização de 62,19%. A densidade demográfica é de 23,66

hab./km². Interessante registrar que, em 1956, Jean Dresch observou que as áreas semi-áridas

do Nordeste brasileiro estavam entre as mais povoadas do mundo, registro feito pelo geógrafo

Aziz Ab’ Saber, no Congresso Internacional de Geografia, realizado no Rio de Janeiro,

naquele mesmo ano (MMA, 2004, p. 8).

Os estados brasileiros afetados pela desertificação são: Maranhão, Piauí, Ceará,

Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do

Norte, objeto de análise deste estudo.

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Page 18: 3 desertificação no rio grande do norte

3 DESERTIFICAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE

3.1 Caracterização Geral do Território Norte-rio-grandense

O Rio Grande do Norte possui uma superfície de 52.796,791 km², ou seja, 0,62% do

território nacional4. Sua cartografia (MAPA 02), historicamente construída, atualmente

comporta 167 municípios e, de acordo com o Censo 2000 (IBGE, 2000, p. 269), sua

população somava 2.776.782 habitantes, correspondendo a 1,64% da população do Brasil. A

distribuição populacional pelo território estadual indicou que 2.036.673 habitantes residiam

em espaços urbanos e 740.109 eram moradores rurais. Embora apresente elevada taxa de

urbanização (73,35%), em seu tecido urbano predominam as pequenas cidades e ocorre uma

concentração demográfica na Região Metropolitana de Natal5, que abriga 1.097.273

habitantes, equivalentes a 39,52% da população potiguar.

MAPA 02 – Divisão Política e Regional do Rio Grande do Norte

FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar do Rio Grande do Norte, 1999.

4 IBGE. Resolução n. 5, de 10 de outubro de 2002. Área territorial oficial: Rio Grande do Norte – 52.796,791 km² e Brasil – 8.514.876,5995 FELIPE, José Lacerda Alves. Atlas Rio Grande do Norte: espaço geo-histórico e cultural, p. 31: A Região Metropolitana de Natal ou Grande Natal é formada pelos municípios de Natal, Extremoz, Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante, São José do Mipibu, Macaíba, Nísia Floresta e Parnamirim.

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Page 19: 3 desertificação no rio grande do norte

O quadro natural do Rio Grande do Norte, principalmente os seus aspectos

climáticos e sua cobertura vegetal, são reveladores de características típicas de espaços semi-

áridos. Sua trajetória histórica foi marcada por um processo de ocupação territorial, baseado

inicialmente na agricultura e na pecuária, e reorganizado através do desenvolvimento de

outras atividades como a produção de sal, a mineração, a extração da cera de carnaúba, entre

outros. Nos últimos decênios do século XX, principalmente em seu recorte semi-árido,

atingido pelas crises do algodão e da mineração, adquiriram realce outras economias,

destacando-se a produção ceramista que obteve significativo crescimento. O somatório destes

processos, acrescido da reestruturação sócio-espacial via concentração demográfica nas

cidades, repercutiu (e repercute) sobre os ecossistemas, especialmente o da caatinga, de modo

que “a vegetação primitiva foi praticamente aniquilada, passando a existir uma vegetação

secundária, apresentando um porte bastante inferior em relação ao passado” (FELIPE;

CARVALHO; ROCHA, 2004, p. 42).

A partir do exposto, constata-se que a histórica relação homem x meio,

estabelecida desde a colonização do território, com base na exploração e aproveitamento dos

recursos naturais, repercutiu sobre os seus ecossistemas. Nos dias atuais, a associação entre

aspectos naturais e ação antrópica evidenciam a ocorrência de diferentes níveis de degradação

ambiental.

No que se refere às condições climáticas, o Rio Grande do Norte caracteriza-se

por apresentar temperatura média anual em torno de 25,5º C, com máxima de 31,3º C e

mínima de 21,1° C, pluviometria bastante irregular (em termos de quantidade e período) e

umidade relativa do ar, com variação média anual de 59% a 76%. Em decorrência de sua

localização geográfica próxima ao Equador, predominam as elevadas temperaturas,

verificando-se entre 2.400 e 2.700 horas por ano de insolação6.

De maneira geral, os tipos de clima que ocorrem no Estado podem ser

classificados em Tropical Quente, Úmido e Subúmido, e Tropical Quente e Seco ou Semi-

árido (FELIPE; CARVALHO, 1999, p. 26) (MAPA 03).

MAPA 03 – Tipos Climáticos do Rio Grande do Norte

6 IDEMA. Perfil do Estado do Rio Grande do Norte. Disponível em: www.idema.rn.gov.br. Acesso em 04 abr 2005.

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FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 26.

O Clima Tropical Quente e Úmido ocorre em uma pequena faixa na porção sul do

Litoral Oriental, que compreende parte da Microrregião Geográfica Litoral Sul, onde se

registra uma pluviosidade média de 1.200 mm anuais. Já o tipo Tropical Subúmido, apresenta

uma pluviosidade média entre 800 e 1.200 mm anuais, e abrange basicamente a Mesorregião

Geográfica do Leste Potiguar7, exceto a porção úmida, e as áreas serranas do interior, onde a

morfologia do relevo, com suas expressivas altitudes, influencia as condições

microclimáticas, favorecendo à ocorrência de temperaturas amenas.

O Clima Tropical Quente e Seco ou Semi-Árido domina, de forma quase

contínua, todo o interior do território estadual, chegando inclusive a atingir o Litoral

Setentrional8. Este tipo climático caracteriza-se pelas altas temperaturas, escassez e

irregularidade das precipitações pluviométricas, configurando-se como período chuvoso os

meses de janeiro a abril. A média de precipitação de chuvas é variável, podendo situar-se

entre 400 e 600 mm, em algumas áreas centrais do Estado, ou atingir índices um pouco mais

elevados. As regiões submetidas a este clima são ciclicamente atingidas pelo fenômeno da

7 Esta Mesorregião Geográfica é formada pelas Microrregiões Geográficas Litoral Nordeste, Macaíba, Natal e Litoral Sul.8 IDEMA. Perfil do Estado do Rio Grande do Norte. Disponível em: www.idema.rn.gov.br. Acesso em 04 abr 2005.

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Page 21: 3 desertificação no rio grande do norte

seca, quando as precipitações são acentuadamente reduzidas, situação que pode se estender

por alguns meses ou prolongar-se por anos consecutivos.

A análise dos dados demonstra que as áreas sob o domínio do clima Semi-árido,

onde impera a Caatinga hiperxerófila, correspondem basicamente à cartografia das ASD do

Rio Grande do Norte. De acordo com Sant’Ana (2003), a seca “não é ‘causa’ de

desertificação, mas pode atuar como um acelerador dos processos”.

Um outro aspecto interessante a ser ressaltado neste estudo sobre a desertificação,

constituindo-se um quesito diretamente relacionado ao clima, diz respeito aos recursos

hídricos superficiais. Estes são representados, principalmente, pelas bacias hidrográficas

constituídas, em sua maioria, por rios que têm um caráter intermitente e passam boa parte do

ano com o leito seco, por vezes mostrando-se caudalosos nos períodos chuvosos. No Estado, a

importância dos rios é evidenciada historicamente a partir dos registros da ocupação espacial,

do papel que desempenharam no processo de interiorização e na estruturação sócio-

econômica do território.

Uma outra referência de águas superficiais são os açudes que, em alguns casos, ao

barrarem os cursos dos rios, permitem a perenização total ou parcial, repercutindo

favoravelmente em termos sociais e econômicos, em nível local/regional. Os açudes também

resguardam sua relevância histórica, inclusive como elemento impulsionador da formação de

aglomerados humanos que se transformaram em cidades.

A malha hidrográfica do Rio Grande do Norte é constituída por 16 bacias com

extensões e níveis de importância sócio-econômica variáveis (ANEXO 01). No quadro geral,

as bacias hidrográficas Piranhas-Açu e Apodi-Mossoró se destacam pela sua extensão,

abarcando 60,1 % do território estadual, e pela importância econômica através do

desenvolvimento de atividades agrícolas e pecuárias. Apesar das demais bacias apresentarem

circunscrições mais reduzidas, estas também são relevantes para o abastecimento humano, as

práticas agrícolas, a dessedentação animal e as atividades industriais (MAPA 04)

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Page 22: 3 desertificação no rio grande do norte

MAPA 04 – Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte

FONTE: Bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte. Disponível em : <http:serhid.rn.gov.br> Acesso em 17 mai 2005.

As principais bacias do Estado, a do Piranhas-Açu e a do Apodi-Mossoró,

atravessam o recorte semi-árido e devido à escassez e irregularidade das chuvas associada à

alta evaporação, que, provoca a perda de grande parte da água acumulada, apresentam rios

intermitentes. O registro de rios perenes verifica-se apenas na faixa sedimentar costeira do

litoral norte, que em função da existência de fontes, apresenta filetes d’água nos baixos cursos

dos rios, e na faixa do litoral leste, onde a influência do clima úmido, responde pela

perenização dos baixos cursos dos rios (IDEMA, 2004, p. 15).

Na Bacia Piranhas-Açu foram cadastrados 1.112 açudes, ou seja, 49,3% dos

reservatórios existentes no Rio Grande do Norte. O volume de acumulação destes açudes

corresponde a 3.503.853.300 m³ o que torna esta bacia responsável por 79,6% do volume

acumulado no Estado (RIO GRANDE DO NORTE, [199-], p.21). Ocupa o 1º lugar em

número de açudes e em volume acumulado. Somente a Barragem Engenheiro Armando

Ribeiro Gonçalves apresenta uma capacidade de acumulação de 2.400.000.000 m³ de água,

constituindo-se o maior reservatório norte-rio-grandense, tendo sido fator primordial à

expansão da fruticultura irrigada no Vale do Açu.

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Page 23: 3 desertificação no rio grande do norte

A Bacia Hidrográfica Apodi-Mossoró coloca-se na 2ª posição em extensão no

Estado (14.276 km²) e ocupa o 1º lugar quanto ao número de municípios que abrange (52).

Em termos de açudagem, o Inventário do Espelho D’água Superficial do Estado do Rio

Grande do Norte (IDEC, 1993, p. 24-68), registrando dados relativos aos reservatórios acima

de 100.000 m³ em 1992, contabilizou 615 reservatórios que correspondiam a 27,4% dos

açudes potiguares e totalizavam um volume de acumulação de 443.727.000 m³ de água, ou

seja, 11,13% do volume acumulado no Estado. Dados da SERHID9 sobre açudes com

capacidade superior a 5.000.000 m³ informam que mais 04 reservatórios foram construídos -

Passagem (Rodolfo Fernandes), Rodeador (Umarizal), Santa Cruz do Apodi (Apodi) e Umari

(Upanema). No conjunto, estes novos reservatórios apresentam uma capacidade de

acumulação de 921.155.650 m³ de água. Desta forma, é possível considerar que o volume de

acumulação no recorte da bacia foi ampliado, passando para 1.364.882.650 m³ de água, sendo

a Barragem de Santa Cruz do Apodi, com seus 599.712.000 m³, responsável por 43,93%

desse total, e a de Umari, com 292.813.650 m³, por 21,45%.

A geologia do Rio Grande do Norte é basicamente formada pelo embasamento

cristalino e estruturas sedimentares. O embasamento cristalino corresponde a formações

geológicas que datam da Era Pré-Cambriana; conformam terrenos antigos, formados por

rochas resistentes como granitos, quartzitos, gnaisses e micaxistos, onde estão presentes

minerais como scheelita, berilo, cassiterita, tantalita, ferro, micas, ouro, águas marinhas

(turmalina), entre outros. Ocupa grande parte do sul e o centro-oeste do Estado, representando

a sua formação geológica dominante. Caracteriza-se por apresentar baixa capacidade de

infiltração/retenção de água que aliada à elevada evapotranspiração potencial e aos períodos

de estiagem, são responsáveis pela intermitência dos cursos d’água. Os solos derivados dessas

rochas são predominantemente rasos, com baixa capacidade de infiltração, alto escoamento

superficial e baixa drenagem natural.

A estrutura geológica sedimentar data da Era Terciária, portanto, corresponde a

uma formação mais recente. No Rio Grande do Norte está representada por formações

identificadas como Calcário Jandaíra, Arenito Açu, Grupo Barreiras e Dunas. Nesta

circunscrição geológica situam-se recursos minerais de expressivo valor econômico, como

petróleo e gás natural, além de águas subterrâneas, calcário e argila.

Em relação aos solos do Rio Grande do Norte observa-se a ocorrência de certa

diversidade, sendo as principais classes assim identificadas: Bruno Não Cálcico, Litólico 9 Bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte. Disponível em : <http:serhid.rn.gov.br> Acesso em 30 mar 2005.

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Page 24: 3 desertificação no rio grande do norte

Eutrófico, Areia Quartzosa, Latossolo Vermelho Amarelo, Regossolo, Podzólico Vermelho-

Amarelo, Vertissolo, Solonchaks-Solonétzico, Solonetz-Solodizado, Planossolo Solódico,

Aluvial, Cambissolo Eutrófico, Solos Gley, Rendizina e Solos de Mangue (MAPA 05).

MAPA 05 – Solos do Rio Grande do Norte

FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 24.

Apesar da diversidade de classes de solos, em que alguns redutos são

considerados férteis e com bom potencial agrícola, em decorrência das características

ambientais do território, prevalecem no Estado os solos rasos, erodidos e de fertilidade

mediana. As características gerais dos principais tipos de solo e suas respectivas áreas de

ocorrência constam no ANEXO 02.

A distribuição espacial dos solos demonstra uma variável formação mesmo no

domínio da Caatinga, onde prevalece o clima Semi-árido. Em função da abrangência espacial,

destacam-se os solos Litólicos Eutróficos e os Bruno Não Cálcicos, que apresentam certas

restrições ao uso agrícola, por serem pedregosos, de pequena profundidade e muito

susceptíveis à erosão.

Os tipos climáticos associados às formas de relevo e aos diferentes solos,

permitem reconhecer no Estado a existência de sete ecossistemas: Caatinga, Mata Atlântica,

24

Page 25: 3 desertificação no rio grande do norte

Cerrado, Floresta das Serras, Floresta Ciliar de Carnaúba, Vegetação das Praias e Dunas e

Manguezal (MAPA 06).

MAPA 06 – Vegetação do Rio Grande do Norte

FONTE: FELIPE, José Lacerda Alves; CARVALHO, Edílson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 26.

Em termos de Rio Grande do Norte, devido a extensão que ocupa (cerca de 80%

do território), destaca-se o ecossistema da Caatinga, em especial a sua formação florestal

hiperxerófila que recobre aproximadamente 60% do Estado (SEPLAN; IDEC, 1997, p. 23.

Além disso, neste trabalho, em função da relação existente entre o ambiente ecológico da

Caatinga e as ASD, optou-se por delimitar a análise as características do ecossistema

mencionado.

O ecossistema da Caatinga é típico do Nordeste Semi-árido, caracterizando-se

pelo fenômeno do xerofilismo, que se refere à capacidade de armazenar água para sobreviver

nos períodos de seca. Devido a este dispositivo natural, a Caatinga muda seu perfil de acordo

com a sazonalidade, exibindo duas paisagens bem diferenciadas. No período chuvoso, suas

plantas recobrem-se de folhagens e se mostram exuberantes o suficiente para, em um

verdadeiro emaranhado, produzirem um cenário em que a tonalidade do verde assume

diversas gradações. No período de seca, as plantas perdem as folhas deixando à mostra seus

25

Page 26: 3 desertificação no rio grande do norte

galhos retorcidos. O tapete verde cede lugar a uma paisagem branca-acizentada assumindo um

certo ar de agressividade, expresso através de plantas aparentemente mortas com salientes

espinhos a desafiar o tempo e o espaço adverso. O significado da palavra caatinga – mato

branco, de origem indígena, remete à aparência que a vegetação assume no período de seca.

A despeito de apresentar uma certa uniformização no que diz respeito às diversas

formas de resistência à carência d’água, a Caatinga potiguar apresenta fitofisionomias

diferenciadas, decorrentes do seu porte. A Caatinga hipoxerófila é formada

predominantemente por árvores e arbustos; sua ocorrência é verificada no Agreste e em áreas

de clima Subúmido seco e de transição para o Semi-árido. A Caatinga hiperxerófila

caracteriza-se por apresentar uma vegetação de pequeno porte, seca, rala e resistente a grandes

períodos de estiagem, sendo típica de solos pedregosos, rasos e de pouca fertilidade; é típica

das áreas quentes e secas que conformam o semi-árido norte-rio-grandense. A composição

florística desse ecossistema é representada pelas bromeliáceas (caroá, macambira), cactáceas

(xique-xique, facheiro, mandacaru, coroa-de-frade), leguminosas (jurema, sabiá, angico,

catingueira, jucá), euforbiáceas (pinhão bravo, faveleiro, marmeleiro), entre outros. A fauna

também é rica em espécies bem adaptadas às condições locais, destacando-se animais de

pequeno porte como o tatu-verdadeiro, o peba, o preá e o mocó.

Considerando a inter-relação entre clima, solo e vegetação e o fato de que a

cobertura vegetal é a expressão que marca visualmente a paisagem, tem-se que as ASD estão,

sobremaneira, circunscritas ao ecossistema da Caatinga. Segundo Vasconcelos Sobrinho

(2002, p. 64), no semi-árido nordestino, é possível detectar a existência de áreas em

desertificação ao se sobrevoar em vôo baixo de 50m a 150m sobre o solo e, em seguida,

realizar investigação in loco, posto que elas “apresentam uma fisionomia denunciadora”:

porte reduzido, espécies com sintomatologia de nanismo e concentração diluída, ou seja, com

maior permeabilidade do que nas demais áreas. O registro deste perfil geralmente coincide

com a presença da Caatinga hiperxerófila, cuja área de ocorrência é “presumivelmente

comprometida com o processo de desertificação, o qual se acentua a cada estio anual e

principalmente após cada seca. Quando o período chuvoso volta, verifica-se um esforço de

recuperação que nem sempre é recompensado integralmente. E assim, nesse balanço incerto

entre recuperação e degradação, é difícil descobrir qual a condição que prevalecerá. Mas se o

homem interfere negativamente, então é certo que a desertificação prevalece.”

A equação entre ação humana, degradação e recuperação ambiental tem se

mostrado um dos mais urgentes e imprescindíveis desafios a serem enfrentados pelas

populações que vivem nas regiões susceptíveis à desertificação no planeta. Neste contexto,

26

Page 27: 3 desertificação no rio grande do norte

inclui-se a sociedade nordestina, cujo território representa as circunscrições das ASD

brasileiras, e, nesta delimitação, insere-se o Rio Grande do Norte.

Decerto a acentuação do quadro de degradação ambiental no Estado está

relacionada à dinâmica sócio-econômico empreendida nos últimos 35 anos. A literatura

pertinente aponta que o Rio Grande do Norte obteve um excelente desempenho econômico,

entre 1970-2000, despontando como o Estado que mais cresceu, a partir de 1970, na Região

Nordeste. “Este ‘pequeno notável’ teve a façanha de conseguir a maior taxa de crescimento do

PIB do país na ‘década perdida’ e, como tem, historicamente, uma base econômica pequena,

os efeitos dos investimentos tiveram uma capacidade de dinamismo muito forte.”

(CLEMENTINO, 2003, p. 387). A correlação entre a taxa média anual de crescimento do PIB

do país, da região e do estado evidencia a situação anteriormente descrita (TAB. 03).

TABELA 03Taxa Média Anual de Crescimento do PIB Real do Brasil, Região Nordeste e

Rio Grande do Norte – 1970-1999

PERÍODOTAXA (%)

Brasil Nordeste Rio Grande do Norte1970-1980 8,60 8,70 10,301980-1990 1,60 3,30 7,41990-1999 2,5 3,0 4,1

FONTE: FGV; IBGE.; SUDENE/DPO/EPR/Contas Regionais – Nordeste apud CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. Rio Grande do Norte: novas dinâmicas mesmas cidades, 2003, p. 389.

Conforme atestam os números, o desempenho econômico do Rio Grande do

Norte foi expressivo, apesar das fases de crises nacional, motivadas pelo déficit público e

hiperinflação, e internacional, decorrentes de problemas no México, na Rússia e na Ásia. A

justificativa para essa situação encontra-se fundamentada no dinamismo recente, alavancado

por novas economias e pela reestruturação de alguns antigos segmentos. No interstício 1970-

1999 a participação do Estado no PIB do Brasil passou de 0,46% para 1,1% e no PIB do

Nordeste oscilou de 4,70 para 6,40. Dentre as atividades responsáveis por este quadro estão o

turismo, o petróleo, a fruticultura e o crescimento dos setores industriais e de serviços,

principalmente, na Região Metropolitana de Natal.

Não obstante, é preciso reconhecer que, embora o desempenho da economia

potiguar tenha atingido índices crescentes, entre 1970 e 2000, perdura no tecido social um

estado de pobreza que se reflete nas precárias condições de vida de parte considerável de sua

população, traduzindo-se em um retrato da própria realidade brasileira.

27

Page 28: 3 desertificação no rio grande do norte

A falta de alimentação, de trabalho, de moradia são algumas das facetas do

universo de privações que assola milhares de famílias que vivem na pobreza. Esta perversa

vivência da escassez, já não permite mais o discernimento dos problemas, a partir da relação

entre causa e conseqüência. Seria a desocupação ou o desemprego responsáveis pela fome e

pela falta de moradia? Mas, como se inserir no mercado de trabalho, sem ter acesso à

educação, saúde e, até mesmo à alimentação? Como suprir as necessidades básicas sem

trabalho e renda? Este contexto de múltiplas privações e situações-problemas, estreitamente

articuladas, parece embaçar o cotidiano das pessoas pobres, turvando seus sonhos e desejos,

estabelecendo cercas sociais que delimitam seus espaços de sociabilidade e vivências.

No âmbito deste diagnóstico, tratar da pobreza se faz pertinente como forma de

trazer à tona uma realidade que tem se mostrado, em alguns lugares, articulada à degradação

ambiental. Embora a pobreza esteja disseminada pelo mundo, sua configuração nas regiões

áridas e semi-áridas do planeta evidencia uma cristalina nitidez. Nestas áreas, que enfrentam

longos e cíclicos períodos de seca, há redução da produtividade agrícola interferindo na

produção de gêneros alimentícios o que se traduz em fome, onde já se vive a ameaça de sede.

Assim, as nuances da pobreza, que não é causada pelos fenômenos naturais, são aguçadas e o

suprimento das necessidades humanas aumenta a pressão sobre os recursos naturais,

produzindo o seu constante e progressivo desgaste. Desta conjugação entre degradação social

e degradação ambiental têm-se como resposta a manifestação do processo de desertificação.

O Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil10 apresenta dados relativos à

indigência e à pobreza. De acordo com o referido Atlas, vivenciavam a condição de

indigência a parcela da população cuja renda domiciliar per capita era equivalente a ¼ do

salário mínimo vigente em agosto de 200011. A pobreza envolvia a fração populacional que

tinha uma renda domiciliar per capita correspondente a ½ do salário mínimo vigorante em

agosto de 200012. Infere-se, portanto, que a indigência remete-se a uma classe que vive a

pobreza extrema ou miserabilidade.

As referências a estes índices, em termos de Brasil, denotam uma redução na

proporção de pessoas afetadas por estas situações, visto que, a proporção de indigentes passou

de 20,24%, em 1991, para 16,32%, em 2000, e a participação da população em estado de

10 PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas. 11 PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas: Equivalia a proporção de indivíduos com renda domiciliar per capita inferior a R$ 37,75 (linha de indigência) equivalente a ¼ do salário mínimo em agosto de 2000.12 PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas: Correspondia a proporção de indivíduos com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50 (linha de pobreza) equivalente a ½ do salário mínimo em agosto de 2000.

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Page 29: 3 desertificação no rio grande do norte

pobreza decaiu de 40,08% para 32,75%, nos anos focalizados. Apesar disso, é preciso atentar

que os indicadores ainda permanecem elevados.

A tendência a declínio também se verificou no Rio Grande do Norte. Em 1991, a

população indigente do Estado equivalia a 34,56% decaindo para 26,89%, no ano 2000. Com

relação à representatividade de pobres no universo populacional, registrou-se um declínio de

61,71% para 50,63%. Entretanto, a soma dos indicadores demonstra que 77,52% dos

potiguares, em 2000, viviam com uma renda domiciliar per capita correspondente a ½ do

salário mínimo ou em extrema miséria, constituindo-se um dado preocupante. A cartografia

da pobreza e da indigência dos norte-rio-grandenses pode ser avaliada nas representações a

seguir (MAPA 07 e MAPA 08)

MAPA 07 – Intensidade da Pobreza segundo os Municípios do Rio Grande do Norte - 2000

FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas

MAPA 08 – Intensidade da Indigência segundo os Municípios do Rio Grande do Norte - 2000

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Page 30: 3 desertificação no rio grande do norte

FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas

O mapa da pobreza norte-rio-grandense demonstra a difusão territorial que esta

assume, sendo importante apreender a sua espacialização regional. A despeito da elevada

representatividade que possui na sociedade potiguar, entre os recortes onde a intensidade da

pobreza mostra-se menor (38,34 a 48,36) destacam-se o entorno de Natal, alguns municípios

próximos à Mossoró e à Região do Seridó. No outro extremo, onde a intensidade do problema

evidencia-se mais fortemente (61,51 a 72,63), notifica-se a concentração entre os municípios

do Alto Oeste e do Agreste Potiguar. A espacialização da intensidade da indigência, de forma

geral, é correspondente ao mapa da pobreza.

Na perspectiva de não restringir a análise apenas a indicadores econômicos,

buscou-se aporte no Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que procura retratar além da

renda, duas outras características esperadas do desenvolvimento humano: a longevidade de

uma população (expressa pela esperança de vida ao nascer) e o grau de maturidade

educacional (avaliado pela taxa de alfabetização de adultos e pela taxa combinada de

matrícula nos três níveis de ensino). A renda é calculada através do PIB real per capita,

expresso em dólares e ajustado para refletir a paridade do poder de compras entre os países. O

30

Page 31: 3 desertificação no rio grande do norte

IDH varia de 0 (nenhum desenvolvimento) a 1 (desenvolvimento humano total) e estabelece a

seguinte classificação: baixo desenvolvimento humano (índices até 0,499); médio

desenvolvimento humano (0,500 a 0,799) e alto desenvolvimento humano (maior que 0,800).

O mapa do IDH do Rio Grande do Norte revela a situação em que se encontra o Estado sob o

ponto de vista do desenvolvimento humano (MAPA 09).

MAPA 09 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M do Rio Grande do Norte - 2000

FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas.

O IDH do Rio Grande do Norte obteve um crescimento positivo passando de

0,604 em 1991 para 0,705 em 2000. Não obstante, ainda permaneceu um índice inferior ao

obtido pelo país que era de 0,696, em 1991, e foi elevado a 0,776 em 2000. Sua posição no

ranking entre os estados da federação oscilou do 20º lugar, em 1991, para o 19º em 2000.

No âmbito do território estadual é importante a verificação de que todos os

municípios encontram-se no nível intermediário de desenvolvimento humano e que a

31

Page 32: 3 desertificação no rio grande do norte

amplitude é de 0,544 (Venha Ver) a 0,788 (Natal). Neste intervalo, conforme mostra o mapa,

há uma variação de faixas de indicadores que, apesar da dispersão espacial, chama atenção

pela mancha que produz sob o território seridoense. Neste, concentra-se 14 municípios

(43,75%) dos 32 que obtiveram maior IDH no Rio Grande do Norte.

Neste ínterim, faz-se mister ressaltar o que ficou evidenciado nas representações

espaciais da pobreza, da indigência e do IDH, em termos de Rio Grande do Norte. A

elucidação das referências positivas projetadas no entorno de Natal e de Mossoró podem ser

fundamentadas pelo dinamismo econômico, pela funcionalidade de suas sedes municipais no

sistema urbano estadual, dentre outros aspectos. Instigante é a situação do Seridó,

considerando-se a situação sócio-econômica e ambiental em que se encontra. A região não se

coloca entre os focos dinâmicos recentes da economia estadual e figura no mapa de

ocorrência da desertificação como uma área de degradação muito grave e intensa. Porém, o

aparente paradoxo se desfaz logo que se busca a historicidade da região para desvendar o seu

estágio atual e vislumbra-se que as estratégias sócio-políticas e culturais de décadas passadas

são revitalizadas no presente. Criando, inovando e reinventando o saber-fazer regional, a

sociedade vem construindo cenários de resistência e a atuação de sua representação política

tem sido fundamental para a melhoria dos indicadores sociais, como educação e saúde

(MORAIS, 2005, p. 308).

Delineado este perfil sócio-ambiental do Rio Grande do Norte faz-se mister

enveredar pela cartografia da desertificação a partir da caracterização e da delimitação das

áreas identificadas como susceptíveis ao fenômeno.

3.2 As Áreas Susceptíveis à Desertificação do Rio Grande do Norte

As ASD no Rio Grande do Norte correspondem a 97,6% do território e abrigam

95,6% da população. Este elevado índice de inclusão dentre as áreas susceptíveis à

desertificação decorre da inter-relação entre o meio natural e o homem, ao longo de séculos

de ocupação e exploração do espaço.

3.2.1 Características

32

Page 33: 3 desertificação no rio grande do norte

A história da ocupação do território que hoje compõe as ASD potiguares remete à

presença portuguesa nestas terras, cuja intervenção mais efetiva foi deflagrada no final do

século XVI, quando passaram a desenvolver a cana-de-açúcar, no litoral. Nos séculos

seguintes, deu-se a apropriação do espaço interiorano utilizado para a criação de gado, a

agricultura de subsistência e, mais adiante, para o cultivo do algodão. No decorrer dos

séculos, outras atividades surgiram como a extração do sal, da cera de carnaúba, da oiticica e

do sisal e a mineração. Além disso, a população cresceu, as cidades se expandiram e se

multiplicaram, estradas foram construídas e muitas alterações foram impressas ao espaço.

Neste processo, elevaram-se as demandas em relação aos recursos naturais, mas também

foram ampliadas as possibilidades de intervenção do homem no espaço através do emprego de

tecnologias. Todavia, especialmente no recorte semi-árido do Estado, já são notáveis os sinais

de descompasso entre os recursos naturais disponíveis e o atendimento às demandas sociais.

Em um passado recente, o território potiguar foi afetado pelas crises da

cotonicultura e da mineração, que desestabilizaram a sua base produtiva (décadas de 1970 e

1980). A emergência de novas atividades e a expansão de outras já existentes, se

encarregaram de refazer a dinâmica econômica que repercutiu diferentemente sobre as

regiões, em função de especificidades locais e conjunturais.

No entanto, em meio ao elenco de atividades desenvolvidas existem algumas que

têm se mostrado extremamente danosas ao meio ambiente, inclusive contribuindo

decisivamente para a acentuação da susceptibilidade à desertificação, tanto nas circunscrições

do semi-árido, quanto nas de clima subúmido seco. Além das atividades econômicas um outro

componente a incidir sobre este processo são as práticas culturais, que estão diretamente

vinculadas à forma de produzir e ao cotidiano das pessoas, por exemplo o desmatamento e a

queimada para uso do solo na agricultura e a extração da lenha para fins domésticos.

A partir destes pressupostos e da concepção de que “a desertificação é um

processo de degradação da terra que pode ter múltiplas causas e pode dar lugar a múltiplas

conseqüências”, de tal modo interligadas por mecanismos de retroalimentação que formam

círculos viciosos (SAMPAIO et. al, 2003, p. 22), é possível identificar as principais atividades

econômicas que, no Rio Grande do Norte, repercutem sobre o ambiente contribuindo para a

sua degradação: a agropecuária, a mineração – com destaque para a produção ceramista - e a

panificação.

A agropecuária é uma atividade secular em terras nordestinas e, por conseguinte,

nas potiguares, sendo desenvolvida desde os primórdios de sua colonização. Dentre as

economias fundadoras do território estão a cana-de-açúcar, a pecuária e a cotonicultura.

33

Page 34: 3 desertificação no rio grande do norte

A agricultura da cana-de-açúcar localizava-se (ainda localiza-se) na faixa litorânea

ou Zona da Mata, onde anteriormente, havia sido praticada a extração do pau-brasil (GOMES,

1997, p. 23). A partir desta atividade, o espaço foi sendo pontilhado por engenhos de açúcar e

pequenos núcleos populacionais. Também ocorria neste espaço a agricultura de subsistência.

O território da cana-de-açúcar, em termos de extensão, foi exígüo tendo em vista a estreita

faixa de terras cujas condições eram propícias ao seu plantio. Mas, esta economia foi

importante, entre outros motivos, por definir os primeiros fluxos de exportação do território

potiguar e por influenciar o surgimento de centros urbanos.

Ao longo de sua história, o Litoral Leste tornou-se uma região que tem na

produção agrícola um dos seus aportes e apresenta-se densamente ocupada e urbanizada.

Neste sentido, observa-se que onde antes predominava a Mata Atlântica, recorreu-se à prática

do desmatamento para viabilizar a implantação da monocultura da cana-de-açúcar e a

estrutura citadina, com suas derivações, por exemplo às vias de circulação (estradas).

Possivelmente reside nestes aspectos históricos, a justificativa para que, nos dias

atuais, alguns redutos canavieiros do Estado, localizados ao norte da Mesorregião Leste

Potiguar, como Ceará-Mirim e São Gonçalo do Amarante, estejam entre as ASD norte-rio-

grandenses, classificadas como áreas subúmidas secas. A mesma explicação servirá à

compreensão da inclusão dos municípios de Extremoz, Natal e Parnamirim na Área do

Entorno das Áreas Semi-áridas e das Áreas Subumidas Secas do Estado, sendo também

passíveis de afetação pelo processo de desertificação.

A pecuária aparece como a economia fundante do Sertão, responsável pela sua

efetiva ocupação. Considerando a grande extensão do Sertão em relação à Zona da Mata,

infere-se sobre a importância e repercussão que a criação de gado teve em termos de

construção do território potiguar. O Sertão corresponde, basicamente, ao recorte semi-árido

onde impera a Caatinga, território dos currais, hoje identificado como área semi-árida afetada

ou susceptível à processos de desertificação.

Com a emergência do algodão à condição de cultura de exportação (final do

século XIX), o espaço da fazenda sertaneja foi refuncionalizado passando a se estruturar em

torno do histórico binômio gado-algodão. Após a decadência da cultura algodoeira (década de

1970), a pecuária continuou a ser praticada e vem demonstrando sinais de incorporação de

inovações técnicas que repercutem na produção e na produtividade. Neste período, a pecuária

diversificou-se influenciada pelas políticas de incentivo à caprinocultura e à ovinocultura,

cujos rebanhos obtiveram expressivo crescimento, e a bovinocultura teve sua produção

bifurcada entre o gado de corte e o gado leiteiro, em resposta à política governamental do

34

Page 35: 3 desertificação no rio grande do norte

Programa do Leite. A agricultura também foi redimensionada e modernizada em algumas

regiões, destacando-se o segmento da fruticultura.

No âmbito da agropecuária faz-se mister atentar que sua inclusão dentre as

atividades que podem contribuir para processos de desertificação deriva da forma como é

implementada. De fato, é o manejo inadequado dos recursos naturais – solo, água e vegetação

- para fins de práticas agropecuárias que torna a atividade degradante. Este processo se

materializa através de ações como o desmatamento e a queimada, (FIG. 01) realizados sem

orientação técnica ou planejamento, para cultivos em encostas de serras, (FIG 02) margens de

rios e outros ambientes, incluindo-se aqueles destinados à formação de pastagens; o

superpastoreio, (FIG. 03 e 04) seja em termos de espaço ou tempo; a irrigação, (FIG. 05) que

produziu benefícios, mas sendo realizada de forma inadequada e sem recurso à drenagem

gerou o problema da salinização. Acrescente-se à problemática em foco, o uso indiscriminado

e inadequado de herbicidas.

35

FIGURA 01 – QUEIMADAS NA SERRA DE SANT’ANA MUNICÍPIO DE LAGOA NOVA

FIGURA 02 - DESMATAMENTO DE ENCOSTAS NO MUNICÍPIO DE CERRO CORÁ.

FONTE: ADESE, 2005. FONTE: FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL BRASIL, 2002

Page 36: 3 desertificação no rio grande do norte

Não é demais enfatizar que a circunscrição das ASD no Rio Grande do Norte

corresponde a 97,6% de seu território e que a agropecuária ainda tem um papel importante no

quadro econômico, principalmente na porção semi-árida e subúmida seca, apesar da redução

de sua participação na composição do PIB estadual.

Quanto à mineração (FIG. 06) do Rio Grande do Norte também é importante

salientar o seu desenvolvimento há vários decênios, tendo sido emblemática de uma fase

próspera do Estado, mais especificamente da Região do Seridó, entre os anos de 1940 e 1980.

Neste período, a exploração da província scheelitífera curraisnovense “não só colocou este

município em posição de primazia (quase totalidade do mineral produzido e exportado no

país) como elevou o Rio Grande do Norte ao patamar de detentor das maiores reservas e de

maior produtor brasileiro” (ALVES, 1997, p.13-15 apud MORAIS, 2005, p. 171). A produção

da scheelita destinava-se principalmente ao mercado externo e compunha junto com o

algodão e a pecuária o tripé de sustentação da economia seridoense. Contudo, assim como a

cotonicultura, esta produção mineira que teve uma singular expressão econômica e histórica

para a sociedade potiguar, especialmente a seridoense, traduzindo-se em uma fase de fausto,

modernização e riqueza, também enfrentou uma crise que a levou à decadência.

36

FONTE: FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL BRASIL, 2002

FONTE: ADESE, 2005.

FIGURA 03 – SUPERPASTOREIO

FIGURA 05 – IRRIGAÇÃO NO MUNICÍPIO DE SAÕ JOÃO DO SABUGI

FONTE: FUNDAÇÃO GRUPO ESQUEL BRASIL, 2002

FIGURA 06 - MINERAÇÃO LOCALIZADA NA COMUNIDADE OLHO D’ÁGUA DE QUINTOS MUNICÍPIO DE EQUADOR

FIGURA 04 - SUPERPASTOREIO

Page 37: 3 desertificação no rio grande do norte

Na tessitura deste enredo de crises, que abalou a economia estadual, novos

segmentos de produção do setor mineral foram surgindo e outros, já explorados, tiveram a

oportunidade de se fortalecer e/ou ampliar. A Avaliação Preliminar do Setor Mineral do Rio

Grande do Norte (SEDEC, 2004), documento elaborado com base nas informações do

Cadastro Industrial da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte – FIERN,

referente aos anos 2002-2003, e da listagem de processos de licenciamento das atividades de

mineração do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do

Norte – IDEMA, indica os principais bens minerais e os municípios que respondem pela

Indústria Extrativa e de Transformação Mineral do Estado (ANEXO 03 e ANEXO 04).

Os dados sobre este segmento industrial evidenciam a existência de certa

diversidade de bens minerais sendo explorados, tais como água mineral, areia, argila, brita,

cal, calcário, caulim, feldspato, gemas, sal marinho, tantalita, cerâmica vermelha e cerâmica

branca, dentre outros. A distribuição destas unidades produtivas pelo território abrange as 4

mesorregiões do Estado e 18 microrregiões das 19 existentes, exceto a Microrregião de São

Miguel (vide MAPA 02). No entanto, as informações apontam para a ocorrência de uma

concentração em termos de localização geográfica e de segmento produtivo.

Em termos de concentração geográfica dos estabelecimentos da Indústria

Extrativa e de Transformação Mineral do Estado, destacam-se as mesorregiões Oeste Potiguar

(119 unidades) e Central Potiguar (120 unidades). Esta última tem 104 indústrias (86,6%)

37

FONTE: ADESE, 2005.

Page 38: 3 desertificação no rio grande do norte

localizadas nas microrregiões do Seridó Ocidental e Oriental ressaltando-se que, nesta, onde

existe o núcleo de desertificação, há 95 indústrias de extração mineral.

Considerando o número de indústrias tem-se que, das 350 empresas que constam

na fonte documental, os segmentos mais representativos são o de produção de cerâmica

vermelha (141) e o salineiro (40). O primeiro responde por 40,28% do total de empresas e

encontra-se disseminado pelo território em unidades isoladas ou formando pólos. O segundo é

responsável por 11,42% das empresas e tem como redutos de produção os municípios de

Areia Branca, Macau, Grossos, Galinhos e Mossoró, sendo este último detentor de 21

indústrias das 40 identificadas, ou seja, 52,5% do total.

Nesta geografia da Indústria Extrativa e de Transformação Mineral do Rio Grande

do Norte os dados sobre o segmento ceramista e sobre a Região do Seridó despertam a

atenção. De acordo com o levantamento realizado as empresas do setor encontram-se

distribuídas em 35 municípios do território potiguar e formam três pólos de produção: o da

Grande Natal, do Baixo Açu e do Seridó (MAPA 10).

38

Page 39: 3 desertificação no rio grande do norte

MAPA 10 – Municípios produtores de Cerâmica do Rio Grande do Norte

FONTE: SEDEC. Avaliação preliminar do setor mineral do Rio Grande do Norte. Natal, 2004.

O Pólo da Grande Natal abrange 17 empresas e é composto pelos municípios de

Nísia Floresta, São José do Mipibu, Ceará-Mirim, Ielmo Marinho e São Gonçalo do

Amarante, principal produtor.

O Pólo do Baixo Açu é formado pelos municípios de Itajá, Ipanguassu, Alto do

Rodrigues, Pendências e Açu. Em Itajá estão concentradas 17 empresas das 34 que compõem

o pólo e 10 no município de Açu.

No Pólo do Seridó os dados são mais expressivos: das 141 empresas produtoras

de cerâmica do Estado, 66 estão situadas na região (46,8%), dispersas por 14 municípios.

Parelhas, com suas 24 unidades de produção, se destaca como maior produtor do Estado. Em

seguida despontam os municípios de Carnaúba dos Dantas (13), Jardim do Seridó (6) e

Cruzeta (6).

Indiscutivelmente, a mineração, praticada de maneira racional e econômica, se

constitui uma atividade básica da economia, que “deve ser operada com responsabilidade

social, consolidando-se no contexto do desenvolvimento sustentável, procurando um

39

Page 40: 3 desertificação no rio grande do norte

equilíbrio sistemático entre o trinômio homem-recurso natural-território” (SEDEC, 2004, p.

35). Porém, os questionamentos acerca desta atividade surgem em função de que o seu

exercício nem sempre se pauta por estas prerrogativas ou pela observação da legislação

pertinente. Disto resulta que a mineração executada sem um devido planejamento e sem

critérios técnicos e ambientais torna-se uma atividade portadora de expressivo poder de

degradação ambiental.

A assertiva conduz a pensar sobre o desenvolvimento da mineração em um

território com elevada susceptibilidade à desertificação, como é o caso do Rio Grande do

Norte, especialmente a Região do Seridó, principal pólo de produção ceramista do Estado e

onde se registram os mais altos níveis de susceptibilidade (muito grave e intenso),

responsáveis pela configuração de um núcleo de desertificação.

A difusão da produção de cerâmica (FIG. 07 e 08) pelo Seridó coloca-se no

contexto de rebatimento da crise da base produtiva – algodão e scheelita -, insurgindo-se

como uma alternativa capaz de gerar ocupação e renda. Dados do Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial – SENAI/RN, revelaram que, entre 1989 e 2001, houve um

expressivo crescimento do setor ceramista no Rio Grande do Norte, principalmente, no

Seridó. No período em foco, foi registrado um crescimento relativo deste segmento da ordem

de 93,9% no Estado e de 690% na citada região (MORAIS, 2005, p. 293).

40

FIGURA 07 - CERÂMICA LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE CRUZETA

FIGURA 08 - CERÂMICA LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE CRUZETA

FONTE: ELISÂNGELO, 2004 FONTE: ADESE, 2001

Page 41: 3 desertificação no rio grande do norte

Nos principais municípios produtores esta atividade tem sido responsável pela

garantia de trabalho e renda para um grande contingente da população. Mas, se por um lado

pode parecer promissora em termos de mercado de trabalho, por outro, contribui para acentuar

a susceptibilidade à desertificação, tendo em vista a origem da matéria prima argila e a

rudimentar tecnologia de produção que utiliza a lenha como fonte de energia. A fabricação de

telhas e tijolos com base na utilização de recursos florestais e de solos aluviais, antes usados

para a lavoura de subsistência e o plantio de pastagens, tem aguçado os problemas ambientais

da região, cujo ecossistema predominante já apresenta naturalmente tendência a processos de

degradação. O uso de argila de açude para fins ceramistas também tem contribuído para

degradar e gerar conflitos em áreas de vazante dos reservatórios, cuja destinação é a produção

de hortifrutiganjeiros e de capim para o gado quando o volume d’água encontra-se baixo. De

acordo com Medeiros (2004, p. 74), a produção ceramista “é considerada pela maioria dos

estudiosos como a atividade que mais corrobora para degradar a região do Seridó norte-rio-

grandense”.

A forma como a produção é realizada recorrendo-se ao desmatamento de áreas

recobertas pela Caatinga, que deixa o solo desnudo, e a extração de argila em recortes férteis

que aceleram a erosão através das crateras que se formam no solo, torna-a um agente incisivo

de degradação em um cenário marcado pela semi-aridez. Outrossim, o baixo nível tecnológico

utilizado no fabrico de telhas e tijolos tem gerado grandes perdas de material que se

transformam em resíduo, entulhado nas proximidades das unidades de produção, denotando

uma outra face da agressão ao meio ambiente.

Neste sentido, descortina-se o desafio que a sociedade potiguar precisa enfrentar,

tendo em vista a extensão da atividade mineira e, especialmente a dimensão que a produção

de cerâmica assume, nos dias atuais. Apresentando-se com alguns estabelecimentos dispersos

e outros agregados em pólos, a produção de cerâmica cristaliza a difícil equação entre

dividendos econômicos e degradação ambiental. Neste panorama, porém, há um dado que não

se pode negligenciar: 97% das terras do Rio Grande do Norte são susceptíveis à desertificação

e, no Seridó, principal pólo ceramista, há um retrato sem retoques produzido pela exaustiva

intervenção do homem no meio, um legado de degradação que fez a região ser perfilada entre

os núcleos de desertificação do Brasil.

Uma outra atividade econômica que pode ser apontada dentre aquelas cujo

desenvolvimento colabora para a desertificação é a panificação. Embora ainda não se tenha

dado disponível sobre o assunto, é possível vislumbrar uma correlação entre o crescimento

41

Page 42: 3 desertificação no rio grande do norte

das panificadoras e a elevação das taxas de urbanização, visto que, na atualidade, a quase

totalidade dos municípios do Estado, dispõe deste tipo de unidade industrial.

A relação entre esta atividade e o processo de degradação se estabelece a partir do

uso da lenha no processo de produção. Assim, a panificação passa a ser uma atividade

humana a gerar pressão sobre os já comprometidos estoques de vegetação lenhosa do

território e, dada a constante e crescente demanda industrial, inclusive por parte de outros

segmentos produtivos, amplia e impulsiona a prática do desmatamento. Tomando a situação

do Seridó como referência, o consumo da lenha por parte das cerâmicas e panificadoras está

implicando na destruição da cobertura vegetal e segundo Medeiros (2004, p. 82) este processo

vem condenando algumas espécies vegetais e animais à extinção, como exemplo a abelha

jandaíra, que faz seu ninho no tronco das árvores. A avidez humana de impor a lei do

machado, faz com que as árvores, redutos de proliferação de vida, tombem e com elas

declinem também as possibilidades de reprodução de algumas espécies animais.

Além destes aspectos, é preciso ainda considerar que a destruição da cobertura

vegetal para se obter a lenha também é realizada para fins de uso doméstico, principalmente

nas áreas rurais e com menor intensidade nas periferias urbanas. Isso reflete a persistência de

uma prática sócio-cultural, em função de baixo poder aquisitivo ou do fator distância,

geradores de dificuldades para o uso do GLP.

Alguns dados sobre a extração vegetal no Rio Grande do Norte revelam como esta

prática, a partir de espécies nativas, ainda se mantém viva na sociedade. Em 2002, a produção

de carvão vegetal no Estado foi de 3.058 toneladas, destacando-se os municípios de Baraúna

(288 t), Santana do Matos (275 t) e Caraúbas (225 t). A produção de lenha correspondeu a

1.713.765 m³, tendo como principais produtores os municípios de Governador Dix-Sept

Rosado (129.600 m³), Baraúna (75.192 m³) e Apodi (67.280 m³) (IDEMA, 2002). Importante

o registro de que a extração de lenha se verifica em 166 municípios do Estado e a produção de

carvão em 159 deles.

A delineação deste quadro em relação à desertificação no Rio Grande do Norte é

uma clara evidência da inter-relação entre os aspetos naturais e a ação humana no

desencadeamento do fenômeno. Considerando que a degradação da terra é definida como a

redução ou perda da capacidade da produtividade biológica ou econômica e da complexidade

das terras e que comporta a degradação do solo, água e vegetação, verifica-se que, no Estado,

algumas práticas como o desmatamento e as queimadas e o emprego de técnicas

agropecuárias inadequadas repercutem sobre o território, intensificando a susceptibilidade à

desertificação.

42

Page 43: 3 desertificação no rio grande do norte

Nas áreas afetadas pela desertificação as conseqüências se pautam mais pela

semelhança das manifestações que pelas diferenças, evidenciando-se sob múltiplos aspectos e

variadas dimensões, de forma bastante inter-relacionada. Em termos ambientais, os efeitos da

degradação ganham visibilidade através da erosão (FIG. 09 e 10) e salinização dos solos,

perda da biodiversidade, diminuição da disponibilidade e da qualidade dos recursos hídricos,

entre outros. Socialmente, os reflexos são sentidos a partir da desestruturação familiar

motivada pela necessidade de emigrar para centros urbanos, devido à perda da capacidade

produtiva da terra, o que gera novas demandas sociais e aumenta a pressão sobre os serviços,

principalmente os oferecidos pelo Estado. Na dimensão econômica destacam-se a queda na

produtividade e produção agrícolas, sobretudo a agricultura de sequeiro mais vulnerável aos

fatores climáticos, e a redução da renda e do consumo da população. Acrescente-se a

repercussão sobre a arrecadação de impostos e na circulação de renda decorrente da perda da

capacidade produtiva (IDEMA, 2004, p. 13-14).

A delineação deste quadro de referências sobre as causas e as conseqüências da

desertificação define a condição do Rio Grande do Norte como área susceptível ao processo,

sendo importante identificar a cartografia que assume em território potiguar.

43

FIGURA 09 – EROSÃO DOS SOLOS NO MUNICÍPIO DE LAGOA NOVA

FIGURA 10 – EROSÃO DOS SOLOS NO MUNICÍPIO DE CURRAIS NOVOS

FONTE: ADESE, 2005. FONTE: ELISÂNGELO, 2004.

Page 44: 3 desertificação no rio grande do norte

3.2.2 Áreas Susceptíveis à Desertificação

Tomando como referência o PAN Brasil (MMA, 2004), que estabelece uma

regionalização em áreas semi-áridas, subúmidas secas e de entorno, segundo os estados, foi

possível sistematizar alguns dados sobre as ASD do Rio Grande do Norte que desnudam a

problemática da desertificação, revelando o quão é preocupante a situação no Estado, em

termos de extensão e contingente de população afetado (TAB. 06).

TABELA 06Áreas Susceptíveis à Desertificação no Rio Grande do Norte segundo o PAN-Brasil – 2004

ÁREASSUSCEPTÍVEIS

POPULAÇÃO ÁREA (km²)¹Urbana Rural Total % Total %

Semi-Árida 1 041 484 521 994 1 563 478 56,3 48 706,01 92,3Subúmida Seca 104 704 155 586 260 290 9,3 2 396,834 4,5Do Entorno 834 874 21 705 856 579 30,9 416,165 0,8ASD do Estado 1 981 062 699 285 2 680 347 96,5 51 519,01 97,6Estado (total) 2 036 673 740 109 2 776 782 100,00 52 796,791 100,00FONTE: MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação nacional de

combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca – PAN Brasil, 2004, p. 189-194.IBGE. Censo demográfico 2000, 2000, p. 269-271.IBGE. Área territorial oficial. Resolução nº 5 de 10 de outubro de 2002. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias.

¹ Calculada com base na área territorial oficial, segundo o IBGE.

Considerando a classificação estabelecida no PAN Brasil (MMA, 2004) o Rio

Grande do Norte apresenta 97,6% de seu território incluído nas ASD, estando a parcela mais

significativa classificada nas áreas semi-áridas susceptíveis à desertificação. Nos 48.706,01

km² das referidas áreas, 4.093.806 km² apresentam um nível de degradação muito intenso

configurando o Núcleo de Desertificação do Seridó.

O conjunto das ASD no Rio Grande do Norte compreende 159 municípios dos

167 existentes (95,21%)13 (MAPA 10). Abriga um contingente de 2.680.347 habitantes, dos

quais 73,91% residem em espaços urbanos e 26,08% são moradores rurais. Este universo

populacional corresponde a 97,26% do contingente urbano e 94,48% da população rural do

Estado.

13 Informação atualizada considerando o desmembramento de Várzea que deu origem ao Município de Judiá, em 1996.

44

Page 45: 3 desertificação no rio grande do norte

MAPA 10 - Áreas Susceptíveis à Desertificação no Rio Grande do Norte segundo o Pan-Brasil - 2004

N

EW

S

30 0 30 km

Áreas Susceptíveis a Desertificação no Rio Grande do Norte segundo o PAN-Brasil - 2004

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Área Sem i-Árida

Área Subúm ida Seca

Área do E ntorno

FONTE: MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca – PAN Brasil, 2004, p. 189-194.

45

Page 46: 3 desertificação no rio grande do norte

A cartografia da desertificação no Rio Grande do Norte referenda a correlação

estabelecida entre o fenômeno e a área do ecossistema da Caatinga, ou seja, sob o domínio do

semi-árido. Considerando que em aproximadamente 75% do território estadual o clima

predominante é o Semi-árido e que as ASD também abarcam espaços subúmidos secos e as

áreas de entorno, tem-se um quadro em que apenas 2,4% da superfície potiguar não

demonstram susceptibilidade à desertificação14.

3.2.2.1 Áreas Semi-áridas

Conforme foi analisado anteriormente, as áreas semi-áridas que conformam as

ASD do Rio Grande do Norte correspondem ao espaço onde predomina o ecossistema da

Caatinga e se manifestam as características climáticas da semi-aridez.

Dentre os 159 municípios que compõem as ASD norte-rio-grandenses, 143

compreendem as Áreas Semi-áridas e totalizam uma extensão de 48.706,01 km², ou seja

92,3% do território. Nestes rincões sertanejos moram 1.563.478 habitantes, um pouco mais da

metade da população potiguar (56,3%). Deste universo, 66,61% da população vivem em

espaços urbanos.

A tentativa de estabelecer uma correspondência entre este recorte e as divisões

regionais do Estado (vide MAPA 02) permite identificar que dele fazem parte as mesorregiões

Oeste Potiguar, Central Potiguar, Agreste Potiguar e alguns municípios da Mesorregião Leste

Potiguar. As especificidades encontradas nas escalas microrregionais tornam possível admitir

que ocorrem diferentes níveis de degradação.

Entrecruzando a leitura de Carvalho; Gariglio; Barcelos (2000) com a

classificação do PAN Brasil (2004), é possível delinear recortes a partir da intensidade do

processo de desertificação.

Assim, dentre as áreas semi-áridas do Rio Grande do Norte, afetadas por este

fenômeno, a porção sul da Mesorregião Oeste Potiguar ou sul-oeste do Estado, onde se situam

as microrregiões de Pau dos Ferros, Serra de São Miguel e Umarizal, apresenta um estágio de

degradação moderada.

14 Não apresentam susceptibilidade à desertificação os municípios de Arês, Baía Formosa, Canguaretama, Goianinha, Nísia Floresta, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Vila Flôr, integrantes da Microrregião Geográfica Litoral Sul, reduto do clima tropical úmido no Estado. Em termos de área esses municípios ocupam 2,4% do território estadual, onde vivem 78.774 habitantes (2,83% da população potiguar).

46

Page 47: 3 desertificação no rio grande do norte

No outro extremo, registrando níveis de degradação muito grave e intenso, está

uma fração da Mesorregião Central Potiguar, mais especificamente as microrregiões do

Seridó Ocidental e Oriental e os municípios de Jucurutu (Vale do Açu), Florânia, Tenente

Laurentino e São Vicente (Serra de Santana), localizadas na parte centro-sul do Estado, cuja

gravidade da situação resultou na identificação de um núcleo de desertificação, objeto de

análise a seguir.

Os demais espaços semi-áridos susceptíveis à desertificação no Rio Grande do

Norte foram parcialmente identificados pelo estudo de Carvalho; Gariglio; Barcelos (2000),

de forma que é possível apontar como áreas de ocorrência grave apenas as microrregiões

Chapada do Apodi, Médio Oeste, Mossoró e frações do Vale do Açu (Messoregião Oeste

Potiguar); a microrregião Macau (Mesorregião Central Potiguar); a microrregião de Baixa

Verde (Mesorregião Agreste Potiguar) e alguns municípios da microrregião do Litoral

Nordeste (Mesorregião Leste Potiguar).

A análise destes recortes sob a ótica da intensidade da pobreza, da indigência e do

IDH-M mostra um quadro bastante variado. Com relação à pobreza e a indigência, os

municípios que evidenciaram maior intensidade estão situados, principalmente, nas

microrregiões de São Miguel, Pau dos Ferros, Umarizal e Agreste Potiguar. Os índices menos

expressivos concentraram-se em municípios do entorno de Mossoró e das microrregiões do

Seridó Ocidental e Oriental. Nos demais espaços, os indicadores apresentaram uma situação

intermediária. Em termos de IDH-M, as situações mais críticas aparecem na microrregião do

Litoral Nordeste e em alguns municípios dispersos pelo território estadual, pontilhando os

espaços regionais. Os índices mais favoráveis se sobrepõem às regiões em que a pobreza e a

indigência registraram menor intensidade.

Nas áreas semi-áridas susceptíveis à desertificação norte-rio-grandenses a

agropecuária ainda desempenha um importante papel no tecido sócio-econômico, estando o

Seridó entre as principais bacias leiteiras do Estado; a produção ceramista assumiu

expressividade, passando a representar uma das relevantes fontes de renda, e a urbanização

intensificou-se, nos últimos 35 anos, gerando novas demandas sociais e o aumento da pressão

sobre os recursos naturais. Neste recorte inclui-se o núcleo de desertificação.

47

Page 48: 3 desertificação no rio grande do norte

3.2.2.1.1 Núcleo de Desertificação do Seridó

Os núcleos de desertificação correspondem à áreas de amplitude variável onde

aparecem “manchas aproximadamente circulares” e “a fisionomia desértica se imprime mais

denunciadora. No solo todo ou quase todo erodido, onde o horizonte A foi arrastado, ou nunca

existiu, a vegetação, mesmo nos períodos de chuva, se recupera muito escassamente ou não se

recupera” (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002, p. 65). São redutos onde a degradação

ambiental é maximizada e os efeitos da conjugação de variáveis naturais e humanas se

evidenciam de forma clara, deixando transparecer no espaço a deterioração das relações

sócio-ambientais.

A configuração desses núcleos resulta de um equilíbrio ecológico instável,

determinado por fatores naturais e pela ação humana. No dizer de Vasconcelos Sobrinho

(1971 apud 2002, p. 64), enquanto não há interferência, o periclitante equilíbrio entre flora e

fauna e o meio hostil vai se mantendo a duras penas. “Mas vem o homem e ocupa a área;

derruba e queima a cobertura vegetal, quebrando um dos elos da cadeia de condicionamentos

e dá-se a ruptura do complexo: o solo foge perdendo a fertilidade, assoreando os rios; sua

superfície resseca-se e impermeabiliza-se; a cobertura vegetal perde a pujança e degrada-se; a

atmosfera desidrata-se e aquece-se, dificultando as precipitações; as reservas de água das

profundidades do solo minguam, as fontes estacam-se e os rios tornam-se intermitentes. E,

por último, o homem foge.”

Os núcleos de desertificação apresentam um dinamismo próprio, com tendência a

de expansão em detrimento de áreas vizinhas, caso se agucem os processos desencadeadores

de sua formação.

As primeiras referências sobre a formação de núcleos de desertificação no Brasil,

mais especificamente no Nordeste, foram pioneiramente apresentadas por Vasconcelos

Sobrinho. Em 1977, com a colaboração do referido professor, a SUDENE iniciou o estudo

das áreas em processo de desertificação, visando identificar as áreas mais afetadas e

selecionar as mais críticas, como áreas piloto, para efeito de mapeamento. Foram selecionadas

seis áreas piloto nos estados do Piauí (Caatinga e Cerrado), Ceará (Inhamuns), Paraíba

(Cariris Velhos), Pernambuco (Sertão Central), Bahia (Sertão do São Francisco) e Rio Grande

do Norte (Seridó). Em 1996 foram realizadas visitas de campo em Gilbués (PI), Irauçuba

(CE), Cabrobó (PE) e Seridó (RN), sendo possível constatar que entre as causas principais

para a intensa degradação dessas áreas estavam o desmate da Caatinga para uso na

agricultura, pecuária e mineração, extração de argila de solos aluviais e retirada de madeira

48

Page 49: 3 desertificação no rio grande do norte

para lenha. “Essas áreas foram caracterizadas como de alto risco à desertificação, e ficaram

conhecidas como núcleos desertificados” (MMA, 2004, p. 17). No Seridó, a extração de argila

de solos aluviais, tendo como destino a produção ceramista, foi apontada como causa

principal da desertificação.

Sobre a inclusão do Seridó potiguar como núcleo de desertificação assim se

manifesta Vasconcelos Sobrinho (1982 apud 2002, p. 68): “No Rio Grande do Norte, quase

toda a região fitogeográfica do Seridó vem sendo submetida a intensos trabalhos de

prospecção e mineração, criando núcleos de desertificação”. O autor salienta que esta

atividade, juntamente com as condições climáticas de baixa pluviosidade, tornam o Seridó um

dos exemplos mais graves da presença da desertificação no Nordeste. Um outro agravante é a

produção de cerâmica, cujos efeitos nefastos extrapolam a formação de crateras para a

retirada do barro [argila], grassando pela destruição da cobertura vegetal para obtenção de

lenha a ser usada nos fornos. “O Seridó, principalmente nos municípios de Equador, Parelhas,

Carnaúba dos Dantas e Acari, 104 (cento e quatro) cerâmicas competem entre si pelo volume

de argila retirado do solo para fabricação de telhas e tijolos, incentivadas pela qualidade do

barro, que permite um tipo especial dos artefatos fabricados.”

Considerando que este estudo foi realizado em 1982 e que nos dias atuais (2005) a

produção ceramista é ainda identificada como uma das principais atividades a gerar ocupação

e renda para os seridoenses, sendo ainda marcada pelo emprego de baixa tecnologia, conclui-

se que decorreram 23 anos de intensa degradação dos solos e da vegetação em terras

seridoenses.

Os dados coletados sobre a área e a população do Núcleo de Desertificação do

Seridó, segundo a regionalização adotada pelo PAN Brasil (MMA, 2004, p. 17), delineiam a

extensão territorial e a abrangência demográfica do fenômeno (TAB. 07).

49

Page 50: 3 desertificação no rio grande do norte

TABELA 07Núcleo de Desertificação do Seridó

2005MUNICÍPIOS ÁREA (km²) POPULAÇÃO

Total % Urbana Rural Total %Acari 608,565 1,2 8.841 2.348 11.189 0,4Caicó 1.228,574 2,3 50.624 6.378 57.002 2,1Carnaúba dos Dantas 245,648 0,5 5.035 1.537 6.572 0,2Currais Novos 864,341 1,6 35.529 5.262 40.791 1,5Equador 264,983 0,5 4.324 1.340 5.664 0,2Jardim do Seridó 368,643 0,7 9.297 2.744 12.041 0,4Parelhas 513,052 1,0 15.606 3.713 19.319 0,7Núcleo de Desertificação 4.093,806 7,8 129.256 23.322 152.578 5,5Estado (total) 52.796,791 100 2.036.673 740.109 2.776.782 100FONTE: IBGE. Censo demográfico 2000, 2000, p. 269-271.

IBGE. Área territorial oficial. Resolução nº 5 de 10 de outubro de 2002. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias.

O Núcleo de Desertificação do Seridó ocupa 4.093,803 km² do território do Rio

Grande do Norte e abriga uma população de 152.578 habitantes. A população urbana

residente nas circunscrições do núcleo corresponde a 84,71% e a população rural a apenas

15,28%. Os sete municípios do Núcleo, hoje, apresentam como traço marcante o

desenvolvimento do setor terciário, com ênfase nos pequenos negócios urbanos e nos

segmentos dos serviços sociais, e das atividades mineiras, com realce para a cerâmica. O

município de maior expressão territorial e demográfica é Caicó.

A localização geográfica do Núcleo de Desertificação do Seridó corresponde ao centro

do Polígono das Secas. Sua fácies ecológica está representada pelo clima muito quente e

semi-árido, passível de estiagens prolongadas; estrutura geológica formada pelo embasamento

cristalino (gnaisses, micaxistos, granitos, etc.); predominância de solos dos tipos Bruno Não-

cálcico e Litólicos, que são rasos e pedregosos, apresentando baixa capacidade de retenção de

água e “como espelho do meio”, a vegetação de Caatinga, que em sua feição arbustiva é

baixa, muito aberta e entremeada de herbáceas; em sua formação lenhosa, onde há espécies

arbóreas, é marcada pelo nanismo.

O relevo regional apresenta uma topografia acidentada. As encostas mais acentuadas,

com sua baixa cobertura vegetal e solos rasos, têm apresentado intensos processos de erosão,

derivados principalmente da retirada da cobertura vegetal para lenha.

Apresentando características naturais que refletem uma certa vocação ecológica para a

desertificação, conforme expressão de Vasconcelos Sobrinho (1982 apud 2002, p. 69), o

Seridó, tem no processo de ocupação territorial, a face da intervenção humana acentuando a

predisposição ao processo.

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Page 51: 3 desertificação no rio grande do norte

O desenvolvimento da pecuária extensiva, da agricultura de subsistência nos aluviões

e do cultivo do algodão, inclusive nas encostas de serras, foram atividades que repercutiram

sobre o ambiente, a despeito dos benefícios sócio-econômicos que acarretaram. A efetiva

ocupação espacial e o crescimento demográfico ensejaram a formação de núcleos

populacionais – fazendas, vilas e cidades – passando a demandar o uso da lenha para fins

múltiplos, entre eles o uso doméstico, gerando um outro fator de pressão sobre a vegetação.

Com a derrocada do algodão foi minimizado o desgaste do solo pelas roças. No

entanto, a expansão das atividades ceramista e de panificação intensificou a extração de lenha

e a produção de carvão. Além do impacto sobre a vegetação, a cerâmica também afeta o solo,

tendo em vista que a argila é retirada dos baixios e “assim perde-se parte das áreas mais

nobres para agricultura, não só pela sua condição topográfica, de maior recepção de água, mas

por terem os solos mais profundos e de maior fertilidade” (SAMPAIO et. al., 2002, p. 120).

Com o declínio do binômio algodão-gado foi retomada a produção pecuária, com

incentivo governamental, determinando um processo de expansão que incidiu sobre o

território, entre outras formas, através da ampliação das áreas com plantio de capim. Além do

rebanho bovino, também cresceu significativamente o de caprinos e ovinos. A questão do

aumento dos rebanhos se torna problemática mediante a ocorrência de superpastoreio.

Pesquisa realizada por Sampaio et. al (2002, p. 121) aponta para uma contração na

área de lavoura permanente na Região do Seridó, após 1985, que se deve à redução da área

plantada com algodão arbóreo. No entanto, observando que, em 1995-1996, alguns

municípios como Carnaúba dos Dantas, Acari e Parelhas apresentaram reduções maiores que

a região, inferiu que “a desertificação parece, [...], ser elemento agravante da contração da

área cultivada com lavoura permanente no núcleo.” Além da contração na área cultivada,

também foi evidenciada queda na produtividade, destacando-se os municípios de Equador e

Parelhas.

Ressalta-se que dos sete municípios do Núcleo de Desertificação, cinco fazem parte do

Pólo Ceramista do Seridó (exceto Equador).

Desta forma, nos municípios que compõem o Núcleo, a prática da agricultura, da

pecuária e da mineração acompanharam o enredo da história regional, mas deixaram como

legado um horizonte turvo, embaçado pela avidez do machado para retirar a lenha e pela

fumaça que emana dos fornos das cerâmicas, onde a argila é transformada em telhas e tijolos,

e dos bacuraus ou trincheiras (fornos), onde a vegetação é queimada para produzir carvão.

Assim, impulsionada pelo desmatamento, queimadas e atividades econômicas desenvolvidas

de forma inadequada, as terras vão ficando despidas, expostas ora ao sol causticante, ora às

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Page 52: 3 desertificação no rio grande do norte

chuvas torrenciais; a erosão vai rasgando o solo, deixando à mostra suas entranhas, formando

crateras, gerando uma paisagem chocante que se torna ainda mais agressiva quando se

concebe que, embora havendo uma predisposição natural, sua conformação atual foi lapidada

pela ação humana.

Neste cenário, considerando a importância da gestão no âmbito da problemática

ambiental, buscou-se informações a respeito da estrutura institucional dos municípios

formadores do Núcleo de Desertificação, como forma de identificar o tratamento dispensado a

dimensão ambiental. De acordo com os dados fornecidos pelas prefeituras, os municípios de

Parelhas, Caicó, Currais Novos, Jardim do Seridó, Carnaúba dos Dantas e Acari apresentam

em sua estrutura administrativa uma Secretaria Municipal com atuação sobre o meio

ambiente, porém, não de forma específica. Geralmente esta secretaria abrange também a

agricultura, o abastecimento e/ou serviços urbanos. Em nível de aparato institucional do

Estado, registrou-se a presença da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural –

EMATER nos sete municípios. Em termos de atuação direta do Governo Federal, há um

escritório do DNOCS apenas em Caicó.

As informações obtidas sinalizam para um avanço na estrutura institucional em nível

de municípios. Todavia, é preciso atentar que a gestão ambiental não se faz apenas através da

criação de organismos, mas, principalmente, a partir de decisões e ações aglutinadoras de

divergentes interesses, pautando-se em uma construção social participativa e descentralizada,

em que o Estado e a sociedade compartilhem as responsabilidades sobre o uso e a

conservação/preservação dos recursos naturais.

3.2.2.2 Áreas Subúmidas Secas

Do universo de 159 municípios formadores das ASD do Rio Grande do Norte,

apenas 13 (8,2%) compõem as Áreas Subúmidas Secas. São municípios que, de modo geral,

localizam-se na faixa de transição entre o litoral e o sertão, resguardando em sua paisagem

traços de uma ou outra região geográfica, dependendo da sua localização.

A relação entre esta regionalização e a adotada pelo IBGE torna possível a

seguinte identificação: na Mesorregião Leste Potiguar estão Rio do Fogo e Maxaranguape

(Microrregião Litoral Nordeste); Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante e São José do

Mipibu (Microrregião Macaíba) e na Mesorregião Agreste Potiguar situam-se Pedro Velho,

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Page 53: 3 desertificação no rio grande do norte

Montanhas, Várzea, Judia, Espírito Santo, Passagem, Brejinho e Monte Alegre (Microrregião

Agreste Potiguar).

Sua abrangência territorial é de 2.396,834 km² correspondentes a 4,5% da área

total do Estado. A população residente soma 260.290 moradores, dos quais 40,22% residem

em ambientes urbanos, segundo o Censo 2000.

Nestas áreas há predominância de índices de pobreza e indigência, situando-se em

em uma escala de média a alta intensidade. O IDH-M é variável, sendo ressaltados os baixos

indicadores dos municípios do Litoral Nordeste.

Neste recorte a agricultura e a produção ceramista também são representativas.

Nos municípios litorâneos, a infra-estrutura turística se fortalece e irradia-se pelas áreas

adjacentes, dinamizando a economia.

3.2.2.3 Áreas do Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas

As Áreas do Entorno, conforme explicitado no PAN Brasil (2004, p. 19),

correspondem àqueles espaços “também passíveis de afetação por processos similares de

desertificação”, sendo a ocorrência de secas, nestes municípios, uma evidência da expansão

do fenômeno.

No Rio Grande do Norte, as Áreas do Entorno correspondem a 416,165 km² e

abrangem os municípios de Extremoz, Natal e Parnamirim, formadores da Microrregião Natal

(Mesorregião Leste Potiguar). Em termos espaciais, ocupa uma pequena fração de 0,8% do

território potiguar.

A exígüa participação na escala territorial contrasta com a relevante representação

populacional. Os três municípios possuem 856.579 habitantes ou 30,9% do contingente

demográfico estadual e apresentam uma taxa de urbanização correspondente a 97,46%.

Natal abriga 712.317 moradores, o que equivale a 83,1% dos habitantes das Áreas

de Entorno e 25,65% da população potiguar. Esta concentração populacional tem como

explicação o fato de ser Natal a capital e o principal centro econômico do Estado. Nas últimas

décadas seu intenso crescimento urbano esboçou um processo de conurbação que referendou

a criação da Região Metropolitana de Natal, em 10 de janeiro de 2002, sendo esta formada

por oito municípios, entre eles os três que formam as Áreas de Entorno.

O perfil ambiental deste recorte do território estadual difere daquele predominante

na imensidão sertaneja. É uma região litorânea que tem como características o clima

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Page 54: 3 desertificação no rio grande do norte

subúmido, os solos arenosos e uma cobertura vegetal variável - praias e dunas, manguezais e

floresta litorânea.

Os municípios das Áreas de Entorno estão entre os que apresentaram os melhores

indicadores sociais de pobreza, indigência e desenvolvimento humano em nível de Estado.

Nos últimos decênios, este recorte está sendo intensamente remodelado em decorrência da

expansão do turismo e da ampliação do setor terciário. Devido a sua dinâmica econômica,

esta região tornou-se um pólo de atração populacional, o que se confirma pelos dados

censitários reafirmadores da tendência à concentração demográfica.

54

Page 55: 3 desertificação no rio grande do norte

4. CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO ÂMBITO DAS POLITÍCAS PÚBLICAS DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO.

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO

ItemConvênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de

Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição Implementação Financiamento

1 Programa Água Doce

x     MMA Financiamento

U$ 6.000.000,00 2004/2007 MMA / SRH

  x   SERHIDExecução e

operação

2Programa de Desenvolvimento

Solidário  x   SEAS

Financiamento e

Execução

R$ 16.665.256,71 2003 / 2004

BIRD

R$ 25.491.000,00 2005/2006

3 Programa Água de Beber   x   SERHID Execução R$ 3.000.000,00 Durante todo o

tempo de GovernoEstado do RN

4

Subprograma de

Desenvolvimento Sustentável de

Recursos Hídricos para o Semi-

árido Brasileiro – PROÁGUA /

Semi-árido

x     ANA Financiamento

R$ 50.000.000,00 1998/2005 BIRD

  x   SERHID Execução

55

Page 56: 3 desertificação no rio grande do norte

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO

ItemConvênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de

Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementação Financiamento

5

Modelo de Gestão dos Serviços

de Saneamento na Área de

Atuação da Agência de

Desenvolvimento Sustentável do

Seridó - ADESE - RN

x     ANA Financiamento

R$ 10.000.000,00 2003/2007PROÁGUA /

ANA  x   ADESE Execução

6

Plano de Monitoramento de

Qualidade das Águas das Bacias

do Seridó e do Potengi (PNMA-

II)

x     MMA Financiamento

R$ 95.000,00 Durante todo o

tempo de GovernoMMA

  x   IDEMA Coordenação

7

Núcleo de Desenvolvimento

Sustentável - NUDES: Área

piloto do Seridó nas

comunidades rurais de

Cachoeira, Cobra e Juazeiro

  x   SERHID Execução R$ 152.167,96 Durante todo o

tempo de GovernoGoverno do RN

8Plano de Ação Estadual de

Combate à Desertificação

x     MMA Financiamento

A ser orçado 2004/2005 MMA

  x   SERHID Execução

Item Convênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de

56

Page 57: 3 desertificação no rio grande do norte

Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementação Financiamento

9Projeto Manejo Sustentável de

Uso Múltiplo no Seridó/RN

x     MMA Financiamento

152.365,00 2005-2006 MMA/FNMA

  x   EMATER Execução

10

Projeto Recuperação da Área

Desertificada da Bacia do Rio

Cobra

x     MMA Financiamento

300.000,00 2005-2006 MMA/FNMA

  x   SERHID Execução

11

Levantamento da situação dos

Perímetros Irrigados dos

Estados do Rio Grande do

Norte e Paraíba

x     MI Financiamiento

10.774.000,00 2005 MI  x   SAPE Execução

  x   DIBA Execução

12 Plano Plurianual - 2004/2007   x   SERHID Execução 534.443.000,00 2005/2007 Estado do RN

57

Page 58: 3 desertificação no rio grande do norte

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO

ItemConvênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de

Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementação Financiamento

13

Convênios Firmados pela

Secretaria de Estado do

Trabalho, da Habitação e da

Assistência Social -

SETHAS/RN

  x   SETHAS Financiamento 14.375.509,34 2004/2005 Governo do RN

14Recuperação de áreas

degradadas no vale do Açu.

x       Financiamento

-

2005/2006 Governo do RN

  x   SEDEC Execução

15

Ordenamento da extração do

Quartzito localizado na Serra

do Poção, município de ouro

Branco/RN.

x   

DNPN Financiamento

578.000,00 2004/2007Governo Federal e

estadual

 x

 SEDEC Execução

16

Programa de arranjo

produtivo - Estudo dos

pegmatitos envolve os

Estados do Rio Grande do

Norte e Paraíba

x   

DNPN Financiamento

1.000.000,00 2004/2007Governo Federal e

Estado  x

 SEDEC Execução

17Projeto Gasoduto Açu/Seridó

- Orçado no ano de 2002

 x

 SEDEC Financiamento

86.636,671,99 2004/2007 Governo do RN

       Execução

58

Page 59: 3 desertificação no rio grande do norte

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO

Item Convênios / Programas e Órgão Gestor Recursos Envolvidos Período de Fontes de

Projetos Federal Estadual Municipal Nome Atribuição R$ Implementação Financiamento

18 Programa de Desenvolvimento Sustentável de

Territórios Rurais

x MDA Financiamento

69.125,00 2005/2006 MDA

x ADESE Execução

19 Programa de Desenvolvimento Sustentável de

Territórios Rurais

MDA Financiamento

156.600,00 2005/2006

MDA/Prefeitura

Municipal de

São João do

Sabugi

x x

Pref. Muni de

São João do

Sabugi

Financiamento e

Execução

20 Programa de Desenvolvimento Sustentável de

Territórios Rurais

x MDA Financiamento

165.300,00 2005/2006

MDA/Prefeitura

Municipal de

Serra Negra do

Norte.x

Pref. Muni. De

Serra Negra

do Norte

Financiamento e

Execução

21 Programa de Formação e Mobilização Social

para a convivência com o Semi-Árido: Um

Milhão de Cisternas Rurais - P1MC

x

FEBRABAN Financiamiento

2.113.339,67 2003/2005 FEBRABAN/

MDSx MDS Financiamento

x SEAPAC Execução

Total dos Recursos762.167.335,67

FONTES: Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte - Janeiro de 2004 a Setembro de 2005.

RIO GRANDE DO NORTE. SEDEC, SERHID, SEAS, SAPE

SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários

EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente

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Page 60: 3 desertificação no rio grande do norte

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO.

Programas Recursos

Programa Água Doce 6.000.000,00

Programa de Desenvolvimento Solidário - 2003/2004 16.665.256,71

Programa de Desenvolvimento Solidário - 2005/2006 25.491.000,00

Programa Água de Beber 3.000.000,00

Subprograma de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos para o Semi-Árido Brasileiro - PROÁGUA / Semi-árido 50.000.000,00

Modelo de Gestão dos Serviços de Saneamento na Área de Atuação da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó -

ADESE - RN 10.000.000,00

Plano de Monitoramento de Qualidade das Águas das Bacias do Seridó e do Potengi (PNMA-II) 95.000,00

Núcleo de Desenvolvimento Sustentável do Seridó - NUDES: Área piloto do Seridó nas comunidades rurais de Cachoeira, Cobra e

Juazeiro. 152.167,96

Plano de Ação Estadual de Combate à Desertificação. -

Projeto Manejo Sustentável de Uso Múltiplo no Seridó/RN 152.365,00

Projeto Recuperação da Área Desertificada da Bacia do Rio Cobra300.000,00

60

Page 61: 3 desertificação no rio grande do norte

CONVÊNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO AMBITO DAS POLITICAS PÚBLICAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO.

Programa Recursos

Levantamento da situação dos Perímetros Irrigados dos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba 10.774.000,00

Plano Plurianual - 2004/2007 534.443.000,00

Convênios Firmados pela Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social - SETHAS/RN. 14.375.509,34

Recuperação de áreas degradadas no Vale do Açu. -

Ordenamento da extração do Quartzito localizado na Serra do Poção, município de ouro Branco/RN. 578.000,00

Programa de arranjo produtivo - Estudo dos pegmatitos envolve os Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba 1.000.000,00

Projeto Gasoduto Açu/Seridó - Orçado no ano de 2002 86.636.671,99

Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais nos municípios do Seridó 69.125,00

Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais no município de São João do Sabugi 156.600,00

Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais no município de Serra Negra do Norte. 165.300,00

Programa de Formação e Mobilização Social para a convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais -

P1MC 2.113.339,67

Total 762.167.335,67

FONTES: Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte - Janeiro de 2004 a Setembro de 2005.SERHID - Projetos e Programas articulados com o Programa Estadual de Desenvolvimento Sustentável e Convivência com o Semi-árido Potiguar.SEAS - Programa de Desenvolvimento Solidário.SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos ComunitáriosADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do SeridóSEDEC - Secretaria de Desenvolvimento EconômicoEMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão RuralIDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio AmbienteSAPE - Secretaria de Agricultura e Pesca

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Page 62: 3 desertificação no rio grande do norte

5. INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL.

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

MMA / SRH Programa Água Doce

Recuperação de 1.500 sistemas de dessalinização que não estão funcionando,

implantação de 500 novos sistemas de dessalinização, implantação de 22 unidades

demonstrativas de criação de peixe e cultivos de plantas halófitas utilizando água

do rejeito dos dessalinizadores e implantação de 300 unidades produtivas de

criação de peixe e cultivo de plantas halófitas utilizando água rejeito de

dessalinizadores.

SEAS Programa de Desenvolvimento

Solidário

Financiamento de subprojetos produtivos, agrícolas e não agrícolas, ligados à

produção e que possam contribuir para melhorar a renda e aumentar o número de

empregos, e subprojetos de infra-estrutura econômica e social que visam melhorar

as condições de vida da população.

SERHID Programa Água de Beber

Perfuração, instalação e recuperação de poços; instalação convencional, com

dessalinizadores acoplados ou associados a painéis de energia fotovoltaica.

ANA/ SERHIDSubprograma de Desenvolvimento

Sustentável de Recursos Hídricos

para o Semi-Árido Brasileiro –

PROÁGUA / Semi-árido

Gestão de recursos hídricos, obras prioritárias, elaboração de estudos e projetos,

gerenciamento, monitoria e avaliação, estruturação dos órgãos gestores

comunicação, educação e gestão participativa, e implantação do sistema de

outorga e cobrança pelo uso da água.

62

Page 63: 3 desertificação no rio grande do norte

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

ANA/ADESE

Modelo de Gestão dos Serviços de

Saneamento na Área de Atuação da

Agência de Desenvolvimento

Sustentável do Seridó - ADESE - RN

Diagnóstico, estudos de alternativas técnicas e projeto básico de abastecimento

de água; estudos e estimativas para o modelo de gestão dos serviços de

saneamento da zona rural do Seridó do RN.

MMA/IDEMA

Plano de Monitoramento de

Qualidade das Águas das Bacias do

Seridó e do Potengi (PNMA-II).

Elaboração do Plano Estadual de Monitoramento da Qualidade da Água de

Bacias Hidrográficas Prioritárias.

SERHID

Núcleo de Desenvolvimento

Sustentável do Seridó - NUDES:

Área piloto do Seridó nas

comunidades rurais de Cachoeira,

Cobra e Juazeiro.

Implementação de barragens assoreadoras; diagnóstico ambiental da área, estudo

de microbacia do Rio Cobra, reutilização de águas servidas; instalação de

dessalinizadores e reutilização dos rejeitos para criação de peixes e incentivo à

utilização de tecnologias voltadas às atividades econômicas que não contribuam

com a aceleração do processo de desertificação.

MMA/ SERHID Plano de Ação Estadual de Combate

à Desertificação

Implementação de ações de redução da pobreza e da desigualdade; ampliação

sustentável da capacidade produtiva; conservação, preservação e manejo

sustentável dos recursos naturais; e gestão democrática e fortalecimento

institucional.

63

Page 64: 3 desertificação no rio grande do norte

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

MMA/ SERHID Projeto Recuperação da Área

Desertificada da Bacia do Rio

Cobra

Estabelecer áreas de reserva legal em pequenas propriedades de posse familiar

nas comunidades rurais de Cobra, Juazeiro e Cachoeira, localizadas no município

de Parelhas; recuperação da mata ciliar do Rio Cobra numa extensão de 20,12 Km

e atividades direcionadas à educação ambiental.

MI/ SAPE

Levantamento da situação dos

Perímetros Irrigados dos Estados do

Rio Grande do Norte e Paraíba

Implementação de ações de administração, operação e manutenção; administração

e titulação fundiária; recuperação de estruturas elétricas, equipamentos de

irrigação; implantação de hidrômetros; implantação de drenagem parcelar;

implantação de sistema de automação com controle central; aquisição e instalação

de câmera fria.

SEDEC

-

Recuperação de áreas degradadas no Vale do Açu.

EMATER Projeto Agricultura Orgânica

O programa é realizado com as famílias da Comunidade Arapuá - Serra Negra do

Norte, onde há um incentivo a produção de legumes e hortaliças com técnicas

orgânicas e conta com a participação de alunos da rede pública na construção de

uma cerca viva em torno da área do projeto.

64

Page 65: 3 desertificação no rio grande do norte

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

SERHID Plano Plurianual - 2004/2007

Retificação e conservação de canais naturais;

Reuso de águas;

Implantação de projetos hidroagrícolas;

Pesquisa de recursos hídricos;

Gestão de recursos hídricos;

Reestruturação organizacional;

Combate à desertificação

 Construção, ampliação e recuperação de adutoras e canais;

Construção, ampliação e recuperação de barragens e açudes;

Pequenos sistemas de abastecimento de água comunitários;

Construção, ampliação e recuperação de poços, dessalinizadores e cisternas;

Construção, ampliação e recuperação de poços, dessalinizadores e cisternas;

Operação e manutenção de infra-estrutura hídrica;

EMATER / SENAR e

SEBRAEProjeto Agrinho

Desenvolve atividades de educação ambiental em 21 municípios do Estado,

contando com a participação de crianças de 1ª a 4ª e 5ª a 8ª Serie das Escolas das

Comunidades Rurais dos municípios envolvidos.

65

Page 66: 3 desertificação no rio grande do norte

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

EMATER Circuito do meio ambiente na

Região do Seridó

Realização de 13 oficinas envolvendo 350 agricultores e familiares, com ênfase na

prática do uso sustentável dos recursos naturais através do manejo adequado das

atividades agrícola e pecuária e de extrativismo vegetal. O projeto, nesta primeira

etapa, se desenvolve em comunidades rurais dos municípios de Caicó, Jardim de

Piranhas e Jardim do Seridó. Após o treinamento os participantes passam a ser

agentes multiplicadores.

MDA/Prefeitura Municipal

de São João do Sabugi

Programa de Desenvolvimento

Sustentável de Territórios Rurais

Readequação industrial de queijeira comunitária e implantação de tratamento de

efluentes e resíduos sólidos.

MDA/Prefeitura de Serra

Negra do Norte

Programa de Desenvolvimento

Sustentável de Territórios Rurais

Readequação industrial de queijeira comunitária e implantação de tratamento de

efluentes e resíduos sólidos.

DNPM/SEDEC Programa de Aranjo Produtivo

Estudo dos peguimatitos envolvendo os Estudos do rio Grande do Norte e Paraíba.

DNPM/SEDEC- Ordenamento da extração do quartzito na Serra do Poção, município de ouro

branco/RN

SETHASConvênios com Associações

Comunitárias Redução da Pobreza Rural

FONTES: SERHID - Projetos e Programas Articulados com o Programa Estadual de Desenvolvimento Sustentável e Convivência com o Semi-árido Potiguar

ADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó

SEDEC - Secretaria de Desenvolvimento Econômico

EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte

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Page 67: 3 desertificação no rio grande do norte

INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

ADESE/ASA Potiguar

Plano Nacional de Combate a

Desertificação

Articulação e mobilização das instituições estaduais e regionais do

Estado do Rio Grande do Norte para a realização das oficinas

Estaduais para construção do Plano de Ação Nacional de Combate à

Desertificação – PAN/LCD

Articulação para o lançamento do

PAN/Brasil

Visita da Ministra do Meio Ambiente Marina Silva Para o

Lançamento do PAN/Brasil no Estado do Rio Grande do Norte.

Formação do Comitê de Bacias do

Piranhas/Açu

Mobilização social de apoio ao Comitê da Bacia Piranhas-Açu

Evento em comemoração ao dia Mundial

da Água

Parceria junto a Pastoral da Criança, Sindicato dos Trabalhadores

Rurais da Região, SEBRAE local, Diocese de Caicó e Associações

Rurais, para as passeatas em comemoração ao dia mundial da água.

Constituição do NUDES Acompanhamento das reuniões de implantação do Núcleo de

Desenvolvimento Sustentável do Seridó denominado de NUDES.

67

Page 68: 3 desertificação no rio grande do norte

INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

ADESE/ASA Potiguar Elaboração de Projetos

Construção da Carta de Acordo para o GEF/Caatinga/ADESE

Acompanhamento de projetos financiados pelo Desenvolvimento

Solidário

O Seridó no Combate à Desertificação ADESE/Petrobrás

Projeto IICA – Combate à Desertificação na Região do Seridó do Rio

Grande do Norte e do Seridó da Paraíba.

Projeto IICA/BID – Programa de Combate

a Desertificação

Formação de parcerias junto a Fundação Grupo Esquel Brasil,

Instituto Interamericano de Cooperação para a agricultura - IICA e a

Comissão Ecomônica Para o Desenvolvimento da América Latina e

Caribe - CEPAL/Nações Unidas, no que diz respeito ao levantamento

de indicadores de desertificação na Região do Seridó (agrícola,

agropecuário e socioeconômico).

ADESE/MDA

Programa de Desenvolvimento Sustentável

de Territórios Rurais

Cursos de Aperfeiçomaneto em operacionalização de GPS e Manejo

Anima e derivados do Leite

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Page 69: 3 desertificação no rio grande do norte

INSTITUIÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS COM AÇÕES NA ÁREA SÓCIO-AMBIENTAL

Instituições Programas Ações

SEAPACPrograma de Formação e Mobilização

Social para a convivência com o Semi-

Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais -

P1MC

* Mobilizar a sociedade civil para implementação do programa;

* Criar mecanismos que promovam a participação de todos os

atores envolvidos na gestão do projeto e no controle social;

* Propiciar o acesso descentralizado à água para consumo

humano a 1.000.000 de famílias - aproximadamente 5.000.000

de pessoas;

* Melhorar a qualidade de vida de 5.000.000 de pessoas da

região semi-árida, especialmente, crianças, mulheres e idosos;

* Fortalecer as organizações da sociedade civil envolvidas na execução do Programa, visando garantir as condições necessárias ao desenvolvimento eficaz e eficiente do P1MC;

* Implementar um processo de formação que considere a

educação para a convivência com o semi-árido e a participação

nas políticas públicas;

* Difundir no conjunto da sociedade brasileira uma correta

compreensão do semi-árido brasileiro.

FONTES: ADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó

SEAPAC - Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários

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Page 70: 3 desertificação no rio grande do norte

REFERÊNCIAS

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Page 72: 3 desertificação no rio grande do norte

(Graduação em Geografia) – Centro de Ensino Superior do Seridó, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Caicó/RN, 2005.

VASCONCELOS SOBRINHO, João de. Desertificação no Nordeste do Brasil. Recife: UFPE, 2002.

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Page 73: 3 desertificação no rio grande do norte

ANEXOS

ANEXO 01- Abrangência das Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte – 1998

ANEXO 02 - Principais Classes de Solo do Rio Grande do Norte

ANEXO 03 - Recursos Minerais do Rio Grande do Norte por Municípios e Número de Empresas - 2002-2003

ANEXO 04 - Municípios Produtores de Recursos Minerais por Número de Empresas

ANEXO 05 - Convênios firmados entre a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social - SETHAS/RN e as Associações Comunitárias do Rio Grande do Norte, no período de 2004 a 2005, no âmbito das ações comprometidas com a redução da pobreza rural, o abastecimento d’água (poços, cisternas e açudes), a apicultura, o incentivo a hortas comunitárias, a eletrificação rural e a energia solar.

ANEXO 06 – Plano Plurianual do Estado do Rio Grande do Norte: Ações sócio-ambientais a serem desenvolvidas no período 2004 – 2007.

ANEXO 07 - Projetos desenvolvidos pelo Programa Desenvolvimento Solidário no Rio Grande do Norte através dos FUMACs - 2004 a 2005, no âmbito das ações de abastecimento d’água (Infra-estrutura, rede de distribuição, construção de cisternas, poços tubulares, adutoras com rede de distribuição, caixa d'água, recuperação e ampliação de açude, construção de barragens, construção de passagem molhada)

ANEXO 08 - Projetos desenvolvidos pelo Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários - SEAPAC no Rio Grande do Norte através do PAPP e do PCPR - 2004 a 2005, no âmbito das ações de geração de emprego e renda, implantação de hortaliças comunitárias, abastecimento d’água (Poço tubular, dessalinizador, cisternas de placas, barragens assoreadoras, reforma e ampliação de açudes, passagem molhada).

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